Depêndencias e Outras Violências...Estudo Comparado 2004 - 2009
Depêndencias e Outras Violências...Estudo Comparado 2004 - 2009
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Alberto Peixoto<br />
Dependências<br />
e outras violências…<br />
<strong>Estudo</strong> comparado <strong>2004</strong>-<strong>2009</strong><br />
Edição reescrita e actualizada
Ficha Técnica<br />
ISBN: 978-989-95741-9-9<br />
Título: DEPENDÊNCIAS E OUTRAS VIOLÊNCIAS…<br />
Autor: Alberto Peixoto<br />
Editor: Edições Macaronésia<br />
Sede: Rua da Saúde, 107, Arrifes<br />
9500-363 Ponta Delgada<br />
Tel. 296682681 / 918189075<br />
Site: www.edicoesmacaronesia.blogspot.com<br />
E-mail: acrpeixoto@sapo.pt<br />
Revisão: Graciete Peixoto<br />
Junho 2010<br />
Depósito Legal: 311937/10<br />
Paginação, capa e execução gráfica: COINGRA, Lda.<br />
© É proibida a reprodução total ou parcial desta obra.
“Por droga – psicoativa ou não – continuamos<br />
a entender o que há milénios pensavam<br />
Hipócrates e Galeno, pais da medicina científica:<br />
uma substância que, em vez de «ser vencida» pelo<br />
corpo (e assimilada como simples nutriente), é<br />
capaz de «vencê-lo», provocando – em doses<br />
insignificantemente pequenas quando comparadas<br />
com as de outros alimentos – grandes alterações<br />
orgânicas, anímicas ou de ambos os tipos.”<br />
(Escohotado, <strong>2004</strong>: 9)
ÍNDICE<br />
Agradecimentos ................................................................................................................ 9<br />
Introdução ....................................................................................................................... 11<br />
Problemática ..................................................................................................................... 17<br />
Metodologia ...................................................................................................................... 27<br />
Evolução comparativa de outros estudos ......................................................................... 33<br />
A amostra .......................................................................................................................... 41<br />
O combate às dependências .............................................................................................. 45<br />
O tabaco ............................................................................................................................ 65<br />
O álcool ............................................................................................................................ 91<br />
A droga ........................................................................................................................... 133<br />
O café .............................................................................................................................. 167<br />
As dependências e a violência ........................................................................................ 177<br />
O consumo de fármacos ................................................................................................. 191<br />
A prevalência da embriaguez ......................................................................................... 195<br />
O abandono da dependência e recuperação .................................................................. 199<br />
Síntese conclusiva .......................................................................................................... 205<br />
Propostas de intervenção ................................................................................................ 217<br />
Bibliografia/Fontes ....................................................................................................... 222<br />
Anexos ............................................................................................................................ 241<br />
Índice de figuras, imagens e quadros ......................................................................... 263<br />
7
AGRADECIMENTOS<br />
Ao GOVERNO REGIONAL DOS AÇORES pela oportunidade de<br />
realização de mais uma investigação sociológica.<br />
Às estagiárias Catarina Braga, pelo contributo ao nível do tratamento<br />
dos dados e da pesquisa bibliográfica, e Saulina Melo, pela ajuda na informatização<br />
dos questionários, bem como aos jovens da OTLJ-<strong>2004</strong> que<br />
aceitaram fazer parte deste projecto: Ana Claudino, Ana Duarte, Ana<br />
Melo, Bruno Ávila, Carla Costa, Cláudia Brasil, Cláudia Cunha, Diana<br />
Coelho, João Craveiro, João Silva, Luís Peixoto, Mafalda Costa, Marco<br />
Soares, Maria Gabriela Moniz, Filipa Nicolau, Melissa Peixoto, Neuza<br />
Rosa, Paula Machado.<br />
Aos jovens da OTLJ-<strong>2009</strong> que participaram na segunda edição do<br />
projecto: Andreia Ferreira, António Raposo, Cátia Meireles, Diana Pina,<br />
Filipa Lima, Hernâni Costa, Letícia Leal, Lígia Lima, Marília Ferreira,<br />
Paula Tavares, Patrícia Cardal, Sérgio Fisher e Sofia Silva.<br />
À jornalista Sandra Sousa pela especial colaboração na recolha de<br />
inquéritos na ilha do Pico.<br />
Ao Instituto da Droga e Toxicodependência pela colaboração e apoio<br />
prestado ao longo deste projecto.<br />
Por fim, mas não menos importante um agradecimento especial ao Sr.<br />
Secretário Regional da Saúde, Dr. Miguel Correia, e à Sr.ª Directora<br />
Regional da Prevenção e Combate às Dependências, Dr.ª Paula Costa, pela<br />
sensibilidade e coragem de terem dado continuidade ao trabalho iniciado<br />
em <strong>2004</strong>.<br />
9
INTRODUÇÃO<br />
É com a expansão da problemática das drogas no final da década de<br />
70 e princípios da década de 80 do século XX que o fenómeno das<br />
dependências se tornou objecto de estudo com consistência científica,<br />
sobretudo, nos Estados Unidos da América. Em Portugal, foi na segunda<br />
metade da década de 90 que surgiram as primeiras abordagens sistémicas<br />
e não às dependências em geral, mas de forma circunscrita ao<br />
fenómeno da toxicodependência, destacando-se os estudos interdisciplinares,<br />
Droga – Crime, dirigidos por Cândido da Agra, solicitados pelo<br />
então Ministro da Justiça, Laborinho Lúcio. Também os relatórios do<br />
Instituto da Droga e da Toxicodependência têm materializado um esforço<br />
de precisar a dimensão e consequente evolução do fenómeno no território<br />
nacional.<br />
Embora no mesmo patamar da toxicodependência, o abuso do consumo<br />
de álcool, comportamento difícil de situar no tempo, mas estimado<br />
com uma prevalência bem superior à prevalência das drogas ilícitas, tem<br />
sido desvalorizado pelos investigadores e pelas universidades portuguesas,<br />
compreensivelmente fruto da tolerância sócio-cultural. Não fôssemos nós,<br />
por ironia, descendentes de Luso, filho de Baco, Deus do vinho.<br />
O tabaco, outra das dependências com forte prevalência nos nossos<br />
hábitos e com forte tolerância colectiva, constituindo mesmo uma actividade<br />
económica relevante nos Açores, sofreu um duro revés com a aprovação<br />
da nova lei em vigor desde 1 de Janeiro de 2008.<br />
Durante décadas, enquanto dependência, o tabaco não suscitou a curiosidade<br />
dos nossos investigadores, sendo conhecido muito pouco para<br />
além de algumas consequências para a saúde e dos dados estatísticos referentes<br />
à produção e comercialização da indústria tabaqueira.<br />
11
Alberto Peixoto<br />
Colectivamente, em particular nos Açores, foi notório um desinteresse<br />
cúmplice pela problemática das dependências, talvez por a insularidade funcionar<br />
como uma almofada retardadora da visibilidade das patologias sociais,<br />
fazendo com que antes de <strong>2004</strong> nunca tivesse sido realizado nenhum<br />
estudo regional. Manuela Fleming (1996: 11) vai mais longe ao denunciar a<br />
situação como um colectivo “conluio da cegueira”. Preconiza que se inicia<br />
com a cegueira do dependente ao recusar assumir-se como doente apesar de<br />
se querer livrar daquilo que o escraviza. Depois a cegueira da família que só<br />
tardiamente se apercebe da dependência do filho. A cegueira da sociedade<br />
ao não assumir a culpa da degradação da vida familiar. A cegueira da ciência<br />
ao não ser capaz de indicar um discurso científico para a compreensão<br />
do fenómeno. Portanto, a evolução da problemática das dependências em<br />
geral está longe de se comportar de forma previsível e de acordo com as<br />
expectativas quer em sentido positivo quer em sentido negativo.<br />
Não tendo sido encontrada a fórmula que de forma determinista<br />
garanta o seu controlo, não é menos verdade que cada vez mais se denota<br />
uma maior dificuldade de mobilização por parte da comunidade em geral<br />
e mesmo das autoridades locais em particular. Prova-o o facto de serem,<br />
em <strong>2009</strong>, ainda muito poucos os Municípios que detêm um plano de intervenção<br />
a nível local em articulação com o Plano Regional.<br />
A tentação de colectivamente se ver o dependente como exclusivo<br />
responsável pelo seu drama, exigindo uma necessidade lógica de repressão<br />
através da censurabilidade social, jurídica, clínica e até religiosa, continua<br />
a ser um entrave claro ao conhecimento, compreensão e controlo do<br />
fenómeno, continuando a exigir-se a este nível um novo paradigma de preferência<br />
sistémico com amplitude suficiente para abarcar a multiplicidade<br />
de indicadores e variáveis capazes de interferir neste contexto.<br />
Existe um discurso comunicacional e até ideológico de contornos<br />
incertos por, ao falar-se em dependências, logo, como por alquimia, sermos<br />
remetidos para a esfera das substâncias ilícitas, vulgarmente designadas por<br />
drogas. Em bom rigor, são drogas todas as substâncias lícitas ou ilícitas que<br />
se afastam do contexto médico e do que isto significa. Por outro lado, a<br />
utilização dos conceitos de drogas leves e de drogas duras é perigosa e<br />
indutora de erros na população em geral, traduzindo a ideia da existência<br />
de drogas mais ou menos perigosas quando todas as dependências de substâncias<br />
lícitas ou ilícitas são igualmente nefastas à saúde humana. Basta<br />
12
Dependências e outras violências…<br />
recordarmos a questão da cannabis, sistematicamente considerada uma<br />
droga leve; na verdade não o pode ser, por em quadros de dependência ser<br />
responsável por perturbações psicóticas graves.<br />
Falar-se em dependências é algo bem mais abrangente e que tem<br />
necessariamente de nos transportar para uma realidade próxima de cada um<br />
