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Depêndencias e Outras Violências...Estudo Comparado 2004 - 2009

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Alberto Peixoto<br />

Dependências<br />

e outras violências…<br />

<strong>Estudo</strong> comparado <strong>2004</strong>-<strong>2009</strong><br />

Edição reescrita e actualizada


Ficha Técnica<br />

ISBN: 978-989-95741-9-9<br />

Título: DEPENDÊNCIAS E OUTRAS VIOLÊNCIAS…<br />

Autor: Alberto Peixoto<br />

Editor: Edições Macaronésia<br />

Sede: Rua da Saúde, 107, Arrifes<br />

9500-363 Ponta Delgada<br />

Tel. 296682681 / 918189075<br />

Site: www.edicoesmacaronesia.blogspot.com<br />

E-mail: acrpeixoto@sapo.pt<br />

Revisão: Graciete Peixoto<br />

Junho 2010<br />

Depósito Legal: 311937/10<br />

Paginação, capa e execução gráfica: COINGRA, Lda.<br />

© É proibida a reprodução total ou parcial desta obra.


“Por droga – psicoativa ou não – continuamos<br />

a entender o que há milénios pensavam<br />

Hipócrates e Galeno, pais da medicina científica:<br />

uma substância que, em vez de «ser vencida» pelo<br />

corpo (e assimilada como simples nutriente), é<br />

capaz de «vencê-lo», provocando – em doses<br />

insignificantemente pequenas quando comparadas<br />

com as de outros alimentos – grandes alterações<br />

orgânicas, anímicas ou de ambos os tipos.”<br />

(Escohotado, <strong>2004</strong>: 9)


ÍNDICE<br />

Agradecimentos ................................................................................................................ 9<br />

Introdução ....................................................................................................................... 11<br />

Problemática ..................................................................................................................... 17<br />

Metodologia ...................................................................................................................... 27<br />

Evolução comparativa de outros estudos ......................................................................... 33<br />

A amostra .......................................................................................................................... 41<br />

O combate às dependências .............................................................................................. 45<br />

O tabaco ............................................................................................................................ 65<br />

O álcool ............................................................................................................................ 91<br />

A droga ........................................................................................................................... 133<br />

O café .............................................................................................................................. 167<br />

As dependências e a violência ........................................................................................ 177<br />

O consumo de fármacos ................................................................................................. 191<br />

A prevalência da embriaguez ......................................................................................... 195<br />

O abandono da dependência e recuperação .................................................................. 199<br />

Síntese conclusiva .......................................................................................................... 205<br />

Propostas de intervenção ................................................................................................ 217<br />

Bibliografia/Fontes ....................................................................................................... 222<br />

Anexos ............................................................................................................................ 241<br />

Índice de figuras, imagens e quadros ......................................................................... 263<br />

7


AGRADECIMENTOS<br />

Ao GOVERNO REGIONAL DOS AÇORES pela oportunidade de<br />

realização de mais uma investigação sociológica.<br />

Às estagiárias Catarina Braga, pelo contributo ao nível do tratamento<br />

dos dados e da pesquisa bibliográfica, e Saulina Melo, pela ajuda na informatização<br />

dos questionários, bem como aos jovens da OTLJ-<strong>2004</strong> que<br />

aceitaram fazer parte deste projecto: Ana Claudino, Ana Duarte, Ana<br />

Melo, Bruno Ávila, Carla Costa, Cláudia Brasil, Cláudia Cunha, Diana<br />

Coelho, João Craveiro, João Silva, Luís Peixoto, Mafalda Costa, Marco<br />

Soares, Maria Gabriela Moniz, Filipa Nicolau, Melissa Peixoto, Neuza<br />

Rosa, Paula Machado.<br />

Aos jovens da OTLJ-<strong>2009</strong> que participaram na segunda edição do<br />

projecto: Andreia Ferreira, António Raposo, Cátia Meireles, Diana Pina,<br />

Filipa Lima, Hernâni Costa, Letícia Leal, Lígia Lima, Marília Ferreira,<br />

Paula Tavares, Patrícia Cardal, Sérgio Fisher e Sofia Silva.<br />

À jornalista Sandra Sousa pela especial colaboração na recolha de<br />

inquéritos na ilha do Pico.<br />

Ao Instituto da Droga e Toxicodependência pela colaboração e apoio<br />

prestado ao longo deste projecto.<br />

Por fim, mas não menos importante um agradecimento especial ao Sr.<br />

Secretário Regional da Saúde, Dr. Miguel Correia, e à Sr.ª Directora<br />

Regional da Prevenção e Combate às Dependências, Dr.ª Paula Costa, pela<br />

sensibilidade e coragem de terem dado continuidade ao trabalho iniciado<br />

em <strong>2004</strong>.<br />

9


INTRODUÇÃO<br />

É com a expansão da problemática das drogas no final da década de<br />

70 e princípios da década de 80 do século XX que o fenómeno das<br />

dependências se tornou objecto de estudo com consistência científica,<br />

sobretudo, nos Estados Unidos da América. Em Portugal, foi na segunda<br />

metade da década de 90 que surgiram as primeiras abordagens sistémicas<br />

e não às dependências em geral, mas de forma circunscrita ao<br />

fenómeno da toxicodependência, destacando-se os estudos interdisciplinares,<br />

Droga – Crime, dirigidos por Cândido da Agra, solicitados pelo<br />

então Ministro da Justiça, Laborinho Lúcio. Também os relatórios do<br />

Instituto da Droga e da Toxicodependência têm materializado um esforço<br />

de precisar a dimensão e consequente evolução do fenómeno no território<br />

nacional.<br />

Embora no mesmo patamar da toxicodependência, o abuso do consumo<br />

de álcool, comportamento difícil de situar no tempo, mas estimado<br />

com uma prevalência bem superior à prevalência das drogas ilícitas, tem<br />

sido desvalorizado pelos investigadores e pelas universidades portuguesas,<br />

compreensivelmente fruto da tolerância sócio-cultural. Não fôssemos nós,<br />

por ironia, descendentes de Luso, filho de Baco, Deus do vinho.<br />

O tabaco, outra das dependências com forte prevalência nos nossos<br />

hábitos e com forte tolerância colectiva, constituindo mesmo uma actividade<br />

económica relevante nos Açores, sofreu um duro revés com a aprovação<br />

da nova lei em vigor desde 1 de Janeiro de 2008.<br />

Durante décadas, enquanto dependência, o tabaco não suscitou a curiosidade<br />

dos nossos investigadores, sendo conhecido muito pouco para<br />

além de algumas consequências para a saúde e dos dados estatísticos referentes<br />

à produção e comercialização da indústria tabaqueira.<br />

11


Alberto Peixoto<br />

Colectivamente, em particular nos Açores, foi notório um desinteresse<br />

cúmplice pela problemática das dependências, talvez por a insularidade funcionar<br />

como uma almofada retardadora da visibilidade das patologias sociais,<br />

fazendo com que antes de <strong>2004</strong> nunca tivesse sido realizado nenhum<br />

estudo regional. Manuela Fleming (1996: 11) vai mais longe ao denunciar a<br />

situação como um colectivo “conluio da cegueira”. Preconiza que se inicia<br />

com a cegueira do dependente ao recusar assumir-se como doente apesar de<br />

se querer livrar daquilo que o escraviza. Depois a cegueira da família que só<br />

tardiamente se apercebe da dependência do filho. A cegueira da sociedade<br />

ao não assumir a culpa da degradação da vida familiar. A cegueira da ciência<br />

ao não ser capaz de indicar um discurso científico para a compreensão<br />

do fenómeno. Portanto, a evolução da problemática das dependências em<br />

geral está longe de se comportar de forma previsível e de acordo com as<br />

expectativas quer em sentido positivo quer em sentido negativo.<br />

Não tendo sido encontrada a fórmula que de forma determinista<br />

garanta o seu controlo, não é menos verdade que cada vez mais se denota<br />

uma maior dificuldade de mobilização por parte da comunidade em geral<br />

e mesmo das autoridades locais em particular. Prova-o o facto de serem,<br />

em <strong>2009</strong>, ainda muito poucos os Municípios que detêm um plano de intervenção<br />

a nível local em articulação com o Plano Regional.<br />

A tentação de colectivamente se ver o dependente como exclusivo<br />

responsável pelo seu drama, exigindo uma necessidade lógica de repressão<br />

através da censurabilidade social, jurídica, clínica e até religiosa, continua<br />

a ser um entrave claro ao conhecimento, compreensão e controlo do<br />

fenómeno, continuando a exigir-se a este nível um novo paradigma de preferência<br />

sistémico com amplitude suficiente para abarcar a multiplicidade<br />

de indicadores e variáveis capazes de interferir neste contexto.<br />

Existe um discurso comunicacional e até ideológico de contornos<br />

incertos por, ao falar-se em dependências, logo, como por alquimia, sermos<br />

remetidos para a esfera das substâncias ilícitas, vulgarmente designadas por<br />

drogas. Em bom rigor, são drogas todas as substâncias lícitas ou ilícitas que<br />

se afastam do contexto médico e do que isto significa. Por outro lado, a<br />

utilização dos conceitos de drogas leves e de drogas duras é perigosa e<br />

indutora de erros na população em geral, traduzindo a ideia da existência<br />

de drogas mais ou menos perigosas quando todas as dependências de substâncias<br />

lícitas ou ilícitas são igualmente nefastas à saúde humana. Basta<br />

12


Dependências e outras violências…<br />

recordarmos a questão da cannabis, sistematicamente considerada uma<br />

droga leve; na verdade não o pode ser, por em quadros de dependência ser<br />

responsável por perturbações psicóticas graves.<br />

Falar-se em dependências é algo bem mais abrangente e que tem<br />

necessariamente de nos transportar para uma realidade próxima de cada um<br />

de nós, porque tudo quanto nos pode causar satisfação e prazer pode conduzir-nos<br />

a quadros de dependência conscientes ou inconscientes. Quantos<br />

de nós nos detivemos a analisar comportamentos pessoais automatizados,<br />

os quais não somos capazes de evitar sem que nos causem transtorno ou<br />

sofrimento?<br />

Do ponto de vista sócio-político, diferentes têm sido as posturas<br />

perante o fenómeno das dependências e não raras vezes foram criadas<br />

diferenciações e homogeneizações indevidas entre os vários tipos de comportamentos:<br />

“Nos últimos dez anos, a maioria dos países europeus evoluiu<br />

para uma abordagem que distingue o traficante de droga, que é considerado<br />

como um criminoso, do consumidor de droga, mais encarado como<br />

uma pessoa doente, necessitada de tratamento. No entanto, os Estados-<br />

-Membros diferem consideravelmente quanto à forma como decidiram definir<br />

estas categorias nas novas leis que adoptaram nos últimos anos” (A<br />

Evolução do Fenómeno da Droga na Europa, 2008: 23).<br />

Por questões culturais mas também por interesses securitários tem<br />

sido diferenciada a tolerância individual, familiar e social para com a<br />

dependência do álcool, do tabaco, do jogo, do sexo, do café ou de qualquer<br />

outra substância ilícita. A título de exemplo, estima-se que a adição do<br />

jogo, embora muito pouco estudada e sem suscitar grande preocupação<br />

social, afecte 17 000 pessoas em Portugal, ou seja, 0,2% da população,<br />

quando se sabe que a nível internacional, segundo um estudo de Tami Argo<br />

e Donald Black, 17 a 24% dos jogadores tenta o suicídio e 76% sofre de<br />

depressão (DN, 11/Out/2008: 33).<br />

Ainda a propósito do jogo, um estudo sobre tal dependência em Portugal<br />

da autoria de Henriques Lopes, da Universidade Católica de Lisboa, apresentou<br />

traços identificativos dos indivíduos com maior propensão para a dependência,<br />

nomeadamente o facto de terem entre 12 e 18 anos de idade, de estarem<br />

doentes ou com dificuldades de mobilidade, de possuírem problemas na<br />

carreira profissional e problemas familiares (24% dos dependentes do jogo),<br />

de admitirem possuir problemas de saúde mental (38%) e de já se terem<br />

13


Alberto Peixoto<br />

divorciado devido ao jogo, 22%. São homens, 79% dos jogadores, embora<br />

entre os jogadores de risco sejam 52% e 48% as mulheres. Já tentaram abandonar<br />

o jogo sem êxito, 80% dos jogadores dependentes (DA, 20/Out/<strong>2009</strong>:<br />

11). Tais traços apurados demonstram claramente como a adição resulta de<br />

uma multiplicidade de variáveis que ultrapassa largamente a vontade individual<br />

ou as imposições de cariz sociológico.<br />

Assim, partimos do princípio de que nas características exteriores<br />

idênticas (fenótipos) dos indivíduos, resultantes das características hereditárias<br />

(genótipos) e na sua interacção com o meio ambiente envolvente,<br />

reside a chave explicativa do fenómeno. Por isso, mais uma vez, cabe-nos<br />

a tarefa de precisar as características da componente envolvente e determinar<br />

o seu peso na propensão dos diferentes tipos de dependências e respectivos<br />

perfis, nos Açores.<br />

Procurar definir uma relação linear entre dependência e violência será<br />

um risco do mesmo modo que seria negá-la sem qualquer outro procedimento<br />

que questionasse as evidências aparentes e enformadas. É neste<br />

ponto que o valor do discurso científico se torna essencial e assume particular<br />

relevo atingindo o estádio da ética do saber, indispensável a uma<br />

abordagem objectiva, útil e neutral.<br />

É sobre as dependências em geral que nos propomos deter, essencialmente,<br />

sobre as dependências capazes de causar uma violência auto-infligida e/ou<br />

uma violência contra terceiros, partindo de uma metodologia de auto-revelação<br />

com as necessárias adaptações e reservas que tal metodologia exige.<br />

A focalização das dependências à luz da tradição espistemológica<br />

exige a precisão conceptual do objecto, daí resultando a necessidade de<br />

operação de um exercício reflexivo de recorte do objecto de estudo do seu<br />

universo de inserção. No entanto de muito pouco nos servirá a delimitação<br />

dos seus contornos se, de um exercício de reposição desse objecto no seu<br />

universo natural, resultar um conflito com os objectos existentes no meio.<br />

Falar-se em dependência de algo exige desde logo a identificação de<br />

dois sintomas: a dependência psicológica, que se traduz num desejo de<br />

voltar a consumir, não deixando de mentalmente assolar o indivíduo; a<br />

dependência física, traduzida em sinais físicos visíveis de carência após a<br />

passagem dos efeitos atenuantes do consumo.<br />

Dado que “o tempo demonstrou que a necessidade de utilizar qualquer<br />

tipo de drogas era a perturbação base, que provocava sempre alterações<br />

14


(...) e que a dependência das chamadas drogas leves era uma das formas de<br />

iniciação e evolução para outras drogas, ditas duras” (CIDM, 1995: 84), é<br />

cada vez mais perigoso distinguir drogas leves de drogas duras na medida<br />

em que tal discurso pode conduzir a uma tolerância social e a uma difusão<br />

descontrolada, tal como acontece hoje claramente com o álcool, sendo a<br />

embriaguez nas idades mais jovens vista como uma diversão.<br />

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define como dependência<br />

um conjunto de reacções fisiológicas, cognitivas e comportamentais,<br />

desencadeadas após a repetição do consumo de uma substância psicoactiva,<br />

por norma, relacionadas, por um lado, com um desejo e uma vontade<br />

forte de consumir a substância e, por outro lado, uma enorme dificuldade<br />

em evitar esse consumo, apesar de conhecer as consequências do mesmo.<br />

A grande prioridade do dependente é o consumo, ignorando todo o resto.<br />

A síndrome de dependência pode resultar de uma substância psicoactiva<br />

específica, como a nicotina ou o álcool, de substâncias psicoactivas, como<br />

o ópio ou a heroína, ou mesmo de produtos farmacêuticos.<br />

uso sem<br />

complicações<br />

uso abusivo<br />

dependência<br />

dependência<br />

abuso<br />

consumo de baixo risco<br />

Dependências e outras violências…<br />

diversas áreas da sua vida<br />

foram atingidas<br />

tem problemas quando<br />

consome<br />

sem problemas<br />

Figura n.º 1 A pirâmide mostra dois aspectos importantes. Em primeiro lugar, que os<br />

padrões de consumo são incontáveis e variam ao longo de uma linha contínua. Quanto mais<br />

intenso o consumo, maiores serão os problemas. Em segundo, conforme aumenta a quantidade<br />

de substâncias consumidas diminui o número de indivíduos envolvidos. (Disponível a<br />

14/Jan/2010 em http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/dependencia_conceito.htm<br />

15


Alberto Peixoto<br />

No tocante às causas do consumo, a OMS considera que é “facilitado<br />

pela acessibilidade, pela tolerância do ambiente social na prática, pela<br />

influência dos pares, assim como pelos antecedentes familiares ou sociais<br />

desfavoráveis (desemprego, perturbações mentais, violências sexuais,<br />

etc.)”(Richard, 1997: 116).<br />

Conscientes de que a complexidade é uma característica dos fenómenos<br />

sociais, não deixamos de revelar a nossa convicção de que a nova edição<br />

do estudo das dependências nos Açores poderá propiciar a continuidade<br />

do aparecimento de um conjunto de estratégias de intervenção algumas<br />

das quais iniciadas com a primeira edição.<br />

Quem, durante os cinco anos que intervalam a recolha de dados de<br />

<strong>2004</strong> e de <strong>2009</strong>, acompanhou de forma sistematizada o fenómeno das<br />

dependências nos Açores, num período em que a nível internacional se<br />

“procura novas formas de redução da procura e oferta de drogas, o aumento<br />

da sensibilização e da mobilização do público, uma maior compreensão<br />

do fenómeno da droga e o aprofundamento da cooperação internacional”<br />

(DA, 07/Mai/<strong>2009</strong>: 11), não pode negar que muito há a fazer.<br />

16


PROBLEMÁTICA<br />

O papiro de Ebers, datado de 1500 a.C., é considerado o mais antigo<br />

documento que faz referência a substâncias tóxicas. São referenciadas a<br />

cicuta, o acónito, o ópio e metais como o chumbo, o cobre e o antimónio.<br />

Suspeita-se serem já conhecidas, naquela data, plantas contendo substâncias<br />

semelhantes às da digitalis e aos alcalóides da beladona.<br />

As transformações operadas no seio das famílias, ao longo dos tempos,<br />

conduziram a um maior individualismo de cada um dos membros que<br />

as constituíam. As rupturas parentais, cada vez mais assumidas, o enfraquecimento<br />

do controlo social, exercido sob a sua alçada, com a emergência<br />

do protagonismo do ensino escolar facilitaram uma auto-desresponsabilização<br />

dos pais no acompanhamento dos filhos, tendo provocado distorções<br />

no proteccionismo. São factores a considerar nos comportamentos e<br />

atitudes sobretudo dos jovens e adolescentes num esforço de afastamento<br />

do sofrimento e na busca de prazer com recurso a substâncias com efeito<br />

psicotrópico.<br />

Os mecanismos de compensação por ausências ou falências dos pais<br />

e das suas relações parentais, gerando superprotecção ou superapreciação<br />

dos filhos, são outros dos factores característicos das sociedades de consumo<br />

onde se vive cada vez mais depressa, na busca do prazer máximo, surgindo<br />

o tempo como o grande factor de desestabilização que atravessa<br />

transversalmente toda a sociedade.<br />

As patologias dos pais ao nível mental ou de uma perturbação de personalidade<br />

têm sido apontadas como factor potenciador de comportamentos<br />

anti-sociais dos filhos e de dificuldades escolares. Porém não só a psicopatologia<br />

dos pais mas também os próprios modelos familiares entretanto<br />

emergentes exigem uma grande capacidade de adaptação às possibilidades<br />

17


Alberto Peixoto<br />

de desenvolvimento psicológico equilibrado dos filhos, despido de potenciais<br />

elementos perturbadores ao nível mental e afectivo, ou psicoafectivo.<br />

Vários trabalhos de investigação científica (Fleming et al, 1988;<br />

Wallerstein & Kelly, 1998), inseridos em correntes mais ou menos deterministas,<br />

têm procurado demonstrar que, por exemplo, o alcoolismo dos<br />

pais aumenta a probabilidade de distúrbios comportamentais dos filhos.<br />

Deste modo é sugerido que na infância de um descendente de pais alcoólicos<br />

existem factores causais que o fragilizam e o vergam a uma predisposição,<br />

fazendo com que auto-augurem um futuro pouco promissor.<br />

A questão da perda ou separação da mãe ou do pai tem também motivado<br />

diversas pesquisas por ser um traço referenciado em indivíduos com<br />

propensão para comportamentos delinquentes e desviantes, mas também<br />

para as dependências, nomeadamente, álcool e drogas. Entre outros, Tarde,<br />

1890; Farrington, 1978; Patterson, 1989; Loeber & Hay, 1997; Patterson<br />

& Bank, 1989; Maccoby, 1980 têm procurado dar conta da influência dos<br />

pais nos comportamentos anti-sociais dos filhos, surgindo a imitação dos<br />

quadros de referências como um dos traços a ter em conta na análise do<br />

fenómeno das dependências, podendo falar-se num “triângulo perverso”,<br />

como sugeriu Haley (1976).<br />

A questão das dependências mantém-se uma problemática actual,<br />

continuando a dependência alcoólica, com um longo historial, a ser apontada<br />

como a que apresenta a maior dimensão, estimando-se que, no caso<br />

português, se consumam, por dia, 2,8 milhões de litros de álcool (DN,<br />

09/Abr/2006: 18).<br />

Remonta aos finais do século XIX a consciência do problema do álcool,<br />

tendo sido a Inglaterra o primeiro país do mundo a abordar o fenómeno<br />

devido às consequências graves do ponto de vista social. Países como<br />

a Itália e a França, apesar de grandes produtores de bebidas alcoólicas,<br />

também se juntaram na luta, fundamentandoa sua postura com a necessidade<br />

de combate à violência, praticada contra as pessoas, sob a forma de<br />

homicídio ou ofensas à integridade física.<br />

Não deixa de ser pertinente que, por exemplo, a França tenha iniciado<br />

o combate ao consumo excessivo de álcool ainda antes de ter proibido<br />

as salas de fumarias especializadas no consumo de ópio que ali existiram<br />

na segunda metade do século XIX, mas principalmente nos princípios do<br />

século XX. A Suécia fez mesmo questão de não diferenciar drogas, consi-<br />

18


Dependências e outras violências…<br />

derando que todas as substâncias utilizadas fora de contexto médico<br />

tinham de ser combatidas.<br />

Morel (1857), com a “teoria da degenerescência”, e Legrain (1895),<br />

com a “teoria da degenerescência social”, apontam o vício do álcool<br />

como a causa de todos os vícios e problemas dos indivíduos, das suas<br />

degenerescências e das próprias sociedades em geral. Decorridos mais de<br />

150 anos sobre o primeiro e mais de 114 anos sobre o segundo, ainda não<br />

são inúmeros os Estados que se esforçam por combater o alcoolismo e<br />

todo um conjunto de novas dependências que entretanto foram geradas no<br />

seio das sociedades.<br />

Novos estudos continuam a estabelecer consequências das diferentes<br />

dependências, nomeadamente ao nível de transtornos comportamentais<br />

disruptivos, entendendo-se como tal os comportamentos resultantes de um<br />

impulso traduzido por uma descarga eléctrica ao nível cerebral, provocando<br />

aumentos de agressividade ou mudanças bruscas de humor. Porém<br />

novas formas de dependência vão sendo apontadas como causadoras de<br />

reacções comportamentais idênticas.<br />

São hoje aceites as correlações entre violência e alguns consumos de<br />

substâncias, nomeadamente álcool e algumas drogas, demonstradas, entre<br />

outros, nos estudos de Wolfgang (1969), ou de Monot (1994). Numa outra<br />

perspectiva, Saiz (1992) procurou demonstrar os transtornos por abuso de<br />

substâncias, chegando a estabelecer relações entre o álcool e a compulsividade<br />

para as compras. Soler & Gascom (1999) foram mais longe ao alargar<br />

a compulsividade ao namoro, sexo, exercício físico e, até, ao trabalho<br />

como consequência do consumo de álcool.<br />

Steadman (1998) demonstrou, através do estudo da prevalência da<br />

violência num período de dez semanas num indivíduo normal, que o consumo<br />

mais que triplica a propensão à violência. Sem abuso de substâncias,<br />

a probabilidade da prática de violência é de 3,3% passando para 11,1% em<br />

situações de abuso de substâncias. Em indivíduos portadores de doença<br />

mental, quase quintuplica a probabilidade da prática de acto violento. Sem<br />

abuso de substâncias, a prevalência da violência é de 4,7% enquanto com<br />

abuso passa para 22%.<br />

Dejong (1993), sobre transtornos de personalidade em indivíduos<br />

dependentes de substâncias químicas, quantificou em 3% a incidência nos<br />

homens e 1% nas mulheres de uma população considerada normal, poden-<br />

19


Alberto Peixoto<br />

do essa incidência aumentar para 30% em populações clínicas, atingindo<br />

mesmo uma incidência de 92% numa população de dependência crónica.<br />

Também Sonne & Brady (1998), num estudo com dependentes de<br />

cocaína, procuraram demonstrar a elevada incidência de vários tipos de<br />

transtornos de personalidade, causados pelo abuso dessa substância, materializados<br />

em comportamentos anti-sociais, borderline ou paranóide,<br />

demonstrável em 68% dos casos. Todavia, Bernardo & Roca (1998) quantificaram<br />

em 64% a incidência de transtornos de personalidade, verificados<br />

em alcoólicos, demonstrando estarem a este nível muito próximas as<br />

consequências provocadas pelo abuso de álcool ou pelo abuso de cocaína.<br />

Como já verificámos, existe hoje uma grande panóplia de estudos com<br />

diferentes modelos de análise do fenómeno comportamental e dependencial.<br />

Depois das teorias sociológicas e depois das teorias psicológicas, ganham<br />

fôlego as teorias neurofisiológicas, destacando-se o português António<br />

Damásio (1999). Em comum, entre todas as perspectivas, tem-se mantido de<br />

forma mais ou menos explícita o peso dos factores de carácter ambiental.<br />

As teorias de aprendizagem comportamentalistas assentam no princípio<br />

de que as decisões e os comportamentos dos indivíduos são condicionados,<br />

não dependendo integralmente das suas vontades. Insere-se nesta<br />

corrente Skinner (1904-1990) como um dos mais notáveis representantes<br />

ao defender que as opções e os comportamentos dos indivíduos são definidos<br />

em função das experiências vivenciadas e que proporcionam uma<br />

aprendizagem. Assim o comportamento do indivíduo é condicionado, alterado<br />

ou adaptado ao conhecimento que esse mesmo indivíduo tem como<br />

consequência desse mesmo comportamento.<br />

Tendo sido o continuador das experiências de Ivan Pavlov, pioneiro<br />

no desenvolvimento da psicologia comportamental, Skinner foi responsável<br />

pelo princípio das “condições operantes”, capazes de explicar o facto<br />

de um indivíduo tender a repetir um comportamento do qual resultou um<br />

sinal positivo, enquanto que tende a abandonar e a substituir os comportamentos<br />

dos quais resulte um sinal negativo. As “condições operantes”<br />

podem explicar a reincidência comportamental (no crime ou no simples<br />

desvio), que ocorre porque o indivíduo não recebeu estímulos de sinal<br />

negativo, capazes de alterar o seu comportamento. Nesta perspectiva, por<br />

exemplo, perante um dependente, há sobretudo que o estimular a abandonar<br />

a dependência por via do ensinamento da negatividade do hábito, pro-<br />

20


Dependências e outras violências…<br />

porcionando-lhe uma aprendizagem de comportamentos auto-reforçados<br />

pelos resultados.<br />

A proposta de Bentham, em finais do século XVIII, é cognitivo-comportamental,<br />

partindo do princípio de ser essencial a consciencialização do<br />

mal, do erro, o que só por si será suficiente para que o indivíduo tenha um<br />

comportamento socialmente adequado. Bentham, em 1791, criou o conceito<br />

de “panopticon” como um elemento de persuasão, procurando incutir no<br />

indivíduo que está permanentemente a ser observado, não podendo por esse<br />

facto cometer crimes. Compara o delinquente ao doente que necessita da<br />

administração de cuidados e remédios, o que não se distancia muito da<br />

forma como a Organização Mundial de Saúde vê hoje o dependente.<br />

As teorias biológicas admitem o peso de um determinismo até hereditário,<br />

como preconizou Hans Eysenck (1964). A personalidade e o comportamento<br />

derivam de uma interacção entre os factores biológicos e os<br />

factores ambientais. Sugeriu que a personalidade individual assenta na<br />

variação entre duas vertentes, partindo uma da extroversão para a introversão<br />

e outra do estável para o instável Eysenck considera que o comportamento<br />

do indivíduo resulta de uma escolha racional que procura diminuir<br />

a dor e aumentar o prazer, sem se libertar do condicionalismo imposto<br />

pela ordem genética e pelo ordem ambiental. Por exemplo, um indivíduo<br />

que sofra de hipoglicemia, perante uma situação de baixa de açúcar, se<br />

consumir álcool, fazendo baixar ainda mais os níveis de açúcar na corrente<br />

sanguínea, colocar-se-á num quadro capaz de afectar a sua actividade<br />

cerebral, que, por sua vez, em interacção com o contexto envolvente, se<br />

reflectirá nas suas escolhas, podendo levá-lo a um comportamento violento.<br />

Outros aspectos de ordem biológica mais elementares, como o ciclo<br />

menstrual, por exemplo, podem ser suficientes para condicionar o comportamento<br />

de uma mulher que por força da actividade hormonal se encontra<br />

menos paciente e mais irritativa. A este nível a testosterona tem sido a hormona<br />

mais investigada na compreensão de comportamentos criminais,<br />

para avaliar os níveis de agressividade dos indivíduos independentemente<br />

de terem ou não cometido crimes.<br />

As teorias freudianas assentam sobretudo em circunstancionalismos no<br />

percurso de formação da personalidade, os quais são tidos como suficientes<br />

para afectarem as opções e os comportamentos futuros do indivíduo.<br />

Eric Erickson (1950) chegou mesmo a definir oito etapas na vida do indi-<br />

21


Alberto Peixoto<br />

víduo onde as crises interpessoais têm de ser resolvidas sob pena de provocarem<br />

sentimentos de desconfiança, vergonha, culpa, inferioridade,<br />

confusão, isolamento, estagnação e desespero.<br />

De Greeff influenciou toda a criminologia francesa dos anos 20 do<br />

século passado. Procurou romper com o determinismo da escola positivista<br />

de Lombroso (1901), tendo apresentado duas linhas: a fenomenológica<br />

e a diferencial.<br />

A linha fenomenológica permite que a abordagem ao indivíduo se<br />

faça partindo da sua própria visão, conferindo um carácter humanista à<br />

intervenção. Importa ter presente a vertente humana que existe em cada<br />

indivíduo, independentemente do seu comportamento, da sua desviância<br />

ou das suas dependências. Para se compreender um objecto, é necessário<br />

entrar no seu mundo para daí se extraírem as suas interacções e os processos<br />

em que está inserido.<br />

A linha diferencial permite distinguir o indivíduo delinquente do indivíduo<br />

não delinquente através da mensuração de quatro variáveis: o egocentrismo;<br />

a agressividade; a labilidade e a indiferença afectiva.<br />

O sentimento de simpatia e o sentimento de defesa são apresentados<br />

por De Greeff (1946) como os dois grandes motores que constroem a<br />

nossa personalidade e o nosso modo de vida. O sentimento da simpatia é<br />

responsável pelos comportamentos de convivência e de assertividade. O<br />

sentimento de defesa é responsável pela capacidade de reacção à agressão<br />

e à sobrevivência. Na desregulação destes sentimentos, surgem os comportamentos<br />

criminais com especial relevo para o sentimento de defesa<br />

que, em estado exacerbado no indivíduo, produz revolta, ira e raiva, impelindo-o<br />

para comportamentos criminais. Assim, não existe um indivíduo<br />

normal e um indivíduo delinquente, existe sim um único indivíduo, que,<br />

com diferentes intensidades de sentimentos, em determinados momentos e<br />

perante determinados factos, comete o acto socialmente censurável. Nesta<br />

perspectiva, o dependente é-o fruto de uma interacção entre o indivíduo, o<br />

momento e o meio envolvente onde o indivíduo está inserido.<br />

Maria Marcelino (1995) considera as mulheres, no domínio cultural,<br />

mais vulneráveis no tocante às dependências do tabaco, do álcool, da marijuana,<br />

do haxixe, da heroína, da cocaína, dos solventes voláteis e dos psicofármacos,<br />

embora a prevalência dos consumos e dos comportamentos<br />

de risco apresente maior intensidade no sexo masculino.<br />

22


Dependências e outras violências…<br />

Pretendendo nós abordar, para além das dependências, as correlações<br />

com a evolução dos comportamentos desviantes nos Açores, situámo-nos<br />

nas perspectivas ecossociais, justificando as nossas escolhas com objectivos<br />

predominantemente de carácter sociológico, bem como com a nossa<br />

orientação socio-criminológica pessoal, que inegavelmente sustentará o<br />

estudo científico do nosso objecto.<br />

Com Guérry (1833) e Quételete (1835) foram alicerçadas as bases das<br />

perspectivas ecossociais, nas quais se insere uma das mais importantes<br />

abordagens ao fenómeno criminológico, a denominada Escola de Chicago.<br />

Iniciadores da criminologia comparada, tendo-se destacado pelo estudo<br />

das estatísticas criminais, denominadas de “estatísticas morais”, deixaram-nos<br />

o legado da demonstração de não existência de uma relação directa<br />

entre pobreza e criminalidade, mas sim entre crime e desenvolvimento<br />

social, constatável nas cartas geográficas de distribuição dos tipos e taxas<br />

criminais. Quételete acredita que tudo está determinado à partida e, para<br />

compreendermos e prevermos os fenómenos, temos que identificar as<br />

“condições iniciais”.<br />

Inserido nas perspectivas ecossociais, Tarde (1890), contemporâneo<br />

de Lombroso, contrapondo-se à teoria do “criminoso nato” e discordando<br />

do conceito de “consciência colectiva” de Durkheim, defendeu o processo<br />

de imitação como explicação para a prática criminal em que o delinquente<br />

pratica o acto criminal, imitando modelos que lhe servem de referência.<br />

Nesta linha, destacam-se as teses motivacionais da influência dos<br />

amigos, vizinhos ou familiares nas decisões comportamentais dos indivíduos<br />

que, deste modo, agem por imitação. Tarde, considerado o fundador<br />

da “sociologia intermental” vê a vida social como um conjunto de invenções<br />

e de imitações.<br />

Durkheim apresentou como explicação da prática criminal o conceito<br />

de anomia segundo o qual a ausência de normas ou perda de referências<br />

normativas era responsável pelo aumento de conflitualidade. Procurou<br />

explicar a criminalidade descentrando a incidência no indivíduo para focalizar<br />

a sociedade e os seus mecanismos de funcionamento em que acreditava<br />

residirem as motivações criminais.<br />

A Escola de Chicago (1920-1930) não procurou investigar as causas da<br />

criminalidade, mas sim os modos e formas de organização dos delinquentes,<br />

descrevendo inclusivamente os seus modos de vida através da observa-<br />

23


Alberto Peixoto<br />

ção participante ou observação no terreno. Destacou-se Robert Park (1864-<br />

1944) enquanto mentor da grelha ecológica num esforço de compreender a<br />

adaptação do homem ao meio onde se insere, demonstrando que os principais<br />

problemas criminais se localizam nas zonas de transição. Os delinquentes<br />

são apresentados como indivíduos comuns, que são condicionados pelo<br />

meio onde existem códigos de honra, regidos por normas e regras.<br />

Outra das referências criminológicas da Escola de Chicago é<br />

Sutherland (1937), que, com a “teoria da associação diferencial”, procurou<br />

demonstrar que o comportamento é aprendido em resultado da exposição<br />

dos indivíduos aos diferentes modelos em vigor no meio espacial. A<br />

aprendizagem de técnicas delinquentes e as justificações encontradas são<br />

os instrumentos fundamentais para que um indivíduo se torne ou não<br />

delinquente, no entanto o contexto envolvente é apresentado como sendo<br />

um elemento crucial.<br />

Hirschi (1969), com a “teoria dos laços sociais”, partindo do princípio<br />

de que as sociedades são consensuais, considera que, se há indivíduos<br />

que não cometem crimes, tal deve-se à existência de um freio normativo e<br />

de socialização, construído a partir dos laços afectivos e do apego a determinadas<br />

pessoas.<br />

O processo de constranger os indivíduos capaz de os levar a não<br />

cometerem crimes passa pela existência de quatro pontos: “o apego” por<br />

norma aos familiares, mas que se estende a amigos e colegas de escola; “o<br />

compromisso”, que leva à interiorização de objectivos de vida; “a participação<br />

em actividades”, que permitem a participação para o alcance de<br />

objectivos e por fim “a interiorização de valores”, que é condicionada<br />

pelas crenças.<br />

Merton (1953), discordando de que as sociedades sejam consensuais,<br />

apresenta o conceito de sociedade de conflito onde existe uma anomia,<br />

com contornos diferentes dos propostos por Durkheim, inscrita na sociedade,<br />

sendo produzida pela estrutura social e que explica a existência de<br />

conflitos entre os indivíduos. As sociedades são geradoras de expectativas<br />

enormes nos seus elementos, levando-os a acreditar na possibilidade de as<br />

conseguir alcançar, sem que sejam proporcionadas a todos as mesmas condições<br />

para as atingirem, daí que os indivíduos sejam levados à confrontação<br />

com quatro opções: “delinquência, outsiders, conformismo” e “ritualismo”.<br />

24


Dependências e outras violências…<br />

A corrente das “teorias da reacção social” deriva de uma selecção de<br />

propostas das teorias anteriores e definitivamente centrou-se na sociedade<br />

em detrimento do indivíduo, sendo notória a prevalência das teorias marxistas.<br />

Lemert (1972), autor do conceito de “etiquetagem”, é apontado<br />

como referência. Para consistência da sua teoria, Lemert começa por fazer<br />

a distinção entre comportamento “desviante primário” e comportamento<br />

“desviante secundário”, defendendo que os primários são os mais reprimidos<br />

socialmente, sendo-lhes, assim, conferida maior visibilidade. A<br />

reacção social, ao ser intensa, desenvolve nos indivíduos sentimentos de<br />

revolta, que tenderão a ser, de acordo com a expectativa social, de acordo<br />

com a etiqueta, de delinquente ou desviante.<br />

A sociedade, em Lemert, é um palco de relações de poder e contrapoder<br />

sendo mais fácil aplicar a lei nos estratos sociais mais baixos, assumindo-se<br />

a reacção social como um elemento determinante do comportamento<br />

individual.<br />

25


METODOLOGIA<br />

Foi no início do ano de 2003 que o Superintendente Chefe, Jorge Félix<br />

Furtado Dias, então Comandante Regional da Polícia de Segurança<br />

Pública dos Açores, movido por um misto de preocupação e de curiosidade,<br />

pretendia que se efectuasse um estudo que englobasse as nove ilhas<br />

açorianas, procurando saber-se qual a dimensão e relação causal do<br />

álcool e da violência nos Açores? Após algumas conversas informais,<br />

estava encontrada, ainda que de forma rudimentar, uma pergunta de partida,<br />

havendo que passar à sua exploração.<br />

Em <strong>2004</strong>, o Governo Regional dos Açores fez questão de demonstrar<br />

preocupação com o fenómeno das dependências ao anunciar a intenção de<br />

gastar 2,5 milhões de euros num programa Regional de Prevenção da<br />

Droga (AO, 29/05/<strong>2004</strong>: 2), criando-se um centro de recursos com meios<br />

técnicos e materiais para intervenção na área, a instalação de uma ou mais<br />

comunidades terapêuticas e a edição de um guia para a Prevenção da<br />

Droga com uma tiragem de 100 000 exemplares para distribuir pelos lares<br />

açorianos.<br />

O mérito destas medidas, apresentadas pelo próprio Presidente do<br />

Governo Regional, Carlos César, depois de um estudo (Peixoto, <strong>2004</strong>) realizado<br />

em S. Miguel, que dava conta de o fenómeno da droga ser o principal<br />

problema da sociedade açoriana, residiu essencialmente em demonstrar<br />

que o Governo Regional estava atento à problemática, embora à procura de<br />

fundamentação científica, conferindo-nos algum espaço de intervenção.<br />

Todavia, em Setembro de 2008, durante a campanha eleitoral, Carlos<br />

César admitiu que o Governo Regional tinha falhado em matéria de toxicodependência,<br />

anunciando que, com a vitória nas eleições, criaria uma<br />

Direcção Regional com intervenção específica na problemática.<br />

27


Alberto Peixoto<br />

Uma das justificações para a realização da primeira edição do presente<br />

estudo derivou da crítica frequentemente apresentada pelos técnicos da<br />

falta de um plano estratégico de prevenção contra as dependências em<br />

geral, embora a problemática das drogas ainda fosse a que mais acções de<br />

prevenção motivava, apesar de desarticuladas e assentes no voluntarismo<br />

por vezes de pessoas que muito pouco eram capazes de dar à causa para<br />

além desse mesmo voluntarismo.<br />

Com a reeleição do Governo Regional e a criação da Direcção<br />

Regional da Prevenção e Combate às Dependências na alçada da<br />

Secretária Regional da Saúde, após uma demorada reunião, acordou-se a<br />

necessidade de realização de uma segunda edição do estudo das dependências<br />

nos Açores, decorridos que estavam cinco anos sobre a realização da<br />

primeira edição.<br />

Tal como na primeira edição, após novas reflexões e conversações com<br />

alguns dos técnicos regionais e do Instituto da Droga e Toxicodependência,<br />

com responsabilidades nesta problemática, procurámos ser ainda mais<br />

abrangentes e mais ambiciosos, fixando-se a pergunta de partida em: qual a<br />

evolução das principais dependências identificadas, nos Açores, dos respectivos<br />

perfis eco-sócio-familiares dos dependentes, bem como das<br />

relações estabelecidas com os comportamentos desviantes?<br />

Aproveitando a experiência da concretização da primeira edição em<br />

particular ao nível da recolha de dados estatísticos, ultrapassámos novamente<br />

as questões logísticas com a articulação dos programas regionais<br />

existentes, assentes em três momentos para a concretização dos objectivos<br />

propostos, sendo: 1.º) formação; 2º) recolha de dados e 3.º) tratamento da<br />

informação e respectiva transcrição para o presente livro.<br />

O sub-programa Jovens Solidários, de <strong>2004</strong>, permitiu a participação<br />

de dezoito jovens açorianos, naturais de oito das nove ilhas, e, em <strong>2009</strong>,<br />

de catorze jovens, de seis ilhas, por um período de três meses, jovens esses<br />

que tiveram a missão da recolha dos dados, através de inquérito, em cada<br />

uma das suas ilhas. Tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, a cobertura total dos<br />

dezanove concelhos foi conseguida através da deslocação dos jovens residentes<br />

nos concelhos mais próximos.<br />

Antes da recolha da informação, em ambas as edições, definimos como<br />

essencial a realização de um curso de formação para os jovens, transmitindo-lhes<br />

conhecimentos sobre a problemática em estudo bem como sobre<br />

28


Dependências e outras violências…<br />

métodos e técnicas de recolha de informação sociológica, daí a necessidade<br />

de utilização conjunta do sub-programa Janela de Oportunidades que permitiu<br />

a concentração de todos os jovens em Ponta Delgada, durante uma<br />

semana, com o intuito de participarem na referida acção de formação que<br />

todos frequentaram com aproveitamento e satisfação.<br />

A comparação de dados referentes à realidade açoriana e outras realidades<br />

regionais foi um objectivo traçado em ambas as edições do estudo,<br />

visto que a definição dos dados de pesquisa não se cingiram aos já conhecidos<br />

e referentes a outros meios.<br />

Na primeira edição propusemo-nos apresentar respostas aos técnicos<br />

regionais, os quais, nas suas intervenções públicas, reclamavam dados fiáveis<br />

que fundamentassem planos de intervenção consistentes. Não negámos<br />

a pertinência de tais críticas na medida em que era colectivamente<br />

aceite ter sido na década de 90 que se deu a afirmação do fenómeno da<br />

dependência de substâncias ilícitas através da visibilidade conseguida quer<br />

por via das apreensões policiais quer por via da crescente solicitação de<br />

intervenção dos técnicos no terreno, sem que até <strong>2004</strong> tivesse sido feito<br />

qualquer estudo a nível Açores.<br />

Na segunda edição, embora a maior parte dos concelhos açorianos<br />

continuasse sem um plano municipal de prevenção das dependências, elegeu-se<br />

como prioritária a actualização de dados, como forma de precisar a<br />

evolução do fenómeno, bem como de avaliar o impacto das acções e medidas<br />

concretizadas ao longo dos cinco anos que medeiam as duas edições,<br />

tendo-se introduzido uma nova questão ao nível dos estudos científicos<br />

realizados nos Açores: a vitimização.<br />

Desde a realização da primeira edição do estudo, as frequentes solicitações<br />

para participar em acções de sensibilização organizadas pela então<br />

Secretaria Regional dos Assuntos Sociais, Câmaras Municipais, pelas<br />

escolas de diferentes níveis de ensino, por instituições particulares de solidariedade<br />

social e até de cariz religioso fizeram com que procurássemos<br />

acompanhar muito de perto a evolução do fenómeno das dependências nos<br />

Açores e demais regiões, e das acções desenvolvidas tanto ao nível da<br />

intervenção primária como secundária.<br />

Assim, e por motivos óbvios, além de procurar caracterizar a evolução<br />

do fenómeno em estudo, entendemos que a abordagem não ficaria<br />

completa se não analisássemos as estratégias seguidas e respectivos<br />

29


Alberto Peixoto<br />

impactos na comunidade. Por isso decidimos analisar todas as edições de<br />

três jornais de 01 de Janeiro de 2006 a 31 de Dezembro de <strong>2009</strong>: um de<br />

tiragem nacional, o Diário de Notícias; e dois de tiragem regional, o<br />

Diário dos Açores e o Correio dos Açores, com o objectivo de apurar que<br />

tipo de assuntos foram noticiados, que iniciativas foram concretizadas e<br />

que tipo de cobertura mediática foi dada ao fenómeno.<br />

Acreditando que as abordagens dos media seguem os interesses da<br />

comunidade, uma análise pormenorizada da imprensa podia fornecer-nos<br />

uma vertente mais qualitativa do fenómeno além de revelar níveis de sensibilidade<br />

social para com a problemática das dependências.<br />

Redefinidas as perspectivas teóricas e modelos metodológicos de<br />

abordagem, adequados ao fenómeno em estudo tanto em <strong>2004</strong> como em<br />

<strong>2009</strong>, por necessidade de comparabilidade dos dados recolhidos, mantivemos<br />

uma estratégia de investigação, situada no âmbito dos comportamentos<br />

e das relações sociais, de cariz sistémico, que designámos por<br />

perspectiva taxológica.<br />

O vocábulo taxológica deriva de taxologia cuja origem reside no<br />

étimo latino taxu que significa árvore conífera, ou seja, árvore cujos frutos<br />

apresentam forma cónica, e do étimo grego logos, que significa tratado.<br />

Reside na compreensão etimológica a razão da nossa escolha por traduzir<br />

a ideia conceptual da perspectiva apresentada apesar de epistemologicamente<br />

exigir um maior aprofundamento. Conceptualmente o fenómeno<br />

corresponde a um fruto com uma forma cónica, onde está inscrita uma<br />

hierarquia de valores e interesses, individuais e colectivos, com uma base<br />

mais ou menos alargada. Interesses egocêntricos, individualistas conferem-lhe<br />

uma forma cónica mais pontiaguda. Interesses de carácter colectivo,<br />

de convivência e de coesão social conferem-lhe uma forma piramidal<br />

mais achatada. Compreender forma, dimensão e constituição do fenómeno<br />

remete-nos para a árvore, o tronco, os ramos, as raízes e respectivas<br />

características. Por uma ordem lógica, destacam-se as raízes, por serem a<br />

base de sustentação, constituída por um conjunto de formas diversas e com<br />

capacidades e contributos diferenciados no todo, daí a atenção especial às<br />

questões relacionadas com a inserção contextual. Cada uma das raízes<br />

assume um papel idêntico ao desempenhado pelas instituições no indivíduo.<br />

Ao nível da raiz está a Família, a Escola e a Crença, correspondendo<br />

a três grandes sistemas interligados e que se decompõem em subsistemas<br />

30


Dependências e outras violências…<br />

da mesma forma que as raízes se ramificam em redes cada vez mais finas.<br />

Todos os fenómenos são resultantes de uma unidade global, apetrechada<br />

de todas as influências e acontecimentos, que conseguem interferir na<br />

constituição global da unidade. O fenómeno, sempre nascido de uma unidade<br />

global, não é mais do que o resultado da articulação entre a estrutura<br />

e o conteúdo, entre a acção e a forma.<br />

Crentes no papel socializador da Família e da Escola, estamos longe<br />

de lhes reconhecer poderes exclusivos, motivo pelo qual lançamos a<br />

Crença, considerando-a uma grande instituição, aglutinando a fé, a superstição<br />

e a paixão, um campo cuja definição se situa entre o racional e o irracional,<br />

entre o real e o imaginário.<br />

O tronco apresenta-se como um canal direccionado de concretização<br />

sob influências, daí resultando a decomposição em ramos e folhas. Toda a<br />

unidade global e respectiva produção frutífera estão sob influência dos<br />

condicionalismos ambientais, exercidos sobre cada um dos sistemas e formas<br />

de se articularem.<br />

A Etiologia, etimologicamente, nasceu do grego pela junção da aita –<br />

causa – e do logos – tratado, podendo traduzir-se pelo estudo da origem das<br />

coisas. Todavia, em bom rigor, é ao nível da etiopatologia, enquanto estudo<br />

das causas das moléstias sociais, que se situa a nossa intervenção. Para além<br />

da tipologia e da dimensão do fenómeno em análise, enquanto objecto de<br />

estudo, interessam-nos todas as dependências, enquanto comportamentos<br />

de realimentação, compulsivamente repetidos, para auto-satisfação,<br />

cuja não concretização provoca sofrimento, e as suas interacções com o<br />

fenómeno da vitimização, entendendo-se esta como toda a vivência de<br />

experiências resultantes de acto praticado por acção ou omissão susceptível<br />

de violar direitos e deveres próprios ou alheios.<br />

Dada a complexidade emergente dos conceitos apresentados, agravada<br />

pelo objectivo de nos centrarmos sobretudo na fronteira de interacção<br />

dos conceitos, encerrados numa hierarquia clara de interesses, valores e<br />

representações, está fundamentada a necessidade da abrangência sistémica<br />

apresentada para compreender a articulação, a interligação e os nexos<br />

de causalidade sociológica.<br />

Para a definição das amostras, adiante descritas, tomámos como referência<br />

o censo de 2001, quanto à distribuição populacional por ilha, grupos<br />

etários e sexos para aplicação diferenciada do questionário pretendi-<br />

31


Alberto Peixoto<br />

do, tendo-se definido como obrigatória a inquirição proporcional em cada<br />

uma das variáveis referidas.<br />

Na elaboração do inquérito, tivemos como preocupação que o mesmo<br />

tivesse as características de um biograma por forma a que acerca de cada<br />

pessoa inquirida fosse possível traçar um percurso de vida, incidências,<br />

frequências e idade dos acontecimentos, determinando o nível de envolvimento<br />

individual, na dependência e no sistema de significações.<br />

O biograma, enquanto técnica metodológica, permite uma análise<br />

dupla onde o cariz quantitativo e o qualitativo são identificáveis para além<br />

de permitirem identificar as suas interligações. Cremos ser a técnica mais<br />

adequada à perspectiva taxológica. Neste âmbito, o biograma apresenta-se<br />

como um questionário que pode ser vertido num gráfico de vida individual,<br />

sendo nosso objectivo traçar-se uma delineação-tipo para a população<br />

açoriana com base nos valores médios das variáveis de pesquisa.<br />

É nossa intenção responder às seguintes questões:<br />

Qual a evolução das principais dependências nos Açores?<br />

Qual a evolução da sua difusão geográfica?<br />

Que diferenças apresentam os consumidores açorianos de <strong>2004</strong> e os<br />

de <strong>2009</strong>? O que consomem? Como consomem? E por que consomem?<br />

Qual a evolução das taxas de abandono e de recaída em cada uma das<br />

dependências e de outras problemáticas associadas?<br />

Após a análise de anteriores estudos, efectuados sobre a nossa temática,<br />

e das conclusões a que chegaram, estamos em condições de formular<br />

algumas hipóteses explicativas:<br />

Hipótese 1) Existindo uma relação entre hábitos de consumo e desenvolvimento<br />

social, continuarão a existir diferenciações na prevalência de<br />

consumos de substâncias tóxicas por ilhas e por concelhos.<br />

Hipótese 2) Dada a influência da vivência familiar nos comportamentos<br />

futuros dos indivíduos, os elementos oriundos de famílias, onde eram<br />

frequentes os quadros de violência doméstica, continuarão a apresentar<br />

maior propensão para as dependências em geral.<br />

Hipótese 3) Partindo do princípio de que a propensão para o consumo<br />

de substâncias está relacionada, em parte, com um certo estilo de vida,<br />

então é de prever a existência de regularidades ao nível dos perfis dos consumidores<br />

e/ou abusadores de substâncias.<br />

32


A EVOLUÇÃO COMPARATIVA DE OUTROS ESTUDOS<br />

Os estudos do Instituto da Droga e Toxicodependência sobre a evolução<br />

do fenómeno da dependência nos Açores, entre 2001 e 2007, longe do<br />

desejável, em comparação com a evolução a nível nacional e europeu,<br />

demonstram que estamos perante uma desconformidade entre as representações<br />

sociais da evolução do fenómeno e os resultados dos estudos.<br />

Convém recordar que, em 2005, segundo o Observatório Europeu da<br />

Droga e Toxicodependência, a Dinamarca apresentava, entre os 15 e os 64<br />

anos, uma prevalência de consumo de cannabis de 31%, a França, 23%, a<br />

Espanha e a Irlanda, 20%, a Holanda, 15%, a Suécia, a Grécia e o<br />

Luxemburgo, 13%, Portugal, 8%, e a região Açores, 8% (Peixoto, 2005:125).<br />

PAÍSES Prevalência do consumo<br />

de cannabis ao longo da vida em<br />

2005, 15-64 anos (%)<br />

Alemanha 19<br />

Bélgica (Fr.) 21<br />

Dinamarca 31<br />

Espanha 20<br />

Finlândia 10<br />

França 23<br />

Grécia 13<br />

Holanda 15<br />

Irlanda 20<br />

Luxemburgo 13<br />

Noruega 13<br />

Portugal 8<br />

Reino Unido (I+PG) 27<br />

Suécia 13<br />

Quadro n.º 1 Prevalência do consumo de cannabis na UE dos 15.<br />

33


Alberto Peixoto<br />

Ao nível da prevalência de cocaína, Portugal apresentava, em 2005,<br />

uma prevalência de 0,9% na população entre os 15 e os 64 anos, a França,<br />

2,2%, a Itália, 4,6%, a Espanha, 5,9%, o Reino Unido, 6,1%, e a região<br />

Açores, 0,1% (Peixoto, 2005: 124).<br />

Em 2007, o inquérito, dirigido pelo professor Casimiro Balsa à população<br />

portuguesa entre os 15 e os 64, tendo por referência os dados recolhidos<br />

em 2001, concluiu que aumentou a prevalência do consumo de<br />

droga. De 7,8% de prevalência, em 2001, em 2007, atingiram-se os 12%.<br />

Naquele inquérito, no grupo etário entre os 15 e os 24 anos, a prevalência<br />

de consumo de álcool aumentou de 76 para 79,2%, a prevalência de consumo<br />

de tabaco aumentou de 40 para 48,9% e a prevalência do consumo<br />

de drogas aumentou dos 12,4 para 15,4%.<br />

O Relatório das Drogas <strong>2009</strong>, da Agência das Nações Unidas para<br />

Assuntos de Droga e Crime, estimava que, em 2007, existiam entre 172 a<br />

250 milhões de pessoas em todo o mundo, com idade superior a 15 anos,<br />

que já tinham experimentado pelo menos uma vez uma denominada substância<br />

ilícita, representando entre 2,6 e 3,7% da população mundial.<br />

Descreveu os consumos europeus em 59,7% de opiáceos, 19,5% de cannabis,<br />

10,9% de anfetaminas e 8,4% de cocaína. Em África, destacava-se<br />

o consumo de cannabis entre 63% dos consumidores. Na América do Sul,<br />

a cocaína, com 52,1%. Na América do Norte, os consumidores repartiam-<br />

-se em 33,5% pela cocaína, em 23,3% pela cannabis e em 20,7% pelos<br />

opiáceos. Na Ásia, 64,6% dos consumidores preferiam os opiáceos e na<br />

Oceânia foi a cannabis a substância mais consumida (47%).<br />

O referido relatório dá ainda conta de um decréscimo de 19% na produção<br />

de papoila, no Afeganistão, um decréscimo de 18% de plantações de<br />

coca, na Colômbia, embora se tenha assistido a um aumento da produção e<br />

circulação de estimulantes de origem química (DA, 25/Jun/<strong>2009</strong>: 13).<br />

O relatório sobre A Evolução do Fenómeno da Droga na Europa,<br />

2008 caracteriza Portugal como sendo um país que possui baixas prevalências<br />

de consumo em todas as drogas, sendo, no entanto, de destacar que,<br />

ao nível do número de mortes relacionadas com o consumo, Portugal possuía<br />

taxas de mortalidade muito elevadas em relação aos demais países.<br />

Em Portugal, entre 2006 e 2007, as mortes relacionadas com o consumo<br />

de droga subiram 45%, tendo sido em 91% dos casos homens, com a idade<br />

média de 34 anos de idade. Registou-se uma taxa de mortalidade de 31<br />

34


Dependências e outras violências…<br />

consumidores por cada milhão de habitantes enquanto a Hungria com a<br />

taxa mais baixa registou 4 mortes por cada milhão de habitantes. Com as<br />

taxas mais elevadas surgiu a Estónia, com 73 mortes, seguindo-se o<br />

Luxemburgo, com 60, e o Reino Unido, com 47 mortes por cada milhão<br />

de habitantes (A Evolução do Fenómeno da Droga na Europa, 2008: 92).<br />

O inquérito geral à população, realizado em 2007, apresenta diferenças<br />

significativas em relação aos valores detectados num outro estudo realizado<br />

pelo IDT em meio escolar, em 2006, onde a prevalência de consumo diminuiu<br />

em todas as substâncias psicoactivas, como se demonstra de seguida.<br />

Em termos nacionais, em meio escolar, entre os alunos que frequentavam<br />

o 3.º ciclo (7.º, 8.º, e 9.º), dos 12 aos 15 anos de idade, em 2001, em<br />

67%, havia a prevalência de consumo de álcool, enquanto, em 2006, baixou<br />

para 59%. Nos Açores, em 2001, a prevalência era de 71% e, em 2006,<br />

baixou para 69%. A cerveja, a mais consumida das bebidas alcoólicas, baixou<br />

de 63%, em 2001, para 61%, em 2006. Nas bebidas destiladas, baixámos<br />

de 54% para 48%.<br />

A média nacional da prevalência de consumo de tabaco, em 2001, era<br />

de 49% e, em 2006, passou para 35%. Nos Açores, em 2001, detínhamos<br />

uma taxa de prevalência de consumos de 53% entre a população estudantil<br />

no 3.º ciclo e, em 2006, baixámos para 43%.<br />

A prevalência do consumo de drogas, a nível nacional, em 2001, era<br />

de 14% e, em 2006, baixou para 11%. A nível nacional, no consumo de<br />

cannabis, de 10,4% baixou para 6,3%. Nos Açores, de 14%, em 2001, baixou<br />

para 10%, em 2006.<br />

Nas anfetaminas, a nível nacional, baixou-se de 3,3% para 1,7%. Nos<br />

Açores, de 5,1%, em 2001, baixou-se para 2,6%, em 2006.<br />

Na cocaína, a nível nacional, de 4,4% baixou-se para 1,9%. Nos<br />

Açores, de 7,5%, em 2001, baixou-se para 2,8%, em 2006.<br />

No esctasy, a nível nacional, de 4,1%, em 2001, baixou-se para 1,8%.<br />

Nos Açores, de 5,9%, em 2001, baixou-se para 2,7%, em 2006.<br />

No LSD, a nível nacional, baixou-se de 2,7% para 0,8%, em 2006.<br />

Nos Açores, de 3,6% baixou-se para 2,5%.<br />

Nos cogumelos alucinogéneos, a nível nacional, de 2,7% baixou-se<br />

para 1,4%. Nos Açores, de 3,4% baixou-se para 2,1%.<br />

Na heroína, a nível nacional, baixou-se de 3,4%, em 2001, para 1,5%,<br />

em 2006. Nos Açores, de 5,5%, em 2001, baixou para 2,7%.<br />

35


Alberto Peixoto<br />

Os tranquilizantes tinham uma prevalência de consumo entre 10% dos<br />

adolescentes e, em 2006, baixaram para 4%. Nos Açores, de 16%, em<br />

2001, baixou-se para 6%, em 2006.<br />

Em relação ao consumo abusivo de álcool, nos últimos 30 dias,<br />

Portugal, segundo o referido estudo, situava-se, em 2007, em 4.º lugar<br />

numa lista de 35 países europeus, embora em relação ao consumo de drogas,<br />

tabaco e fármacos se situasse abaixo da média europeia.<br />

No ensino secundário (10.º, 11.º e 12.º anos), entre os 15 e os 18 anos,<br />

a nível nacional, em 2001, havia uma prevalência de consumo de bebidas<br />

alcoólicas de 91%, em 2006, tendo baixado para 88%. Nos Açores, o consumo<br />

de álcool manteve-se inalterado com uma prevalência de consumo<br />

de 92%, apesar da redução do consumo de vinho de 3% e da cerveja de<br />

1%. De uma prevalência de consumo de vinho de 69% baixou-se para<br />

66%. Na cerveja, de uma prevalência de 88%, em 2001, baixou-se para<br />

uma prevalência de 87%.<br />

Deveu-se à crescente preferência pelos denominados alcoolpops que<br />

a prevalência do consumo de bebidas alcoólicas se manteve estável nos<br />

Açores, sendo um fenómeno que importa acompanhar justificando alguma<br />

regulamentação a este nível, nomeadamente proibir as denominadas happy<br />

hours que incentivam o consumo desmedido.<br />

A nível nacional, o consumo de tabaco, de 70%, em 2001, diminuiu para<br />

uma prevalência de 55%, em 2006. Nos Açores, de 74% baixou para 67%.<br />

O consumo de tranquilizantes, a nível nacional, em 2001, era de 14%,<br />

em 2006, baixou para 7%. Nos Açores, de 16%, em 2001, baixou para 7%,<br />

em 2006.<br />

No ensino secundário, a nível nacional, os 28% de prevalência de consumo<br />

de drogas baixou para 22%. Neste ponto, os dados do estudo do IDT<br />

não caracterizam a evolução da região.<br />

Todavia, atendendo à evolução das prevalências de consumo das diferentes<br />

substâncias, pode afirmar-se que existem algumas especificidades<br />

da região. Em relação à prevalência do consumo de cannabis, entre 2001<br />

e 2006, manteve-se constante nos 32%. Tal quadro não será alheio ao facto<br />

de ser uma substância cada vez mais produzida na região, conforme atestam<br />

as muitas apreensões da PSP ao nível de plantações de cannabis em<br />

praticamente todas as ilhas. Os alunos do ensino secundário da região são<br />

os que a nível nacional apresentam a mais elevada prevalência de consu-<br />

36


Dependências e outras violências…<br />

mo desta substância em todo o território nacional, tendo, em 2006, ultrapassado<br />

a região do Alentejo, que, em 2001, detinha a mais elevada prevalência<br />

desta substância.<br />

As anfetaminas na região registaram também uma redução na prevalência<br />

de consumo de 4,2% para 3,3%. No entanto, a este nível, passamos<br />

a deter a mais elevada taxa de prevalência do território nacional que, em<br />

2006, se situava nos 2,1% depois de ter registado uma prevalência de<br />

3,5%, em 2001.<br />

Ao nível da cocaína, nos Açores, de 5,2% de prevalência, em 2001,<br />

passámos para uma taxa de 1,8%, em 2006, situando-nos a meio da tabela<br />

nacional liderada pela região do Algarve, com 2,3%, e a Madeira, com<br />

2,1%. A nível nacional, de uma prevalência de 3,6%, em 2001, passou-se<br />

para uma taxa de 1,6%, em 2006.<br />

No tocante ao consumo de esctasy, no ensino secundário, no Continente,<br />

passámos de uma prevalência de 4,2% para uma prevalência de 2%, em<br />

2006. Nos Açores, passámos de uma prevalência de 4,6% para 3%, em 2006.<br />

A prevalência de consumo de LSD, a nível nacional, em 2001, era de<br />

3,1% e, em 2006, baixou para 1,5%. Nos Açores, de 3,4%, em 2001, baixou<br />

para 2,9%, em 2006.<br />

Tendo, conforme já dissemos, o único estudo efectuado na região<br />

sobre a prevalência de consumos na população em geral sido realizado em<br />

<strong>2004</strong> e publicado em 2005, pretendeu-se em <strong>2009</strong> realizar novo estudo<br />

comparativo. No entanto, no âmbito do Plano Regional de Prevenção da<br />

Toxicodependência da Lagoa, foi realizado, naquele concelho, em 2007, o<br />

mesmo inquérito à população em geral (de <strong>2004</strong>) com uma amostra de 1<br />

412 indivíduos. Com quotas definidas a 11% para cada grupo etário, constituíram-se<br />

nove classes, com indivíduos de ambos os sexos (50% cada),<br />

sendo a primeira formada por pessoas com 14 e menos anos, seguindo-se<br />

a dos 15 aos 20 anos, a dos 21 aos 25, a dos 26 aos 30, a dos 31 aos 35, a<br />

dos 36 aos 40, a dos 41 aos 45, a dos 46 aos 50 e por último a classe das<br />

pessoas com 51 e mais anos de idade.<br />

Ali soube-se que a prevalência de consumos regulares de bebidas<br />

alcoólicas, na população em geral, de 54,5% baixou para 30,6%. A prevalência<br />

da dependência de tabaco, de 33,1% na população em geral, baixou<br />

para 31,2%. Ao nível da prevalência do consumo de drogas, de 10,8%, em<br />

<strong>2004</strong>, na população em geral, baixou para 9,9%.<br />

37


Alberto Peixoto<br />

Outro dos estudos realizados na região sobre a problemática foi o<br />

designado por Dependências no Faial <strong>2004</strong>-2008, com a finalidade de responder<br />

às necessidades do Plano Municipal de Prevenção das<br />

Toxicodependências, do concelho da Horta, o qual teve como população<br />

alvo 1 278 residentes de todas as freguesias da ilha do Faial, dos quais 639<br />

eram homens e outros 639, mulheres.<br />

Em <strong>2004</strong>, tinha-se detectado que, na ilha do Faial, 28,4% da população<br />

era fumadora, enquanto, em 2008, a população fumadora diminuiu<br />

para 27,9% do total. Em relação ao consumo regular de bebidas alcoólicas<br />

de 56,8%, em <strong>2004</strong>, passou-se para 47,7%, em 2008, ou seja, um decréscimo<br />

de 9,1%, e no tocante à prevalência do consumo de droga, em <strong>2004</strong>,<br />

era de 9,8%, numa amostra constante de 11% em cada grupo etário, e em<br />

50% para cada sexo, em 2008, o valor encontrado ficou-se pelos 9,2%,<br />

abaixo 0,6% do valor detectado em <strong>2004</strong>.1<br />

Por fim detectou-se que, em 2008, existiam no Faial cerca de 90<br />

dependentes de droga, 3 600 fumadores e 1 000 indivíduos dependentes de<br />

álcool. Já tinham tentado abandonar a dependência de que padeciam 3 500<br />

pessoas e 49%, até ao momento da realização do estudo, diziam que<br />

tinham conseguido ter sucesso no abandono.<br />

Outro indicador obtido prendeu-se com uma certa conformação social<br />

com o consumo/tráfico de droga bem como com o consumo excessivo de<br />

bebidas alcoólicas. Em <strong>2004</strong>, 69,7% dos faialenses diziam ter conhecimento<br />

de consumo/tráfico de droga no meio em que residiam e, em 2008,<br />

baixou para 42,9%, apesar do aumento do número de abordagens à problemática<br />

pela comunicação social e de as apreensões policiais não demonstrarem<br />

que o tráfico de droga tenha diminuído. Em relação ao consumo de<br />

álcool, em <strong>2004</strong>, 93,7% dos faialenses tinham conhecimento de consumos<br />

excessivos e, em 2008, baixou para 60,3%, assistindo-se igualmente a uma<br />

perda de visibilidade.<br />

A Cruz Vermelha Portuguesa, em 2008, realizou um inquérito com uma<br />

amostra de 1 540 pessoas, entre os 16 e os 18 anos, sobre a percepção dos<br />

1 Refira-se que o valor de referência, detectado no estudo Dependências e <strong>Outras</strong> <strong>Violências</strong>,<br />

2005: 122, em <strong>2004</strong>, para a ilha do Faial, situava-se nos 11,4% da população, significativamente<br />

acima do valor de 2008. A diferença de valores deriva das diferenças na amostra de<br />

<strong>2004</strong> em relação a 2008 visto que o primeiro era um estudo de região e o segundo, um estudo<br />

de ilha, tendo-se refeito a amostra a fim de se encontrar dados comparáveis.<br />

38


Dependências e outras violências…<br />

riscos do consumo de álcool, tendo-se chegado à conclusão de que 80% dos<br />

jovens tinha a noção dos riscos do consumo de álcool (DA, 21/Out/<strong>2009</strong>: 5).<br />

Para além dos estudos com metodologias mais clássicas para quantificação<br />

das prevalências do consumo de substâncias e dos quadros de<br />

dependências, novas metodologias vão sendo ensaiadas. Para além da análise<br />

dos vestígios de cocaína nas notas, Fritz Sörgel e Verena Jakob dedicaram-se<br />