de nós, porque tudo quanto nos pode causar satisfação e prazer pode conduzir-nos<br />
a quadros de dependência conscientes ou inconscientes. Quantos<br />
de nós nos detivemos a analisar comportamentos pessoais automatizados,<br />
os quais não somos capazes de evitar sem que nos causem transtorno ou<br />
sofrimento?<br />
Do ponto de vista sócio-político, diferentes têm sido as posturas<br />
perante o fenómeno das dependências e não raras vezes foram criadas<br />
diferenciações e homogeneizações indevidas entre os vários tipos de comportamentos:<br />
“Nos últimos dez anos, a maioria dos países europeus evoluiu<br />
para uma abordagem que distingue o traficante de droga, que é considerado<br />
como um criminoso, do consumidor de droga, mais encarado como<br />
uma pessoa doente, necessitada de tratamento. No entanto, os Estados-<br />
-Membros diferem consideravelmente quanto à forma como decidiram definir<br />
estas categorias nas novas leis que adoptaram nos últimos anos” (A<br />
Evolução do Fenómeno da Droga na Europa, 2008: 23).<br />
Por questões culturais mas também por interesses securitários tem<br />
sido diferenciada a tolerância individual, familiar e social para com a<br />
dependência do álcool, do tabaco, do jogo, do sexo, do café ou de qualquer<br />
outra substância ilícita. A título de exemplo, estima-se que a adição do<br />
jogo, embora muito pouco estudada e sem suscitar grande preocupação<br />
social, afecte 17 000 pessoas em Portugal, ou seja, 0,2% da população,<br />
quando se sabe que a nível internacional, segundo um estudo de Tami Argo<br />
e Donald Black, 17 a 24% dos jogadores tenta o suicídio e 76% sofre de<br />
depressão (DN, 11/Out/2008: 33).<br />
Ainda a propósito do jogo, um estudo sobre tal dependência em Portugal<br />
da autoria de Henriques Lopes, da Universidade Católica de Lisboa, apresentou<br />
traços identificativos dos indivíduos com maior propensão para a dependência,<br />
nomeadamente o facto de terem entre 12 e 18 anos de idade, de estarem<br />
doentes ou com dificuldades de mobilidade, de possuírem problemas na<br />
carreira profissional e problemas familiares (24% dos dependentes do jogo),<br />
de admitirem possuir problemas de saúde mental (38%) e de já se terem<br />
13
Alberto Peixoto<br />
divorciado devido ao jogo, 22%. São homens, 79% dos jogadores, embora<br />
entre os jogadores de risco sejam 52% e 48% as mulheres. Já tentaram abandonar<br />
o jogo sem êxito, 80% dos jogadores dependentes (DA, 20/Out/<strong>2009</strong>:<br />
11). Tais traços apurados demonstram claramente como a adição resulta de<br />
uma multiplicidade de variáveis que ultrapassa largamente a vontade individual<br />
ou as imposições de cariz sociológico.<br />
Assim, partimos do princípio de que nas características exteriores<br />
idênticas (fenótipos) dos indivíduos, resultantes das características hereditárias<br />
(genótipos) e na sua interacção com o meio ambiente envolvente,<br />
reside a chave explicativa do fenómeno. Por isso, mais uma vez, cabe-nos<br />
a tarefa de precisar as características da componente envolvente e determinar<br />
o seu peso na propensão dos diferentes tipos de dependências e respectivos<br />
perfis, nos Açores.<br />
Procurar definir uma relação linear entre dependência e violência será<br />
um risco do mesmo modo que seria negá-la sem qualquer outro procedimento<br />
que questionasse as evidências aparentes e enformadas. É neste<br />
ponto que o valor do discurso científico se torna essencial e assume particular<br />
relevo atingindo o estádio da ética do saber, indispensável a uma<br />
abordagem objectiva, útil e neutral.<br />
É sobre as dependências em geral que nos propomos deter, essencialmente,<br />
sobre as dependências capazes de causar uma violência auto-infligida e/ou<br />
uma violência contra terceiros, partindo de uma metodologia de auto-revelação<br />
com as necessárias adaptações e reservas que tal metodologia exige.<br />
A focalização das dependências à luz da tradição espistemológica<br />
exige a precisão conceptual do objecto, daí resultando a necessidade de<br />
operação de um exercício reflexivo de recorte do objecto de estudo do seu<br />
universo de inserção. No entanto de muito pouco nos servirá a delimitação<br />
dos seus contornos se, de um exercício de reposição desse objecto no seu<br />
universo natural, resultar um conflito com os objectos existentes no meio.<br />
Falar-se em dependência de algo exige desde logo a identificação de<br />
dois sintomas: a dependência psicológica, que se traduz num desejo de<br />
voltar a consumir, não deixando de mentalmente assolar o indivíduo; a<br />
dependência física, traduzida em sinais físicos visíveis de carência após a<br />
passagem dos efeitos atenuantes do consumo.<br />
Dado que “o tempo demonstrou que a necessidade de utilizar qualquer<br />
tipo de drogas era a perturbação base, que provocava sempre alterações<br />
14
(...) e que a dependência das chamadas drogas leves era uma das formas de<br />
iniciação e evolução para outras drogas, ditas duras” (CIDM, 1995: 84), é<br />
cada vez mais perigoso distinguir drogas leves de drogas duras na medida<br />
em que tal discurso pode conduzir a uma tolerância social e a uma difusão<br />
descontrolada, tal como acontece hoje claramente com o álcool, sendo a<br />
embriaguez nas idades mais jovens vista como uma diversão.<br />
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define como dependência<br />
um conjunto de reacções fisiológicas, cognitivas e comportamentais,<br />
desencadeadas após a repetição do consumo de uma substância psicoactiva,<br />
por norma, relacionadas, por um lado, com um desejo e uma vontade<br />
forte de consumir a substância e, por outro lado, uma enorme dificuldade<br />
em evitar esse consumo, apesar de conhecer as consequências do mesmo.<br />
A grande prioridade do dependente é o consumo, ignorando todo o resto.<br />
A síndrome de dependência pode resultar de uma substância psicoactiva<br />
específica, como a nicotina ou o álcool, de substâncias psicoactivas, como<br />
o ópio ou a heroína, ou mesmo de produtos farmacêuticos.<br />
uso sem<br />
complicações<br />
uso abusivo<br />
dependência<br />
dependência<br />
abuso<br />
consumo de baixo risco<br />
Dependências e outras violências…<br />
diversas áreas da sua vida<br />
foram atingidas<br />
tem problemas quando<br />
consome<br />
sem problemas<br />
Figura n.º 1 A pirâmide mostra dois aspectos importantes. Em primeiro lugar, que os<br />
padrões de consumo são incontáveis e variam ao longo de uma linha contínua. Quanto mais<br />
intenso o consumo, maiores serão os problemas. Em segundo, conforme aumenta a quantidade<br />
de substâncias consumidas diminui o número de indivíduos envolvidos. (Disponível a<br />
14/Jan/2010 em http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/dependencia_conceito.htm<br />
15
Alberto Peixoto<br />
No tocante às causas do consumo, a OMS considera que é “facilitado<br />
pela acessibilidade, pela tolerância do ambiente social na prática, pela<br />
influência dos pares, assim como pelos antecedentes familiares ou sociais<br />
desfavoráveis (desemprego, perturbações mentais, violências sexuais,<br />
etc.)”(Richard, 1997: 116).<br />
Conscientes de que a complexidade é uma característica dos fenómenos<br />
sociais, não deixamos de revelar a nossa convicção de que a nova edição<br />
do estudo das dependências nos Açores poderá propiciar a continuidade<br />
do aparecimento de um conjunto de estratégias de intervenção algumas<br />
das quais iniciadas com a primeira edição.<br />
Quem, durante os cinco anos que intervalam a recolha de dados de<br />
<strong>2004</strong> e de <strong>2009</strong>, acompanhou de forma sistematizada o fenómeno das<br />
dependências nos Açores, num período em que a nível internacional se<br />
“procura novas formas de redução da procura e oferta de drogas, o aumento<br />
da sensibilização e da mobilização do público, uma maior compreensão<br />
do fenómeno da droga e o aprofundamento da cooperação internacional”<br />
(DA, 07/Mai/<strong>2009</strong>: 11), não pode negar que muito há a fazer.<br />
16
PROBLEMÁTICA<br />
O papiro de Ebers, datado de 1500 a.C., é considerado o mais antigo<br />
documento que faz referência a substâncias tóxicas. São referenciadas a<br />
cicuta, o acónito, o ópio e metais como o chumbo, o cobre e o antimónio.<br />
Suspeita-se serem já conhecidas, naquela data, plantas contendo substâncias<br />
semelhantes às da digitalis e aos alcalóides da beladona.<br />
As transformações operadas no seio das famílias, ao longo dos tempos,<br />
conduziram a um maior individualismo de cada um dos membros que<br />
as constituíam. As rupturas parentais, cada vez mais assumidas, o enfraquecimento<br />
do controlo social, exercido sob a sua alçada, com a emergência<br />
do protagonismo do ensino escolar facilitaram uma auto-desresponsabilização<br />
dos pais no acompanhamento dos filhos, tendo provocado distorções<br />
no proteccionismo. São factores a considerar nos comportamentos e<br />
atitudes sobretudo dos jovens e adolescentes num esforço de afastamento<br />
do sofrimento e na busca de prazer com recurso a substâncias com efeito<br />
psicotrópico.<br />
Os mecanismos de compensação por ausências ou falências dos pais<br />
e das suas relações parentais, gerando superprotecção ou superapreciação<br />
dos filhos, são outros dos factores característicos das sociedades de consumo<br />
onde se vive cada vez mais depressa, na busca do prazer máximo, surgindo<br />
o tempo como o grande factor de desestabilização que atravessa<br />
transversalmente toda a sociedade.<br />
As patologias dos pais ao nível mental ou de uma perturbação de personalidade<br />
têm sido apontadas como factor potenciador de comportamentos<br />
anti-sociais dos filhos e de dificuldades escolares. Porém não só a psicopatologia<br />
dos pais mas também os próprios modelos familiares entretanto<br />
emergentes exigem uma grande capacidade de adaptação às possibilidades<br />
17
Alberto Peixoto<br />
de desenvolvimento psicológico equilibrado dos filhos, despido de potenciais<br />
elementos perturbadores ao nível mental e afectivo, ou psicoafectivo.<br />
Vários trabalhos de investigação científica (Fleming et al, 1988;<br />
Wallerstein & Kelly, 1998), inseridos em correntes mais ou menos deterministas,<br />
têm procurado demonstrar que, por exemplo, o alcoolismo dos<br />
pais aumenta a probabilidade de distúrbios comportamentais dos filhos.<br />
Deste modo é sugerido que na infância de um descendente de pais alcoólicos<br />
existem factores causais que o fragilizam e o vergam a uma predisposição,<br />