à detecção de resíduos de cocaína nos esgotos das cidades.<br />

Depois de terem analisado esgotos em 29 locais na Alemanha calcularam<br />

que os alemães consomem cerca de 20 toneladas de cocaína por ano, quando<br />

naquele país, por ano, as autoridades apenas conseguem apreender<br />

cerca de uma tonelada (CINT, 20/Jun/2007: 38).<br />

Ao nível da detecção individual do consumo de substâncias, através<br />

das análises ao sangue, urina e saliva, a metodologia que se segue são os<br />

adesivos para recolha de suor por fornecerem dados bem mais precisos<br />

sobre o consumo de metadona, cafeína e cocaína.<br />

Em 2008, “na verdade, as infracções relacionadas com a oferta de<br />

droga aumentaram 12% e as relacionadas com a posse, mais de 50 %. A<br />

cannabis continua a ser a droga mais frequentemente associada às infracções<br />

à legislação em matéria de droga.” (Relatório – A Evolução do<br />

Fenómeno da Droga na Europa, 2008: 13) […] Embora a oferta de tratamento<br />

da toxicodependência continue a aumentar na Europa, ainda subsistem<br />

grandes variações entre os países no que respeita à disponibilidade<br />

dos serviços e à sua capacidade para responder a diferentes tipos de<br />

problemas de droga (idem: 14).<br />

Em <strong>2009</strong>, foram apresentados os resultados de um estudo realizado<br />

em 35 países sobre a prevalência do consumo de álcool na população nascida<br />

em 1991, tendo como referência os dados recolhidos em 2003 e em<br />

2007. Tal como detectado nos estudos realizados nos Açores, verificou-se<br />

uma tendência de decréscimo no tabaco e estabilização no consumo de<br />

drogas ilícitas. Já relativamente ao consumo de bebidas alcoólicas,<br />

enquanto nos Açores se denotou um decréscimo, no estudo entre 35 países<br />

registou-se uma tendência para o aumento. Os dados mais preocupantes do<br />

referido estudo prendem-se com o facto de terem aumentado de 25%, em<br />

2003, para 56%, em 2007, os bebedores excessivos e uma aproximação<br />

comportamental muito significativa das mulheres em relação aos homens<br />

(DA, 28/Mar/<strong>2009</strong>:13).<br />

39


A AMOSTRA<br />

O critério utilizado para a determinação da população a inquirir foi o da<br />

aleatoriedade, mas, em bom rigor, uma aleatoriedade condicionada, visto pretendermos<br />

que fosse o mais representativa possível do universo açoriano.<br />

Definimos que as ilhas, os concelhos, o género e a diferenciação etária fossem<br />

as únicas condicionantes impostas, daí terem sido impostas, logo à partida, a<br />

todos os jovens que connosco colaboraram na definição da amostra.<br />

SEXO <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Homens 49,5 49,3<br />

Mulheres 50,5 50,7<br />

Quadro n.º 2 Comparação por sexos da população<br />

inquirida.<br />

O número de inquiridos por ilha e por concelho foi definido pelo princípio<br />

da proporcionalidade tendo-se chegado, em <strong>2004</strong>, ao número 3 866,<br />

no qual 1 914 eram do sexo masculino (49,5%) e 1 952, do sexo feminino<br />

(50,5%), e, em <strong>2009</strong>, a 3 654 inquiridos dos quais 1 802 homens (49,3%)<br />

e 1 828 mulheres (50,7%)<br />

Procurou-se que todos os grupos etários tivessem idêntica representatividade<br />

na amostra final, mas verificou-se que, das quatro condicionantes<br />

impostas à partida, a questão das idades era a mais difícil de conseguir de<br />

modo a coincidir também com a proporcionalidade concelho a concelho.<br />

Acabámos por privilegiar a proporcionalidade por concelhos, resultando<br />

deste modo que cada grupo etário fosse repartido a meio para cada<br />

41


Alberto Peixoto<br />

um dos sexos e tivesse um peso entre 9 a 15% na amostra final. O primeiro<br />

grupo etário congregou os inquiridos com 14 e menos anos de idade,<br />

seguindo-se os inquiridos entre os 15 e os 20 anos, os 21 e os 25 anos, os<br />

26 e os 30 anos, os 31 e os 35, os 36 e os 40, os 41 e os 45, os 46 e os 50<br />

e por fim os inquiridos com 51 ou mais anos de idade.<br />

Quanto ao estado civil da população inquirida, em <strong>2004</strong>, 47% eram<br />

casados, 42,7%, solteiros, 4,7%, viúvos, 3,1%, divorciados, 1,3%, separados<br />

e 1,2% viviam em união de facto. Em <strong>2009</strong>, 41,9% eram solteiros,<br />

45,9%, casados, 5,6%, divorciados, 2,8%, viúvos, 0,9%, separados e 2,9%<br />

viviam em união de facto.<br />

A verificação do estado civil apresentou-se como um dado de grande<br />

pertinência ao ajudar a precisar a tipologia das relações familiares e afectivas<br />

dos inquiridos, a sua influência nos comportamentos individuais bem<br />

como algumas transformações sociais. Da comparação de duas amostras<br />

verificou-se uma diminuição da população casada contra um aumento da<br />

população divorciada e a viver em união de facto.<br />

ESTADO CIVIL <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Solteiro 42,7 41,9<br />

Casado 47,0 45,9<br />

Divorciado 3,1 5,6<br />

Viúvo 4,7 2,8<br />

Separado 1,3 0,9<br />

União de facto 1,2 2,9<br />

Quadro n.º 3 Estado civil da população inquirida.<br />

As habilitações literárias dos inquiridos tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong><br />

situavam-se predominantemente até ao 9.º ano de escolaridade, dado que<br />

concentra mais de 64% da população. Com escolaridade ao nível do ensino<br />

secundário ou profissional, equiparado ao secundário, surgiu mais de<br />

22% da população e, ao nível do ensino superior, registou-se uma melhoria<br />

visto que em <strong>2004</strong> havia 8,7% da população com curso superior e, em<br />

<strong>2009</strong>, representavam 10,6% da população inquirida.<br />

Abaixo do 9.º ano de escolaridade, em <strong>2004</strong>, 1,4% da população<br />

não possuía qualquer nível de ensino e não sabia ler ou escrever.<br />

42


Dependências e outras violências…<br />

Sabendo ler e escrever, foram identificados 3,9%. Com o primeiro ciclo, a<br />

denominada antiga 4.ª classe, foram referenciados, neste nível, 21,9% dos<br />

inquiridos. Ao nível do 2.º ciclo (6.º ano do escolaridade), apresentaramse-nos<br />

16% do total da amostra.<br />

HABILITAÇÕES LITERÁRIAS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Não sabe ler 1,4 1,1<br />

Sabe ler e escrever 3,9 1,2<br />

1.º ciclo 21,9 15,8<br />

2.º ciclo 16,0 23,3<br />

3.º ciclo 22,0 25,8<br />

Ensino secundário 20,5 20,9<br />

Curso profissional 5,6 1,3<br />

Curso superior 8,7 10,6<br />

Quadro n.º 4 Comparação das habilitações literárias da população inquirida.<br />

Em <strong>2009</strong>, 23,3% possuía o 6 .º ano, 15,8%, o 4.º ano, e não possuía<br />

qualquer nível de ensino sem saber ler ou escrever 1,1% da população e<br />

1,2% sabia ler e escrever. Apurámos, ainda, em relação a <strong>2009</strong> que 14,5%<br />

da população inquirida tinha frequentado um curso profissional.<br />

No tocante às profissões desempenhadas pela população inquirida,<br />

foram identificadas 68 profissões, em <strong>2004</strong>, e 239 profissões, em <strong>2009</strong>.<br />

Atendendo à multiplicação do número de profissões exercidas, optámos<br />

por tratar as mais representativas, ficando as demais agrupadas em três<br />

níveis: as profissões de baixa aptidão técnica (cerca de 35%); as profissões<br />

de média aptidão técnica (cerca de 55%); as profissões de elevada aptidão<br />

técnica (cerca de 10%).<br />

Uma das alterações efectuadas no inquérito de <strong>2009</strong> prendeu-se com<br />

a identificação do grau de satisfação com a profissão/vida escolar, tendo-<br />

-se apurado que 74,2% afirmaram sentirem-se satisfeitos, enquanto 20,1%<br />

afirmaram estar insatisfeitos e 5,7% não soube ou não respondeu.<br />

O vínculo profissional foi outro dos indicadores considerados por<br />

acreditarmos que nos poderia fornecer informação sobre os níveis de<br />

inserção social dos indivíduos bem como a qualidade e intensidade das<br />

suas relações individuais, familiares e sociais, na medida em que entende-<br />

43


Alberto Peixoto<br />

mos existir uma relação entre a qualificação profissional, as habilitações<br />

escolares, as aptidões e as capacidades de interacção. A este nível registaram-se,<br />

entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>, algumas transformações.<br />

Entre as pessoas inquiridas, em <strong>2004</strong>, 46,9%, e, em <strong>2009</strong>, 40,9%, não<br />

possuíam qualquer vínculo profissional. Encontram-se aqui, para além dos<br />

desempregados, estudantes e grande parte das mulheres domésticas, que,<br />

para além das tarefas inerentes às suas famílias, não possuem qualquer<br />

relação laboral.<br />

VÍNCULO PROFISSIONAL <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Não trabalha 46,9 40,9<br />

Serviços ocasionais por conta de outrem 1,0 9,4<br />

Serviços ocasionais por conta própria 12,6 8,6<br />

Contrato a termo 13,7 10,1<br />

Efectivo 24,9 29,5<br />

Outra 0,9 1,5<br />

Quadro n.º 5 População inquirida segundo o vínculo profissional.<br />

Diminuiu, também, o número de pessoas a trabalhar por conta própria<br />

(de 12,6% passou para 8,6%), diminuiu o número de pessoas com contrato<br />

a termo (de 13,7% passou para 10,1%), tendo aumentado o número de<br />

pessoas a fazer serviços ocasionais por conta de outrem e as pessoas em<br />

situação efectiva.<br />

Em <strong>2004</strong>, procurámos identificar a existência de uma relação entre os<br />

inquiridos e a habitação onde residiam, nomeadamente, do ponto de vista<br />

da propriedade, da estabilidade familiar e das condições económicas.<br />

Apesar de identificadas algumas regularidades, optámos por substituir a<br />

questão pela identificação da participação dos inquiridos em actividades<br />

fora da actividade profissional ou escolar.<br />

Concluiu-se que 68,8% dos inquiridos não possuíam qualquer outra<br />

actividade e 31,2% afirmaram possuir outra actividade para além da profissional<br />

ou escolar, tendo surgido em primeiro lugar as actividades de<br />

cariz desportivo (44%), seguidas das religiosas em igualdade com as culturais<br />

(16,3%), as de cariz musical (16,1%) e por último outras (7,3%).<br />

44


O COMBATE ÀS DEPENDÊNCIAS<br />

Existindo uma ideia clara de que o controlo absoluto das drogas e o surgimento<br />

de sociedades livres de drogas é utópico, existe, também, uma convicção<br />

muito forte sobre a possibilidade de se efectuar um controlo relativamente<br />

satisfatório. A necessidade do combate às drogas é um assunto de consensos<br />

e não existe nenhum país que defenda a sua liberalização e total despenalização,<br />

quer das drogas leves quer das ditas drogas duras, havendo,<br />

contudo, diferenças bastante significativas nas abordagens e nos enfoques.<br />

Nicholas Kristof, jornalista do New York Times, através de uma análise<br />

estatística prolongada no tempo, defendeu que existe uma clara noção<br />

de que a guerra contra a droga é uma causa perdida surgindo a legalização<br />

da droga como o mal menor (I, 18/Jun/<strong>2009</strong>: 4).<br />

As campanhas a favor da legalização das drogas tornaram-se uma realidade,<br />

invocando-se o modelo holandês ao nível da liberalização da comercialização<br />

das drogas leves como um exemplo. Contudo, convém recordar que depois<br />

de em 1976 ter sido legalizada a comercialização de cannabis em pequenas<br />

quantidades, o governo local, devido a problemas de ordem criminal referenciados,<br />

em <strong>2009</strong>, estava a ponderar a introdução de mecanismos de controlo de<br />

vendas através de cartões para que apenas membros dos conhecidos «coffee<br />

shops», que comercializam a substância, tivessem acesso à mesma.<br />

Portanto, aquela ideia da liberdade total e do à-vontade é o extremo oposto<br />

à ordem e segurança. Como é sabido, a comercialização e o consumo de<br />

álcool, em Portugal, é livre, enquanto a comercialização das denominadas drogas<br />

ilícitas é crime e o seu consumo constitui contra-ordenação. O resultado em<br />

termos estatísticos é possuirmos a nível nacional cerca de um milhão de alcoólicos<br />

e cem mil dependentes de drogas. Se preferirem, nos Açores, possuíamos,<br />

em <strong>2004</strong>, trinta mil alcoólicos e cinco mil dependentes de drogas.<br />

45


Alberto Peixoto<br />

Como se tem demonstrado, a facilitação do acesso potencia o consumo<br />

e a dificultação faz diminuir a propensão. Recorde-se o caso recente<br />

do tabaco em Portugal. Agravou-se o preço de venda ao público por<br />

via do aumento da carga fiscal e aumentaram-se as barreiras ao consumo<br />

em determinados locais, logo assistiu-se a uma diminuição do consumo<br />

de tabaco.<br />

O investimento em campanhas contra as drogas não garantem qualquer<br />

sucesso conforme foi denunciado no relatório de 1980 da<br />

Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura em<br />

que foram gastos, na década de 70, seis mil milhões de dólares e nunca se<br />

consumiu tantas drogas como até então.<br />

Entre 1990 e 2002, morreram, na Europa, vítimas de overdose,<br />

100.000 jovens (DA, 14/Jan/2005: 11), correspondendo a uma média<br />

anual de 8 000 a 9 000 indivíduos, na maior parte consumidores de heroína<br />

e outros opiáceos frequentemente associados ao consumo excessivo de<br />

álcool. A este respeito, “Cientistas da Rand Corporation determinaram<br />

ainda que se se providenciasse tratamento a todos os toxicodependentes<br />

nos EUA, com um investimento de 21 biliões de dólares, poupar-se-iam<br />

150 biliões em custos sociais nos 15 anos seguintes, ou seja, um retorno<br />

sete vezes superior ao capital investido” (Coelho, <strong>2004</strong>: 58).<br />

Portugal tem-se destacado como um dos países que mais investe no<br />

combate às dependências, fazendo mesmo menção do facto nas contas<br />

públicas a par da Irlanda, República Checa e Polónia. Em primeiro lugar,<br />

surge a Irlanda, com 214 687 000,00 euros gastos, representando 0,39% do<br />

total da despesa pública, seguindo-se Portugal, com 75 195 175,00 euros,<br />

0,11% da despesa pública, a Polónia, com 82 373 000,00 euros, 0,08% e<br />

por fim a República Checa, com 17 869 000,00 euros, 0,04% da despesa<br />

pública (A Evolução do Fenómeno da Droga na Europa, 2008: 22).<br />

Só a detenção, julgamento, cumprimento de pena e expulsão de cada<br />

traficante internacional de droga representam um custo para o Estado<br />

Português de 80 mil euros. Recorde-se que, em 2008, foram detidos 180<br />

indivíduos e, em 2007, tinham sido detidos 232 (DA, 24/Mar/<strong>2009</strong>: 11).<br />

Sendo a questão das dependências sobretudo uma questão de saúde<br />

pública, o tratamento dos dependentes tem de ser encarado como a grande<br />

alternativa; daí que a intervenção junto dos dependentes de drogas, através<br />

de um esforço de redução dos riscos a que estão expostos, nomeadamente<br />

46


Dependências e outras violências…<br />

na contracção e propagação de doenças infecto-contagiosas, seja considerada<br />

pelo Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência como<br />

uma boa prática, recomendando-a. A nível europeu, é possível identificar-se<br />

duas posturas claras face a este tipo de intervenção surgindo por um lado os<br />

países do Sul da Europa mais liberais, demonstrando uma grande abertura<br />

aos programas de redução de riscos; e, por outro lado, os países do Norte da<br />

Europa com grandes resistências a este tipo de programas, apresentando-se<br />

menos liberais.<br />

A luta contra o narcotráfico é outra das vertentes de combate, o que<br />

motivou, no Bogotá, em Julho de 2003 a assinatura, de um acordo entre<br />

Espanha, França, Reino-Unido e Colômbia, visando um combate ao tráfico<br />

numa parceria entre a União Europeia e a Colômbia, país responsável<br />

pela produção de 750 toneladas, por ano, de cocaína, 75% do total da<br />

produção mundial.<br />

O Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência, em<br />

2003, por sua vez, consciente do problema das dependências a nível<br />

Europeu, correndo o risco de se agravar devido ao alargamento a 25, apelou<br />

à necessidade de uma maior cooperação entre os Estados Membros na<br />

tentativa de controlar e combater o fenómeno.<br />

Na realidade, os resultados do combate ao tráfico de droga a nível<br />

mundial têm sido escassos, e as intervenções têm sobretudo demonstrado<br />

a grande capacidade de adaptação das redes de tráfico internacional aos<br />

condicionalismos emergentes do combate internacional. É demonstrativo<br />

o facto de Estados do Norte e da Costa Africana, fruto do aumento do controlo<br />

no Centro e Sul da Europa, por onde tradicionalmente se abastece o<br />

continente europeu, se terem tornado bases logísticas para o narcotráfico<br />

ao ponto de suscitar a preocupação da ONU com a eminência de alguns<br />

desses Estados se transformarem em narco-Estados. Foi demonstrativa da<br />

ameaça a campanha eleitoral para as eleições de 16 de Novembro de 2008,<br />

na Guiné-Bissau, a qual ficou profundamente marcada pelas acusações e<br />

suspeitas recíprocas, entre os partidos políticos candidatos ao poder, de<br />

envolvimento no narcotráfico (CA, 30/Out/2008: 36).<br />

Seria desejável aprofundar-se a investigação sobre mecanismos de<br />

cooperação, capazes de produzir efeitos reais, o que está longe de ser<br />

garantido, estando mesmo em florescimento o tráfico através da internet.<br />

Enquanto não se congregam esforços, só em relação à cannabis, em 2006,<br />

47


Alberto Peixoto<br />

atingiu-se a fasquia dos 30 milhões de consumidores na UE, Islândia,<br />

Liechtenstein, Noruega e Suíça (DN, 01/Mar/2006: 18).<br />

O combate ao tráfico de estupefacientes é uma luta que tem sido travada<br />

pelas autoridades policiais, que, ano após ano, foram batendo novos<br />

recordes nas apreensões, apesar da redução do número de detenções de<br />

traficantes (RAENLCD, <strong>2004</strong>)2. Contudo o mérito da actuação tem sido<br />

abafado na comunicação social por todo um conjunto de outras criminalidades,<br />

que, não sendo novas, têm assumido particular relevo social.<br />

Falamos dos crimes económicos, da corrupção e dos crimes sexuais. Em<br />

bom rigor não falamos dos crimes em si, mas sim das mediáticas figuras<br />

referenciadas nas suspeições.<br />

Em 2002, apreenderam-se, em Portugal, 986 315 quilos de heroína, 3<br />

140 103 quilos de cocaína, 361 000 quilos de cannabis e 222 479 pastilhas<br />

de ecstasy, mas o ano de <strong>2004</strong> foi ainda mais fértil em apreensões de grande<br />

quantidade. Apenas no primeiro semestre, as quantidades apreendidas<br />

quintuplicaram3 em relação ao período homólogo de 2003. Apenas a operação<br />

«Mar do Sul», efectuada pela PJ/Porto, rendeu a apreensão de 2 231<br />

quilos de cocaína com elevado estado de pureza que se encontrava em<br />

caixa de pavimento cerâmico. Duros golpes foram infligidos ao topo das<br />

redes de droga, em Portugal. Foi capturado o «Lagostas» de Peniche com<br />

ligações a grupos internacionais, o «empresário dos BMW» de Cascais, o<br />

«casal do Casal Ventoso», responsável pelo tráfico na zona do Casal<br />

Ventoso, e o famoso Franquelim Pereira Lobo, classificado como o maior<br />

traficante da Península Ibérica, condenado à revelia a 25 anos de prisão,<br />

mas que, após um recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, acabou por<br />

ser novamente colocado em liberdade devido à incompetência (?) de um<br />

Juiz que se esqueceu de validar a sentença (GR, 26/Jun/<strong>2004</strong>: 22-29).<br />

Franquelim Pereira Lobo acabou por ser novamente detido e colocado em<br />

prisão preventiva, em Março de <strong>2009</strong>, conjuntamente com o filho, pelo tráfico<br />

de estupefacientes.<br />

Nos Açores, é na década de 90 que o fenómeno da toxicodependência<br />

ganha visibilidade; no Continente, “no final dos anos 70, a<br />

heroína saiu de círculos restritos, sendo divulgada como ‘nova droga’<br />

2 Em 1999, foram detidos 3.121 traficantes e, em 2003, baixaram para 2.357.<br />

3 Relatório semestral da actividade desenvolvida a nível nacional pelas diferentes Polícias,<br />

divulgado através da agência Lusa a 14 de Setembro de <strong>2004</strong>.<br />

48


Dependências e outras violências…<br />

de consumo, a qual se generalizou nos anos 80, ‘quase como uma epidemia’”<br />

(CIDM, 1995: 39). Até então era a dependência alcoólica que<br />

predominava, porém a heroinodependência foi ganhando visibilidade.<br />

Embora sempre menos frequente que a dependência alcoólica, a dependência<br />

da heroína foi-se assumindo como uma “ patologia principalmente<br />

masculina, numa proporção de quatro homens para uma<br />

mulher” (Idem: 39).<br />

Até ao ano de <strong>2004</strong>, nos Açores, foram apreendidos, praticamente,<br />

todos os tipos de substâncias ilícitas, sendo mesmo de destacar o combate<br />

que as Polícias levaram a cabo sobretudo por via repressiva, materializada<br />

nas apreensões, se tomarmos como demonstrativos os anos de<br />

2003 e <strong>2004</strong>. Assim, de ecstasy, em 2003, foram apreendidas 10 unidades<br />

para, em <strong>2004</strong>, terem sido 1 284 os comprimidos apreendidos desta<br />

substância. Também as apreensões de haxixe, em <strong>2004</strong>, atingiram um<br />

crescimento considerável ao serem apreendidas 40 566 doses ao passo<br />

que, em 2003, tinha-se ficado pelas 16 663 doses. Portanto, um aumento<br />

de 243%. Já no tocante à cocaína e heroína, tinha-se registado um<br />

decréscimo das apreensões. De cocaína foram apreendidas, em <strong>2004</strong>, 2<br />

605 doses contra 4 673 826 doses, apreendidas em 2003. No tocante à<br />

heroína, foram, em <strong>2004</strong>, apreendidas 24 523 doses contra 32 532 doses,<br />

apreendidas em 2003 (Fonte: CRA-PSP).<br />

Em síntese, em <strong>2004</strong>, apreenderam-se em média 47,7 gramas por mês<br />

de heroína, ao passo que, em 2005, apreenderam-se 107,6 gramas. Em termos<br />

de cocaína, de 13,4 gramas por mês, em <strong>2004</strong>, passou-se para 25,0<br />

gramas por mês. <strong>Outras</strong> substâncias estupefacientes, em <strong>2004</strong>, foram apreendidas<br />

à média de 0,5 gramas por mês, tendo-se passado para 7,93 gramas<br />

por mês (Fonte: CRA-PSP).<br />

O ano de 2006 foi de crescimento nas apreensões em geral, mas foi<br />

em 2007 que a PSP, nos Açores, bateu o recorde, ao nível da heroína, ao<br />

apreender 3 076,65 gramas. Ao nível da cocaína, com apenas 190,96 gramas,<br />

registou-se um significativo decréscimo, tal como no montante<br />

monetário, conectado com o tráfico de droga.<br />

49


Alberto Peixoto<br />

Total Apreensões Total Apreensões Total Apreensões Total Apreensões Total Apreensões<br />

SUBSTÂNCIA Açores/ 2005 Açores/ 2006 Açores/ 2007 Açores/ 2008 Açores/ <strong>2009</strong><br />

(Gramas) (Gramas) (Gramas) (Gramas) (Gramas)<br />

Cocaína 267,99 12 252,65 190,96 8,86 248,47<br />

Ecstasy (unidades) 22 56 62 145 7<br />

Haxixe 434,54 2 666,35 3 068,99 4 538,6 60 493,63<br />

Heroína 2 219,70 2 762,14 3 076,65 110,87 2 145,40<br />

Liamba 6 474,64 47 586,20 69 305,39 130 175,0 243 700,67<br />

Out. Drogas Sint. 9,58 2,0 0,77 11 478,0 164,67<br />

Out. substâncias 79,25 2 551,62 15,59 6,66 0,0<br />

Dinheiro 10 404,10€ 68 914,47€ 59 097,00€ 25 674,00€ 40 913,51€<br />

Quadro n.º 6 Apreensões de droga, efectuadas pela PSP, nos Açores, entre 2005 e <strong>2009</strong>. (Fonte:<br />

CRA-PSP)<br />

Em 2008, registou-se uma grande quebra nas apreensões de heroína,<br />

baixando para 110,87 gramas, tendo também baixado as apreensões de<br />

cocaína para 8,86 gramas, bem como as outras substâncias ilícitas, que<br />

baixaram para 6,66 gramas. Todavia as apreensões de liamba quase duplicaram<br />

atingindo os 130 175,0 gramas. Também aumentaram as apreensões<br />

de haxixe, para 4 538,6 gramas, de ecstasy, para 142 unidades, e de outras<br />

substâncias ilícitas sintéticas, para 11 478,0 gramas.<br />

O ano de <strong>2009</strong> ficou marcado por uma significativa recuperação das<br />

apreensões de droga na região. As apreensões de heroína atingiram os<br />

valores de 2005 e 2006. A cocaína também se aproximou do valor de 2005.<br />

As apreensões de liamba cresceram 37 vezes em relação às quantidades<br />

apreendidas em 2005. No entanto, em <strong>2009</strong>, foi ao nível das apreensões de<br />

haxixe que se registou o maior crescimento, sendo as quantidades 139<br />

vezes superiores às de 2005.<br />

O Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência analisou os<br />

preços das substâncias ilícitas nos últimos anos e concluiu que os preços<br />

estão a diminuir sendo Portugal o país onde se praticam os preços mais<br />

baixos. Tal cenário pode estar relacionado com os fluxos e respectivas<br />

rotas de abastecimento da Europa (DN, 24/Nov/2006: 17). A ser assim, as<br />

variações nas apreensões registadas nos Açores espelham sobretudo as<br />

quantidades de droga a circular no mercado. Nesta óptica, os dados de<br />

50


Dependências e outras violências…<br />

<strong>2009</strong> apontam para o aumento da oferta colocando o mercado açoriano ao<br />

nível de 2005 e 2006.4<br />

Cocaína Ecstasy Haxixe Heroína LSD<br />

PAÍSES (1 grama ou 10 (unidade) (1 grama ou 5 ( 1 grama ou 12 (unidade)<br />

doses doses doses<br />

individuais) individuais) individuais)<br />

Alemanha 58,9 6,7 6,1 42,6 10,2<br />

Espanha 61,7 10,0 4,4 64,2 10,3<br />

França 60,0 8,0 3,3 35,0 11,0<br />

Inglaterra 64,0 5,2 4,0 36,9 5,8<br />

Portugal 42,2 4,5 2,3 46,5 2,5<br />

Quadro n.º 7 Preços do custo de droga ao consumidor em euros. (Fonte: Observatório Europeu da<br />

Droga e Toxicodependência – <strong>2004</strong>)<br />

Em Portugal, o baixo preço da cocaína, e segundo Rui Pedro do IDT,<br />

parece estar associado ao boom registado no consumo da cocaína em detrimento<br />

da heroína, em actividades de diversão nocturna em particular nas<br />

after hours privadas, onde já há entregas ao domicílio (DN, 05/Mai/2008:<br />

12). Nas averiguações efectuadas a nível regional não foi detectado qualquer<br />

registo policial nem há conhecimento informal de ter ocorrido qualquer<br />

situação idêntica.<br />

SUBSTÂNCIA Gramas Doses Individuais Preço por Dose<br />

Cocaína 1 Grama 10 doses 15€/dose - 40€/Grama<br />

(Açores 80/100€/Grama)<br />

Ecstasy unidade 1 dose 5?<br />

Haxixe 1 Grama 5 doses 5€/dose - 1250€/Sabonete<br />

(200/250Gramas)<br />

Heroína 1 Grama 12 doses 15€/dose - 35€/Grama<br />

(Açores 40/50€/Grama)<br />

Liamba 25 Gramas 10 doses 5€/5Gramas<br />

Quadro n.º 8 Número de doses individuais de droga, por grama e preços do custo ao consumidor, em<br />

euros. (Fonte: Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência – <strong>2004</strong> e informação de rua em<br />

Ponta Delgada, em <strong>2009</strong>)<br />

4 Por exemplo, nos Estados Unidos, fruto da luta contra o tráfico de droga na Colômbia e no<br />

México, em 2007, o preço da cocaína cresceu 44% (DA, 10/Nov/2007:14).<br />

51


Alberto Peixoto<br />

Total Apreensões Total Apreensões Total Apreensões Total Apreensões Total Apreensões<br />

SUBSTÂNCIA Nacionais/ 2005 Nacionais/ 2006 Nacionais/ 2007 Nacionais/ 2008 Nacionais/ <strong>2009</strong><br />

(Gramas) (Gramas) (Gramas) (Gramas) (Gramas)<br />

Cocaína 18 083 296,20 34 477 479,99 4 877 410,61 4 838 379,61 2 697 053,17<br />

Ecstasy (unidades) 213 807 133 292 70 476 73 638 8 987<br />

Haxixe 28 263 541,30 8 458 435,50 61 237 097,79 61 287 324,78 22 961 771,62<br />

Heroína 182 289,10 144 295,28 67 706,99 68 349,71 128 041,33<br />

Quadro n.º 9 Quantidade de droga apreendida, em Portugal. (Fonte: RASI 2005-<strong>2009</strong>)<br />

Se efectuarmos uma comparação entre as quantidades de estupefacientes<br />

apreendidas pelas Polícias, em Portugal, verificamos que de 1995 a 1999, em<br />

comparação com o período de 2000, ao primeiro semestre de <strong>2004</strong>,<br />

verificámos terem aumentado 499%. Contudo, se tivermos em referência as<br />

quantidades apreendidas no quinquénio 95/99 e as quantidades apreendidas<br />

tanto em 2007 como em 2008, torna-se ainda mais claro o crescimento, apesar<br />

de uma forte quebra em <strong>2009</strong>, com excepção para a heroína. No caso da<br />

cocaína (excepto em 2008 e <strong>2009</strong>), do haxixe e do ecstasy, num único ano,<br />

conseguiu-se apreender quantidades superiores ao somatório das quantidades<br />

apreendidas entre 95/99.<br />

SUBSTÂNCIA 1995-1999 2007 2008 <strong>2009</strong><br />

Cocaína (gramas) 7 556 484,647 4 877 410,61 4 838 379,61 2 697 053,17<br />

Ecstasy (unidades) 37 030 70 476 73 638 8 987<br />

Haxixe (gramas) 38 463 598,615 61 237 097,79 61 287 324,78 22 961 771,62<br />

Heroína (gramas) 347 436,769 67 706,99 68 349,71 128 041,33<br />

Quadro n.º 10 Quantidades de estupefacientes apreendidos em Portugal de 1995 a 1999 em comparação<br />

com as quantidades apreendidas em 2007, 2008 e <strong>2009</strong>, incluindo Açores e Madeira. (Fonte:<br />

Polícia Judiciária e RASI 2007-<strong>2009</strong>)<br />

Nos anos de 2008 e <strong>2009</strong>, em relação a anos anteriores, registaram-se<br />

quebras nas apreensões de cocaína bastante acentuadas, tanto nos Açores,<br />

como no Continente e até em Espanha, situação que, conforme consta do<br />

relatório de <strong>2009</strong> da Autoridade Internacional de Controlo de<br />

Estupefacientes, se terá ficado a dever ao estabelecimento de novas rotas<br />

na entrada dessa droga na Europa (DA, 25/Fev/2010: 11).<br />

52


Dependências e outras violências…<br />

SUBSTÂNCIA Valor Droga Apreendida Valor estimado da droga<br />

em Portugal/ <strong>2009</strong> não apreendida em<br />

Portugal/<strong>2009</strong><br />

Cocaína 107 882 126,00 2 049 760 397, 00<br />

Ecstasy 44 935,00 853 765,00<br />

Haxixe 640 205,00 12 163 895,00<br />

Heroína 4 481 446,00 85 147 474,00<br />

TOTAL 113 048 712,00 2 147 925 531,00<br />

Quadro n.º 11 Valor em euros da droga apreendida, em Portugal, e valor<br />

estimado da substância estupefaciente não apreendida. (Fonte: Valor estimado<br />

pelo autor segundo estimativas da INTERPOL)<br />

No tocante aos valores, em euros, das diferentes drogas apreendidas, por<br />

exemplo, só em <strong>2009</strong>, a heroína valia 4 481 446,55 euros, a cocaína 107 882<br />

126,80 euros, o haxixe 640 205,00 euros e o ecstasy 44 935,00 euros.<br />

Segundo M. Kendall, então Secretário-Geral da Interpol<br />

(Moncomble, 1997: 9), estima-se que apenas 5% do total da produção<br />

mundial de estupefacientes seja apreendida pelas autoridades. Se dermos<br />

como certa tal estimativa, então o valor das substâncias apreendidas em<br />

Portugal, em <strong>2009</strong>, pelas autoridades, estimado em 113 048 712,00 euros,<br />

corresponderá apenas a 5% do valor total daquilo que entrou no mercado,<br />

que será na ordem dos 2 147 925 531,00 euros.5<br />

Segundo um estudo encomendado pela Comissão Europeia e apresentado<br />

na Conferência Internacional da ONU contra a Droga, Portugal serve de<br />

plataforma giratória ao tráfico de cocaína, vinda de países da África<br />

Ocidental e do haxixe proveniente de Marrocos com destino a países europeus<br />

(DN, 12/Mar/<strong>2009</strong>: 25). Os Açores, apesar da sua localização geográfica,<br />

continuam a não fazer parte da rotas internacionais do tráfico de drogas.<br />

Valadares Teixeira, responsável pela avaliação Estratégica Nacional de<br />

Luta Contra a Droga, a 15/Dez/<strong>2004</strong>, efectuou o balanço do combate à droga,<br />

5 As investigações de Fritz Sörgel e Verena Jakob, já citadas, com base na análise de esgotos,<br />

têm apontado também para o facto de apenas 5% do total da cocaína que dá entrada<br />

na Alemanha ser apreendida pelas autoridades policiais. Estimaram que por ano os alemães<br />

consomem cerca de 20 toneladas de cocaína, quando as autoridades em média têm<br />

apreendido apenas cerca de uma tonelada (CINT, 20/Jun/2007: 38).<br />

53


Alberto Peixoto<br />

em Portugal, de 1999 a 2003; apesar de duras críticas de descoordenação e<br />

excesso de burocracia, aumento do número de mortes, devido ao consumo de<br />

drogas não opiáceas, aumento de consumidores e diminuição do número de<br />

traficantes detidos, não deixou de considerar o balanço positivo.<br />

Em matéria de droga, em Portugal, o balanço mais negativo que poderá<br />

ser feito prende-se com o fracasso do Plano de Acção Nacional de Luta<br />

Contra a Droga e a Toxicodependência – Horizonte <strong>2004</strong>, que tinha definido,<br />

como objectivo, a redução em 25% da prática de criminalidade associada<br />

às drogas.<br />

O quadro jurídico em vigor não define qual a criminalidade associada<br />

à droga, tendo-se Cândido da Agra esforçado por demonstrar que “nem<br />

todas as drogas estão associadas ao crime, nem todos os crimes associados<br />

às drogas. Não existe uma associação geral, como vulgarmente se crê. As<br />

matérias que entram na composição do mundo droga-crime são: do lado<br />

das substâncias, fundamentalmente a heroína e a cocaína. As drogas leves<br />

não entram nesta composição, são substâncias psicoactivas, praticamente<br />

desproblematizadas; do lado do crime, são fundamentalmente o roubo, o<br />

furto, a receptação e o tráfico. A violência e o crime contra pessoas não<br />

entra, por regra, na composição droga crime” (Agra, 2002: 112).<br />

Como também Costa & Leal (<strong>2004</strong>: 21) precisam, as ligações entre<br />

droga e crime são ao nível da criminalidade praticada contra o património,<br />

predominantemente ao nível da propriedade, residindo aqui o motivo do<br />

fracasso do Plano de Acção Nacional de Luta Contra a Droga e a<br />

Toxicodependência – Horizonte <strong>2004</strong>, por em vez de esta criminalidade ter<br />

descido 25%, como definiram, de 2000 a 2003, em comparação com o<br />

período de 1996 a 1999, ter mesmo aumentado 7,3%. De um total de<br />

737.770 crimes, associados às drogas, praticados de 1996 a 1999, passou-<br />

-se, em 2000 a 2003, para 791 477, ou seja, mais 53 707 crimes quando se<br />

pretendia reduzir em 185 000 crimes.<br />

O relatório da Eurojust, de 2007, ressalvou o facto de ter diminuído<br />

na Europa a actividade terrorista, mas em contraponto estar a aumentar o<br />

tráfico de droga e a corrupção (CA, 12/Mar/2008: 21). Entre 1998 e 2007,<br />

o acesso às drogas, na Europa, tornou-se mais fácil e em geral as drogas<br />

tornaram-se mais baratas (DN, 12/Mar/<strong>2009</strong>: 25).<br />

Tem sido constatável algum amadorismo na definição de objectivos bem<br />

como descoordenação na sua consecução. Cremos ser nas campanhas de sen-<br />

54


Dependências e outras violências…<br />

sibilização onde são mais notórias as barreiras existentes na passagem da mensagem<br />

apesar de quando em vez surgirem campanhas, cujo impacto consegue<br />

cativar a atenção dos media e de alguns públicos, como foi o caso da campanha<br />

contra o consumo excessivo de álcool, «100 por cento cool», a qual decorreu<br />

entre 19 de Novembro e 11 de Dezembro de <strong>2004</strong>, em Coimbra, Porto e<br />

Lisboa, permitindo o contacto com 14 318 jovens dos quais 2 171 se submeteram<br />

ao teste de alcoolemia, efectuado por elementos da PSP. Entre os testados,<br />

40% apresentavam taxas acima dos 0,5 gramas de álcool por litro de sangue e<br />

8% não tinham consumido qualquer quantidade de álcool, motivo pelo qual<br />

foram contemplados com um prémio de valor acrescido pela simbologia.<br />

O consumo de álcool e de substâncias ilícitas provoca também sérios<br />

prejuízos às empresas, sendo de prever que num futuro próximo possam<br />

tomar medidas para evitar tais situações. Existem já empresas de camionagem,<br />

ferroviárias, nucleares ou químicas que submetem os seus trabalhadores<br />

à verificação de consumo de drogas ou álcool. Em <strong>2004</strong>, foi a vez<br />

da British Airways, tendo sido a primeira da aviação europeia, por autorecriação,<br />

a avançar para a realização de testes aos seus trabalhadores, de<br />

forma arbitrária e obrigatoriamente, em caso de acidente, no sentido de<br />

despistar o consumo de drogas ou álcool. É de referir que, neste caso, contou<br />

com o apoio dos sindicatos britânicos.<br />

A Câmara Municipal de Lisboa, com base no regulamento aprovado<br />

em Maio de <strong>2004</strong>, envolto em alguma polémica, sem se compreender bem<br />

porquê, durante os meses de Junho, Julho e Agosto de <strong>2004</strong>, procedeu a<br />

testes de despistagem de consumo excessivo de álcool junto de trabalhadores<br />

voluntários. Tendo submetido 514 funcionários, constatou-se que<br />

mais de 20% da amostra estava sob influência de álcool, metade dos quais<br />

nem podia conduzir um veículo, demonstrando que o consumo de álcool<br />

excessivo é efectivamente uma prática socialmente tolerada, mas começam<br />

a ser dados alguns passos no sentido da inversão das posturas.<br />

Em Março de 2010, foi a vez da Câmara Municipal de Lagoa ter<br />

anunciado a intenção de arrancar com a realização de testes de despistagem<br />

do consumo de álcool entre os funcionários municipais.<br />

Independentemente dos formatos, as acções de sensibilização, realizadas<br />

junto de populações de risco, constituem uma das formas possíveis de<br />

intervenção no sentido do combate às dependências. Dado que, por exemplo,<br />

as populações estudantis são tradicionalmente consideradas de risco,<br />

55


Alberto Peixoto<br />

justificam-se as acções de informação e prevenção. No entanto, na região,<br />

tal como acontece em todo o território nacional, não tem havido uma intervenção<br />

estratégica e concertada, revestindo-se as intervenções de carácter<br />

ocasional sem qualquer coordenação centralizada. Entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>, não<br />

houve qualquer melhoria a este nível.<br />

Tomando como referência o programa Escola Segura, que em todo o território<br />

nacional conta com mais de 300 elementos policiais adstritos, não<br />

existe um planeamento das acções de sensibilização, nem existem estudos<br />

para identificação de diferentes problemáticas a fim de condicionarem as<br />

intervenções a efectuar em cada meio escolar específico. As acções são<br />

desenvolvidas um pouco a gosto dos agentes e a pedido de cada uma das<br />

escolas, embora sejam o tipo de acções de prevenção mais concretizadas a<br />

nível europeu (A Evolução do Fenómeno da Droga na Europa, 2008: 23).<br />

O programa Escola Segura, assente numa filosofia de proximidade,<br />

com uma melhor coordenação e adequada preparação das acções e dos elementos,<br />

deverá ser rentabilizado um pouco à imagem do que já acontece<br />

em Inglaterra, por acção da Scotland Yard, que, em <strong>2004</strong>, lançou uma campanha<br />

coordenada em toda a cidade de Londres, com fotografias chocantes,<br />

acompanhadas da sua história, entre as quais a de Roseanne, que tinha<br />

29 anos na primeira fotografia e 37 anos na última, a qual já faleceu.<br />

Imagem n.º 1 Fotografias de Roseanne, pertencentes aos ficheiros da Scotland Yard de Londres.<br />

As fotografias, retratando os efeitos nocivos da droga, foram mostradas<br />

em Londres, pelos agentes, em escolas previamente seleccionadas,<br />

mas também através de cartazes em locais públicos, como estações de<br />

transportes públicos e bares, passando a mensagem «não deixe que os traficantes<br />

mudem a cara do seu bairro». Foi ao mesmo tempo feito um<br />

apelo público para que toda a população colaborasse no combate às drogas,<br />

incentivando esta a denunciar suspeitos de tráfico.<br />

56


Imagem n.º 2 The Downward Spiral- www.rotten.com.<br />

Dependências e outras violências…<br />

Nós próprios, ao sermos convidados para, na ilha de São Miguel, proferir<br />

algumas comunicações nas escolas sobre a problemática das dependências,<br />

de Fevereiro de 2003 a Novembro de <strong>2004</strong>, nomeadamente, na<br />

Escola Profissional de Capelas, Escola 2+3 de Arrifes, Escola 2+3 da<br />

Maia, Escola Secundária Domingos Rebelo e Escola Secundária das<br />

Laranjeiras, para abordar o fenómeno de uma forma persuasiva, utilizámos<br />

a imagem n.º 3 que recolhemos na Internet, pertencente a uma jovem que<br />

faleceu em 1997, com 28 anos de idade, depois de várias detenções, que<br />

começaram em 1983, aos 14 anos, pela prática de crimes relacionados com<br />

o consumo de heroína.<br />

A utilização de imagens chocantes tem sido uma das estratégias de sensibilização<br />

a nível europeu. Por exemplo, a Comissão Europeia chegou<br />

mesmo a seleccionar um conjunto de 28 imagens sobre consequências de<br />

fumar para colocar a cobrir metade dos maços de tabaco (DN, 08/Abr/2006:<br />

19), tendo sido a Bélgica o primeiro país da Europa a obrigar à introdução de<br />

imagens chocantes nos maços de tabaco (DA, 08/Dez/2006: 11).<br />

Já em <strong>2004</strong>, David Byrne6, partindo do princípio de que as pessoas<br />

precisam de um choque que as acorde da complacência para com o tabaco,<br />

tinha apresentado 42 fotografias que os Estados-Membros teriam de<br />

colocar nos maços dos cigarros, sendo esta mais uma medida em que a<br />

União Europeia apostava para fazer reduzir o consumo. Foi ainda referido<br />

6 Comissário Europeu para a Saúde, em conferência de imprensa a 23/Out/<strong>2004</strong>, em Bruxelas.<br />

57


Alberto Peixoto<br />

que o Canadá utilizava esta estratégia desde 2000, existindo já estudos que<br />

confirmam o resultado de um ligeiro decréscimo do consumo.<br />

Imagem n.º 3 Imagens utilizadas em maços de tabaco para combater o consumo.<br />

(Fonte: DN, 04/Mai/2008: 70)<br />

A Inglaterra não se tem coibido também de seguir a estratégia e de<br />

tempos a tempos são realizadas algumas campanhas de prevenção bastante<br />

chocantes, como forma de não deixar ninguém indiferente,<br />

reproduzindo-se aqui algumas das suas imagens.<br />

Imagem n.º 4 Imagens utilizadas em campanhas de consciencialização inglesas. (Fonte: DN,<br />

04/Mai/2008: 70)<br />

58


Dependências e outras violências…<br />

Imagem n.º 5 Imagens utilizadas em campanha de consciencialização<br />

inglesa contra o tabaco. (Fonte: DN, 04/Mai/2008: 70)<br />

Em Janeiro de 2007, arrancou uma campanha anti-tabagista, a nível<br />

Europeu, em 80 canais de televisão, direccionada para os malefícios do<br />

fumo passivo. Também considerada chocante, podia ver-se uma adolescente<br />

com dificuldades respiratórias e, ao chegar a casa, depara com os<br />

pais a fumar na sala.<br />

Um projecto, que tem conferido alguma visibilidade ao esforço de abandono<br />

da dependência da droga, é suíço e consiste em colocar grupos de<br />

jovens a bordo de uma escuna de dois mastros, baptizada de Ruach, numa<br />

viagem com a duração de um ano e meio e que visa o tratamento e a ressocialização<br />

dos jovens visados. Em Agosto de 2006, a embarcação fez escala<br />

em Ponta Delgada, numa dessas viagens, com direito a cobertura através de<br />

várias reportagens nos órgãos de comunicação social (CA, 1/Ago/2006: 9).<br />

As novas tecnologias, além de servirem para a comercialização de drogas,<br />

estão, também, a constituir-se como uma útil ferramenta ao nível do tratamento.<br />

É demonstrativo dessa realidade um projecto, iniciado em 2006, na<br />

Alemanha, Bélgica e Holanda, designado “Quit the Shit Programm” e que<br />

tem contado com uma média de 500 a 600 pessoas por ano.<br />

59


Alberto Peixoto<br />

Com as garantias de anonimato e privacidade, a difusão de pequenas<br />

mensagens através da internet pode ser a primeira forma de aproximação<br />

dos consumidores de cannabis a uma terapia. Após o primeiro contacto com<br />

o consumidor, no caso de aceitação, segue-se uma consulta on-line de uma<br />

hora com um especialista no sentido de avaliar a situação e o contexto do<br />

consumidor, nomeadamente, regularidade de consumo, grau de dependência,<br />

número de tentativas de abandono da dependência. Após a consulta, o<br />

dependente passa a ter acesso a um diário digital, para, durante 50 dias, relatar<br />

as suas experiências e outras preocupações que levaram a uma autoreflexão.<br />

Semanalmente, o especialista interage com o dependente e motiva-o<br />

a prosseguir com o programa até ao fim (DA, 08/Mai/<strong>2009</strong>: 24).<br />

Outra estratégia apresentada, em Inglaterra (DN., 06/Jan/05: 31), já<br />

em 2005, foi divulgada pelo director, Peter Walker, da Abbey School, do<br />

sul de Londres, mais precisamente de Kent, consistindo em seleccionar<br />

todas as semanas, aleatoriamente, por computador, grupos de 20 alunos,<br />

com idades compreendidas entre os 11 e os 19 anos de idade, com o objectivo<br />

de recolherem amostras para despistagem de consumo de substâncias.<br />

Os alunos cujos resultados fossem positivos poderiam ser alvo de um<br />

acompanhamento especial, tendo sido esclarecido que qualquer aluno<br />

poderia recusar submeter-se ao teste sem ser alvo de qualquer sanção.<br />

Refira-se que a estratégia foi aprovada por 85% dos pais dos alunos.<br />

Na linha da iniciativa da Abbey School, o Conselho Municipal do VI<br />

Bairro de Milão decidiu, em 2007, distribuir cupões às famílias para que<br />

pudessem levantar gratuitamente kits familiares de detecção de droga através<br />

da urina, nas farmácias, avaliados em 25 euros cada. O objectivo foi colocar<br />

o teste ao alcance de qualquer pessoa, transformando as famílias no centro<br />

de diálogo e prevenção do consumo de drogas (CINT, 01/Jun/2007: 47).<br />

As campanhas de prevenção têm sido, nos Açores, recorrentemente questionadas<br />

e, tendo a edição de <strong>2004</strong> do Guia para a Prevenção da Droga, enviada<br />

para todos os lares açorianos, sido a maior acção de sensibilização, desenvolvida<br />

na região, ficaram sérias reservas quanto à sua eficácia ou impacto,<br />

por ser um tipo de informação que chega às caixas do correio, mas por norma<br />

não é lida, além de claudicar no facto de ser uma informação homogénea para<br />

públicos com características diferentes e que é desaconselhável.<br />

Em Março de 2006, no âmbito do Plano Regional de Prevenção do<br />

Mau Uso e Abuso de Substâncias Psicoactivas/Droga, foi realizada uma<br />

60


Dependências e outras violências…<br />

campanha que visava os alunos do ensino secundário, sendo-lhes pedido<br />

que criassem slogans contra o consumo de substâncias a troco de prémios,<br />

tendo sido vencedor o slogan “Vicia-te na Vida” (DA, 18/Mar/2006: 4).<br />

Sendo a acção meritória pelo número de jovens que se envolveram no concurso<br />

e pelos baixos custos, foi pouco rentabilizada em termos de consciencialização<br />

social por não se ter dado mais visibilidade pública e por não<br />

se ter dado continuidade no tempo.<br />

As intervenções nas escolas, no âmbito das aulas de Desenvolvimento<br />

Pessoal e Social ou de Formação Cívica, são uma possibilidade por permitir<br />

direccionar a intervenção junto de uma população em que o risco de<br />

experiências com drogas é maior, mas mesmo esta opção tem de ser precedida<br />

de estudos prévios para classificação das escolas por níveis que<br />

permitam a adequação da sensibilização, que tem de ser diferenciada.<br />

As acusações do Governo Regional dos Açores ao Instituto da Droga<br />

e Toxicodependência (CA, 20/Mar/04: 5) por este não ter investido um<br />

cêntimo em prevenção na região, apesar do acordo assinado em Fevereiro<br />

de 2002, foi uma constatação, em <strong>2004</strong>, que apenas serviu para demonstrar<br />

como cooperam as instituições na resolução de um problema que a<br />

própria sociedade considera ser o mais grave existente na actualidade<br />

(Peixoto, <strong>2004</strong>: 80).<br />

O tratamento dos dependentes, outra das formas de combate do consumo<br />

de drogas ilícitas, tem dado origem a várias abordagens ao fenómeno,<br />

surgindo o discurso da redução de riscos como uma das estratégias não para<br />

o combater, mas para minimizar as suas consequências. Trata-se da aplicação<br />

de uma filosofia da razão prática resultante da sabedoria popular «se<br />

não consegues vencer os teus inimigos junta-te a eles!». Enquadra-se nesta<br />

filosofia o programa de substituição com metadona português, que, em<br />

2003, contava já com a adesão de 16 877 toxicodependentes, quando em<br />

1999 contava apenas com 6 040. Idêntico crescimento se verificou na<br />

Europa dos quinze, que, em 1999, contava com 320 000 aderentes, para, em<br />

2003, contar com 410 000 toxicodependentes (RAENLCD, <strong>2004</strong>).<br />

A administração de metadona ao dependente de opiáceos é um programa<br />

de redução de riscos não só para os dependentes mas também para<br />

a própria sociedade. Estima-se que cada euro investido no programa referido<br />

permite poupar dez euros em despesas ao nível da saúde e ao nível da<br />

justiça. Reduz o risco da propagação de doenças infecto-contagiosas,<br />

61


Alberto Peixoto<br />

ajuda a reinserir os dependentes e reduz a sua propensão para a prática da<br />

criminalidade relacionada com as drogas.<br />

A administração de metadona tem sido uma das apostas do Governo<br />

Regional dos Açores, tendo, em <strong>2009</strong>, sido disponibilizados 570 000 euros<br />

(mais 35% que em 2008), aumentando o âmbito do programa através de<br />

uma descentralização de pontos de apoio e acompanhamento, procurando-<br />

-se atingir a meta de 350 utentes (AO, 29/Abr/<strong>2009</strong>: 8).<br />

Em 2008, nos Açores, usufruíam do programa de metadona 240<br />

utentes. Traduzindo já um aumento significativo, em Setembro de <strong>2009</strong>, só<br />

na Casa de Saúde de São Miguel estavam em tratamento, com metadona,<br />

264 utentes (237 homens e 27 mulheres) dos quais 175 residiam em Ponta<br />

Delgada, 36, na Ribeira Grande, 18, na Lagoa, 12, em Vila Franca do<br />

Campo, 2, na Povoação e 23 estavam presos no Estabelecimento Prisional<br />

de Ponta Delgada (DA, 13/Set/<strong>2009</strong>: 3).<br />

Em Dezembro de <strong>2009</strong>, foi, então, anunciado pelo Secretário Regional<br />

da Saúde, Miguel Correia, mais um passo que consistia na disponibilização<br />

de um posto móvel, instalado numa carrinha, que circularia entre Ponta<br />

Delgada, Ribeira Grande e Lagoa, com a finalidade de administrar metadona<br />

e ao mesmo tempo fazer prevenção através da redução de riscos.<br />

A 09 de Março de 2010, efectuado, em Ponta Delgada, um balanço<br />

referente a <strong>2009</strong> das actividades regionais ao nível da luta contra a toxicodependência,<br />

registou-se um incremento das actividades de cada uma das<br />

instituições. No âmbito da reabilitação de toxicodependentes, a<br />

Alternativa, em 2005, registou 71 intervenções, em 2006, 90, em 2007,<br />

101, em 2008, 146, e, em <strong>2009</strong>, foram 180, representando uma duplicação<br />

da sua actividade nos últimos quatro anos. Cenário idêntico se verificou na<br />

ARRISCA, ao apoiar 189 toxicodependentes, apenas em <strong>2009</strong>, duplicando<br />

o número obtido nos dois anos anteriores, que se tinha ficado pelos 116<br />

apoios. A Casa de Saúde de São Miguel, em <strong>2009</strong>, chegou aos 478 internamentos<br />

de dependentes e a Villa de Passos situada no concelho da<br />

Lagoa, fruto da procura, também em <strong>2009</strong>, mais do que duplicou o número<br />

de camas disponíveis para internamento de toxicodependentes chegando<br />

às 19 camas, quando até então dispunham de apenas 7.<br />

No ano de <strong>2009</strong>, houve a nível regional um aumento significativo da<br />

capacidade de resposta à procura de acompanhamento e tratamento de<br />

toxicodependentes, colmatando-se, assim, algumas lacunas, embora, por<br />

62


Dependências e outras violências…<br />

exemplo, a Casa de Saúde de São Miguel continue a assumir a existência<br />

de uma lista de espera, para desintoxicações, de três meses.<br />

As prevalências de consumo de drogas e os riscos de contágio, por<br />

exemplo, segundo dados fornecidos pelo Centro das Taipas, em Lisboa,<br />

dizem-nos que mais de 60% dos toxicodependentes são portadores do<br />

vírus da hepatite C. De uma amostra de 112 toxicodependentes testados,<br />

no primeiro trimestre de 2003, ao HIV, 8% obtiveram resultado positivo.<br />

Os dados do relatório de <strong>2004</strong> do Observatório Europeu das Drogas e<br />

Toxicodependência ditam um quadro bem mais problemático, referindo<br />

que entre 15 a 16% dos toxicodependentes estão infectados com HIV. Com<br />

hepatite C são contabilizados entre 45 a 62% dos toxicodependentes.<br />

Sendo público que, nos Açores, nos últimos 25 anos, se registaram<br />

200 casos declarados com Sida ou infectados com HIV e que anualmente<br />

se registam 25 a 30 novos casos (DA, 08/Dez/<strong>2009</strong>: 4), existem motivos<br />

de preocupação em relação às possibilidades de propagação de doenças<br />

infecto-contagiosas, justificando-se o esforço anunciado pelo Governo<br />

Regional. Além do referido posto móvel, que pode minimizar alguns riscos<br />

de contágio, foi também implementada a estratégia de realização de<br />

testes rápidos de despistagem da SIDA, gratuitos nos centros de saúde de<br />

Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta.<br />

As acções descritas, articuladas com acções de consciencialização contra<br />

comportamentos de risco, como os programas Tu Decides, apresentado<br />

em 2008, os protocolos assinados entre a Secretaria Regional da Saúde, a<br />

ARRISCA, a Alternativa e o Centro Villa dos Passos, no dia 23 de Junho de<br />

<strong>2009</strong>, ou o programa Expressa-te, apresentado em Setembro de <strong>2009</strong>, a par<br />

de iniciativas de distribuição de seringas ou de preservativos, foram as<br />

acções governamentais de maior visibilidade nos Açores dos últimos anos.<br />

Acresce destacar o aumento muito significativo das verbas destinadas à prevenção<br />

e tratamento de comportamentos de risco, nos últimos anos. De<br />

cerca de 500 mil euros gastos por ano, entre <strong>2004</strong> e 2008, em <strong>2009</strong> foram<br />

disponibilizados 1 482 000,00 euros e, em 2010, 1,5 milhões de euros.7<br />

No âmbito da luta contra a propagação de doenças transmissíveis por<br />

via do consumo de drogas injectadas, Portugal foi o país da Europa que<br />

mais se destacou pelo número de seringas trocadas. No entanto, a Lei<br />

7 Fonte: Direcção Regional da Prevenção e Combate às Dependências.<br />

63


Alberto Peixoto<br />

3/2007, que visava introduzir nas prisões um programa específico para<br />

toca de seringas, caracterizou-se por ser um profundo fracasso, apesar de<br />

se estimar que 60% dos reclusos têm hábitos de consumo de drogas. Numa<br />

primeira fase, os guardas prisionais recusaram-se a receber formação<br />

sobre o programa e após o seu arranque nas prisões não houve nenhum<br />

recluso que tivesse aderido ao mesmo.<br />

Se algumas estratégias seguidas não têm produzido os resultados desejáveis,<br />

os avanços científicos vão procurando novas soluções para o combate<br />

e alimentando novas esperanças. O cientista Marc Claron8, em 2003, conseguiu<br />

isolar a molécula cerebral em que a cocaína actua, molécula essa que<br />

é uma proteína e que pode dar origem ao aparecimento de vacina.<br />

Em 2007, Fernando Torrealba, investigador da Pontifícia Universidade<br />

Católica do Chile, através de experiências com ratos, descobriu que o córtex<br />

insular é uma região profunda do cérebro que filtra a informação sobre<br />

o estado e as necessidades do corpo. A neutralização de tal zona pode suprimir<br />

a necessidade de consumo da substância (DA, 31/Out/2007: 16).<br />

Em <strong>2009</strong>, foi publicado no Archives of General Psychiatry os resultados<br />

conseguidos pelos cientistas da Yale University e do Baylor College of<br />

Medicine, através da administração de uma vacina anti-cocaína. Com uma<br />

população alvo de 115 dependentes, 58 receberam a vacina e 57 receberam<br />

um placebo. Durante o ensaio clínico, que teve a duração de seis<br />

meses, constatou-se que 38% dos pacientes vacinados produziram um<br />

nível suficiente de anticorpos para bloquear os efeitos da droga, embora<br />

sem conseguirem manter os níveis de anticorpos além de dois meses obrigando<br />

à repetição da vacina (DA, 12/Out/<strong>2009</strong>: 20).<br />

Apesar de uma melhoria significativa nos resultados, tudo indica que<br />

continuamos a dar passos em direcção ao maior controlo possível das diferentes<br />

adições. As abordagens terapêuticas têm apresentado resultados<br />

mais significativos sobretudo ao nível do tabaco, com destaque para os<br />

resultados de uma equipa de investigadores dos Estados Unidos, Portugal<br />

e Brasil, que conseguiram identificar uma via utilizada pela nicotina na<br />

viagem entre a boca e o córtex insular, o que poderá permitir no futuro<br />

intervenções terapêuticas no sentido de interromper o percurso e anular a<br />

vontade de fumar (AE, 26/Jan/<strong>2009</strong>: 16).<br />

8 Apresentação feita na 11.ª edição do Porto – Meeting on Adrenergic Mechanisms, 2003.<br />

64


O TABACO<br />

Sendo o tabaco uma das maiores dependências no planeta, a<br />

Organização Mundial de Saúde (CA., 17/Nov/<strong>2004</strong>: 13) estima que em<br />

todo o mundo existam mil e duzentos milhões de fumadores dos quais<br />

duzentos milhões são mulheres, não hesitando em apontar o tabaco como<br />

a principal causa de morte evitável, atingindo 4,9 milhões de pessoas por<br />

ano (DA, 01/Mar/2005: 3).<br />

Segundo um relatório realizado pela World Lung Foundation e pela<br />

American Câncer Society, estima-se que em 2010, em todo o mundo, seis<br />

milhões de pessoas sejam vítimas mortais do consumo de tabaco, devido ao<br />

desenvolvimento de cancros, problemas cardiovasculares, enfisemas pulmonares,<br />

entre outras patologias. As despesas médicas e a perda de produtividade<br />

resultantes do consumo de tabaco são estimadas em 500 mil milhões de<br />

dólares, sendo um problema que afecta 35% dos homens no mundo desenvolvido,<br />

50% no mundo em desenvolvimento, 22% das mulheres no mundo<br />

desenvolvido e 9% no mundo em desenvolvimento (DA, 25/Set/<strong>2009</strong>: 21).<br />

Em Portugal, o tabaco é apontado como o grande responsável pelas<br />

doenças cardiovasculares, causando a morte a 40 000 pessoas anualmente,<br />

sendo de destacar o facto de 19% da população, com mais de 10 anos<br />

de idade, fumar mais de 20 cigarros por dia (DA., 02/Set/2003, 7). Nos<br />

Açores, estima-se que 80 a 90% dos internamentos no Hospital de Ponta<br />

Delgada, por questões respiratórias, devem-se a patologias directamente<br />

relacionadas com o tabagismo (DA, 17/Nov/<strong>2009</strong>: 5).<br />

Um estudo resultante de uma parceria entre o Centro de <strong>Estudo</strong>s<br />

Aplicados da Universidade Católica Portuguesa, o Centro de <strong>Estudo</strong>s de<br />

Medicina Baseada na Evidência e a Unidade de Nutrição e Metabolismo da<br />

Faculdade de Medicina de Lisboa demonstrou que o tabaco é três vezes mais<br />

65


Alberto Peixoto<br />

fatal que o consumo de álcool devendo por isso ser a prioridade do Sistema<br />

Nacional de Saúde. Os tratamentos de doenças relacionadas com o consumo<br />

de tabaco representam para o Serviço Nacional de Saúde um encargo de 490<br />

milhões de euros/ano enquanto os encargos com o consumo abusivo de álcool<br />

atingem os 189 milhões de euros/ano (DN, 19/Set/2008: 6-7).<br />

Não existem hoje grandes dúvidas quanto às consequências do acto de<br />

fumar resultando do mesmo a possibilidade do desenvolvimento de inúmeras<br />

doenças respiratórias, perda de sentidos, como é o caso da perda de gosto<br />

e do olfacto. Com novos estudos a sucederem-se, multiplica-se o conhecimento<br />

dos malefícios do tabaco, alertando um dos mais recentes estudos<br />

(BJC, 04/Jun/<strong>2004</strong>: 7), realizado por cientistas israelitas, dirigidos por Rafi<br />

Nagler, para o facto de o tabaco transformar as moléculas anti-oxidantes<br />

existentes na boca numa mescla corrosiva, fazendo com que as células bocais<br />

se tornem cancerígenas. A referida mescla torna-se mais devastadora para<br />

a saúde que o próprio fumo. Tratou-se de mais uma achega no âmbito dos<br />

problemas cancerígenos orais que têm como principais causas o tabaco e o<br />

álcool que a nível mundial provocam cerca de 400 000 novos casos/ano.<br />

O Psiquiatra João Barreto (CA, 20/Nov/<strong>2004</strong>: 28) considera que as<br />

dependências do álcool e tabaco estão ao mesmo nível dos comportamentos<br />

psicóticos, sendo de ressalvar o facto de o tabaco não provocar convulsões<br />

sociais.<br />

A Universidade de Oregon, através dos seus investigadores liderados<br />

por James F. Pankon, em 2003, lançaram a suspeita de que a indústria tabaqueira<br />

era responsável por um aumento da dependência dos fumadores por<br />

deliberadamente juntarem um tipo específico de nicotina, denominada base<br />

livre, que rapidamente entra na corrente sanguínea. Através de um estudo,<br />

que envolveu onze marcas americanas, verificaram que as quantidades da<br />

referida nicotina apresentam variações muito consideráveis apenas conseguidas<br />

através da manipulação de técnicas e métodos que poderão ser efectuadas<br />

para aumentar as vendas por via de um aumento da dependência.<br />

Em 2006, foram analisadas 100 marcas de tabaco nos Estados Unidos,<br />

pelos investigadores da Universidade de Harvard, tendo-se concluído que<br />

entre 1997 e 2006 a nicotina deliberadamente colocada nos cigarros para<br />

fazer aumentar a adição, aumentou 11% (DA, 19/Jan/2007: 12).<br />

Kren Law (MP, Jun/2003), liderando um equipa de investigadores,<br />

concluiu que fumar durante a gravidez provoca alterações comportamen-<br />

66


Dependências e outras violências…<br />

tais nos fetos idênticas às provocadas pelo consumo de crack, cocaína, ou<br />

heroína, ainda que a mulher grávida fume apenas seis a sete cigarros por<br />

dia. Os bebés de mães fumadoras tornam-se mais stressados, tornam-se<br />

mais agitados, mais irrequietos e mais difíceis de consolar do que os bebés<br />

de mães não fumadoras.<br />

Investigadores do Centers for Disease Control and Prevention, de<br />

Atlanta (EUA), através da análise de 915 441 nascimentos, concluíram que<br />

a cessação do hábito de fumar durante a gravidez reduz o risco de o bebé<br />

nascer prematuramente ou pequeno para a idade (DA, 28/Jul/<strong>2009</strong>: 21).<br />

O mais recente estudo da Cardiff University, no País de Gales, revelou<br />

que o consumo de tabaco durante a gravidez aumenta o risco de perturbações<br />

psicológicas nos bebés, tendo impacto sobre a impulsividade, a<br />

atenção e a aprendizagem (DA, 9/Out/<strong>2009</strong>: 21).<br />

Ao nível do consumo de drogas durante a gravidez, segundo o IDT, a<br />

nível nacional, registou-se uma consciencialização bastante positiva,<br />

materializada na redução de cerca de 50% no número de casos. Em 2003,<br />

tinham sido acompanhadas 309 grávidas e, em 2008, diminuíram para 120<br />

(DA, 06/Set/<strong>2009</strong>: 21).<br />

Apesar dos alertas dos técnicos para que as parturientes não fumem,<br />

doze em cada cem mulheres grávidas fumam, conhecendo os riscos, conforme<br />

estima Pais Clemente, presidente do Conselho Nacional do Não-fumador<br />

(DA., 17/Nov/<strong>2004</strong>, 10). Nem o sentimento de culpa com que se deparam<br />

parece ser suficiente para as demover da apetência pela nicotina. Um<br />

estudo realizado em Braga, pela Associação para a Prevenção e Tratamento<br />

do Tabagismo, com uma amostra de 1 000 alunos com idades entre os 11 e<br />

os 15 anos, conclui que os filhos dos pais que fumam têm três vezes mais<br />

probabilidades de serem fumadores do que os demais. Sabe-se hoje que uma<br />

criança filha de pais fumadores, de forma passiva, consome até dois cigarros<br />

por dia (DA, 21/Set/2008: 12), o que poderá reforçar o sentimento de<br />

culpa pelo determinismo imposto pelos pais fumadores.<br />

Investigadores do Imperial College de Londres, através de um estudo<br />

com 123 000 pessoas, durante sete anos, concluíram que as crianças<br />

expostas ao fumo do tabaco de familiares fumadores têm três vezes mais<br />

probabilidades de vir a contrair o cancro do pulmão em idade adulta do<br />

que as crianças oriundas de famílias não fumadoras (DA, 30/Jan/2005:<br />

11). Sabe-se também, segundo um estudo, com uma amostra de 926 bebés,<br />

67


Alberto Peixoto<br />

realizado pela Universidade de Creta e divulgado em Agosto de <strong>2009</strong>, que<br />

os bebés expostos ao fumo do tabaco têm mais infecções e consequentes<br />

hospitalizações (DA, 21/Ago/<strong>2009</strong>: 21).<br />

Ao falar-se nos filhos de pais dependentes de drogas, o cenário parece<br />

não ser muito diverso, o que leva Conceição Almeida Pública (PÚB,<br />

30/Nov/2003: 7- 27) a considerá-los em pé de igualdade, na sintomatologia<br />

psicológica, com as crianças sobreviventes das guerras ou de catástrofes<br />

naturais, demonstrando os condicionalismos a que ficam sujeitos.<br />

Foi anunciado por especialistas gregos, no Congresso da Sociedade<br />

Europeia de Cardiologia 2003, que um estudo com 1 900 pessoas não fumadoras,<br />

expostas ao fumo, ainda que durante poucas semanas, permitiu concluir<br />

que aumentava o risco de contrair uma doença coronária em 15%.<br />

Um estudo dirigido por Richard Doll (BM, Jul/<strong>2004</strong>), iniciado em<br />