fazendo com que auto-augurem um futuro pouco promissor.<br />
A questão da perda ou separação da mãe ou do pai tem também motivado<br />
diversas pesquisas por ser um traço referenciado em indivíduos com<br />
propensão para comportamentos delinquentes e desviantes, mas também<br />
para as dependências, nomeadamente, álcool e drogas. Entre outros, Tarde,<br />
1890; Farrington, 1978; Patterson, 1989; Loeber & Hay, 1997; Patterson<br />
& Bank, 1989; Maccoby, 1980 têm procurado dar conta da influência dos<br />
pais nos comportamentos anti-sociais dos filhos, surgindo a imitação dos<br />
quadros de referências como um dos traços a ter em conta na análise do<br />
fenómeno das dependências, podendo falar-se num “triângulo perverso”,<br />
como sugeriu Haley (1976).<br />
A questão das dependências mantém-se uma problemática actual,<br />
continuando a dependência alcoólica, com um longo historial, a ser apontada<br />
como a que apresenta a maior dimensão, estimando-se que, no caso<br />
português, se consumam, por dia, 2,8 milhões de litros de álcool (DN,<br />
09/Abr/2006: 18).<br />
Remonta aos finais do século XIX a consciência do problema do álcool,<br />
tendo sido a Inglaterra o primeiro país do mundo a abordar o fenómeno<br />
devido às consequências graves do ponto de vista social. Países como<br />
a Itália e a França, apesar de grandes produtores de bebidas alcoólicas,<br />
também se juntaram na luta, fundamentandoa sua postura com a necessidade<br />
de combate à violência, praticada contra as pessoas, sob a forma de<br />
homicídio ou ofensas à integridade física.<br />
Não deixa de ser pertinente que, por exemplo, a França tenha iniciado<br />
o combate ao consumo excessivo de álcool ainda antes de ter proibido<br />
as salas de fumarias especializadas no consumo de ópio que ali existiram<br />
na segunda metade do século XIX, mas principalmente nos princípios do<br />
século XX. A Suécia fez mesmo questão de não diferenciar drogas, consi-<br />
18
Dependências e outras violências…<br />
derando que todas as substâncias utilizadas fora de contexto médico<br />
tinham de ser combatidas.<br />
Morel (1857), com a “teoria da degenerescência”, e Legrain (1895),<br />
com a “teoria da degenerescência social”, apontam o vício do álcool<br />
como a causa de todos os vícios e problemas dos indivíduos, das suas<br />
degenerescências e das próprias sociedades em geral. Decorridos mais de<br />
150 anos sobre o primeiro e mais de 114 anos sobre o segundo, ainda não<br />
são inúmeros os Estados que se esforçam por combater o alcoolismo e<br />
todo um conjunto de novas dependências que entretanto foram geradas no<br />
seio das sociedades.<br />
Novos estudos continuam a estabelecer consequências das diferentes<br />
dependências, nomeadamente ao nível de transtornos comportamentais<br />
disruptivos, entendendo-se como tal os comportamentos resultantes de um<br />
impulso traduzido por uma descarga eléctrica ao nível cerebral, provocando<br />
aumentos de agressividade ou mudanças bruscas de humor. Porém<br />
novas formas de dependência vão sendo apontadas como causadoras de<br />
reacções comportamentais idênticas.<br />
São hoje aceites as correlações entre violência e alguns consumos de<br />
substâncias, nomeadamente álcool e algumas drogas, demonstradas, entre<br />
outros, nos estudos de Wolfgang (1969), ou de Monot (1994). Numa outra<br />
perspectiva, Saiz (1992) procurou demonstrar os transtornos por abuso de<br />
substâncias, chegando a estabelecer relações entre o álcool e a compulsividade<br />
para as compras. Soler & Gascom (1999) foram mais longe ao alargar<br />
a compulsividade ao namoro, sexo, exercício físico e, até, ao trabalho<br />
como consequência do consumo de álcool.<br />
Steadman (1998) demonstrou, através do estudo da prevalência da<br />
violência num período de dez semanas num indivíduo normal, que o consumo<br />
mais que triplica a propensão à violência. Sem abuso de substâncias,<br />
a probabilidade da prática de violência é de 3,3% passando para 11,1% em<br />
situações de abuso de substâncias. Em indivíduos portadores de doença<br />
mental, quase quintuplica a probabilidade da prática de acto violento. Sem<br />
abuso de substâncias, a prevalência da violência é de 4,7% enquanto com<br />
abuso passa para 22%.<br />
Dejong (1993), sobre transtornos de personalidade em indivíduos<br />
dependentes de substâncias químicas, quantificou em 3% a incidência nos<br />
homens e 1% nas mulheres de uma população considerada normal, poden-<br />
19
Alberto Peixoto<br />
do essa incidência aumentar para 30% em populações clínicas, atingindo<br />
mesmo uma incidência de 92% numa população de dependência crónica.<br />
Também Sonne & Brady (1998), num estudo com dependentes de<br />
cocaína, procuraram demonstrar a elevada incidência de vários tipos de<br />
transtornos de personalidade, causados pelo abuso dessa substância, materializados<br />
em comportamentos anti-sociais, borderline ou paranóide,<br />
demonstrável em 68% dos casos. Todavia, Bernardo & Roca (1998) quantificaram<br />
em 64% a incidência de transtornos de personalidade, verificados<br />
em alcoólicos, demonstrando estarem a este nível muito próximas as<br />
consequências provocadas pelo abuso de álcool ou pelo abuso de cocaína.<br />
Como já verificámos, existe hoje uma grande panóplia de estudos com<br />
diferentes modelos de análise do fenómeno comportamental e dependencial.<br />
Depois das teorias sociológicas e depois das teorias psicológicas, ganham<br />
fôlego as teorias neurofisiológicas, destacando-se o português António<br />
Damásio (1999). Em comum, entre todas as perspectivas, tem-se mantido de<br />
forma mais ou menos explícita o peso dos factores de carácter ambiental.<br />
As teorias de aprendizagem comportamentalistas assentam no princípio<br />
de que as decisões e os comportamentos dos indivíduos são condicionados,<br />
não dependendo integralmente das suas vontades. Insere-se nesta<br />
corrente Skinner (1904-1990) como um dos mais notáveis representantes<br />
ao defender que as opções e os comportamentos dos indivíduos são definidos<br />
em função das experiências vivenciadas e que proporcionam uma<br />
aprendizagem. Assim o comportamento do indivíduo é condicionado, alterado<br />
ou adaptado ao conhecimento que esse mesmo indivíduo tem como<br />
consequência desse mesmo comportamento.<br />
Tendo sido o continuador das experiências de Ivan Pavlov, pioneiro<br />
no desenvolvimento da psicologia comportamental, Skinner foi responsável<br />
pelo princípio das “condições operantes”, capazes de explicar o facto<br />
de um indivíduo tender a repetir um comportamento do qual resultou um<br />
sinal positivo, enquanto que tende a abandonar e a substituir os comportamentos<br />
dos quais resulte um sinal negativo. As “condições operantes”<br />
podem explicar a reincidência comportamental (no crime ou no simples<br />
desvio), que ocorre porque o indivíduo não recebeu estímulos de sinal<br />
negativo, capazes de alterar o seu comportamento. Nesta perspectiva, por<br />
exemplo, perante um dependente, há sobretudo que o estimular a abandonar<br />
a dependência por via do ensinamento da negatividade do hábito, pro-<br />
20
Dependências e outras violências…<br />
porcionando-lhe uma aprendizagem de comportamentos auto-reforçados<br />
pelos resultados.<br />
A proposta de Bentham, em finais do século XVIII, é cognitivo-comportamental,<br />
partindo do princípio de ser essencial a consciencialização do<br />
mal, do erro, o que só por si será suficiente para que o indivíduo tenha um<br />
comportamento socialmente adequado. Bentham, em 1791, criou o conceito<br />
de “panopticon” como um elemento de persuasão, procurando incutir no<br />
indivíduo que está permanentemente a ser observado, não podendo por esse<br />
facto cometer crimes. Compara o delinquente ao doente que necessita da<br />
administração de cuidados e remédios, o que não se distancia muito da<br />
forma como a Organização Mundial de Saúde vê hoje o dependente.<br />
As teorias biológicas admitem o peso de um determinismo até hereditário,<br />
como preconizou Hans Eysenck (1964). A personalidade e o comportamento<br />
derivam de uma interacção entre os factores biológicos e os<br />
factores ambientais. Sugeriu que a personalidade individual assenta na<br />
variação entre duas vertentes, partindo uma da extroversão para a introversão<br />
e outra do estável para o instável Eysenck considera que o comportamento<br />
do indivíduo resulta de uma escolha racional que procura diminuir<br />
a dor e aumentar o prazer, sem se libertar do condicionalismo imposto<br />
pela ordem genética e pelo ordem ambiental. Por exemplo, um indivíduo<br />
que sofra de hipoglicemia, perante uma situação de baixa de açúcar, se<br />
consumir álcool, fazendo baixar ainda mais os níveis de açúcar na corrente<br />
sanguínea, colocar-se-á num quadro capaz de afectar a sua actividade<br />
cerebral, que, por sua vez, em interacção com o contexto envolvente, se<br />
reflectirá nas suas escolhas, podendo levá-lo a um comportamento violento.<br />
Outros aspectos de ordem biológica mais elementares, como o ciclo<br />
menstrual, por exemplo, podem ser suficientes para condicionar o comportamento<br />
de uma mulher que por força da actividade hormonal se encontra<br />
menos paciente e mais irritativa. A este nível a testosterona tem sido a hormona<br />
mais investigada na compreensão de comportamentos criminais,<br />
para avaliar os níveis de agressividade dos indivíduos independentemente<br />
de terem ou não cometido crimes.<br />
As teorias freudianas assentam sobretudo em circunstancionalismos no<br />
percurso de formação da personalidade, os quais são tidos como suficientes<br />
para afectarem as opções e os comportamentos futuros do indivíduo.<br />
Eric Erickson (1950) chegou mesmo a definir oito etapas na vida do indi-<br />
21
Alberto Peixoto<br />
víduo onde as crises interpessoais têm de ser resolvidas sob pena de provocarem<br />
sentimentos de desconfiança, vergonha, culpa, inferioridade,<br />
confusão, isolamento, estagnação e desespero.<br />
De Greeff influenciou toda a criminologia francesa dos anos 20 do<br />
século passado. Procurou romper com o determinismo da escola positivista<br />
de Lombroso (1901), tendo apresentado duas linhas: a fenomenológica<br />
e a diferencial.<br />
A linha fenomenológica permite que a abordagem ao indivíduo se<br />
faça partindo da sua própria visão, conferindo um carácter humanista à<br />
intervenção. Importa ter presente a vertente humana que existe em cada<br />
indivíduo, independentemente do seu comportamento, da sua desviância<br />