1954, concluiu que a vida dos fumadores, pela acção do acto de fumar, é<br />

reduzida em dez anos em relação aos não fumadores, além de haver também<br />

uma redução da qualidade de vida. As pessoas que por volta dos 30<br />

anos deixam de fumar reduzem para metade o risco da morte prematura.<br />

O relatório da Organização Mundial de Saúde de 2001 alerta para o<br />

facto de entre cada 100 indivíduos esquizofrénicos 80 a 90 serem fumadores<br />

e com a característica de fumarem o dobro de um fumador médio, o<br />

que pode servir como um indicador do despiste da doença, que leva anualmente,<br />

no mundo, a um milhão de suicídios.<br />

Peter H. Whincup, com outros colegas (BM, Jun/<strong>2004</strong>) do St. George’s<br />

Hospital Medical School, de Londres, estudou quatro mil homens, britânicos,<br />

não-fumadores, com idades compreendidas entre os 40 e os 59 anos de idade,<br />

e concluíram que, por terem estado expostos ao fumo de outros, apresentavam<br />

um risco de sofrer de uma doença cardíaca idêntico aos fumadores de dez<br />

cigarros por dia. Assim, um não-fumador, ao fumar o fumo de outros, vê<br />

aumentada a probabilidade de contrair uma doença cardiovascular em 60%.<br />

Em <strong>2009</strong>, uma investigação do Harold C. Simmons Comprehensive<br />

Cancer Center no UT Southwester Medical Center, em Dallas, permitiu<br />

compreender a forma como 60 carcinogénios, associados ao fumo de tabaco,<br />

se ligam ao ADN e o modificam quimicamente, levando a mutações<br />

que potenciam o aparecimento de cancro (DA, 22/Dez/<strong>2009</strong>: 21).<br />

Investigadores do National Brain Research Center descobriram que<br />

existe uma ligação directa entre o tabagismo e a ocorrência de danos cere-<br />

68


Dependências e outras violências…<br />

brais, em virtude de existir no tabaco o composto NKK que induz os glóbulos<br />

brancos no sistema nervoso a atacar as células saudáveis provocando<br />

graves danos neurológicos (DA, 19/Jul/<strong>2009</strong>: 21).<br />

Um estudo, publicado na revista londrina Tabacco Control, refere que<br />

a exposição ao ambiente de fumo numa discoteca durante quatro horas corresponde<br />

ao convívio diário com um fumador durante um mês. Concluiu o<br />

mesmo estudo que nem a separação de salas de fumadores e não fumadores<br />

é suficiente para se conseguir atingir níveis zero de nicotina em tais<br />

espaços, sendo de ressalvar o facto de os fumadores, quando confrontados,<br />

tenderem a desvalorizar os malefícios do tabaco (CA, 27/Fev/2005: 37).<br />

No âmbito do projecto Familial Intracranial Aneurysm, um estudo da<br />

Universidade de Cincinnati permitiu constatar que os fumadores de um<br />

maço diário de tabaco durante 20 anos vêem aumentado o risco de ter um<br />

aneurisma e caso entre os fumadores exista uma variação genética tal risco<br />

aumenta mais de cinco vezes (DA, 05/Mar/2010: 21).<br />

<strong>Estudo</strong>s como estes parecem fundamentar decisões políticas como a<br />

que surgiu durante a realização do presente estudo de avaliação das dependências<br />

nos Açores. Veio a debate público a possibilidade de alargamento<br />

das proibições de se fumar em locais públicos como restaurantes, bares,<br />

discotecas, estabelecimentos de ensino e locais de trabalho fechados.<br />

A referida norma prevê a criação de áreas destinadas exclusivamente<br />

a fumadores. Tal aprovação pode mesmo representar uma redução de consumo<br />

de tabaco de 6% e de 1% do consumo de cerveja e uma quebra de<br />

15 milhões de euros nas receitas do Estado (DA, 11/Nov/<strong>2004</strong>, 3).<br />

Um estudo dirigido por Carla Lopes, da Faculdade de Medicina da<br />

Universidade do Porto, em <strong>2004</strong>, tendo por base uma amostra de 946 pessoas,<br />

concluiu que a proibição de fumar em bares e restaurantes não provoca<br />

qualquer redução na frequência desses espaços, tendo 6,4% dos fumadores<br />

afirmado que passariam a ir mais vezes, 65% afirmam não alterar o comportamento<br />

independentemente da proibição ou não e 12,3% afirmam passar a<br />

frequentar menos vezes. No entanto, entre os não fumadores, 36% afirmam<br />

passar a frequentar mais vezes com a proibição. Outro estudo realizado na<br />

Califórnia, após a proibição de fumar em bares e restaurantes, imposta no início<br />

de 1998, comparando os resultados do primeiro trimestre de 1997 com o<br />

primeiro trimestre de 1998, chega mesmo a concluir que se verificou um<br />

acréscimo de 6% no resultado das vendas em tais estabelecimentos.<br />

69


Alberto Peixoto<br />

A Noruega e a Irlanda são países europeus bastante restritivos,<br />

enquanto países como a Alemanha e a Grã-Bretanha não impõem qualquer<br />

restrição ao acto de fumar em espaços públicos. A França impôs a existência<br />

de zonas reservadas a fumadores desde 1992, embora exista um desrespeito<br />

público mais ou menos generalizado nesta matéria.<br />

Fruto de uma fiscalização muito deficitária, era de prever uma situação<br />

idêntica em Portugal, daí que, ao longo de 2008, primeiro ano de<br />

vigência da lei, apenas 10 coimas foram aplicadas por incumprimento da<br />

lei do tabaco (DA, 15/Abr/<strong>2009</strong>: 24). Todavia, cremos, resultante de uma<br />

certa pressão mediática, a ASAE anunciou (DA, 30/Dez/<strong>2009</strong>:11) ter instaurado<br />

1800 processos por infracções à lei de tabaco durante os dois primeiros<br />

anos de vigência.<br />

Nos Estados Unidos em matéria de proibição de fumo, primeiro na<br />

Califórnia e em <strong>2009</strong>, em Nova Iorque, depois dos bares, restaurantes e<br />

locais de trabalho, foi-se ainda mais longe ao restringir o tabaco também<br />

nas praias e parques (DA, 17/Set/<strong>2009</strong>: 13).<br />

Uma sondagem efectuada pela Organização Mundial de Saúde (AO,<br />

05/Jun/<strong>2004</strong>: 20), em 35 países da Europa e América do Norte, a 162 mil<br />

jovens, com idades entre os 11 e os 15 anos, concluiu que os jovens portugueses<br />

de 13 anos eram os que menos tinham experimentado tabaco, no<br />

entanto situavam-se no 3.º lugar no fumar uma vez por semana e em 6.º lugar<br />

no fumar com frequência. O mesmo estudo dava conta de que os jovens portugueses<br />

eram os que menos consumiam álcool e tabaco e estavam acima da<br />

média nas práticas sexuais, mas eram dos que menos usavam preservativos.<br />

Além das consequências para a saúde do acto de fumar, não é de descurar<br />

o peso do encargo no seio das famílias, conforme documenta o Instituto<br />

Nacional de Estatística, estimando, com dados referentes a 2000, que a<br />

média nacional da despesa anual das famílias com o tabaco seja de 1,6 %<br />

dos rendimentos, equivalendo a 218 euros. Nos Açores, o peso da despesa<br />

com tabaco é ainda maior atingindo os 2,3% do rendimento anual das famílias.<br />

Se tivermos em conta apenas as famílias onde se fuma, o gasto com<br />

tabaco poderá atingir os 749,00 euros anuais (CA, 17/Nov/<strong>2004</strong>: 13).<br />

O tabaco é fortemente tributado e, segundo valores de 2003, 76,5% do<br />

preço de venda ao consumidor são impostos (DN, 12/Jan/2005: 3), calculando-se<br />

que os lucros totais do volume de negócios da indústria do tabaco<br />

foram de 373 milhões de euros, permitindo ao Estado português um encaixe<br />

70


Dependências e outras violências…<br />

de 1 220 milhões de euros. Para 2005, o orçamento de Estado aprovado, por<br />

via do aumento dos impostos sobre o tabaco, previa ser de 8,7% o crescimento<br />

das receitas. Apesar do aumento do preço fixado para 2005, Portugal pratica<br />

os preços mais baixos da Europa na venda de tabaco. Praticamente, apenas<br />

os novos países membros da Europa de Leste praticam preços inferiores.<br />

As receitas, como vimos, são elevadas, mas estima-se que a dependência<br />

do tabaco absorva cerca de 15% dos orçamentos para a saúde de<br />

países como a França ou os Estados Unidos da América (AO,<br />

12/Nov<strong>2004</strong>: 2), não devendo Portugal estar muito longe desta estimativa.<br />

O estudo da Rede Europeia para a Prevenção do Tabagismo (de 1998 a<br />

2002), que engloba 28 países europeus, apresenta Portugal em nono lugar<br />

quanto à adopção de políticas efectivas contra o tabaco. No período em análise,<br />

os jovens portugueses, de 15 anos de idade, que apresentavam uma taxa<br />

de fumadores de 14%, passaram para 26%, em 2002. Apresentamos o<br />

segundo maior crescimento da taxa de prevalência de fumadores, embora<br />

continue a ser a mais baixa dos 28 países em análise. O estudo também revela<br />

que as pessoas com mais dificuldades económicas fumam mais que as<br />

mais abastadas e são também as pessoas com mais dificuldades económicas<br />

que em idade adulta têm mais dificuldades em abandonar o vício. Concluiuse,<br />

ainda, que um aumento de 10% no preço do tabaco provoca uma diminuição<br />

de consumo na ordem dos 4%. Deste modo o aumento do preço<br />

surge como a mais eficiente medida para a redução do consumo embora na<br />

União Europeia sejam utilizadas outras medidas para a redução do consumo<br />

como a obrigatoriedade em vigor de se colocar um aviso, nos maços de<br />

tabaco, a informar que prejudica a saúde, de entre 14 avisos definidos a<br />

nível comunitário.<br />

Em 2006, foram publicados dados na revista americana Public<br />

Library of Science Medicine que comparavam as mortes causadas pelo<br />

tabaco e as mortes causadas pela Sida. Tendo como referência os dados de<br />

2002, foram projectados dados até 2030, concluindo-se que o tabaco matará<br />

mais 50% que a Sida até 2015. O tabaco sobrepõe-se sempre à Sida, em<br />

todo o mundo e em todos os grupos etários à excepção do grupo dos 0 aos<br />

5 anos de idade. Estima-se que o tabaco mate, em 2030, mais de oito<br />

milhões de pessoas enquanto a Sida se fica pelos 6,5 milhões, embora nos<br />

países ricos se estime uma redução de 9% no número de mortes, causada<br />

pelo tabaco (DN, 30/Nov/2006: 20).<br />

71


Alberto Peixoto<br />

Segundo dados de 2006, o estado português arrecadava cerca de 100<br />

milhões de euros por mês com os impostos sobre o tabaco. Nos primeiros<br />

oito meses de 2007, em relação a 2006, o Estado perdeu 2,8% da receita,<br />

representando tal facto uma quebra de 24 milhões de euros, ou seja, menos<br />

3 milhões de euros por mês. Ao longo de todo o ano de 2007, o Estado<br />

arrecadou menos 170 milhões de euros em impostos sobre o tabaco (DN,<br />

1/Fev/2008: 4). Em 2008, a receita proveniente dos impostos sobre o tabaco<br />

continuou a descer. Entre Janeiro e Julho de 2008, em relação ao período<br />

homólogo de 2007, a quebra foi de 117,2 milhões de euros, ou seja,<br />

menos 20,7% (CM, 22/Ago/<strong>2009</strong>: 21).<br />

O cenário descrito traduz claramente uma tendência de redução da<br />

propensão para o consumo de tabaco da população portuguesa e que não<br />

pode ser dissociada do agravamento do preço do tabaco e das bebidas<br />

alcoólicas por via do agravamento da carga fiscal imposta pelo Governo<br />

de José Sócrates.<br />

Um contributo importante para a redução da propensão do acto de<br />

fumar foram as restrições impostas ao consumo de tabaco, nos estabelecimentos<br />

públicos e locais de trabalho, pela lei em vigor desde 01 de<br />

Janeiro de 2008.<br />

O Director-Geral da Saúde, Francisco George, estimou que, em<br />

média, ao longo do ano de 2008, os portugueses fumaram menos nove<br />

cigarros por dia, tendo em conta a redução de 5%, no número de fumadores,<br />

conseguida. Conforme dados recolhidos no Faial, apesar de se denotar<br />

igualmente uma tendência para o decréscimo de 0,5%, entre <strong>2004</strong> e<br />

2008, a redução de tal consumo ficou bastante aquém da redução estimada<br />

pelo organismo citado.<br />

A situação portuguesa não é caso único, pois o primeiro ano em que vigorou<br />

em Inglaterra uma lei idêntica à portuguesa (Julho/2007 a Junho/2008)<br />

deixaram de fumar 400 000 pessoas e venderam-se menos dois mil milhões<br />

de cigarros9, menos cerca de 6% do total da produção de cigarros. Nos<br />

Estados Unidos, segundo um estudo da American Câncer Society, a redução<br />

do número de fumadores, nos últimos 40 anos, apresenta-se como a melhor<br />

hipótese explicativa do facto de terem diminuído as mortes por cancro no pulmão,<br />

cancro da mama, da próstata e do cólon (DA, 21/Jan/2007: 2).<br />

9 Dados publicados no Independent de 30/06/2008.<br />

72


Dependências e outras violências…<br />

Em contra-ciclo, os dados da Faculdade de Medicina do Porto, divulgados<br />

por Agostinho Marques, dão conta de que, a nível nacional, estão a<br />

aumentar os fumadores nos adolescentes de 13 e 14 anos de idade.<br />

Estimando uma taxa de fumadores de 31% da população portuguesa, com<br />

tendência para a diminuição, a taxa feminina de fumadoras é 6 a 7% inferior<br />

à masculina, mas com tendência para o crescimento10.<br />

Segundo um estudo do projecto europeu PESCE, uma redução de<br />

15% no consumo de tabaco poderia evitar 400 mortes por ano, 2 200<br />

patologias graves, além de representar uma poupança de 37,4 milhões de<br />

euros/ano (DN, 02/Mai/<strong>2009</strong>: 14). Considerando que em 2008 se conseguiu<br />

uma redução de 5%, é possível que se tenha evitado a perda de 133<br />

vidas, o desenvolvimento de 733 patologias graves e poupado 12, 46<br />

milhões de euros.<br />

Um estudo promovido pelo Instituto Americano de Medicina concluiu<br />

que, além dos benefícios directos, a proibição de fumar nos espaços<br />

públicos reduz a probabilidade de ocorrência de ataques cardíacos entre os<br />

fumadores passivos. Também no Journal of the American College of<br />

Cardiology e no Journal of the American Heart Association foram publicados<br />

dados sobre este assunto resultantes de estudos realizados nos<br />

Estados Unidos da América, Canadá e Europa, sobre 24 milhões de pessoas,<br />

estimando-se que tais restrições tenham feito reduzir os enfartes do<br />

miocárdio até 26 por cento por ano.11<br />

Para além da melhoria da qualidade de vida dos não fumadores, corroborada<br />

pelos diversos estudos citados, um grupo de investigadores<br />

liderados por Arto Y. Strandberg, da Universidade de Helsinki, na<br />

Finlândia, foi ainda mais longe e através da comparação de dados, referente<br />

à população em 1974 e em 2000, chegou à conclusão que os não<br />

fumadores vivem em média mais 10 anos que os fumadores (DA,<br />

16/Out/2008: 13).<br />

Um estudo realizado pelo Grupo de Apoio ao Tabagista do Hospital<br />

do Cancro A. C. Camargo, em São Paulo, Brasil, demonstrou, em <strong>2009</strong>, a<br />

maior vulnerabilidade das mulheres aos efeitos do tabaco, em relação aos<br />

homens. Detectaram, ainda, que uma parte considerável das mulheres<br />

10 Dados apresentados no 23.º Congresso de Pneumologia, na Guarda, que decorreu entre<br />

08 e 10 de Novembro/2007.<br />

11 Disponível em www.facebooc.com/pages/revistafocus/, em 08/Dez/<strong>2009</strong>.<br />

73


Alberto Peixoto<br />

associava o fumar à possibilidade de emagrecer e o parar de fumar com à<br />

probabilidade de aumentar o peso.<br />

Embora tenha sido estimado que o ganho com o consumo de tabaco<br />

represente menos 4 quilos de peso, os autores do referido estudo alertaram<br />

que o ganho é muito pequeno em relação aos malefícios provocados sobretudo<br />

nas mulheres (DA, 25/Mar/<strong>2009</strong>: 16).<br />

Dados recolhidos em 2001, sobre substâncias psicoactivas, lícitas ou<br />

ilícitas, pela Universidade Nova de Lisboa, a pedido do Instituto da Droga<br />

e Toxicodependência (DA, 26/Mai/<strong>2004</strong>: 14), revelavam que 29% da<br />

população continental consumia tabaco 69% da qual eram homens e 31%<br />

eram mulheres, enquanto nos Açores o nosso estudo, em <strong>2004</strong>, apresentou<br />

uma população de 79 782 consumidores (33%), dos quais 54 730 eram<br />

homens (68,6%) e 25 052 eram mulheres (31,4%).<br />

Em <strong>2009</strong>, registou-se uma diminuição na percentagem de fumadores<br />

atingindo-se os 32%. É de salientar o facto de se ter registado uma redução<br />

apenas de fumadores do sexo masculino, visto que houve um aumento<br />

real da percentagem de mulheres fumadoras de 6,6 pontos agrupando,<br />

em <strong>2009</strong>, 38% do total de fumadores, enquanto os homens baixaram para<br />

62%. Em termos absolutos, em <strong>2009</strong>, existiam nos Açores 78 329 fumadores<br />

dos quais 48 563 do sexo masculino e 29 766 do sexo feminino.12<br />

Ou seja, menos 1 453 fumadores que em <strong>2004</strong>.<br />

74<br />

FUMADORES CONTINENTE <strong>2004</strong> AÇORES <strong>2004</strong> AÇORES <strong>2009</strong><br />

(%) (%) (%)<br />

Homens 69,0 68,6 62,0<br />

Mulheres 31,0 31,4 38,0<br />

TOTAL DA POPULAÇÃO 29,0 33,0 32,0<br />

Quadro n.º 12 Comparação por sexos e total das percentagens de fumadores entre<br />

o Continente e os Açores.<br />

12 Valor calculado com base na população residente nos Açores, estimativa para<br />

31/12/2008, disponível em http://estatistica.azores.gov.pt a 15 de Março de 2010. Por<br />

serem os dados oficiais, mais recentes, todas as estimativas apresentadas no presente<br />

estudo, referentes a <strong>2009</strong>, foram calculadas com base em tais números.


Sem serem conhecidos dados estatísticos, referentes a <strong>2009</strong>, sobre a<br />

população portuguesa fumadora e que tenham sido recolhidos com metodologia<br />

idêntica à do presente estudo, apenas se pode afirmar que os<br />

dados referentes aos Açores continuam a manter-se acima dos valores do<br />

Continente de <strong>2004</strong>. Se em <strong>2004</strong> a percentagem de mulheres fumadoras<br />

estava acima da média nacional quatro décimas, em <strong>2009</strong>, passou a estar<br />

sete pontos percentuais.<br />

As mudanças sócio-culturais, provocadas pelos movimentos feministas,<br />

ocorridas depois da década de 60 (séc. XX), contribuíram para o<br />

aumento do consumo de tabaco, apresentando-se em crescimento, sobretudo<br />

no mundo ocidental, o número de mulheres fumadoras com a característica<br />

de iniciarem o consumo, em termos etários, cada vez mais cedo,<br />

realidade à qual as mulheres açorianas não são alheias, conforme<br />

demonstram os dados recolhidos.<br />

RESIDE EM COSTUMA FUMAR (%)<br />

Meio rural 54,0<br />

Meio urbano 46,0<br />

Quadro n.º 13 Comparação das percentagens de<br />

fumadores, tendo em conta a área de residência.<br />

Dependências e outras violências…<br />

O facto de a população residir em meio rural ou em meio urbano<br />

sugere uma influência exercida sobre a decisão de fumar, na medida<br />

em que 54% dos fumadores (42 298) residia em meio rural enquanto<br />

46% dos fumadores (36 031) residia em meio urbano. Sem alterações<br />

significativas em <strong>2009</strong>, é de referir que os Açores apresentaram tendência<br />

contrária à média nacional em que a percentagem de fumadores<br />

em meio urbano era superior à percentagem dos residentes em<br />

meio rural.<br />

75


Alberto Peixoto<br />

ILHA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%) Variação (%)<br />

Corvo 48,0 44,0 -4,0<br />

Faial 28,0 28,0 0,0<br />

Flores 37,0 27,0 -10,0<br />

Graciosa 28,0 26,0 -2,0<br />

Pico 34,0 29,0 -5,0<br />

São Jorge 28,0 29,0 +1,0<br />

São Miguel 35,0 38,0 +3,0<br />

Santa Maria 44,0 42,0 -2,0<br />

Terceira 30,0 26,0 -4,0<br />

Média Açores 33,0 32,0 -1,0<br />

Quadro n.º 14<br />

<strong>2004</strong> -<strong>2009</strong><br />

Percentagem da população fumadora por ilha,<br />

Em <strong>2004</strong>, as variações percentuais de fumadores, entre ilhas, situavam-<br />

-se entre a mais elevada, de 48% no Corvo, seguindo-se Santa Maria, com<br />

44%. A Terceira apresentava uma população de fumadores de 30%, o Pico,<br />

de 34%, São Miguel, de 35%, e as Flores, de 37%. Com uma população<br />

idêntica de fumadores, de 28%, surgiram São Jorge, Graciosa e Faial.<br />

Em <strong>2009</strong>, registaram-se variações bastante significativas nas taxas de<br />

fumadores com uma tendência, ainda que ligeira, para a diminuição da<br />

propensão. O Corvo manteve-se com a taxa mais elevada, 44%, seguindo-<br />

-se Santa Maria, com 42%, São Miguel, com 38%, São Jorge, com 29%,<br />

Pico, com 29%, Faial, com 28%, e Flores, com 27%. A Graciosa e a<br />

Terceira registaram as taxas mais baixas de fumadores, situadas nos 26%,<br />

sendo as ilhas, a par do Pico e Flores, em que se registaram as diminuições<br />

mais acentuadas no número de fumadores.<br />

Em <strong>2004</strong>, por concelhos, o Corvo, com 48%, apresentou a mais elevada<br />

taxa de prevalência do consumo de tabaco, seguindo-se Vila do<br />

Porto, na ilha de Santa Maria, com 44%, Santa Cruz das Flores, com<br />

42,1%, Lajes do Pico, com 40,8%, Nordeste, em São Miguel, com 38,7%,<br />

Ribeira Grande, com 37,3%, Madalena do Pico, com 36,1%, Lagoa, com<br />

35,9%, Ponta Delgada, com 35,8%, Lajes das Flores, com 34,8%, Velas de<br />

São Jorge, com 34,7%, Vila Franca do Campo, com 32,5%, Angra do<br />

Heroísmo, com 30,4%, Horta, com 28,4%, Praia da Vitória, com 27,9%,<br />

76


Dependências e outras violências…<br />

Santa Cruz da Graciosa, com 27,5%, Povoação, com 24,7%, Calheta de<br />

São Jorge, com 23,3%, e por último São Roque do Pico, com 22,8%.<br />

CONCELHOS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Angra do Heroísmo 30,4 27,3<br />

Calheta de São Jorge 23,3 27,8<br />

Corvo 48,0 43,5<br />

Horta 28,4 28,4<br />

Lagoa 35,9 27,3<br />

Lajes das Flores 34,8 28,3<br />

Lajes do Pico 40,8 26,1<br />

Madalena 36,1 31,8<br />

Nordeste 38,7 28,3<br />

Ponta Delgada 35,8 42,0<br />

Povoação 24,7 27,8<br />

Praia da Vitória 27,9 24,7<br />

Ribeira Grande 37,3 42,7<br />

São Roque do Pico 22,8 25,4<br />

Santa Cruz da Graciosa 27,5 25,9<br />

Santa Cruz das Flores 42,1 26,7<br />

Velas de São Jorge 34,7 32,7<br />

Vila do Porto 44,0 42,3<br />

Vila Franca do Campo 32,5 31,3<br />

Quadro n.º 15 Consumo de tabaco por concelhos <strong>2004</strong> -<br />

<strong>2009</strong>.<br />

Em <strong>2009</strong>, por concelhos, registou-se uma tendência clara de redução<br />

do número de fumadores à excepção dos concelhos de Ribeira Grande,<br />

São Roque do Pico, Calheta de São Jorge, Povoação e Ponta Delgada.<br />

Quanto à idade de início, o consumo, em <strong>2004</strong>, em 31% dos fumadores,<br />

nos Açores, tinha começado antes dos 15 anos, enquanto, no<br />

Continente, a média dos fumadores que iniciaram o consumo antes dos 15<br />

anos era de 25%, demonstrando que os açorianos tendem a fumar significativamente<br />

mais cedo do que a média nacional. No período compreendido<br />

entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>, nos Açores, houve mesmo um agravamento no<br />

77


Alberto Peixoto<br />

número de novos fumadores abaixo dos 15 anos passando de 31% para<br />

34,7%, o que deve constituir preocupação crescente.<br />

O relatório a nível comunitário, referente a Abril de <strong>2004</strong>, dava conta<br />

de que 36% dos jovens portugueses, entre os 15 e os 24 anos de idade, eram<br />

consumidores regulares de tabaco. Se considerarmos este indicador, verificava-se<br />

que a média da população açoriana, dos 15 aos 24 anos, em <strong>2004</strong>, era<br />

de 34,6%, situando-se ligeiramente abaixo da média nacional; todavia, em<br />

<strong>2009</strong>, aumentou para 39,1% o número de fumadores em tal grupo etário.<br />

A 1 de Março de 2005, como que fundamentada no retro-mencionado<br />

relatório, a Comissão Europeia lançou uma nova campanha de prevenção<br />

contra o tabaco, orçamentada em 72 milhões de euros, cujo principal<br />

objectivo assentava em duas vertentes: levar os jovens a não começarem a<br />

fumar e fazer com que os fumadores deixassem de fumar. Tratava-se de<br />

uma decisão importante em consonância com o Tratado Mundial, aprovado<br />

por 192 países, um dos quais Portugal, na 56.ª Assembleia Mundial de<br />

Saúde para a Prevenção e Controlo do Tabaco. A Organização Mundial de<br />

Saúde, como justificação das suas acções, considerou que o acto de fumar,<br />

praticado na Europa por 40% dos adultos, era responsável pela morte de<br />

550 000 europeus por ano, dos quais 12 000, só em Portugal, com idades<br />

compreendidas entre os 35 e os 69 anos (DA, 02/03/2005, 3).<br />

Todos os dados conhecidos apontam no mesmo sentido, sendo os<br />

jovens a população alvo preferencial para as acções de sensibilização a<br />

desenvolver também nos Açores, visto que as idades de maior propensão<br />

para o acto de fumar se situavam no grupo etário dos 15 aos 20 anos, com<br />

53% dos fumadores, enquanto 13% se iniciou entre os 21 e os 25 anos. Se<br />

considerarmos o início do consumo antes dos 25 anos, nos Açores, em <strong>2004</strong>,<br />

constatámos um agrupamento de 97% dos fumadores e, em <strong>2009</strong>, ainda<br />

mais três décimas. No entanto, considerando-se que a média nacional se<br />

situava nos 96%, não existiam diferenças muito significativas a este nível.<br />

Ao longo das duas análises, foi notória a grande diminuição da probabilidade<br />

de início do consumo de tabaco depois dos 26 anos de idade; por<br />

cada cem pessoas apenas duas ou três iniciam tal consumo neste escalão<br />

etário, tornando-se uma probabilidade meramente residual, se considerarmos<br />

os escalões etários seguintes. Por exemplo, a probabilidade de se iniciar<br />

o consumo de tabaco ao longo da vida depois dos 31 anos de idade era<br />

igual a 1%, demonstrando como é remota tal possibilidade.<br />

78


Considerando a frequência de consumo diário dos fumadores continentais<br />

de 96%, e de 4% para os que passam mais de um dia sem fumar,<br />

conclui-se que os açorianos possuem uma frequência inferior, situada, em<br />

<strong>2004</strong>, nos 85%, no consumo diário, nos 15%, para mais de um dia sem<br />

fumar, nos 79,2% e 17,5%, respectivamente, em <strong>2009</strong>.<br />

GRUPO ETÁRIO <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

14 e menos 31,0 34,7<br />

15-20 anos 53,0 58,7<br />

21-25 anos 13,0 3,9<br />

26-30 anos 2,0 1,9<br />

31-35 anos 0,4 0,2<br />

36-40 anos 0,4 0,3<br />

41-45 anos 0,06 0,0<br />

46-50 anos 0,07 0,0<br />

51 e mais anos 0,07 0,3<br />

Quadro n.º 16 Idade de início do consumo<br />

de tabaco nos Açores.<br />

Dependências e outras violências…<br />

Entre a população fumadora dos Açores e do Continente constata-se<br />

um diferencial que chega aos 16,8%, permitindo classificar os açorianos<br />

mais como fumadores ocasionais e menos como fumadores diários.<br />

Além de ter diminuído, na região, o número de fumadores em geral,<br />

está a diminuir a frequência de consumo de tabaco, o que pode estar relacionado<br />

com o aumento de preço do tabaco e com as restrições ao nível<br />

dos locais em que é permitido fumar, bem como eventualmente com a disponibilização<br />

nas unidades de saúde de consultas de cessação tabágica.13<br />

FUMADORES CONTINENTE (%) AÇORES <strong>2004</strong> (%) AÇORES <strong>2009</strong> (%)<br />

Diário 96,0 85,0 79,2<br />

Ocasional 4,0 15,0 17,5<br />

Quadro n.º 17 Comparação das percentagens de fumadores, com prevalência<br />

diária e prevalência inferior à diária, entre o Continente e os Açores.<br />

13 Em 2008 e <strong>2009</strong>, nos três hospitais e seis centros de saúde, foram realizadas, no total,<br />

1 433 consultas de cessação tabágica segundo dados da Direcção Regional da Prevenção<br />

e Combate às Dependências (DA, 31/Mar/2010: 9).<br />

79


Alberto Peixoto<br />

O presente estudo permitiu concluir que a probabilidade de se iniciar o<br />

consumo de tabaco depois dos 25 anos é praticamente nula, justificando uma<br />

necessidade crescente de realização de campanhas de prevenção contra o<br />

tabagismo nos grupos etários em idade escolar, ou seja, no início da juventude,<br />

adolescência e pré-adolescência por se verificar que, entre os fumadores,<br />

84%, em <strong>2004</strong>, e 93,4%, em <strong>2009</strong>, iniciam o consumo com menos de 21 anos<br />

de idade.<br />

Uma das características do consumo de tabaco prende-se com o facto de<br />

normalmente a iniciação do consumo não partir de uma vontade própria, mas<br />

sim de uma influência exercida por pessoas próximas sendo os amigos/colegas,<br />

considerados por 83%, em <strong>2004</strong>, e 83,3%, em <strong>2009</strong>, dos fumadores<br />

aqueles a quem se deve o facto de terem iniciado o comportamento.<br />

INICIOU O CONSUMO DE TABACO <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Sozinho 11,0 8,7<br />

Com os familiares 6,0 8,0<br />

Com amigos/colegas 83,0 83,3<br />

Quadro n.º 18 Iniciação ao consumo de tabaco.<br />

Mesmo assim existiam 11% dos fumadores, em <strong>2004</strong>, e 8,7%, em <strong>2009</strong>,<br />

a afirmar terem começado sozinhos, enquanto apenas 6%, em <strong>2004</strong>, e 8%,<br />

em <strong>2009</strong>, admitiu ter iniciado o consumo de tabaco com os familiares.<br />

Os grupos de amigos surgiram como o meio mais fértil para o início<br />

do consumo de tabaco de acordo com 39% dos fumadores, em <strong>2004</strong>, e<br />

34,4%, em <strong>2009</strong>, seguindo-se a escola como o lugar decisivo para 35% dos<br />

fumadores, em <strong>2004</strong>, e 29,1%, em <strong>2009</strong>.<br />

Entre os dois momentos de análise é de salientar a diminuição de<br />

5,9% na escola enquanto local de início do consumo de tabaco, cenário<br />

que não será alheio ao facto de entretanto ter sido proibido fumar no interior<br />

de todo o espaço escolar, podendo, por isso, ser considerada uma decisão<br />

com impacto ao nível da diminuição de tal propensão.<br />

Se conjugarmos o local onde se iniciou o consumo de tabaco com a<br />

variável medida através da questão «com quem iniciou o consumo de tabaco?»<br />

demonstra-se o peso da influência dos amigos no início do consumo<br />

de tabaco.<br />

80


LOCAL <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Em casa 11,0 12,9<br />

Na escola 35,0 29,1<br />

Em festas 12,0 21,8<br />

No grupo 39,0 34,4<br />

Outro 3,0 1,8<br />

Quadro n.º 19 Local onde foi iniciado o<br />

consumo de tabaco.<br />

Dependências e outras violências…<br />

A residência surgiu como o meio onde foi iniciado o consumo por<br />

11% dos fumadores, em <strong>2004</strong>, e 12,9%, em <strong>2009</strong>. Os meios festivos, que<br />

proporcionaram o início de consumo a 12% dos fumadores, em <strong>2004</strong>, e<br />

21,8%, em <strong>2009</strong>, assumiram uma importância crescente no início do consumo<br />

de tabaco, enquanto apenas 3% dos fumadores, em <strong>2004</strong>, e 1,8%, em<br />

<strong>2009</strong>, iniciaram o consumo noutro local para além dos indicados, com<br />

especial relevo para os bares/cafés e a própria rua.<br />

Em <strong>2004</strong>, tinham tentado abandonar o consumo do tabaco 36% dos<br />

fumadores açorianos, dos quais 29% assumiram ter a tentativa sido bem<br />

sucedida. Em <strong>2009</strong>, assistiu-se a uma redução para 33,7% na percentagem<br />

de fumadores que tentou abandonar a dependência a par de uma redução<br />

na taxa de sucesso no abandono de tabaco para 10,9%. Ou seja, registou-<br />

-se um menor número de pessoas predispostas a tentar abandonar a dependência<br />

do tabaco e entre elas uma maior dificuldade em obter êxito. Este<br />

é um dado pertinente na medida em que contradiz a ideia veiculada de que<br />

tem aumentado o número de pessoas a abandonar o consumo de tabaco. A<br />

redução do número de fumadores ficou, então, a dever-se sobretudo à<br />

diminuição de novos fumadores com idade acima dos 20 anos.<br />

A nicotina produz uma sensação de tranquilidade, relaxamento e elimina<br />

a ansiedade, todavia os malefícios visíveis a longo prazo chegam mesmo a<br />

conduzir à morte sem que os consumidores tenham encontrado motivação para<br />

abandonar o consumo de tabaco por estar este envolto numa nuvem de mitos,<br />

crenças e até superstições e, neste contexto, Luís Patrício14 refere que o fumador<br />

passivo é um “coitado que fuma obrigado”. O fumador activo que “chupa<br />

o cigarro fá-lo por prazer”. Depois do almoço o fumador procura o “cigarro<br />

14 Então Director do Centro das Taipas na conferência proferida na Universidade dos<br />

Açores a 07/Fev/<strong>2004</strong>.<br />

81


Alberto Peixoto<br />

digestivo”. Fumar para despertar no trabalho ou durante a condução é o<br />

“fumar para manter o olho aberto”. Se o fumador está irritado ou ansioso<br />

então “puxa pelo cigarro terapêutico”. Por fim classifica a grande maioria dos<br />

cigarros que se fuma como “os cigarros parvos, fumados sem se dar por eles”.<br />

Se o controlo da ansiedade pode ser uma motivação para o consumo de<br />

tabaco, um estudo japonês publicado no American Journal of Clinical<br />

Nutrition apontou o chá verde como um possível substituto, além de outras<br />

propriedades atribuídas ao chá por estudos anteriores no controlo da doença<br />

de Alzheimer, certos tipos de cancro, melhoria da saúde cardiovascular, oral,<br />

no controlo de peso (DA, 05/Out/<strong>2009</strong>: 21). Um outro estudo realizado na<br />

Universidade de Chung Shan, com uma amostra de 170 doentes em comparação<br />

com 340 indivíduos saudáveis, demonstrou que os fumadores com o<br />

hábito diário de consumir chá verde tinham treze vezes menos probabilidades<br />

de desenvolver o cancro do pulmão (DA, 17/Jan/2010: 16).<br />

O CONSUMO DE TABACO É <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Diário 28,1 25,7<br />

Semanal 1,0 1,1<br />

Ocasional 4,0 5,2<br />

Quadro n.º 20 Frequência do consumo de tabaco nos Açores.<br />

Em <strong>2004</strong>, constatou-se que 33% dos açorianos tinham por hábito fumar.<br />

Questionados quanto à frequência do consumo, verificámos que 28,1% do<br />

total da população fazia-o diariamente, enquanto 1% fumava apenas uma vez<br />

por semana e 4% fumava ocasionalmente. Em <strong>2009</strong>, entre os 32% de fumadores,<br />

25,7% fumavam diariamente, 1,1% semanalmente e 5,2% ocasionalmente,<br />

evidenciando a redução na frequência de consumo diário e um aumento<br />

no consumo ocasional.<br />

82<br />

O QUE FUMA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Cigarro normal 95,4 96,5<br />

Cigarrilha 1,8 2,2<br />

Charuto 1,8 0,9<br />

Cachimbo 0,3 0,2<br />

Outro 0,3 0,2<br />

POLICONSUMO 0,4 3,3<br />

Quadro n.º 21 Tipologia de tabaco fumado nos Açores.


Dependências e outras violências…<br />

Quanto ao que é fumado, sem grandes variações entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>,<br />

95,4% e 96,5% afirma fumar cigarros normais, enquanto 1,8% e 0,9% afirma<br />

fumar charutos e 1,8%, 2,2%, cigarrilhas. Já o fumar através de<br />

cachimbo não apresenta qualquer expressão nos Açores. Verifica-se que<br />

apenas 4,6% procuram satisfazer os seus ímpetos de fumar com cigarrilhas,<br />

charutos ou cachimbos.<br />

Além da questão da fidelidade à marca de tabaco, a substância fumada<br />

é alvo de uma grande fidelidade por parte dos consumidores, situando-<br />

-se, em <strong>2004</strong>, nos 0,4%, e, em <strong>2009</strong>, nos 3,3% aqueles que admitem mais<br />

de uma forma de fumar.<br />

Com o objectivo de caracterizar a população fumadora, procurámos<br />

averiguar as principais variações da idade de início de consumo de tabaco<br />

por ilha, tendo-se apurado, em <strong>2004</strong>, ser na ilha do Pico onde se<br />

registava o volume de início mais significativo de tabaco antes dos 15<br />

anos, ao apresentar 19% de tal população com este comportamento,<br />

seguindo-se Santa Maria, com 18,5%, e em terceiro lugar a Graciosa,<br />

com 15,2%.<br />

Em <strong>2009</strong>, registaram-se alterações significativas, passando a média<br />

dos Açores de fumadores antes dos 15 anos a ser de 11,7%, sendo o Corvo<br />

a ilha que registou a mais elevada percentagem de novos fumadores a iniciar<br />

antes dos 15 anos, agrupando 19,6%, seguindo-se Santa Maria, com<br />

18,2%, Pico, com 12,6%, Faial, com 12,5, Flores, com 11,8%, Graciosa,<br />

com 11,1%, e a Terceira, com 10,0% passou a ser a ilha com menor percentagem<br />

de fumadores antes dos 15 anos. Em síntese, em todas as ilhas,<br />

à excepção de Graciosa, Pico e Santa Maria, aumentou o número de pessoas<br />

a começar a fumar antes dos 15 anos.<br />

Entre os 15 e os 20 anos, a ilha de Santa Maria era, em <strong>2004</strong>, o local<br />

com maior expressividade do início de consumo neste escalão etário ao<br />

concentrar 23,5% da população naquela idade, seguindo-se a ilha de São<br />

Miguel com 19,5% de tal população a iniciar o consumo naquela fase,<br />

situando-se em terceiro lugar a ilha do Faial, com 19,2%. Em <strong>2009</strong>, Santa<br />

Maria e São Miguel mantiveram-se como as ilhas com maior número de<br />

pessoas a iniciar o consumo de tabaco entre os 15 e os 20 anos, aumentando<br />

para 29,2% e 24,2%, respectivamente.<br />

83


Alberto Peixoto<br />

84<br />

IDADE DE INÍCIO 14 e 14 e 15-20 15-20 21-25 21-25 26-30 26-30 31-35 31-35 36-40 36-40 41-45 41-45 46-50 46-50 51 e 51 e<br />

DE CONSUMO menos menos <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> mais mais<br />

DE TABACO <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

POR ILHA (%) (%) (%) (%)<br />

Corvo 2,0 19,6 0,0 13,0 46,0 8,7 0,0 2,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Faial 6,6 12,5 19,2 11,7 1,9 3,0 0,3 0,0 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Flores 0,0 11,8 14,0 13,6 23,3 1,4 0,7 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Graciosa 15,2 11,1 10,3 13,5 1,0 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Pico 19,0 12,6 12,1 14,3 1,6 1,7 1,0 0,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

São Jorge 6,2 12,2 17,3 16,0 2,3 0,0 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5<br />

São Miguel 10,7 12,2 19,5 24,2 3,8 1,2 0,5 0,7 0,1 0,2 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5<br />

Santa Maria 18,5 18,2 23,5 29,2 0,5 0,7 1,5 0,7 0,0 0,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Terceira 8,1 10,0 17,1 13,8 3,3 0,8 0,6 0,5 0,6 0,0 0,2 0,2 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5<br />

MÉDIA AÇORES 10,4 11,7 17,6 19,8 4,3 1,3 0,5 0,6 0,1 0,1 0,1 0,08 0,05 0,0 0,05 0,0 0,05 0,1<br />

Quadro n.º 22 Idade de início de consumo de tabaco, por ilhas.


Terceira, São Jorge, Faial e Flores destacaram-se, em <strong>2009</strong>, ao conseguirem<br />

uma redução no número de pessoas a iniciar o consumo de tabaco<br />

entre os 15 e 20 anos, todavia tal redução resulta do facto de se terem antecipado<br />

no acto para antes dos 15 anos.<br />

É de salientar o facto de, em <strong>2004</strong>, em média, nos Açores, 10,4% dos<br />

adolescentes com menos de 15 anos de idade terem iniciado o consumo<br />

de tabaco neste grupo etário enquanto 17,6% fizeram-no entre os 15 e os<br />

20 anos de idade. Com especial particularidade surgiram as Ilhas do<br />

Corvo e Flores cujo grupo etário com maior probabilidade de início de<br />

consumo se situava entre os 21 e os 25 anos, demonstrando ser os locais<br />

onde mais tardiamente se iniciava o consumo de tabaco. Tal facto<br />

não seria alheio à proximidade familiar, ao fechamento e ao conservadorismo<br />

do meio funcionando como uma almofada de amortecimento na<br />

vontade dos indivíduos, conduzindo a um retardamento da idade de consumo<br />

de tabaco.<br />

Os cinco anos que separaram as duas análises demonstraram que se<br />

registaram alterações muito significativas nas Ilhas do Corvo e Flores,<br />

passando estas a acompanhar as tendências das demais ilhas. Na percentagem<br />

de pessoas a iniciar o consumo de tabaco abaixo dos 15 anos, as ilhas<br />

mais ocidentais do arquipélago chegaram mesmo a ultrapassar a média dos<br />

Açores situada, em <strong>2009</strong>, nos 11,7%.<br />

IDADE COSTUMA FUMAR COSTUMA FUMAR<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

14 e menos 2,7 4,5<br />

15-20 17,2 11,2<br />

21-25 17,5 14,9<br />

26-30 13,7 14,5<br />

31-35 12,1 13,4<br />

36-40 11,1 12,9<br />

41-45 8,8 11,8<br />

46-50 8,3 10,6<br />

51 e mais 8,6 6,2<br />

Quadro n.º 23 Consumo de tabaco por idades.<br />

Dependências e outras violências…<br />

85


Alberto Peixoto<br />

Tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, continuam a ser maioritariamente os<br />

homens os principais fumadores apresentando maior prevalência de consumo<br />

entre os 15 e os 40 anos de idade, começando a partir daí a diminuir<br />

tal prevalência.<br />

Destacaram-se, em <strong>2004</strong>, os grupos etários dos 15 aos 20 anos e dos<br />

21 aos 25 anos por apresentarem prevalências de consumo de tabaco mais<br />

elevadas. Em <strong>2009</strong>, os fumadores no grupo etário abaixo dos 15 anos e nos<br />

grupos etários 26-50 anos aumentaram, tendo nos grupos etários entre os<br />

15 e os 25 anos e 51 e mais, diminuído.<br />

Assim, concluiu-se que assistimos a dois fenómenos opostos: por um<br />

lado aumentaram os novos fumadores e por outro lado assistiu-se a um envelhecimento<br />

dessa população. A redução do número de fumadores situou-se<br />

apenas na população entre os 15 e os 25 anos e com 51 ou mais anos.<br />

Pretendemos saber a prevalência dos consumos de tabaco, tendo em<br />

conta os estados civis dos fumadores. Constatou-se que, em ambos os<br />

momentos de avaliação, tanto os solteiros como os casados apresentavam<br />

idênticas propensões para o consumo, situando-se, entre os 35,3 e os<br />

31,5%, em <strong>2004</strong>, e 33,9 e 32,6%, em <strong>2009</strong>.<br />

ESTADO CIVIL COSTUMA FUMAR COSTUMA FUMAR<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Solteiro 35,3 33,9<br />

Casado 31,5 32,6<br />

Divorciado 43,2 52,6<br />

Viúvo 21,9 8,5<br />

Separado 41,3 53,6<br />

União de Facto 52,1 46,9<br />

Quadro n.º 24 Consumo de tabaco por estados civis.<br />

Da análise dos estados civis denota-se que as pessoas que detêm<br />

maior instabilidade emocional possuem maior propensão para o consumo<br />

de tabaco. Os viúvos destacaram-se, tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>,<br />

por possuírem as mais baixas propensões tabagistas, podendo inferir-se<br />

que a perda do cônjuge pode contribuir para a diminuição de tal propensão.<br />

86


Dependências e outras violências…<br />

Diferentes níveis de habilitações literárias apresentam diferentes<br />

taxas de consumo de tabaco, surgindo, em <strong>2004</strong>, o 9.º ano de escolaridade,<br />

com 33,9%, a par do 12.º ano de escolaridade, com 31,2%, como<br />

os níveis literários que apresentam as mais elevadas taxas de consumidores<br />

de tabaco. Idêntico cenário se verificou em <strong>2009</strong>, apesar de uma<br />

redução.<br />

Em ambas as análises, os indivíduos sem qualquer nível de ensino,<br />

a par dos indivíduos com cursos profissionais e cursos superiores,<br />

apresentaram as taxas de prevalência de consumo de tabaco mais<br />

baixas.<br />

HABILITAÇÕES COSTUMA FUMAR COSTUMA FUMAR<br />

LITERÁRIAS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Não Sabe Ler 12,4 10,3<br />

Sabe ler e escrever 3,8 3,4<br />

1º Ciclo (4ª cl.) 21,6 13,9<br />

2º Ciclo (6ª cl.) 17,9 22,4<br />

3º Ciclo (9ª cl.) 33,9 25,3<br />

Ensino Secundário (10º-12º) 31,2 24,3<br />

Curso Profissional 10,0 10,7<br />

Curso Superior 11,9 11,1<br />

Quadro n.º 25 Consumo de tabaco, tendo em conta as habilitações literárias.<br />

Detendo-nos sobre as profissões, agrupadas segundo a qualificação<br />

designada de baixa, média e elevada, detectámos que não existem diferenças<br />

muito significativas visto que o valor da propensão se situa num intervalo<br />

inferior a 7%, embora de profissão para profissão existissem maiores<br />

disparidades, mas sem regularidades de relevo.15<br />

15 Conforme foi anteriormente referido, optámos por abandonar algumas das variáveis<br />

e indicadores analisados em <strong>2004</strong> por falta de relevância e introduzir outros,<br />

apesar de, por motivos óbvios, não termos no estudo de <strong>2004</strong> dados para comparação.<br />

87


Alberto Peixoto<br />

PROFISSÕES MAIS COSTUMA FUMAR<br />

REPRESENTATIVAS <strong>2009</strong> (%)<br />

Agricultor 39,2<br />

Carpinteiro 62,8<br />

Electricista 56,6<br />

Estudante 26,1<br />

Pedreiro 66,9<br />

Taxista 50,0<br />

Quadro n.º 26 Consumo de tabaco por profissões.<br />

Seleccionadas as profissões com maior prevalência no consumo de<br />

tabaco, sobressaíram em primeiro lugar os pedreiros, os carpinteiros e os<br />

electricistas. Os estudantes, entre os grupos representados no quadro das<br />

profissões, com 26,1%, apresentaram a prevalência mais baixa sendo de<br />

referir que, em relação a <strong>2004</strong>, o consumo de tabaco aumentou 5,1%.<br />

A questão de o indivíduo ter vivenciado durante a sua infância situações<br />

de violência doméstica apresentou-se como um factor potenciador da prevalência<br />

do consumo de tabaco bem mais influenciador do que por exemplo a<br />

questão da separação vivenciada na infância. Entre os indivíduos que guardavam<br />

recordações de violência doméstica no seio das suas famílias de origem,<br />

47% tinham por hábito fumar, contra 53% que não o faziam. Em <strong>2009</strong>,<br />

manteve-se tal regularidade apesar de uma redução de 7,5% na propensão de<br />

fumar entre os que vivenciaram a prática de violência doméstica.<br />

TEM RECORDAÇÕES COSTUMA FUMAR COSTUMA FUMAR<br />

DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Sim 47,0 39,5<br />

Não 32,0 32,7<br />

Quadro n.º 27 Consumo de tabaco e recordações de violência doméstica na<br />

infância.<br />

Idêntica conclusão obtivemos relacionando a propensão para o consumo<br />

de tabaco e a vivência de problemas com as autoridades em geral.<br />

Assim, entre os indivíduos não consumidores de tabaco, 96%, nunca<br />

tinham tido qualquer problema com tais autoridades reforçando a ideia de<br />

que as pessoas fumadoras predispõem-se mais a comportamentos de risco;<br />

88


Dependências e outras violências…<br />

destemidas e desafiadoras, apresentam comportamentos mais extrovertidos,<br />

mais irreverentes.<br />

Outros indicadores gerais apurados disseram-nos que, em <strong>2004</strong>, entre<br />

os fumadores, 77,7% consumia álcool com regularidade. Em <strong>2009</strong>, manteve-se<br />

a regularidade embora baixando, ligeiramente, para 74,7% os<br />

fumadores que consumiam bebidas alcoólicas.<br />

Fumar e consumir café apresentou-se como uma combinação bastante<br />

frequente dado que entre os fumadores 67,5%, em <strong>2004</strong>, e 75,6%, em<br />

<strong>2009</strong>, consumiam regularmente café, não se podendo afirmar o mesmo em<br />

relação aos consumidores regulares de café, constatando-se que apenas<br />

42,4%, em <strong>2004</strong>, 45,5%, em <strong>2009</strong>, fumavam regularmente.<br />

Apesar de tudo, consensualmente, o tabaco é tido como um tranquilizador<br />

comportamental para grande parte dos seus consumidores; apenas<br />

9,5% dos fumadores, em <strong>2004</strong>, e 8,8%, em <strong>2009</strong>, admitiu já ter sido violento.<br />

As pessoas que fumam regularmente, sem outros hábitos de consumo<br />

de álcool ou drogas, tendem a praticar menos actos de violência e<br />

menos crimes, podendo a baixa propensão para a prática da violência/crime<br />

nos fumadores derivar de um efeito psicológico conseguido com<br />

o consumo de tabaco e que assumidamente é apontado como um dos principais<br />

motivos pelo qual os fumadores são levados a fumar.<br />

As motivações do acto de fumar foi outra das variáveis questionadas.<br />

Constatou-se que, em <strong>2004</strong>, 52% dos fumadores afirmaram fazê-lo por<br />

prazer enquanto 28% disseram fazê-lo por outro motivo não especificado.<br />

O procurar sentir-se calmo foi apontado como a motivação do acto de<br />

fumar para 11% enquanto a busca de desinibição foi apontada por 4% dos<br />

fumadores. Segundo dados de <strong>2009</strong>, apurámos que a obtenção de prazer<br />

é, segundo 42% dos fumadores, a primeira motivação do acto de fumar<br />

seguindo-se a crença do poder tranquilizador do tabaco.<br />

Em média, 20,6% dos fumadores gastavam menos de 10,00 euros<br />

semanais, 64,4% gastava entre 10,00 e 50,00 euros semanais e 15,0% gastava<br />

mais de 50,00 euros por semana, dinheiro esse que em 23% dos casos<br />

provinha do salário próprio, 4,8% da mesada atribuída pelos pais, 1,2% da<br />

pensão que auferiam e 4,3% de proveniência diversa.<br />

Em 90,5% dos casos, os familiares do fumador tinham conhecimento<br />

de que aquele fumava. Entre tais familiares do fumador, 61,3% também<br />

fumava sendo em 40,9% os próprios pais.<br />

89


Alberto Peixoto<br />

O PERFIL DO FUMADOR<br />

Ao nível do perfil do fumador açoriano, em síntese, pode dizer-se que<br />

possui entre os 21 e os 40 anos de idade, é predominantemente do sexo<br />

masculino e fuma cigarros ditos normais. Vive predominantemente em<br />

meio urbano, tem um nível de habilitações escolares entre o 9.º e o 12º<br />

ano, possui instabilidade emocional, sendo solteiro, divorciado, separado<br />

ou a viver em união de facto e possui no seio da sua família outros fumadores.<br />

Começou a fumar no grupo ou no meio escolar por influência dos<br />

amigos, desempenha profissões variadas, que vão das menos às mais qualificadas,<br />

e gasta entre 10,00 a 50,00 euros por semana em tabaco.<br />

90


O ÁLCOOL<br />

Até finais de <strong>2004</strong>, confinavam-se ao antigo Médio Oriente, mais precisamente<br />

aos Montes Zagros, ocidente do Irão, há 5 400 a.C., os mais longínquos<br />

vestígios do consumo de bebidas alcoólicas, altura em que Patrick<br />

McGovern (AACA, 05-12/Dez/<strong>2004</strong>) procurou refutar tal ideia ao concluir<br />

que há 9 000 anos, onde as fronteiras actuais definem a nação chinesa,<br />

fazia parte dos seus habitantes o consumo de bebidas alcoólicas, obtidas<br />

a partir de arroz, mel, uvas, ervas e frutos de pilriteiro. Assim, constatámos<br />

que o consumo de álcool tem acompanhado a civilização humana<br />

no âmbito das relações sociais, religiosas e médicas, fazendo parte de uma<br />

ampla esfera ancestral comum aos povos de todo o planeta.<br />

Diversos especialistas, entre os quais Fátima Ismail (2003), defendem<br />

que o consumo de álcool com moderação e a acompanhar o consumo de<br />

alimentos pode até ser positivo para pessoas equilibradas e ditas normais,<br />

evitando problemas cardiovasculares, menor incidência da diabetes tipo II,<br />

bem como problemas psicológicos como a depressão e a ansiedade,<br />

podendo mesmo o álcool ser utilizado como um ansiolítico ou um antidepressivo<br />

e em elevadas quantidades chega a ser anestésico.<br />

Um estudo apresentado pelo Conselho Superior de Investigações<br />

Científicas da Espanha, defendeu o consumo moderado de cerveja para os<br />

atletas como fonte de hidratação, visto que os componentes da cerveja ajudam<br />

na recuperação do metabolismo hormonal e imunológico depois da<br />

prática desportiva (DA, 12/Jul/<strong>2009</strong>: 20).<br />

Uma investigação da Universidade Católica de Campobasso (<strong>2009</strong>)<br />

foi mais longe ao demonstrar que um copo de vinho a cada refeição ajuda<br />

a paciente do cancro da mama a tolerar melhor a radioterapia e a reduzir<br />

os efeitos indesejados (DA, 03/Jul/<strong>2009</strong>: 21).<br />

91


Alberto Peixoto<br />

Em sentido contrário, um estudo, com uma população alvo de 1 900<br />

mulheres, que já tinham tido cancro da mama, apresentado no San Antonio<br />

Brest Cancer Symposium da American Association for Cancer Research,<br />

permitiu concluir que em particular as mulheres na pós-menopausa que<br />

consomem três a quatro copos de álcool por semana correm um risco significativamente<br />

maior de sofrerem uma recorrência do cancro da mama<br />

(DA, 22/Dez/<strong>2009</strong>: 21). Também um estudo da Universidade de Oxford,<br />

coordenado por Naomi Allen, demonstrou que mesmo o consumo moderado<br />

de álcool não evita que aumente o risco de cancro de mama, fígado e<br />

recto em mulheres (DA, 26/Fev/<strong>2009</strong>: 10).<br />

Realizado um estudo na Universidade de Glasgow, também se encontrou<br />

no vinho substâncias anti-oxidantes, capazes de prevenir infecções,<br />

que podem degenerar em septicemias (DA, 04/Ago/<strong>2009</strong>: 21).<br />

Da Universidade Médica da Carolina do Sul, chegaram-nos as conclusões<br />

do estudo coordenado por Dana King, com uma amostra de 7 697 indivíduos.<br />

Aqueles que começam a beber na meia-idade têm 38% menos probabilidade<br />

de ter graves problemas cardíacos. Mesmo as pessoas que bebiam<br />

todos os dias tinham menos probabilidade de morrer de doenças cardíacas do<br />

que aquelas que bebiam entre 1 e 36 vezes por ano (AJM, Março/2008).<br />

É frequente acreditar-se que o álcool é agradável, consumindo-se<br />

“por prazer do paladar ou por excitações e ilusões que ele dá (...)”<br />

(Harichaux & Humbert, 1978, 44). Os limites do consumo tolerado pelo<br />

organismo: “não deve ultrapassar a dose quotidiana de 1 ml de álcool<br />

absoluto por quilo de peso do seu corpo” (idem, 45), podendo o efeito do<br />

álcool ser multiplicado se consumido em simultâneo com tranquilizantes.<br />

Ultrapassar aquele limite poderá conduzir o consumidor a danos individuais<br />

e sociais. Os danos individuais situam-se ao nível de doenças, provocadas<br />

pela acção do álcool sobre o corpo, nomeadamente, sobre o aparelho<br />

digestivo, sobre o estômago, podendo acarretar gastrites agudas ou<br />

crónicas, sobre o fígado, como a cirrose. Faz com que o organismo tenha<br />

um menor grau de resistência a doenças como a tuberculose, a pneumonia<br />

e a alguns casos de cancro.<br />

A acção do álcool atinge também os órgãos dos sentidos e o sistema<br />

nervoso, provocando perturbações do sono, irritabilidade, esgotamento,<br />

confusão mental, delírio do ciúme e a demência alcoólica, embora, por<br />

exemplo, investigadores espanhóis tenham efectuado, em 2003, um estu-<br />

92


do (AE, 08/Nov/<strong>2004</strong>, 25) com 300 adultos com o objectivo de demonstrar<br />

que os consumidores regulares de vinho tinto apresentam 57% de probabilidade<br />

inferior de contraírem, por exemplo, o cancro na laringe.<br />

Jonathan Powell foi o responsável pelo estudo conjunto da<br />

Universidade King’s College e do Hospital St. Thomas, que envolveu 2<br />

700 indivíduos, tendo concluído que o consumo de dois a três copos de<br />

cerveja ajuda a prevenir a osteoporose. O consumo de cerveja através das<br />

moléculas de ácido sílico estimulam a produção de colagéneo, proteína<br />

fibrosa fundamental para a maturação da estrutura dos ossos (CM,<br />

25/Jul/2003, 15). Segundo, também, as conclusões de um outro estudo da<br />

Universidade de Estremadura, em Espanha, divulgado em Agosto de<br />

<strong>2009</strong>, o consumo moderado de cerveja melhora a densidade dos ossos, no<br />

entanto os investigadores alertaram para a dificuldade de se definir um<br />

limite de dose saudável, na medida em que foi igualmente apurado que o<br />

consumo superior a duas doses de álcool é prejudicial ao ossos (DA,<br />

18/Ago/<strong>2009</strong>: 17).<br />

No 25.º congresso anual da Sociedade Europeia de Cardiologia16,<br />

foi defendida por Christos Papamichael uma propriedade existente no<br />

vinho tinto, mas não no álcool, capaz de conter o efeito nocivo do tabaco<br />

ao nível da disfunção arterial. O método defendido, que não funciona<br />

no fumador crónico, consiste em beber dois copos de vinho tinto, sem<br />

álcool, depois de fumar um cigarro, anulando deste modo a disfunção<br />

arterial causada pelo tabaco. No entanto, entre as várias bebidas alcoólicas<br />

existentes, o vinho é considerado tão nocivo como qualquer outra<br />

bebida com igual teor alcoólico.<br />

Estamos longe de assumir os benefícios do álcool sem o aprofundamento<br />

de mais estudos científicos que os fundamentem sobretudo devido ao<br />

risco de dependência provocada por uma conjugação de factores que ultrapassam<br />

as vontades individuais, entre eles factores de ordem genética, sociais,<br />

culturais, ambientais e evidentemente também de personalidade.<br />

Ao nível da descendência, o alcoolismo é tido como um factor de<br />

redução da fecundidade, aumenta a probabilidade do aborto involuntário,<br />

de partos prematuros, correndo os filhos de alcoólicos o risco de sofrerem<br />

de patologias tanto ao nível físico como ao nível mental.<br />

16 Decorreu em Viena, 1.ª Semana de Setembro/2003.<br />

Dependências e outras violências…<br />

93


Alberto Peixoto<br />

Realizado na Dinamarca, um estudo (DM, Set/2003), dirigido por<br />

Mette Juhl, do Instituto Serológico do Estado, com uma amostra de 30<br />

mil mulheres, demonstra que as mulheres que não consomem qualquer<br />

tipo de álcool têm mais dificuldade em engravidar. Entre as que consomem<br />

bebidas alcoólicas, as consumidoras de vinho apresentam maior<br />

fecundidade do que as consumidoras de cerveja ou bebidas espirituosas.<br />

Reconhecendo que o vinho não possui qualquer substância benéfica à<br />

fecundidade, explicou que a maior fecundidade se poderá dever a uma<br />

relação com o estilo de vida e alimentação das mulheres que preferem o<br />

vinho à cerveja.<br />

Uma equipa de investigadores das universidades de Turim e Florença<br />

concluíram que as mulheres que bebiam um ou dois copos de vinho tinto<br />

por dia tinham melhores pontuações nas categorias de desejo sexual, função<br />

sexual geral e lubrificação. O estudo foi realizado, por inquérito, a<br />

uma amostra de 798 mulheres da Toscânia, dividida em três grupos de<br />

acordo com as frequências de consumo: as mulheres que bebem um copo<br />

de vinho por dia; as mulheres abstémias; e as mulheres que consomem<br />

vinho ocasionalmente. Os cientistas do estudo atribuem aos polifenóis<br />

(substância existente no vinho) a causa da referida reacção.17<br />

Subhash Pandey, investigadora da Universidade de Illinois (CM,<br />

17/Jul/<strong>2004</strong>, 13), através do seu estudo, procurou definir qual a influência<br />

da família no alcoolismo. Conseguiu estabelecer uma relação entre os<br />

níveis elevados de ansiedade e o alcoolismo, ao verificar que são regulados<br />

pelo mesmo gene, o CREB, por entre 30 a 70% dos alcoólicos sofrerem<br />

também de ansiedade ou depressão.<br />

Um estudo da Universidade de Otago, Nova Zelândia, publicado a 2<br />

de Março de <strong>2009</strong>, na revista Archives of General Psychiatry, concluiu que<br />

o consumo abusivo de álcool aumenta o risco de o consumidor cair em<br />

depressão profunda (DA, 04/Mar/<strong>2009</strong>: 21).<br />

Investigadores do Seattle Children’s Research Institute, dos Estados<br />

Unidos da América, iniciaram um estudo em 1985 com jovens, de ambos<br />

os sexos, de 24, 27 e 30 anos e concluíram que existe uma relação entre o<br />

abuso de álcool, a obesidade e a depressão (DA, 01/Out/<strong>2009</strong>: 21).<br />

17 Disponível em http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1438242&seccao=Sa%FAde<br />

a 04/Dez/<strong>2009</strong>.<br />

94


Dependências e outras violências…<br />

O consumo de álcool antes de dormir é também apontado como um<br />

comportamento potenciador das consequências negativas para a saúde por<br />

dificultar o sono além de fazer acordar o consumidor, várias vezes, durante<br />

a noite. Enquanto, numa população comum, 10 a 15% dos indivíduos<br />

apresentava dificuldades em dormir, entre os consumidores, tal problema<br />

afectava 50% dos indivíduos, conforme demonstraram investigadores da<br />

Universidade de Calgary (ACER, Ago/2003).<br />

Cientistas da Universidade da Califórnia concluíram, ao fim de vários<br />

anos de estudo, que as mulheres consumidoras de bebidas alcoólicas,<br />

ainda que só duas vezes por dia, correm o dobro do risco de contraírem o<br />

cancro da mama. Se consumirem três vezes por dia, o risco quadruplica<br />

(BCR, Mai/2003).<br />

O consumo moderado ou excessivo de álcool é uma qualificação relativa<br />

em função de um conjunto de factores passíveis de influir na referida qualificação;<br />

no entanto estudos científicos efectuados definem consumo moderado<br />

o consumo continuado, nos homens, sem ultrapassar os 20-24 gramas de<br />

álcool por dia, e os 10-12 gramas por dia nas mulheres. Tais quantias correspondem<br />

a “duas latas de cerveja ou dois copos de vinho para os homens e<br />

uma lata ou um copo de vinho para as mulheres, por dia” (FS, Ago/<strong>2004</strong>, 24).<br />

Financiado pelo National Institute of Health, um estudo revela que o<br />

sexo feminino, na realidade, é mais propenso aos sintomas das ressacas,<br />

provocadas pelo consumo excessivo de álcool, sendo adiantada como<br />

hipótese explicativa o facto de as mulheres terem menor percentagem de<br />

água no organismo do que os homens, facilitando a intoxicação alcoólica<br />

(CA, 23/Set/2003, 12). O estudo referido fundamenta o quadro da relação<br />

estimada entre consumo de bebidas alcoólicas, sexo, peso e taxa de alcoolemia,<br />

utilizado pela Polícia de Segurança Pública para, a título demonstrativo,<br />

elucidar os condutores sobre as consequências do consumo de<br />

bebidas alcoólicas nos níveis de álcool no sangue, sendo de ressalvar que<br />

a absorção no sangue de álcool é mais facilmente concretizável, por exemplo,<br />

numa pessoa que não se tenha alimentado convenientemente.<br />

A relação estimada apresentada no quadro requer no entanto algumas<br />

ressalvas desde logo devido ao facto de as taxas apresentarem variações<br />

significativas, se os consumidores de álcool tiverem ou não ingerido alimentos,<br />

não deixando de ser demonstrativo um nexo de causalidade entre<br />

as variáveis em foco.<br />

95


Alberto Peixoto<br />

HOMEM 55 KG 60 KG 65 KG 75 KG 79 KG 80 KG 85 KG 90 KG<br />

1 /2 Litro cerveja 0,51 0,47 0,43 0,40 0,38 0,35 0,33 0,31<br />

1 /2 Litro vinho 11º 0,76 0,69 0,64 0,59 0,55 0,52 0,49 0,49<br />

1<br />

/2 Litro vinho 11º<br />

+ 1 Whisky<br />

+ 1 Cognac<br />

1,14 1,05 0,97 0,88 0,84 0,78 0,74 0,70<br />

MULHER 45 KG 50 KG 55 KG 60 KG 65 KG 70 KG 75 KG 80 KG<br />

1<br />

/2 Litro cerveja 0,74 0,66 0,60 0,55 0,51 0,47 0,44 0,41<br />

1 /2 Litro vinho 11º 1,08 0,97 0,88 0,81 0,75 0,60 0,65 0,61<br />

1<br />

/2 Litro vinho 11º<br />

+ 1 Whisky<br />

+ 1 Cognac<br />

1,63 1,47 1,34 1,22 1,13 1,05 0,98 0,92<br />

Quadro n.º 28 Relação estimada entre consumo de bebidas alcoólicas, sexo, peso e taxa de alcoolemia.<br />