ou das suas dependências. Para se compreender um objecto, é necessário<br />
entrar no seu mundo para daí se extraírem as suas interacções e os processos<br />
em que está inserido.<br />
A linha diferencial permite distinguir o indivíduo delinquente do indivíduo<br />
não delinquente através da mensuração de quatro variáveis: o egocentrismo;<br />
a agressividade; a labilidade e a indiferença afectiva.<br />
O sentimento de simpatia e o sentimento de defesa são apresentados<br />
por De Greeff (1946) como os dois grandes motores que constroem a<br />
nossa personalidade e o nosso modo de vida. O sentimento da simpatia é<br />
responsável pelos comportamentos de convivência e de assertividade. O<br />
sentimento de defesa é responsável pela capacidade de reacção à agressão<br />
e à sobrevivência. Na desregulação destes sentimentos, surgem os comportamentos<br />
criminais com especial relevo para o sentimento de defesa<br />
que, em estado exacerbado no indivíduo, produz revolta, ira e raiva, impelindo-o<br />
para comportamentos criminais. Assim, não existe um indivíduo<br />
normal e um indivíduo delinquente, existe sim um único indivíduo, que,<br />
com diferentes intensidades de sentimentos, em determinados momentos e<br />
perante determinados factos, comete o acto socialmente censurável. Nesta<br />
perspectiva, o dependente é-o fruto de uma interacção entre o indivíduo, o<br />
momento e o meio envolvente onde o indivíduo está inserido.<br />
Maria Marcelino (1995) considera as mulheres, no domínio cultural,<br />
mais vulneráveis no tocante às dependências do tabaco, do álcool, da marijuana,<br />
do haxixe, da heroína, da cocaína, dos solventes voláteis e dos psicofármacos,<br />
embora a prevalência dos consumos e dos comportamentos<br />
de risco apresente maior intensidade no sexo masculino.<br />
22
Dependências e outras violências…<br />
Pretendendo nós abordar, para além das dependências, as correlações<br />
com a evolução dos comportamentos desviantes nos Açores, situámo-nos<br />
nas perspectivas ecossociais, justificando as nossas escolhas com objectivos<br />
predominantemente de carácter sociológico, bem como com a nossa<br />
orientação socio-criminológica pessoal, que inegavelmente sustentará o<br />
estudo científico do nosso objecto.<br />
Com Guérry (1833) e Quételete (1835) foram alicerçadas as bases das<br />
perspectivas ecossociais, nas quais se insere uma das mais importantes<br />
abordagens ao fenómeno criminológico, a denominada Escola de Chicago.<br />
Iniciadores da criminologia comparada, tendo-se destacado pelo estudo<br />
das estatísticas criminais, denominadas de “estatísticas morais”, deixaram-nos<br />
o legado da demonstração de não existência de uma relação directa<br />
entre pobreza e criminalidade, mas sim entre crime e desenvolvimento<br />
social, constatável nas cartas geográficas de distribuição dos tipos e taxas<br />
criminais. Quételete acredita que tudo está determinado à partida e, para<br />
compreendermos e prevermos os fenómenos, temos que identificar as<br />
“condições iniciais”.<br />
Inserido nas perspectivas ecossociais, Tarde (1890), contemporâneo<br />
de Lombroso, contrapondo-se à teoria do “criminoso nato” e discordando<br />
do conceito de “consciência colectiva” de Durkheim, defendeu o processo<br />
de imitação como explicação para a prática criminal em que o delinquente<br />
pratica o acto criminal, imitando modelos que lhe servem de referência.<br />
Nesta linha, destacam-se as teses motivacionais da influência dos<br />
amigos, vizinhos ou familiares nas decisões comportamentais dos indivíduos<br />
que, deste modo, agem por imitação. Tarde, considerado o fundador<br />
da “sociologia intermental” vê a vida social como um conjunto de invenções<br />
e de imitações.<br />
Durkheim apresentou como explicação da prática criminal o conceito<br />
de anomia segundo o qual a ausência de normas ou perda de referências<br />
normativas era responsável pelo aumento de conflitualidade. Procurou<br />
explicar a criminalidade descentrando a incidência no indivíduo para focalizar<br />
a sociedade e os seus mecanismos de funcionamento em que acreditava<br />
residirem as motivações criminais.<br />
A Escola de Chicago (1920-1930) não procurou investigar as causas da<br />
criminalidade, mas sim os modos e formas de organização dos delinquentes,<br />
descrevendo inclusivamente os seus modos de vida através da observa-<br />
23
Alberto Peixoto<br />
ção participante ou observação no terreno. Destacou-se Robert Park (1864-<br />
1944) enquanto mentor da grelha ecológica num esforço de compreender a<br />
adaptação do homem ao meio onde se insere, demonstrando que os principais<br />
problemas criminais se localizam nas zonas de transição. Os delinquentes<br />
são apresentados como indivíduos comuns, que são condicionados pelo<br />
meio onde existem códigos de honra, regidos por normas e regras.<br />
Outra das referências criminológicas da Escola de Chicago é<br />
Sutherland (1937), que, com a “teoria da associação diferencial”, procurou<br />
demonstrar que o comportamento é aprendido em resultado da exposição<br />
dos indivíduos aos diferentes modelos em vigor no meio espacial. A<br />
aprendizagem de técnicas delinquentes e as justificações encontradas são<br />
os instrumentos fundamentais para que um indivíduo se torne ou não<br />
delinquente, no entanto o contexto envolvente é apresentado como sendo<br />
um elemento crucial.<br />
Hirschi (1969), com a “teoria dos laços sociais”, partindo do princípio<br />
de que as sociedades são consensuais, considera que, se há indivíduos<br />
que não cometem crimes, tal deve-se à existência de um freio normativo e<br />
de socialização, construído a partir dos laços afectivos e do apego a determinadas<br />
pessoas.<br />
O processo de constranger os indivíduos capaz de os levar a não<br />
cometerem crimes passa pela existência de quatro pontos: “o apego” por<br />
norma aos familiares, mas que se estende a amigos e colegas de escola; “o<br />
compromisso”, que leva à interiorização de objectivos de vida; “a participação<br />
em actividades”, que permitem a participação para o alcance de<br />
objectivos e por fim “a interiorização de valores”, que é condicionada<br />
pelas crenças.<br />
Merton (1953), discordando de que as sociedades sejam consensuais,<br />
apresenta o conceito de sociedade de conflito onde existe uma anomia,<br />
com contornos diferentes dos propostos por Durkheim, inscrita na sociedade,<br />
sendo produzida pela estrutura social e que explica a existência de<br />
conflitos entre os indivíduos. As sociedades são geradoras de expectativas<br />
enormes nos seus elementos, levando-os a acreditar na possibilidade de as<br />
conseguir alcançar, sem que sejam proporcionadas a todos as mesmas condições<br />
para as atingirem, daí que os indivíduos sejam levados à confrontação<br />
com quatro opções: “delinquência, outsiders, conformismo” e “ritualismo”.<br />
24
Dependências e outras violências…<br />
A corrente das “teorias da reacção social” deriva de uma selecção de<br />
propostas das teorias anteriores e definitivamente centrou-se na sociedade<br />
em detrimento do indivíduo, sendo notória a prevalência das teorias marxistas.<br />
Lemert (1972), autor do conceito de “etiquetagem”, é apontado<br />
como referência. Para consistência da sua teoria, Lemert começa por fazer<br />
a distinção entre comportamento “desviante primário” e comportamento<br />
“desviante secundário”, defendendo que os primários são os mais reprimidos<br />
socialmente, sendo-lhes, assim, conferida maior visibilidade. A<br />
reacção social, ao ser intensa, desenvolve nos indivíduos sentimentos de<br />
revolta, que tenderão a ser, de acordo com a expectativa social, de acordo<br />
com a etiqueta, de delinquente ou desviante.<br />
A sociedade, em Lemert, é um palco de relações de poder e contrapoder<br />
sendo mais fácil aplicar a lei nos estratos sociais mais baixos, assumindo-se<br />
a reacção social como um elemento determinante do comportamento<br />
individual.<br />
25
METODOLOGIA<br />
Foi no início do ano de 2003 que o Superintendente Chefe, Jorge Félix<br />
Furtado Dias, então Comandante Regional da Polícia de Segurança<br />
Pública dos Açores, movido por um misto de preocupação e de curiosidade,<br />
pretendia que se efectuasse um estudo que englobasse as nove ilhas<br />
açorianas, procurando saber-se qual a dimensão e relação causal do<br />
álcool e da violência nos Açores? Após algumas conversas informais,<br />
estava encontrada, ainda que de forma rudimentar, uma pergunta de partida,<br />
havendo que passar à sua exploração.<br />
Em <strong>2004</strong>, o Governo Regional dos Açores fez questão de demonstrar<br />
preocupação com o fenómeno das dependências ao anunciar a intenção de<br />
gastar 2,5 milhões de euros num programa Regional de Prevenção da<br />
Droga (AO, 29/05/<strong>2004</strong>: 2), criando-se um centro de recursos com meios<br />
técnicos e materiais para intervenção na área, a instalação de uma ou mais<br />
comunidades terapêuticas e a edição de um guia para a Prevenção da<br />
Droga com uma tiragem de 100 000 exemplares para distribuir pelos lares<br />
açorianos.<br />
O mérito destas medidas, apresentadas pelo próprio Presidente do<br />
Governo Regional, Carlos César, depois de um estudo (Peixoto, <strong>2004</strong>) realizado<br />
em S. Miguel, que dava conta de o fenómeno da droga ser o principal<br />
problema da sociedade açoriana, residiu essencialmente em demonstrar<br />
que o Governo Regional estava atento à problemática, embora à procura de<br />
fundamentação científica, conferindo-nos algum espaço de intervenção.<br />
Todavia, em Setembro de 2008, durante a campanha eleitoral, Carlos<br />
César admitiu que o Governo Regional tinha falhado em matéria de toxicodependência,<br />
anunciando que, com a vitória nas eleições, criaria uma<br />
Direcção Regional com intervenção específica na problemática.<br />
27
Alberto Peixoto<br />
Uma das justificações para a realização da primeira edição do presente<br />
estudo derivou da crítica frequentemente apresentada pelos técnicos da<br />
falta de um plano estratégico de prevenção contra as dependências em<br />
geral, embora a problemática das drogas ainda fosse a que mais acções de<br />
prevenção motivava, apesar de desarticuladas e assentes no voluntarismo<br />
por vezes de pessoas que muito pouco eram capazes de dar à causa para<br />
além desse mesmo voluntarismo.<br />
Com a reeleição do Governo Regional e a criação da Direcção<br />
Regional da Prevenção e Combate às Dependências na alçada da<br />
Secretária Regional da Saúde, após uma demorada reunião, acordou-se a<br />