(Fonte: PSP)<br />

É consensual que o álcool ou etanol provoca desinibição, euforia e<br />

tem efeitos sedativos, mas produz também a descoordenação motora e<br />

alterações do sistema nervoso, convulsões, tremores, cancro no fígado e<br />

cirroses, apesar da postura dos especialistas reticentes, invocando que os<br />

consumos moderados até apresentam propriedades benéficas. Estão também<br />

comprovadas as complicações provocadas pelo consumo de álcool no<br />

coração, podendo levar dias a desaparecer os seus efeitos mesmo em<br />

pequenas quantidades.<br />

A União Europeia tem assumido uma posição de combate ao consumo<br />

de álcool difundindo que tal substância conduz à dependência e provoca<br />

doenças mortais. Em Portugal, o consumo excessivo de álcool é apontado<br />

como a quarta causa de morte em consequência do desenvolvimento<br />

de doenças como cirroses, cancros diversos, problemas sexuais, além de<br />

não raras vezes fazer parte do perfil de indivíduos com elevada prevalência<br />

para o suicídio.<br />

A Irlanda, em 2003, fruto de um aumento de 50% do consumo de<br />

álcool, num período compreendido entre 1989 e 2001, abraçou uma campanha<br />

feroz contra o consumo de álcool, proibindo as happy hours que ora<br />

oferecem ora vendem bebidas alcoólicas a preços mais baixos em bares e<br />

discotecas, além de reforçarem a proibição da venda de bebidas a indiví-<br />

96


Dependências e outras violências…<br />

duos embriagados ou a menores de 18 anos, punindo com o encerramento<br />

temporário os bares que desrespeitem as normas.<br />

Os danos sociais do alcoolismo registam-se ao nível do trabalho<br />

(afectando a sua qualificação e a sua longevidade), da circulação rodoviária<br />

e dos tempos livres. É de salientar também a sinistralidade no trabalho<br />

cuja frequência é mais acentuada às Segundas-feiras, fruto de uma maior<br />

prevalência de consumo aos Domingos. Quanto à ocupação de tempos<br />

livres, o consumo de álcool pode ser apontado como um elemento potenciador<br />

da participação em actividades não saudáveis para o organismo, se<br />

tivermos em conta que, por exemplo, diminui a apetência para a prática de<br />

desporto. Convém relembrar, a título demonstrativo, que a Irlanda aponta<br />

o consumo excessivo de álcool como responsável por 30% da sinistralidade<br />

rodoviária e por 40% dos acidentes mortais em geral (CA,<br />

22/Ago/2003: 22). O alcoolismo, em França, é responsável por “um terço<br />

de acidentes na estrada” (Harichaux & Humbert, 1978: 13), sensivelmente<br />

o mesmo peso que apresenta na sinistralidade rodoviária em Portugal.<br />

Estima-se que, em Portugal, 1,8 milhões de pessoas abusem do consumo<br />

de álcool enquanto 800 000 pessoas serão dependentes (JP,<br />

26/Out/2003: 26). No entanto cremos que os números carecem de outra<br />

fundamentação, sendo essencial um maior rigor conceptual na definição<br />

do que é afinal um dependente de álcool.<br />

Portugal é um grande produtor de vinhos, e, em <strong>2004</strong> as exportações<br />

ultrapassaram os 8,9 milhões de euros (DA, 27/Fev/2005: 8). O Estado<br />

português já em 1997 tinha arrecadado em receitas fiscais com bebidas<br />

alcoólicas 860 milhões de contos (ALF, Nov/1999).<br />

No aspecto económico, no seio da família, “ (...) certos alcoólicos<br />

gastam na bebida 40 % do seu salário” (Harichaux & Humbert, 1978: 79)<br />

e, em França, o consumo de álcool “eleva-se anualmente a perto de nove<br />

milhões de hectolitros (...)” (idem, 107).<br />

O rácio médio anual dita que os portugueses consomem 10,8 litros de<br />

álcool puro correspondendo a 244 garrafas de litro de vinho (JP,<br />

26/Out/2003: 26); porém, mesmo assim, dois relatórios do Observatório<br />

Europeu das Drogas e da Toxicodependência, debruçando-se sobre os<br />

jovens de 15 e 16 anos de idade, conclui que Portugal apresenta a mais<br />

baixa taxa de consumo excessivo de álcool apesar de um em cada três<br />

jovens ter admitido que já se embriagou (AO, 23/Out/2003: 14).<br />

97


Alberto Peixoto<br />

Dados referentes a 2005 apontavam no sentido de cada português com<br />

mais de 15 anos consumir por ano uma média de 115 litros de bebidas<br />

alcoólicas. A cerveja, com 517 milhões de litros destacou-se como sendo<br />

a bebida mais consumida seguindo-se o vinho em crescendo, com 481<br />

milhões de litros e por fim as bebidas destiladas, com 6,7 milhões de litros,<br />

situando-se Portugal em sétimo lugar na lista de países consumidores de<br />

álcool, elaborada pela World Drink Trend (DN, 09/Abr/2006: 18).<br />

Partindo do rácio anteriormente apresentado, se tivermos presente<br />

que todos os vinhos e bebidas espirituosas têm de possuir selos com um<br />

custo unitário, por garrafa, de 0,016€, o Estado arrecada receitas muito<br />

significativas, sem termos em conta outras como as obtidas através do<br />

IVA, aposto sobre o valor da venda, IRS, tributado aos trabalhadores do<br />

sector, ou IRC, cobrado às empresas sobre os lucros obtidos com a venda<br />

de bebidas alcoólicas.<br />

Nos Açores, em 2002, segundo dados fornecidos por Daniel Mestre,<br />

na qualidade de Director da Direcção de Serviços do Comércio - Açores,<br />

foram arrecadados, no total, 29 434,04€ com a venda de selos para bebidas<br />

regionais e importadas.<br />

No ano 2000, foram produzidos na região 168 131 litros de licor, avaliados<br />

em cerca de um milhão e quinhentos mil euros. Do total da produção,<br />

75% foi consumida nos Açores, tendo os restantes 25% sido exportados<br />

sobretudo para os Estados Unidos da América e Canadá.<br />

Dada a grande quantidade de estabelecimentos que comercializam bebidas<br />

alcoólicas, é difícil achar-se um número que espelhe o volume da comercialização<br />

e consumo de tais bebidas nos Açores. Utilizando como referência<br />

o volume de vendas dos dois hipermercados de Ponta Delgada, constatámos<br />

que no ano 2000 tinham sido comercializados pelo Hiper Solmar,<br />

2 244 967,86€, em 2001, 2 235 879,89€ e, em 2002, 2 579 203,97€.<br />

O Hiper Modelo tinha comercializado, em 2000, 2 676 276,00€, em 2001,<br />

3 326 593,00€, e, 2 973 640,00€, em 2002.<br />

O crescimento significativo das vendas do Hiper Modelo, em 2001,<br />

ficou a dever-se às campanhas promocionais desenvolvidas para a venda<br />

de cerveja, demonstrando como é fácil levar a população em geral a consumir<br />

mais bebidas alcoólicas. A mesma empresa, em 2002, comercializou<br />

na Horta 153 063,00€, na Praia da Vitória, 782 263,63€ e, em Angra do<br />

Heroísmo, 1 657 025,00€.<br />

98


Dependências e outras violências…<br />

Inegavelmente a comercialização das bebidas alcoólicas é também um<br />

bom negócio para as finanças dos Estados, embora todos os lucros se diluam<br />

nas despesas de saúde resultantes das doenças provocadas pelo consumo<br />

excessivo de álcool, estimando-se que, em Portugal, em termos de tratamento<br />

médico, cada alcoólico custe ao Estado, por ano, cerca de 169 000,00€.<br />

Na Noruega, os gastos do Estado com este problema atingem os 2,21 mil<br />

milhões de euros/ano. Preocupados com esta problemática, os cinco Países<br />

Nórdicos, Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia e Islândia, acordaram<br />

pressionar a União Europeia para que fossem aumentados os impostos sobre<br />

o álcool para valores próximos dos praticados naqueles países, contribuindo,<br />

assim, para uma redução do consumo de álcool e das cotas de importação<br />

para a União Europeia (DA, 03/Nov/<strong>2004</strong>: 9).<br />

Não deixa de ser curioso que em relação aos licores e aguardentes<br />

produzidos nos Açores, em <strong>2009</strong>, o Parlamento Europeu tenha aprovado<br />

uma proposta, que mantém, até 2011, uma redução da taxa de imposto até<br />

75% do valor cobrado a nível nacional, situação que vigora desde 2002<br />

como forma de protecção de um sector que na região assegura 90 postos<br />

de trabalho (DA, 21/Out/<strong>2009</strong>: 6).<br />

Os Açores são produtores de vinhos e licores, existindo 14 marcas oficialmente<br />

reconhecidas: oito marcas de vinhos brancos, quatro marcas de<br />

tintos e três marcas licorosas. Na safra de 2003, foram produzidos 1,7<br />

milhões de litros de vinho de cheiro nas Ilhas de Santa Maria, São Miguel,<br />

Terceira, Pico e Graciosa enquanto, de licores, foram produzidos 150 400<br />

litros, dos quais 137 600 só no Pico.<br />

Na ilha Terceira, conscientes deste problema, os técnicos da Casa de<br />

São Rafael optaram por desenvolver um projecto tendo em vista a sensibilização<br />

para o tratamento da dependência do álcool. Todavia a decisão partiu<br />

de uma intuição sem qualquer estudo regional que a fundamentasse,<br />

conforme fez questão de recordar Fernando Rosas, responsável pelo projecto<br />

(CA, 24/Set/2003: 3), visando a identificação de dependentes de<br />

álcool e consequente motivação para a sujeição ao tratamento.<br />

Segundo dados dos últimos anos do Hospital de Santo Espírito, em<br />

Angra do Heroísmo, têm sido internadas, em média, 380 pessoas por ano,<br />

200 homens e 180 mulheres, devido a problemas resultantes do consumo<br />

excessivo de álcool, existindo ainda mais 250 toxicodependentes a fazerem<br />

tratamento com metadona e brufernofina.<br />

99


Alberto Peixoto<br />

Em São Miguel, além da Casa de Saúde, situada na Fajã de Baixo, que<br />

intervém no tratamento e prevenção da Toxicodependência em geral, o<br />

Centro de Alcoólicos Recuperados dos Açores, desde 1984, procura também<br />

intervir em termos preventivos e da motivação para o tratamento da<br />

dependência do álcool, mas, como admitiu então Luís Gonzaga, na qualidade<br />

de Presidente do referido Centro, há muito a fazer e não é de esconder<br />

a falta de entendimento entre as entidades com capacidade para combaterem<br />

o alcoolismo (AE, 01/Dez/2003: 18-19).<br />

Na Casa de Saúde de São Miguel, entre 1991 e 2000, passaram por ali<br />

1 018 homens e 30 mulheres, além de mais 945 reincidentes (AO, 15/Jun/2003:<br />

2-3). Em 2002, foram tratadas 181 pessoas dependentes de álcool, com uma<br />

média de idades de 42 anos, 166 homens e 15 mulheres. No primeiro semestre<br />

de 2003, foram internadas 225 pessoas, 203 homens e 22 mulheres.<br />

Também do Arquipélago da Madeira nos chegou a preocupação da<br />

Casa de Saúde de São João de Deus com o problema do álcool, multiplicando-se<br />

as acções de sensibilização naquela região, que contará com 35 000<br />

dependentes, quando há 10 anos atrás eram 26 000, números estes estimados<br />

pela Associação de Alcoologia «Mão Amiga» e pela referida Casa de<br />

Saúde (DNM, 21/Set/2003: 4). Ali o consumo de álcool é apresentado,<br />

sobretudo, como uma questão cultural que tolera o álcool devido ao isolamento,<br />

servindo de ocupação do tempo de lazer. A embriaguez pode mesmo<br />

ser um motivo de vaidade que começa aos 11 anos de idade, conforme afirmou<br />

Aires Gameiro, na qualidade de director da Casa de Saúde (idem 4).<br />

A nível nacional, nos centros de tratamento de toxicodependentes em<br />

geral, existem 1 200 camas disponíveis, das quais 700 estão vagas, havendo<br />

em média apenas 500 regularmente utilizadas estando 60% a 70% ocupadas<br />

por dependentes de álcool. Tal dado é revelador de uma falha significativa<br />

ao nível da motivação dos dependentes para o tratamento, constituindo-se<br />

como o principal problema nesta matéria.<br />

Entre 15 mil pessoas, com idades compreendidas entre os 15 e os 65<br />

anos de idade, inquiridas pela Universidade Nova de Lisboa, em 2001, chegou-se<br />

à conclusão de que 75,6% da população portuguesa consumia álcool<br />

com regularidade. Nos Açores, em <strong>2004</strong>, através da população inquirida,<br />

concluiu-se que 54,5% dos açorianos admitia consumir regularmente bebidas<br />

alcoólicas contra 45,5%, que negou fazê-lo. Em <strong>2009</strong>, registou-se uma<br />

ligeira subida de 1,2%, constituindo os consumidores regulares de bebidas<br />

100


alcoólicas 55,7% do total da população açoriana. Os Açores continuam a<br />

apresentar taxas de prevalência de consumo inferiores à média nacional.<br />

Se considerarmos que a população, em <strong>2004</strong>, era de 241 763 habitantes<br />

e, em <strong>2009</strong>, segundo a mais recente estimativa para a população residente,<br />

244 780 habitantes, então assistimos a um crescimento da população de 1,2%,<br />

ou seja, precisamente o mesmo valor do aumento no consumo de bebidas<br />

alcoólicas. Nesse caso, não se pode falar em aumento do consumo de bebidas<br />

alcoólicas, mas sim numa estabilização durante o período em estudo.<br />

COSTUMA CONSUMIR BEBIDAS ALCOÓLICAS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Sim 54,5 55,7<br />

Não 45,5 43,3<br />

Quadro n. º 29 Consumo regular de álcool nos Açores.<br />

Dependências e outras violências…<br />

Através da nossa estimativa em termos absolutos, nos Açores, existiam,<br />

em <strong>2004</strong>, 131 760 e, em <strong>2009</strong>, 136 342 indivíduos consumidores<br />

regulares de álcool. Mais 4 582 que em <strong>2004</strong>, perfazendo em média, mais<br />

916 novos consumidores por ano. 18<br />

Diversos especialistas, entre eles Domingos Neto, consideram que<br />

não se deve falar em alcoolismo como o problema mais grave, mas sim em<br />

abuso de álcool em geral por melhor cobrir tal problemática, entrando<br />

neste conceito todos os consumidores diários, semanais e ocasionais que<br />

consomem em excesso.<br />

Na realidade os dependentes de álcool, que consomem diariamente, e<br />

mesmo aqueles que, não sendo dependentes, consomem todos os dias, são<br />

uma pequena parte em relação aos demais com consumos semanais e/ou ocasionais.<br />

Os dados referentes aos Açores em ambas as análises são bem esclarecedores<br />

da referida tese na medida em que os consumidores semanais e ocasionais<br />

eram 83,1%, em <strong>2004</strong>, e 86,9%, em <strong>2009</strong>, enquanto os consumidores<br />

diários de bebidas alcoólicas eram 16,9%, em <strong>2004</strong>, e 13,1%, em <strong>2009</strong>.<br />

18 Continua a ser extremamente difícil saber-se quantos são os alcoólicos, porque o conceito<br />

de dependente de álcool é complexo até porque além dos considerados dependentes<br />

existem os condutores problemáticos que ocasionalmente abusam do álcool, nomeadamente<br />

aos fins-de-semana, desencadeando, por exemplo, problemas gravíssimos ao<br />

nível da sinistralidade.<br />

101


Alberto Peixoto<br />

Se atendermos ao fenómeno da dependência e à sua gravidade, é possível<br />

identificarmos diferentes níveis, formando uma pirâmide com três partes:<br />

ocupa a base o consumo ocasional, sem existir uma dependência, intoxicações<br />

ocasionais de consequências multifacetadas; num segundo nível,<br />

ou nível intermédio, surgem os consumidores regulares já numa situação de<br />

dependência, na maior parte dos casos, inconsciente, embora consigam<br />

desenvolver as suas relações interpessoais ao nível familiar, profissional e<br />

social de forma aceitável. Não conseguem deixar de consumir bebidas alcoólicas<br />

com regularidade; no topo da pirâmide, situam-se os dependentes<br />

com situações graves de consumo com afectação global da vivência.<br />

Ao precisar a regularidade e gravidade do consumo de bebidas alcoólicas,<br />

no universo de consumidores, constatamos que, em <strong>2004</strong>, 16,9%<br />

consumia todos os dias, correspondendo a 21 950 açorianos. O consumo<br />

semanal era praticado por 14,3% dos consumidores, ou seja, 18 260 açorianos,<br />

e o consumo ocasional era efectuado por 68,8% dos indivíduos,<br />

equivalendo a um grupo de 89 238 açorianos.<br />

REGULARIDADE DO <strong>2004</strong> (%) N.ºs ABSOLUTOS, <strong>2009</strong> (%) N.ºs ABSOLUTOS,<br />

CONSUMO DE ÁLCOOL AÇORES <strong>2004</strong> AÇORES <strong>2009</strong><br />

Diária 16,9 21 950 13,1 17 860<br />

Semanal 14,3 18 260 13,4 18 269<br />

Ocasional 68,8 89 238 73,5 100 211<br />

Quadro n.º 30 Regularidade do consumo de álcool a nível Açores.<br />

Em <strong>2009</strong>, registou-se uma diminuição de 3,8% no consumo diário de<br />

álcool, sendo em nosso entender o dado apurado mais positivo em relação<br />

aos hábitos de consumo de álcool. Em termos absolutos não se registou<br />

qualquer alteração no número de consumidores semanais (18 260, em<br />

<strong>2004</strong>, e, 18 269, em <strong>2009</strong>). O aumento mais significativo foi ao nível do<br />

consumo ocasional tendo-se passado de 89 238 para 100 211, o que, à luz<br />

de algumas das teses aludidas no presente estudo, se for feito com moderação,<br />

até pode ser considerado benéfico para a saúde.<br />

Por sexos, são os homens os principais consumidores, ao terem<br />

apresentado, em <strong>2004</strong>, um agrupamento de 70% dos inquiridos, enquanto<br />

30% eram mulheres, ou seja, nos Açores, tínhamos 92 232 homens e<br />

102


39 528 mulheres. Em <strong>2009</strong>, de um universo de 136 342 consumidores<br />

regulares de álcool, 79 896 (58,6%) eram homens e 56 446 (41,4%)<br />

mulheres, continuando os homens a estar em maioria, apesar de as<br />

mulheres com um aumento de 11,4% em relação a <strong>2004</strong>, estarem a caminhar<br />

para a paridade também nesta matéria.<br />

SEXO CONSUMO REGULAR CONSUMO REGULAR<br />

DE ÁLCOOL <strong>2004</strong> (%) DE ÁLCOOL <strong>2009</strong> (%)<br />

Masculino 70,0 58,6<br />

Feminino 30,0 41,4<br />

Quadro n.º 31 Consumo regular de álcool por sexos.<br />

Dependências e outras violências…<br />

O consumo de álcool entre as mulheres tem aumentado ao longo dos<br />

últimos anos, o que não poderá ser dissociado de uma maior participação<br />

activa feminina a nível social. Prevê-se mesmo que seja um fenómeno em<br />

crescimento, conforme demonstrou Rui Correia da Associação Alcoólicos<br />

Anónimos, composta por 83 grupos, da qual era presidente (CM,<br />

06/Nov/<strong>2004</strong>: 17). Nos últimos dez anos, duplicou o número de mulheres<br />

participantes nas reuniões, tendo as mulheres, em <strong>2004</strong>, agrupado 30% dos<br />

utentes, o que corresponde à dimensão da prevalência feminina do consumo<br />

de bebidas alcoólicas, nos Açores, embora, em 2007, aquele agrupamento<br />

tenha diminuído para 25% (DA, 19/Mar/2008: 24).<br />

Todos os dados disponíveis indicam que está a aumentar o número de<br />

mulheres consumidoras apesar de estas demonstrarem que têm maior dificuldade<br />

em abandonar o consumo que os homens.<br />

Em <strong>2009</strong>, Paula Sucena, em representação dos Alcoólicos Anónimos,<br />

anunciou que o número de alcoólicos em Portugal está a diminuir, embora<br />

se denotem novas formas de consumo e um aumento de pessoas dependentes<br />

a tentarem o abandono da dependência (DA, 04/Nov/<strong>2009</strong>: 17).<br />

Os homens, além de no geral apresentarem uma prevalência de consumo<br />

de álcool muito superior às mulheres, também apresentam maior regularidade<br />

de consumo. Em <strong>2004</strong>, no total dos indivíduos que consumiam<br />

bebidas alcoólicas todos os dias, 89% eram homens e apenas 11% das<br />

mulheres se encontravam no mesmo patamar de consumo. No consumo<br />

regular semanal, 76% dos consumidores eram homens contra os 23,9% de<br />

consumidores femininos. Relativamente ao consumo ocasional, a preva-<br />

103


Alberto Peixoto<br />

lência feminina aproximava-se da masculina por, do total de consumidores<br />

ocasionais, 55,5% serem homens contra 44,5% de mulheres.<br />

Em <strong>2009</strong>, assistiu-se a um ligeiro agravamento da intensidade de consumo<br />

diário e semanal entre os homens, enquanto o agravamento do<br />

número de mulheres consumidoras se situa a nível ocasional. Foi ao nível<br />

do consumo diário feminino que se registou a diminuição de consumo<br />

mais significativo.<br />

REGULARIDADE DO Masculino Feminino Masculino Feminino<br />

CONSUMO DE ÁLCOOL <strong>2004</strong> (%) <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Diária 89,0 11,0 90,9 9,1<br />

Semanal 76,1 23,9 77,9 22,1<br />

Ocasional 55,5 44,5 49,5 50,5<br />

Quadro n.º 32 Regularidade do consumo de álcool a nível Açores.<br />

É notório que, em ambos os momentos de análise da sociedade açoriana,<br />

com o aumento da regularidade de consumo, diminui o número de<br />

mulheres em relação aos homens, ficando clara a ideia de que as mulheres,<br />

no geral, bebem menos e as que o fazem, por norma, fazem-no com<br />

menos regularidade do que os homens, são, portanto, muito mais moderadas<br />

no consumo.<br />

O alcoolismo feminino, no mundo ocidental, está em progressão,<br />

fruto em parte da crescente profissionalização do sector e respectiva intensificação<br />

das relações sociais, resultante da participação em almoços, jantares<br />

e convívios, facilitando o alcoolismo “mundano” (Harichaux &<br />

Humbert, 1978: 87), caracterizado como sendo o consumo de álcool<br />

segundo os critérios de elegância e de bom gosto.<br />

Sem se conseguir quantificar a taxa de crescimento do consumo feminino<br />

de álcool nos Açores, até <strong>2004</strong>, sabemos que até <strong>2009</strong> cresceu 11,4%<br />

sendo sem margem para dúvida a substância que apresenta a mais elevada<br />

taxa de crescimento entre as mulheres.<br />

O consumo de álcool é cada vez mais atractivo, sobretudo para os<br />

jovens, resultando tal conjuntura de todo um conjunto de propriedades<br />

atribuídas ao álcool, predominantemente míticas, que têm subsistido<br />

no tempo, apesar das campanhas de informação. Tem sido demonstra-<br />

104


Dependências e outras violências…<br />

do que o álcool não dá alegria, não diverte, não aumenta a potência<br />

sexual, não produz calor, não mata a sede, não abre o apetite, não<br />

ajuda a digestão, não dá força, não alimenta e não tem qualidades<br />

medicinais.<br />

Uma investigação realizada por cientistas da Universidade de Bristol,<br />

na Grã-Bretanha, demonstrou que o consumo de álcool afecta a percepção<br />

de beleza. Uma pessoa de 70kg, depois de consumir 250ml de vinho,<br />

começa a achar os demais que a rodeiam mais bonitos. Uma outra abordagem,<br />

realizada na Universidade de Yale, na mesma linha, também<br />

demonstrou que as pessoas, após consumirem bebidas alcoólicas, tendem<br />

a assumir comportamentos sexuais mais arriscados. Tornam-se mais<br />

sedutoras e ao mesmo tempo deixam-se seduzir mais facilmente (DA,<br />

23/Ago/2008: 23). Tais conclusões podem ajudar a explicar a representação<br />

social de que o álcool é um facilitador da iniciação de relações interpessoais<br />

e que chega mesmo a afectar as representações construídas sobre<br />

os outros que as rodeiam.<br />

Um outro estudo sobre as motivações do consumo de álcool, realizado<br />

em Março de <strong>2009</strong>, a pedido da Associação Nacional de Empresas de<br />

Bebidas Espirituosas, revelou que 89,9% dos consumidores de álcool<br />

faziam-no por apreciarem beber e 25,9% disseram que bebiam por uma<br />

questão de socialização. Sete em cada dez portugueses, que saíam à noite,<br />

consumiam álcool, enquanto 13,3% consumiam poucas vezes e 12, 2%<br />

raramente (DA, 25/Abr/<strong>2009</strong>: 11).<br />

Partindo das motivações de consumo de álcool, identificadas num<br />

estudo, em Inglaterra, foi efectuada uma tipologia de consumidores e lançada<br />

uma campanha direccionada para cada uma. Foram, assim, identificados<br />

os consumidores deprimidos; os stressados; os sociais; os conformistas;<br />

os comunitários; os entediados; os machões; os hedonistas; os<br />

quase dependentes (DA, 20/Set/2008: 14).<br />

Quando procurámos saber a motivação dos consumidores de álcool<br />

nos Açores, verificámos que as representações e os mitos continuam bem<br />

presentes. Em <strong>2004</strong>, 45,5% dos consumidores de álcool diziam fazê-lo<br />

para sentir prazer enquanto, em <strong>2009</strong>, o consumo por prazer chegou a<br />

49,3%, registando-se um aumento na busca de prazer.<br />

105


Alberto Peixoto<br />

MITOS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Não sentir frio 1,2 0,5<br />

Refrescar-se 19,5 15,2<br />

Sentir-se desinibido 10,0 8,8<br />

Sentir-se calmo 1,2 1,1<br />

Ter coragem 1,0 0,6<br />

Ter mais força/potência 2,0 0,1<br />

Esquecer 2,3 0,9<br />

Sentir prazer 45,5 49,3<br />

Outro 17,3 23,5<br />

Quadro n.º 33 Principais mitos que justificam o consumo de<br />

álcool nos Açores.<br />

Em <strong>2004</strong>, refrescar-se, ao consumir álcool, era o objectivo de 19,5%<br />

dos consumidores, enquanto 17,5% optava por outro motivo não especificado<br />

para o consumo. A procura de desinibição era invocada por 10% dos consumidores<br />

e 2% invocava a procura do aumento da força/potência ou o querer<br />

esquecer algo. O não sentir frio, sentir-se calmo ou a procura de coragem,<br />

reunia cada um destes mitos 1,2% dos consumidores.<br />

Em <strong>2009</strong>, apesar de algumas alterações, mantiveram-se as tendências<br />

das motivações de consumo, sendo que 15,2% consumiam para se refrescar,<br />

8,8%, para se sentirem desinibidos, 1,1%, para se sentirem calmos, 0,9%,<br />

para esquecer, 0,6%, para ter coragem, 0,5%, para não sentir frio, 0,1%,<br />

para ter força/potência, e 23,5%, por motivo diverso. Em relação ao motivo<br />

diverso, apurou-se que, em primeiro lugar, surgia o beber social, o beber<br />

associado à alimentação e o beber no âmbito da diversão. Em síntese, há<br />

uma tendência crescente para o consumo associado ao prazer e diversão.<br />

O consumo de álcool e o alcance de prazer/gosto tem motivado a imaginação<br />

para esconder a detecção de tal comportamento sem que tenha de<br />

se abster, sendo tal intento conseguido através da administração de um<br />

produto farmacêutico denominado de Moderarão, um composto de hidratos<br />

de carbono que se dissolve na água e é consumido entre 15 a 30 minutos<br />

antes da ingestão de álcool. O produto foi comercializado em Espanha<br />

apenas durante uma semana, tendo sido ordenada a sua retirada do mercado<br />

pelo Ministro da Saúde espanhol por incentivar o consumo de álcool.<br />

106


Dependências e outras violências…<br />

Também foi veiculado que estaria à venda em Portugal, mas, apesar das<br />

diligências efectuadas pelas autoridades portuguesas, não foi detectado<br />

nenhum caso (CA, 27/Ago/2003: 18).<br />

Talvez a crença mítica em algumas propriedades do álcool seja motivo<br />

para que alguns condutores e consumidores tenham procedimentos<br />

igualmente míticos, como comer cebola crua, após o consumo de álcool,<br />

ingerir quantidades excessivas de água para iludir a detecção por parte das<br />

autoridades policiais em vez de se absterem de consumir.<br />

Conforme representado no quadro da prevalência de consumo de álcool,<br />

há variações bastante significativas de ilha para ilha, tendo surgido, em<br />

<strong>2004</strong>, a ilha de São Jorge com a mais elevada taxa de consumo regular.<br />

Porém, em <strong>2009</strong>, cedeu o lugar a Santa Maria (64%), tendo São Jorge revelado<br />

a mais acentuada quebra ao passar de 70% para 51% da população com<br />

consumo regular de bebidas alcoólicas. 19 No panorama açoriano, em segundo<br />

lugar, surgiu a ilha do Pico, com 62% da população, em <strong>2004</strong>, e 57%, em<br />

<strong>2009</strong>, representando uma quebra de cinco pontos percentuais.<br />

ILHA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%) Variação (%)<br />

Corvo 22,0 56,0 +34,0<br />

Faial 57,0 49,0 -13,0<br />

Flores 27,0 53,0 +21,0<br />

Graciosa 56,0 50,0 -6,0<br />

Pico 62,0 57,0 -5,0<br />

São Jorge 70,0 51,0 -19,0<br />

São Miguel 55,0 57,0 +2,0<br />

Santa Maria 47,0 64,0 +17,0<br />

Terceira 48,0 45,0 -3,0<br />

MÉDIA AÇORES 54,5 55,7 + 1,2<br />

,Quadro n.º 34 Percentagem da população consumidora de álcool<br />

por ilha.<br />

19 Dizem-nos os muitos estudos sobre comportamentos sociais e humanos que estes tendem<br />

para não sofrer alterações acentuadas ao longo do tempo, na medida em que os seres<br />

humanos são, por natureza, congruentes e tendem a manter os seus hábitos e tendências.<br />

Por seu turno, tal como Hegel, acreditamos que não é possível modificar comportamentos<br />

sociais sem ser através da força e/ou do constrangimento normativo. Entenda-se força não<br />

só em sentido físico, mas também a força das circunstâncias, como, por exemplo, uma<br />

doença, a falta de dinheiro, resultante do desemprego, entre outras. Tendo sido seguidos<br />

107


Alberto Peixoto<br />

Em São Miguel, aumentou a prevalência de consumo de bebidas<br />

alcoólicas em dois pontos percentuais enquanto, na Graciosa, diminuiu<br />

seis pontos, na ilha do Faial, diminuiu treze, no Pico, diminuiu cinco,<br />

e, na Terceira, diminuiu três. Corvo, Flores e Santa Maria apresentaram<br />

as mais elevadas taxas de crescimento.<br />

O baixo consumo de bebidas alcoólicas nas Flores e Corvo, em<br />

<strong>2004</strong>, reveste-se de uma particularidade que se perde no tempo, conforme<br />

foi retratado pelo antropólogo José Leite Vasconcellos. Ali não<br />

se produziam bebidas alcoólicas, por isso eram só consumidas pelas<br />

festas. A alternativa era o leite e o café, feito de forma “muito rudimentar:<br />

torram favas, envolvem-nas num pano, e depois batem neste<br />

com um martelo, uma pedra, ou um simples pau. Empregar para isto<br />

um moinho, seria luxo demasiado!” (Vasconcellos, 1926: 42). Os<br />

dados referentes a <strong>2009</strong>, podem indiciar que estamos perante profundas<br />

alterações nos comportamentos individuais bem como nos hábitos<br />

sociais e que certamente merecem ser alvo de outras investigações<br />

sociológicas.<br />

Panorama bastante diferenciado foi o recolhido através da avaliação<br />

da prevalência de consumo de bebidas alcoólicas concelho a concelho,<br />

tendo surgido, em <strong>2004</strong>, o concelho das Lajes do Pico com a<br />

taxa média mais elevada dos Açores, seguindo-se o concelho das Velas<br />

de São Jorge, com 76,2%, Calheta de São Jorge, com 66,7%, Ponta<br />

Delgada, com 61,9%, Povoação, com 59,7%, Horta, com 56,8%, Santa<br />

Cruz da Graciosa, com 56,4%, e o concelho de Lagoa, com 55%. Com<br />

uma taxa igual à taxa média açoriana surgiu o concelho de Ribeira<br />

Grande, com 54,5%, seguindo-se, abaixo da média, Madalena, com<br />

51,5%, Vila Franca do Campo, com 51%, Praia da Vitória, com 47,9%,<br />

Angra do Heroísmo, com 47,9%, Vila do Nordeste, com 44%, São<br />

Roque do Pico, com 31,7%, Lajes das Flores, com 27,7%, Santa Cruz<br />

das Flores, com 26,3% e por último surgiu o concelho do Corvo, com<br />

22%, apresentando a mais baixa taxa de consumo regular de bebidas<br />

alcoólicas.<br />

com rigor os procedimentos metodológicos, acreditamos que, apesar de algumas diferenças<br />

muito acentuadas entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>, elas espelham a realidade social, embora em<br />

alguns casos não tenham sido identificadas as causas das transformações, carecendo as<br />

possíveis respostas de aprofundamento ao nível de outras investigações científicas.<br />

108


CONCELHOS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Angra do Heroísmo 47,9 46,5<br />

Calheta de São Jorge 66,7 46,8<br />

Corvo 22,0 56,0<br />

Horta 56,8 49,0<br />

Lagoa 55,0 45,3<br />

Lajes das Flores 27,7 51,0<br />

Lajes do Pico 94,2 63,0<br />

Madalena 51,5 50,0<br />

Nordeste 44,0 40,2<br />

Ponta Delgada 61,9 56,9<br />

Povoação 59,7 70,8<br />

Praia da Vitória 47,9 47,8<br />

Ribeira Grande 54,5 70,1<br />

São Roque do Pico 31,7 47,9<br />

Santa Cruz da Graciosa 56,4 50,0<br />

Santa Cruz das Flores 26,3 55,3<br />

Velas de São Jorge 76,2 61,8<br />

Vila do Porto 47,0 64,0<br />

Vila Franca do Campo 51,0 50,7<br />

Quadro n.º 35 Consumo de álcool por concelhos.<br />

Dependências e outras violências…<br />

Em <strong>2009</strong>, dos 19 concelhos, em 12, nomeadamente, Santa Cruz da<br />

Graciosa, Lagoa, Horta, Angra do Heroísmo, Praia da Vitória, Calheta e<br />

Velas de São Jorge, Lajes do Pico, Madalena, Nordeste, Ponta Delgada e<br />

Vila Franca do Campo, registou-se decréscimo no consumo de bebidas<br />

alcoólicas, em particular na regularidade de consumo diário. Em sentido<br />

contrário, nos concelhos do Corvo, Lajes e Santa Cruz das Flores,<br />

Povoação, Ribeira Grande e São Roque do Pico a prevalência do consumo<br />

aumentou.<br />

Procurando-se dissecar um pouco mais a informação recolhida com<br />

os nossos estudos, verificaram-se outras diferenciações bastante significativas.<br />

Se as Flores e Corvo, em <strong>2004</strong>, apresentavam as mais baixas taxas<br />

de consumo regular de álcool, o mesmo já não se pode afirmar quanto à<br />

regularidade de consumo visto ter sido precisamente a ilha das Flores que,<br />

109


Alberto Peixoto<br />

com 39,5%, apresentava a mais elevada taxa de consumo diário de bebidas<br />

alcoólicas, seguindo-se a Graciosa, com uma taxa de 37,1%, e o Corvo<br />

apresentava a terceira mais elevada taxa diária de consumo, com 27% dos<br />

consumidores. O Faial apresentava uma taxa diária de consumo de 26,1%,<br />

seguindo-se São Jorge, que, apesar de ter uma taxa de consumo regular de<br />

70%, apenas 21,5% consumia bebidas alcoólicas todos os dias. São<br />

Miguel, com uma taxa de consumo regular de 55%, é a ilha em que os consumidores<br />

apresentam a mais baixa prevalência diária de consumo, com<br />

11,4%.<br />

REGULARIDADE DE Diário Diário Semanal Semanal Ocasional Ocasional<br />

CONSUMO DE <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

ÁLCOOL POR ILHA (%) (%) (%) (%) (%) (%)<br />

Corvo 27,0 15,4 18,2 26,9 54,8 57,7<br />

Faial 26,1 14,3 21,1 20,9 52,8 64,8<br />

Flores 39,5 15,4 6,5 17,9 54,0 66,7<br />

Graciosa 37,1 20,0 0,9 9,8 62,0 70,2<br />

Pico 13,4 22,6 6,8 9,0 79,8 68,4<br />

São Jorge 21,5 24,7 24,2 9,7 54,3 65,6<br />

São Miguel 11,4 10,9 18,2 11,2 70,4 77,9<br />

Santa Maria 18,2 6,7 10,1 29,2 71,7 64,1<br />

Terceira 18,9 15,2 6,7 12,6 74,4 72,2<br />

MÉDIA AÇORES 17,2 13,1 14,7 13,4 68,1 73,5<br />

Quadro n.º 36 Regularidade do consumo de álcool por ilhas.<br />

Em termos médios, entre consumidores, nos Açores, em <strong>2004</strong>, a regularidade<br />

de consumo diário era de 17,2%, enquanto o consumo semanal<br />

era de 14,7% e o consumo ocasional situava-se nos 68,1%. Em <strong>2009</strong>,<br />

diminuiu para 13,1% o consumo diário, bem como o consumo semanal,<br />

para 13,4%, tendo aumentado o consumo ocasional de 68,1 para 73,5%.<br />

Apenas no Pico e em São Jorge não se registaram diminuições na regularidade<br />

de consumo diário.<br />

A redução da regularidade de consumo de bebidas alcoólicas poderá<br />

estar associada sobretudo às questões económicas, materializadas num<br />

decréscimo do rendimento disponível das famílias.<br />

110


Dependências e outras violências…<br />

A cerveja, nos dois momentos, apresentou-se como a bebida alcoólica<br />

mais consumida pelos açorianos, obtendo a preferência de 43,5% dos<br />

consumidores, em <strong>2004</strong>, e 39,4%, em <strong>2009</strong>. O vinho recolheu a preferência<br />

de 25,6%, em <strong>2004</strong>, e 23,9% em <strong>2009</strong>. Em <strong>2004</strong>, em relação ao<br />

whisky, 3,6% disseram consumi-lo e 21,5% disseram preferir outras bebidas<br />

alcoólicas para além das especificadas.<br />

A especificação de bebidas destiladas junto do Whisky, no inquérito<br />

de <strong>2009</strong>, levou a uma inversão dos valores, permitindo concluir que tais<br />

bebidas depois da cerveja são as preferidas dos açorianos.<br />

Tal como tinha sido detectado no estudo realizado em 17 países europeus<br />

e divulgado em <strong>2009</strong> (DA, 8/Jan/<strong>2009</strong>: 12), é possível afirmar-se<br />

que são diferenciadas as preferências por cada uma das bebidas alcoólicas<br />

em função do género do consumidor. Os homens (55%) maioritariamente<br />

preferiam a cerveja seguindo-se o vinho (32%) enquanto entre as<br />

mulheres 49% preferiam o vinho em primeiro lugar e em segundo a cerveja<br />

(30%). Nos Açores detectámos que as preferências dos homens são<br />

diferentes em relação às mulheres. Em <strong>2009</strong>, 50,8% dos homens consumidores<br />

preferiam a cerveja, 24,8%, o vinho, 23,9%, o whisky e as bebidas<br />

destiladas, e 0,5%, outras. Entre as mulheres, 35,3% preferiam as<br />

bebidas destiladas, 32,9%, a cerveja, 28,3%, o vinho, e 3,5%, outras,<br />

nomeadamente os licores.<br />

TIPO DE BEBIDA ALCOÓLICA CONSUMIDA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Cerveja 43,5 39,4<br />

Outra 21,5 1,6*<br />

Vinho 25,6 23,9<br />

Whisky/ bebidas destiladas 3,6 27,3*<br />

POLICONSUMO 5,8 7,8<br />

Quadro n.º 37 Tipo de bebidas alcoólicas consumidas nos Açores.<br />

* No inquérito de <strong>2009</strong>, optou-se por acrescentar à opção de resposta<br />

Whisky, a opção, bebidas destiladas, o que terá sido responsável pela alteração<br />

tão acentuada nos valores.<br />

Ao nível do tipo de bebidas alcoólicas, é possível afirmar-se que os<br />

consumidores açorianos mantêm as suas preferências bem vincadas e por<br />

norma consomem apenas a bebida da sua preferência.<br />

111


Alberto Peixoto<br />

A situação de policonsumo refere-se aos consumidores que admitem<br />

consumir regularmente mais do que um tipo de bebida alcoólica, verificando-se<br />

ser este comportamento, em <strong>2004</strong>, frequente entre 5,8% dos consumidores,<br />

correspondendo a 7 642 açorianos e, em <strong>2009</strong>, entre 7,8%, correspondendo<br />

a 10 635 açorianos, o que se traduz num agravamento em<br />

dois pontos percentuais, ou seja, mais três mil pessoas.<br />

TIPO DE BEBIDA Cerveja Cerveja Vinho Vinho Whisky Whisky Outra Outra<br />

ALCOÓLICA <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

CONSUMIDA<br />

POR ILHA<br />

(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)<br />

Corvo 54,5 42,9 18,2 23,8 9,1 33,3 18,2 0,0<br />

Faial 34,5 37,1 20,6 28,4 0,6 34,5 44,4 0,0<br />

Flores 21,9 38,9 34,2 31,7 0,0 43,9 29,4 0,0<br />

Graciosa 69,5 31,2 16,5 40,0 6,0 26,6 8,0 2,2<br />

Pico 40,0 44,0 21,3 28,6 1,6 25,6 37,1 1,8<br />

São Jorge 54,1 43,7 24,0 32,2 1,7 22,9 20,2 1,2<br />

São Miguel 40,3 43,3 28,1 24 5,5 30,2 26,1 2,5<br />

Santa Maria 46,3 45,3 30,5 24,1 4,2 28,4 19,0 2,2<br />

Terceira 50,0 48,5 28,9 28,0 1,9 22,4 19,2 1,1<br />

Quadro n.º 38 Tipo de bebidas alcoólicas consumidas por ilhas.<br />

À excepção da ilha das Flores, em <strong>2004</strong>, e da Graciosa, em <strong>2009</strong>, onde<br />

o vinho era a bebida alcoólica preferida, a cerveja apresentou-se sem margem<br />

para dúvidas como a bebida predilecta dos açorianos. O consumo de<br />

cerveja obteve, em <strong>2004</strong>, a maior taxa de preferência entre os graciosenses<br />

e, em <strong>2009</strong>, passou a ser a Terceira a líder de tal consumo.<br />

Flores e Faial, em <strong>2004</strong>, apresentaram os consumos mais baixos de<br />

cerveja e, em <strong>2009</strong>, apresentaram o consumo mais elevado de whisky e<br />

bebidas destiladas. Aliás, nas Flores, assistiu-se mesmo a uma alteração<br />

significativa no padrão de consumo de bebidas alcoólicas visto que foi<br />

onde mais decaiu o consumo de cerveja, entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>, e em contrapartida<br />

mais cresceu o consumo de vinho.<br />

Em praticamente todas as ilhas, o whisky era a bebida menos consumida,<br />

todavia, como no inquérito de <strong>2009</strong> acrescentámos as bebidas<br />

112


Dependências e outras violências…<br />

destiladas à opção whisky, assistimos a uma transferência da opção<br />

“outra”.<br />

Apesar do esvaziamento da opção “outra”, em <strong>2009</strong>, podemos afirmar<br />

que o consumo de bebidas destiladas registou mesmo um crescimento<br />

exponencial na sociedade açoriana à semelhança do cenário nacional e<br />

europeu conforme atestam os relatórios do Instituto da Droga e<br />

Toxicodependência. O consumo de vinho foi mesmo ultrapassado pelas<br />

bebidas destiladas, cenário que convém acautelar devido ao elevado teor<br />

alcoólico que tais bebidas possuem.<br />

João Breda (CM, 06/09/<strong>2004</strong>, 13) considera que, a nível nacional,<br />

95% dos consumidores de álcool começaram a fazê-lo antes dos 15 anos.<br />

Baseando-se nos dados do Instituto Nacional de Emergência Médica,<br />

defendeu que 37% das emergências médicas são devidas a problemas relacionados<br />

com o consumo de álcool por jovens até aos 19 anos.<br />

Os dados apresentados por João Breda parecem-nos um pouco inflacionados,<br />

sendo discrepantes com o resultado da nossa pesquisa por 21%<br />

dos açorianos, em <strong>2004</strong>, e 22,8%, em <strong>2009</strong>, ter iniciado o consumo de<br />

bebidas alcoólicas antes dos 15 anos de idade. Se prolongarmos o período<br />

de início antes dos 20 anos, mesmo assim não se atinge os valores propostos<br />

por João Breda, alcançando-se, nos Açores, 83% do total da população,<br />

em <strong>2004</strong>, e 93,4%, em <strong>2009</strong>.<br />

Um dado pertinente prende-se com o facto de serem praticamente inexistentes<br />

as situações em que os indivíduos iniciam o consumo de bebidas<br />

alcoólicas depois dos 25 anos de idade. Assim, se até aos 25 anos não<br />

começarem a consumir, dificilmente o farão depois dessa idade.<br />

A ilha do Pico apresentava-se, em <strong>2004</strong>, como a ilha onde mais cedo<br />

se iniciava o consumo de álcool, tendo, em <strong>2009</strong>, sido ultrapassada pelo<br />

Faial em seis décimas.<br />

Já em <strong>2004</strong>, através do cruzamento de dados, tínhamos chegado à<br />

conclusão de que o consumo de bebidas alcoólicas se estava a fazer em<br />

idades cada vez mais jovens, apesar de ser evidente a consciência de que<br />

o álcool é prejudicial ao crescimento e desenvolvimento das crianças e<br />

adolescentes. Na análise de <strong>2009</strong>, o cenário agravou-se.20<br />

20 Em <strong>2009</strong>, optámos por analisar as idades de início do consumo de bebidas alcoólicas em<br />

termos totais e não em termos relativos como foi efectuado em <strong>2004</strong>, por entendermos<br />

ser mais esclarecedor, embora, grosso modo, as tendências se mantenham constantes.<br />

113


Alberto Peixoto<br />

IDADE DE INÍCIO 14 e 15-20 21-25 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51 e<br />

DO CONSUMO DE menos Mais<br />

ÁLCOOL POR <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong><br />

ILHA, EM <strong>2004</strong> (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)<br />

Corvo 9,1 36,4 54,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Faial 22,5 61,8 14,1 1,1 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Flores 2,6 21,8 73,0 2,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Graciosa 31,5 63,2 4,4 0,0 0,0 0,9 0,0 0,0 0,0<br />

Pico 61,2 31,0 3,9 3,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

São Jorge 29,3 66,5 2,1 2,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

São Miguel 15,4 66,1 16,7 1,1 0,5 0,2 0,0 0,0 0,0<br />

Santa Maria 6,3 75,8 15,8 0,0 2,1 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Terceira 12,1 64,8 18,2 3,3 0,6 1,0 0,0 0,0 0,0<br />

MÉDIA AÇORES 21,3 61,4 14,6 1,7 0,6 0,4 0,0 0,0 0,0<br />

Quadro n.º 39 Idades de início do consumo de bebidas alcoólicas, entre consumidores regulares, por<br />

ilhas, em <strong>2004</strong>.<br />

IDADE DE INÍCIO 14 e 15-20 21-25 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51 e<br />

DO CONSUMO DE menos mais<br />

ÁLCOOL POR <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong><br />

ILHA, EM <strong>2009</strong> (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)<br />

Corvo 32,0 64,0 4,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Faial 45,8 48,8 5,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Flores 30,0 65,5 4,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Graciosa 13,5 78,4 8,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Pico 45,2 45,2 9,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

São Jorge 28,8 68,4 0,0 2,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

São Miguel 15,4 75,3 8,1 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Santa Maria 16,5 75,8 6,6 0,0 1,1 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Terceira 32,7 61,9 5,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

MÉDIA AÇORES 22,8 70,6 4,3 1,1 0,2 0,3 0,1 0,1 0,5<br />

Quadro n.º 40 Idades de início do consumo de bebidas alcoólicas, entre consumidores regulares, por<br />

ilhas, em <strong>2009</strong>.<br />

114


Dependências e outras violências…<br />

Em termos médios, nos Açores, em <strong>2009</strong>, 22,8% dos consumidores<br />

começaram antes dos 15 anos a consumir e 70,6% começaram entre os 15<br />

e os 20 anos de idade, quando, em <strong>2004</strong>, eram 21,3% os que tinham iniciado<br />

antes dos 15 anos e 61,4% aqueles que tinham começado entre os 15<br />

e os 20 anos.<br />

Sabendo-se que o consumo de bebidas alcoólicas antes dos 13 anos<br />

aumenta em 50% o risco de dependência, conforme um estudo realizado<br />

pela Cruz Vermelha e divulgado em 2008 (DN, 21/Out/<strong>2009</strong>: 10), os dados<br />

referentes à realidade açoriana demonstram a existência de um grande<br />

espaço para acções de prevenção e mesmo para o aumento das restrições<br />

no acesso a bebidas alcoólicas por menores.<br />

Se considerarmos também os estudos que demonstraram que o consumo<br />

de álcool antes dos 18 anos de idade aumenta significativamente o<br />

risco de dependência e que estiveram na base da legislação em vigor em<br />

diversos Estados norte-americanos e também na Irlanda, levando à proibição<br />

do consumo antes dos 18 anos, então os dados do presente estudo,<br />

mais uma vez, demonstram que está consideravelmente justificada a<br />

necessidade de intervenção a nível legislativo para restringir o acesso a<br />

bebidas alcoólicas a menores de 18.<br />

Constatou-se, em <strong>2004</strong>, que 54,5% dos açorianos que consomem<br />

regularmente bebidas alcoólicas, 82,7% iniciou o consumo antes dos 20<br />

anos, e, em <strong>2009</strong>, dos 55,7% de açorianos consumidores passaram a ser<br />

93,4% os que iniciaram o consumo regular antes dos 20 anos, ou seja, verificou-se<br />

um agravamento de 11 em cada 100 consumidores.<br />

Se dúvidas existiam, mais uma vez se justifica, deste modo, que as<br />

campanhas de prevenção contra o alcoolismo devem ter como público<br />

alvo sobretudo jovens até aos 20 anos, sendo imperioso desenvolverem-se<br />

mecanismos atendendo a este aspecto, para que as campanhas atinjam<br />

objectivos minimamente satisfatórios.<br />

Tal como tínhamos verificado quanto ao início do acto de fumar, o início<br />

do consumo de álcool dificilmente é efectuado por iniciativa própria,<br />

sendo nítida a influência dos amigos/colegas conforme se verifica entre<br />

68,1% da população, em <strong>2004</strong>, e 72,2%, em <strong>2009</strong>.<br />

115


Alberto Peixoto<br />

INICIOU O CONSUMO DE ÁLCOOL <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Sozinho 5,5 1,6<br />

Com os familiares 26,4 26,2<br />

Com amigos/colegas 68,1 72,2<br />

Quadro n.º 41 Iniciação do consumo de bebidas alcoólicas.<br />

A influência dos familiares no início do consumo de álcool é bem<br />

mais evidente do que a verificada no fumar, surgindo 26% dos açorianos<br />

a admitir tal situação, em ambos os estudos, enquanto no fumar apenas 6%<br />

da população afirmou ter iniciado o acto com os familiares.<br />

O acto de fumar no seio da família é ainda considerado uma falta de<br />

respeito para com os mais velhos embora hoje seja bem mais tolerado do<br />

que era num passado não muito longínquo e, para tal constatarmos, basta<br />

questionar a população com mais de 30 anos. Fica demonstrado que a censura<br />

familiar, quanto ao acto de fumar, é bem mais forte do que a censura<br />

familiar quanto ao acto de consumir bebidas alcoólicas, havendo deste<br />

modo uma grande responsabilidade dos pais na tolerância do consumo de<br />

álcool.<br />

INICIOU O CONSUMO DE ÁLCOOL <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Em casa 21,9 21,8<br />

Na escola 2,0 2,0<br />

Em festas 43,8 52,5<br />

No grupo 27,9 22,8<br />

Outra 4,4 0,9<br />

Quadro n.º 42 Local onde foi iniciado o consumo de bebidas alcoólicas.<br />

As festas e os grupos de amigos, de modo crescente, são os locais de<br />

eleição para o início do consumo de álcool, reunindo estas duas possibilidades<br />

71,7%, em <strong>2004</strong>, e 75,3%, em <strong>2009</strong>, dos casos vivenciados pela<br />

população açoriana.<br />

O início do consumo na escola tornou-se um cenário remoto desde<br />

logo compreensível pelo facto de ali, por imposição legal, não ser permitida<br />

a comercialização de bebidas alcoólicas. Mesmo assim, 2% da popu-<br />

116


Dependências e outras violências…<br />

lação, ou seja, 2 alunos em cada 100, admitiram ter iniciado o consumo de<br />

álcool na escola quando a percentagem deveria ser 0%.<br />

Bem sabemos que as bebidas alcoólicas podem ser facilmente adquiridas<br />

nas imediações das escolas, numa clara violação às normas legais, como<br />

se verifica, por exemplo, com a Escola Secundária Antero de Quental, em<br />

Ponta Delgada, ou com a Escola Básica 2+3 Roberto Ivens onde foram<br />

construídos bares com esplanadas ou ainda como com a Escola Secundária<br />

Domingos Rebelo, junto à qual foi autorizada a construção de um grande<br />

centro comercial. Ali vende-se todo o tipo de bebidas alcoólicas, sendo apenas<br />

necessário atravessar a Rua da Juventude para as obter.<br />

Em casa, foi o local utilizado por cerca de 22% da população, em<br />

ambos os momentos do estudo, reforçando a ideia da referida tolerância<br />

familiar para com o consumo de álcool.<br />

Uma das questões centrais desta abordagem prende-se com a relação<br />

existente entre a violência e o abuso de substâncias que, conforme já referimos,<br />

Steadman (1998) se encarregou de demonstrar em laboratório num<br />

estudo de dez semanas, tornando-se claro que em indivíduos considerados<br />

normais o consumo mais que triplica a probabilidade de ocorrência de violência<br />

enquanto que entre indivíduos portadores de doença mental mais<br />

que quintuplica a possibilidade de ocorrer um acto violento.<br />

Todavia quisemos verificar em que medida a população açoriana era<br />

capaz de revelar tal nexo de causalidade e, a existir, como é que evoluía no<br />

tempo. Por isso perguntámos a cada um dos inquiridos se tinha sido vítima<br />

de indivíduo alcoolizado, verificando-se que, em <strong>2004</strong>, 16%, e em <strong>2009</strong>,<br />

17,6% dos açorianos já vivenciaram tal experiência, representando em<br />

números absolutos a existência de 38 682 (<strong>2004</strong>) e 43 082 (<strong>2009</strong>) pessoas<br />

vítimas deste tipo de violência na sociedade açoriana. Se tivermos presente<br />

que mais de 80% das vítimas de violência física, no seio da família, são do<br />

sexo feminino, das 43 082 pessoas que assumiram ter sido vítimas de violência<br />

praticada por indivíduos ébrios cerca de 34 500 serão mulheres.<br />

Os dois momentos do estudo ditam que está a aumentar a propensão<br />

para a vitimização de violência praticada por pessoas sob a influência de<br />

álcool, evidenciando que existe um grande espaço de intervenção social ao<br />

nível da formação e da consciencialização tanto contra a prática da violência<br />

como contra o consumo excessivo de álcool.<br />

117


Alberto Peixoto<br />

JÁ FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA PRATICADA<br />

POR INDIVÍDUO ALCOOLIZADO<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Sim 16,0 17,6<br />

Não 84,0 82,4<br />

Quadro n.º 43 Vítimas de violência praticada por indivíduos alcoolizados.<br />

A ilha de São Jorge apresentou, em <strong>2004</strong>, a mais elevada taxa de prevalência<br />

do consumo de álcool, confirmando a tese de Steadman, ao igualmente<br />

apresentar o maior número de pessoas vítimas de violência relacionada<br />

com o consumo de álcool. Idêntica constatação se verifica na ilha das<br />

Flores e Corvo, ao apresentarem as percentagens mais baixas quer da prevalência<br />

do consumo de álcool quer no número de pessoas vítimas deste<br />

tipo de violência. Santa Maria, com 24,5%, apresenta uma percentagem de<br />

vítimas superior à média açoriana, estimando-se que ali existam 1 367 pessoas<br />

que vivenciaram tal situação. Em São Miguel, existem 20 794 deste<br />

tipo de vítimas e, na ilha Terceira, existem 7 481.<br />

Em <strong>2009</strong>, os dados demonstraram um cenário bastante diferenciado<br />

tendo o grupo ocidental, nomeadamente Faial, Flores e Corvo, sido o local<br />

em que se apresentaram as taxas de vitimização por agressor sob a influência<br />

de álcool mais elevadas.<br />

118<br />

VÍTIMAS DE ALCOÓLICOS POR ILHA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Corvo 8,0 26,0<br />

Faial 13,6 46,9<br />

Flores 1,3 35,9<br />

Graciosa 16,2 4,9<br />

Pico 12,1 15,0<br />

São Jorge 35,4 21,3<br />

São Miguel 15,8 12,9<br />

Santa Maria 24,5 12,9<br />

Terceira 13,4 14,3<br />

MÉDIA AÇORES 16,0 17,6<br />

Quadro n.º 44 Vítimas de violência praticada por indivíduos alcoolizados,<br />

por ilha.


Voltando à caracterização do consumo individual, é possível, com a<br />

análise do consumo regular de álcool por idades, percepcionar mais um<br />

traço caracterizador do consumo de álcool nos Açores. Em <strong>2004</strong>, dos indivíduos<br />

com 14 anos e menos, 16,2% consumiam regularmente álcool,<br />

enquanto 67% dos indivíduos, dos 15 aos 20 anos, faziam-no com regularidade.<br />

Parece-nos grave o facto de 16,2% dos menores de 15 anos consumirem<br />

bebidas alcoólicas com regularidade, quando por questões de metabolismo,<br />

do ponto de vista clínico, não é aconselhado o consumo de álcool<br />

antes dos 16 anos de idade.<br />

Em <strong>2009</strong>, a situação agravou-se, tendo passado para 24,5% os adolescentes<br />

com menos de 15 anos e 72,3% os indivíduos entre os 15 e os 20<br />

anos que assumiram consumir álcool com regularidade.<br />

IDADES CONSUMO DE ÁLCOOL CONSUMO DE ÁLCOOL<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

14 e menos 16,2 24,5<br />

15-20 67,0 72,3<br />

21-25 71,7 73,2<br />

26-30 63,3 68,8<br />

31-35 63,0 57,9<br />

36-40 57,0 57,2<br />

41-45 54,8 54,9<br />

46-50 47,7 51,8<br />

51 e mais 41,4 44,7<br />

Quadro n.º 45 Consumo regular de álcool por idades.<br />

Dependências e outras violências…<br />

Até aos 25 anos, o consumo regular de álcool é crescente, atingindo,<br />

nessa idade, o ponto mais elevado da prevalência, com 71,7% (em<br />

<strong>2004</strong>), e 73,2% (em <strong>2009</strong>) da população. Depois dos 26 anos, decresce<br />

a propensão para o consumo ao longo da vida, porém, entre as pessoas<br />

com mais de 51 anos de idade, 41,4% (<strong>2004</strong>) e 44,7% (<strong>2009</strong>) consumia<br />

regularmente bebidas alcoólicas, demonstrando uma difusão considerável<br />

do álcool.<br />

119


Alberto Peixoto<br />

IDADE REGULARIDADE DO REGULARIDADE DO<br />

CONSUMO DE ÁLCOOL CONSUMO DE ÁLCOOL<br />

POR IDADES - <strong>2004</strong> POR IDADES - <strong>2009</strong><br />

Diária Semanal Ocasional Diária Semanal Ocasional<br />

14 e menos 0,2 2,0 14,0 0,4 1,0 23,1<br />

15-20 4,0 10,0 53,0 0,8 8,6 62,9<br />

21-25 8,0 13,4 50,3 4,2 18,0 51,0<br />

26-30 7,7 11,5 44,1 7,5 11,8 49,5<br />

31-35 10,2 11,0 41,8 4,6 6,7 46,6<br />

36-40 13,7 8,4 34,9 8,2 7,7 41,3<br />

41-45 17,3 4,6 32,9 12,0 4,7 38,2<br />

46-50 13,0 6,0 28,7 11,8 4,5 35,5<br />

51 e mais 14,0 3,2 24,2 17,5 3,8 23,4<br />

Quadro n.º 46 Regularidade do consumo de álcool por idades.<br />

Para melhor medir a prevalência do consumo de bebidas alcoólicas<br />

por idades, procurámos caracterizá-la através da regularidade do consumo,<br />

verificando-se que se torna mais intenso depois dos 35 anos. Deste modo,<br />

depois dos 35 anos, aumenta consideravelmente o número de pessoas que<br />

consome todos os dias, sendo o grupo etário dos 41 aos 45 anos o que<br />

registou o maior número de consumidores diários.<br />

Os problemas mais graves de alcoolismo atingem sobretudo pessoas<br />

com mais de 36 anos de idade, sendo também a partir desta idade que é<br />

mais forte a prevalência do consumo, atingindo, em <strong>2004</strong>, entre os 41 e os<br />

45 anos de idade, a taxa mais elevada de todos os grupos etários com<br />

17,3%, e, em <strong>2009</strong>, entre os 51 anos e mais, com 17,5%.<br />

Note-se que as pessoas com 21-25 anos de idade apresentavam uma<br />

prevalência de 8%, em <strong>2004</strong>, representando um crescimento muito expressivo<br />

em relação ao anterior grupo etário e, caso prosseguissem uma carreira<br />

de consumo, em 20 anos, poderiam atingir valores de prevalência de<br />

consumo bastante superiores aos que hoje têm 41 a 45 anos de idade. Os<br />

dados de <strong>2009</strong> apontam para uma inversão da situação visto que ao nível<br />

do consumo diário de álcool se registou uma diminuição muito significativa<br />

entre os 15 e os 25 anos de idade.<br />

120


Dependências e outras violências…<br />

A Directora Regional da Prevenção e Combate às Dependências, em<br />

entrevista ao jornal Açoriano Oriental, de 29 de Março de <strong>2009</strong> (p. 5),<br />

comentando dados preliminares de um estudo nacional não referenciado,<br />

que apontava para 25% a percentagem de jovens açorianos que, entre os<br />

16 e os 30 anos, consumiam uma vez por semana, afirmou estar preocupada.<br />

Todavia os dados identificados são bem diferentes e bem menos preocupantes<br />

na medida em que, segundo os dados de <strong>2009</strong>, naquele segmento<br />

etário, são 11,5% os que consomem uma vez por semana, 4,7%, os que<br />

consomem todos os dias, e 51,9%, os que consomem ocasionalmente.<br />

Tendo em conta o estado civil enquanto indicador de um tipo de relações<br />

interpessoais e sociais dos inquiridos, procurou-se verificar em que medida<br />

poderia tal aspecto influenciar a prevalência do consumo de álcool.<br />

Constataram-se algumas variações bastante significativas, surgindo as pessoas<br />

divorciadas, com 32,2%, em <strong>2004</strong>, e, em <strong>2009</strong>, as separadas, com 34,7%,<br />

como aquelas que apresentam as prevalências de consumo mais baixas.<br />

Ser solteiro, casado, viúvo ou divorciado não parece ter um peso muito<br />

significativo na decisão de consumir ou não álcool, em função das significativas<br />

variações nas prevalência de consumo entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>. O mesmo<br />

não se pode afirmar em relação às pessoas que vivem em união de facto<br />

sendo o único estado civil em que se manteve constante a mais elevada prevalência<br />

do consumo de álcool, 70,9%, em <strong>2004</strong>, e 67,3%, em <strong>2009</strong>.<br />

ESTADO CIVIL CONSUMO DE ÁLCOOL CONSUMO DE ÁLCOOL<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Solteiro 57,3 59,3<br />

Casado 52,9 53,6<br />

Viúvo 66,9 34,7<br />

Divorciado 32,2 56,0<br />

Separado 54,3 38,7<br />

União de Facto 70,9 67,3<br />

Quadro n.º 47 Consumo regular de álcool segundo o estado civil.<br />

Para além do consumo regular, procurámos, ainda, medir a respectiva<br />

intensidade e mais uma vez se verificaram variações, surgindo, em <strong>2004</strong>,<br />

as pessoas casadas como as que mais consumiam diariamente, atingindo<br />

121


Alberto Peixoto<br />

13,7% do total de consumidores casados e, em <strong>2009</strong>, embora tenham diminuído<br />

para 10,4%, as pessoas casadas mantiveram-se como as que mais<br />

consumiam todos os dias.<br />

ESTADO REGULARIDADE COM REGULARIDADE COM<br />

CIVIL CONSUMO DE ÁLCOOL CONSUMO DE ÁLCOOL<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Diária Semanal Ocasional Diária Semanal Ocasional<br />

Solteiro 4,8 9,9 42,6 3,7 10,8 44,8<br />

Casado 13,7 6,1 33,1 10,4 4,6 38,6<br />

Viúvo 13,2 13,2 40,5 9,1 3,1 22,5<br />

Divorciado 8,9 3,3 20,0 9,8 5,4 40,8<br />

Separado 4,3 8,7 41,3 8,9 6,0 23,8<br />

União de Facto 4,2 20,9 45,8 6,1 11,3 49,9<br />

Quadro n.º 48 Regularidade do consumo de álcool segundo o estado civil.<br />

Tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, a nível do consumo semanal bem como<br />

ocasional, eram as pessoas que viviam em união de facto as que mais consumiam<br />

bebidas alcoólicas, seguindo-se as solteiras, podendo-se inferir a existência<br />

de uma relação entre consumo de álcool e um estilo de vivência que<br />

passa pela participação em festas e convívios com alguma regularidade.<br />

Não se denotaram diferenças muito significativas na prevalência do<br />

consumo de álcool entre campo ou cidade, embora no meio urbano exista<br />

uma prevalência na ordem dos três pontos percentuais superior à do meio<br />

rural. No entanto registaram-se diferenças em relação à intensidade de<br />

consumo. No meio rural, consome-se bastante mais diariamente, enquanto<br />

os consumos em meio urbano são mais moderados.<br />

122<br />

RESIDE EM REGULARIDADE COM QUE<br />

CONSOME ÁLCOOL (%)<br />

Diária Semanal Ocasional<br />

Meio rural 21,4 11,3 67,3<br />

Meio urbano 12,9 18,3 68,8<br />

Quadro n.º 49 Regularidade do consumo de álcool segundo a área<br />

de residência.