necessidade de realização de uma segunda edição do estudo das dependências<br />
nos Açores, decorridos que estavam cinco anos sobre a realização da<br />
primeira edição.<br />
Tal como na primeira edição, após novas reflexões e conversações com<br />
alguns dos técnicos regionais e do Instituto da Droga e Toxicodependência,<br />
com responsabilidades nesta problemática, procurámos ser ainda mais<br />
abrangentes e mais ambiciosos, fixando-se a pergunta de partida em: qual a<br />
evolução das principais dependências identificadas, nos Açores, dos respectivos<br />
perfis eco-sócio-familiares dos dependentes, bem como das<br />
relações estabelecidas com os comportamentos desviantes?<br />
Aproveitando a experiência da concretização da primeira edição em<br />
particular ao nível da recolha de dados estatísticos, ultrapassámos novamente<br />
as questões logísticas com a articulação dos programas regionais<br />
existentes, assentes em três momentos para a concretização dos objectivos<br />
propostos, sendo: 1.º) formação; 2º) recolha de dados e 3.º) tratamento da<br />
informação e respectiva transcrição para o presente livro.<br />
O sub-programa Jovens Solidários, de <strong>2004</strong>, permitiu a participação<br />
de dezoito jovens açorianos, naturais de oito das nove ilhas, e, em <strong>2009</strong>,<br />
de catorze jovens, de seis ilhas, por um período de três meses, jovens esses<br />
que tiveram a missão da recolha dos dados, através de inquérito, em cada<br />
uma das suas ilhas. Tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, a cobertura total dos<br />
dezanove concelhos foi conseguida através da deslocação dos jovens residentes<br />
nos concelhos mais próximos.<br />
Antes da recolha da informação, em ambas as edições, definimos como<br />
essencial a realização de um curso de formação para os jovens, transmitindo-lhes<br />
conhecimentos sobre a problemática em estudo bem como sobre<br />
28
Dependências e outras violências…<br />
métodos e técnicas de recolha de informação sociológica, daí a necessidade<br />
de utilização conjunta do sub-programa Janela de Oportunidades que permitiu<br />
a concentração de todos os jovens em Ponta Delgada, durante uma<br />
semana, com o intuito de participarem na referida acção de formação que<br />
todos frequentaram com aproveitamento e satisfação.<br />
A comparação de dados referentes à realidade açoriana e outras realidades<br />
regionais foi um objectivo traçado em ambas as edições do estudo,<br />
visto que a definição dos dados de pesquisa não se cingiram aos já conhecidos<br />
e referentes a outros meios.<br />
Na primeira edição propusemo-nos apresentar respostas aos técnicos<br />
regionais, os quais, nas suas intervenções públicas, reclamavam dados fiáveis<br />
que fundamentassem planos de intervenção consistentes. Não negámos<br />
a pertinência de tais críticas na medida em que era colectivamente<br />
aceite ter sido na década de 90 que se deu a afirmação do fenómeno da<br />
dependência de substâncias ilícitas através da visibilidade conseguida quer<br />
por via das apreensões policiais quer por via da crescente solicitação de<br />
intervenção dos técnicos no terreno, sem que até <strong>2004</strong> tivesse sido feito<br />
qualquer estudo a nível Açores.<br />
Na segunda edição, embora a maior parte dos concelhos açorianos<br />
continuasse sem um plano municipal de prevenção das dependências, elegeu-se<br />
como prioritária a actualização de dados, como forma de precisar a<br />
evolução do fenómeno, bem como de avaliar o impacto das acções e medidas<br />
concretizadas ao longo dos cinco anos que medeiam as duas edições,<br />
tendo-se introduzido uma nova questão ao nível dos estudos científicos<br />
realizados nos Açores: a vitimização.<br />
Desde a realização da primeira edição do estudo, as frequentes solicitações<br />
para participar em acções de sensibilização organizadas pela então<br />
Secretaria Regional dos Assuntos Sociais, Câmaras Municipais, pelas<br />
escolas de diferentes níveis de ensino, por instituições particulares de solidariedade<br />
social e até de cariz religioso fizeram com que procurássemos<br />
acompanhar muito de perto a evolução do fenómeno das dependências nos<br />
Açores e demais regiões, e das acções desenvolvidas tanto ao nível da<br />
intervenção primária como secundária.<br />
Assim, e por motivos óbvios, além de procurar caracterizar a evolução<br />
do fenómeno em estudo, entendemos que a abordagem não ficaria<br />
completa se não analisássemos as estratégias seguidas e respectivos<br />
29
Alberto Peixoto<br />
impactos na comunidade. Por isso decidimos analisar todas as edições de<br />
três jornais de 01 de Janeiro de 2006 a 31 de Dezembro de <strong>2009</strong>: um de<br />
tiragem nacional, o Diário de Notícias; e dois de tiragem regional, o<br />
Diário dos Açores e o Correio dos Açores, com o objectivo de apurar que<br />
tipo de assuntos foram noticiados, que iniciativas foram concretizadas e<br />
que tipo de cobertura mediática foi dada ao fenómeno.<br />
Acreditando que as abordagens dos media seguem os interesses da<br />
comunidade, uma análise pormenorizada da imprensa podia fornecer-nos<br />
uma vertente mais qualitativa do fenómeno além de revelar níveis de sensibilidade<br />
social para com a problemática das dependências.<br />
Redefinidas as perspectivas teóricas e modelos metodológicos de<br />
abordagem, adequados ao fenómeno em estudo tanto em <strong>2004</strong> como em<br />
<strong>2009</strong>, por necessidade de comparabilidade dos dados recolhidos, mantivemos<br />
uma estratégia de investigação, situada no âmbito dos comportamentos<br />
e das relações sociais, de cariz sistémico, que designámos por<br />
perspectiva taxológica.<br />
O vocábulo taxológica deriva de taxologia cuja origem reside no<br />
étimo latino taxu que significa árvore conífera, ou seja, árvore cujos frutos<br />
apresentam forma cónica, e do étimo grego logos, que significa tratado.<br />
Reside na compreensão etimológica a razão da nossa escolha por traduzir<br />
a ideia conceptual da perspectiva apresentada apesar de epistemologicamente<br />
exigir um maior aprofundamento. Conceptualmente o fenómeno<br />
corresponde a um fruto com uma forma cónica, onde está inscrita uma<br />
hierarquia de valores e interesses, individuais e colectivos, com uma base<br />
mais ou menos alargada. Interesses egocêntricos, individualistas conferem-lhe<br />
uma forma cónica mais pontiaguda. Interesses de carácter colectivo,<br />
de convivência e de coesão social conferem-lhe uma forma piramidal<br />
mais achatada. Compreender forma, dimensão e constituição do fenómeno<br />
remete-nos para a árvore, o tronco, os ramos, as raízes e respectivas<br />
características. Por uma ordem lógica, destacam-se as raízes, por serem a<br />
base de sustentação, constituída por um conjunto de formas diversas e com<br />
capacidades e contributos diferenciados no todo, daí a atenção especial às<br />
questões relacionadas com a inserção contextual. Cada uma das raízes<br />
assume um papel idêntico ao desempenhado pelas instituições no indivíduo.<br />
Ao nível da raiz está a Família, a Escola e a Crença, correspondendo<br />
a três grandes sistemas interligados e que se decompõem em subsistemas<br />
30
Dependências e outras violências…<br />
da mesma forma que as raízes se ramificam em redes cada vez mais finas.<br />
Todos os fenómenos são resultantes de uma unidade global, apetrechada<br />
de todas as influências e acontecimentos, que conseguem interferir na<br />
constituição global da unidade. O fenómeno, sempre nascido de uma unidade<br />
global, não é mais do que o resultado da articulação entre a estrutura<br />
e o conteúdo, entre a acção e a forma.<br />
Crentes no papel socializador da Família e da Escola, estamos longe<br />
de lhes reconhecer poderes exclusivos, motivo pelo qual lançamos a<br />
Crença, considerando-a uma grande instituição, aglutinando a fé, a superstição<br />
e a paixão, um campo cuja definição se situa entre o racional e o irracional,<br />
entre o real e o imaginário.<br />
O tronco apresenta-se como um canal direccionado de concretização<br />
sob influências, daí resultando a decomposição em ramos e folhas. Toda a<br />
unidade global e respectiva produção frutífera estão sob influência dos<br />
condicionalismos ambientais, exercidos sobre cada um dos sistemas e formas<br />
de se articularem.<br />
A Etiologia, etimologicamente, nasceu do grego pela junção da aita –<br />
causa – e do logos – tratado, podendo traduzir-se pelo estudo da origem das<br />
coisas. Todavia, em bom rigor, é ao nível da etiopatologia, enquanto estudo<br />
das causas das moléstias sociais, que se situa a nossa intervenção. Para além<br />
da tipologia e da dimensão do fenómeno em análise, enquanto objecto de<br />
estudo, interessam-nos todas as dependências, enquanto comportamentos<br />
de realimentação, compulsivamente repetidos, para auto-satisfação,<br />
cuja não concretização provoca sofrimento, e as suas interacções com o<br />
fenómeno da vitimização, entendendo-se esta como toda a vivência de<br />
experiências resultantes de acto praticado por acção ou omissão susceptível<br />
de violar direitos e deveres próprios ou alheios.<br />
Dada a complexidade emergente dos conceitos apresentados, agravada<br />
pelo objectivo de nos centrarmos sobretudo na fronteira de interacção<br />
dos conceitos, encerrados numa hierarquia clara de interesses, valores e<br />
representações, está fundamentada a necessidade da abrangência sistémica<br />
apresentada para compreender a articulação, a interligação e os nexos<br />
de causalidade sociológica.<br />
Para a definição das amostras, adiante descritas, tomámos como referência<br />
o censo de 2001, quanto à distribuição populacional por ilha, grupos<br />
etários e sexos para aplicação diferenciada do questionário pretendi-<br />
31
Alberto Peixoto<br />
do, tendo-se definido como obrigatória a inquirição proporcional em cada<br />
uma das variáveis referidas.<br />
Na elaboração do inquérito, tivemos como preocupação que o mesmo<br />
tivesse as características de um biograma por forma a que acerca de cada<br />
pessoa inquirida fosse possível traçar um percurso de vida, incidências,<br />
frequências e idade dos acontecimentos, determinando o nível de envolvimento<br />
individual, na dependência e no sistema de significações.<br />
O biograma, enquanto técnica metodológica, permite uma análise<br />
dupla onde o cariz quantitativo e o qualitativo são identificáveis para além<br />
de permitirem identificar as suas interligações. Cremos ser a técnica mais<br />
adequada à perspectiva taxológica. Neste âmbito, o biograma apresenta-se<br />