Dependências e outras violências…<br />

O consumo semanal é bem mais evidente na cidade do que no campo,<br />

o que não será alheio a todas as actividades de diversão nocturnas bem<br />

mais frequentes no meio urbano.<br />

A formação e o conhecimento das consequências da dependência do<br />

álcool e das dependências em geral apresentaram-se como factores influenciadores<br />

da prevalência de consumo.<br />

HABILITAÇÕES CONSUMO DE CONSUMO DE<br />

LITERÁRIAS ÁLCOOL ÁLCOOL<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Não Sabe Ler 32,0 28,2<br />

Sabe ler e escrever 31,3 45,5<br />

1º Ciclo (4ª cl.) 41,6 48,7<br />

2º Ciclo (6ª cl.) 46,7 43,0<br />

3º Ciclo (9ª cl.) 59,1 56,1<br />

Ensino Secundário (10º-12º) 70,3 71,1<br />

Curso Profissional 64,5 82,2<br />

Curso Superior 59,5 68,5<br />

Quadro n.º 50 Consumo regular de álcool segundo as habilitações literárias.<br />

As pessoas com mais habilitações literárias tendem a consumir<br />

álcool mais regularmente, mas com menos intensidade. Observou-se<br />

que 70,3% (em <strong>2004</strong>) e 71,1% (em <strong>2009</strong>) das pessoas habilitadas<br />

com o ensino secundário consumiam regularmente álcool enquanto<br />

as pessoas sem qualquer habilitação escolar se situavam na casa dos<br />

30%. Entre os habilitados com cursos superiores, 59,5% (em <strong>2004</strong>)<br />

e 68,5% (em <strong>2009</strong>) consumiam regularmente, porém eram os que<br />

menos bebiam diariamente, apostando no consumo semanal ou ocasional.<br />

123


Alberto Peixoto<br />

HABILITAÇÕES REGULARIDADE COM REGULARIDADE COM<br />

LITERÁRIAS QUE CONSOME QUE CONSOME<br />

ÁLCOOL - <strong>2004</strong> (%) ÁLCOOL - <strong>2009</strong> (%)<br />

Diária Semanal Ocasional Diária Semanal Ocasional<br />

Não Sabe Ler 37,5 6,3 56,2 10,3 2,6 15,3<br />

Sabe ler e escrever 21,1 19,2 59,7 22,8 4,5 18,2<br />

1º Ciclo (4ª cl.) 31,7 11,5 56,7 15,5 3,4 29,8<br />

2º Ciclo (6ª cl.) 22,3 10,5 67,2 7,6 5,8 29,6<br />

3º Ciclo (9ª cl.) 16,8 16,4 66,8 4,3 7,5 44,3<br />

Ensino Secundário 10,4 14,8 74,8 6,1 10,7 54,3<br />

(10º-12º)<br />

Curso Profissional 12,9 22,2 64,9 6,7 11,1 64,4<br />

Curso Superior 4,5 15,6 79,9 2,9 11,5 54,1<br />

Quadro n.º 51 Regularidade de consumo de álcool segundo as habilitações literárias.<br />

Sendo notório como as pessoas com menos habilitações literárias<br />

consomem álcool com maior intensidade diária, fica, assim, demonstrado<br />

que o investimento na formação da população se apresenta como a<br />

forma mais adequada de se combater o abuso do consumo de bebidas<br />

alcoólicas.<br />

Na análise das profissões e da regularidade de consumo de álcool,<br />

constatou-se que, nas profissões que requerem maior especialização<br />

e detêm maior capital cultural e social, surgem pessoas mais moderadas<br />

no consumo de bebidas alcoólicas, apresentando menor prevalência<br />

de consumo diário e maior prevalência de consumo semanal ou<br />

ocasional.<br />

A estabilidade do desempenho da actividade profissional surge como<br />

um jogo interactivo, capaz de condicionar e ao mesmo tempo ser condicionado<br />

pela propensão para o consumo de álcool por se ter observado que<br />

eram os trabalhadores prestadores de serviços ocasionais por conta própria<br />

os que tendencialmente reuniam maior prevalência de consumo. Além da<br />

maior prevalência de consumo, era aquele tipo de população que mais consumia<br />

bebidas alcoólicas diariamente.<br />

124


PROFISSÕES MAIS COSTUMA CONSUMIR<br />

REPRESENTATIVAS ÁLCOOL <strong>2009</strong> (%)<br />

Agricultor 67,9<br />

Carpinteiro 88,6<br />

Electricista 78,3<br />

Estudante 51,6<br />

Pedreiro 81,6<br />

Taxista 38,2<br />

Quadro n.º 52 Regularidade de consumo de<br />

álcool por profissões.<br />

A questão de as pessoas se encontrarem numa situação de contrato a<br />

prazo sugere ter um efeito coercivo e normativo sobre a apetência para o<br />

consumo ao apresentarem índices de consumo diário relativamente baixos<br />

e ao mesmo tempo índices de consumo ocasional tendencialmente<br />

elevados.<br />

A situação de efectividade na profissão indicia a referida estabilidade<br />

profissional e também alguma racionalidade no consumo, sendo os<br />

consumos ocasionais os que melhor caracterizam a prevalência daquela<br />

população.<br />

VÍNCULO REGULARIDADE COM REGULARIDADE COM<br />

PROFISSIONAL QUE CONSOME QUE CONSOME<br />

ÁLCOOL - <strong>2004</strong> (%) ÁLCOOL - <strong>2009</strong> (%)<br />

Diária Semanal Ocasional Diária Semanal Ocasional<br />

Serviço ocasional 37,4 12,5 50,1 10,6 17,4 72,0<br />

por conta de outrém<br />

Dependências e outras violências…<br />

Serviço ocasional<br />

por conta própria<br />

33,9 15,2 50,9 14,0 12,6 73,3<br />

Contrato a termo 14,9 17,9 67,2 17,7 13,4 68,8<br />

Efectivo 18,4 13,4 68,2 29,6 11,8 58,6<br />

Outra 8,3 41,6 50,1 34,4 15,6 50,0<br />

Quadro n.º 53 Regularidade do consumo de álcool e o vínculo profissional.<br />

125


Alberto Peixoto<br />

Sem se definir se é o consumo racional que leva a uma estabilidade<br />

profissional, ou se é a estabilidade profissional que conduz a baixos índices<br />

de consumo, os dados apontam para a evidência de estarmos perante<br />

dois indicadores que aparentemente interagem em sentidos inversos. Em<br />

<strong>2004</strong>, os dados apontavam no sentido de que quanto maior fosse a estabilidade<br />

profissional menor era a prevalência de consumo e vice-versa; todavia<br />

os dados de <strong>2009</strong> não são tão lineares sem que persistam algumas regularidades.<br />

Em sentido contrário à estabilidade profissional, a vivência de violência<br />

doméstica no seio da família, durante a infância, é consensualmente<br />

considerado um factor potenciador de comportamentos desviantes. Por<br />

isso procurámos apurar em que medida o consumo de álcool influenciava<br />

e ao mesmo tempo era influenciado pelo fenómeno da violência doméstica.<br />

Entre a população, que vivenciou situações de violência doméstica,<br />

entre os seus familiares mais próximos, 71,3%, em <strong>2004</strong>, e 61%, em <strong>2009</strong>,<br />

consumia regularmente bebidas alcoólicas contra 28,7% (<strong>2004</strong>), 39,0%<br />

(<strong>2009</strong>) da população que afirmou não o fazer.<br />

TEM RECORDAÇÕES DE CONSUMO NÃO CONSUMO CONSUMO NÃO CONSUMO<br />

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DE ÁLCOOL NA INFÂNCIA DE ÁLCOOL NA INFÂNCIA<br />

NO SEIO DA FAMÍLIA, <strong>2004</strong> (%) DE ÁLCOOL <strong>2009</strong> (%) DE ÁLCOOL<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Sim 71,3 28,7 61,0 39,0<br />

Não 52,4 47,6 55,5 44,5<br />

Quadro n.º 54 Consumo regular de álcool e as recordações de violência doméstica no seio da<br />

família.<br />

Idêntica conclusão obtivemos ao analisar a população que não<br />

vivenciou tais acontecimentos, apresentando uma prevalência para o<br />

consumo regular inferior aos demais, nos dois momentos de avaliação.<br />

Mais evidente se torna o nexo de causalidade entre a violência doméstica<br />

e o consumo de álcool, se atendermos à frequência desse mesmo<br />

consumo.<br />

126


Dependências e outras violências…<br />

TEM REGULARIDADE COM REGULARIDADE COM<br />

RECORDAÇÕES QUE CONSOME QUE CONSOME<br />

DE VIOLÊNCIA ÁLCOOL ÁLCOOL<br />

DOMÉSTICA NO <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

SEIO DA FAMÍLIA,<br />

NA INFÂNCIA Diária Semanal Ocasional Total Diária Semanal Ocasional Total<br />

Sim 27,9 13,7 58,4 71,3 8,5 8,8 43,7 61,0<br />

Não 8,1 7,5 36,8 52,4 7,2 7,3 41,0 55,5<br />

Quadro n.º 55 Regularidade do consumo de álcool e as recordações de violência doméstica no seio<br />

da família.<br />

As pessoas que estiveram expostas à violência doméstica durante<br />

a infância apresentaram maior probabilidade de consumir bebidas<br />

alcoólicas diariamente, maior probabilidade de consumirem com<br />

maior frequência semanal e mesmo a prevalência do consumo ocasional<br />

nos indivíduos que estiveram expostos à violência doméstica<br />

era superior aos não expostos.<br />

Observando-se a regularidade do consumo, verificou-se que<br />

quem já teve problemas com polícias/tribunais apresentava uma prevalência<br />

de consumo superior em todas as modalidades em relação à<br />

população que nunca teve problemas, embora na regularidade de<br />

consumo ocasional não fosse muito significativa a diferença de propensão.<br />

Conforme já vimos, a população mais jovem tende a iniciar o<br />

consumo de álcool cada vez mais cedo, no entanto é possível falar-<br />

-se numa melhoria significativa, quando comparamos grupos etários<br />

mais avançados, ao que pensamos, fruto da consciencialização que<br />

se tem desenvolvido nos últimos anos nas escolas e nos media em<br />

geral.<br />

127


Alberto Peixoto<br />

CONSUMO DE ÁLCOOL INÍCIO DO CONSUMO INÍCIO DO CONSUMO<br />

POR IDADES DE ÁLCOOL COM DE ÁLCOOL COM<br />

14 ANOS E MENOS 14 ANOS E MENOS<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

14 e menos 13,3 19,6<br />

15-20 31,1 24,9<br />

21-25 14,9 11,9<br />

26-30 9,4 7,9<br />

31-35 8,0 8,3<br />

36-40 5,8 6,5<br />

41-45 4,9 9,2<br />

46-50 4,8 4,9<br />

51 e + 7,8 6,8<br />

Quadro n.º 56 Consumo regular de álcool por idades e a idade de início do consumo.<br />

Se compararmos as percentagens dos consumidores abaixo dos 21<br />

anos, verifica-se que tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong> o número de pessoas<br />

que iniciaram o consumo antes dos 14 anos era precisamente o mesmo,<br />

com apenas uma décima de diferença (44,4, em <strong>2004</strong>, e 44,5, em <strong>2009</strong>),<br />

apesar de ter havido um aumento de 6,3% no grupo etário 14 e menos e<br />

uma diminuição idêntica no grupo etário dos 15 aos 20 anos. Ou seja, se<br />

em <strong>2004</strong> entre os indivíduos que tinham 14 anos ou menos, em cada cem,<br />

13 consumiam bebidas alcoólicas com regularidade, em <strong>2009</strong>, em cada<br />

cem, cerca de 20 já tinham hábitos de consumo.<br />

Entre as pessoas, com 51 ou mais anos, 7,8%, em <strong>2004</strong>, 6,8%, em<br />

<strong>2009</strong>, iniciaram o consumo antes dos 15 anos de idade, o que, comparado<br />

com os grupos etários mais jovens, é bem elucidativo do facto de o consumo<br />

de álcool ser cada vez mais precoce.<br />

A relação entre a violência conscientemente provocada, devido ao<br />

consumo de álcool ou droga, foi testada, tendo-se apurado uma certa constância<br />

tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>. Entre as pessoas causadoras de actos<br />

de violência, neste contexto, 90,2% (em <strong>2004</strong>), 91,3% (em <strong>2009</strong>) consumiam<br />

regularmente bebidas alcoólicas.<br />

128


Dependências e outras violências…<br />

PRÁTICA DE REGULARIDADE DE REGULARIDADE DE<br />

ACTO DE CONSUMO CONSUMO<br />

VIOLÊNCIA DE ÁLCOOL DE ÁLCOOL<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Diária Semanal Ocasional Total Diária Semanal Ocasional Total<br />

Sim 28,7 22,4 39,1 90,2 29,4 27,8 34,1 91,3<br />

Não 8,5 7,3 36,9 52,7 9,2 9,5 56,8 75,5<br />

Quadro n.º 57 Propensão para a violência e a regularidade de consumo de álcool.<br />

Sem que o álcool possa ser considerado um factor isolado, tanto em<br />

<strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, quem consumia álcool diariamente viu potenciada a<br />

probabilidade de praticar um acto violento. Os que consumiam semanalmente,<br />

apesar de menor influência, viram também aumentada a propensão<br />

para a violência. Quem consumiu ocasionalmente álcool apresentou uma<br />

propensão muito menor para a prática da violência.<br />

Há uma destrinça ao nível de senso comum entre acto violento e<br />

crime; denota-se nas respostas obtidas uma clara diferenciação entre os<br />

dois actos, sendo o crime visto com uma conotação estigmatizante superior<br />

ao acto de violência em abstracto. As pessoas admitem mais dificilmente<br />

a prática de um crime do que a prática de um acto de violência, mas tanto<br />

num caso como no outro mantém-se idêntica a prevalência do consumo de<br />

álcool.<br />

Procurando-se definir a prevalência do consumo regular de álcool e o<br />

consumo de outras substâncias, passíveis de provocar dependência, verificámos<br />

que mais de 90% dos indivíduos que consomem ou já consumiram<br />

droga também costumavam consumir regularmente álcool, contra apenas<br />

cerca de 10% que afirmaram nunca ter consumido álcool.<br />

Entre os consumidores de álcool, 18,5% (<strong>2004</strong>) e 23% (<strong>2009</strong>) consomem<br />

ou já consumiram droga, permitindo concluir ser bem mais frequente<br />

um consumidor de drogas consumir álcool do que o contrário.<br />

Entre os consumidores de álcool, 47,6% (<strong>2004</strong>) e 45,3% (<strong>2009</strong>) fumavam,<br />

mas entre os fumadores, 77,6%, em <strong>2004</strong>, e 74,5%, em <strong>2009</strong>, consumiam<br />

regularmente álcool, demonstrando, do mesmo modo, ser mais frequente<br />

os fumadores consumirem álcool do que os consumidores de álcool<br />

129


Alberto Peixoto<br />

fumarem, quadro este não verificado se comparamos o consumo de álcool<br />

e o consumo regular de café.<br />

Quanto à questão do consumo de álcool e ao ser-se vítima de acto praticado<br />

por indivíduo alcoolizado, conclui-se que 73,6%, em <strong>2004</strong>, 70,7%,<br />

em <strong>2009</strong>, dos indivíduos consumidores regulares de álcool já foram vítimas<br />

de acto praticado por indivíduo alcoolizado enquanto entre os não<br />

consumidores de álcool apenas 26,4%, em <strong>2004</strong>, e 21,8%, em <strong>2009</strong>, já<br />

tinha sido vítima de acto praticado por indivíduo alcoolizado.<br />

O consumo regular de álcool não se apresenta apenas como um factor<br />

potenciador da prática de violência na condição de agressor como faz<br />

aumentar a probabilidade de se tornar vítima de violência praticada por<br />

outro indivíduo também consumidor de bebidas alcoólicas ou drogas,<br />

sendo uma conclusão que se manteve constante nas duas análises.<br />

Em relação ao custo do consumo médio semanal de álcool, nos Açores,<br />

em <strong>2009</strong>, apurou-se que 48,5% dos consumidores gastavam até 5,00 euros<br />

por semana em bebidas alcoólicas, 25,2%, entre 6,00 e 10,00 euros semanais,<br />

12,9%, entre 11,00 e 20,00 euros, entre 21,00 e 50,00 euros, 3,7%, e<br />

9,7% gastavam mais de 50,00 semanais. Quanto à proveniência desse<br />

dinheiro, 60,0% disse ser do salário, 19,8%, da mesada que recebiam,<br />

3,9%, da pensão, 13,9%, era oferecido, e 2,4%, de origem diversa.<br />

Efectuada uma análise por idades dos gastos e da proveniência do<br />

dinheiro dispendido em bebidas alcoólicas, conclui-se que entre os jovens<br />

com menos de 21 anos, que consumiam bebidas alcoólicas com regularidade,<br />

86,1% gastavam até 20,00 euros por semana e, em 89,7%, o dinheiro<br />

era dado pelos próprios pais.<br />

O PERFIL DO CONSUMIDOR DE BEBIDAS ALCOÓLICAS<br />

Concluiu-se que o perfil do consumidor regular de bebidas alcoólicas,<br />

nos Açores, aponta para os indivíduos do sexo masculino, os quais consomem<br />

por prazer e/ou por afirmação social, consomem cerveja e bebidas<br />

destiladas, têm menos de 25 anos de idade e começaram a beber por<br />

influência dos amigos, em festas.<br />

Predominantemente o consumidor tipo é solteiro, a viver em união de<br />

facto ou divorciado, reside em meio urbano e possui entre o 9.º ano e o 12.º<br />

130


Dependências e outras violências…<br />

ano de escolaridade ou equivalente. Quando trabalha, desempenha profissões<br />

pouco qualificadas e com vínculos profissionais precários, possuindo<br />

recordações de infância no seio da sua família de origem ligadas a disfuncionalidades<br />

diversas e quadros de violência. Em 52,8% dos casos de consumo<br />

regular de bebidas alcoólicas, existe conhecimento da situação por<br />

parte dos familiares, tendo sido admitido que, em 17,2%, eles próprios<br />

abusam do consumo de álcool.<br />

131


A DROGA<br />

Da antiguidade à contemporaneidade, houve esforços de conhecer e<br />

controlar os efeitos produzidos pelas substâncias tóxicas, desde Ebers, em<br />

1500 a.C., Hipócrates, em 400 a.C, Dioscorides, em 50 d. C, Maimonides,<br />

em finais do século XII, Paracelsus, na primeira metade do século XVI, a<br />

Orfila, no início do século XIX, com a publicação, em 1814, do Tratado<br />

de Toxicologia Geral.<br />

Considerando-se que todas as substâncias a partir de um limiar quantitativo<br />

se tornam tóxicas, no essencial, apenas varia a quantidade para produzir<br />

um efeito desejado ou indesejado. Foi crescendo o conhecimento<br />

sobre a toxicidade e respectivas consequências individuais e colectivas ao<br />

ponto de alguns tóxicos, vulgarmente designados por drogas, se tornarem<br />

um fenómeno social e se confundirem com algumas formas de comportamento<br />

desviante para as quais “Pinel, no século XIX, recomendava o trabalho<br />

como uma forma de cura, nomeadamente uma forma de sujeição do<br />

homem aos necessários constrangimentos da vida social” (Dias, 1978: 74).<br />

Multiplicaram-se os esforços para se compreender o motivo de uns<br />

em detrimento de outros e Carlos Amaral Dias (1978:83) pegou no caso<br />

concreto de uma jovem para apresentar uma explicação possível para a<br />

prevalência de consumo de droga resultante de uma “crise de adolescência<br />

como uma crise de identidade particular aguda e como ela se vê, pelo<br />

falhanço óbvio do modelo que os pais lhe propõem, por assim dizer<br />

empurrada a optar por um modelo que seja o negativo daquele, e que na<br />

actual conjuntura sócio-cultural lhe é fornecido pelo ‘mundo da droga’”.<br />

Em síntese a terapia que propõe para essa jovem centra-se na construção<br />

da identidade própria para que consiga viver a vida ganhando autonomia<br />

e enfrentando as consequências respectivas. “O uso da droga pelos ado-<br />

133


Alberto Peixoto<br />

lescentes é antes de mais um sintoma de mal-estar e de angústia, uma<br />

maneira de se confrontar com a existência (a do seu corpo, do que lhe está<br />

próximo, da sociedade). Trata-se de uma reivindicação como a que faz de<br />

«taguer» muros e construções” (Richard, 1998: 98).<br />

O fenómeno da dependência tóxica apresenta hoje toda uma parafernália<br />

de substâncias. Os opiácios agrupam os derivados de ópio, a heroína,<br />

a morfina, a codeína e os sucedâneos sintéticos. Nos anos 60, no início,<br />

o consumo de heroína estava associado a novas formas de viver e a<br />

uma certa ideologia “da procura de felicidade e prazer característicos<br />

dessa época, (...) atingindo elevados níveis de consumo nos meios mais<br />

desfavorecidos e nos meios marginais” (CIDM, 1995: 38).<br />

As anfetaminas incluem as substâncias psicotrópicas de origem sintética<br />

e pertencem ao grupo dos estimulantes. Os psicofármacos, sendo compostos<br />

químicos, afectam o sistema nervoso central, sendo esse o fim ao<br />

serem administrados em terapêuticas ao nível das perturbações da vida mental.<br />

Dividindo-se em dois grupos são designados por drunfos e speeds. Os<br />

primeiros têm a capacidade de diminuir a actividade do sistema nervoso,<br />

são predominantemente utilizados pelas mulheres em idade adulta em dietas<br />

para emagrecer ou com o objectivo de conseguirem um equilíbrio entre<br />

a actividade e o repouso, entre o meio individual e meio envolvente. Os<br />

jovens, não os desconhecendo, experimentam-nos sobretudo com os amigos<br />

por curiosidade quando não são os próprios pais que, inocentemente, os fornecem<br />

aos filhos, ou lhes facilitam o acesso. Os speeds têm a capacidade de<br />

estimular a actividade do sistema nervoso, são estimulantes do humor (antidepressivos)<br />

e estimulantes da vigília (anfetaminas e derivados anorexígenos).<br />

Embora existam alguns condicionalismos na venda ao público, são<br />

consumidos como substitutos da heroína ou da cocaína.<br />

Os alucinogéneos agrupam as substâncias de origem sintética ou natural,<br />

classificadas como perturbadoras do sistema nervoso central. Sem qualquer<br />

aplicação médica, apresentam-se sob a forma de comprimidos, líquido,<br />

em pó, em autocolantes ou no verso de selos, ou inseridos em cubos de açúcar.<br />

Pertencem a este grupo os cogumelos mágicos, o LSD, o MDA, o<br />

DOM, a MMDA e o ecstasy, que tem a sua origem no MDMA.O ecstasy é<br />

consumido sob a forma de comprimido, em momentos de lazer, em festas,<br />

junto de bares e discotecas visando aumentar a capacidade de autoconfiança,<br />

energia e euforia, com resultados imediatos, normalmente traduzidos em<br />

134


Dependências e outras violências…<br />

dança ao som de ritmos fortes, conduzindo a uma exaustão contínua, capaz<br />

de provocar a morte por via da desidratação, de problemas cardíacos ou de<br />

problemas renais. Após a sensação dos efeitos, os consumidores sentem-se<br />

exaustos, melancólicos e deprimidos, catapultando-se para um novo consumo<br />

para que sejam combatidos tais efeitos indesejáveis.<br />

Os derivados do cânhamo, «cannabis», como a liamba, a marijuana e o<br />

haxixe, produzem efeitos de relaxamento, bem-estar, mas também alterações<br />

cognitivas e psicomotoras, perda de memória, irritabilidade, ataques de<br />

pânico e ansiedade. Tal como o álcool, os efeitos do haxixe sugerem a facilitação<br />

da forma de estar com os outros, uma vez que “a desinibição provocada<br />

por esta substância cria a ilusão do desaparecimento das dificuldades,<br />

desvia a atenção e desfoca os temas habituais utilizados para afirmar a<br />

força e capacidade de ultrapassar riscos” (CIDM, 1995: 23). Derivando<br />

esta droga da planta Cannabis Sativa, tem a particularidade de provocar<br />

uma dependência lenta sendo usualmente caracterizada como uma droga<br />

leve, porém as consequências do consumo podem traduzir-se na “manifestação<br />

de um processo de crescimento perturbado” (CIDM, 1995: 28).<br />

Realizado na Nova Zelândia, um estudo coordenado por Richard<br />

Beasley concluiu que o consumo de um ‘charro’ de cannabis ao nível dos<br />

pulmões e da obstrução respiratória tem o mesmo impacto que 2,5 a 5<br />

cigarros normais fumados em simultâneo (AE, 6/Ago/2007: 15).<br />

Cientistas de vários países europeus, liderados por Rajinder Singh,<br />

descobriram que o acto de fumar cannabis danifica o ADN. Partindo do<br />

conhecimento da toxicidade do fumo de tabaco, detectaram que o fumo da<br />

cannabis tem cerca de 400 compostos, incluindo 60 canabinóides, e que<br />

fumar três a quatro cigarros por dia está associado ao mesmo grau de<br />

danos das membranas da mucosa bronquial, provocados por 20 ou mais<br />

cigarros de tabaco por dia (DA, 26/Jun/<strong>2009</strong>: 21).<br />

Um estudo publicado na revista norte-americana Cancer permitiu<br />

concluir que, para além de consequências graves do consumo regular de<br />

cannabis, passando por quadros de mania, pelo desenvolvimento de quadros<br />

de esquizofrenia e pela propensão acrescida para o suicídio, os fumadores<br />

regulares de cannabis têm 70% mais probabilidade de desenvolver<br />

um cancro nos testículos (DA, 10/Fev/<strong>2009</strong>: 14).<br />

Publicado em Archives of General Psychiatry, um estudo com mais de<br />

3 800 homens e mulheres permitiu demonstrar que os jovens que fumam<br />

135


Alberto Peixoto<br />

cannabis durante seis anos têm duas vezes mais probabilidade de sofrer<br />

episódios psicóticos, alucinações ou delírios em relação às pessoas que<br />

nunca consumiram aquela substância (DA. 06/Mar/2010: 21).<br />

Um dos maiores problemas associados ao consumo de cannabis resulta<br />

da representação de que é uma droga leve e que possui até propriedades<br />

medicinais podendo ser utilizada para atenuar a dor. Tais argumentos têm<br />

sido invocados pelos grupos que se têm manifestado a favor da sua liberalização,<br />

conforme já vimos. Não deixa de ser uma representação enviesada<br />

na medida em que os níveis do princípio activo tetrahidrocannabinol,<br />

existente na cannabis, são hoje muito mais elevados do que há 20 ou 30<br />

anos atrás, produzindo efeitos devastadores (Coelho, <strong>2004</strong>: 24).<br />

O aparecimento da cocaína e sua rápida difusão ficou a dever-se às<br />

propriedades que lhe foram atribuídas: “A cocaína foi isolada pela primeira<br />

vez em 1859, e logo se comercializa em grande escala. A propagação<br />

torna-se ainda mais intensa que a da morfina e da heroína, dado que<br />

passa por «alimento para os nervos» e «forma inofensiva de curar a tristeza»”<br />

(Escohotado, <strong>2004</strong>: 87). Hoje sabemos que o consumo de cocaína,<br />

de crack ou de anfetaminas provoca efeitos tardios, traduzidos em euforia,<br />

excitação sexual, estado de alerta, delírios paranóides, visões e sensação<br />

de perseguição, fácil irritação e um acentuado emagrecimento, psicose e<br />

agressividade. A possibilidade de perfuração do septo nasal é frequente<br />

entre os dependentes de cocaína devido ao sistemático consumo por inalação<br />

bem como hemorragia cerebral, hipertermia e afrontamentos.<br />

<strong>Outras</strong> substâncias de fácil acesso são os solventes voláteis, capazes<br />

de produzirem igualmente dependência, derivados de substâncias compostas<br />

por acetona, benzeno e hidrocarbonetos halogenados, com odores fortemente<br />

activos, quando inalados têm a capacidade de alterar o estado de<br />

consciência provocando uma sensação de bem-estar. São, normalmente,<br />

crianças que preenchem o perfil deste tipo de consumidores. Sendo os<br />

efeitos muito semelhantes aos provocados pelas bebidas alcoólicas, é frequente<br />

constatarmos um “falar arrastado e pouco claro, andar cambaleante<br />

(ataxia), feridas à volta da boca e nariz, sendo acompanhadas de<br />

náuseas, vómitos e sensação de mal estar geral”(CIDM, 1995: 29).<br />

O policonsumo traduz-se no uso em simultâneo de vários tipos de<br />

substâncias ilícitas em que não raramente as substâncias lícitas como o<br />

álcool e o tabaco também entram.<br />

136


Dependências e outras violências…<br />

Após se compreender a amplitude do problema da dependência de<br />

tóxicos na vida dos consumidores, familiares e sociedade em geral, os<br />

Estados têm, de forma mais ou menos planeada, fomentado o estudo e o<br />

controlo do fenómeno, surgindo a quantificação, tipificação e difusão<br />

espacial como indicadores privilegiados para a definição de políticas de<br />

intervenção.<br />

Neste contexto, têm sido criados diversos organismos, destacando-se o<br />

Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência, o qual tem apresentado<br />

diversos relatórios sobre a problemática em análise. Em 2003, foi<br />

apresentado um relatório (AO, 23/Out/2003: 14) em que consta que os<br />

jovens portugueses de 15 e 16 anos de idade apresentam a mais baixa taxa<br />

de consumo de cannabis com 8% de tal população a admitir o consumo pelo<br />

menos uma vez, encontrando-se em primeiro lugar os jovens Franceses,<br />

Checos e Ingleses, com 35%, seguindo-se os Irlandeses, com 32%, e os<br />

Espanhóis, com 30%. Os jovens dos Países Baixos apresentam uma taxa de<br />

consumo de 28% e os Dinamarqueses apresentam um consumo de 24%.<br />

O Grupo Pompidou, outro dos organismos europeus que se tem<br />

debruçado sobre o assunto, realizou, em 35 países, um estudo com os grupos<br />

etários mais jovens, concluindo-se que, em Portugal continental, de<br />

uma taxa, nos indivíduos de 16 anos que já experimentaram o consumo de<br />

drogas, pelo menos uma vez, de 12%, em 1999, passou-se para uma taxa<br />

de 18%, em 2003. O consumo de cannabis de 9%, em 1999, passou para<br />

17%, em 2003. Os indivíduos que já experimentaram outras drogas, de<br />

6%, em 1999, passaram para 8%, em 2003. Foi registado um decréscimo<br />

na taxa de jovens que consumiram tranquilizantes ou ansiolíticos de 8%,<br />

em 1999, para 5%, em 2003.<br />

Margarida Matos (2003), da Universidade Técnica de Lisboa, apresentou,<br />

na última semana de Junho, um estudo por si coordenado que apresenta<br />

resultados diferentes. Tendo-se debruçado sobre a evolução da toxicodependência,<br />

entre 1998 e 2002, nos jovens portugueses em idade escolar,<br />

concluiu que a percentagem daqueles que já experimentaram pelo menos<br />

uma droga ilícita passou de 3,8 para 9,2%. Em 2002, entre os indivíduos do<br />

sexo masculino, 12% já experimentaram haxixe, enquanto que no sexo<br />

feminino 6,5% também já o experimentaram. Em 1998, os valores eram de<br />

5,4 e de 2,5%, respectivamente. Quanto à heroína, em 1998, 1,3% dos alunos<br />

confessava tê-la experimentado. Em 2002, o valor passou para 1,8%.<br />

137


Alberto Peixoto<br />

Os dados do Instituto da Droga e Toxicodependência, por se referirem<br />

exclusivamente à população estudantil, perdem alguma pertinência ao pretendermos<br />

abordar a prevalência do fenómeno na população em geral,<br />

apesar de serem uma referência consistente na análise da prevalência dos<br />

consumos em tal escalão etário, conforme foi já demonstrado no capítulo<br />

«Evolução comparativa de outros estudos».<br />

Depois do estudo de Cândido da Agra, sobre a relação entre droga e<br />

crime, a Lei 30/2000, em vigor desde 01/Jul/2001, veio descriminalizar o<br />

consumo de drogas e a posse de droga, correspondente a 10 dias de consumo<br />

individual. Nesse contexto, na sociedade portuguesa, tem ganho<br />

expressão o discurso de se tolerar a comercialização de cannabis como<br />

acontece na Holanda.<br />

Em 2005, enquadrado na mesma filosofia de abordagem, foi realizado<br />

um projecto piloto, em sessenta farmácias e quatro hospitais da<br />

Catalunha — Espanha, fundamentado nos efeitos benéficos do consumo<br />

de cannabis. Também uma investigação espanhola, liderada por Maria<br />

Ceballos, cujas conclusões foram publicadas na revista The Journal of<br />

Neuronscience, afirma que a cannabis pode prevenir a perda de memória,<br />

reduzindo a inflamação cerebral relacionada com a doença de Alzheimer,<br />

doença esta que só em Portugal afecta cerca de 60.000 pessoas (CA,<br />

27/Fev/2005: 37).<br />

Cremos serem convenientes algumas cautelas e não esquecer que é a<br />

própria Convenção de 1961 das Nações Unidas que impõe restrições à<br />

produção de cannabis. Em primeiro lugar, apesar de já no ano 5 737 a.C.,<br />

com o imperador Shen Nuna, ter sido referenciada para fins medicinais,<br />

não estão ainda totalmente demonstradas cientificamente tais propriedades,<br />

sabendo-se, isso sim, que o abuso reiterado da substância conduz a<br />

ataques de pânico, distúrbios psicológicos e até à possibilidade de desenvolvimento<br />

de quadros de esquizofrenia21. Em segundo lugar, maiores<br />

cautelas nos são exigidas se tivermos em conta o relatório de <strong>2004</strong> do<br />

Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência que aponta a<br />

dependência de tal substância como a dependência com maior crescimento<br />

entre os que procuram uma desintoxicação, atingindo já os 30% de<br />

21 Novo dado apresentado em Paris a 20/Mai/<strong>2004</strong> pelo Instituto Nacional de Saúde e da<br />

Investigação Médica.<br />

138


Dependências e outras violências…<br />

novos doentes. O mesmo relatório refere que entre 3 a 12% da população<br />

europeia, entre 15 a 34 anos, terá consumido cannabis nos últimos trinta<br />

dias. Entre 0,9% a 3,7% desta população consome diariamente.<br />

Se existiam dúvidas na edição de Dezembro de <strong>2009</strong> do British<br />

Journal of Psychiatry, foram apresentados resultados de mais um estudo<br />

no qual participou o psiquiatra português Tiago Reis Marques na qualidade<br />

de co-autor, sobre o consumo de cannabis, demonstrando-se que o uso<br />

diário da substância aumenta seis vezes o risco de desenvolvimento de<br />

uma doença psicótica, como a esquizofrenia ou outras semelhantes.<br />

Um relatório, divulgado a nível comunitário, cuja informação foi<br />

recolhida em Abril de <strong>2004</strong>, contando com uma amostra de 500 jovens<br />

portugueses, portanto dois meses antes da nossa recolha de dados na<br />

Região Autónoma dos Açores de <strong>2004</strong>, deu conta da prevalência média<br />

europeia do consumo de cannabis, nos jovens dos 15 aos 24 anos de idade,<br />

de 33%. A Espanha era apresentada como o Estado com maior prevalência<br />

do consumo de cannabis ao apresentar uma taxa de 44%.<br />

Portugal, que, no referido estudo, em 2002, apresentou uma taxa de<br />

14%, em Abril de <strong>2004</strong> atingiu os 23%. Entre os consumidores portugueses,<br />

85% disseram que adquiriram a substância junto de bares e discotecas,<br />

durante a noite.<br />

Conforme já dissemos, a Universidade Nova de Lisboa inquiriu, em<br />

2001, 15 mil pessoas, com idades compreendidas entre os 15 e os 65 anos<br />

de idade sobre o consumo de substâncias psicoactivas. À pergunta se já<br />

tinham consumido algum tipo de droga concluiu-se que a média nacional<br />

era de 7,8%, surgindo a cannabis como a substância mais consumida<br />

(7,6%), seguindo-se a cocaína (0,9%), o ecstasy (0,7%), a heroína (0,7%),<br />

as anfetaminas (0,5%) e o LSD (0,4%). O consumo de antidepressivos ou<br />

tranquilizantes foi admitido por 5,7% dos inquiridos.<br />

Com base no referido estudo, se pretendermos fazer algumas comparações<br />

a nível europeu, verificamos que Portugal, na substância ilícita<br />

mais consumida, cannabis, com 7,6%, apresenta a taxa mais baixa da<br />

Europa, surgindo a Grã-Bretanha, com 25%, a mais elevada taxa de consumo,<br />

a França, com 21,9%, a Espanha, com 19,8%, a Holanda, com<br />

19,1%, e a ex-Alemanha Ocidental, com 13,4%.<br />

Segundo o relatório de 2007 do Gabinete sobre Drogas e Crime das<br />

Nações Unidas, havia no mundo 25 milhões de dependentes das vulgar-<br />

139


Alberto Peixoto<br />

mente designadas drogas duras correspondendo a 0,5% do total da população.<br />

Nesse relatório, a Espanha aparece como o país com o recorde mundial<br />

no consumo de cocaína, com mais de 900 mil indivíduos entre os 15<br />

e os 64 anos com hábitos de consumo regulares.<br />

No últimos dez anos, em Espanha, duplicou o consumo entre os adultos<br />

e quadruplicou entre os adolescentes (AE, 17/Mar/2008: 23). Portugal,<br />

com taxas de consumo muito mais baixas que as espanholas, tal como em<br />

toda a Europa, regista um aumento significativo do consumo de cocaína<br />

(DN, 09/Mai/<strong>2009</strong>: 20).<br />

Nos Açores, em <strong>2004</strong>, 10,8% da população já tinha experimentado<br />

substâncias ilícitas pelo menos uma vez, 3% acima da média continental,<br />

que se situava nos 7,8%. Em <strong>2009</strong>, a prevalência de consumo nos Açores<br />

atingiu os 14,8%, ou seja, 2,8% acima da média registada no Continente,<br />

em 2007, indiciando um encurtar da distância, apesar de ligeiro.<br />

JÁ CONSUMIU DROGA CONTINENTE AÇORES CONTINENTE AÇORES<br />

2001 (%) <strong>2004</strong> (%) 2007(%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Sim 7,8 10,8 12,0 14,8<br />

Não 92,2 89,2 88,0 85,2<br />

Quadro n.º 58 Comparação de percentagens de indivíduos que já consumiram substâncias<br />

ilícitas (droga) pelo menos uma vez, no Continente e nos Açores.<br />

Os dados referentes ao Continente utilizados para comparação são<br />

os da Universidade Nova de Lisboa; embora apresentados em <strong>2004</strong>,<br />

foram recolhidos em 2001, distando, portanto, três anos do estudo que<br />

realizámos nos Açores. Os dados de 2007 distam dois anos dos nossos<br />

recolhidos em <strong>2009</strong>, o que também é necessário ter presente para se compreender<br />

as diferenças, visto que todos os anos se registam novos consumidores<br />

a somar aos existentes em anos anteriores. Contudo, dada a<br />

grande abrangência populacional em termos etários, os dois estudos citados<br />

constituem para nós a mais adequada base de comparação com os<br />

dados açorianos.<br />

Em termos absolutos, em <strong>2004</strong>, nos Açores, de um total de 241 762<br />

pessoas, 26 110 já experimentaram o consumo de drogas. Em <strong>2009</strong>, de um<br />

total da população constituída por 244 780 habitantes, 36 227 afirmaram<br />

140


possuir experiências de consumo. Estamos perante um aumento de 10 117<br />

consumidores em cinco anos, ou, se preferirmos, 2 023 novos consumidores<br />

por ano.22<br />

JÁ CONSUMIU DROGA <strong>2004</strong> (%) N.º <strong>2009</strong> (%) N.º<br />

ABSOLUTO ABSOLUTO<br />

<strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

Sim 10,8 26 110 14,8 36 227<br />

Não 89,2 215 652 85,2 208 552<br />

Quadro n.º 59 Percentagem e número absoluto de indivíduos nos Açores que já consumiram<br />

substâncias ilícitas (droga) pelo menos uma vez.<br />

Decompondo a percentagem de 14,8% dos açorianos que afirmaram<br />

já ter consumido drogas, concluiu-se que 2,4% do total da população, ou<br />

seja, 5 875 açorianos tinham consumido há menos de uma semana, 2,7%<br />

(6 609), há menos de um mês, 4,2% (10 280), há menos de um ano, e 5,5%<br />

(13 463), há vários anos atrás.<br />

O ÚLTIMO CONSUMO FOI HÁ <strong>2009</strong> (%)<br />

Menos de uma semana 16,4<br />

Menos de um mês 17,9<br />

Menos de um ano 28,4<br />

Vários anos atrás 37,3<br />

Dependências e outras violências…<br />

Quadro n.º 60 Tempo que medeia entre o momento do inquérito e<br />

o último consumo, entre os 14,8% que admitiram já ter consumido.<br />

Atendendo à distribuição espacial e à prevalência do consumo, verificou-se<br />

ser na ilha do Pico onde percentualmente mais pessoas já tinham<br />

experimentado o consumo de drogas atingindo, em <strong>2004</strong>, os 14,3% do total<br />

da população, seguindo-se São Miguel, com 13,2% da população, Santa<br />

22 A taxa de novos consumidores de substâncias ilícitas nos Açores com 2 023 novos consumidores<br />

ano é bem superior à taxa de novos consumidores regulares de álcool que se<br />

estima em 916 novos indivíduos por ano.<br />

141


Alberto Peixoto<br />

Maria, com 11,5%, Faial, com 11,4%, São Jorge, com 9,2%, Graciosa, com<br />

8,8%, Terceira, com 7% e tanto na ilha das Flores como na ilha do Corvo<br />

não se conseguiu identificar nenhuma pessoa a assumir já ter experimentado<br />

o consumo de uma qualquer substância ilícita.<br />

Em <strong>2009</strong>, foi encontrado um cenário bastante diferente agravado<br />

pelas taxas de crescimento em praticamente todas as ilhas. O Pico, com<br />

um crescimento de 8,7% e uma prevalência de 23%, mantém-se na frente,<br />

seguindo-se Santa Maria, com uma prevalência de 22,9% (+11,4%), e em<br />

terceiro lugar São Jorge, com 16%. A ilha de São Miguel apresentou uma<br />

prevalência estabilizada nos 13,2% bem como o Faial, apesar de uma diferença<br />

de duas décimas. As Flores e o Corvo, que em <strong>2004</strong> não tinham apresentado<br />

consumidores, em <strong>2009</strong>, surgiram com uma prevalência de 9,8%<br />

e 9,6%, respectivamente, abaixo da média regional, denunciando um percurso<br />

evolutivo mais tardio em relação às demais ilhas.<br />

ILHA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%) Variação (%)<br />

Corvo 0,0 9,6 + 9,6<br />

Faial 11,4 11,6 + 0,2<br />

Flores 0,0 9,8 + 9,8<br />

Graciosa 8,8 9,7 + 0,9<br />

Pico 14,3 23,0 + 8,7<br />

São Jorge 9,2 16,0 + 6,8<br />

São Miguel 13,2 13,2 0,0<br />

Santa Maria 11,5 22,9 + 11,4<br />

Terceira 7,0 13,2 + 6,2<br />

MÉDIA AÇORES 10,8 14,8 + 4,0<br />

Quadro n.º 61 Percentagem da população consumidora de drogas<br />

por ilha.<br />

Embora o Pico tivesse apresentado, em <strong>2004</strong>, a mais elevada taxa de prevalência<br />

de consumo de substâncias ilícitas, por ilhas, a nível Açores, por concelhos<br />

era o das Lajes do Pico que se situava em primeiro lugar, com uma taxa<br />

de 32,5%, seguindo-se, na ilha de São Miguel, Vila Franca do Campo, com uma<br />

taxa de 22,5% do total da população, enquanto a taxa média regional era de<br />

10,8%. Também em São Miguel, e em terceiro lugar, surgiu a Lagoa, com uma<br />

142


taxa de 16,7%, e em quarto lugar Ponta Delgada, com uma taxa de 14,7%.<br />

Em <strong>2009</strong>, é também um concelho do Pico que se situa em primeiro<br />

lugar a nível regional, com uma prevalência de 27,1%, seguindo-se a<br />

Madalena, com 24,3%, e depois as Velas de São Jorge, com 23, 6%.<br />

O Concelho de Lajes, apesar de ter apresentado uma taxa de prevalência<br />

de 23,3%, foi aquele que apresentou o maior decréscimo, seguindo-se Lagoa,<br />

com um decréscimo de 2,6%, Ponta Delgada, com um decréscimo de nove<br />

décimas, e Vila Franca do Campo, com um decréscimo de duas décimas.<br />

CONCELHOS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Angra do Heroísmo 6,4 14,2<br />

Calheta de São Jorge 7,5 12,7<br />

Corvo 0,0 9,6<br />

Horta 11,4 11,6<br />

Lagoa 16,7 14,1<br />

Lajes das Flores 0,0 9,6<br />

Lajes do Pico 32,5 23,3<br />

Madalena 6,2 24,3<br />

Nordeste 3,0 16,5<br />

Ponta Delgada 14,2 13,3<br />

Povoação 3,9 17,4<br />

Praia da Vitória 8,2 13,2<br />

Ribeira Grande 10,9 19,6<br />

S. Roque do Pico 0,0 27,1<br />

Santa Cruz da Graciosa 8,8 9,7<br />

Santa Cruz das Flores 0,0 9,8<br />

Velas de São Jorge 11,9 23,6<br />

Vila do Porto 11,5 22,9<br />

Vila Franca do Campo 22,5 22,3<br />

Quadro n.º 62 Consumo de droga por concelhos.<br />

Dependências e outras violências…<br />

Para além das diferenças muito significativas ao nível da prevalência<br />

de consumo, tal como em <strong>2004</strong>, mantêm-se profundas diferenças de concelho<br />

para concelho quanto às tipologias. Em Vila Franca do Campo,<br />

Lagoa e na ilha do Pico, em geral, as opções de consumo eram por liam-<br />

143


Alberto Peixoto<br />

ba, cannabis e haxixe. Ponta Delgada situava-se já num outro patamar de<br />

consumo onde a heroína e cocaína tinham uma prevalência significativa e<br />

o policonsumo apresenta-se como o mais elevado dos Açores, superior a<br />

3%, ao passo que a média era à volta de 1%.<br />

A experimentação de uma substância ilícita apresenta-se sobretudo<br />

como uma resposta à curiosidade ou à pressão do grupo, mas para além da<br />

quantificação de indivíduos que já consumiram importava caracterizar<br />

esse mesmo consumo, nomeadamente ao nível da regularidade. Os valores<br />

do quadro que se segue decompõem a prevalência global do consumo,<br />

ilha a ilha, definindo a partir desse valor a parte a que corresponde cada<br />

uma das periodicidades possíveis.<br />

REGULARIDADE DO Diária Diária Semanal Semanal Ocasional Ocasional<br />

CONSUMO DE DROGA <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

POR ILHA (%) (%) (%) (%) (%) (%)<br />

Corvo 0,0 0,3 0,0 2,9 0,0 6,4<br />

Faial 0,7 1,4 0,0 2,0 10,7 8,2<br />

Flores 0,0 0,4 0,0 2,8 0,0 6,6<br />

Graciosa 0,0 0,0 1,5 0,5 7,3 9,2<br />

Pico 0,5 1,2 0 1,8 13,8 20,0<br />

São Jorge 0,0 0,9 0,0 1,1 9,2 14,0<br />

São Miguel 0,5 0,7 0,9 0,6 9,9 11,9<br />

Santa Maria 1,2 0,0 1,3 1,4 9,0 21,5<br />

Terceira 0,5 0,2 0,3 0,3 6,2 13,2<br />

MÉDIA AÇORES 0,5 0,6 0,6 0,7 9,7 13,5<br />

Quadro n.º 63 Regularidade do consumo de droga por ilha.<br />

No arquipélago, o consumo de substâncias ilícitas caracterizou-se por<br />

ser sobretudo ocasional por, em <strong>2004</strong>, existir uma prevalência ocasional de<br />

9,7%, numa taxa geral de consumo de 10,8% da população, e, em <strong>2009</strong>,<br />

de 13,5% para uma prevalência geral de consumo de 14,8%.<br />

Em termos diários, nos Açores, em <strong>2004</strong>, tínhamos 0,5% do total da<br />

população, e, em <strong>2009</strong>, 0,6% a afirmar fazê-lo. Em conformidade com<br />

o nosso conceito de dependência em termos do consumo de substâncias<br />

ilícitas é possível afirmar-se que, em <strong>2009</strong>, 0,6% do total da população<br />

144


Dependências e outras violências…<br />

açoriana é dependente de drogas, correspondendo a 1 469 habitantes,<br />

podendo este número ser engrossado se utilizarmos outros critérios,<br />

como veremos mais adiante.23<br />

Na ilha de Santa Maria, em <strong>2004</strong>, de uma prevalência de consumo<br />

global de 11,5% do total da população, 9% afirmava que só ocasionalmente<br />

o fazia, 1,3% consumia semanalmente e 1,2% da população<br />

diariamente consumia pelo menos uma substância ilícita. Em<br />

São Miguel, 9,9% da população afirmou consumir ocasionalmente<br />

enquanto 0,9% fazia-o semanalmente e 0,5% diariamente. Na ilha<br />

Terceira, 6,3% consumia ocasionalmente, 0,3% consumia uma vez<br />

por semana e 0,5% da população dizia consumir todos os dias. Com<br />

quadros relativamente próximos, surgiram Graciosa, Flores e Corvo,<br />

apesar de a ilha Graciosa não ter apresentado qualquer indivíduo a<br />

assumir o consumo diário.<br />

Em termos de consumo diário de substâncias ilícitas, e que nos<br />

permite classificar como quadro de dependência, podemos afirmar que<br />

a situação se agravou na ilha do Faial, no Pico, em São Jorge e em São<br />

Miguel. Passámos a ter no Faial pelo menos 219 dependentes de drogas,<br />

178 no Pico, 85 em São Jorge e 937 em São Miguel.<br />

O tipo de substâncias consumidas apresentou também variações<br />

muito significativas, apesar de uma certa tendência, que se manteve<br />

constante. Em termos de prevalência, a ilha de Santa Maria aproximou-<br />

-se do Pico, em <strong>2009</strong>, tal como nas tipologias. São Miguel e em particular<br />

Ponta Delgada também apresentaram uma tendência de estabilização<br />

não só ao nível da prevalência de consumo como também do tipo de<br />

substâncias consumidas.<br />

Registou-se uma melhoria ao nível do policonsumo em São Miguel e<br />

Faial, apesar de a nível Açores se ter agravado uma décima. De 1,4% de<br />

policonsumo, em <strong>2004</strong>, passou-se para 1,5%, em <strong>2009</strong>.<br />

Relativamente ao ecstasy, em <strong>2004</strong>, estava-se num patamar com 0,4%<br />

do total da população a dizer já ter experimentado pelo menos uma vez e,<br />

em <strong>2009</strong>, atingiu-se os 0,8%, ou seja, duplicou a prevalência. De cerca de<br />

23 Seguindo o mesmo critério, em <strong>2004</strong>, tínhamos 1 209 dependentes de drogas, e, em<br />

<strong>2009</strong>, passámos a ter mais 260 dependentes, o que representou mais 52 dependentes por<br />

ano. Ou seja, por cada semana que passou, um novo indivíduo tornou-se dependente de<br />

drogas, nos Açores.<br />

145


Alberto Peixoto<br />

900 indivíduos consumidores de ecstasy, em <strong>2004</strong>, nos Açores, em <strong>2009</strong>,<br />

passámos a ter cerca de 1 800.<br />

No Pico, 12,3% da população, em <strong>2004</strong>, já tinha consumido cannabis<br />

contra apenas 4,2% da população micaelense que afirmou tê-lo feito.<br />

Contudo, em <strong>2009</strong>, no Pico, passámos a ter 14,2% de consumidores de<br />

cannabis, enquanto em São Miguel apenas 4,7% disse tê-lo feito.<br />

O Pico, tal como o Faial e a Terceira, em <strong>2009</strong>, apresentaram as percentagens<br />

mais elevadas de consumidores de heroína, seguindo-se a população<br />

de São Miguel com uma prevalência de 0,4%, pelos vistos superior<br />

à média Açores que se situava em 0,1%.<br />

A cannabis/liamba e o haxixe foram as substâncias ilícitas que registaram<br />

maior procura por parte dos consumidores, e ao mesmo tempo as<br />

mais elevadas taxas de crescimento, embora o ecstasy também tenha<br />

duplicado a prevalência.<br />

Se em <strong>2004</strong> a prevalência de heroína e cocaína se situava no mesmo<br />

patamar, depois de a nível europeu a heroína ter perdido terreno para a<br />

cocaína, nos Açores, em <strong>2009</strong>, a heroína e a cocaína mantiveram em 0,1%<br />

a prevalência de consumo.<br />

As Ilhas Flores e Corvo não tinham registado nenhuma experiência de<br />

consumo de qualquer tipo de substância, em <strong>2004</strong>, mas, em <strong>2009</strong>, apareceram<br />

experiências de consumo de cannabis e haxixe e, nas Flores, em<br />

particular, também surgiu o consumo de ecstasy, heroína e cocaína. O<br />

mesmo se verificou na Graciosa que de uma prevalência de consumo de<br />

haxixe de 8,3%, em <strong>2004</strong>, evoluiu para uma prevalência mais diversificada<br />

onde, em <strong>2009</strong>, surgiu também a cocaína, a heroína e outra substância<br />

não identificada.<br />

Na ilha Terceira, em <strong>2004</strong>, registou-se o consumo de liamba/cannabis,<br />

ecstasy e haxixe, tendo, em <strong>2009</strong>, sido agravadas tais prevalências de consumo<br />

a par do aparecimento, com expressão, da heroína e da cocaína.<br />

São Jorge apresentou, em <strong>2004</strong>, a taxa mais elevada de consumo de<br />

cocaína com 0,4%, e, em <strong>2009</strong>, baixou para 0,3% mesmo assim três vezes<br />

superior à média açoriana, de 0,1% do total da população.<br />

146


TIPO DE DROGA Ecstasy Ecstasy Liamba/ Liamba/ Haxixe Haxixe Heroína Heroína Cocaína Cocaína Outra Outra Poli- Poli-<br />

CONSUMIDA <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> Cannabis Cannabis <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> consumo consumo<br />

POR ILHA (%) (%) <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

(%) (%) (%) (%)<br />

Corvo 0,0 0,0 0,0 6,1 0,0 3,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Faial 0,3 0,4 4,7 5,2 4,1 4,8 0,3 0,5 0,0 0,5 0,6 0,0 1,4 0,2<br />

Flores 0,0 0,4 0,0 5,7 0,0 3,5 0,0 0,1 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Graciosa 0,0 0,0 1,0 3,4 8,3 4,7 0,0 0,2 0,0 0,2 1,0 1,2 0,0 0,0<br />

Pico 0,6 0,9 12,3 14,2 0,6 5,0 0,3 0,6 0,0 0,4 0,0 0,4 1,4 1,5<br />

Dependências e outras violências…<br />

São Jorge 0,0 0,0 3,8 8,4 4,6 6,4 0,0 0,2 0,4 0,3 0,4 0,6 0,0 0,1<br />

São Miguel 0,6 0,6 4,2 4,7 4,3 4,3 0,1 0,4 0,1 0,3 0,6 0,4 3,5 2,5<br />

Santa Maria 0,0 1,1 5,0 8,2 0,0 9,2 0,0 0,4 0,0 0,7 6,5 2,2 0,0 1,1<br />

Terceira 0,3 0,8 4,2 5,3 1,7 4,7 0,0 0,6 0,0 0,3 0,3 0,3 1,1 1,2<br />

MÉDIA AÇORES 0,4 0,8 4,6 6,2 3,4 5,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,8 0,9 1,4 1,5<br />

Quadro n.º 64 Tipo de drogas consumidas dentro da percentagem de prevalência geral, por ilhas.<br />

147


Alberto Peixoto<br />

Utilizando novamente os dados recolhidos em 2001, pela<br />

Universidade Nova de Lisboa, e publicados em <strong>2004</strong>, como base de comparação,<br />

em termos gerais os Açores apresentaram uma prevalência superior<br />

à média nacional na cannabis, liamba e haxixe, atingindo os 8%,<br />

enquanto a média nacional do somatório destas três substâncias se fixa nos<br />

7,6%. A cocaína, nos Açores, é consumida por 0,1% da população enquanto<br />

no Continente tem uma prevalência superior atingindo os 0,9%. A prevalência<br />

do consumo de heroína nos Açores atinge os 0,1% enquanto a<br />

média nacional se situa nos 0,7% da população. O somatório de outras<br />

drogas não especificadas atinge nos Açores 0,8% da população enquanto<br />

a média nacional é de 0,9%.<br />

Em <strong>2009</strong>, a prevalência de consumo de cannabis/liamba e haxixe atingiu<br />

os 11,4%, mais 3,4% que em <strong>2004</strong>, ou mais 3,4% que a média nacional<br />

de 2005, ou 1,4% superior à média da Finlândia, mas bastante inferior<br />

à média dos demais Estados da União Europeia conforme consta no quadro<br />

n.º 1.<br />

Os indivíduos que nos Açores, em <strong>2004</strong>, tinham consumido substâncias<br />

ilícitas caracterizavam-se por o terem feito predominantemente até<br />

aos 25 anos de idade e apesar de entre os 26 e os 30 anos ainda existirem<br />

alguns acontecimentos era notória a diminuição da propensão não se registando<br />

qualquer consumo depois dos 30 anos, exceptuando-se a ilha de São<br />

Miguel que apresenta uma taxa de 0,1% da população entre os 31 e os 35<br />

anos.<br />

Em <strong>2009</strong>, ao nível da prevalência de consumos por grupos etários,<br />

manteve-se a mesma tendência de <strong>2004</strong>, com um agravamento nas idades<br />

mais jovens e uma persistência de indivíduos com hábitos de consumo<br />

para além dos 35 anos, demonstrando que é um fenómeno em evolução.<br />

Os indivíduos que surgiam em <strong>2004</strong> para além dos 30 anos estão agora<br />

para além dos 35 tendo sido os que deram expressão ao fenómeno a nível<br />

Açores que conforme já referimos iniciaram o consumo por meados da<br />

década de 90.24<br />

24 É de referir a este propósito que os indivíduos pioneiros no consumo de drogas nos<br />

Açores representavam, em <strong>2009</strong>, 0,3% do total da população açoriana e que têm hoje<br />

mais de 51 anos, nascidos, portanto, na década de 50 e que apanharam os denominados<br />

«loucos anos 60 e 70» muito ligados a movimentos contestatários, entre os quais as drogas,<br />

na época, proliferaram com alguma facilidade.<br />

148


IDADE DE 14 e 14 e 15-20 15-20 21-25 21-25 26-30 26-30 31-35 31-35 36-40 36-40 41-45 41-45 46-50 46-50 51 e 51 e<br />

INÍCIO DE menos menos <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> mais mais<br />

CONSUMO <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

DE DROGA (%) (%) (%) (%)<br />

POR ILHA<br />

Corvo 0,0 33,3 0,0 66,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Faial 5,3 24,4 69,9 68,9 22,1 15,0 2,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Flores 0,0 17,9 0,0 64,1 0,0 12,8 0,0 5,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Graciosa 9,7 12,5 90,3 75,0 0,0 12,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Pico 20,9 11,3 64,1 75,5 6,5 13,2 8,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Dependências e outras violências…<br />

São Jorge 0,0 11,1 69,7 88,9 30,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

São Miguel 17,1 18,8 67,4 70,7 13,3 6,4 2,3 1,4 0,0 1,8 0,0 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,4<br />

Santa Maria 4,5 8,8 59,1 73,6 36,4 14,7 0,0 2,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

Terceira 12,9 13,0 71,4 77,9 11,9 7,8 3,8 0,0 0,0 0,0 0,0 1,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />

MÉDIA AÇORES 13,9 14,1 69,4 75,0 13,9 8,1 2,8 1,2 0,0 0,8 0,0 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3<br />

Quadro n.º 65 Idades de início do consumo de droga por ilha.<br />

Nota: O presente quadro foi refeito para <strong>2004</strong>, por entendermos ser mais elucidativo apresentar a prevalência total dos inícios de consumos, em todos os grupos etários, correspondente a 100% em vez de<br />

efectuarmos a distribuição, por grupos etários, da prevalência total de consumo de 10,8% (<strong>2004</strong>), conforme apresentámos (Peixoto, 2005: 125).<br />

149


Alberto Peixoto<br />

Do total de indivíduos que nos Açores, em <strong>2004</strong>, assumiram já ter<br />

consumido drogas, 13,9% tinha-o feito antes dos 15 anos e 69,4%, entre<br />

os 15 e os 20 anos, 13,9%, entre os 21 e os 25 anos, e 2,8% fê-lo entre<br />

os 26 e os 30 anos de idade. Em <strong>2009</strong>, assistiu-se a um abaixamento das<br />

idades de início de consumo considerando que passou para 14,1% os<br />

que iniciaram antes dos 15 anos e para 75% os que iniciaram entre os<br />

15 e os 20 anos de idade.<br />

Em <strong>2004</strong>, São Miguel e Pico apresentaram as idades mais baixas<br />

de início do consumo de drogas. No entanto, em <strong>2009</strong>, houve uma<br />

significativa alteração tendo passado a ser Faial, São Miguel e<br />

Terceira as ilhas onde se começou a iniciar mais cedo o consumo de<br />

droga.25<br />

Como já tínhamos verificado na questão do tabaco e do álcool, é<br />

sobretudo em festas e na interacção no grupo que se inicia o consumo<br />

de drogas, sendo estes os espaços de maior probabilidade de ocorrência<br />

deste tipo de acontecimento agrupando, em <strong>2004</strong>, 75,9%, e, em<br />

<strong>2009</strong>, 81,6% das respostas do inquiridos. Em síntese, denotou-se de<br />

<strong>2004</strong> para <strong>2009</strong> um aumento das oportunidades conferidas pelas festas<br />

para se iniciar o consumo de drogas.<br />

INICIOU O CONSUMO DE DROGA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Em casa 9,2 9,3<br />

Na escola 13,8 8,4<br />

Em festas 22,2 31,6<br />

No grupo 53,7 50,0<br />

Outra 1,1 0,7<br />

Quadro n.º 66 Local de início de consumo de droga.<br />

É de destacar o facto de o espaço escolar ser apontado por 13,8%<br />

(<strong>2004</strong>), 8,4% (<strong>2009</strong>) dos consumidores como o local onde tiveram o pri-<br />

25 Em bom rigor, as ilhas que apresentaram as percentagens mais elevadas de início de consumo<br />

nas idades mais baixas foram Corvo e Flores, contudo não podemos fazer uma leitura<br />

linear na medida em que estamos a falar em populações de pequena dimensão em<br />

que os números produzem um efeito alavanca nas percentagens além do ponto de partida<br />

de há cinco anos ter sido o zero.<br />

150


meiro contacto com a substância ilícita enquanto no consumo de álcool<br />

apenas 2% indicava este local como o local de iniciação. Consumir<br />

álcool em casa pela primeira vez tinha sido revelado por 21,9% (<strong>2004</strong>)<br />

e 21,8% (<strong>2009</strong>) dos inquiridos e já quanto ao início de consumo de<br />

droga apenas 9,2% (<strong>2004</strong>) e 9,3% (<strong>2009</strong>) assumiram ter sido aquele o<br />

local de iniciação.<br />

A diminuição do número de indivíduos que afirmaram ter sido a<br />

escola o local de início de consumo de droga (menos 5,4%) pode estar<br />

relacionada com o facto de ter sido proibido fumar nos recintos escolares.<br />

Como normalmente os primeiros consumos de droga se fazem<br />

pela via fumada, é compreensível que tal restrição tenha tido impacto.<br />

Mais perceptível se torna tal facto se considerarmos que no inquérito<br />

de <strong>2009</strong> foi indicada a rua como o outro local mais expressivo ao nível<br />

do início do consumo.26<br />

Os locais de início de consumo de drogas são bastante reveladores<br />

dos mecanismos individuais e sociais envolventes do comportamento<br />

desviante em apreço e mais reveladores se tornam se tivermos em conta<br />

com quem foi iniciado o consumo de tais substâncias.<br />

INICIOU O CONSUMO DE DROGA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Sozinho 1,9 0,5<br />

Com os familiares 1,0 2,2<br />

Com amigos/colegas 97,1 97,3<br />

Quadro n.º 67 Como foi iniciado o consumo de droga.<br />

Dependências e outras violências…<br />

Em 97,1%, em <strong>2004</strong>, e 97,3%, <strong>2009</strong>, dos indivíduos que tiveram<br />

pelo menos uma experiência com drogas foi com amigos ou colegas e<br />

somente 1%, em <strong>2004</strong>, e 2,2%, em <strong>2009</strong>, o fizeram com familiares e<br />

1,9%, em <strong>2004</strong>, e 0,5%, em <strong>2009</strong>, assumiram tê-lo feito por iniciativa<br />

própria e sozinhos. Tal como anteriormente tínhamos verificado, os<br />

indivíduos estão cada vez mais permeáveis à influência dos pares.<br />

26 O aparecimento da rua como o local de início de uma certa vulgaridade no acto de consumir<br />

substâncias ilícitas e que não pode ser dissociado daquilo que se passa hoje à porta<br />

das escolas devido à proibição do fumo nos recintos escolares.<br />

151


Alberto Peixoto<br />

MOTIVO DO CONSUMO DE DROGA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Para se sentir desinibido 15,7 17,3<br />

Para se sentir calmo 5,5 7,7<br />

Para ter coragem 3,7 0,1<br />

Para ter mais força/potência 2,8 1,1<br />

Para esquecer 7,4 2,9<br />

Para sentir prazer 25,0 22,1<br />

Outro 39,8 48,8<br />

Quadro n.º 68 Motivação do consumo de droga.<br />

A procura de obtenção de prazer foi apresentada como a principal<br />

motivação do consumo de drogas de acordo com as justificações<br />

apresentadas por 25% (<strong>2004</strong>) e 22,1% (<strong>2009</strong>) dos inquiridos, seguindo-se<br />

o esforço de desinibição invocado por 15,7% (<strong>2004</strong>) e 17,3%<br />

(<strong>2009</strong>).<br />

Uma das principais motivações invocadas para o consumo apresentou<br />

uma taxa de 39,8% (<strong>2004</strong>) e 48,8% (<strong>2009</strong>) da população, tendo sido<br />

referida como outra que não as apontadas e que cremos ser a satisfação<br />

da curiosidade em experimentar as sensações frequentemente descritas,<br />

mas nem sempre de forma objectiva e despidas de preconceitos e estereótipos.<br />

Em <strong>2009</strong>, atendendo à frequência de respostas na opção «outra»,<br />

já registada em <strong>2004</strong>, quisemos investigar o que traduzia de forma<br />

mais objectiva tal opção. Constatámos que em primeiro lugar surgiu a<br />

motivação da experimentação, seguindo-se a motivação social, a curiosidade<br />

e por último a diversão.<br />

A pesquisa das relações entre prática de violência e o consumo de<br />

drogas foi efectuada no quadro que se segue tendo-se perguntado à<br />

população se já tinha sido vítima de qualquer acção de violência perpetrada<br />

por indivíduo que se encontrava sob o efeito de tais substâncias.<br />

152


ILHAS VÍTIMAS DE DEPENDENTES VÍTIMAS DE DEPENDENTES<br />

DE DROGAS - <strong>2004</strong> (%) DE DROGAS - <strong>2009</strong> (%)<br />

Corvo 0,0 13,0<br />

Faial 4,4 12,0<br />

Flores 0,0 11,8<br />

Graciosa 1,0 1,2<br />

Pico 2,5 11,7<br />

São Jorge 6,9 1,7<br />

São Miguel 3,9 12,0<br />

Santa Maria 3,0 13,0<br />

Terceira 2,5 11,8<br />

MÉDIA AÇORES 3,4 6,2<br />

Quadro n.º 69 Vítimas de dependentes de drogas, por ilha.<br />

Dependências e outras violências…<br />

Em <strong>2004</strong>, em média, a população açoriana, que já tinha sido vítima de<br />

uma acção violenta, praticada por indivíduo alcoolizado, atingiu os 16%<br />

do total da população. A vitimização por indivíduos sob a influência de<br />

droga apresentava uma taxa de prevalência bastante inferior à da influência<br />

de álcool situando-se nos 3,4%. Em <strong>2009</strong>, a percentagem de vítimas de<br />

indivíduo sob influência de droga passou para 6,2% enquanto sob a influência<br />

de álcool a vitimização aumentou para 17,6%. Se a vitimização praticada<br />

por indivíduo sob a influência de álcool aumentou 1,6%, a vitimização<br />

resultante da acção sob a influência de droga aumentou 2,8%.<br />

Conforme demonstrou Cândido da Agra (2000), e os dados recolhidos<br />

nos Açores confirmam-no, o álcool apresenta uma prevalência da prática<br />

de violência bastante superior à prevalência da violência praticada devido<br />

ao consumo de drogas em geral.<br />

A cocaína, entre as drogas mais consumidas, é, conforme foi demonstrado<br />

por vários estudos, apontada como a substância ilícita com maior potencialidade<br />

de levar os consumidores a actos de violência, embora em menor grau que o<br />

álcool. Tal tendência transpareceu, em <strong>2004</strong>, nos dados referentes à ilha de São<br />

Jorge onde surgiu a maior prevalência percentual de consumo de cocaína e de<br />

igual modo apresentava-se como a ilha com maior percentagem de pessoas vítimas<br />

de violência, praticada por indivíduos consumidores de drogas. Em <strong>2009</strong>,<br />

foram as Ilhas do Faial e de Santa Maria que apresentaram as prevalências mais<br />

153


Alberto Peixoto<br />

elevadas do consumo de cocaína e de igual modo foram as ilhas que apresentaram<br />

as mais elevadas taxas de prática de violência sob a influência de droga.<br />

Em São Miguel, 3,9% da população, afirmou, em <strong>2004</strong>, já ter sido vítima<br />

de acções violentas praticadas por consumidores de drogas e, em <strong>2009</strong>, a percentagem<br />

alterou-se para 5,1%. O Faial apresentou 4,4% da população vitimada,<br />

em <strong>2004</strong>, e, em <strong>2009</strong>, 12%. Santa Maria passou de 3% para 4,8%, em <strong>2009</strong>.<br />

Em qualquer dos casos a prevalência de violência praticada pelo consumo de<br />

álcool é sempre bastante superior à praticada no caso de consumo de drogas.<br />

Todavia também os consumidores acabam por ser vítimas de actos de<br />

violência praticados por outros indivíduos igualmente consumidores. Em<br />

<strong>2004</strong>, quantificaram-se em 13,2% os consumidores vítimas, enquanto<br />

entre os que não consumiam droga só 2,2% admitiram ter sido vítimas de<br />

tais actos. Em <strong>2009</strong>, 13,7% dos consumidores de droga tinham sido vítimas<br />

de violência praticada por indivíduos sob influência de droga e 4,9%<br />

eram os que sem hábitos de consumo de droga tinham sido vítimas de indivíduos<br />

sob a influência de droga. Portanto quem consome tem muito maior<br />

probabilidade de ser vítima de acto violento praticado por dependente.<br />

Detendo-nos sobre o perfil do consumidor de droga, nos Açores, verificamos<br />

que, em <strong>2004</strong>, 75,1% eram homens e 24,9% eram mulheres, e em<br />

<strong>2009</strong>, 68,9% eram homens e 31,1% eram mulheres, estando, também, ao<br />

nível do consumo de drogas, a aumentar o número de mulheres.<br />

Em <strong>2004</strong>, o volume da prevalência de consumo de drogas entre as<br />

mulheres, 24,9%, já era expressivo, aproximando-se da prevalência feminina<br />

do álcool, que era de 30% dos consumidores, ou da prevalência feminina<br />

do tabaco, quantificada em 31,4% do total dos consumidores. Em <strong>2009</strong>, a<br />

prevalência feminina do consumo de tabaco passou para 38%, a de álcool<br />

passou para 41,4% e a prevalência do consumo de droga passou para 31,1%.<br />

SEXO CONSUMO DE DROGA CONSUMO DE DROGA<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Masculino 75,1 68,9<br />

Feminino 24,9 31,1<br />

Quadro n.º 70 Consumo de droga, por sexos.<br />

Em <strong>2009</strong>, entre os homens, 20,8% do total (25 253) assumiu já ter consumido<br />

substâncias ilícitas, enquanto entre o universo feminino apenas 9,1%<br />

154


(11 227) o admitiu. Pegando no universo de açorianos, que assumiu já ter<br />

consumido, concluiu-se que 68,9% eram homens e 31,1% eram mulheres.<br />

Conforme foi já constatado noutros estudos, a prevalência do consumo<br />

feminino surge em crescimento no tabaco, no álcool e nas drogas em geral,<br />

traduzindo as transformações sociais que produziram uma maior abertura do<br />

universo feminino. De <strong>2004</strong> para <strong>2009</strong>, a frequência de consumo de drogas<br />

entre as mulheres em relação aos homens cresceu 6,2 pontos percentuais.<br />

Em <strong>2004</strong>, detectámos que três em cada cem crianças com menos de 15<br />

anos consumia ou já tinha consumido drogas pelo menos uma vez. A faixa<br />

etária entre os 15 e os 20 anos apresentava a maior propensão para o consumo<br />

de drogas com cerca de 25 em cada 100 indivíduos. Entre os 21 e os 25<br />

anos, 24 em cada cem jovens já tinha consumido. Dos 15 anos aos 30 anos,<br />

a prevalência do consumo era sempre superior à média açoriana, que, como<br />

vimos, era de 10,8%, agrupando 64,9% do total dos consumidores.<br />

Apesar da gravidade do facto de 3,1 em cada 100 adolescentes com<br />

menos de 15 anos já ter experimentado drogas ter passado, em <strong>2009</strong>, para<br />

3,5 em cada cem, foi neste grupo etário que se registou a menor taxa de<br />

crescimento de consumo. No grupo etário 15-20 anos, a prevalência<br />

aumentou para 27 em cada cem, e entre os 21-25, aumentou de 24 em cada<br />

cem para 36 em cada cem. No grupo etário 26-30 anos, registou-se um<br />

aumento de 9,7% e de 7,3% no grupo etário 31-35 anos de idade.<br />

IDADE CONSUMO DE DROGA CONSUMO DE DROGA<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

14 e menos 3,1 3,5<br />

15-20 24,6 27,0<br />

21-25 23,6 35,7<br />

26-30 15,3 25,0<br />

31-35 9,1 16,4<br />

36-40 6,4 12,6<br />

41-45 4,0 6,7<br />

46-50 0,9 5,3<br />

51 e mais 1,1 1,9<br />

Quadro n.º 71 Consumo de droga, por idades.27<br />

Dependências e outras violências…<br />

27 Os dados do presente quadro, referentes a <strong>2004</strong>, foram refeitos por necessidades de<br />

comparabilidade devido a ligeiros desvios entre amostras.<br />

155


Alberto Peixoto<br />

Em síntese podemos afirmar que, em <strong>2009</strong>, em relação a <strong>2004</strong>, registaram-se<br />

alterações bastante expressivas em todas as classes etárias, sendo<br />

entre os 21 e os 25 anos que a situação mais se agravou.<br />

O inquérito nacional de 2001, em meio escolar, efectuado pelo<br />

Instituto da Droga e Toxicodependência, teve como amostra 25 000 alunos<br />

com idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos de idade. Concluiu-se<br />

que 14% dos inquiridos já tinha experimentado pelo menos uma vez substâncias<br />

ilícitas, sendo a cannabis a substância mais referida. O ecstasy e a<br />

cocaína foram experimentadas por 4% daquela população, enquanto 3% já<br />

tinha experimentado heroína, anfetaminas, LSD e cogumelos mágicos.<br />

Naquele inquérito, os Açores surgiam como a região com maior propensão<br />

para o consumo, com 19% de respostas afirmativas, seguindo-se<br />

Santarém, com 18%, Vila Real e Castelo Branco, com 17%, encontrando-<br />

-se todas estas regiões acima da média nacional situada em 14% da população<br />

estudantil. Tendo a nossa amostra sido agrupada de modo diferente<br />

do citado estudo, concluímos não ser tão significativo o número de indivíduos<br />

que com 15 ou menos anos já experimentou drogas pelo menos<br />

uma vez, o que, como já referimos nas nossas abordagens, se situou, em<br />

<strong>2004</strong>, nos 3,1%, e, em <strong>2009</strong>, nos 3,5%.<br />

A prevalência do consumo de drogas quanto às idades tem denunciado<br />

diferenças bastante significativas quando comparadas com o consumo<br />

de outras substâncias susceptíveis de provocarem dependência, nos mais<br />

diversos estudos. No entanto, dada a pertinência do indicador, entendemos<br />

efectuar uma análise, refazendo os grupos etários, a fim de permitir uma<br />

abordagem comparativa mais pormenorizada em relação aos dois estudos<br />

de Casimiro Balsa, de 2001 e 2007, à população em geral, referentes ao<br />

todo nacional.<br />

156<br />

DADOS 15-64 15-19 20-24 25-34 35-44 45-54 55-64<br />

Nacional 2001 7,8 10,8 14,0 12,4 12,9 7,7 2,2<br />

Nacional 2007 12,0 8,6 22,2 15,4 19,0 15,0 6,1<br />

Açores <strong>2009</strong> 16,2 25,2 38,0 21,1 10,8 5,7 2,2<br />

Quadro n.º 72 Dados do inquérito à população geral (IDT) sobre a prevalência de<br />

consumo de drogas, em comparação com os dados referentes à Região Açores.


Da análise dos números sobre a prevalência do consumo nos Açores,<br />

resultantes de um agrupamento etário idêntico ao dos estudos do IDT, realizados<br />

por Casimiro Balsa, conclui-se que existem diferenças muito significativas<br />

em termos percentuais. Assim, a prevalência do consumo da<br />

população entre os 15 e os 64 anos de idade, nos Açores, em <strong>2009</strong>, passou<br />

para 16,2%, ou seja, 4,2% superior à média nacional. O grupo etário 15-<br />

-19 anos passa para 25,2%, enquanto incompreensivelmente a média nacional<br />

era de 8,6%, em 2007, depois de ter sido 10,8%, em 2001. Os Açores,<br />

em <strong>2009</strong>, apenas conseguiram apresentar taxas de prevalência de consumo<br />

de drogas nos grupos etários para além dos 35 anos, o que mais uma vez<br />

demonstra que o fenómeno da droga nos Açores é bastante mais recente<br />

que no Continente.28<br />

Considerando os estados civis dos inquiridos, conclui-se que os indivíduos<br />

com maior propensão para o consumo de drogas são os solteiros, visto<br />

que, em <strong>2004</strong>, 73 em cada 100 consumidores encontravam-se nessa situação.<br />

Seguiram-se os casados, com 21 em cada 100, e os divorciados em terceiro<br />

lugar, com 3 em cada 100 consumidores. Em <strong>2009</strong>, manteve-se a mesma tendência,<br />

apesar da diminuição do peso dos solteiros (65,2%) a favor dos casados<br />

(22,9%), dos divorciados e dos que viviam em união de facto.<br />

ESTADO CIVIL CONSUMO DE DROGA CONSUMO DE DROGA<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Solteiro 72,5 65,2<br />

Casado 20,8 22,9<br />

Divorciado 2,9 5,4<br />

Viúvo 0,4 0,0<br />

Separado 1,7 0,7<br />

União de Facto 1,7 5,8<br />

Quadro n.º 73 Consumo de droga, segundo o estado civil.<br />

Dependências e outras violências…<br />

28 As diferenças das taxas gerais de prevalência do consumo de droga, apresentadas no quadro em<br />

comparação com os dados do IDT, em relação àquelas que consideramos as mais correctas para<br />

caracterização da região devem-se ao facto de naqueles dados nacionais não terem sido considerados<br />

os referentes à população com menos de 15 anos o que faz aumentar as taxas. Convém<br />

também não esquecer que o hiato de tempo de dois anos também provoca, só por si, diferenciações,<br />

na medida em que a tendência natural da prevalência de experiências de consumo é<br />

para aumentar devido à entrada de novos consumidores a adicionar aos sobreviventes no tempo<br />

que também experimentaram independentemente de ter sido uma ou mais vezes.<br />

157


Alberto Peixoto<br />

Se analisarmos isoladamente as prevalências de consumo em cada um<br />

dos estados civis e depois as compararmos entre si, conclui-se que são as<br />

pessoas a viver em união de facto as que apresentam as mais elevadas prevalências<br />

do consumo de substâncias ilícitas, chegando-se entre tais indivíduos<br />

aos 31,6%. Depois surgem os solteiros com uma prevalência de<br />

23%, os divorciados, com 15%, os separados, com 1,29%, os casados, com<br />

7,2%, e por último os viúvos que apresentam a mais baixa propensão para<br />

o consumo de drogas.<br />

RESIDE EM CONSUMO DE DROGA (%)<br />

Meio rural 31,0<br />

Meio urbano 69,0<br />

Quadro n.º 74 Consumo de droga, segundo a<br />

área de residência.<br />

Contrariamente ao verificado no consumo de álcool, em que não se<br />

registam diferenças significativas, no consumo de droga, a prevalência no<br />

meio urbano, com 69%, é bastante superior à prevalência no meio rural,<br />

quantificada em 31%.<br />

A droga, apesar de ter assumido visibilidade no meio rural, continua<br />

a ser um fenómeno particularmente citadino, quanto à prevalência de<br />

consumo, e de certa forma também em termos de representação social,<br />

ao traduzir um estilo de vida mais condicente com o estilo de vida urbano.<br />

Embora o rural e o urbano e as suas representações sociais estejam<br />

esbatidas, certo é que continuam a existir traços identitários que as caracterizam<br />

e condicionam os comportamentos dos indivíduos que neles se<br />

movem.<br />

Tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, são as pessoas com habilitações literárias<br />

entre o 6º ano e o 12º ano que demonstram maior prevalência de<br />

consumo de droga em termos relativos. Porém, se analisarmos as prevalências<br />

dentro de cada nível de habilitações literárias, a mais elevada é<br />

entre as pessoas com o 12.º ano, chegando a 25% os que já consumiram,<br />

24% dos que possuíam cursos médios/profissionais e 21,1% dos que possuíam<br />

cursos superiores.<br />

158


HABILITAÇÕES CONSUMO DE CONSUMO DE<br />

LITERÁRIAS DROGA DROGA<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Não Sabe Ler 0,05 0,0<br />

Sabe ler e escrever 0,05 0,0<br />

1º Ciclo (4ª cl.) 5,9 3,7<br />

2º Ciclo (6ª cl.) 15,6 15,6<br />

3º Ciclo (9ª cl.) 29,5 28,1<br />

Ensino Secundário (10º-12º) 34,6 35,5<br />

Curso Profissional 5,7 2,0<br />

Curso Superior 8,6 15,1<br />

Quadro n.º 75 Consumo de droga e habilitações literárias.<br />

Assume particular agravamento a prevalência, se a população estiver<br />

em idade escolar, reflectindo a influência do meio escola/grupos não deixando<br />

qualquer dúvida sobre os meios onde as acções de prevenção têm<br />

de ser cada vez mais intensas e mais diversificadas.<br />

Se o consumo de álcool era significativo nos grupos profissionais de<br />

baixa qualificação, o mesmo não se pode afirmar relativamente à prevalência<br />

de consumo de drogas, cujos valores, naqueles grupos, são de<br />

dimensão bem menos expressiva.<br />

PROFISSÕES MAIS CONSUMO DE DROGA<br />

REPRESENTATIVAS <strong>2009</strong> (%)<br />

Agricultor 13,9<br />

Carpinteiro 11,4<br />

Electricista 34,8<br />

Estudante 18,0<br />

Pedreiro 25,6<br />

Taxista 2,9<br />

Quadro n.º 76 Regularidade de consumo de drogas<br />

por profissões.<br />

Dependências e outras violências…<br />

Especificando as profissões mais representativas, tal como se verificou<br />

no consumo de álcool, à excepção dos estudantes, profissões como<br />

159


Alberto Peixoto<br />

pedreiros, carpinteiros, electricistas e agricultores possuem uma prevalência<br />

de consumo de drogas mais evidente.<br />

Sendo o consumo de drogas, álcool, tabaco ou café transversal a quase<br />

todas as profissões, não deixa de sobressair que o consumo de drogas, conforme<br />

vimos, tenha assumido particular prevalência em profissões pouco<br />

qualificadas tecnicamente e pouco exigentes do ponto de vista literário. Por<br />

outro lado o grau de satisfação com a vida profissional/escolar apresentouse<br />

como um factor influenciador da propensão do consumo de drogas. Entre<br />

os que se sentiam satisfeitos, 13,9% tinham hábitos de consumo, enquanto<br />

entre os insatisfeitos a prevalência de consumo atingia os 20%.<br />

Para além de a actividade profissional dos consumidores regulares<br />

ser pouco exigente e produzir menor grau de satisfação, denota-se que<br />

tal população também detém vínculos profissionais precários ou mesmo<br />

inexistentes.<br />

VÍNCULO CONSUMO DE DROGA CONSUMO DE DROGA<br />

PROFISSIONAL <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Sem ocupação 45,7 38,9<br />

Serviço ocasional- por<br />

conta de outrém<br />

1,3 13,1<br />

Serviço ocasional- por<br />

conta própria<br />

12,6 8,3<br />

Contrato a termo 24,3 22,9<br />

Efectivo 15,2 14,4<br />

Outra 0,9 2,4<br />

Quadro n.º 77 Consumo de droga e vínculo profissional.<br />

De entre o total dos consumidores de droga, em <strong>2004</strong>, 45,7%, e<br />

38,9%, em <strong>2009</strong>, não possuíam qualquer ocupação profissional e, quando<br />

existiam, as relações laborais eram pouco significativas. Se excluirmos os<br />

trabalhadores efectivos e outros com vínculo não identificado, reunirmos<br />

85%, em <strong>2004</strong>, e 83,2%, em 2005, da população inquirida, que respondeu<br />

já ter consumido droga pelo menos uma vez, deste modo, os indivíduos<br />

que já consumiram drogas também apresentaram maior probabilidade de<br />

vir a possuir uma carreira profissional instável.<br />

160


O consumo de droga e de álcool não raras vezes surge em simultâneo, constatando-se<br />

que, em <strong>2004</strong>, 92,5%, 88,8%, em <strong>2009</strong>, dos indivíduos que já consumiram<br />

drogas consumiam regularmente álcool. Ao inverso, 18,5%, em <strong>2004</strong>,<br />

22,2%, em <strong>2009</strong>, dos consumidores regulares de álcool afirmaram também ter<br />

consumido drogas pelo menos uma vez. Conclui-se, portanto, que é bem mais<br />

frequente os consumidores de droga consumirem álcool que o contrário.<br />

Detendo, até ao momento, a nossa atenção no consumo ou não de<br />

droga, importa comparar, em caso afirmativo, a tipologia e regularidade<br />

desses mesmos consumos, observando-se que 17,3% (<strong>2004</strong>), 12,4%<br />

(<strong>2009</strong>) do total dos consumidores diários de droga consomem também diariamente<br />

álcool. Dos que consumiam droga semanalmente, 32,2% (<strong>2004</strong>),<br />

27,3% (<strong>2009</strong>), consumiam, de igual modo, álcool semanalmente.<br />

CONSUMO DE DROGA E TIPO DE <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

BEBIDAS ALCOÓLICAS QUE<br />

COSTUMA CONSUMIR<br />

(%) (%)<br />

Cerveja 52,1 46,9<br />

Vinho 9,3 10,4<br />

Whisky/Bebidas destiladas 7,5 13,7<br />

Várias 31,1 29,0<br />

Quadro n.º 78 Consumo de droga e o tipo de bebida<br />

alcoólica consumida.<br />

Dependências e outras violências…<br />

Quanto ao tipo de bebida alcoólica preferida daqueles que já tinham<br />

consumido droga, em primeiro lugar surgiu a cerveja conforme 52,1%<br />

(<strong>2004</strong>), 46,9% (<strong>2009</strong>) dos inquiridos, seguindo-se o vinho e o whisky com<br />

preferências de 9,3% (<strong>2004</strong>) e 10% (<strong>2009</strong>). Sobressaiu o facto de 31,1%<br />

(<strong>2004</strong>), 29,0% (<strong>2009</strong>) dos consumidores de substâncias ilícitas consumirem<br />

outro tipo de bebidas para além das especificadas. Estamos a falar em<br />

misturas de bebidas com forte teor alcoólico.<br />

Tendo-se verificado ser frequente, nos indivíduos com experiência<br />

no consumo de drogas, o consumo simultâneo de álcool, tentámos<br />

efectuar uma sobreposição entre o consumo de droga e a idade de início<br />

de consumo de álcool e de tabaco. Constatou-se que entre os indivíduos<br />

que já consumiram droga, tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, mais<br />

161


Alberto Peixoto<br />

de 90% começaram a consumir álcool com regularidade antes dos 20<br />

anos de idade.<br />

Entre os consumidores de droga com 14 ou menos anos de idade,<br />

35,2% (<strong>2004</strong>) e 37,3% (<strong>2009</strong>) começaram a consumir álcool com regularidade<br />

antes dos 15 anos e 57,8% (<strong>2004</strong>), 61% (<strong>2009</strong>) começaram a consumir<br />

álcool entre os 15 e os 20 anos.<br />

CONSUMO DE IDADE DE INÍCIO DO IDADE DE INÍCIO DO<br />

DROGA CONSUMO DE ÁLCOOL CONSUMO DE ÁLCOOL<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

14 e menos 35,2 37,3<br />

15-20 57,8 61,0<br />

21-25 6,0 1,7<br />

26-30 1,0 0,0<br />

31-35 0,0 0,0<br />

36-40 0,0 0,0<br />

41-45 0,0 0,0<br />

46-50 0,0 0,0<br />

51 e + 0,0 0,0<br />

TOTAL 100,0 100,0<br />

Quadro n.º 79 Consumo de droga e idade de início de consumo de bebidas<br />

alcoólicas.<br />

Relativamente ao consumo de droga em simultâneo com o consumo de<br />

tabaco, antes dos 20 anos surgiram 96,6% (<strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>) dos indivíduos<br />

com experiência nas substâncias ilícitas. Entre os consumidores de droga<br />

com 14 anos ou menos, 45,4% (<strong>2004</strong>), 38,4% (<strong>2009</strong>) tornaram-se consumidores<br />

regulares de tabaco antes dos 15 anos de idade. Iniciaram o consumo<br />

regular de tabaco entre os 15 e os 20 anos 51,2% (<strong>2004</strong>), 58,2% (<strong>2009</strong>) dos<br />

indivíduos que já experimentaram drogas dentro do mesmo escalão etário.<br />

A experimentação e dependência de substâncias ilícitas surgiu tanto<br />

em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, predominantemente, acompanhada pela experimentação<br />

e dependência de substâncias como o álcool e o tabaco não se<br />

podendo tirar conclusões significativas quanto à prevalência do café por<br />

este apresentar uma forte difusão de consumo na população.<br />

162


Dependências e outras violências…<br />

CONSUMO DE IDADE DE INÍCIO DE IDADE DE INÍCIO DE<br />

DROGA CONSUMO DE TABACO CONSUMO DE TABACO<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Menos de 14 45,4 38,4<br />

15-20 51,2 58,2<br />

21-25 2,8 2,6<br />

26-30 0,3 0,5<br />

31-35 0,3 0,3<br />

36-40 0,0 0,0<br />

41-45 0,0 0,0<br />

46-50 0,0 0,0<br />

51 e mais 0,0 0,0<br />

Quadro n.º 80 Consumo de droga e idade de início de consumo de tabaco.<br />

Não estaria completa a análise do consumo de drogas se não estimássemos<br />

quantitativamente em termos percentuais e absolutos a população<br />

açoriana consumidora de droga quanto à regularidade constatando-se que,<br />

em <strong>2004</strong>, entre essa população, 4,3% fazia-o diariamente, correspondendo<br />

a 1 136 indivíduos, 6,0% fazia-o semanalmente, ou seja, 1 571 indivíduos,<br />

e 23 451 consumiam ocasionalmente perfazendo 89,7% do total dos consumidores<br />

de droga. Em <strong>2009</strong>, de um total de 36 227 açorianos com propensão<br />

para o consumo de drogas, 1 469 consumiam diariamente, 1 713,<br />

semanalmente, e 33 045 consumiam ocasionalmente.<br />

REGULARIDADE DO N.os ABSOLUTOS <strong>2004</strong> N.os ABSOLUTOS <strong>2009</strong><br />

CONSUMO DE DROGA NOS AÇORES (%) NOS AÇORES (%)<br />

<strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

Diariamente 1 136 4,3 4,1 1 469<br />

Semanalmente 1 571 6,0 4,7 1 713<br />

Ocasionalmente 23 451 89,7 91,2 33 045<br />

TOTAL 26 158 100,0 100,0 36 227<br />

Quadro n.º 81 Regularidade do consumo de droga por percentagens e números absolutos de consumidores<br />

nos Açores.<br />

163


Alberto Peixoto<br />

Conforme já nos reportámos por diversas vezes ao estudo da<br />

Universidade Nova de Lisboa, com 15 mil indivíduos, sobre o consumo de<br />

drogas, concluiu-se que a média nacional era de 7,8% enquanto nos<br />

Açores é de 10,8%, em <strong>2004</strong>, e 14,8%, em <strong>2009</strong>. No Continente, a cannabis<br />

era a substância mais consumida atingindo 7,6%, enquanto nos Açores<br />

atinge os 3,6%. A cocaína apresenta uma prevalência de 0,1% nos Açores<br />

sendo no Continente de 0,9%. O ecstasy, nos Açores, já foi experimentado<br />

por 0,4% da população contra 0,7% no Continente apresentando-se o<br />

mesmo valor para a heroína, a qual, nos Açores, tem prevalência em 0,1%<br />

da população açoriana.<br />

Se atendermos apenas aos indivíduos que já experimentaram pelo<br />

menos uma vez substâncias ilícitas, verificamos que o ecstasy foi preferido<br />

por 2,6 %, a liamba, por 7,1%, a cannabis, por 33,1%, o haxixe, por<br />

31,5%, a heroína, por 1%, a cocaína, por 1,5%, outra não especificada, por<br />

6,5%, e 16,7% afirmam já ter experimentado duas ou mais substâncias.<br />

TIPO DE DROGA <strong>2004</strong> N.º s ABSOLUTOS <strong>2009</strong> N.º s ABSOLUTOS<br />

CONSUMIDA (%) NOS AÇORES (%) NOS AÇORES<br />

<strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

Cocaína 1,5 386 2,2 420<br />

Ecstasy 2,6 688 3,0 1 958<br />

Haxixe 31,5 7 942 24,8 12 729<br />

Heroína 1,0 250 2,9 256<br />

Liamba/ Cannabis 40,2 10 443 46,8 15 176<br />

Outra 6,5 1 692 3,7 2 203<br />

Policonsumo 16,7 4 757 16,6 3 485<br />

Total 100,0 26 158 100,0 36 227<br />

Quadro n.º 82 Tipo de droga consumida por percentagens e números absolutos de consumidores<br />

respectivos nos Açores.<br />

Em termos absolutos, em <strong>2004</strong>, nos Açores, 688 pessoas já tinham<br />

experimentado ecstasy, 1 876 experimentado liamba, 8 567, cannabis,<br />

7 942, haxixe, 250, heroína, 386, cocaína, 1 692 outra não especificada<br />

e 4 757 já tinham consumido duas ou mais substâncias ilícitas. Em<br />

<strong>2009</strong>, aumentou consideravelmente o consumo de haxixe, liamba/can-<br />

164


nabis e ecstasy, que, de 688, em <strong>2004</strong>, atingiu os 1 958 consumidores,<br />

em <strong>2009</strong>.29<br />

Nos Açores, em <strong>2004</strong>, 26 158, e, em <strong>2009</strong>, 36 227 indivíduos já<br />

tinham consumido droga, ou seja, notou-se um aumento traduzido em<br />

mais 10 069 pessoas.<br />

Tendo-se tentado ir um pouco mais longe, em <strong>2009</strong>, procurámos também<br />

apurar os valores gastos pelos consumidores em substâncias ilícitas,<br />

bem como a respectiva proveniência desse dinheiro. Conseguiu-se apurar<br />

que, em 80,9% dos casos, o dinheiro usado na aquisição de drogas era,<br />

segundo os inquiridos, obtido através das mesadas ou das ofertas que os<br />

pais lhes fazem. Se tivermos em conta que os consumidores de drogas gastam<br />

semanalmente até 50,00 euros, mais 10,00 a 50,00 euros em tabaco e<br />

mais 10,00 euros em bebidas alcoólicas, percebe-se o impacto que tais<br />

problemáticas desencadeiam nos próprios e nas suas famílias quer a montante<br />

quer a jusante.<br />

VALOR SEMANAL GASTO EM<br />

SUSBSTÂNCIAS ILÍCITAS (euros)<br />

<strong>2009</strong> (%)<br />

Até 50,00 81,3<br />

De 51,00 a 200,00 13,5<br />

Mais de 200,00 5,2<br />

Quadro n.º 83 Montantes semanais dispendidos<br />

pelos consumidores de drogas na aquisição das<br />

substâncias.<br />

Dependências e outras violências…<br />

Em apenas 5,1% dos casos, os familiares dos consumidores tinham<br />

conhecimento da existência de consumo por parte daqueles, o que<br />

demonstra, contrariamente ao consumo de álcool e de tabaco, que o consumo<br />

de drogas continua a fazer-se envolto em rituais de grande secretis-<br />

29 Os números de consumidores de heroína e cocaína, de <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>, são aparentemente<br />

muito baixos, contudo convém não esquecer que se reportam apenas à percentagem de<br />

inquiridos que revelaram consumir um único tipo de substância. Embora o dependente<br />

típico de heroína ou cocaína tenha a sua preferência centrada numa ou noutra droga, na<br />

realidade, são frequentes outros consumos motivo pelo qual também estão agrupados<br />

nos números referentes ao policonsumo.<br />

165


Alberto Peixoto<br />

mo e longe dos olhares dos familiares. É, no entanto, surpreendente que<br />

12,6% dos consumidores tenham dito que possuem familiares que também<br />

consomem drogas.<br />

O PERFIL DO CONSUMIDOR DE DROGA<br />

Ao nível do perfil do consumidor de substâncias ilícitas, nos Açores,<br />

pode dizer-se que é do sexo masculino, tem menos de 25 anos, é solteiro<br />

e começou a consumir por influência dos pares/amigos, no grupo e em festas.<br />

Satisfazer a curiosidade, experimentar sensações e ter prazer são as<br />

principais motivações. Reside maioritariamente em meio urbano e possui<br />

entre o 6.º ano e o 12.º ano de escolaridade. Não tem ocupação e quando<br />

trabalha é em actividades pouco exigentes e com vínculos precários.<br />

Fumador habitual, indica a liamba/cannabis e o haxixe como as substâncias<br />

ilícitas de eleição e a cerveja como a bebida favorita. A existência de<br />

disfuncionalidades e quadros de violência no seio da família de origem são<br />

frequentes.<br />

166


O CAFÉ<br />

A cafeína é a substância estimuladora mais consumida no mundo estando<br />

presente em inúmeras bebidas, dos refrigerantes ao café. Consumida pelo<br />

menos desde o séc. VI a. C., é sistematicamente repetido o gesto, no quotidiano,<br />

que faz da cafeína a substância mais socialmente tolerada, sendo<br />

muito amplo o conjunto de motivações pelas quais se ingere.<br />

O consumo regular de café, no nosso país, generalizou-se. Não existe<br />

bar ou restaurante que não disponha de máquina de café. Das mais simples<br />

às mais sofisticadas, praticamente todos os locais propiciam café aos funcionários<br />

ou clientes. Nas salas de espera dos hospitais, voluntárias, entre<br />

água, sumo, chá e bolachas, oferecem café aos utentes dos hospitais. Em<br />

locais públicos, máquinas para venda de café apelam ao consumo enquanto<br />

se espera o atendimento. Entre as entidades empregadoras é cada vez<br />

mais frequente colocarem à disposição dos colaboradores máquinas de<br />

café para preencherem uma curta pausa nas actividades ou para fomentarem<br />

o desenvolvimento e aprofundamento de relações interpessoais.<br />

O ritual de tomar café assume hoje dois papéis distintos, um, numa<br />

vertente individual, outro, numa vertente social. A nível individual, o café<br />

é consumido pelas suas qualidades estimuladoras, na luta individual contra<br />

o sono ou contra o cansaço. Na vertente social, o consumo do café é<br />

justificado pela possibilidade de facilitar as relações sociais e o convívio,<br />

sendo recorrente convidar-se alguém para tomar um café.<br />

Portugal situa-se no grupo dos países europeus cujos habitantes<br />

consomem em média 5,4 quilos de café, por ano, situando-se os finlandeses<br />

à frente com um consumo per capita de 11 quilos enquanto os<br />

norte-americanos consomem 4,2 quilos e os japoneses 3,1 quilo (DA,<br />

22/Jan/2005: 16).<br />

167


Alberto Peixoto<br />

Não têm sido muito frequentes os estudos sobre os malefícios do consumo<br />

excessivo do café, embora se saiba que o seu consumo regular pode<br />

ser também encarado como uma dependência. Para Jack James da<br />

Universidade Nacional da Irlanda (NG, Jan/2005: 21), é mesmo uma<br />

droga psicoactiva que por via do aumento do ritmo cardíaco é capaz de<br />

fazer aumentar o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas, conclusão<br />

entretanto contrariada por uma investigação da Beth Israel Deaconess<br />

Medical Center de Boston (DA, 03/Nov/<strong>2009</strong>: 21).<br />

Todavia, mantêm-se válidas algumas propriedades malignas atribuídas<br />

ao café através de diversas investigações científicas. Uma equipa de<br />

investigadores da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega apurou<br />

que o consumo excessivo de café aumenta o risco de sofrer de enxaquecas<br />

(DA, 19/Ago/<strong>2009</strong>: 16).<br />

Um estudo sueco coordenado por Helena Jernstrom, da Universidade<br />

de Lund, bastante sugestivo, com uma amostra de 300 mulheres, permitiu<br />

concluir que o consumo diário, de três ou mais chávenas de café, pode fazer<br />

reduzir os seios, na medida em que o café possui estrogénios que podem<br />

afectar directamente as hormonas femininas (DA, 26/Out/2008: 17).<br />

Uma investigação britânica, coordenada por Simon Jones da<br />

Universidade de Durham, com uma amostra de 200 estudantes, permitiu<br />

demonstrar que o consumo superior a três chávenas de café provoca alucinações.<br />

As pessoas que consomem mais de sete chávenas de café por dia, em<br />

relação às que bebem menos de uma chávena, têm três vezes mais probabilidades<br />

de ouvir vozes, ver coisas que não existem e até acreditarem que<br />

estão a sentir a presença de pessoas que já morreram (DA, 26/Jan/<strong>2009</strong>: 17).<br />

Em síntese, o lado maligno da substância reside sobretudo no consumo<br />

excessivo podendo, mesmo, conforme diversos estudos, o consumo<br />

moderado de cafeína através do café, chá, comprimidos ou através das<br />

bebidas energéticas ser considerado benigno.<br />

Assim, foram atribuídas ao café potencialidades de prevenção da doença<br />

de Alzheimer, facto este que motivou Rodrigo Cunha, do Centro de<br />

Neurociências de Coimbra, a desenvolver um estudo sobre a forma de evitar<br />

os efeitos negativos do consumo excessivo da cafeína (CM, 17/Jul/<strong>2004</strong>: 18).<br />

É considerado consumo excessivo de cafeína o consumo diário superior<br />

a cinco ou seis chávenas, de tamanho pequeno, de café ou chá, ou de<br />

seis a oito latas de refrigerantes (NG, Jan/2005: 26).<br />

168


Dependências e outras violências…<br />

Uma equipa de investigadores portugueses e franceses estudou o efeito<br />

da cafeína em 4 197 mulheres e 2 820 homens e concluiu que o consumo<br />

regular de cafeína sugere diminuir o risco de declínio cognitivo nas<br />

mulheres sem demência, mas não nos homens (DA, 04/Jul/<strong>2009</strong>: 21).<br />

Parece estar demonstrado que, consumida com moderação, a cafeína pode<br />

estimular o sistema nervoso central e melhorar o desempenho das capacidades<br />

físicas. Alivia as dores e melhora o humor, reduz o estado de fadiga<br />

prolongando o estado de vigilância.<br />

Investigadores da Universidade de Tóquio, dirigidos por Ichiro<br />

Tssuji30, através de um estudo realizado entre 1984 e 1997, com 61 000<br />

pessoas de mais de 40 anos de idade, concluíram que o consumo diário de<br />

mais de uma taça de café, através do ácido clorogénico, que existe na sua<br />

composição, produz uma probabilidade de contrair o cancro do fígado de<br />

0,56% enquanto os consumidores de quantidades inferiores de café apresentam<br />

uma probabilidade de 0,71%. Experiências desenvolvidas em animais<br />

chegaram a idênticas conclusões às verificadas nos humanos, indiciando<br />

ter o consumo regular de café a potencialidade de prevenir o cancro<br />

referido.<br />

Um outro estudo (DA, 20/Fev/2005: 13), publicado no Journal<br />

National Cancer Institute, de Fevereiro de 2005, também desenvolvido<br />

por investigadores japoneses, dirigido por Monami Inoue, do Centro<br />

Nacional do Cancro de Tóquio, durante dez anos, com mais de 90 000<br />

japoneses, refere que o consumo diário de café faz reduzir para metade a<br />

probabilidade de se contrair o cancro do fígado, reduzindo ainda mais a<br />

probabilidade caso o consumo de café se faça três a quatro vezes por dia.<br />

Em 100 000 pessoas que nunca ou quase nunca consomem café, durante<br />

dez anos, 547 pessoas contraíram o referido cancro. Entre as consumidoras<br />

regulares de café nas mesmas circunstâncias apenas 215 contraíram o<br />

cancro do fígado. Também um estudo, coordenado por Emilie Friberg do<br />

Karolinska Institutet de Estocolmo, atribuiu ao café a propriedade de fazer<br />

diminuir o risco de cancro do endométrio (DA, 08/Nov/<strong>2009</strong>: 21).<br />

Realizada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma investigação<br />

sobre o consumo moderado de café veio confirmar que pode ajudar a<br />

30 Resultados apresentados a 22 de Janeiro de 2005, na reunião da Associação Japonesa de<br />

Epidemiologia, em Shiga, e difundidos pela agência noticiosa Kyodo.<br />

169


Alberto Peixoto<br />

prevenir diversas doenças crónicas, nomeadamente a diabetes mellitus tipo<br />

2, doenças de fígado e a doença de Parkinson (DA, 25/Mar/<strong>2009</strong>: 16).<br />

Investigadores do National Cancer Institute, nos Estados Unidos da<br />

América, constataram que o consumo diário de três chávenas de café pode<br />

ajudar a combater a doença do fígado associada à infecção prolongada<br />

pelo vírus da hepatite C (DA, 01/Nov/<strong>2009</strong>: 21).<br />

O chá tem conquistado ao café algumas opções de escolha ao nível do<br />

consumo, o que poderá estar relacionado com os diversos estudos realizados<br />

a nível internacional e que vão atribuindo ao chá propriedades até<br />

então desconhecidas. Foi o caso da investigação realizada na Universidade<br />

do Texas que atribuiu ao chá a propriedade de reduzir os riscos de desenvolver<br />

a diabetes tipo 2, o que pode ser conseguido através do consumo de<br />

pelo menos duas chávenas diárias (DA, 28/Nov/<strong>2009</strong>: 21); ou a investigação<br />

do Centro Oncológico Feist-Weiller, do Centro de Ciências da Saúde<br />

da Universidade do Louisiana que identificou no chá verde a propriedade<br />

de reduzir o avanço do cancro da próstata (DA, 23/Jun/<strong>2009</strong>:16); ou ainda<br />

a investigação japonesa que detectou no chá verde a propriedade de evitar<br />

a doença periodontal (inflamação das gengivas, tecidos e ossos à volta dos<br />

dentes) devido ao seu poder antioxidante que garante uma boa saúde oral.<br />

Embora os Açores se tenham destacado na Europa como produtores de chá,<br />

é o consumo de café que está generalizado visto que, em <strong>2004</strong>, 53,3% do total<br />

da população afirmava consumir regularmente e, em <strong>2009</strong>, passou a ser 56%,<br />

demonstrando que aumentou o consumo regular de café entre os açorianos.<br />

AÇORES CONSUMO REGULAR CONSUMO REGULAR<br />

DE CAFÉ <strong>2004</strong> (%) DE CAFÉ <strong>2009</strong> (%)<br />

Consome 53,3 56,0<br />

Não consome 46,7 44,0<br />

Quadro n.º 84 Consumo regular de café nos Açores.<br />

Em termos absolutos existiam, em <strong>2004</strong>, 128 860 açorianos, e, em <strong>2009</strong>,<br />

137 077 que consumiam café com regularidade. Apesar da diferença ser residual,<br />

o consumo feminino, com 50,1%, em <strong>2004</strong>, ultrapassava o consumo<br />

masculino quantificado em 49,9% do total na região. Em <strong>2009</strong>, os homens,<br />

com 52,5% do consumo total de café, ultrapassaram o consumo feminino.<br />

170


SEXO CONSOME REGULARMENTE CONSOME REGULARMENTE<br />

CAFÉ - <strong>2004</strong> (%) CAFÉ - <strong>2009</strong> (%)<br />

Masculino 49,9 52,5<br />

Feminino 50,1 47,5<br />

Quadro n.º 85 Consumo regular de café por sexos.<br />

Dependências e outras violências…<br />

A prevalência de consumo apresenta de ilha para ilha diferenças bastante<br />

significativas surgindo as populações do Corvo e das Flores como as<br />

maiores consumidoras regulares de café atingindo 94% e 86%, em <strong>2004</strong>,<br />

e 78,9% e 77,7%, em <strong>2009</strong>, respectivamente. Em terceiro lugar, surgiu a<br />

população de São Jorge com 61,9% (<strong>2004</strong>) e 61,3% (<strong>2009</strong>) dos habitantes<br />

a responder afirmativamente.<br />

ILHA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%) Variação (%)<br />

Corvo 94,0 78,9 - 15,1<br />

Faial 51,4 55,7 + 4,3<br />

Flores 86,0 77,7 - 8,3<br />

Graciosa 51,0 44,4 - 6,6<br />

Pico 37,9 47,8 + 9,9<br />

São Jorge 61,9 61,3 - 0,6<br />

São Miguel 49,9 53,4 + 3,5<br />

Santa Maria 49,0 58,8 + 9,8<br />

Terceira 50,3 59,7 + 9,4<br />

Média Açores 53,3 56,0 + 2,7<br />

Quadro n.º 86 Percentagem da população consumidora regular de<br />

café, por ilha.<br />

As Ilhas de São Miguel, Santa Maria e Terceira apresentavam, em<br />

<strong>2004</strong>, prevalências de consumo bastante idênticas encontrando-se as respectivas<br />

populações repartidas, praticamente, em partes iguais entre o consumir<br />

e o não consumir regularmente. Em <strong>2009</strong>, ambas, de igual modo,<br />

apresentaram taxas de crescimento de consumo, embora a população de<br />

Santa Maria se tenha destacado.<br />

A ilha do Pico apresentava-se, em <strong>2004</strong>, como aquela onde menos se<br />

consumia café visto que apenas 37,9% da população admitia fazê-lo. Ali,<br />

171


Alberto Peixoto<br />

em <strong>2009</strong>, o consumo de café aumentou quase dez pontos percentuais colocando<br />

a Graciosa na cauda do consumo de café a nível Açores.<br />

Por concelhos, em <strong>2004</strong>, era a população de Santa Cruz das Flores a<br />

que mais consumia café, tendo, em <strong>2009</strong>, sido ultrapassada pela população<br />

de Vila do Corvo. Apesar de a nível Açores o consumo de café, em <strong>2009</strong>,<br />

em relação a <strong>2004</strong>, ter aumentado à custa dos maiores concelhos, em doze<br />

dos dezanove concelhos açorianos, o consumo de café diminuiu.<br />

CONCELHOS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Angra do Heroísmo 52,8 62,0<br />

Calheta de São Jorge 66,7 62,7<br />

Corvo 94,0 78,9<br />

Horta 51,4 55,7<br />

Lagoa 54,6 43,7<br />

Lajes das Flores 82,1 76,3<br />

Lajes do Pico 65,0 54,3<br />

Madalena 49,5 44,1<br />

Nordeste 53,6 51,3<br />

Ponta Delgada 54,1 59,5<br />

Povoação 32,5 46,5<br />

Praia da Vitória 45,7 54,9<br />

Ribeira Grande 70,0 56,4<br />

São Roque do Pico 47,5 41,7<br />

Santa Cruz da Graciosa 51,0 44,4<br />

Santa Cruz das Flores 97,4 78,0<br />

Velas de São Jorge 54,5 58,2<br />

Vila do Porto 49,0 58,8<br />

Vila Franca do Campo 32,5 51,2<br />

Quadro n.º 87 Consumo regular de café por concelhos.<br />

Se tivermos presente a prevalência das demais substâncias por idades,<br />

ao compararmos com a prevalência do café, denotam-se diferenças bastante<br />

significativas. Quanto ao tabaco, em <strong>2004</strong>, 2,7% dos indivíduos com<br />

menos de 15 anos consumiam com regularidade, nas substâncias ilícitas,<br />

3,1%, no álcool, 16,2%, e no café existia uma propensão de 6,3% dos<br />

172


inquiridos neste grupo etário. Em <strong>2009</strong>, 4,7% dos menores de 15 anos<br />

fumavam, 3,5% já tinham consumido drogas, 24,5% consumiam bebidas<br />

alcoólicas com regularidade e 7,2% consumiam café. O café, nos dois<br />

momentos de análise, depois do álcool, era a substância mais consumida<br />

pelos menores de 15 anos.<br />

As principais diferenças na prevalência do consumo de café surgiram<br />

ao longo da vida. Nas demais substâncias, era notório um crescimento da<br />

prevalência até aos trinta anos de idade. Depois dessa idade, a prevalência<br />

dos consumos diminuía consideravelmente atingindo, nas idades avançadas,<br />

valores residuais. O mesmo não se pode afirmar relativamente ao<br />

café, pois, embora a curva gráfica traduzisse a mesma tendência, era bastante<br />

mais suave transmitindo a ideia de que o consumo de café, em <strong>2004</strong>,<br />

era o mais estabilizado ao longo da vida. Em <strong>2009</strong>, denotou-se uma alteração<br />

na tendência, em virtude de um aumento do consumo, sobretudo a<br />

partir dos 30 anos, sendo a única substância, entre as estudadas, que apresentava<br />

um aumento da prevalência do consumo ao longo da vida.<br />

IDADE CONSOMEM CONSOMEM<br />

REGULARMENTE REGULARMENTE<br />

CAFÉ - <strong>2004</strong> (%) CAFÉ - <strong>2009</strong> (%)<br />

14 e menos 6,3 7,2<br />

15-20 42,5 36,4<br />

21-25 65,1 59,1<br />

26-30 70,3 69,0<br />

31-35 66,7 71,3<br />

36-40 66,2 67,5<br />

41-45 62,1 68,3<br />

46-50 54,9 71,3<br />

51 e mais 43,6 56,1<br />

Quadro n.º 88 Consumo regular de café por idades.<br />

Dependências e outras violências…<br />

É de salientar, nos dois momentos de análise, o facto de, nos escalões<br />

etários mais baixos, terem sido apresentadas prevalências de consumo de<br />

café inferiores às dos demais escalões etários.<br />

173


Alberto Peixoto<br />

ESTADO CONSOMEM NÃO CONSOMEM CONSOMEM NÃO CONSOMEM<br />

CIVIL REGULARMENTE REGULARMENTE REGULARMENTE REGULARMENTE<br />

CAFÉ - <strong>2004</strong> (%) CAFÉ - <strong>2004</strong> (%) CAFÉ - <strong>2009</strong> (%) CAFÉ - <strong>2009</strong> (%)<br />

Solteiro 43,4 56,6 40,6 59,4<br />

Casado 61,1 38,9 67,3 32,7<br />

Divorciado 76,0 24,0 76,7 23,3<br />

Viúvo 40,6 59,4 38,9 61,1<br />

Separado 60,9 39,1 70,9 29,1<br />

União de Facto 85,4 14,6 70,4 29,6<br />

Quadro n.º 89 Consumo regular de café segundo o estado civil.<br />

Tendo em conta o estado civil dos consumidores de café, verificou-se<br />

que os indivíduos solteiros e os viúvos apresentavam menor propensão<br />

para o consumo, enquanto os indivíduos divorciados ou a viver em união<br />

de facto foram os que mais se afirmaram como consumidores regulares.<br />

Os indivíduos casados e os separados apresentaram idênticas prevalências<br />

de consumo.<br />

O consumo de café generalizou-se, tendo, no meio rural, conseguido<br />

maior expressão, com 55,1% da população a afirmar consumir contra<br />

44,9% de consumidores regulares residentes em meio urbano.<br />

RESIDE EM CONSOME REGULARMENTE CAFÉ (%)<br />

Meio rural 55,1<br />

Meio urbano 44,9<br />

Quadro n.º 90 Consumo regular de café segundo a área de<br />

residência.<br />

As pessoas com habilitações literárias mais elevadas apresentaram<br />

taxas de consumo de café superiores às das pessoas com habilitações<br />

literárias mais baixas. Entre as pessoas que não possuem<br />

qualquer nível escolar, entre 30 a 40%, consumiam regularmente<br />

café, ao passo que, entre a população açoriana com cursos superiores,<br />

na casa dos 70%, consumiam, apesar de se ter registado uma<br />

diminuição de 7,9%.<br />

174


Dependências e outras violências…<br />

HABILITAÇÕES CONSUMO DE CAFÉ CONSUMO DE CAFÉ<br />

LITERÁRIAS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Não Sabe Ler 32,0 35,9<br />

Sabe ler e escrever 35,8 40,9<br />

1º Ciclo (4ª cl.) 43,6 60,3<br />

2º Ciclo (6ª cl.) 41,3 51,2<br />

3º Ciclo (9ª cl.) 52,7 49,5<br />

Ensino Secundário (10º-12º) 64,5 60,7<br />

Curso Profissional 68,7 66,7<br />

Curso Superior 76,1 68,2<br />

Quadro n.º 91 Consumo regular de café e habilitações literárias dos consumidores.<br />

O café é tido pela população como um estimulador capaz de combater o<br />

sono, aumentando o estado de vigilância, ideia esta traduzida pela prevalência<br />

de consumo tendo em conta as actividades profissionais desempenhadas.<br />

Se no consumo de substâncias, como álcool ou substâncias ilícitas, era bastante<br />

evidente ser nas profissões menos especializadas e menos exigentes<br />

tecnicamente a prevalência do consumo, no caso do café, são as pessoas que<br />

desempenham actividades profissionais mais qualificadas e mais especializadas<br />

que mais consomem. As actividades de jurista, instrutor, jornalista, psicólogo,<br />

analista, inspector, entre outras, apresentaram uma prevalência de<br />

consumo de café praticamente a 100% enquanto a população doméstica e<br />

agricultora apresentaram taxas de consumo na ordem dos 40%.<br />

Ainda relativamente à prevalência do consumo de café em conjugação<br />

com a actividade profissional, constatou-se que, contrariamente à tendência<br />

verificada nas demais substâncias, quanto mais forte era o vínculo<br />

profissional maior era a prevalência do consumo.<br />

VÍNCULO PROFISSIONAL CONSUMO DE CAFÉ CONSUMO DE CAFÉ<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Serviço ocasional- por conta de outrém 47,4 65,1<br />

Serviço ocasional- por conta própria 58,9 70,2<br />

Contrato a termo 68,9 72,5<br />

Efectivo 71,4 69,5<br />

Outra 48,0 60,7<br />

Quadro n.º 92 Consumo regular de café e vínculos profissionais dos consumidores.<br />

175


Alberto Peixoto<br />

O consumo de café é em grande parte um ritual de cariz social, pelo<br />

que a prevalência apresenta-se como um indício de inserção social, evidenciado<br />

pelas variáveis habilitações literárias, profissão desempenhada e<br />

respectivo vínculo.<br />

As pessoas que consumiam regularmente café apresentavam uma<br />

menor prevalência da prática de violência. Questionada tal população<br />

quanto à prática de um crime, apenas 1,2%, em <strong>2004</strong>, e 2%, em <strong>2009</strong>, dos<br />

consumidores regulares de café o admitem, mais uma vez reforçando a<br />

conclusão de que o consumo regular de café faz parte de um estilo de vida,<br />

caracterizado pela convivência e coesão social.<br />

Não permitindo o presente estudo idêntica conclusão em relação ao<br />

consumo de chá por não ter sido colocada tal questão, tanto no inquérito<br />

de <strong>2004</strong> como no de <strong>2009</strong>, conforme demonstrou uma investigação da<br />

Universidade do Yale, nos Estados Unidos da América, é bem provável<br />

que o consumo de chá apareça também associado a uma diminuição da<br />

propensão para a prática da violência, na medida em que na referida investigação,<br />

coordenada pelo professor de psicologia John Bargh, foram atribuídas<br />

às bebidas quentes a particularidade de aumentarem a sensação de<br />

confiança entre as pessoas e assim diminuírem a conflitualidade (DA,<br />

2/Nov/<strong>2009</strong>: 21).<br />

O PERFIL DO CONSUMIDOR DE CAFÉ<br />

Ao nível do consumo regular de café não existem traços muito distintivos,<br />

tendo-se apresentado como o mais transversal dos consumos aqui<br />

estudados. Todavia é possível afirmar-se que as pessoas com mais habilitações<br />

literárias e que desempenham actividades profissionais mais de<br />

cariz intelectual apresentaram maiores prevalências de consumo.<br />

Os consumidores de café são, maioritariamente, do sexo masculino<br />

(52,6%), divorciados, separados ou a viver em união de facto, mas evidenciaram<br />

maior inserção social com menor propensão para comportamentos<br />

desviantes e demonstraram possuir maior grau de satisfação com a actividade<br />

profissional tendo chegado a 79,2% os que consumiam café e se diziam<br />

satisfeitos.<br />

176


AS DEPENDÊNCIAS E A VIOLÊNCIA<br />

Patrick Baudry (1986) fez um esforço para demonstrar como nos relacionamos<br />

com a violência atraindo-nos ou afastando-nos consoante representa<br />

ou não uma ameaça à nossa vida. É inegável em cada um de nós um<br />

gosto sádico pela possibilidade do seu visionamento. Comprovam-no<br />

desde logo as audiências televisivas. Comprova-no também a quantidade<br />

de obras literárias e estudos que anualmente chegam às bancas.<br />

No que concerne às ligações entre as dependências e o tema da delinquência,<br />

trata-se de “uma consequência das modificações do regime económico<br />

a nível do aparelho mental do toxicodependente, as quais aumentam<br />

o potencial de passagem ao acto, favorecendo os comportamentos delituosos”<br />

(Dias 1978: 109). É desta forma simples que Amaral Dias apresenta<br />

um quadro explicativo que correlaciona os dois fenómenos sociais.<br />

Nem todas as drogas são geradoras de criminalidade e de violência<br />

“faz sentido a ligação: heroína, cocaína – roubo, furto, tráfico; mas já<br />

não faz sentido afirmar, como se pretende vulgarmente, que os crimes contra<br />

pessoas, ou a chamada «criminalidade violenta» seja explicada «pela<br />

droga» em geral(...)” (Agra, 2002: 13). Todavia, tais premissas não podem<br />

ser consideradas válidas para as questões associadas à ingestão de álcool,<br />

que, consumido em excesso, exponencia a agressividade e, consequentemente,<br />

comportamentos criminais praticados contra as pessoas<br />

(Virkkunen, 1987, entre outros já citados).<br />

Socialmente somos treinados para tolerar, ainda que de forma ténue,<br />

a violência, basta recordar quantos de nós não fomos embalados ao sons<br />

da cantilena «[…] Sebastião come tudo […], come tudo sem colher […] e<br />

depois dá pancada na mulher». De uma maneira geral censuramos drasticamente<br />

a violência mais grave, premeditada e fria, ignorando que quer<br />

177


Alberto Peixoto<br />

num caso quer no outro estamos perante uma única realidade que directa<br />

ou indirectamente se entrecruza em pontos comuns.<br />

A violência é um fenómeno ancestral e faz parte da história da<br />

Humanidade tendo sido sistematicamente utilizada para punir, reprovar ou<br />

sancionar por se ter representado socialmente que a repulsa à dor física ou<br />

psicológica permite uma correcção dos comportamentos tornando-os adequados.<br />

Um estudo, publicado na revista científica Science, dirigido pela<br />

investigadora Naomi Eisenberger, da Universidade da Califórnia, em 2003,<br />

parece dar razão a tal representação, ao demonstrar que a dor física ou a<br />

angústia psicológica, sentida pela rejeição social ou pela reprovação verbal,<br />

desencadeiam precisamente a mesma reacção no cérebro. Quer a pessoa seja<br />

vítima de uma agressão física ou de uma agressão psicológica essa informação<br />

afecta o cortex cingulato anterior provocando sensações idênticas.<br />

Passámos a conhecer melhor as reacções e sensações provocadas nos<br />

indivíduos pelo uso da violência e nas relações interpessoais para educação<br />

ou reeducação. A violência torna-se cada vez mais uma forma censurável<br />

e a combater socialmente.<br />

É também longínquo, no tempo, o reconhecimento das ligações entre o<br />

consumo de álcool e os comportamentos violentos. Carlos V, em meados do<br />

século XVI, decidiu que o facto de um indivíduo se encontrar embriagado<br />

no momento da prática de um crime, não poderia ser considerado comportamento<br />

inimputável nem tão pouco servir para atenuar a sua culpa, procurando<br />

deste modo combater alguma frequência comportamental a este nível<br />

bem como uma certa tolerância social que ainda hoje perdura.<br />

Existe um amplo conjunto de factores potenciadores da violência que<br />

não nos permite eleger uma causa a combater. Factores que aparentemente<br />

nos parecem desconexos podem ser determinantes para que tenha ocorrido<br />

este ou aquele comportamento conforme se conclui do estudo de<br />

Craig Anderson da Universidade do Iowa, em 2003, que através de uma<br />

investigação, envolvendo mais de 500 jovens, concluiu que a audição de<br />

canções com letras violentas fazia aumentar a propensão dos jovens para<br />

a prática de actos de violência verbal e física, causando uma espiral de violência<br />

ascendente (JPSP, Mai/2003).<br />

Na vida familiar, beber produz consequências graves sendo os filhos<br />

os que mais sofrem directa ou indirectamente o alcoolismo dos pais devido<br />

à irritabilidade fácil do alcoólico, caracterizada por uma variação sig-<br />

178


Dependências e outras violências…<br />

nificativa de humores. O ciúme e a agressividade no pai alcoólico, por<br />

norma, traduzem-se em maus tratos ao cônjuge que raramente bebe.<br />

Produz um efeito devastador nas relações familiares não sendo um exclusivo<br />

português dado que “85 % dos algozes de crianças (95 % em Paris)<br />

são alcoólicos (o bebedor é um tirano), 75 % das crianças delinquentes<br />

têm ascendência alcoólica, 25 % dos divórcios devem-se ao álcool”<br />

(Harichaux & Humbert, 1978: 79). O abuso sexual é também um dos comportamentos<br />

típicos dos intoxicados, tendo Allen Gomes, psiquiatra especialista<br />

em sexologia, citado estudos efectuados, referindo que 30% dos<br />

abusadores de crianças estão sob o efeito de álcool e 20% sob o efeito da<br />

droga (CM, 14/Mai/2003: 15).<br />

A criminalidade e a delinquência são favorecidas pelo consumo de<br />

álcool sendo também frequente a prevalência do consumo nas mulheres<br />

prostitutas. Os atentados ao pudor, os estupros, os incêndios voluntários,<br />

os roubos, a danificação de objectos públicos e privados e os homicídios<br />

são comportamentos frequentemente relacionados com o consumo excessivo<br />

de álcool por parte dos agressores “65 % dos estupros e 50 % dos<br />

assassinatos devem-se ao álcool” (Harichaux & Humbert, 1978: 84).<br />

Os maus tratos infantis, em geral, através da demonstração científica,<br />

têm sido relacionados com o abuso de substâncias, não se esgotando no<br />

álcool. São de realçar as conexões dos consumos não só num impacto<br />

adverso no funcionamento familiar, como também tem sido identificado<br />

como um sintoma de abuso e negligência infantil (Daro & McCurdy,<br />

1992; Kurzon & Overpeck, 1992; Magura & Landet, 1996; in Brown et al,<br />

1998; Browne & Hamilton, 1998; Costa & Duarte, 2000: 38).<br />

Tem-se verificado que a violência funciona como uma herança dos<br />

filhos em relação aos pais, às suas práticas e aos seus modos de vivência<br />

(Hackler, 1991: 199-215).<br />

Kruttschmith (1993: 61-75) demonstrou que os filhos de pais dependentes,<br />

que viveram quadros de instabilidade, disfuncionalidade e violência,<br />

vêem aumentada a propensão para as práticas delinquentes e consequente<br />

internamento em estabelecimentos para menores.<br />

Em Portugal, os dados estatísticos policiais, relativamente aos<br />

menores, não oferecem fiabilidade na medida em que os actos delinquentes<br />

praticados por menores de 14 anos e descritos em participações de<br />

factos ilícitos por norma não são contabilizados nas estatísticas policiais<br />

179


Alberto Peixoto<br />

por não possuírem número único de identificação de processo crime,<br />

conforme tivemos oportunidade de constatar durante o ano de 2003,<br />

tendo motivado a nossa chamada de atenção. Apesar disso o fenómeno<br />

da delinquência juvenil tem ganho visibilidade, sendo crescente o número<br />

de internamentos nos doze centros educativos que o Instituto de<br />

Reinserção Social possui para o efeito. Das 289 vagas existentes em<br />

Portugal, em finais de 2002, 271 estavam preenchidas por 250 rapazes e<br />

21 raparigas (CM, 01/Jun/2003: 38-39). Em finais de <strong>2004</strong>, já ultrapassavam<br />

o número de vagas, tendo-se chegado aos 300 menores institucionalizados.<br />

O relatório das Nações Unidas, Habitat <strong>2004</strong>, debruçando-se sobre o<br />

período de 1996 a 2000, conclui que Portugal registou um aumento da criminalidade<br />

violenta na ordem dos 28%, colocando-se em quarto lugar a<br />

nível Europeu entre os países onde mais cresceu o fenómeno, que apresentava<br />

uma taxa média de crescimento de 14%. O referido relatório não<br />

aprofundou muito as causas de tal crescimento, sendo um fenómeno predominantemente<br />

urbano e em crescimento praticamente a nível mundial.<br />

No ano de <strong>2004</strong>, apesar de a criminalidade total denunciada, em Portugal,<br />

ter decrescido 1%, a criminalidade violenta cresceu 3%, conforme documentou<br />

o Relatório Anual de Segurança Interna.<br />

Outro dos problemas relacionados com o consumo de substâncias ilícitas<br />

e de álcool é o da sinistralidade rodoviária, que quase se banalizou,<br />

embora, desde 2005, se tenha registado uma melhoria muito significativa.<br />

Tendo nós, em Junho de <strong>2004</strong>, estado, a convite, na Escola Secundária<br />

Domingos Rebelo, perante uma plateia de 45 pessoas, predominantemente<br />

com idades compreendidas entre os 16 e os 18 anos, com o objectivo de em<br />

conjunto se reflectir sobre a sinistralidade rodoviária nos Açores, nos últimos<br />

20 anos, verificámos que todos os presentes tinham um familiar ou um<br />

amigo que já tinha ficado ferido num acidente de viação. Dos 45 presentes,<br />

apenas quatro nunca tinham vivenciado a experiência de participar num acidente<br />

como condutores ou como tripulantes de veículo acidentado.<br />

A condução sob o efeito de substâncias psicotrópicas, tal como de<br />

álcool, foi classificada como crime. Apenas uma questão de meios técnicos<br />

não tem permitido um despiste mais eficiente de tais substâncias, pelo<br />

menos com a mesma facilidade com que as autoridades policiais efectuam<br />

a despistagem do álcool, apesar da necessidade de intervenção global ser<br />

180


Dependências e outras violências…<br />

consensual. O estudo europeu “Drogas e condução”, de 2002, apresentou<br />

79,4% dos jovens europeus a manifestarem-se neste sentido.<br />

O ano de 1999 foi, em Portugal, marcante na preocupação oficial<br />

com a violência doméstica, não como uma descoberta nacional antes<br />

como o reflexo de uma preocupação particular do mundo ocidental e que<br />

em França assumiu particular relevo, conforme documenta o relatório da<br />

Conferência de Alto Nível sobre a Prevenção da Criminalidade, publicado<br />

em 2001.<br />

Foi nos Estados Unidos da América, em 1874, com a questão da violência<br />

praticada entre membros familiares que o fenómeno ganhou visibilidade.<br />

A ajuda veio do caso Mary Ellen, criança maltratada pelos pais, tratada<br />

como um animal acorrentado, que, ao ser descoberta, não conseguiu<br />

nenhum apoio institucional por não existir qualquer lei de protecção a crianças.<br />

Só foi possível um apoio com recurso à lei de protecção dos animais,<br />

por se considerar que a criança também era um animal.<br />

A violência doméstica, de acordo com a Associação Americana de<br />

Psicologia, é “um padrão de comportamentos abusivos que incluem uma<br />

variabilidade de maus tratos possíveis, desde físicos, sexuais e psicológicos,<br />

usados por uma pessoa contra outra, num contexto de intimidade, em<br />

ordem a adquirir poder ou manter essa pessoa controlada” (Costa &<br />

Duarte, 2000:19).<br />

De acordo com a Comissão para a Igualdade dos Direitos das<br />

Mulheres, em Portugal, 19,3% do total das mulheres portuguesas são<br />

vítimas de maus tratos por parte dos maridos. Na União Europeia, estima-se<br />

que uma em cada cinco mulheres seja vítima (DA,<br />

09/Mar/2005: 10).<br />

Neste âmbito, de 2000 a <strong>2009</strong>, os crimes mais frequentes que têm<br />

sido denunciados são as ofensas à integridade física simples, ameaças e<br />

injúrias, reunindo só estes três crimes entre 90 a 95% do total da violência<br />

doméstica praticada nos Açores, repartindo-se os restantes entre os crimes<br />

de ofensas à integridade física por negligência, subtracção de menores e<br />

violação da obrigação de alimentos ou sustento. Os homicídios, embora<br />

possuam muito menor expressão estatística em relação aos demais crimes,<br />

também têm sido registados, surgindo o ano de 2008 com 48 casos no total<br />

a nível nacional, o mais trágico dos últimos anos, tanto nos Açores como<br />

no Continente (DA, 08/Jan/<strong>2009</strong>: 12).<br />

181


Alberto Peixoto<br />

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA N.º<br />

Crimes denunciados em 2000 504<br />

Crimes denunciados em 2001 661<br />

Crimes denunciados em 2002 660<br />

Crimes denunciados em 2003 735<br />

Crimes denunciados em <strong>2004</strong> 731<br />

Crimes denunciados em 2005 939<br />

Crimes denunciados em 2006 920<br />

Crimes denunciados em 2007 820<br />

Crimes denunciados em 2008* 1 259<br />

Crimes denunciados em <strong>2009</strong>* 1 302<br />

Quadro n.º 93 Violência Doméstica nos Açores - (Número<br />

de crimes praticados entre familiares, incluindo cônjuges,<br />

ou análogos, filhos e outros familiares). (Fonte: CRA-PSP)<br />

* Em virtude de a partir de 2008 o Relatório Anual de<br />

Segurança Interna ter passado a apresentar dados mais precisos<br />

sobre a violência doméstica por distritos/regiões autónomas,<br />

optámos por aqueles dados por serem mais globais.<br />

Atendendo aos crimes de violência doméstica, praticados entre familiares<br />

que habitam o mesmo espaço habitacional, nos Açores, em 2000,<br />

registaram-se 504 denúncias, em 2001, 661, em 2002, 660, em 2003, 735,<br />

em <strong>2004</strong>, 731, em 2005, 939, em 2006, 920, em 2007, 820, em 2008, 1<br />

259, e, em <strong>2009</strong>, registaram-se 1 302 denúncias.<br />

Os números apresentam uma clara tendência de crescimento. Os técnicos<br />

e analistas têm-se encarregado de explicar que o aumento do número<br />

de denúncias de violência doméstica não representa um maior recurso à<br />

sua prática. Os dados de <strong>2009</strong> do presente estudo, em comparação com os<br />

dados de <strong>2004</strong>, não demonstram que tal explicação seja assim tão linear.<br />

Falaremos do assunto mais adiante.<br />

Se analisarmos o perfil das vítimas, nos Açores, conforme tendência dos<br />

últimos anos, encontramos predominantemente mulheres, mas os homens<br />

vítimas apresentam, no arquipélago, embora em decréscimo, uma maior<br />

expressão em relação à média nacional quantificada em 15%. Em 2002, de<br />

660 crimes de violência doméstica, 21,3% foram contra homens e 78,7% con-<br />

182


Dependências e outras violências…<br />

tra mulheres. Entre as vítimas, 5% tinham menos de 16 anos e igualmente 5%<br />

tinham mais de 64 anos. Em 2003, de 735 crimes, 17,7% foram contra<br />

homens e 82,3% contra mulheres. Entre as vítimas, 7% tinham menos de 16<br />

anos e 4% tinham mais de 64 anos. Se nos debruçarmos sobre os dados de<br />

<strong>2004</strong>, verificamos que em 731 crimes, 16,1% foram contra homens e 83,9%<br />

contra mulheres, 6,2% têm menos de 16 anos e 5% têm mais de 64 anos. Em<br />

<strong>2009</strong>, entre os crimes de violência doméstica denunciados, 82,6% foram contra<br />

vítimas do sexo feminino e 82,8% tinham 25 ou mais anos de idade.31<br />

Em 2000, houve 504 denúncias, perfazendo em média 1,4 crimes por<br />

dia; em <strong>2004</strong>, em termos médios, verificaram-se duas denúncias por dia e,<br />

em <strong>2009</strong>, registaram-se 3,6 denúncias por dia de violência doméstica, o que<br />

demonstra um crescimento notável. A análise de tais crimes requer cuidados<br />

na sua abordagem, nomeadamente, devido à alteração legislativa verificada<br />

com a Lei n.º 7/2000, de 27 de Maio, que transformou a violência doméstica<br />

em crime público, quando reiterada, conferindo ao Ministério Público,<br />

poder para processar os agressores o que anteriormente apenas pertencia às<br />

vítimas. Não podemos também esquecer a multiplicação de instituições de<br />

apoio às vítimas bem como a atenção dispensada ao fenómeno pelos meios<br />

de comunicação social que desencadearam uma crescente reprovação.<br />

Ao analisarmos os relatórios anuais da União de Mulheres Alternativa<br />

e Resposta (UMAR) do núcleo de São Miguel, constatamos que, entre os<br />

agressores, em média, 50% são alcoólicos, enquanto os dependentes de<br />

drogas são 5%, surgindo a perturbação de comportamento e a infidelidade<br />

como as outras motivações mais frequentes. Assim, depreende-se que<br />

qualquer intervenção neste tipo de criminalidade é difícil e exige preparação<br />

específica dos intervenientes, na medida em que envolve pessoas em<br />

situação de fragilidade física e psicológica a necessitar de uma intervenção<br />

eficaz e imediata, nomeadamente, terapias familiares com vista a evitar<br />

a ruptura, minimizando os riscos. Nem sempre as instituições sociais<br />

com capacidade de intervenção são capazes de o fazer.<br />

Efectuada uma análise comparativa dos dados referentes à violência<br />

doméstica, denota-se uma prevalência pelo menos das denúncias deste<br />

tipo de violência nos Açores em relação à média nacional. Os Açores, em<br />

31 As estatísticas policiais não possuem quaisquer outros dados socio-demográficos que<br />

complementem a caracterização efectuada.<br />

183


Alberto Peixoto<br />

2008, registaram 1 259 denúncias, o que perfaz um rácio de 5,1 denúncias<br />

em cada 1 000 habitantes e, em <strong>2009</strong>, 5,3, por cada 1 000 habitantes. A<br />

nível nacional, em 2008, registaram-se 2,4 denúncias por cada 1 000 habitantes<br />

e 2,7. Portanto a média nacional de denúncias é sensivelmente metade<br />

da média Açores.<br />

Um dado relevante prende-se com o facto de, após a denúncia, a intervenção<br />

judicial, apesar da melhoria dos últimos anos, ainda não ser tão<br />

imediata quanto o desejável, podendo ser um factor que contribui para o<br />

agravamento das relações familiares ainda existentes, devido a actos de<br />

represálias e vinganças.<br />

Em média, 23% dos homicídios, que ocorrem em Portugal, são no<br />

seio da família e resultantes de conflitos familiares, equivalendo a um em<br />

cada quatro homicídios. Em média, em cada mês, há cinco mulheres mortas,<br />

vítimas de maus tratos. No mundo inteiro, segundo Marshall, em<br />

1993, existiam 1,8 milhões de mulheres agredidas pelos maridos e metade<br />

das mulheres assassinadas no mundo eram mortas pelos homens com<br />

quem tinham aceitado partilhar uma vida.<br />

A violência brutal no seio da família é um dado histórico que há dois<br />

mil anos no direito romano permitia ao homem dispor da vida ou da morte<br />

da mulher e das suas filhas. Em Portugal, conforme documentou Francisco<br />

Moita Flores (CM, 01/Set/<strong>2004</strong>: 27), numa investigação sobre a 1.ª<br />

República, entre 1910 e 1926, houve 31 homens que mataram as esposas,<br />

dos quais 18 fizeram-no só por mera desconfiança. Nos restantes 13 casos,<br />

não se conseguiu provar que as esposas tivessem sido adúlteras. O mais<br />

pertinente foi o facto de nenhum destes homens ter sido condenado em<br />

tribunal e alguns deles foram aplaudidos à saída.<br />

Jorge Sá vê a violência doméstica como um fenómeno de gerações,<br />

transitando de pais para filhos como um modelo correcto (CM,<br />

01/Set/<strong>2004</strong>: 26). A vivência da violência doméstica tem sido responsável<br />

pela propagação da criminalidade e de comportamentos violentos, conforme<br />

demonstram os estudos de Emery (1998) e de Hackler (1991).<br />

Para além das questões que sempre se levantam sobre a validade das<br />

estatísticas existentes e das cifras negras, quisemos precisar algumas das<br />

questões em aberto a nível de toda a região, nomeadamente, as variações<br />

de ilha para ilha bem como outras correlações de relevo para a compreensão<br />

do fenómeno.<br />

184


Dependências e outras violências…<br />

Nos Açores, em <strong>2004</strong>, 10,6% do total da população admitiu a existência<br />

de violência doméstica no seio da sua família de origem. O fenómeno não se<br />

apresentou de forma homogénea de ilha para ilha, tendo surgido a ilha do<br />

Pico como o local onde mais era reconhecida a sua existência, conforme<br />

21,3% dos inquiridos. Em seguida surgiu a Graciosa, com 12,3% da população<br />

a admiti-la, São Miguel, com 12,3%, o Faial, com 11,4%, Santa Maria,<br />

com 7,5%, a Terceira, com 6,4%, São Jorge, com 6,2%, Flores, com 0,7%, e<br />

por último surge o Corvo onde ninguém admite a existência de tal facto.<br />

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA<br />

POR ILHA<br />

<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />

Corvo 0,0 6,5<br />

Faial 11,4 29,5<br />

Flores 0,7 20,0<br />

Graciosa 12,3 14,8<br />

Pico 21,3 16,9<br />

São Jorge 6,2 7,7<br />

São Miguel 12,0 15,4<br />

Santa Maria 7,5 25,0<br />

Terceira 6,4 11,3<br />

MÉDIA AÇORES 10,6 16,0<br />

Quadro n.º 94 Dimensão da violência doméstica vivenciada,<br />

por ilha.<br />

Em <strong>2009</strong>, 16% dos açorianos admitiram ter existido violência no seio<br />

da família de origem, tendo 7,6% dito que tal vivência tinha sido na infância,<br />