como um questionário que pode ser vertido num gráfico de vida individual,<br />
sendo nosso objectivo traçar-se uma delineação-tipo para a população<br />
açoriana com base nos valores médios das variáveis de pesquisa.<br />
É nossa intenção responder às seguintes questões:<br />
Qual a evolução das principais dependências nos Açores?<br />
Qual a evolução da sua difusão geográfica?<br />
Que diferenças apresentam os consumidores açorianos de <strong>2004</strong> e os<br />
de <strong>2009</strong>? O que consomem? Como consomem? E por que consomem?<br />
Qual a evolução das taxas de abandono e de recaída em cada uma das<br />
dependências e de outras problemáticas associadas?<br />
Após a análise de anteriores estudos, efectuados sobre a nossa temática,<br />
e das conclusões a que chegaram, estamos em condições de formular<br />
algumas hipóteses explicativas:<br />
Hipótese 1) Existindo uma relação entre hábitos de consumo e desenvolvimento<br />
social, continuarão a existir diferenciações na prevalência de<br />
consumos de substâncias tóxicas por ilhas e por concelhos.<br />
Hipótese 2) Dada a influência da vivência familiar nos comportamentos<br />
futuros dos indivíduos, os elementos oriundos de famílias, onde eram<br />
frequentes os quadros de violência doméstica, continuarão a apresentar<br />
maior propensão para as dependências em geral.<br />
Hipótese 3) Partindo do princípio de que a propensão para o consumo<br />
de substâncias está relacionada, em parte, com um certo estilo de vida,<br />
então é de prever a existência de regularidades ao nível dos perfis dos consumidores<br />
e/ou abusadores de substâncias.<br />
32
A EVOLUÇÃO COMPARATIVA DE OUTROS ESTUDOS<br />
Os estudos do Instituto da Droga e Toxicodependência sobre a evolução<br />
do fenómeno da dependência nos Açores, entre 2001 e 2007, longe do<br />
desejável, em comparação com a evolução a nível nacional e europeu,<br />
demonstram que estamos perante uma desconformidade entre as representações<br />
sociais da evolução do fenómeno e os resultados dos estudos.<br />
Convém recordar que, em 2005, segundo o Observatório Europeu da<br />
Droga e Toxicodependência, a Dinamarca apresentava, entre os 15 e os 64<br />
anos, uma prevalência de consumo de cannabis de 31%, a França, 23%, a<br />
Espanha e a Irlanda, 20%, a Holanda, 15%, a Suécia, a Grécia e o<br />
Luxemburgo, 13%, Portugal, 8%, e a região Açores, 8% (Peixoto, 2005:125).<br />
PAÍSES Prevalência do consumo<br />
de cannabis ao longo da vida em<br />
2005, 15-64 anos (%)<br />
Alemanha 19<br />
Bélgica (Fr.) 21<br />
Dinamarca 31<br />
Espanha 20<br />
Finlândia 10<br />
França 23<br />
Grécia 13<br />
Holanda 15<br />
Irlanda 20<br />
Luxemburgo 13<br />
Noruega 13<br />
Portugal 8<br />
Reino Unido (I+PG) 27<br />
Suécia 13<br />
Quadro n.º 1 Prevalência do consumo de cannabis na UE dos 15.<br />
33
Alberto Peixoto<br />
Ao nível da prevalência de cocaína, Portugal apresentava, em 2005,<br />
uma prevalência de 0,9% na população entre os 15 e os 64 anos, a França,<br />
2,2%, a Itália, 4,6%, a Espanha, 5,9%, o Reino Unido, 6,1%, e a região<br />
Açores, 0,1% (Peixoto, 2005: 124).<br />
Em 2007, o inquérito, dirigido pelo professor Casimiro Balsa à população<br />
portuguesa entre os 15 e os 64, tendo por referência os dados recolhidos<br />
em 2001, concluiu que aumentou a prevalência do consumo de<br />
droga. De 7,8% de prevalência, em 2001, em 2007, atingiram-se os 12%.<br />
Naquele inquérito, no grupo etário entre os 15 e os 24 anos, a prevalência<br />
de consumo de álcool aumentou de 76 para 79,2%, a prevalência de consumo<br />
de tabaco aumentou de 40 para 48,9% e a prevalência do consumo<br />
de drogas aumentou dos 12,4 para 15,4%.<br />
O Relatório das Drogas <strong>2009</strong>, da Agência das Nações Unidas para<br />
Assuntos de Droga e Crime, estimava que, em 2007, existiam entre 172 a<br />
250 milhões de pessoas em todo o mundo, com idade superior a 15 anos,<br />
que já tinham experimentado pelo menos uma vez uma denominada substância<br />
ilícita, representando entre 2,6 e 3,7% da população mundial.<br />
Descreveu os consumos europeus em 59,7% de opiáceos, 19,5% de cannabis,<br />
10,9% de anfetaminas e 8,4% de cocaína. Em África, destacava-se<br />
o consumo de cannabis entre 63% dos consumidores. Na América do Sul,<br />
a cocaína, com 52,1%. Na América do Norte, os consumidores repartiam-<br />
-se em 33,5% pela cocaína, em 23,3% pela cannabis e em 20,7% pelos<br />
opiáceos. Na Ásia, 64,6% dos consumidores preferiam os opiáceos e na<br />
Oceânia foi a cannabis a substância mais consumida (47%).<br />
O referido relatório dá ainda conta de um decréscimo de 19% na produção<br />
de papoila, no Afeganistão, um decréscimo de 18% de plantações de<br />
coca, na Colômbia, embora se tenha assistido a um aumento da produção e<br />
circulação de estimulantes de origem química (DA, 25/Jun/<strong>2009</strong>: 13).<br />
O relatório sobre A Evolução do Fenómeno da Droga na Europa,<br />
2008 caracteriza Portugal como sendo um país que possui baixas prevalências<br />
de consumo em todas as drogas, sendo, no entanto, de destacar que,<br />
ao nível do número de mortes relacionadas com o consumo, Portugal possuía<br />
taxas de mortalidade muito elevadas em relação aos demais países.<br />
Em Portugal, entre 2006 e 2007, as mortes relacionadas com o consumo<br />
de droga subiram 45%, tendo sido em 91% dos casos homens, com a idade<br />
média de 34 anos de idade. Registou-se uma taxa de mortalidade de 31<br />
34
Dependências e outras violências…<br />
consumidores por cada milhão de habitantes enquanto a Hungria com a<br />
taxa mais baixa registou 4 mortes por cada milhão de habitantes. Com as<br />
taxas mais elevadas surgiu a Estónia, com 73 mortes, seguindo-se o<br />
Luxemburgo, com 60, e o Reino Unido, com 47 mortes por cada milhão<br />
de habitantes (A Evolução do Fenómeno da Droga na Europa, 2008: 92).<br />
O inquérito geral à população, realizado em 2007, apresenta diferenças<br />
significativas em relação aos valores detectados num outro estudo realizado<br />
pelo IDT em meio escolar, em 2006, onde a prevalência de consumo diminuiu<br />
em todas as substâncias psicoactivas, como se demonstra de seguida.<br />
Em termos nacionais, em meio escolar, entre os alunos que frequentavam<br />
o 3.º ciclo (7.º, 8.º, e 9.º), dos 12 aos 15 anos de idade, em 2001, em<br />
67%, havia a prevalência de consumo de álcool, enquanto, em 2006, baixou<br />
para 59%. Nos Açores, em 2001, a prevalência era de 71% e, em 2006,<br />
baixou para 69%. A cerveja, a mais consumida das bebidas alcoólicas, baixou<br />
de 63%, em 2001, para 61%, em 2006. Nas bebidas destiladas, baixámos<br />
de 54% para 48%.<br />
A média nacional da prevalência de consumo de tabaco, em 2001, era<br />
de 49% e, em 2006, passou para 35%. Nos Açores, em 2001, detínhamos<br />
uma taxa de prevalência de consumos de 53% entre a população estudantil<br />
no 3.º ciclo e, em 2006, baixámos para 43%.<br />
A prevalência do consumo de drogas, a nível nacional, em 2001, era<br />
de 14% e, em 2006, baixou para 11%. A nível nacional, no consumo de<br />
cannabis, de 10,4% baixou para 6,3%. Nos Açores, de 14%, em 2001, baixou<br />
para 10%, em 2006.<br />
Nas anfetaminas, a nível nacional, baixou-se de 3,3% para 1,7%. Nos<br />
Açores, de 5,1%, em 2001, baixou-se para 2,6%, em 2006.<br />
Na cocaína, a nível nacional, de 4,4% baixou-se para 1,9%. Nos<br />
Açores, de 7,5%, em 2001, baixou-se para 2,8%, em 2006.<br />
No esctasy, a nível nacional, de 4,1%, em 2001, baixou-se para 1,8%.<br />
Nos Açores, de 5,9%, em 2001, baixou-se para 2,7%, em 2006.<br />
No LSD, a nível nacional, baixou-se de 2,7% para 0,8%, em 2006.<br />
Nos Açores, de 3,6% baixou-se para 2,5%.<br />
Nos cogumelos alucinogéneos, a nível nacional, de 2,7% baixou-se<br />
para 1,4%. Nos Açores, de 3,4% baixou-se para 2,1%.<br />
Na heroína, a nível nacional, baixou-se de 3,4%, em 2001, para 1,5%,<br />
em 2006. Nos Açores, de 5,5%, em 2001, baixou para 2,7%.<br />
35
Alberto Peixoto<br />
Os tranquilizantes tinham uma prevalência de consumo entre 10% dos<br />
adolescentes e, em 2006, baixaram para 4%. Nos Açores, de 16%, em<br />
2001, baixou-se para 6%, em 2006.<br />
Em relação ao consumo abusivo de álcool, nos últimos 30 dias,<br />
Portugal, segundo o referido estudo, situava-se, em 2007, em 4.º lugar<br />
numa lista de 35 países europeus, embora em relação ao consumo de drogas,<br />
tabaco e fármacos se situasse abaixo da média europeia.<br />
No ensino secundário (10.º, 11.º e 12.º anos), entre os 15 e os 18 anos,<br />
a nível nacional, em 2001, havia uma prevalência de consumo de bebidas<br />
alcoólicas de 91%, em 2006, tendo baixado para 88%. Nos Açores, o consumo<br />
de álcool manteve-se inalterado com uma prevalência de consumo<br />
de 92%, apesar da redução do consumo de vinho de 3% e da cerveja de<br />
1%. De uma prevalência de consumo de vinho de 69% baixou-se para<br />
66%. Na cerveja, de uma prevalência de 88%, em 2001, baixou-se para<br />
uma prevalência de 87%.<br />
Deveu-se à crescente preferência pelos denominados alcoolpops que<br />
a prevalência do consumo de bebidas alcoólicas se manteve estável nos<br />
Açores, sendo um fenómeno que importa acompanhar justificando alguma<br />
regulamentação a este nível, nomeadamente proibir as denominadas happy<br />
hours que incentivam o consumo desmedido.<br />
A nível nacional, o consumo de tabaco, de 70%, em 2001, diminuiu para<br />
uma prevalência de 55%, em 2006. Nos Açores, de 74% baixou para 67%.<br />
O consumo de tranquilizantes, a nível nacional, em 2001, era de 14%,<br />
em 2006, baixou para 7%. Nos Açores, de 16%, em 2001, baixou para 7%,<br />
em 2006.<br />
No ensino secundário, a nível nacional, os 28% de prevalência de consumo<br />
de drogas baixou para 22%. Neste ponto, os dados do estudo do IDT<br />
não caracterizam a evolução da região.<br />
Todavia, atendendo à evolução das prevalências de consumo das diferentes<br />
substâncias, pode afirmar-se que existem algumas especificidades<br />
da região. Em relação à prevalência do consumo de cannabis, entre 2001<br />
e 2006, manteve-se constante nos 32%. Tal quadro não será alheio ao facto<br />
de ser uma substância cada vez mais produzida na região, conforme atestam<br />
as muitas apreensões da PSP ao nível de plantações de cannabis em<br />
praticamente todas as ilhas. Os alunos do ensino secundário da região são<br />
os que a nível nacional apresentam a mais elevada prevalência de consu-<br />
36
Dependências e outras violências…<br />
mo desta substância em todo o território nacional, tendo, em 2006, ultrapassado<br />