3,2%, na adolescência, e 5,2% já na idade adulta. À excepção da ilha<br />

do Pico, que registou o valor mais elevado, em <strong>2004</strong>, todas as demais apresentaram<br />

crescimentos.<br />

Os dados apresentados ainda não nos permitem concluir que a prática<br />

real da violência doméstica esteja a aumentar, sendo possível afirmar-se<br />

que existe uma maior consciencialização em torno da problemática sendo<br />

talvez mais fácil admiti-la e até denunciá-la. Mas voltaremos ao assunto.<br />

Sabemos que os índices de desenvolvimento nos Açores não são<br />

homogéneos em todas as ilhas. Sabemos, também, que quanto mais fecha-<br />

185


Alberto Peixoto<br />

da e mais conservadora é a comunidade maior é a dificuldade por parte dos<br />

cidadãos em aceitar novos comportamentos e novos paradigmas. Em<br />

<strong>2004</strong>, na ilha do Corvo, ninguém assumiu ter consumido drogas, nem ninguém<br />

assumiu ter vivenciado violência doméstica no seio da família.<br />

Volvidos cinco anos no Corvo, tais comportamentos foram assumidos<br />

embora aparentemente com alguma timidez a avaliar pelo facto de terem<br />

sido apresentados valores muito baixos. Idêntica leitura se pode fazer em<br />

relação a outras ilhas e a outras problemáticas.<br />

IDADE TÊM RECORDAÇÕES TÊM RECORDAÇÕES<br />

DE VIOLÊNCIA DE VIOLÊNCIA<br />

DOMÉSTICA <strong>2004</strong> (%) DOMÉSTICA <strong>2009</strong> (%)<br />

Menos de 14 3,7 6,2<br />

15-20 16,9 12,2<br />

21-25 14,2 13,6<br />

26-30 10,2 17,5<br />

31-35 10,7 15,9<br />

36-40 11,2 20,1<br />

41-45 11,2 21,2<br />

46-50 11,2 19,8<br />

51 e mais 10,7 17,8<br />

Quadro n.º 95 Prevalência das recordações de vivência da violência<br />

doméstica no seio da família, por idades.<br />

Como já dissemos, inúmeras têm sido as interrogações sobre se a violência<br />

doméstica está ou não em crescimento. Não tínhamos até ao<br />

momento forma estatística de o demonstrar. O quadro comparativo da prevalência<br />

das recordações de vivência da violência doméstica no seio da<br />

família, por idades, dá-nos precisamente essa resposta.<br />

É inegável que houve um aumento da consciencialização em torno da<br />

problemática, nos últimos anos, por isso, em <strong>2004</strong>, eram as pessoas dos 15<br />

aos 25 anos as que mais assumiam ter existido violência doméstica no seio<br />

da família. Chegados a <strong>2009</strong>, verificamos que entre a população dos 15<br />

aos 25 anos houve uma redução, seguindo-se um aumento nos grupos etários<br />

seguintes, demonstrando que, em <strong>2004</strong>, ao nível da prática, havia mais<br />

186


Dependências e outras violências…<br />

violência doméstica do que em <strong>2009</strong>, embora em <strong>2009</strong> tenham existido<br />

muito mais denúncias.<br />

Todavia, o facto de 3,7% dos menores de 15 anos, em <strong>2004</strong>, e 6,2%,<br />

em <strong>2009</strong>, terem admitido a existência de violência no seio da família de<br />

origem levantou-nos algumas dúvidas por contrariar a leitura anterior. Ou<br />

estamos perante uma nova percepção da violência doméstica por parte dos<br />

menores de 15 anos? Ou, então, em 2008 e <strong>2009</strong>, assistimos a um retrocesso<br />

numa tendência de decréscimo real?<br />

Da análise da única taxa de vitimização referente aos Açores conhecida<br />

(Peixoto, <strong>2004</strong>: 92) sabemos que a taxa de denúncia era de 66% do total<br />

de crimes praticados. Em <strong>2009</strong> encontrámos uma taxa de vitimização de<br />

6,9%, o que perfaz uma ocorrência real, nos Açores, em 2008, de 16 890<br />

crimes. Segundo o relatório do Ministério Público, onde consta o número<br />

total de crimes denunciados independentemente da origem, ocorreram 12<br />

245 crimes, o que perfez uma cifra negra de 4 645, ou seja, 38% em relação<br />

ao número de denúncias.<br />

Os dados recolhidos em <strong>2009</strong>, reportando-se ao total de ocorrências criminais<br />

de 2008, apontam para uma diminuição na taxa de denúncia de 66%,<br />

em <strong>2004</strong>, para 62%, em 2008. Se o número de denúncias de crimes de violência<br />

doméstica aumentou significativamente em 2008 e <strong>2009</strong>, conforme<br />

consta no quadro n.º 94, mas a propensão para a denúncia diminuiu, então<br />

estamos perante um aumento real da prática de violência doméstica.32<br />

Apesar de termos apurado que as pessoas residentes em meios rurais, em<br />

geral, têm menos problemas com as polícias ou com os tribunais, a violência<br />

doméstica apresenta-se como um fenómeno transversal e viver no campo ou<br />

na cidade não se apresenta como um factor minimizador ou potenciador existindo<br />

apenas uma variação de seis décimas entre os dois meios.<br />

32 Sabemos que os anos de 2008 e <strong>2009</strong> foram anos de grandes dificuldades económicas,<br />

de aumento do desemprego e até de alguma conflitualidade social. Não dispomos actualmente<br />

de informação no Serviço Regional de Estatística dos Açores referente ao número<br />

de divórcios em 2008 e <strong>2009</strong>, para podermos afirmar se houve um aumento da conflitualidade<br />

familiar materializada num aumento da taxa de divorcialidade. Estimamos<br />

que sim. Contudo é uma questão que fica em aberto e na qual apenas com a continuação<br />

da investigação sociológica poderemos encontrar uma resposta; no entanto, os dados de<br />

que dispomos de momento, levam-nos a crer que o aumento estatístico de 2008 e <strong>2009</strong><br />

do número de denúncias de crimes de violência doméstica traduziu um aumento real da<br />

prática contrariando a tendência de diminuição registada em <strong>2004</strong>.<br />

187


Alberto Peixoto<br />

RESIDÊNCIA TÊM RECORDAÇÕES DE<br />

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA (%)<br />

Meio rural 10,9<br />

Meio urbano 10,3<br />

Quadro n.º 96 Prevalência das recordações de<br />

vivência da violência doméstica no seio da família,<br />

por áreas de residência.<br />

Entre os habitantes em meio rural, 10,9% admitiu a existência de violência<br />

doméstica no seio da família enquanto no meio urbano 10,3% da<br />

população assumiu tal prática.<br />

Apenas analisada em <strong>2004</strong>, a variável separação de familiar próximo<br />

na infância, verificámos que a sua vivência aumenta a propensão para o<br />

consumo de drogas atingindo-se, nesse grupo, uma prevalência de 15,7%,<br />

enquanto entre os que não a vivenciaram apresentaram uma prevalência de<br />

10,3%. Se a separação for em relação ao pai ou à mãe não se vislumbram<br />

diferenças significativas em torno de uma prevalência de 13%. Contudo se<br />

a separação for vivenciada em relação a ambos os progenitores a prevalência<br />

de consumo chega a ultrapassar os 21%.<br />

Conforme já anteriormente verificámos, um impacto negativo no processo<br />

de aprendizagem e formação da personalidade, relacionado com um<br />

ambiente desregular e disfuncional, nomeadamente com violência doméstica,<br />

produz ainda maior impacto ao nível da prevalência de consumo do<br />

que propriamente a vivência da separação.<br />

A exposição à violência doméstica, na infância, potencia a prevalência<br />

do consumo de álcool, mas exerce ainda maior influência na prevalência<br />

do consumo de drogas. Se a média da prevalência de consumo de drogas<br />

era de 10,8%, nos indivíduos expostos à violência doméstica, essa propensão<br />

passava para 21,2%, praticamente o dobro da prevalência média.<br />

Consumir drogas apresenta-se como um comportamento potenciador<br />

da vivência de problemas com as autoridades, visto que entre os indivíduos<br />

que consomem ou consumiram drogas pelo menos uma vez 16,9%<br />

dos indivíduos já tiveram problemas com as autoridades, contra apenas<br />

9,5% dos consumidores que nunca os tiveram.<br />

As pessoas expostas à violência doméstica no seio da família têm<br />

4,4 % de probabilidade de cometerem um crime ou de virem a ser con-<br />

188


Dependências e outras violências…<br />

denadas em tribunal enquanto nas famílias onde não há violência<br />

doméstica a probabilidade de cometerem um crime e de serem condenadas<br />

é de 1,8 %.<br />

O PERFIL DOS INDIVÍDUOS QUE VIVENCIARAM A PRÁTICA DE<br />

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA<br />

O presente estudo permitiu-nos detectar algumas regularidades ao<br />

nível dos indivíduos que vivenciaram a prática da violência no seio das<br />

suas famílias. Assim, detectámos que 11,3% eram do sexo masculino e<br />

20,8 do sexo feminino concluindo-se que não só a violência física e psicológica<br />

é mais praticada contra as mulheres como também os agressores<br />

praticam os actos com maior facilidade na presença de mulheres.<br />

As pessoas que presenciaram a violência doméstica apresentaram<br />

indicadores de possuírem maior probabilidade de desenvolverem relações<br />

pessoais instáveis. Entre as pessoas solteiras, 10,9% disseram ter presenciado<br />

tal violência. Entre as casadas, os que presenciaram a violência agrupavam<br />

15,8%, contudo entre as pessoas que viviam em união de facto a<br />

percentagem atingia os 30,6%, 35,5%, entre as separadas, e 39,9%, entre<br />

as divorciadas.<br />

Conclui-se, também, que quanto mais elevadas as habilitações dos<br />

inquiridos menores eram as percentagens daqueles que tinham presenciado<br />

a prática da violência no seio das suas famílias. Enquanto entre as pessoas<br />

sem saber ler ou escrever 38,5% assumiram ter presenciado a violência,<br />

entre os licenciados apenas 10,4% presenciou tal prática.<br />

Os indivíduos que presenciaram a prática da violência apresentam<br />

maior propensão para a insatisfação profissional, desempenham actividades<br />

profissionais menos qualificadas, possuem vínculos profissionais mais<br />

instáveis e apresentam maiores propensões para o consumo de tabaco,<br />

álcool, drogas e fármacos.<br />

189


O CONSUMO DE FÁRMACOS<br />

Um dos mais recentes estudos sobre o consumo de fármacos, entre os<br />

quais os antipsicóticos, foi divulgado através do Journal of the American<br />

Medical Association. Tendo como população alvo 272 crianças e adolescentes,<br />

demonstrou-se que a toma de tais fármacos faz aumentar o peso e<br />

torna os pacientes obesos. Os investigadores, perante as evidências, recomendaram<br />

ponderação aos médicos e familiares no uso de tais fármacos<br />

(DA, 27/Nov/<strong>2009</strong>: 21).<br />

O consumo de fármacos, no estudo de <strong>2004</strong>, não foi apurado. Fruto de<br />

uma crescente preocupação sobre a problemática, optámos por introduzila<br />

no estudo de <strong>2009</strong>, até porque segundo dados dos inquéritos do IDT, de<br />

2001, em meio escolar, nomeadamente em relação à prevalência do consumo<br />

de tranquilizantes, nos Açores, era superior à média nacional. A nível<br />

nacional, em 2001, 14% dos inquiridos disseram consumi-los com regularidade,<br />

tendo, em 2006, baixado para 7%, enquanto, nos Açores, em 2001,<br />

eram 16% os que os consumiam regularmente, embora, em 2006, também<br />

tenham baixado para 7%.<br />

Segundo dados do Infarmed, entre 2003 e 2008, o consumo de psicofármacos<br />

aumentou 36,6%. Só em 2008 foram consumidos 28 milhões de<br />

embalagens, avaliadas em 372 323 619,00 euros, representando um<br />

aumento de 7,6% em relação a 2007 (DA, 17/Out/<strong>2009</strong>: 10).<br />

Em declarações à Agência Lusa em Outubro de <strong>2009</strong>, o Alto<br />

Comissariado da Saúde anunciou que, em Portugal, a média de consumo<br />

de psicofármacos foi de 152,1 por mil habitantes, em 2008, enquanto a<br />

média europeia referente a 2006 era de 42,3 por cada mil habitantes, estando<br />

por apurar a motivação do consumo português acrescido em relação à<br />

média europeia (DA, 17/Out/<strong>2009</strong>: 10).<br />

191


Alberto Peixoto<br />

Dados referentes a Setembro de <strong>2009</strong> dão conta de um aumento de<br />

3,1% do consumo de antidepressivos. De Janeiro a Setembro de <strong>2009</strong>,<br />

foram vendidas 6 736 milhões de embalagens, o que por si demonstra a<br />

dimensão da realidade (DA, 25/Nov/<strong>2009</strong>: 9).<br />

Conforme já dissemos, colocou-se a questão do consumo de tranquilizantes,<br />

sedativos e anti-depressivos apenas no estudo de <strong>2009</strong>, tendo-se<br />

apurado que 16,7% dos açorianos tinham consumido tais medicamentos<br />

nos últimos trinta dias que antecederam a presente inquirição. Entre o total<br />

de tais consumidores, 28% eram-no sem qualquer prescrição médica.<br />

CONSUMO NOS ÚLTIMOS 30 DIAS DE CONSUMO<br />

TRANQUILIZANTES/SEDATIVOS/ANTIDEPRESSIVOS <strong>2009</strong> (%)<br />

Sim 16,7<br />

Não 83,3<br />

Quadro n.º 97 Prevalência do consumo de fármacos psicoactivos, nos<br />

últimos 30 dias.<br />

Os dados referentes à população açoriana, em <strong>2009</strong>, eram bastante<br />

mais elevados do que os encontrados entre a população estudantil de 2006<br />

pelo IDT, e sete décimas mais elevado que o de 2001, o que pode indiciar<br />

o aumento da propensão de tal consumo entre os açorianos.<br />

Através dos dados recolhidos sabemos que, nos Açores, as pessoas<br />

com maior propensão para o consumo de psicofarmacos têm mais de 35<br />

anos e entre os 15 e os 18 anos a prevalência de consumo, nos Açores era,<br />

em <strong>2009</strong>, de 4,8%, portanto ainda mais baixa do que a prevalência de 7%<br />

encontrada pelo IDT em 2006, podendo falar-se de uma redução de 2,2%.<br />

Sem possuirmos dados de avaliação sobre o consumo de psicofármacos<br />

para além dos 18 anos, antes de <strong>2009</strong>, não é possível fazer-se qualquer<br />

caracterização da evolução do fenómeno, no entanto podemos afirmar,<br />

com segurança, que qualquer acção a desenvolver no âmbito do combate<br />

à prevalência de consumo terá de ser muito específica e sobretudo entre<br />

as mulheres e com idades a partir dos 35 anos.<br />

As pessoas com menores habilitações literárias até ao 2.º ciclo eram<br />

as que apresentavam a maior propensão para o consumo de tais substâncias,<br />

mas ao mesmo tempo eram as que menos se automedicavam. Entre<br />

192


as pessoas com habilitações literárias acima do 9.º ano de escolaridade até<br />

ao 12.º ano, assistiu-se a um processo inverso, ou seja, a prevalência de<br />

consumo era menor, mas automedicavam-se mais. As pessoas com cursos<br />

superiores, entre as que possuíam habilitações acima do 9.º ano, eram as<br />

que consumiam mais psicofármacos apesar de se automedicarem menos<br />

que as anteriores, mas 10% mais do que aquelas que não possuíam habilitações<br />

literárias.<br />

O PERFIL DO CONSUMIDOR DE TRANQUILIZANTES/SEDATIVOS/<br />

ANTIDEPRESSIVOS<br />

Dependências e outras violências…<br />

Entre aqueles que assumiram ter consumido tranquilizantes ou similares<br />

nos últimos trinta dias, 77,7% eram do sexo feminino contra 22,3%<br />

do sexo masculino, com idades a partir dos 35 anos. Se em relação ao tabaco,<br />

álcool e substâncias ilícitas estamos perante uma maior prevalência<br />

masculina abaixo dos 35 anos, o consumo de fármacos é um fenómeno<br />

predominantemente feminino e com maior prevalência para além dos 35<br />

anos de idade.<br />

A propensão de consumo daqueles fármacos entre as pessoas viúvas é<br />

de 65,3%, constituindo por isso grupo de risco, seguindo-se as separadas,<br />

com 29,0%, e as divorciadas, com 24,4%. As pessoas com menor propensão<br />

são as solteiras, com apenas 8,5% de prevalência, e as que vivem em<br />

união de facto, com 16,3%.<br />

Entre os consumidores de tranquilizantes, sedativos e antidepressivos<br />

surge como regularidade uma maior insatisfação pessoal em relação àqueles<br />

que afirmaram não os consumir, uma maior propensão para o consumo<br />

de café (56,9%), uma menor propensão para o consumo de tabaco, álcool<br />

ou drogas embora 35,3% tenham admitido já ter tentado abandonar a<br />

dependência de uma daquelas substâncias.<br />

193


A PREVALÊNCIA DA EMBRIAGUEZ<br />

Num estudo a nível de 35 países, os jovens com 16 anos, nos últimos trinta<br />

dias, tomaram cinco ou mais bebidas alcoólicas. Em 2003, 25% dos inquiridos<br />

assumiu consumos excessivos de álcool e, em 2007, subiu para 56%.<br />

Beber até cair para o lado aumentou em Portugal (DA, 28/Mar/<strong>2009</strong>: 13).<br />

No inquérito à população geral (15-64 anos), de 2007, dirigido por<br />

Casimiro Balsa, conclui-se que a maior parte da população consumidora,<br />

entre 50 a 64 por cento, disse nunca ter ficado embriagada, independentemente<br />

de consumir álcool regularmente. Com um número de experiências<br />

de embriaguez igual ou inferior a cinco vezes ao longo da vida, estavam<br />

27 por cento dos consumidores, 23 por cento no último ano e 24 por<br />

cento no último mês. Com mais de cinco casos de embriaguez registaram-<br />

-se 16 por cento dos consumidores ao longo da vida, seis por cento, no último<br />

ano, e igual valor no último mês.<br />

Os dados referentes a <strong>2009</strong> dizem-nos que 53,9% da população açoriana<br />

já se embriagou, entre os quais 5,4% embriagaram-se há menos de<br />

uma semana, 7,4% disse ter sido entre uma semana e um mês, 15,9% disse<br />

ter sido entre um mês e um ano e 25,2% disse ter-se embriagado há vários<br />

anos atrás. Admitiram possuir familiares que consomem bebidas alcoólicas<br />

em excesso 17,2% dos inquiridos.<br />

Segundo as conclusões obtidas, em relação ao estudo nacional de<br />

2007, de Casimiro Balsa, nos Açores, há mais população a assumir ter-se<br />

já embriagado, são mais frequentes as bebedeiras ao longo da vida, no<br />

último ano e no último mês.<br />

Um estudo do College London, realizado em 21 países entre 1999 e<br />

2001, demonstrou que 18% dos jovens universitários do sexo masculino<br />

consumiam álcool de forma exagerada, situando-se no 13.º lugar, contra<br />

195


Alberto Peixoto<br />

9%, entre as mulheres universitárias portuguesas, que se situavam no 11.º<br />

lugar, ocupando a Irlanda, tanto ao nível feminino como masculino o 1.º<br />

lugar da lista de consumos excessivos (CA, 24/Nov/2006: 14).<br />

No presente estudo, apurámos que, nos Açores, entre a população<br />

estudantil, 51,4% consumiam bebidas alcoólicas com regularidade<br />

sendo que do total 43,4% consumiam ocasionalmente, 7,2% todas as<br />

semanas e 0,8% consumiam todos os dias. Assumiram que já se tinham<br />

embriagado 38,9% dos estudantes dos quais 6,9% há menos de uma<br />

semana, 11,3% há menos de um mês, 15,7% há menos de um ano e 5%<br />

há vários anos atrás.<br />

A nível profissional os consumos excessivos de álcool sobressaíram<br />

em sete grupos. Entre os estudantes conforme já vimos, entre os pedreiros,<br />

carpinteiros, electricistas, agricultores, taxistas e entre os desempregados.<br />

PROFISSÕES Assumiram terem-se já<br />

embriagado (%)<br />

Agricultores 77,9<br />

Carpinteiros 88,6<br />

Desempregados 65,2<br />

Electricistas 78,3<br />

Estudantes 51,4<br />

Pedreiros 81,6<br />

Taxistas 61,7<br />

Quadro n.º 98 Regularidade de consumo de<br />

drogas por profissões.<br />

Entre os taxistas inquiridos e que assumiram já se terem embriagado,<br />

2,9% disseram ter sido há menos de uma semana e 2,9%, ter sido<br />

há menos de um mês. Entre os electricistas, 8,7% disseram ter-se embriagado<br />

há menos de uma semana. Os carpinteiros disseram terem-se<br />

embriagado há menos de uma semana, 2,8%, e 14,3%, há menos de um<br />

mês.<br />

Entre os agricultores, 9,3% tinham-se embriagado há menos de uma<br />

semana e 9,3%, há menos de um mês. Entre os desempregados, 8,0%<br />

tinham-se embriagado há menos de uma semana e 9,4%, há menos de um<br />

196


mês. Foi entre os pedreiros que se registaram as frequências mais elevadas<br />

chegando a 11,9% os que se tinham embriagado há menos de uma semana<br />

e 10,1%, há menos de um mês.<br />

O PERFIL NA EMBRIAGUEZ<br />

Dependências e outras violências…<br />

Entre os que assumiram já se terem embriagado, são maioritariamente<br />

do sexo masculino (62,8%). Ao nível do estado civil e da propensão<br />

para a embriaguez, são os indivíduos a viver em união de facto seguidos<br />

dos divorciados e dos casados.<br />

Em termos de habilitações literárias, denota-se que, paradoxalmente,<br />

à medida que aumenta o nível de escolaridade, aumenta de igual modo a<br />

prevalência da embriaguez. Se entre os indivíduos que não sabem ler ou<br />

escrever há uma prevalência de 28,2%, entre os que possuem o 1.º ciclo do<br />

ensino básico existe uma prevalência de 47,0%, entre os que possuem o 3.º<br />

ciclo, aumenta para 51,7%, e entre os que possuem cursos superiores há<br />

uma prevalência de embriaguez de 70,6%. A principal diferença na prevalência<br />

da embriaguez por habilitações literárias reside no facto de o espaço<br />

temporal entre o último episódio e o momento do inquérito aumentar à<br />

medida que aumenta o nível das habilitações literárias. Em síntese, há uma<br />

maior prevalência de consumo de consumo de bebidas alcoólicas entre as<br />

pessoas com mais habilitações literárias, mas as pessoas com menos habilitações<br />

literárias embriagam-se muito mais vezes.<br />

197


O ABANDONO DA DEPENDÊNCIA E RECUPERAÇÃO<br />

A intervenção e recuperação dos dependentes surge como um dos<br />

mais complexos esforços e a prová-lo estão as várias centenas de indivíduos<br />

repatriados, dos Estados Unidos e do Canadá para os Açores, com um<br />

historial de problemas, conflitos, marginalidades e afinidades com as<br />

dependências, ao longo dos últimos 30 anos.33<br />

A mudança de meio conjugada com a necessidade de apoio técnico<br />

e familiar apresentam-se como fundamentais para o abandono bem<br />

sucedido de uma dependência. Tendo-se questionado a população sobre<br />

o que se sente com a satisfação de um vício ou dependência, em <strong>2004</strong>,<br />

54,6% e, 73,4%, em <strong>2009</strong>, dos inquiridos responderam sentir precisamente<br />

uma sensação de satisfação. Uma sensação de indiferença foi<br />

apontada por 13,6%, em <strong>2004</strong>, 12%, dos inquiridos, em <strong>2009</strong>, enquanto<br />

7,5% (<strong>2004</strong>), 3,4% (<strong>2009</strong>) disseram ser frustração, 5,5% (<strong>2004</strong>),<br />

3,2% (<strong>2009</strong>), revolta, 5,3% (<strong>2004</strong>), arrependimento, 4,5% (<strong>2004</strong>), 0,3%<br />

(<strong>2009</strong>) medo e 9% (<strong>2004</strong>), 2,4% (<strong>2009</strong>) disseram ser outra sensação não<br />

especificada.<br />

33 Com uma intervenção assente em vários pilares, nomeadamente, alojamento, alimentação,<br />

emprego, saúde e apoio burocrático tem-se conseguido resultados bastante<br />

satisfatórios, na medida em que se verifica uma taxa de sucesso de inserção<br />

na ordem dos 70%, conforme referiu Telma Silva, então Directora do Centro de<br />

Apoio ao Repatriado (EN, 02/07/<strong>2004</strong>: 7-8). Do universo de 207 indivíduos repatriados,<br />

que receberam apoio do centro, em 2003, 36 foram novos repatriamentos<br />

para S. Miguel, 51 encontravam-se em fase de transição, 73 eram casos estáveis,<br />

apresentando níveis de inserção satisfatórios. Quanto a indivíduos com dependências<br />

crónicas, existiam 43, os quais iam tentando as desintoxicações, mas as recaídas<br />

sucediam-se.<br />

199


Alberto Peixoto<br />

NA SATISFAÇÃO DE <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

UM VÍCIO SENTE (%) (%)<br />

Satisfação 54,6 73,4<br />

Revolta 5,5 3,2<br />

Indiferença 13,6 12,0<br />

Medo 4,5 0,3<br />

Arrependimento 5,3 5,3<br />

Frustração 7,5 3,4<br />

Outra 9,0 2,4<br />

Quadro n.º 99 Sensação vivenciada com a satisfação<br />

de um vício.<br />

Um artigo científico, publicado na edição de Maio de 2007 da revista<br />

francesa Science & Vie, dava conta de que todas as drogas, desde o tabaco<br />

ao álcool, passando pelas substâncias ilícitas, têm em comum a capacidade<br />

de alteração da actividade cerebral e o despertar de um mecanismo<br />

de recompensa e prazer, por via da libertação de dopamina. Quanto maior<br />

a dopamina libertada maior é o prazer e o potencial viciante da substância.<br />

No mesmo artigo, pode ler-se que o jogo a dinheiro dos casinos, a internet<br />

ou os jogos de vídeo activam no cérebro as mesmas zonas que as activadas<br />

por substâncias como a heroína ou a cocaína, surgindo a falta de autodomínio<br />

como o principal factor para a persistência na dependência, admitindo-se<br />

a existência de factores genético-hereditários que contribuem para<br />

uma maior vulnerabilidade do indivíduo apesar do grau de dependência<br />

também variar de substância para substância. Considerando como padrão a<br />

repetição de consumo por seis vezes, 76% dos consumidores de cocaína tornam-se<br />

dependentes, na heroína, 73%, no tabaco, 60%, no álcool, 39%, nas<br />

anfetaminas, 26%, na cannabis, 23%, e nos medicamentos, 20%.<br />

Um estudo da Washington University School of Medicine, em St. Louis,<br />

nos Estados Unidos, demonstrou que os genes responsáveis pela propensão para<br />

a dependência de álcool são os mesmos para a propensão da dependência de<br />

cannabis. Apesar de a questão hereditária possuir um peso de cerca de 50%, não<br />

é determinista visto que 40 a 50% das pessoas que se tornam dependentes de<br />

uma ou de outra substância é por influências ambientais (DA, 25/Dez/<strong>2009</strong>: 21).<br />

Sendo elevadas as taxas de recaídas dos dependentes, em termos médios,<br />

no caso da heroína, 60 a 75% no primeiro mês, na cocaína, 45% nos primeiros<br />

seis meses, no tabaco, 70 a 90% nos primeiros seis meses, no álcool 50% nos<br />

200


Dependências e outras violências…<br />

primeiros seis meses (no caso dos medicamentos, cannabis, alucinogénios e<br />

anfetaminas não existem dados), a indústria farmacêutica tem procurado a descoberta<br />

de bloqueadores da adição e até uma vacina (AE, 25/Jun/2007: 15).<br />

Em média, 20,8% (<strong>2004</strong>), 20,2% (<strong>2009</strong>) da população açoriana já tentou<br />

abandonar uma dependência, ou seja, cerca de 50 000 pessoas assumiram-se<br />

como dependentes de pelo menos uma substância ao ponto de sentirem<br />

a necessidade de abandonar o seu consumo.<br />

Santa Maria, em <strong>2004</strong>, apresentou-se como o local onde mais se tinha<br />

tentado abandonar uma dependência com 31,5% da população a responder<br />

nesse sentido. No Pico, 24,8% da população também já o tinha tentado, em<br />

São Miguel, 22,4% da população, e, na ilha Terceira, 20,7%. Em <strong>2009</strong>, registaram-se<br />

alterações significativas. Para além da particularidade do Corvo que<br />

não pode ser excessivamente valorizada devido ao efeito alavanca das respostas,<br />

tendo em conta a dimensão reduzida da população, a maior prevalência<br />

de tentativas de abandono de dependências passou a ser na ilha Terceira,<br />

com 23,9% da população a responder nesse sentido. Depois da prevalência<br />

da ilha Terceira seguiu-se a prevalência de abandono do Faial, com 21,9%,<br />

portanto, 1,7% acima da média Açores de 20,2%. Foi nas Flores, com 13,6%,<br />

que se registou a mais baixa preocupação em abandonar as dependências.<br />

TENTATIVAS DE ABANDONO <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

DE DEPENDÊNCIA POR ILHA (%) (%)<br />

Corvo 4,0 26,1<br />

Faial 19,9 21,9<br />

Flores 4,0 13,6<br />

Graciosa 16,7 14,8<br />

Pico 24,8 18,3<br />

São Jorge 15,4 14,4<br />

São Miguel 22,4 16,5<br />

Santa Maria 31,5 18,8<br />

Terceira 20,7 23,9<br />

MÉDIA AÇORES 20,8 20,2<br />

Quadro n.º 100 Tentativas de abandono de dependências por ilha.<br />

A substância que, nos Açores, tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, mais se<br />

tentou abandonar foi o tabaco, com 15,8% e 17% da população, respectivamente.<br />

Em termos absolutos corresponde a cerca de 40 mil indivíduos.<br />

201


Alberto Peixoto<br />

Santa Maria, em <strong>2004</strong>, com 29,5% (1 645 indivíduos) foi onde mais<br />

pessoas tinham tentado abandonar o tabaco. No Pico, 2 532 indivíduos<br />

(17,1%), em São Miguel, 21 979 pessoas, (16,7%), no Faial 2 425<br />

(16,1%), na Terceira, 8 933 (16%), na Graciosa, 679 (14,2%), em São<br />

Jorge, 706 (7,3%), enquanto nas Flores, 160 e Corvo, 17 (4%) da população<br />

em cada uma das ilhas já tinha tentado abandonar o tabaco.<br />

Em <strong>2009</strong> registámos a tentativa de abandono da dependência de tabaco<br />

de 127 indivíduos no Corvo, 3 423, no Faial, 559, nas Flores, 726, na<br />

Graciosa, 2 717, no Pico, 1 364, em São Jorge, 22 079, em São Miguel,<br />

1 048, em Santa Maria, e 13 366, na Terceira.<br />

O abandono da dependência de substâncias ilícitas, em <strong>2004</strong>, tinha sido<br />

tentada por 2,1% da população açoriana, correspondendo a 5 077 pessoas. Em<br />

São Miguel, 4 211 indivíduos tentaram abandonar o consumo de drogas, em<br />

Santa Maria, 112 pessoas, no Pico, 237, na Graciosa, 72, em São Jorge, 116,<br />

na Terceira, 614, no Faial, 136, e nas Flores e Corvo não existia ninguém que<br />

tivesse tentado o abandono de tal dependência em consonância com o facto<br />

de não ter sido identificado ninguém a assumir consumir tais substâncias.<br />

Em <strong>2009</strong>, a percentagem de indivíduos que, nos Açores, já tinha tentado<br />

o abandono da dependência de substâncias ilícitas aumentou uma décima<br />

correspondendo ao número total de 5 385 dependentes. São Miguel foi a ilha<br />

onde mais tentativas de abandono se registaram seguindo-se o Pico.<br />

TENTATIVAS DIFERENCIADAS<br />

DE ABANDONO DE DEPENDÊNCIA<br />

POR ILHA, EM <strong>2009</strong><br />

TABACO ÁLCOOL MEDICAMENTOS DROGA OUTRA<br />

Corvo 26,0 0,0 0,0 0,0 0,1<br />

Faial 18,4 1,5 0,7 0,4 0,4<br />

Flores 12,2 0,0 0,4 0,5 0,5<br />

Graciosa 14,1 0,0 0,3 0,1 0,3<br />

Pico 15,8 0,4 0,0 1,3 0,8<br />

São Jorge 13,6 0,6 0,0 0,0 0,2<br />

São Miguel 11,7 0,2 0,5 3,9 0,2<br />

Santa Maria 18,1 0,6 0,1 0,0 0,0<br />

Terceira 22,9 0,3 0,2 0,2 0,3<br />

MÉDIA AÇORES 17,0 1,3 0,5 2,2 0,2<br />

Quadro n.º 101 Tentativas de abandono de dependências, apuradas em <strong>2009</strong>, por ilha e por substâncias.<br />

202


Dependências e outras violências…<br />

Do total da população açoriana, em <strong>2004</strong>, menos de 1%, 1,3% em <strong>2009</strong>,<br />

tinha tentado abandonar o consumo de álcool, em número absoluto, cerca de<br />

3 000 pessoas. Percentualmente, em <strong>2004</strong>, foi no Corvo onde se registou o<br />

número mais elevado de pessoas que tentaram o abandono do álcool, correspondendo<br />

a 9 pessoas de um universo de 425. Em <strong>2009</strong>, nenhum indivíduo<br />

assumiu a tentativa de abandono no Corvo, nas Flores, ou na Graciosa. No<br />

Faial, em <strong>2004</strong>, tinham tentado abandonar 45 indivíduos e, em <strong>2009</strong>, foi<br />

quando percentualmente mais tentativas se registaram.34<br />

A maioria dos dependentes de qualquer substância, em geral, afirma<br />

pretender abandonar a dependência, surgindo o tabaco como a substância<br />

que mais pessoas pretendem evitar embora apenas 3 a 7% dos fumadores<br />

o consiga sem qualquer ajuda, conforme divulgado num estudo de Sofia<br />

Ravara por uma especialista de desabituação do Hospital Amadora-Sintra<br />

(SPP, <strong>2004</strong>). Se os fumadores forem apoiados por técnicos, a taxa de<br />

sucesso pode variar entre 15 a 30%, conforme o mesmo estudo.<br />

RESULTADOS POSITIVOS DE <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

ABANDONO DE DEPENDÊNCIA POR ILHA (%) (%)<br />

Corvo 33,3 0,0<br />

Faial 36,5 26,3<br />

Flores 16,6 6,7<br />

Graciosa 29,4 0,0<br />

Pico 13,9 30,0<br />

São Jorge 40,0 3,8<br />

São Miguel 33,8 9,5<br />

Santa Maria 12,6 9,1<br />

Terceira 44,5 15,5<br />

MÉDIA AÇORES 32,3 12,5<br />

Quadro n.º 102 Taxa de sucesso obtida com as tentativas de<br />

abandono de dependências por ilha.<br />

Nos Açores, em <strong>2004</strong>, quantificámos a taxa geral de sucesso de abandono<br />

de dependência em 32,3% entre os que efectuaram tal esforço, tendo sido na<br />

34 É possível que as nossas estimativas contenham uma margem de erro, contudo recorde-<br />

-se que, conforme já referimos, só no ano de <strong>2009</strong>, na Ilha de São Miguel, as várias instituições<br />

que tratam toxicodependentes registaram 813 tentativas de desintoxicação.<br />

203


Alberto Peixoto<br />

ilha Terceira onde se verificaram os resultados positivos de abandono mais significativos,<br />

atingindo uma taxa de sucesso de 44,5%, seguindo--se São Jorge,<br />

com uma taxa de 40%, Faial, com 36,5%, São Miguel, com 33,8%, Corvo,<br />

com 33,3%, Graciosa, com 29,4%, Flores, com 16,6%, Pico, com 13,9% e<br />

Santa Maria apresentou-se como o local onde mais dificuldade tinham os que<br />

tentavam abandonar uma qualquer dependência. Em <strong>2009</strong>, as taxas de sucesso<br />

decaíram consideravelmente, tendo a média Açores passado para apenas<br />

12,5%, bem mais próxima dos valores apresentados no estudo de Sofia Ravara.<br />

Se é sobretudo prazer o que se sente com a satisfação de uma dependência,<br />

compreende-se facilmente como é difícil o seu abandono, daí que<br />

68,8% (<strong>2004</strong>), 75,9% (<strong>2009</strong>) dos inquiridos tenham apontado a incapacidade<br />

individual como a principal causa do insucesso. A falta de apoio dos<br />

amigos foi apontada por 10,1% (<strong>2004</strong>), 5,4% (<strong>2009</strong>) dos indivíduos que<br />

tentaram abandonar um determinado consumo e, como terceiro factor, em<br />

<strong>2004</strong>, verificou-se um outro não especificado conforme 9,4% e, em <strong>2009</strong>,<br />

a falta de apoio familiar (7,4%).<br />

RESULTADO DA TENTATIVA FOI <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />

NEGATIVO POR (%) (%)<br />

Falta de apoio familiar 3,0 7,4<br />

Falta de apoio dos amigos 10,1 5,4<br />

Incapacidade individual 68,8 75,9<br />

Dificuldades de inserção num novo grupo 3,0 1,0<br />

Problemas habitacionais 0,7 1,1<br />

Problemas familiares 3,6 4,3<br />

Culpa dos técnicos de apoio 1,4 0,3<br />

<strong>Outras</strong> 9,4 4,6<br />

Quadro n.º 103 Causas do insucesso obtido nas tentativas de<br />

abandono de dependências.<br />

A existência de problemas familiares foi apontada por 3,6% (<strong>2004</strong>),<br />

4,3% (<strong>2009</strong>) dos inquiridos como factor de insucesso. Apenas 1,4%<br />

(<strong>2004</strong>), 0,3% (<strong>2009</strong>) dos inquiridos considerava ser por culpa dos técnicos<br />

de apoio e 0,7% (<strong>2004</strong>), 1,1% (<strong>2009</strong>) considerava serem os problemas<br />

habitacionais a principal causa de ter fracassado a tentativa de abandono<br />

da dependência de que eram portadores.<br />

204


SÍNTESE CONCLUSIVA<br />

Nos Açores, em particular, nos últimos cinco anos, foi demonstrada<br />

uma significativa preocupação política com o problema das dependências,<br />

materializada, como vimos, na criação da Direcção Regional da Prevenção<br />

e do Combate às Dependências, em 2008. Além da visibilidade que se pretendeu<br />

conferir à problemática, disponibilizou-se uma dotação orçamental<br />

anual na ordem de 1,5 milhões de euros, três vezes superior à disponibilizada<br />

anualmente, entre <strong>2004</strong> e 2008, no âmbito do então Plano Regional<br />

de Prevenção de Mau Uso e Abuso de Substâncias Psicoactivas/Droga.<br />

Entendida pela tutela a necessidade de actualização do inquérito à<br />

população em geral, realizado em <strong>2004</strong>, não se pode deixar de considerar<br />

um acto de coragem, tendo em conta o melindre do objecto em estudo.<br />

Decorridos cinco anos entre os dois momentos de avaliação, a primeira<br />

grande conclusão deriva do facto de se manter constante a premissa de<br />

que a transformação de um consumo esporádico numa dependência resulta<br />

de um conjunto de circunstâncias condicionadas por factores de ordem<br />

bio-psico-sociológicos.<br />

O objecto de estudo analisado, não sendo linear mas potenciador de<br />

acesos debates, remete-nos para implicações a vários níveis, que vão da<br />

esfera individual, passando pela familiar, social, médica, económica, judicial<br />

e até política.<br />

Em termos gerais, tal como tínhamos verificado em <strong>2004</strong>, podemos<br />

afirmar que existe um desconformismo entre as representações sociais em<br />

torno da problemática das dependências em particular das substâncias ilícitas<br />

e as realidades descritas pelos diferentes estudos citados, realizados<br />

a nível europeu. Se compararmos os diferentes indicadores, apesar das<br />

muitas preocupações que devem suscitar, os Açores apresentam médias de<br />

205


Alberto Peixoto<br />

prevalência de consumo de droga, bem como números de quadros de<br />

dependência, mais baixos.<br />

Outra das realidades identificadas na região, comum a outras regiões,<br />

diz respeito ao facto de se assistir a uma crescente vulgarização do consumo<br />

de drogas e em contra-corrente uma crescente censura social em torno<br />

do consumo de tabaco, enquanto em relação ao consumo de álcool se tem<br />

mantido uma grande tolerância social.<br />

Se pretendermos elaborar uma escala de preocupações sociais em função<br />

de indicadores como a dimensão, consequências e custos, conclui-se<br />

que são possíveis várias leituras. Em termos de dimensão e custos ao nível<br />

da saúde, resultantes do consumo, em primeiro lugar surge a dependência<br />

do tabaco, seguindo-se o álcool e por fim a droga. Se tivermos em conta<br />

as relações interpessoais e a propensão para a violência, a maior preocupação<br />

advém do consumo abusivo de álcool. Ao nível do sentimento de<br />

segurança e da propensão para a prática da criminalidade aquisitiva, a<br />

maior preocupação resulta dos quadros de dependência de drogas, apesar<br />

de a sua prevalência ser seis vezes inferior à prevalência da dependência<br />

de álcool e catorze vezes inferior à dependência do tabaco.<br />

Conforme vimos, estimativas europeias apontam para que 15% do<br />

total do orçamento do sector saúde seja gasto em cuidados médicos relacionados<br />

com a dependência do tabaco. Com base nesta estimativa, tendo<br />

em conta os planos anuais do sector saúde dos Açores entre 2005 e <strong>2009</strong>,<br />

o tabagismo em cuidados de saúde poderá ter representado um encargo de<br />

13,1 milhões de euros, ou seja, 2,6 milhões de euros por ano. Se juntarmos<br />

a este valor o que se pode extrapolar em relação a gastos directos e indirectos<br />

relacionados com os demais quadros de dependências é bem perceptível<br />

a dimensão da problemática.<br />

Em <strong>2004</strong>, existiam, nos Açores, 79 782 fumadores (33%) e em<br />

cinco anos assistiu-se a uma redução de 1%, representando menos 1 453<br />

fumadores (31%). Entre o número estimado de 78 329 fumadores, em<br />

<strong>2009</strong>, 48 563 eram do sexo masculino e 29 766 do sexo feminino. Além<br />

de se ter registado uma diminuição do número de fumadores em geral,<br />

registou-se de igual modo uma diminuição da frequência de consumo de<br />

tabaco.<br />

A redução do número de fumadores fez-se de forma desigual entre<br />

homens e mulheres. Enquanto entre os homens o consumo diminuiu<br />

206


Dependências e outras violências…<br />

11,3%, entre as mulheres aumentou 18,8%. Acresce referir que a redução<br />

no número de fumadores ficou a dever-se à diminuição de novos fumadores<br />

do sexo masculino com idades acima dos 20 anos.<br />

O novo cenário materializado ao longo dos últimos cinco anos, resultante<br />

do aumento do preço de tabaco, das restrições ao nível dos locais em<br />

que é permitido fumar e das inúmeras abordagens nos órgãos de comunicação<br />

social e nos próprios maços de tabaco sobre os malefícios dos hábitos<br />

tabágicos, pode ajudar a compreender a redução registada.<br />

Em média, 20,6% dos fumadores declararam gastar menos de 10,00<br />

euros semanais, 64,4%, entre 10,00 e 50,00 euros semanais, e 15,0% mais<br />

de 50,00 euros por semana. Com base em tais dados, em termos médios o<br />

consumo de tabaco, na região, representava, em <strong>2009</strong>, dois milhões de<br />

euros por semana, ou 104 milhões de euros por ano.<br />

De <strong>2004</strong> para <strong>2009</strong>, em todas as ilhas, à excepção de Santa Maria, Pico,<br />

e Graciosa, aumentou o número de pessoas a começar a fumar antes dos 15<br />

anos. O número de novos fumadores no grupo etário dos 15 aos 24 anos continuou<br />

a aumentar e abaixo dos 15 anos os fumadores representam já 13,6%<br />

de toda a população naquele escalão etário residente nos Açores.<br />

Segundo os dados de <strong>2004</strong>, tinham tentado abandonar o consumo do<br />

tabaco 36% do total de fumadores açorianos. Naquele momento, 29% afirmaram<br />

que a tentativa tinha sido bem sucedida. Em <strong>2009</strong>, entre o total de<br />

fumadores, 33,7% disseram já ter tentado abandonar a dependência, mas<br />

apenas 18,1% declaram terem sido bem sucedidos.<br />

Em síntese, registou-se um menor número de pessoas disponíveis a<br />

tentar abandonar a dependência do tabaco e entre elas foi evidenciada<br />

uma maior dificuldade em conseguir ter êxito. Podemos mesmo afirmar<br />

que este foi um dado surpreendente por contrariar o facto de ter aumentado<br />

significativamente o número de consultas tabágicas nas unidades de<br />

saúde da região. Assim, pelo facto de ter aumentado a procura de consultas<br />

tabágicas não se pode concluir que tal aumento traduza uma correspondência<br />

com um aumento da vontade de abandonar o tabaco entre os<br />

fumadores em geral.<br />

Como referimos, a diminuição do número de fumadores ficou a<br />

dever-se ao facto de ter havido uma diminuição de novos fumadores,<br />

homens acima dos 20 anos de idade, sendo um facto bastante positivo,<br />

minimizado pela tendência crescente de haver cada vez mais fumadores<br />

207


Alberto Peixoto<br />

nos grupos etários mais jovens, devendo constituir o principal desafio em<br />

relação ao tabagismo.<br />

Nos Açores, em <strong>2004</strong>, considerando a população quantificada em 241<br />

762 residentes, 26 110 já tinham experimentado o consumo de drogas.<br />

Chegados a <strong>2009</strong>, entre uma população constituída por 244 780 habitantes,<br />

36 227 afirmaram ter tido experiências de consumo. Em cinco anos,<br />

estima-se que 10 117 novos indivíduos vivenciaram experiências de consumo,<br />

representando 2 023 novos consumidores por ano, 39 por semana,<br />

ou 6 novos consumidores por dia.<br />

De 10,8% da população que já tinha experimentado o consumo de<br />

drogas em <strong>2004</strong>, evoluímos para 14,8%. Em <strong>2009</strong>, 2,4%, ou seja, 5 875<br />

açorianos tinham consumido há menos de uma semana, 2,7% (6 609 açorianos)<br />

tinham consumido há menos de um mês, 4,2% (10 280), há menos<br />

de um ano, e 5,5% (13 463) tinham consumido há vários anos atrás e não<br />

mais repetiram qualquer consumo.<br />

Em <strong>2004</strong>, tínhamos 1 209 dependentes de drogas, que assumiram consumir<br />

todos os dias, e, em <strong>2009</strong>, passámos para 1 469 dependentes, representando,<br />

em cinco anos, mais 260 dependentes, ou mais 52 dependentes<br />

por ano. Dito de outro modo, por cada semana passada surgiu um novo<br />

dependente de drogas, nos Açores.<br />

Comparativamente, os dois momentos de avaliação deram conta de<br />

um agravamento das taxas de crescimento da prevalência de consumo de<br />

drogas em praticamente todas as ilhas. Na ilha do Pico, o agravamento foi<br />

de 8,7%, atingindo uma prevalência de 23%, seguindo-se Santa Maria,<br />

com uma prevalência de 22,9%, e um agravamento de 11,4%. São Jorge,<br />

com um agravamento de 6,8%, atingiu os 16% de prevalência. São<br />

Miguel, com 13,2%, apresentou uma prevalência de consumo estabilizada<br />

tal como a ilha do Faial, embora exista uma diferença de duas décimas.<br />

Flores e o Corvo, com 9,8% e 9,6%, respectivamente, apresentaram prevalências<br />

abaixo da média regional, quando, em <strong>2004</strong>, não tinha sido identificado<br />

qualquer consumidor. O registo recente das duas ilhas mais ocidentais<br />

indicia que foi durante os últimos cinco anos que o consumo de<br />

substâncias ilícitas ali ganhou expressão.<br />

No tocante ao consumo diário de substâncias ilícitas e que classificamos<br />

de quadros de dependência, podemos afirmar que a situação se agravou<br />

em São Jorge, em São Miguel, no Pico e na ilha do Faial.<br />

208


Dependências e outras violências…<br />

A prevalência de consumo de cannabis/liamba e haxixe, em <strong>2009</strong>,<br />

atingiu os 11,4% do total da população, representando um aumento de<br />

mais 3,4%, em relação a <strong>2004</strong>, e em relação aos dados europeus mais<br />

recentes, mais 3,4% que a média nacional, ou 1,4% superior à média da<br />

Finlândia, mas 1,6% inferior à média da Suécia, da Grécia, da Noruega, ou<br />

do Luxemburgo, menos 3,6% que a da Holanda, menos 8,6% que a da<br />

Irlanda, ou menos 19,6% que a da Dinamarca.<br />

Em <strong>2004</strong>, o volume da prevalência de consumo de drogas entre as<br />

mulheres era de 24,9% e passou para 31,1%, em <strong>2009</strong>. Tal como tínhamos<br />

registado em relação ao consumo de tabaco, as mulheres também se<br />

estão a afirmar ao nível do consumo de substâncias ilícitas.<br />

A prevalência de consumos por grupos etários manteve a mesma tendência<br />

de <strong>2004</strong>, materializada num agravamento nas idades mais jovens e<br />

na persistência de indivíduos com hábitos de consumo para além dos 35<br />

anos, traduzindo uma ideia clara de evolução de um fenómeno que, nos<br />

Açores, ganhou expressão a partir de meados da década de 90.<br />

As Ilhas do Pico, São Miguel e Terceira, nos dois momentos de análise,<br />

apresentaram as populações consumidoras de substâncias ilícitas<br />

mais jovens, sendo de igual modo onde mais cedo se inicia o consumo a<br />

nível Açores.<br />

Em <strong>2004</strong>, 31 em cada mil adolescentes com menos de 15 anos já<br />

tinha consumido drogas pelo menos uma vez. Em <strong>2009</strong>, tal prevalência<br />

subiu para 35 adolescentes em cada mil. Os consumidores açorianos de<br />

substâncias ilícitas caracterizam-se por maioritariamente terem menos<br />

de 25 anos de idade, embora exista alguma expressão no grupo etário<br />

dos 26 aos 30 anos.<br />

Os quadros mais graves de consumo de drogas verificaram-se entre<br />

indivíduos com baixas qualificações, sem ocupação ou quando a possuíam<br />

era ao nível de actividades pouco exigentes do ponto de vista técnico, com<br />

destaque para a construção civil ou de uma forma mais ampla para a prestação<br />

de serviços não qualificados.<br />

De <strong>2004</strong> para <strong>2009</strong>, sobressaiu um aumento das oportunidades conferidas<br />

pelas festas, bem como pela influência de pares para se iniciar o consumo<br />

de drogas, ao fim-de-semana.<br />

Se considerarmos as pessoas que admitiram gastos semanais com o<br />

consumo de drogas, conclui-se que representam 2,6% da população açori-<br />

209


Alberto Peixoto<br />

ana, o que corresponde a 6 364 indivíduos. Tomando como referência os<br />

valores médios declarados com a aquisição semanal de drogas, pode afirmar-se<br />

que por cada sete dias são movimentados 420 000,00 euros, ou, se<br />

preferirmos, anualmente, a valores de <strong>2009</strong>, são gastos aproximadamente<br />

21,8 milhões de euros em substâncias ilícitas, dinheiro esse que em 80,9%<br />

dos casos, segundo os inquiridos, é obtido através das mesadas ou das<br />

ofertas que os pais lhes fazem.<br />

Embora a proveniência maioritária do dinheiro seja através dos pais,<br />

é curioso que, apenas em 5,1% dos casos, os familiares tinham conhecimento<br />

de que eles consumiam drogas, ao contrário do que se verificou ao<br />

nível do consumo de álcool e de tabaco.<br />

Um em cada cinco consumidores de drogas, em <strong>2004</strong>, tinha elevada<br />

probabilidade de se tornar dependente. Em <strong>2009</strong>, passou a tornar-se<br />

dependente um em cada seis. Tal transformação indicia que durante os<br />

cinco anos em que decorreram os dois estudos os consumidores de drogas<br />

tornaram-se menos vulneráveis às dependências, ou porque foram consumos<br />

mais esporádicos de cariz meramente recreativo, ou porque o grau de<br />

pureza das substâncias consumidas poderá ter diminuído e daí a diminuição<br />

da probabilidade de provocar dependências.<br />

A influência do contexto e a teoria da associação diferencial ficou<br />

bem patente no facto de indivíduos, oriundos de famílias em que existem<br />

hábitos de consumo de tabaco, álcool, ou drogas, possuírem uma<br />

probabilidade acrescida em relação aos demais. Entre o universo de<br />

consumidores de drogas, apenas entre 5,1% os familiares tinham conhecimento,<br />

no entanto entre 12,6% dos consumidores os familiares também<br />

consumiam drogas.<br />

Constatou-se que os indivíduos com consumos de substâncias ilícitas<br />

são referenciados bastante cedo, contudo permaneceram numa denominada<br />

carreira de consumo. Tal indicador evidencia as dificuldades que estão<br />

a ser sentidas ao nível da intervenção que está a ser desenvolvida junto dos<br />

menores para prevenir ou reduzir o consumo.<br />

Entre as drogas mais consumidas, a cocaína, conforme tem sido<br />

demonstrado por vários estudos, é apontada como a droga com maiores<br />

potencialidades para levar os consumidores à prática de actos de violência,<br />

apesar de ser sempre inferior ao efeito do álcool. Os dados recolhidos nos<br />

dois momentos de análise vieram confirmar tal tendência. As ilhas com<br />

210


Dependências e outras violências…<br />

maior prevalência do consumo de cocaína foram as que apresentaram maiores<br />

percentagens de pessoas vítimas de violência, praticada por indivíduos<br />

sob o efeito de droga. Destacaram-se as Ilhas de São Jorge, em <strong>2004</strong>,<br />

e Faial e Santa Maria, em <strong>2009</strong>.<br />

O consumo excessivo de álcool manteve o traço de <strong>2004</strong>. Nos<br />

Açores, em média, a população consome menos do que no Continente,<br />

contudo as pessoas que consomem apresentam uma maior propensão<br />

para consumos excessivos. A comparação de dados com o estudo nacional<br />

de 2007, de Casimiro Balsa, permitiu concluir que, nos Açores, a<br />

população que assumiu já se ter embriagado é superior à média nacional.<br />

Por cá são mais frequentes as «bebedeiras» ao longo da vida, no<br />

último ano e no último mês.<br />

Quanto às motivações para o consumo de bebidas alcoólicas, não se<br />

registaram alterações significativas. Continua-se a consumir sobretudo por<br />

prazer em que o beber social, o beber associado à alimentação e o beber<br />

no contexto da diversão são as justificações. Denota-se uma tendência<br />

crescente na crença de que prazer, diversão e consumo de bebidas alcoólicas<br />

são indissociáveis.<br />

Em <strong>2004</strong>, dos 54,5% de açorianos consumidores regulares de bebidas<br />

alcoólicas, 82,7% iniciou o consumo antes dos 20 anos, e, em <strong>2009</strong>, dos<br />

55,7% de açorianos consumidores passaram a ser 93,4% aqueles que<br />

tinham iniciado o consumo regular antes dos 20 anos, apontando para um<br />

aumento de 110 em cada mil consumidores.<br />

A prevalência feminina do consumo de álcool, que era de 30%, passou<br />

para 41,4%. Portanto as mulheres assumem-se de forma crescente no<br />

consumo de todas as substâncias, tendo sido ao nível do consumo de álcool<br />

que mais se afirmaram.<br />

Os indivíduos estão cada vez mais permeáveis à influência dos pares,<br />

sendo cada vez menos frequente que iniciem o consumo do tabaco, álcool,<br />

ou drogas por vontade própria e em solidão. É crescente o número de<br />

indivíduos a indicar que iniciaram os consumos por influência dos amigos/colegas<br />

em festas e até na rua.<br />

Na região, em <strong>2004</strong>, já tinham sido vítimas de pelo menos uma acção<br />

violenta praticada por indivíduo alcoolizado 160 pessoas por cada mil<br />

habitantes e a vitimização por indivíduos sob a influência de droga representava<br />

34 por cada mil. Em <strong>2009</strong>, os indivíduos que tinham sido vítimas<br />

211


Alberto Peixoto<br />

de indivíduos sob influência de droga passaram para 62 por cada mil habitantes<br />

enquanto sob a influência de álcool a vitimização aumentou para<br />

176 casos em cada mil habitantes.<br />

Ao nível do consumo de bebidas alcoólicas, registaram-se alterações<br />

bastante expressivas em todas as classes etárias até aos 35 anos. Destaca-<br />

-se o particular agravamento da prevalência de consumo regular antes dos<br />

15 anos. De 162 adolescentes entre cada mil, com hábitos de consumo<br />

regular, em <strong>2004</strong>, passámos para 245, por cada mil, em <strong>2009</strong>, traduzindo<br />

um aumento de 51%.<br />

Foi divulgado no jornal Açoriano Oriental, de 29 de Março de <strong>2009</strong><br />

(p. 5), que um estudo nacional não referenciado apontava para 25% a<br />

percentagem de jovens açorianos entre os 16 e os 30 anos que consumiam<br />

álcool pelo menos uma vez por semana. Tais dados não foram confirmados<br />

no presente estudo. Entre os 16 e os 30 anos são 11,5% os que<br />

consomem álcool semanalmente, 4,7%, todos os dias, e 51,9% só o<br />

fazem ocasionalmente.<br />

Em relação ao custo do consumo médio semanal de álcool, com base<br />

nos valores declarados e no número de consumidores, estima-se que em<br />

<strong>2009</strong> o montante tenha atingido 1 204 382,00 euros. Se multiplicarmos<br />

o valor por 52 semanas, podemos afirmar que o consumo de bebidas<br />

alcoólicas, a valores de <strong>2009</strong>, na região, ascendeu a 62 milhões de euros<br />

por ano.<br />

Manteve-se constante a demonstração de que além de o consumo<br />

regular de álcool se apresentar como factor potenciador da prática de violência<br />

faz também aumentar a probabilidade de o consumidor ser vítima<br />

de um acto de violência praticada por outro indivíduo também consumidor<br />

regular de bebidas alcoólicas.<br />

De <strong>2004</strong> para <strong>2009</strong>, registou-se, nos Açores, um aumento real da prática<br />

da violência em geral e da violência doméstica em particular, embora<br />

de forma disforme. Nos anos de 2005, 2006 e 2007, detectou-se uma diminuição<br />

real da prática da violência em geral, apesar do aumento do número<br />

de denúncias. Contudo, em 2008 e em <strong>2009</strong>, a prática real da violência<br />

aumentou, mas as denúncias só aumentaram em 2008. As denúncias de<br />

violência doméstica aumentaram em 2008 e <strong>2009</strong>.<br />

Estimámos a existência de 30 000 indivíduos dependentes de bebidas<br />

alcoólicas nos Açores, em <strong>2004</strong>, e, embora a prevalência de consumo<br />

212


Dependências e outras violências…<br />

tenha aumentado 1,2%, em <strong>2009</strong>, o número de dependentes de álcool<br />

poderá mesmo ter diminuído 3,8% se tivermos em conta a diminuição no<br />

número de consumidores regulares diários. Assim, em cinco anos, perderam-se<br />

cerca de mil alcoólicos, ou, se preferirmos, 200 por ano, estimando-se<br />

para <strong>2009</strong> a existência de 29 000 alcoólicos.<br />

Além da diminuição do número de consumidores diários, registou-se<br />

também uma diminuição de 1% de consumidores semanais, podendo afirmar-se<br />

que, em <strong>2009</strong>, o consumo de bebidas alcoólicas era bem mais<br />

moderado do que em <strong>2004</strong>.<br />

Em <strong>2009</strong>, fruto de um aumento de 870 dependentes de drogas em<br />

relação a <strong>2004</strong>, estimámos em perto de 6 000 os indivíduos que apresentam<br />

quadros de consumo que permitem qualificá-los como dependentes.<br />

Embora se tenham identificado 79 782 fumadores, em <strong>2004</strong>, em bom<br />

rigor eram 68 000 os consumidores diários, dependentes de tabaco. Em<br />

<strong>2009</strong>, de um universo identificativo de 78 329 fumadores passou-se para<br />

62 000 consumidores diários dependentes de tabaco, o que representa uma<br />

perda de 6 000 fumadores em cinco anos, ou seja, menos 1 200 fumadores<br />

por ano.<br />

Em <strong>2004</strong>, tínhamos cerca de 128 000 consumidores diários de café,<br />

tendo, em <strong>2009</strong>, tal número subido para 137 000. Em cinco anos, assistimos<br />

ao aparecimento de mais 9 000 consumidores de café, perfazendo<br />

uma distribuição de mais 1 800 novos consumidores anuais.<br />

Tinham tentado abandonar pelo menos uma dependência de que padeciam,<br />

em <strong>2004</strong>, 50 000 açorianos e, apesar de uma ligeira diminuição, em<br />

<strong>2009</strong>, podemos falar de estabilização no número de tentativas. Recorde-se<br />

que a diminuição expressiva de dependentes de tabaco se ficou a dever à<br />

diminuição de novos fumadores e não do número de pessoas que decidiram<br />

abandonar o consumo. Até porque, como vimos, a taxa de sucesso de<br />

abandono das dependências em geral diminuiu ao longo dos últimos cinco<br />

anos.<br />

Do total de indivíduos referenciados como dependentes, metade<br />

afirmaram ter a dependência controlada. Mesmo que assim seja, paira<br />

sobre eles a possibilidade de recaída, fazendo com que à luz da<br />

Organização Mundial de Saúde continuem a ser contabilizados como<br />

dependentes.<br />

213


Alberto Peixoto<br />

Apurou-se que 16,7% da população açoriana possuía hábitos de consumo<br />

de tranquilizantes, sedativos ou anti-depressivos e 28% fazia-o sem<br />

qualquer prescrição médica. As pessoas com maior propensão para o consumo<br />

de psicofármacos têm entre os 15 e os 18 anos de idade ou mais de<br />

35 anos. Nos Açores, a prevalência de consumo de fármacos era, em <strong>2009</strong>,<br />

de 4,8%, portanto 2,2% mais baixa que a prevalência de 7% encontrada<br />

pelo IDT, em 2006.<br />

Em termos monetários, à luz dos dados recolhidos no presente estudo,<br />

podemos afirmar que nos Açores o consumo de tabaco, álcool e droga<br />

representa um volume de negócios na ordem dos 3,6 milhões de euros por<br />

semana, ou 190 milhões de euros ano, tendo como referência os valores de<br />

<strong>2009</strong>.<br />

A juvenalização crescente de substâncias psicoactivas a par de uma<br />

crescente influência de pares e do grupo como forma de obtenção de prazer<br />

em contra-ciclo com as necessidades de gestão das frustrações derivadas<br />

dos conflitos existenciais, familiares e sociais é uma das conclusões<br />

fortes do presente estudo.<br />

A exposição à violência doméstica na infância quase duplica a probabilidade<br />

de se consumir drogas. De uma probabilidade geral de 11 a 15 em<br />

cada 100 indivíduos de consumir drogas, entre 100 indivíduos que vivenciaram<br />

violência doméstica na sua família de origem, 21 a 26 tendem a<br />

consumir substâncias ilícitas no futuro.<br />

Hoje sabemos que os menores que presenciam a prática da violência<br />

têm mais dificuldades em desenvolver relações interpessoais estáveis,<br />

apresentam maior propensão para a insatisfação profissional, possuem<br />

vínculos profissionais mais fracos, desempenham actividades profissionais<br />

menos qualificadas e apresentam maiores propensões para o consumo<br />

de tabaco, álcool, drogas e fármacos.35<br />

Tendo em conta as especificidades do fenómeno das dependências nos<br />

Açores, numa forma piramidal, podemos definir três categorias de consumidores:<br />

os consumidores minimalistas, os consumidores desconexos, e<br />

os consumidores irreflexivos.<br />

35 O presente parágrafo com a pergunta «é esta a herança que quer deixar ao seu filho?»<br />

bem poderia constituir um slogan na luta contra a prática da violência bem como de<br />

outros comportamentos desviantes, nos Açores.<br />

214


Consumidores<br />

Irreflexivos<br />

Consumidores Desconexos<br />

Consumidores Minimalistas<br />

Figura n.º 2 Categorias de consumidores identificados<br />

face à intensidade e justificações de consumo.<br />

Dependências e outras violências…<br />

Ocupam a base da pirâmide os consumidores minimalistas.<br />

Caracterizam-se por ser consumidores sobretudo ocasionais e justificam<br />

os consumos com a curiosidade, com interesses de cariz social e com o<br />

desenvolvimento de relações sociais. Quando questionados sobre a intensificação<br />

de consumo, desvalorizam o facto argumentando que a qualquer<br />

momento deixam de consumir. Ao nível do consumo de álcool e droga, os<br />

consumidores minimalistas agrupam entre 70 a 90% dos consumidores<br />

enquanto os consumidores minimalistas de tabaco não agrupam mais de<br />

15% do total.<br />

Os consumidores desconexos são indivíduos que já possuem um quadro<br />

de dependência em relação a uma ou várias substâncias ou comportamentos.<br />

Sentem com frequência algum desconformismo pela necessidade<br />

de repetição do consumo. São frequentes as hesitações e justificam com<br />

regularidade factos, acontecimentos, datas entre outros para consumir.<br />

Conseguem desenvolver relações interpessoais a nível familiar, profissional<br />

e social de forma aceitável sem que a substância produza grande prejuízo.<br />

Detentores de um grau de consciencialização para o facto de o consumo<br />

os prejudicar individualmente, minimizam a coacção exterior com<br />

as justificações mais ou menos adequadas e oportunas. No âmbito do consumo<br />

de álcool e droga, quantificámos entre 5 e 15% os consumidores desconexos,<br />

enquanto no âmbito do consumo de tabaco são muito raros e inferiores<br />

a 5% do total.<br />

215


Alberto Peixoto<br />

Os consumidores irreflexivos são possuidores de quadros de dependência<br />

aguda. Não conseguem deixar de consumir com regularidade.<br />

Ocupam o topo da pirâmide e vivem afectados na vertente individual<br />

(física e/ou psicologicamente) bem como na vertente sócio-familiar. Têm<br />

consciência da gravidade da situação. Invocam já ter tentado abandonar o<br />

consumo e não serem capazes de o fazer. São capazes de evidenciar comportamentos<br />

profundamente incongruentes e mesmo irracionais só para<br />

satisfazer o desejo de consumo. Os consumidores irreflexivos de álcool e<br />

droga variam entre 5 a 15% do total ao passo que ao nível do tabaco chegam<br />

a ultrapassar os 80% do total.<br />

VERIFICAÇÃO DAS HIPÓTESES<br />

Hipótese 1) Existindo uma relação entre hábitos de consumo e desenvolvimento<br />

social, continuarão a existir diferenciações na prevalência de<br />

consumos de substâncias tóxicas por ilhas e por concelhos.<br />

Conclusão: Hipótese confirmada.<br />

(Conferir páginas 64-65; 94-95; 123-125; 151-152)<br />

Hipótese 2) Dada a influência da vivência familiar nos comportamentos<br />

futuros dos indivíduos, os elementos oriundos de famílias onde eram<br />

frequentes os quadros de violência doméstica continuarão a apresentar<br />

maior propensão para as dependências em geral.<br />

Conclusão: Hipótese confirmada.<br />

(Conferir páginas 167-168)<br />

Hipótese 3) Partindo do princípio de que a propensão para o consumo<br />

de substâncias está relacionada, em parte, com um certo estilo de vida,<br />

então é de prever a existência de regularidades ao nível dos perfis dos consumidores<br />

e/ou abusadores de substâncias.<br />

Conclusão: Hipótese confirmada.<br />

(Conferir páginas 77; 113-114; 145-146; 156; 171; 173-174)<br />

216


PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO<br />

Tal como detectado por diversos estudos internacionais, nos Açores,<br />

entre 80 a 90% dos dependentes de drogas ou de álcool são fumadores.<br />

Por isso, o combate à dependência de substâncias ilícitas e de álcool deve<br />

passar por uma aposta prioritária no consumo de tabaco, que, além de ser<br />

em termos de número a maior das dependências, continua a ser a<br />

substância psicoactiva de iniciação.<br />

As campanhas de prevenção do tabagismo, direccionadas aos<br />

jovens, não devem versar as consequências do tabaco, na medida em que<br />

estas apenas se materializam nos fumadores ao longo de anos de consumo.<br />

As campanhas de prevenção tabágica devem sobretudo versar as<br />

representações de que fumar está fora de moda e de que o conceito de<br />

beleza e de atracção de hoje estão primordialmente relacionados com o<br />

não fumar.<br />

Nas acções de formação, ministradas nas Escolas dos Açores desde<br />

2006, que abrangeram mais de 500 professores dos diferentes níveis de<br />

ensino sobre segurança em meio escolar, foram detectadas inúmeras lacunas<br />

na formação dos professores sobre as questões das dependências, apesar<br />

de ser uma das áreas em que as escolas estão obrigadas a ter de desenvolver<br />

projectos no âmbito do programa escolar Educação para a Saúde.<br />

Assim, deve ser criado um curso de formação contínua, de 30 horas, acreditado<br />

pelo Conselho Científico-Pedagógico, a fim de ser ministrado aos<br />

professores nas escolas, nas respectivas janelas de formação.<br />

Como forma de aumentar a consciencialização contra as dependências,<br />

devem candidatar-se todos os municípios dos Açores ao título de<br />

municípios livres de drogas, através do European Cities Against Drogs,<br />

que, em <strong>2004</strong>, contava já com 264 municípios de 30 países diferentes.<br />