a região do Alentejo, que, em 2001, detinha a mais elevada prevalência<br />
desta substância.<br />
As anfetaminas na região registaram também uma redução na prevalência<br />
de consumo de 4,2% para 3,3%. No entanto, a este nível, passamos<br />
a deter a mais elevada taxa de prevalência do território nacional que, em<br />
2006, se situava nos 2,1% depois de ter registado uma prevalência de<br />
3,5%, em 2001.<br />
Ao nível da cocaína, nos Açores, de 5,2% de prevalência, em 2001,<br />
passámos para uma taxa de 1,8%, em 2006, situando-nos a meio da tabela<br />
nacional liderada pela região do Algarve, com 2,3%, e a Madeira, com<br />
2,1%. A nível nacional, de uma prevalência de 3,6%, em 2001, passou-se<br />
para uma taxa de 1,6%, em 2006.<br />
No tocante ao consumo de esctasy, no ensino secundário, no Continente,<br />
passámos de uma prevalência de 4,2% para uma prevalência de 2%, em<br />
2006. Nos Açores, passámos de uma prevalência de 4,6% para 3%, em 2006.<br />
A prevalência de consumo de LSD, a nível nacional, em 2001, era de<br />
3,1% e, em 2006, baixou para 1,5%. Nos Açores, de 3,4%, em 2001, baixou<br />
para 2,9%, em 2006.<br />
Tendo, conforme já dissemos, o único estudo efectuado na região<br />
sobre a prevalência de consumos na população em geral sido realizado em<br />
<strong>2004</strong> e publicado em 2005, pretendeu-se em <strong>2009</strong> realizar novo estudo<br />
comparativo. No entanto, no âmbito do Plano Regional de Prevenção da<br />
Toxicodependência da Lagoa, foi realizado, naquele concelho, em 2007, o<br />
mesmo inquérito à população em geral (de <strong>2004</strong>) com uma amostra de 1<br />
412 indivíduos. Com quotas definidas a 11% para cada grupo etário, constituíram-se<br />
nove classes, com indivíduos de ambos os sexos (50% cada),<br />
sendo a primeira formada por pessoas com 14 e menos anos, seguindo-se<br />
a dos 15 aos 20 anos, a dos 21 aos 25, a dos 26 aos 30, a dos 31 aos 35, a<br />
dos 36 aos 40, a dos 41 aos 45, a dos 46 aos 50 e por último a classe das<br />
pessoas com 51 e mais anos de idade.<br />
Ali soube-se que a prevalência de consumos regulares de bebidas<br />
alcoólicas, na população em geral, de 54,5% baixou para 30,6%. A prevalência<br />
da dependência de tabaco, de 33,1% na população em geral, baixou<br />
para 31,2%. Ao nível da prevalência do consumo de drogas, de 10,8%, em<br />
<strong>2004</strong>, na população em geral, baixou para 9,9%.<br />
37
Alberto Peixoto<br />
Outro dos estudos realizados na região sobre a problemática foi o<br />
designado por Dependências no Faial <strong>2004</strong>-2008, com a finalidade de responder<br />
às necessidades do Plano Municipal de Prevenção das<br />
Toxicodependências, do concelho da Horta, o qual teve como população<br />
alvo 1 278 residentes de todas as freguesias da ilha do Faial, dos quais 639<br />
eram homens e outros 639, mulheres.<br />
Em <strong>2004</strong>, tinha-se detectado que, na ilha do Faial, 28,4% da população<br />
era fumadora, enquanto, em 2008, a população fumadora diminuiu<br />
para 27,9% do total. Em relação ao consumo regular de bebidas alcoólicas<br />
de 56,8%, em <strong>2004</strong>, passou-se para 47,7%, em 2008, ou seja, um decréscimo<br />
de 9,1%, e no tocante à prevalência do consumo de droga, em <strong>2004</strong>,<br />
era de 9,8%, numa amostra constante de 11% em cada grupo etário, e em<br />
50% para cada sexo, em 2008, o valor encontrado ficou-se pelos 9,2%,<br />
abaixo 0,6% do valor detectado em <strong>2004</strong>.1<br />
Por fim detectou-se que, em 2008, existiam no Faial cerca de 90<br />
dependentes de droga, 3 600 fumadores e 1 000 indivíduos dependentes de<br />
álcool. Já tinham tentado abandonar a dependência de que padeciam 3 500<br />
pessoas e 49%, até ao momento da realização do estudo, diziam que<br />
tinham conseguido ter sucesso no abandono.<br />
Outro indicador obtido prendeu-se com uma certa conformação social<br />
com o consumo/tráfico de droga bem como com o consumo excessivo de<br />
bebidas alcoólicas. Em <strong>2004</strong>, 69,7% dos faialenses diziam ter conhecimento<br />
de consumo/tráfico de droga no meio em que residiam e, em 2008,<br />
baixou para 42,9%, apesar do aumento do número de abordagens à problemática<br />
pela comunicação social e de as apreensões policiais não demonstrarem<br />
que o tráfico de droga tenha diminuído. Em relação ao consumo de<br />
álcool, em <strong>2004</strong>, 93,7% dos faialenses tinham conhecimento de consumos<br />
excessivos e, em 2008, baixou para 60,3%, assistindo-se igualmente a uma<br />
perda de visibilidade.<br />
A Cruz Vermelha Portuguesa, em 2008, realizou um inquérito com uma<br />
amostra de 1 540 pessoas, entre os 16 e os 18 anos, sobre a percepção dos<br />
1 Refira-se que o valor de referência, detectado no estudo Dependências e <strong>Outras</strong> <strong>Violências</strong>,<br />
2005: 122, em <strong>2004</strong>, para a ilha do Faial, situava-se nos 11,4% da população, significativamente<br />
acima do valor de 2008. A diferença de valores deriva das diferenças na amostra de<br />
<strong>2004</strong> em relação a 2008 visto que o primeiro era um estudo de região e o segundo, um estudo<br />
de ilha, tendo-se refeito a amostra a fim de se encontrar dados comparáveis.<br />
38
Dependências e outras violências…<br />
riscos do consumo de álcool, tendo-se chegado à conclusão de que 80% dos<br />
jovens tinha a noção dos riscos do consumo de álcool (DA, 21/Out/<strong>2009</strong>: 5).<br />
Para além dos estudos com metodologias mais clássicas para quantificação<br />
das prevalências do consumo de substâncias e dos quadros de<br />
dependências, novas metodologias vão sendo ensaiadas. Para além da análise<br />
dos vestígios de cocaína nas notas, Fritz Sörgel e Verena Jakob dedicaram-se<br />
à detecção de resíduos de cocaína nos esgotos das cidades.<br />
Depois de terem analisado esgotos em 29 locais na Alemanha calcularam<br />
que os alemães consomem cerca de 20 toneladas de cocaína por ano, quando<br />
naquele país, por ano, as autoridades apenas conseguem apreender<br />
cerca de uma tonelada (CINT, 20/Jun/2007: 38).<br />
Ao nível da detecção individual do consumo de substâncias, através<br />
das análises ao sangue, urina e saliva, a metodologia que se segue são os<br />
adesivos para recolha de suor por fornecerem dados bem mais precisos<br />
sobre o consumo de metadona, cafeína e cocaína.<br />
Em 2008, “na verdade, as infracções relacionadas com a oferta de<br />
droga aumentaram 12% e as relacionadas com a posse, mais de 50 %. A<br />
cannabis continua a ser a droga mais frequentemente associada às infracções<br />
à legislação em matéria de droga.” (Relatório – A Evolução do<br />
Fenómeno da Droga na Europa, 2008: 13) […] Embora a oferta de tratamento<br />
da toxicodependência continue a aumentar na Europa, ainda subsistem<br />
grandes variações entre os países no que respeita à disponibilidade<br />
dos serviços e à sua capacidade para responder a diferentes tipos de<br />
problemas de droga (idem: 14).<br />
Em <strong>2009</strong>, foram apresentados os resultados de um estudo realizado<br />
em 35 países sobre a prevalência do consumo de álcool na população nascida<br />
em 1991, tendo como referência os dados recolhidos em 2003 e em<br />
2007. Tal como detectado nos estudos realizados nos Açores, verificou-se<br />
uma tendência de decréscimo no tabaco e estabilização no consumo de<br />
drogas ilícitas. Já relativamente ao consumo de bebidas alcoólicas,<br />
enquanto nos Açores se denotou um decréscimo, no estudo entre 35 países<br />
registou-se uma tendência para o aumento. Os dados mais preocupantes do<br />
referido estudo prendem-se com o facto de terem aumentado de 25%, em<br />
2003, para 56%, em 2007, os bebedores excessivos e uma aproximação<br />
comportamental muito significativa das mulheres em relação aos homens<br />
(DA, 28/Mar/<strong>2009</strong>:13).<br />
39
A AMOSTRA<br />
O critério utilizado para a determinação da população a inquirir foi o da<br />
aleatoriedade, mas, em bom rigor, uma aleatoriedade condicionada, visto pretendermos<br />
que fosse o mais representativa possível do universo açoriano.<br />
Definimos que as ilhas, os concelhos, o género e a diferenciação etária fossem<br />
as únicas condicionantes impostas, daí terem sido impostas, logo à partida, a<br />
todos os jovens que connosco colaboraram na definição da amostra.<br />
SEXO <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Homens 49,5 49,3<br />
Mulheres 50,5 50,7<br />
Quadro n.º 2 Comparação por sexos da população<br />
inquirida.<br />
O número de inquiridos por ilha e por concelho foi definido pelo princípio<br />
da proporcionalidade tendo-se chegado, em <strong>2004</strong>, ao número 3 866,<br />
no qual 1 914 eram do sexo masculino (49,5%) e 1 952, do sexo feminino<br />
(50,5%), e, em <strong>2009</strong>, a 3 654 inquiridos dos quais 1 802 homens (49,3%)<br />
e 1 828 mulheres (50,7%)<br />
Procurou-se que todos os grupos etários tivessem idêntica representatividade<br />
na amostra final, mas verificou-se que, das quatro condicionantes<br />
impostas à partida, a questão das idades era a mais difícil de conseguir de<br />
modo a coincidir também com a proporcionalidade concelho a concelho.<br />
Acabámos por privilegiar a proporcionalidade por concelhos, resultando<br />
deste modo que cada grupo etário fosse repartido a meio para cada<br />
41
Alberto Peixoto<br />
um dos sexos e tivesse um peso entre 9 a 15% na amostra final. O primeiro<br />
grupo etário congregou os inquiridos com 14 e menos anos de idade,<br />
seguindo-se os inquiridos entre os 15 e os 20 anos, os 21 e os 25 anos, os<br />
26 e os 30 anos, os 31 e os 35, os 36 e os 40, os 41 e os 45, os 46 e os 50<br />
e por fim os inquiridos com 51 ou mais anos de idade.<br />
Quanto ao estado civil da população inquirida, em <strong>2004</strong>, 47% eram<br />
casados, 42,7%, solteiros, 4,7%, viúvos, 3,1%, divorciados, 1,3%, separados<br />
e 1,2% viviam em união de facto. Em <strong>2009</strong>, 41,9% eram solteiros,<br />
45,9%, casados, 5,6%, divorciados, 2,8%, viúvos, 0,9%, separados e 2,9%<br />
viviam em união de facto.<br />
A verificação do estado civil apresentou-se como um dado de grande<br />
pertinência ao ajudar a precisar a tipologia das relações familiares e afectivas<br />
dos inquiridos, a sua influência nos comportamentos individuais bem<br />
como algumas transformações sociais. Da comparação de duas amostras<br />
verificou-se uma diminuição da população casada contra um aumento da<br />
população divorciada e a viver em união de facto.<br />
ESTADO CIVIL <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Solteiro 42,7 41,9<br />