217


Alberto Peixoto<br />

Justifica-se a realização de uma campanha de sensibilização de<br />

grande alcance em relação aos efeitos nocivos da cannabis devido aos<br />

elevados teores de tetrahidrocannabinol que detém na actualidade e em<br />

particular devido ao crescente cultivo e comercialização de cananbis nos<br />

Açores.<br />

O desenvolvimento de iniciativas que visem a consciencialização da<br />

comunidade necessitam cada vez mais de técnicas criativas e inovadoras e<br />

com forte poder de persuasão para que sejam alcançados os dois principais<br />

objectivos: a mobilização da comunidade e a interiorização de hábitos e<br />

práticas saudáveis.<br />

Tal como tinha sido evidenciado na primeira edição, o álcool apresenta-se<br />

como a substância que mais preocupações suscita. Por isso é fundamental<br />

recentrar as preocupações em torno do combate e prevenção ao<br />

consumo abusivo de álcool.<br />

É crucial a definição de um plano regional de combate ao consumo<br />

de álcool assente em quatro vertentes: o aumento do preço por via do<br />

agravamento da carga fiscal, o aumento da idade mínima do consumo<br />

de 16 para 18 anos, o aumento da consciencialização pública para as<br />

consequências do consumo de álcool e o aumento das acções de fiscalização<br />

do consumo de álcool não só na circulação rodoviária, mas também<br />

nos estabelecimentos que o comercializam e em particular no<br />

mundo laboral.<br />

Em <strong>2009</strong>, no Dia Mundial da Juventude (22 de Agosto), realizou-<br />

-se um piquenique sem o consumo de bebidas alcoólicas, no Terreiro<br />

dos Padres, na ilha Terceira. A iniciativa, com uma significativa cobertura<br />

mediática, apresentou-se como uma excelente oportunidade de<br />

consciencialização da opinião pública para a problemática do consumo<br />

excessivo de bebidas alcoólicas. Tendo sido organizada por jovens<br />

sobretudo para jovens, o que facilita a aceitação da mensagem e consequente<br />

prevenção, constitui-se como um modelo estratégico que pode<br />

ser seguido noutras acções futuras de prevenção para diferentes problemáticas.<br />

Conhecidas que são algumas interligações entre o uso e abuso de substâncias<br />

psicoactivas e práticas sexuais de risco, como forma de prevenção de<br />

tais comportamentos faz todo o sentido o investimento na educação para<br />

os afectos, em educação sexual, como é hoje prática em diversos países,<br />

218


Dependências e outras violências…<br />

em particular na Inglaterra em que a educação sexual é iniciada nas escolas,<br />

no ensino obrigatório, a partir dos 5 anos de idade.<br />

Conhecidas que são as taxas de prevalência de consumo de álcool nos<br />

grupos etários 15-20 e dos 20 aos 25 anos e se cruzarmos com as taxas de<br />

sinistralidade rodoviária, nestas idades, faz todo o sentido a proposta apresentada<br />

pelo IDT, em <strong>2009</strong>, no sentido de ser reduzida a taxa de alcoolemia<br />

nos novos condutores de acordo com uma recomendação estratégica<br />

da União Europeia.<br />

Igual sentido faz a proposta de se alterar dos 16 para os 18 anos a<br />

idade mínima para a venda de bebidas alcoólicas, de acordo com o que se<br />

verifica já na maior parte dos países europeus. Recorde-se que ainda antes<br />

de o IDT apresentar a proposta o assunto fora debatido na Assembleia<br />

Regional dos Açores e chumbado. Os dados obtidos com o presente estudo<br />

mais uma vez demonstram as potencialidades de tal norma, desde que<br />

articulada com uma melhoria nas acções de fiscalização.<br />

Tal como em 2005, os dados recolhidos no presente estudo devem ser<br />

apresentados às diversas entidades que intervêm na problemática em cada<br />

um dos 19 concelhos no sentido de incentivar a cooperação e o desenvolvimento<br />

de projectos a nível concelhio embora articulados com a Direcção<br />

Regional da Prevenção e Combate às Dependências.<br />

É fundamental que o plano regional de prevenção e combate às<br />

dependências defina um conjunto de acções direccionadas para populações<br />

com riscos acrescidos como as populações prisionais, os<br />

jovens/adolescentes desintegrados ou pertencentes a famílias desestruturadas,<br />

procurando a minimização de danos, a reinserção social e laboral,<br />

a prevenção por via da educação para práticas saudáveis e respectiva<br />

monitorização.<br />

Deverão ser criados dias regionais diferenciados de luta contra o<br />

consumo e o abuso de substâncias que provocam dependência. Cada<br />

um dos dias regionais deve ser comemorado e assinalado com a realização<br />

de eventos, como seminários, conferências, visitas e concursos,<br />

alusivos às datas, e entrega de prémios, ainda que simbólicos, como<br />

forma de dar visibilidade às problemáticas e ao mesmo tempo fazer<br />

prevenção.<br />

Tem sido contraditória a postura das autoridades nacionais e regionais<br />

em relação ao combate ao alcoolismo. A nível nacional, entre as pro-<br />

219


Alberto Peixoto<br />

postas apresentadas pelo IDT, no âmbito do Plano Nacional para a<br />

Redução dos Problemas ligados ao álcool, que era para ter entrado em<br />

vigor antes do Verão de <strong>2009</strong>, o Governo da República recusou as restrições<br />

à publicidade de bebidas alcoólicas, recusou o aumento dos impostos<br />

sobre o álcool e acabou também por recusar o aumento de 16 para 18<br />

anos a idade mínima para venda de bebidas alcoólicas. Na iniciativa<br />

legislativa regional, de Setembro de 2008, agravaram-se as coimas para<br />

venda de álcool a menores, mas não se registou um incremento das<br />

acções de fiscalização. A produção de aguardentes e licores nos Açores,<br />

desde 2002, beneficia de taxas de imposto reduzidas fazendo com que os<br />

preços de venda ao público sejam mais baixos. Quando se sabe que os<br />

jovens açorianos iniciam o consumo por volta dos treze anos de idade e<br />

que existe uma propensão acrescida para os consumos de risco em idades<br />

inferiores a 18 anos, faz todo o sentido a proibição da venda de bebidas<br />

alcoólicas a menores de 18 anos.<br />

Considerando os dados dos diferentes estudos tanto a nível nacional<br />

como a nível regional, constata-se que têm aumentado os denominados<br />

consumos de risco entre a população mais jovem sendo fundamental<br />

entre outras a implementação de medidas restritivas do consumo<br />

de álcool sob pena de se assistir a um agravamento acelerado da<br />

situação.<br />

A proposta sugerida na análise de <strong>2004</strong>, tendo por base o modelo<br />

surgido em Inglaterra, na Abbey School36, desde 2005, e nunca implementada<br />

nos Açores, continua a ser uma estratégia de intervenção com<br />

possibilidade de obtenção de resultados positivos. Sugere-se o desenvolvimento<br />

pelo menos de um projecto piloto, no 3.º ciclo, numa das escolas<br />

da região em que tenham sido referenciados hábitos significativos de<br />

consumo entre alunos.<br />

Deve ser criada uma equipa de técnicos, devidamente habilitados<br />

para realizar conferências em todas as escolas da região a partir do 3.º<br />

ciclo de ensino, utilizando filmes, imagens e gravuras com conteúdos,<br />

36 O modelo de intervenção consiste em seleccionar todas as semanas, aleatoriamente, grupos<br />

de alunos, com idades compreendidas entre os 11 e os 19 anos de idade, para despistagem<br />

do consumo de substâncias, com a concordância de pais e alunos, a fim de se<br />

detectarem hábitos de consumo e encaminhamento para o gabinete de apoio psicológico<br />

a fim de se evitar a reincidência de consumo e possíveis quadros de dependência.<br />

220


Dependências e outras violências…<br />

adequados aos diferentes grupos etários, sobre as principais dependências<br />

e respectivas consequências, seguindo um calendário previamente<br />

definido de modo a que todos os adolescentes e jovens obtenham formação<br />

nesta área.<br />

Tendo sido uma proposta apresentada no anterior estudo, já se<br />

avançou com a criação de equipas de técnicos no terreno para interagirem<br />

com os dependentes com o objectivo de conquistarem a confiança<br />

e posteriormente motivá-los para o tratamento. Urge dar continuidade<br />

ao projecto e alargá-lo a outras localidades ainda não cobertas por<br />

aquela rede.<br />

Embora se tenham registado melhorias, deve-se continuar a apostar<br />

na melhoria de canais de comunicação privilegiados entre as equipas<br />

técnicas, Polícias e Ministério Público de modo a facilitar o encaminhamento<br />

para tratamento dos indivíduos referenciados no consumo de<br />

álcool e drogas.<br />

A criação de uma equipa multidisciplinar de técnicos para os casos de<br />

dependências a operar junto do Tribunal de Comarca de Ponta Delgada,<br />

onde o fenómeno da toxicodependência é mais expressivo nos Açores, à<br />

semelhança da já existente equipa multidisciplinar de apoio ao Tribunal de<br />

Família e Menores, poderia ser uma mais valia na sinalização e encaminhamento<br />

de dependentes de álcool, drogas e até tabaco.<br />

Continuam por fazer-se os controlos preventivos do consumo<br />

excessivo de álcool junto dos estabelecimentos que comercializam bebidas<br />

alcoólicas e em particular junto dos estabelecimentos de diversão<br />

nocturna.<br />

A dinamização dos Planos de Prevenção Municipais já existentes e o<br />

incentivo ao surgimento de planos nos municípios que ainda não os possuem<br />

deverá constituir uma prioridade da Direcção Regional da Prevenção<br />

e Combate às Dependências, na medida em que poderiam funcionar como<br />

ferramentas de rentabilização do plano regional.<br />

As futuras campanhas de prevenção a desenvolver na região têm<br />

de ser “agressivas” e até polémicas para que se consiga obter impacto<br />

junto da comunidade. As campanhas de prevenção não podem ficar-se<br />

pelo plano estético dos cartazes. As campanhas têm de ser pensadas por<br />

equipas multidisciplinares para que os slogans preventivos atinjam<br />

profundidade.<br />

221


Alberto Peixoto<br />

Entendemos ser crucial multiplicar-se a oferta de programas livres de<br />

drogas e combater os tempos de espera para início de tratamento de dependentes<br />

nas instituições que operam na região.<br />

Da análise efectuada à imprensa regional durante os cinco anos que<br />

medeiam os dois momentos de avaliação do fenómeno das dependências<br />

nos Açores, o jornal que mais se destacou na publicação e divulgação de<br />

informação relacionada com a problemática foi o Jornal Diário dos<br />

Açores, pelo que se propõe o seu reconhecimento público.<br />

A criação de um prémio regional de jornalismo anual, sobre peças jornalísticas<br />

que abordem o fenómeno da toxicodependência, pode ser uma<br />

forma de se conferir maior visibilidade à problemática e ao mesmo tempo<br />

apostar-se na prevenção através dos órgãos de comunicação social.<br />

Mantém-se o apelo à tutela para que se mantenha a boa prática de, de<br />

cinco em cinco anos, repetir-se este estudo ou patrocinar-se outros estudos<br />

similares que permitam a monitorização da problemática das dependências<br />

na região. Ainda que tais estudos potenciem o risco de ataque político, no<br />

âmbito do real interesse público, o pior seria não serem feitos e implementarem-se<br />

umas medidas avulsas mais ou menos mediáticas, mas sem qualquer<br />

fundamentação científica.<br />

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Estatística, <strong>2009</strong>.<br />

COMISSÃO Consultiva Regional para os Direitos das Mulheres, Prevenir a<br />

Violência Doméstica, Ponta Delgada, 2002. (CCRDM, 2002)<br />

COMISSÃO Consultiva Regional para os Direitos das Mulheres, Igualdade de<br />

Oportunidades no Trabalho e no Emprego, Ponta Delgada, 2003. (CCRDM,<br />

2003)<br />

COMISSÃO Para a Igualdade e Direitos das Mulheres, As Mulheres e as<br />

Toxicodependências, Colecção Informar as Mulheres nº15, , Ministério do<br />

Emprego e da Segurança Social, 3ª Edição, 1995. (CIDM, 1995)<br />

COMISSÃO Para a Igualdade e Direitos das Mulheres, Portugal. Situação das<br />

Mulheres 1998, Ministério do Emprego e da Solidariedade Social, Lisboa,<br />

1998. (CIDM, 1998)<br />

Inquérito Violência de Género, Região Autónoma dos Açores, Relatório Final, Vol. I<br />

e Vol. II, Socinova/Cesnova, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,<br />

Lisboa, <strong>2009</strong>.<br />

GABINETE para as Relações Internacionais Europeias e de Cooperação,<br />

Conferência de Alto Nível sobre a Prevenção da Criminalidade, Ministério<br />

da Justiça, Lisboa, 2001. (GRIEC, 2001)<br />

Relatório da Actividade da UMAR- São Miguel, 2000. (RAU, 2000)<br />

Relatório da Actividade da UMAR- São Miguel, 2001. (RAU, 2001)<br />

Relatório da Actividade da UMAR- São Miguel, 2002. (RAU, 2002)<br />

Relatório Anual 2001. A Situação do País em Matéria de Drogas e<br />

Toxicodependência, Vol.1, Informação estatística, Lisboa, IPDT, 2002.<br />

(IPDT, 2002)<br />

231


Alberto Peixoto<br />

Relatório Anual 2002. A Situação do País em Matéria de Drogas e<br />

Toxicodependência, Vol.1, Informação estatística, Lisboa, IDT, 2003. (IDT,<br />

2003)<br />

Relatório de Avaliação da Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga, <strong>2004</strong>.<br />

(RAENLCD, <strong>2004</strong>)<br />

Relatório de Segurança Interna, 2002. (RSI, 2003)<br />

Relatório de Segurança Interna, 2003. (RSI, <strong>2004</strong>)<br />

Relatório de Segurança Interna, <strong>2004</strong>. (RSI, 2005)<br />

Relatório de Segurança Interna, 2005. (RSI, 2006)<br />

Relatório de Segurança Interna, 2006. (RSI, 2007)<br />

Relatório de Segurança Interna, 2007. (RSI, 2008)<br />

Relatório de Segurança Interna, 2008. (RSI, <strong>2009</strong>)<br />

Relatório de Segurança Interna, <strong>2009</strong>. (RSI, 2010)<br />

SÍTIOS:<br />

www.drogas.pt<br />

www.emcdda.eu.int<br />

www.gballone.sites.uol.com<br />

www.rotten.com<br />

www.facebooc.com/pages/revistafocus/<br />

http://estatistica.azores.gov.pt<br />

http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/dependencia_conceito.htm<br />

http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1438242&sec-<br />

232<br />

cao=Sa%FAde


NOTÍCIAS PUBLICADAS NA IMPRENSA<br />

ANO 2006<br />

15% dos jovens estudantes europeus fumam haxixe mais de 40 vezes por ano, DN,<br />

01/Mar/2006, p.18<br />

César desafia estudantes a encontrar slogan contra a droga, DA, 18/Mar/2006,<br />

p.4<br />

Whitney Houston nas malhas da droga, CA, 02/Abr/2006, p.41<br />

Apoio a toxicómanos perde 1400 técnicos, DN, 03/Abr/2006, p. 5<br />

Governo proíbe tabaco em todos os locais públicos, DN, 07/Abr/2006, p. 2<br />

Portugal bebe 2,8 milhões de litros de álcool por dia, DN, 09/Abr/2006, p. 18<br />

Colóquio sobre droga nas prisões ignorado por responsáveis prisionais, DN,<br />

10/Mai/2006, p. 20<br />

Governo introduz novas regras no teste ao consumo de droga nas estradas, DA,<br />

15/Jul/2006, p. 3<br />

15 dias será tempo de espera para tratamento de droga, DN, 28/Ago/2006, p. 14<br />

Conselho de Cidadania quer travar consumo de drogas, AO, 19/Nov/2006, p. 5<br />

Haxixe à venda em Portugal é o mais barato da Europa, DN, 24/Nov/2006, p. 17<br />

Portugal na rota de entrada de cocaína na Europa, DN, 24/Nov/2006, p. 9<br />

Bêbados, mas não muito, CA, 24/Nov/2006, p. 14<br />

Preço do tabaco vai aumentar 25 cêntimos a partir de 2007, DA, 08/Dez/2006,<br />

p. 10<br />

Nove em cada dez notas têm resíduos de cocaína, DN, 26/Dez/2006, p. 40<br />

233


Alberto Peixoto<br />

ANO 2007<br />

Investigadores confirmam aumento da nicotina, DA, 19/Jan/2007, p. 12<br />

Diminuição das mortes por cancro nos Estados Unidos, DA, 21/Jan/2007, p. 2<br />

Cocaína apreendida em 2006 pagava metade do aeroporto da Ota, DN,<br />

15/Fev/2007, p. 17<br />

Medicamento para tratar parasitas tornou-se uma nova droga na Europa, DN,<br />

26/Mar/2007, p. 21<br />

É necessário dar uma alternativa aos camponeses que cultivam ópio, DN,<br />

28/Mai/2007, p.33<br />

‘Kit’ antidroga para a família, CINT, 01/Jun/2007, p. 47<br />

Drogas não são todas iguais, AE, 25/Jun/2007, p.15<br />

Um charro é igual a cinco cigarros, AE, 06/Ago/2007, p. 15<br />

Identificadas estruturas cerebrais que ‘forçam’ cumprimento de regras, DA,<br />

4/Out/2007, p. 15<br />

Plantações de cannabis disparam no interior, DN, 08/Out/2007, pp. 2-3<br />

Liamba do Pico entre as melhores, DN, 08/Out/2007, p. 3<br />

17 mil viciados nos jogos, DN, 11/Out/2007, p. 33<br />

Receita do imposto sobre tabaco continua abaixo do esperado, DA, 17/Out/2007, p. 19<br />

Droga nas prisões é para ser apreendida, DN, 18/Out/2007, 12<br />

Neutralizar zona cerebral diminuiria vício em drogas, DA, 31/Out/2007, p. 16<br />

Luta anti-droga faz subir o preço da cocaína nos Estados Unidos, 10/Nov/2007, p. 14<br />

ANO 2008<br />

Não fumadores passam ao ataque, DN, 01/Fev/2008, p.4<br />

PJ exclui País das rotas de tráfico de droga dura, DN, 22/Fev2008, p. 11<br />

Droga rende menos 13 milhões de euros, AE, 25/Fev/2008, p. 16<br />

<strong>Estudo</strong> diz que beber de vez em quando pode prolongar vida, DA, 11/Mar/2008, p. 17<br />

Diminuiu o terrorismo e cresce a droga e corrupção, CA, 12/Mar/2008, p.21<br />

Clima de insegurança sem solução à vista, CA, 15/Mar/2008, p. 6<br />

5% da população mundial adulta é dependente, AE, 17/Mar/2008, p. 23<br />

Reformados e operários são quem mais adere aos Alcoólicos Anónimos, DA,<br />

19/Mar/2008, p. 24<br />

Consumo emergente de percursor GBL cria “preocupação crescente”, DA,<br />

19/Mar/2008, p. 21<br />

234


Quebra de 15% no tabaco evita 400 mortes por ano, DN, 02/Mai/2008, p. 14<br />

Presidente do IDT reconhece benefícios da cannabis, DA, 03/Mai/2008, p. 12<br />

Campanha antitabaco retirada no Reino Unido, DN, 04/Mai/2008, p. 70<br />

O mundo das festas privadas com droga ao domicílio, DN, 05/Mai/2008, p. 12<br />

<strong>Estudo</strong> relaciona intoxicação por chumbo com delinquência, DA, 01/Jun/2008, p. 21<br />

Jogos de vídeo responsáveis por crimes de jovens, DA, 14/Ago/2008, p.17<br />

<strong>Estudo</strong> analisa tendências no consumo de bebidas alcoólicas, DA, 19/Ago/2008, p. 19<br />

Álcool torna tudo mais bonito, CA, 23/Ago/2008, p. 23<br />

Novo regime jurídico agrava coimas para venda de álcool a menores, DA,<br />

7/Set/2008, p. 2<br />

Homem tornou-se agricultor por causa da cerveja, diz historiador natural, DA,<br />

11/Set/2008, p. 24<br />

Cientistas criam novos gráficos sobre risco de morte, DA, 12/Set/2008, p. 21<br />

Tabaco matou três vezes mais portugueses que álcool em 2005, DA, 19/Set/2008, p. 24<br />

Álcool e tabaco mataram 16 mil pessoas num ano, DN, 19/Set/2008, p. 6-7<br />

Campanha britânica define nove ‘tipos’ de bêbados, DA, 20/Set/2008, p. 14<br />

Crianças de pais fumadores podem ‘consumir’ até dois cigarros por dia, DA,<br />

21/Set/2008, p. 12<br />

Em comparação com o álcool tabaco mata mais 7,9%, AE, 29/Set/2008, p. 23<br />

<strong>Estudo</strong> diz que café em excesso pode reduzir seios, DA, 26/Out/2008, p. 17<br />

Eleições na Guiné – Droga domina campanha, CA, 30/Out/2008, p. 36<br />

Novos alcoólicos têm menos de 30 anos e consomem drogas, DN, 27/Nov/2008, p. 15<br />

ANO <strong>2009</strong><br />

Dependências e outras violências…<br />

Homens portugueses preferem cerveja e mulheres vinho, DA, 8/Jan/<strong>2009</strong>, p. 12<br />

A violência doméstica mata 45 mulheres em 2008, DA, 08/Jan/<strong>2009</strong>, p. 12<br />

Novo caminho para tratar o vício da nicotina pela boca, AE, 26/Jan/<strong>2009</strong>, p. 16<br />

Excesso de café pode provocar alucinações, DA, 26/Jan/<strong>2009</strong>, p. 17<br />

IDT quer redução da taxa de alcoolemia para novos condutores, DA,<br />

10/Fev/<strong>2009</strong>, p. 12<br />

Negócio invisível de haxixe consumido em São Miguel, DA, 13/Fev/<strong>2009</strong>, p. 19<br />

Fumador passivo pode desenvolver demência, diz estudo, DA, 18/Fev/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Beber diariamente eleva risco de cancro em mulheres, 26/Fev/<strong>2009</strong>, p. 10<br />

Álcool aumenta risco de depressão profunda, diz estudo, DA, 04/Mar/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

235


Alberto Peixoto<br />

Especialistas estimam aumento de 62% da cirrose em dez anos, DA,<br />

12/Mar/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Pais têm de controlar mais o que os filhos bebem, DA, 12/Mar/<strong>2009</strong>, p. 12<br />

Aumento de impostos excluído do plano do álcool, DN, 12/Mar/<strong>2009</strong>, p. 9<br />

Portugal é plataforma giratória de tráfico, DN, 12/Mar/<strong>2009</strong>, p. 25<br />

Prevenção de comportamentos desviantes com projecto alargado, DA,<br />

13/Mar/<strong>2009</strong>, p. 6<br />

Dependência do álcool aumenta nas mulheres, EN, 13/Mar/<strong>2009</strong>, p. 10<br />

“Sala de xuto” do Beco do Jardim António Borges fechada a blocos, DA,<br />

14/Mar/<strong>2009</strong>, 24<br />

Antidepressivos disparam, DN, 22/Mar/<strong>2009</strong>, p. 14<br />

Consumo de heroína no país pode aumentar, CA, 24/Mar/<strong>2009</strong>, p. 24<br />

Portugal capturou 180 “correios” de droga em 2008, cada um pode custar 80 mil<br />

euros, DA, 24/Mar/<strong>2009</strong>, p. 11<br />

Consumo moderado de café pode ser bom para a saúde, DA, 25/Mar/<strong>2009</strong>, p. 16<br />

Mulheres sofrem efeitos mais intensos do cigarro, diz estudo, DA, 25/Mar/<strong>2009</strong>, p. 16<br />

25 por cento dos jovens consomem bebidas alcoólicas, AO, 29/Mar/<strong>2009</strong>, p. 5<br />

Consumo de álcool quadruplicou, DN, 27/Mar/<strong>2009</strong>, p. 12<br />

Beber até cair para o lado aumentou em Portugal , DA, 28/Mar/<strong>2009</strong>, p. 13<br />

Rosto vermelho após beber sinaliza risco de cancro, DA, 29/Mar/<strong>2009</strong>, p. 14<br />

Deputada propõe medidas para restringir acesso de jovens a bebidas alcoólicas,<br />

DA, 4/Abr/<strong>2009</strong>, p. 24<br />

Como travar o consumo de álcool nos jovens? AO, 5/Abr/<strong>2009</strong>, p. 2<br />

Maior usuário de ecstasy tomou 40 mil comprimidos, DA, 06/Abr/<strong>2009</strong>, p. 20<br />

Apenas 10 coimas por incumprimento no primeiro ano da Lei do Tabaco, DA,<br />

15/Abr/<strong>2009</strong>, p. 24<br />

7 em cada 10 pessoas que saem à noite consomem bebidas, DA, 25/Abr/<strong>2009</strong>, p. 11<br />

Soluções para a gravidez precoce claramente ligadas à Educação, DA,<br />

28/Abr/<strong>2009</strong>, p. 2<br />

Programa de metadona vai chegar a 350 utentes em São Miguel, AO,<br />

29/Abr/<strong>2009</strong>, p. 8<br />

Tabaco falsificado já é vendido em cafés e bares, AO, 29/Abr/<strong>2009</strong>, p. 30<br />

Novas formas de consumo e medidas de combate à droga em discussão, DA,<br />

07/Mai/<strong>2009</strong>, p. 11<br />

Programas de tratamento de cannabis através da Web fundamentais para chegar<br />

aos jovens, DA, 08/Mai/<strong>2009</strong>, p. 24<br />

236


Consumo de droga abaixo da média da UE, DN, 09/Mai/<strong>2009</strong>, p. 20<br />

Meio milhar marchou pela legalização da ‘cannabis’, DN, 10/Mai/<strong>2009</strong>, p. 22<br />

Álcool é agora o principal desafio do Instituto da Droga e Toxicodependência,<br />

DA, 29/Mai/<strong>2009</strong>, p. 24<br />

Cor da pele pode influenciar absorção de nicotina, DA, 31/Mai/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Governo não deixará cair aumento da idade mínima para consumo de álcool,<br />

DA, 11/Jun/<strong>2009</strong>, p. 19<br />

A droga venceu a guerra, I, 18/Jun/<strong>2009</strong>, p. 4<br />

Idosas que tomam café perdem menos memória, revela estudo científico, DA,<br />

13/Jun/<strong>2009</strong>, p. 19<br />

Área das dependências com novos apoios, DA, 23/Jun/<strong>2009</strong>, p. 6<br />

<strong>Estudo</strong> indica que chá verde pode reduzir cancro de próstata, DA, 23/Jun/<strong>2009</strong>, p. 16<br />

Três em cada 100 pessoas no mundo usaram drogas, DA, 25/Jun/<strong>2009</strong>, p. 13<br />

ARRISCA tem dois novos programas para ajuda a toxicodependentes, DA;<br />

26/Jun/<strong>2009</strong>, p. 4<br />

Fumar cannabis danifica ADN e potencia aparecimento de cancro, DA,<br />

26/Jun/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Vinho pode minimizar efeito de radioterapia, diz estudo, DA, 03/Jul/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Consumo de café protege a memória das mulheres idosas, DA, 04/Jul/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

População de S. Pedro preocupada com segurança devido à droga, DA,<br />

08/Jul/<strong>2009</strong>, p. 8<br />

<strong>Estudo</strong> aconselha atletas a beber cerveja todos os dias, DA, 12/Jul/<strong>2009</strong>, p. 20<br />

Apreensão de tabaco ilegal atinge valor recorde, DA, 16/Jul/<strong>2009</strong>, p. 11<br />

Beber chá pode reduzir os teores de ferro no organismo, DA, 19/Jul/<strong>2009</strong>, p. 16<br />

<strong>Estudo</strong> revela que tabaco pode provocar danos cerebrais, DA, 19/Jul/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Cessação tabágica durante a gravidez reduz risco de parto prematuro, DA,<br />

28/Jul/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Ribeira Grande promove estilos de vida saudáveis, DA, 31/Jul/<strong>2009</strong>, p. 6<br />

Substância presente no vinho tinto previne infecções graves como a septicemia,<br />

DA, 04/Ago/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

<strong>Estudo</strong> identifica parte do cérebro ligada ao vício de jogo, DA, 06/Ago/<strong>2009</strong>, p. 12<br />

Governantes sensibilizam jovens para a condução sem álcool em bares, DA,<br />

15/Ago/<strong>2009</strong>, p. 12<br />

JSD/ Terceira comemora juventude sem bebidas alcoólicas, DA, 16/Ago/<strong>2009</strong>, p. 5<br />

Cerveja pode fazer bem aos ossos, DA, 18/Ago/<strong>2009</strong>, p. 17<br />

Dependências e outras violências…<br />

Consumidores de café têm maior risco de sofrer enxaquecas, DA, 19/Ago/<strong>2009</strong>, p. 16<br />

237


Alberto Peixoto<br />

Bebés expostos ao fumo do tabaco têm mais infecções, DA, 21/Ago/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

São as açorianas “tesas para a pinga?”, DA, 27/Ago/<strong>2009</strong>, p. 3<br />

Formação de equipas de rua no combate às dependências, DA, 1/Set/<strong>2009</strong>, p. 6<br />

Prática de Exercício físico ajuda a combater o vício de fumar, DA, 2/Set/<strong>2009</strong>, p. 2<br />

Grávidas toxicodependentes diminuem mais de 50%, DA, 06/Set/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Discriminação de droga na Amazónia, DA, 12/Set/<strong>2009</strong>, p.13<br />

Casa de Saúde de S. Miguel diz que é “insustentável” haver atrasos nos pagamentos<br />

do Governo, DA, 13/Set/<strong>2009</strong>, p. 3<br />

Prevenção das dependências em debate, DA, 16/Set/<strong>2009</strong>, p. 5<br />

Nova Iorque com novas proibições de fumo, DA, 17/Set/<strong>2009</strong>, p. 13<br />

Governo celebra protocolo para prevenção das dependências com Câmaras do<br />

Faial, Pico e Terceira, DA, 18/Set/<strong>2009</strong>, p. 2<br />

PSP apreendeu mais de 130 mil doses de estupefacientes entre Janeiro e Julho,<br />

DA, 23/Set/<strong>2009</strong>, p. 3<br />

Inaugurada sede da Direcção Regional da Prevenção e Combate às<br />

Dependências, na Praia da Vitória, DA, 24/Set/<strong>2009</strong>, p. 5<br />

Tabagismo deve matar seis milhões de pessoas em 2010, DA, 25/Set/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

<strong>Estudo</strong> revela que álcool, obesidade e depressão estão interligados, DA,<br />

01/Out/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Consumo de certos antibióticos pela grávida associado a defeitos congénitos,<br />

DA, 05/Out/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Consumo de chá verde reduz a ansiedade, DA, 05/Out/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Fumar na gravidez aumenta risco de psicose nas crianças, DA, 9/Out/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Vacina trava dependência de cocaína, DA, 12/Out/<strong>2009</strong>, p. 20<br />

Homens que nunca fumaram vivem mais, DA, 16/Out/<strong>2009</strong>, p. 13<br />

No Dia da Depressão dados do Infarmed apontam para aumento do consumo de<br />

psicofármacos, DA, 17/Out/<strong>2009</strong>, p. 10<br />

Slot machines, clandestinos de cartas e ciberjogo são os jogos que causam maior<br />

dependência, DA, 20/Out/<strong>2009</strong>, p. 11<br />

Álcool aos 13 anos aumenta em 50% risco de vício, DN, 21/Out/<strong>2009</strong>, p. 10<br />

Parlamento Europeu aprova aplicação de imposto reduzido a rum, licores e<br />

aguardentes dos Açores, DA, 21/Out/<strong>2009</strong>, p. 6<br />

Jovens com poucos conhecimentos dos riscos que o álcool acarreta, DA,<br />

21/Out/<strong>2009</strong>, p. 5<br />

Associação Juvenil Aprender a Viver combate problemas de toxicodependência e<br />

de alcoolismo nos jovens de São Pedro, DA, 22/Out/<strong>2009</strong>, p. 4<br />

238


Dependências e outras violências…<br />

Educação sexual desde os 5 anos, CA, 25/Out/<strong>2009</strong>, p. 36<br />

Bebidas quentes estimulam sensações boas, diz estudo, DA 2/Nov/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Projecto aposta em equipa de rua para toxicodependentes, DA, 2/Nov/<strong>2009</strong>, p. 11<br />

Afinal, o café não aumenta risco de insuficiência cardíaca, DA, 03/Nov/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Número de alcoólicos não tem aumentado mas crescem pedidos de tratamento,<br />

DA, 04/Nov/<strong>2009</strong>, p. 17<br />

Café ajuda a diminuir danos no fígado decorrentes da hepatite, DA,<br />

04/Nov/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Droga: Mortes por consumo em Portugal subiram 45%, DA, 06/Nov/<strong>2009</strong>, p. 11<br />

Café diminui risco de cancro do endométrio, DA, 08/Nov/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

106 doses de haxixe apreendidas na cadeia de Ponta Delgada, DA, 17/Nov/<strong>2009</strong>, p. 9<br />

80 a 90% dos internamentos no Hospital de Ponta Delgada devem-se a patologias<br />

relacionadas com o tabagismo, DA, 17/Nov/<strong>2009</strong>, p. 5<br />

Consumo de antidepressivos aumentam nos últimos meses, DA, 25/Nov/<strong>2009</strong>, p. 9<br />

Açores registam aumento de novos casos de contágio por SIDA, mas açorianos<br />

aderem ao teste voluntário de SIDA, DA, 27/Nov/<strong>2009</strong>, p.4<br />

Novos casos de HIV descem 17%, DA, 27/Nov/<strong>2009</strong>, p. 13<br />

Antipsicóticos causam aumentos drásticos de peso em crianças, DA,<br />

27/Nov/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Consumo regular de chá pode ajudar a prevenir diabetes, DA, 28/Nov/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Cannabis consumida dia-a-dia aumenta até seis vezes o risco de esquizofrenia,<br />

CA, 03/Dez/<strong>2009</strong>, p. 27<br />

Jovens adultos mais velhos são os principais alvos do combate contra a SIDA,<br />

DA, 08/Dez/<strong>2009</strong>, p. 4<br />

Anti-retrovirais para o HIV associados a maior risco de desenvolver a doença,<br />

DA, 10/Dez/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Ingestão de álcool aumenta recorrência de cancro da mama, DA, 22/Dez/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Cientistas descobrem mutações no DNA causadas pelo tabaco, DA, 22/Dez/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Aumento de mortes em Portugal por consumo de drogas, DA, 22/Dez/<strong>2009</strong>, p. 12<br />

Luxemburgo tem maior consumo de álcool entre países da OECD, DA,<br />

23/Dez/<strong>2009</strong>, p. 13<br />

Dependência de álcool e marijuana com genes partilhados, DA, 25/Dez/<strong>2009</strong>, p. 21<br />

Tabaco: ASAE instaurou 1800 processos por infracções à lei em dois anos, DA,<br />

30/Dez/<strong>2009</strong>, p. 11<br />

239


Alberto Peixoto<br />

ANO 2010<br />

Tabaco: preço poderá aumentar até 10 cêntimos, DA, 3/Jan/2010, p. 20<br />

Chá verde protege do cancro do pulmão, DA, 17/Jan/2010, p. 16<br />

Suzete Frias: “A maioria dos toxicodependentes deverá estar em programas<br />

livres de drogas”, DA, 06/Fev/2010, p. 4-5<br />

Apreensões de cocaína diminuíram em Portugal e Espanha em 2008,<br />

25/Fev/2010, p. 11<br />

Fumadores são mais propensos a sofrer ruptura de aneurisma, DA, 05/Mar/2010, p. 21<br />

Consumo prolongado de cannabis duplica risco de psicose, DA, 06/Mar/2010, p. 21<br />

Unidades de saúde realizaram 1 433 consultas de cessação tabágica em dois<br />

anos, DA, 31/Mar/2010, p. 9<br />

Prevenção da sida falha entre toxicodependentes, DA, 02/Mar/2010, p. 11<br />

240


ANEXOS


Otl Jovem <strong>2004</strong> – Os Jovens e a Polícia contra<br />

as dependências – AÇORES<br />

INQUÉRITO<br />

Rua__________________________ Nº Casas ___________ Amostra(10%)<br />

Freguesia _________________ Concelho ___________ Ilha____________<br />

1. Sexo: Mas.❑(1) Fem.❑(2)<br />

2. Idade: 14 e menos ❑(1) 21 – 25 ❑(3) 31 – 35 ❑(5) 41 – 45 ❑(7)<br />

15 – 20 ❑(2) 26 – 30 ❑(4) 36 – 40 ❑(6) 46 – 50 ❑(8) 51 e + ❑(9)<br />

3. Estado Civil: Solteiro ❑(1) Divorciado ❑(3) Separado ❑(5)<br />

Casado ❑(2) Viúvo ❑(4) União de Facto ❑(6)<br />

4. Reside em: Meio rural ❑(1)<br />

Meio urbano ❑(2)<br />

5. Habilitações Literárias: Não Sabe Ler ❑(1)<br />

Sabe ler e escrever ❑(2)<br />

1º Ciclo (4ªcl) ❑(3)<br />

2º Ciclo (6ªcl) ❑(4)<br />

3º Ciclo (9ªcl) ❑(5)<br />

Ensino Secundário (10º – 12º) ❑(6)<br />

Curso Profissional ❑(7)<br />

Curso Superior ❑(8)<br />

Dependências e outras violências…<br />

6. Profissão: __________________________________________________<br />

6.1. Vínculo Profissional: Serviço ocasional - por conta de outrém ❑(1)<br />

- por conta própria ❑(2)<br />

Contrato a termo ❑(3)<br />

Efectivo ❑(4)<br />

Outra ❑(5)<br />

243


Alberto Peixoto<br />

7. Habitação: Dos pais/Sogros ❑(1) Do próprio ❑(3) Arrendada ❑(5)<br />

Hipotecada ❑(2) Dada pelo Estado ❑(4) Outra ❑(6)<br />

7.1 Satisfação com a habitação: Muito Boa ❑(1) Razoável ❑(3)<br />

Boa ❑(2) Imprópria ❑(4)<br />

7.1.1 Quantos quartos tem? ______<br />

7.1.2 Quantas pessoas nela habitam? ______<br />

8. Na sua infância foi separado de algum familiar próximo:<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

8.1 Se Sim, foi separado:<br />

Do pai ❑(1)<br />

Da mãe ❑(2)<br />

De ambos ❑(3)<br />

De outro com função de educador ❑(4)<br />

9. Tem recordações de infância de violência doméstica no seio da sua<br />

família?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

244<br />

10. Já teve problemas com a polícia ou tribunais? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

10.1. Se sim, de que tipo? ______________<br />

10.1.1 Com que idade teve o primeiro problema? _____________<br />

11. Alguma vez foi condenado em Tribunal: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

11.1 Se sim, foi a: Multa ❑(1) Prisão ❑(2) Pena suspensa ❑(3)


11.1.1 Se sim, a infracção cometida foi por:<br />

Irreverência ❑(1) Aventura ❑(2) Benefício imediato ❑(3)<br />

Auto afirmação ❑(4) Acidente ❑(5) Companhias ❑(6)<br />

Necessidade ❑(7) Diversão ❑(8) Dependências (diversas) ❑(9)<br />

12. A violação das normas em geral depende:<br />

Da sua vontade ❑(1)<br />

Do meio onde vive ❑(2)<br />

Da vontade das companhias ❑(3)<br />

Algo que não sabe explicar ❑(4)<br />

12. Costuma ingerir bebidas alcoólicas: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

12.1 Se sim, consome:<br />

Diariamente ❑(1) Semanalmente ❑(2) Ocasionalmente ❑(3)<br />

12.1.1 De que tipo?<br />

Cerveja ❑(1)<br />

Vinho ❑(2)<br />

Whisky ❑(3)<br />

<strong>Outras</strong> ❑(4)<br />

12.1.2 Com que idade iniciou o consumo?<br />

14 e menos ❑(1) 21 – 25 ❑(3) 31 – 35 ❑(5) 41 – 45 ❑(7)<br />

15 – 20 ❑(2) 26 – 30 ❑(4) 36 – 40 ❑(6) 46 – 50 ❑(8) 51 e + ❑(9)<br />

12.1.3 Iniciou:<br />

Em casa ❑(1)<br />

Na Escola ❑(2)<br />

Em festas ❑(3)<br />

No grupo ❑(4)<br />

Outro ❑(5)<br />

Dependências e outras violências…<br />

245


Alberto Peixoto<br />

246<br />

12.1.4 Consome para:<br />

Não sentir frio q(1)<br />

Se refrescar q(2)<br />

Se sentir desinibido ❑(3)<br />

Se sentir calmo ❑(4)<br />

Ter coragem ❑(5)<br />

Ter mais força/potência ❑(6)<br />

Esquecer ❑(7)<br />

Sentir prazer ❑(8)<br />

Outra ❑(9)<br />

12.1.5 Iniciou o consumo:<br />

Sozinho ❑(1)<br />

Com familiares ❑(2)<br />

Com amigos/Colegas ❑(3)<br />

12.1.6 Já foi vítima de acto praticado por indivíduo alcoolizado?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

13.Costuma fumar: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

13.1 Se sim, fuma:<br />

Diariamente ❑(1) Semanalmente ❑(2) Ocasionalmente ❑(3)<br />

13.1.1 O quê?<br />

Cigarros normais ❑(1)<br />

Cigarrilhas ❑(2)<br />

Charuto ❑(3)<br />

Cachimbo ❑(4)<br />

Outro ❑(5)<br />

13.1.2 Com que idade iniciou?<br />

14 e menos ❑(1) 21 – 25 ❑(3) 31 – 35 ❑(5) 41 – 45 ❑(7)<br />

15 – 20 ❑(2) 26 – 30 ❑(4) 36 – 40 ❑(6) 46 – 50 ❑(8) 51 e + ❑(9)


13.1.3 Iniciou:<br />

Em casa ❑(1)<br />

Na Escola ❑(2)<br />

Em festas ❑(3)<br />

No grupo ❑(4)<br />

Outro ❑(5)<br />

13.1.4 Fuma para:<br />

Se sentir desinibido ❑(1)<br />

Se sentir calmo ❑(2)<br />

Ter coragem ❑(3)<br />

Ter mais força/potência ❑(4)<br />

Esquecer ❑(5)<br />

Sentir prazer ❑(6)<br />

Outra ❑(7)<br />

13.1.5 Iniciou o consumo:<br />

Sozinho ❑(1)<br />

Com familiares ❑(2)<br />

Com amigos/Colegas ❑(3)<br />

14. Já consumiu algum tipo de droga: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

14.1. Se sim, consome:<br />

Diariamente ❑(1) Semanalmente ❑(2) Ocasionalmente ❑(3)<br />

14.1.1 De que tipo?<br />

Ecstasy ❑(1)<br />

Liamba ❑(2)<br />

Cannabis ❑(3)<br />

Haxixe ❑(4)<br />

Heroína ❑(5)<br />

Cocaína ❑(6)<br />

Outra ❑(7)<br />

Dependências e outras violências…<br />

247


Alberto Peixoto<br />

14.1.2 Com que idade iniciou?<br />

14 e menos ❑(1) 21 – 25 ❑(3) 31 – 35 ❑(5) 41 – 45 ❑(7)<br />

15 – 20 ❑(2) 26 – 30 ❑(4) 36 – 40 ❑(6) 46 – 50 ❑(8) 51 e + ❑(9)<br />

14.1.3 Iniciou:<br />

Em casa ❑(1)<br />

Na Escola ❑(2)<br />

Em festas ❑(3)<br />

No grupo ❑(4)<br />

Outro ❑(5)<br />

14.1.4 Iniciou o consumo:<br />

Sozinho ❑(1)<br />

Com familiares ❑(2)<br />

Com amigos/Colegas ❑(3)<br />

14.1.5 Consome/consumiu drogas para:<br />

Se sentir desinibido ❑(1)<br />

Se sentir calmo ❑(2)<br />

Ter coragem ❑(3)<br />

Ter mais força/potência ❑(4)<br />

Esquecer ❑(5)<br />

Sentir prazer ❑(6)<br />

Outra ❑(7)<br />

14.1.6 Já foi vítima de acto praticado por indivíduo que se encontrava<br />

sob o efeito de droga? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

248<br />

15. Na satisfação de um vício/dependência sente:<br />

Satisfação ❑(1)<br />

Revolta ❑(2)<br />

Indiferença ❑(3)<br />

Medo ❑(4)<br />

Arrependimento ❑(5)<br />

Frustração ❑(6)


15.1 Já efectuou alguma tentativa para abandonar um vício/ dependência?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

15.1.2 Se sim, foi de:<br />

Álcool ❑(1)<br />

Droga ❑(2)<br />

Tabaco ❑(3)<br />

Outra ❑(4)<br />

15.1.3 Resultou?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

15.1.4 Se não foi devido a:<br />

Falta de apoio familiar ❑(1)<br />

Falta de apoio dos amigos ❑(2)<br />

Incapacidade individual ❑(3)<br />

Dificuldades de inserção num novo grupo ❑(4)<br />

Problemas habitacionais ❑(5)<br />

Problemas familiares ❑(6)<br />

Culpa dos técnicos de apoio ❑(7)<br />

Outros ❑(8)<br />

16. Consome regularmente café? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

17. Admite ter já sido violento devido ao consumo de álcool ou droga?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

18. Já cometeu algum crime relacionado com o consumo de álcool ou droga?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

Dependências e outras violências…<br />

19. Tem conhecimento de casos de consumo/ tráfico de droga no meio<br />

onde reside? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

20. Tem conhecimento de casos de consumo excessivo de álcool no meio<br />

onde reside? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

249


INQUÉRITO<br />

OS JOVENS E A PREVENÇÃO DAS<br />

DEPENDÊNCIAS – <strong>2009</strong><br />

Freguesia ______________ Concelho _______________ Ilha___________<br />

1. Sexo: Mas. ❑(1) Fem. ❑(2)<br />

2. Ano de nascimento:<br />

3. Estado Civil: Solteiro ❑(1) Divorciado ❑(3) Separado ❑(5)<br />

Casado ❑(2) Viúvo ❑(4) União de Facto ❑(6)<br />

4. Habilitações Literárias: Não Sabe Ler ❑(1)<br />

Sabe ler e escrever ❑(2)<br />

1º Ciclo (4ªcl) ❑(3)<br />

2º Ciclo (6ªcl) ❑(4)<br />

3º Ciclo (9ªcl) ❑(5)<br />

Ensino Secundário (10º – 12º) ❑(6)<br />

Curso Profissional ❑(7)<br />

Curso Superior ❑(8)<br />

4.1 Já fez algum curso profissional? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

4.2 Em que área?<br />

5. Profissão:<br />

Dependências e outras violências…<br />

5.1. Sente-se realizado com a sua profissão/vida escolar?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

251


Alberto Peixoto<br />

5.2. Situação Profissional, permanente: termo ❑(1)<br />

efectivo ❑(2)<br />

ocasional: conta de outrem ❑(3)<br />

conta própria ❑(4)<br />

outra, qual?<br />

6. Participa em alguma Associação ou actividade fora do meio profissional/escolar?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

252<br />

6.1. Se sim, em que área?<br />

Desportiva ❑(1)<br />

Musical ❑(2)<br />

Cultural ❑(3)<br />

Religiosa ❑(4)<br />

Outra, qual?<br />

7. Consome regularmente café? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

8. Costuma fumar: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

8.1. Se sim, fuma:<br />

Diariamente ❑(1) Semanalmente ❑(2) Ocasionalmente ❑(3)<br />

8.1.1. Onde? Em casa ❑(1)<br />

Na escola/trabalho ❑(2)<br />

Em festas ❑(3)<br />

No grupo ❑(4)<br />

Outra, qual?


8.1.2. O quê? Cigarros normais ❑(1)<br />

Cigarrilhas ❑(2)<br />

Charuto ❑(3)<br />

Cachimbo ❑(4)<br />

Outro, qual?<br />

8.2. Com que idade iniciou?<br />

8.2.1. Onde iniciou o consumo de tabaco?<br />

Em casa ❑(1)<br />

Na escola ❑(2)<br />

Em festas ❑(3)<br />

No grupo ❑(4)<br />

Outro, qual?<br />

8.2.2. Com quem iniciou o consumo de tabaco?<br />

Sozinho ❑(1)<br />

Com familiares ❑(2)<br />

Com amigos/Colegas ❑(3)<br />

8.3. Fuma para: Se sentir desinibido ❑(1)<br />

Se sentir calmo ❑(2)<br />

Ter coragem ❑(3)<br />

Ter mais força/potência ❑(4)<br />

Esquecer ❑(5)<br />

Sentir prazer ❑(6)<br />

Outra, qual?<br />

Dependências e outras violências…<br />

8.4. Quanto gasta por semana em tabaco? €<br />

253


Alberto Peixoto<br />

254<br />

8.5.1. De onde vem o dinheiro?<br />

Salário ❑(1)<br />

Mesada ❑(2)<br />

Pensão ❑(3)<br />

Outro, qual?<br />

8.6 Algum dos seus familiares/próximos tem conhecimento de que fuma?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

8.7. Tem algum familiar próximo que fuma com regularidade?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

8.7.1. Se sim, quem?<br />

9. Nos últimos 30 dias, consumiu tranquilizantes/ sedativos/anti-depressivos?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

9.1. Se sim, foram receitados por um médico?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

10. Costuma ingerir bebidas alcoólicas:<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

10.1. Se sim, consome:<br />

Diariamente ❑(1) Semanalmente ❑(2) Ocasionalmente ❑(3)<br />

10.1.1. Onde? Em casa ❑(1)<br />

Na escola/trabalho ❑(2)<br />

Em festas ❑(3)<br />

No grupo ❑(4)<br />

Outro, qual?


10.1.2. Que tipo de bebidas consumiu?<br />

Cerveja com álcool ❑(1)<br />

Vinho ❑(2)<br />

Bebidas destiladas (Whisky, gin, vodka, aguardente, etc) ❑(3)<br />

Outra, qual?<br />

10.2. Com que idade iniciou o consumo de bebidas alcoólicas?<br />

10.2.1. Onde iniciou o consumo : Em casa ❑(1)<br />

Na escola ❑(2)<br />

Em festas ❑(3)<br />

No grupo ❑(4)<br />

Outro, qual?<br />

10.2.2. Com quem iniciou o consumo: Sozinho ❑(1)<br />

Com familiares ❑(2)<br />

Com amigos/Colegas ❑(3)<br />

10.3. Quanto gasta por semana com bebidas alcoólicas? €<br />

10.3.1. De onde vem o dinheiro?<br />

Salário ❑(1)<br />

Mesada ❑(2)<br />

Pensão ❑(3)<br />

Outro, qual?<br />

Dependências e outras violências…<br />

10.4. Algum dos seus familiares/próximos tem conhecimento de que<br />

consome? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

10.5. Tem algum familiar próximo que consuma em excesso?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

255


Alberto Peixoto<br />

256<br />

10.5.1. Se sim, quem?<br />

10.6. Consome para: Não sentir frio ❑(1)<br />

Se refrescar ❑(2)<br />

Se sentir desinibido ❑(3)<br />

Se sentir calmo ❑(4)<br />

Ter coragem ❑(5)<br />

Ter mais força/potência ❑(6)<br />

Esquecer ❑(7)<br />

Sentir prazer ❑(8)<br />

Outro, qual?<br />

11. Já se embriagou alguma vez? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

11.1 Se sim, a última vez que se embriagou foi:<br />

há menos de uma semana ❑(1)<br />

há menos de um mês ❑(2)<br />

há menos de um ano ❑(3)<br />

há vários anos atrás ❑(4)<br />

12. Já foi vítima de acto praticado por indivíduo alcoolizado?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

13. Admite ter já sido violento devido ao consumo de álcool?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

14. Já cometeu algum crime relacionado com o consumo de álcool?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

15. Já consumiu algum tipo de droga: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

15.1. Se sim, consome:<br />

Diariamente ❑(1) Semanalmente ❑(2) Ocasionalmente ❑(3)


15.1.1. Onde? Em casa ❑(1)<br />

Na escola/trabalho ❑(2)<br />

Em festas ❑(3)<br />

No grupo ❑(4)<br />

Outro, qual?<br />

15.1.2. Que tipo? Ecstasy/ anfetaminas ❑(1)<br />

Liamba/marijuana (cannabis: folhas) ❑(2)<br />

Haxixe (Cannabis: resina) ❑(3)<br />

LSD/ cogumelos alucinogéneos ❑(4)<br />

Heroína ❑(5)<br />

Cocaína ❑(6)<br />

Outra, qual?<br />

15.2. No caso de já ter consumido uma qualquer substância mais de uma<br />

vez, o último consumo foi:<br />

há menos de uma semana ❑(1)<br />

há menos de um mês ❑(2)<br />

há menos de um ano ❑(3)<br />

há vários anos atrás ❑(4)<br />

15.3. Com que idade iniciou o consumo de drogas?<br />

15.3.1. Onde iniciou o consumo de drogas?<br />

Em casa ❑(1)<br />

Na escola ❑(2)<br />

Em festas ❑(3)<br />

No grupo ❑(4)<br />

Outra, qual?<br />

Dependências e outras violências…<br />

15.3.2. Cpm quem iniciou o consumo de drogas?<br />

Sozinho ❑(1)<br />

Com familiares ❑(2)<br />

Com amigos/Colegas ❑(3)<br />

257


Alberto Peixoto<br />

15.4. Quanto gasta por semana com drogas? €<br />

15.4.1 De onde vem o dinheiro?<br />

Salário ?(1)<br />

Mesada ?(2)<br />

Pensão ?(3)<br />

Outra, qual?<br />

15.5. Algum dos seus familiares/próximos tem conhecimento de que<br />

consome? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

258<br />

15.6. Tem algum familiar que consome com regularidade?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

15.7. Consome/consumiu drogas para:<br />

Se sentir desinibido ❑(1)<br />

Se sentir calmo ❑(2)<br />

Ter coragem ❑(3)<br />

Ter mais força/potência ❑(4)<br />

Esquecer ❑(5)<br />

Sentir prazer ❑(6)<br />

Outra, qual?<br />

16. Já foi vítima de acto praticado por indivíduo sob o efeito de droga?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

17. Admite ter já sido violento devido ao consumo de droga?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)


18. Já cometeu algum crime quando estava sob o efeito de droga?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

19. Acha que está dependente/ viciado (a) no consumo de:<br />

tabaco ❑(1)<br />

álcool ❑(2)<br />

medicamentos ❑(3)<br />

droga ❑(4)<br />

outra, qual?<br />

20. Já efectuou alguma tentativa para abandonar essa dependência/vício?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

20.1. Se sim, foi de: tabaco ❑(1)<br />

álcool ❑(2)<br />

medicamentos ❑(3)<br />

droga ❑(4)<br />

outra, qual?<br />

20.2. Resultou? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

20.3. Se não, foi devido a:<br />

falta de apoio familiar ❑(1)<br />

falta de apoio dos amigos ❑(2)<br />

incapacidade individual ❑(3)<br />

dificuldades de inserção num novo grupo ❑(4)<br />

problemas habitacionais ❑(5)<br />

problemas familiares ❑(6)<br />

culpa dos técnicos de apoio ❑(7)<br />

outra, qual?<br />

Dependências e outras violências…<br />

259


Alberto Peixoto<br />

21. Na satisfação de um vício/dependência sente:<br />

satisfação ❑(1)<br />

revolta ❑(2)<br />

indiferença ❑(3)<br />

medo ❑(4)<br />

arrependimento ❑(5)<br />

frustração ❑(6)<br />

outra, qual?<br />

22. Relativamente à violência doméstica, diga se já viveu experiências dessas<br />

no seio da sua família? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

260<br />

22.1. Se sim, em que altura da sua vida? Infância ❑(1)<br />

Adolescência ❑(2)<br />

Idade adulta ❑(3)<br />

23.1. Durante o ano de 2008 alguém:<br />

23.1.1. o (a) agrediu? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

23.1.2. lhe tirou (furtou/roubou) alguma coisa?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

23.1.3. o (a) forçou ou tentou forçar sexualmente?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

23.1.4. não lhe pagou o valor devido por um trabalho?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

24. Durante o ano de 2008 foi vítima de um ou mais crimes praticados contra si?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

23.2. Se sim, denunciou o<br />

caso à polícia/autoridades?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)


Dependências e outras violências…<br />

25. Se sim, depois de ter sido vítima de um crime: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

25.1. alguma vez teve vontade de mudar de residência?<br />

Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

25.2. alguma vez teve vontade de deixar de passar ou frequentar determinados<br />

locais? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

25.3. passou a sentir medo de sair sozinho à noite? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

25.4. passou a sentir-se mais seguro em casa? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

25.5. passou a evitar certas partes da cidade? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />

Obrigado pela colaboração<br />

261


ÍNDICE DE FIGURAS E IMAGENS<br />

Figura n.º 1 A pirâmide mostra dois aspectos importantes. Em primeiro<br />

lugar, que os padrões de consumo são incontáveis e variam ao longo<br />

de uma linha contínua. Quanto mais intenso o consumo, maiores serão<br />

os problemas. Em segundo, conforme aumenta a quantidade de substâncias<br />

consumidas diminui o número de indivíduos envolvidos...............<br />

Figura n.º 2 Categorias de consumidores identificados face à intensidade<br />

e justificações de consumo. .........................................................<br />

Imagem n.º 1 Fotografias de Roseanne, pertencentes aos ficheiros da<br />

Scotland Yard de Londres. ...................................................................<br />

Imagem n.º 2 The Downward Spiral- www.rotten.com.........................<br />

Imagem n.º 3 Imagens utilizadas em maços de tabaco para combater o<br />

consumo..................................................................................................<br />

Imagem n.º 4 Imagens utilizadas em campanhas de consciencialização<br />

inglesas. ..................................................................................................<br />

Imagem n.º 5 Imagens utilizadas em campanha de consciencialização<br />

inglesa contra o tabaco. ..........................................................................<br />

ÍNDICE DE QUADROS<br />

Quadro n.º 1 Prevalência do consumo de cannabis na UE dos 15. ............<br />

Quadro n.º 2 Comparação por sexos da população inquirida. .............<br />

Quadro n.º 3 Estado civil da população inquirida ..............................<br />

Quadro n.º 4 Comparação das habilitações literárias da população<br />

inquirida..................................................................................................<br />

Quadro n.º 5 População inquirida segundo o vínculo profissional. ....<br />

Quadro n.º 6 Apreensões de droga, efectuadas pela PSP, nos Açores,<br />

entre 2005 e <strong>2009</strong>. .................................................................................<br />

Pag.<br />

15<br />

215<br />

56<br />

57<br />

58<br />

58<br />

59<br />

33<br />

41<br />

42<br />

43<br />

44<br />

50<br />

263


Alberto Peixoto<br />

Quadro n.º 7 Preços do custo de droga ao consumidor em euros. ......<br />

Quadro n.º 8 Número de doses individuais de droga, por grama e preços<br />

do custo ao consumidor, em euros. .................................................<br />

Quadro n.º 9 Quantidade de droga apreendida, em Portugal. .............<br />

Quadro n.º 10 Quantidades de estupefacientes apreendidos em<br />

Portugal de 1995 a 1999 em comparação com as quantidades apreendidas<br />

em 2007, 2008 e <strong>2009</strong>, incluindo Açores e Madeira. .....................<br />

Quadro n.º 11 Valor em euros da droga apreendida, em Portugal, e<br />

valor estimado da substância estupefaciente não apreendida. ..............<br />

Quadro n.º 12 Comparação por sexos e total das percentagens de<br />

fumadores entre o Continente e os Açores.............................................<br />

Quadro n.º 13 Comparação das percentagens de fumadores, tendo em<br />

conta a área de residência.......................................................................<br />

Quadro n.º 14 Percentagem da população fumadora por ilha, <strong>2004</strong> -<br />

<strong>2009</strong> ........................................................................................................<br />

Quadro n.º 15 Consumo de tabaco por concelhos <strong>2004</strong> - <strong>2009</strong>. .........<br />

Quadro n.º 16 Idade de início do consumo de tabaco nos Açores. ......<br />

Quadro n.º 17 Comparação das percentagens de fumadores, com prevalência<br />

diária e prevalência inferior à diária, entre o Continente e os<br />

Açores.....................................................................................................<br />

Quadro n.º 18 Iniciação ao consumo de tabaco. .................................<br />

Quadro n.º 19 Local onde foi iniciado o consumo de tabaco...............<br />

Quadro n.º 20 Frequência do consumo de tabaco nos Açores. ............<br />

Quadro n.º 21 Tipologia de tabaco fumado nos Açores. ......................<br />

Quadro n.º 22 Idade de início de consumo de tabaco, por ilhas. ........<br />

Quadro n.º 23 Consumo de tabaco por idades......................................<br />

Quadro n.º 24 Consumo de tabaco por estados civis. ..........................<br />

Quadro n.º 25 Consumo de tabaco, tendo em conta as habilitações literárias.<br />

......................................................................................................<br />

Quadro n.º 26 Consumo de tabaco por profissões................................<br />

Quadro n.º 27 Consumo de tabaco e as recordações de violência<br />

doméstica na infância. ............................................................................<br />

Quadro n.º 28 Relação estimada entre consumo de bebidas alcoólicas,<br />

sexo, peso e taxa de alcoolemia. ...........................................................<br />

Quadro n. º 29 Consumo regular de álcool nos Açores........................<br />

Quadro n.º 30 Regularidade do consumo de álcool a nível Açores. ....<br />

264<br />

51<br />

51<br />

52<br />

52<br />

53<br />

74<br />

75<br />

76<br />

77<br />

79<br />

79<br />

80<br />

81<br />

82<br />

82<br />

84<br />

85<br />

86<br />

87<br />

88<br />

88<br />

96<br />

101<br />

102


Dependências e outras violências…<br />

Quadro n.º 31 Consumo regular de álcool por sexos. ..........................<br />

Quadro n.º 32 Regularidade do consumo de álcool a nível Açores. ....<br />

Quadro n.º 33 Principais mitos que justificam o consumo de álcool nos<br />

Açores.....................................................................................................<br />

Quadro n.º 34 Percentagem da população consumidora de álcool<br />

por ilha...............................................................................................<br />

Quadro n.º 35 Consumo de álcool por concelhos. ..............................<br />

Quadro n.º 36 Regularidade do consumo de álcool por ilhas. ............<br />

Quadro n.º 37 Tipo de bebidas alcoólicas consumidas nos Açores. ...<br />

Quadro n.º 38 Tipo de bebidas alcoólicas consumidas por ilhas. ........<br />

Quadro n.º 39 Idades de início do consumo de bebidas alcoólicas,<br />

entre consumidores regulares, por ilhas, em <strong>2004</strong>.................................<br />

Quadro n.º 40 Idades de início do consumo de bebidas alcoólicas,<br />

entre consumidores regulares, por ilhas, em <strong>2009</strong>. .............................<br />

Quadro n.º 41 Iniciação do consumo de bebidas alcoólicas. ...............<br />

Quadro n.º 42 Local onde foi iniciado o consumo de bebidas alcoólicas. ....<br />

Quadro n.º 43 Vítimas de violência praticada por indivíduos alcoolizados.<br />

......................................................................................................<br />

Quadro n.º 44 Vítimas de violência praticada por indivíduos alcoolizados,<br />

por ilha.........................................................................................<br />

Quadro n.º 45 Consumo regular de álcool por idades..........................<br />

Quadro n.º 46 Regularidade do consumo de álcool por idades............<br />

Quadro n.º 47 Consumo regular de álcool segundo o estado civil.......<br />

Quadro n.º 48 Regularidade do consumo de álcool segundo o estado civil..<br />

Quadro n.º 49 Regularidade do consumo de álcool segundo a área de<br />

residência................................................................................................<br />

Quadro n.º 50 Consumo regular de álcool segundo as habilitações literárias.<br />

......................................................................................................<br />

Quadro n.º 51 Regularidade de consumo de álcool segundo as habilitações<br />

literárias. ......................................................................................<br />

Quadro n.º 52 Regularidade de consumo de álcool por profissões......<br />

Quadro n.º 53 Regularidade do consumo de álcool e o vínculo profissional.......................................................................................................<br />

Quadro n.º 54 Consumo regular de álcool e as recordações de violência<br />

doméstica no seio da família. ...........................................................<br />

103<br />

104<br />

106<br />

107<br />

109<br />

110<br />

111<br />

112<br />

114<br />

114<br />

116<br />

116<br />

118<br />

118<br />

119<br />

120<br />

121<br />

122<br />

122<br />

123<br />

124<br />

125<br />

125<br />

126<br />

265


Alberto Peixoto<br />

Quadro n.º 55 Regularidade do consumo de álcool e as recordações de<br />

violência doméstica no seio da família. .................................................<br />

Quadro n.º 56 Consumo regular de álcool por idades e a idade de início<br />

do consumo.......................................................................................<br />

Quadro n.º 57 Propensão para a violência e a regularidade de consumo<br />

de álcool. ..........................................................................................<br />

Quadro n.º 58 Comparação de percentagens de indivíduos que já consumiram<br />

substâncias ilícitas (droga) pelo menos uma vez, no continente<br />

e nos Açores........................................................................................<br />

Quadro n.º 59 Percentagem e número absoluto de indivíduos nos<br />

Açores que já consumiram substâncias ilícitas (droga) pelo menos uma<br />

vez...........................................................................................................<br />

Quadro n.º 60 Tempo que medeia entre o momento do inquérito e o<br />

último consumo, entre os 14,8% que admitiram já ter consumido........<br />

Quadro n.º 61 Percentagem da população consumidora de drogas por<br />

ilha. .........................................................................................................<br />

Quadro n.º 62 Consumo de droga por concelhos...............................<br />

Quadro n.º 63 Regularidade do consumo de droga por ilha.................<br />

Quadro n.º 64 Tipo de drogas consumidas dentro da percentagem de<br />

prevalência geral, por ilhas.....................................................................<br />

Quadro n.º 65 Idades de início do consumo de droga por ilha. ..........<br />

Quadro n.º 66 Local de início de consumo de droga. ..........................<br />

Quadro n.º 67 Como foi iniciado o consumo de droga. .......................<br />

Quadro n.º 68 Motivação do consumo de droga. .................................<br />

Quadro n.º 69 Vítimas de dependentes de drogas, por ilha..................<br />

Quadro n.º 70 Consumo de droga, por sexos. ......................................<br />

Quadro n.º 71 Consumo de droga, por idades......................................<br />

Quadro n.º 72 Dados do inquérito à população geral IDT sobre a prevalência<br />

de consumo de drogas, em comparação com os dados referentes<br />

à Região Açores. ...............................................................................<br />

Quadro n.º 73 Consumo de droga, segundo o estado civil...................<br />

Quadro n.º 74 Consumo de droga, segundo a área de residência. .......<br />

Quadro n.º 75 Consumo de droga e habilitações literárias. .................<br />

Quadro n.º 76 Regularidade de consumo de drogas por profissões.....<br />

Quadro n.º 77 Consumo de droga e vínculo profissional.....................<br />

266<br />

127<br />

128<br />

129<br />

140<br />

141<br />

141<br />

142<br />

143<br />

144<br />

147<br />

149<br />

150<br />

151<br />

152<br />

153<br />

154<br />

155<br />

156<br />

157<br />

158<br />

159<br />

159<br />

160


Dependências e outras violências…<br />

Quadro n.º 78 Consumo de droga e o tipo de bebida alcoólica consumida.<br />

.......................................................................................................<br />

Quadro n.º 79 Consumo de droga e idade de início de consumo de<br />

bebidas alcoólicas...................................................................................<br />

Quadro n.º 80 Consumo de droga e idade de início de consumo de<br />

tabaco......................................................................................................<br />

Quadro n.º 81 Regularidade do consumo de droga por percentagens e<br />

números absolutos de consumidores nos Açores. ..................................<br />

Quadro n.º 82 Tipo de droga consumida por percentagens e números<br />

absolutos de consumidores respectivos nos Açores...............................<br />

Quadro n.º 83 Montantes semanais dispendidos pelos consumidores<br />

de drogas na aquisição das substâncias..................................................<br />

Quadro n.º 84 Consumo regular de café nos Açores............................<br />

Quadro n.º 85 Consumo regular de café por sexos. .............................<br />

Quadro n.º 86 Percentagem da população consumidora regular de<br />

café, por ilha...........................................................................................<br />

Quadro n.º 87 Consumo regular de café por concelhos. .....................<br />

Quadro n.º 88 Consumo regular de café por idades............................<br />

Quadro n.º 89 Consumo regular de café segundo o estado civil..........<br />

Quadro n.º 90 Consumo regular de café segundo a área de residência.......<br />

Quadro n.º 91 Consumo regular de café e habilitações literárias dos<br />

consumidores..........................................................................................<br />

Quadro n.º 92 Consumo regular de café vínculos profissionais dos<br />

consumidores..........................................................................................<br />

Quadro n.º 93 Violência Doméstica nos Açores - (Número de crimes<br />

praticados entre familiares, incluindo cônjuges, ou análogos, filhos e<br />

outros familiares). ..................................................................................<br />

Quadro n.º 94 Dimensão da violência doméstica vivenciada, por ilha....<br />

Quadro n.º 95 Prevalência das recordações de vivência da violência<br />

doméstica no seio da família, por idades. ..............................................<br />

Quadro n.º 96 Prevalência das recordações de vivência da violência<br />

doméstica no seio da família, por áreas de residência..........................<br />

Quadro n.º 97 Prevalência do consumo de fármacos psicoactivos, nos<br />

últimos 30 dias........................................................................................<br />

Quadro n.º 98 Regularidade de consumo de drogas por profissões.....<br />

161<br />

162<br />

163<br />

163<br />

164<br />

165<br />

170<br />

171<br />

171<br />

172<br />

173<br />

174<br />

174<br />

175<br />

175<br />

182<br />

185<br />

186<br />

188<br />

192<br />

196<br />

267


Alberto Peixoto<br />

Quadro n.º 99 Sensação vivenciada com a satisfação de um vício.....<br />

Quadro n.º 100 Tentativas de abandono de dependências por ilha. ....<br />

Quadro n.º 101 Tentativas de abandono de dependências, apuradas em<br />

<strong>2009</strong>, por ilha e por substâncias. ............................................................<br />

Quadro n.º 102 Taxa de sucesso obtida com as tentativas de abandono<br />

de dependências por ilha. ..................................................................<br />

Quadro n.º 103 Causas do insucesso obtido nas tentativas de abandono<br />

de dependências.................................................................................<br />

268<br />

200<br />

201<br />

202<br />

203<br />

204

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