Casado 47,0 45,9<br />
Divorciado 3,1 5,6<br />
Viúvo 4,7 2,8<br />
Separado 1,3 0,9<br />
União de facto 1,2 2,9<br />
Quadro n.º 3 Estado civil da população inquirida.<br />
As habilitações literárias dos inquiridos tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong><br />
situavam-se predominantemente até ao 9.º ano de escolaridade, dado que<br />
concentra mais de 64% da população. Com escolaridade ao nível do ensino<br />
secundário ou profissional, equiparado ao secundário, surgiu mais de<br />
22% da população e, ao nível do ensino superior, registou-se uma melhoria<br />
visto que em <strong>2004</strong> havia 8,7% da população com curso superior e, em<br />
<strong>2009</strong>, representavam 10,6% da população inquirida.<br />
Abaixo do 9.º ano de escolaridade, em <strong>2004</strong>, 1,4% da população<br />
não possuía qualquer nível de ensino e não sabia ler ou escrever.<br />
42
Dependências e outras violências…<br />
Sabendo ler e escrever, foram identificados 3,9%. Com o primeiro ciclo, a<br />
denominada antiga 4.ª classe, foram referenciados, neste nível, 21,9% dos<br />
inquiridos. Ao nível do 2.º ciclo (6.º ano do escolaridade), apresentaramse-nos<br />
16% do total da amostra.<br />
HABILITAÇÕES LITERÁRIAS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Não sabe ler 1,4 1,1<br />
Sabe ler e escrever 3,9 1,2<br />
1.º ciclo 21,9 15,8<br />
2.º ciclo 16,0 23,3<br />
3.º ciclo 22,0 25,8<br />
Ensino secundário 20,5 20,9<br />
Curso profissional 5,6 1,3<br />
Curso superior 8,7 10,6<br />
Quadro n.º 4 Comparação das habilitações literárias da população inquirida.<br />
Em <strong>2009</strong>, 23,3% possuía o 6 .º ano, 15,8%, o 4.º ano, e não possuía<br />
qualquer nível de ensino sem saber ler ou escrever 1,1% da população e<br />
1,2% sabia ler e escrever. Apurámos, ainda, em relação a <strong>2009</strong> que 14,5%<br />
da população inquirida tinha frequentado um curso profissional.<br />
No tocante às profissões desempenhadas pela população inquirida,<br />
foram identificadas 68 profissões, em <strong>2004</strong>, e 239 profissões, em <strong>2009</strong>.<br />
Atendendo à multiplicação do número de profissões exercidas, optámos<br />
por tratar as mais representativas, ficando as demais agrupadas em três<br />
níveis: as profissões de baixa aptidão técnica (cerca de 35%); as profissões<br />
de média aptidão técnica (cerca de 55%); as profissões de elevada aptidão<br />
técnica (cerca de 10%).<br />
Uma das alterações efectuadas no inquérito de <strong>2009</strong> prendeu-se com<br />
a identificação do grau de satisfação com a profissão/vida escolar, tendo-<br />
-se apurado que 74,2% afirmaram sentirem-se satisfeitos, enquanto 20,1%<br />
afirmaram estar insatisfeitos e 5,7% não soube ou não respondeu.<br />
O vínculo profissional foi outro dos indicadores considerados por<br />
acreditarmos que nos poderia fornecer informação sobre os níveis de<br />
inserção social dos indivíduos bem como a qualidade e intensidade das<br />
suas relações individuais, familiares e sociais, na medida em que entende-<br />
43
Alberto Peixoto<br />
mos existir uma relação entre a qualificação profissional, as habilitações<br />
escolares, as aptidões e as capacidades de interacção. A este nível registaram-se,<br />
entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>, algumas transformações.<br />
Entre as pessoas inquiridas, em <strong>2004</strong>, 46,9%, e, em <strong>2009</strong>, 40,9%, não<br />
possuíam qualquer vínculo profissional. Encontram-se aqui, para além dos<br />
desempregados, estudantes e grande parte das mulheres domésticas, que,<br />
para além das tarefas inerentes às suas famílias, não possuem qualquer<br />
relação laboral.<br />
VÍNCULO PROFISSIONAL <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Não trabalha 46,9 40,9<br />
Serviços ocasionais por conta de outrem 1,0 9,4<br />
Serviços ocasionais por conta própria 12,6 8,6<br />
Contrato a termo 13,7 10,1<br />
Efectivo 24,9 29,5<br />
Outra 0,9 1,5<br />
Quadro n.º 5 População inquirida segundo o vínculo profissional.<br />
Diminuiu, também, o número de pessoas a trabalhar por conta própria<br />
(de 12,6% passou para 8,6%), diminuiu o número de pessoas com contrato<br />
a termo (de 13,7% passou para 10,1%), tendo aumentado o número de<br />
pessoas a fazer serviços ocasionais por conta de outrem e as pessoas em<br />
situação efectiva.<br />
Em <strong>2004</strong>, procurámos identificar a existência de uma relação entre os<br />
inquiridos e a habitação onde residiam, nomeadamente, do ponto de vista<br />
da propriedade, da estabilidade familiar e das condições económicas.<br />
Apesar de identificadas algumas regularidades, optámos por substituir a<br />
questão pela identificação da participação dos inquiridos em actividades<br />
fora da actividade profissional ou escolar.<br />
Concluiu-se que 68,8% dos inquiridos não possuíam qualquer outra<br />
actividade e 31,2% afirmaram possuir outra actividade para além da profissional<br />
ou escolar, tendo surgido em primeiro lugar as actividades de<br />
cariz desportivo (44%), seguidas das religiosas em igualdade com as culturais<br />
(16,3%), as de cariz musical (16,1%) e por último outras (7,3%).<br />
44
O COMBATE ÀS DEPENDÊNCIAS<br />
Existindo uma ideia clara de que o controlo absoluto das drogas e o surgimento<br />
de sociedades livres de drogas é utópico, existe, também, uma convicção<br />
muito forte sobre a possibilidade de se efectuar um controlo relativamente<br />
satisfatório. A necessidade do combate às drogas é um assunto de consensos<br />
e não existe nenhum país que defenda a sua liberalização e total despenalização,<br />
quer das drogas leves quer das ditas drogas duras, havendo,<br />
contudo, diferenças bastante significativas nas abordagens e nos enfoques.<br />
Nicholas Kristof, jornalista do New York Times, através de uma análise<br />
estatística prolongada no tempo, defendeu que existe uma clara noção<br />
de que a guerra contra a droga é uma causa perdida surgindo a legalização<br />
da droga como o mal menor (I, 18/Jun/<strong>2009</strong>: 4).<br />
As campanhas a favor da legalização das drogas tornaram-se uma realidade,<br />
invocando-se o modelo holandês ao nível da liberalização da comercialização<br />
das drogas leves como um exemplo. Contudo, convém recordar que depois<br />
de em 1976 ter sido legalizada a comercialização de cannabis em pequenas<br />
quantidades, o governo local, devido a problemas de ordem criminal referenciados,<br />
em <strong>2009</strong>, estava a ponderar a introdução de mecanismos de controlo de<br />
vendas através de cartões para que apenas membros dos conhecidos «coffee<br />
shops», que comercializam a substância, tivessem acesso à mesma.<br />
Portanto, aquela ideia da liberdade total e do à-vontade é o extremo oposto<br />
à ordem e segurança. Como é sabido, a comercialização e o consumo de<br />
álcool, em Portugal, é livre, enquanto a comercialização das denominadas drogas<br />
ilícitas é crime e o seu consumo constitui contra-ordenação. O resultado em<br />
termos estatísticos é possuirmos a nível nacional cerca de um milhão de alcoólicos<br />
e cem mil dependentes de drogas. Se preferirem, nos Açores, possuíamos,<br />
em <strong>2004</strong>, trinta mil alcoólicos e cinco mil dependentes de drogas.<br />
45
Alberto Peixoto<br />
Como se tem demonstrado, a facilitação do acesso potencia o consumo<br />
e a dificultação faz diminuir a propensão. Recorde-se o caso recente<br />
do tabaco em Portugal. Agravou-se o preço de venda ao público por<br />
via do aumento da carga fiscal e aumentaram-se as barreiras ao consumo<br />
em determinados locais, logo assistiu-se a uma diminuição do consumo<br />
de tabaco.<br />
O investimento em campanhas contra as drogas não garantem qualquer<br />
sucesso conforme foi denunciado no relatório de 1980 da<br />
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura em<br />
que foram gastos, na década de 70, seis mil milhões de dólares e nunca se<br />
consumiu tantas drogas como até então.<br />
Entre 1990 e 2002, morreram, na Europa, vítimas de overdose,<br />
100.000 jovens (DA, 14/Jan/2005: 11), correspondendo a uma média<br />
anual de 8 000 a 9 000 indivíduos, na maior parte consumidores de heroína<br />
e outros opiáceos frequentemente associados ao consumo excessivo de<br />
álcool. A este respeito, “Cientistas da Rand Corporation determinaram<br />
ainda que se se providenciasse tratamento a todos os toxicodependentes<br />
nos EUA, com um investimento de 21 biliões de dólares, poupar-se-iam<br />
150 biliões em custos sociais nos 15 anos seguintes, ou seja, um retorno<br />
sete vezes superior ao capital investido” (Coelho, <strong>2004</strong>: 58).<br />
Portugal tem-se destacado como um dos países que mais investe no<br />
combate às dependências, fazendo mesmo menção do facto nas contas<br />
públicas a par da Irlanda, República Checa e Polónia. Em primeiro lugar,<br />
surge a Irlanda, com 214 687 000,00 euros gastos, representando 0,39% do<br />
total da despesa pública, seguindo-se Portugal, com 75 195 175,00 euros,<br />
0,11% da despesa pública, a Polónia, com 82 373 000,00 euros, 0,08% e<br />
por fim a República Checa, com 17 869 000,00 euros, 0,04% da despesa<br />
pública (A Evolução do Fenómeno da Droga na Europa, 2008: 22).<br />
Só a detenção, julgamento, cumprimento de pena e expulsão de cada<br />
traficante internacional de droga representam um custo para o Estado<br />
Português de 80 mil euros. Recorde-se que, em 2008, foram detidos 180<br />
indivíduos e, em 2007, tinham sido detidos 232 (DA, 24/Mar/<strong>2009</strong>: 11).<br />
Sendo a questão das dependências sobretudo uma questão de saúde<br />
pública, o tratamento dos dependentes tem de ser encarado como a grande<br />
alternativa; daí que a intervenção junto dos dependentes de drogas, através<br />
de um esforço de redução dos riscos a que estão expostos, nomeadamente<br />
46
Dependências e outras violências…<br />
na contracção e propagação de doenças infecto-contagiosas, seja considerada<br />
pelo Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência como<br />
uma boa prática, recomendando-a. A nível europeu, é possível identificar-se<br />
duas posturas claras face a este tipo de intervenção surgindo por um lado os<br />
países do Sul da Europa mais liberais, demonstrando uma grande abertura<br />
aos programas de redução de riscos; e, por outro lado, os países do Norte da<br />
Europa com grandes resistências a este tipo de programas, apresentando-se<br />
menos liberais.<br />
A luta contra o narcotráfico é outra das vertentes de combate, o que<br />
motivou, no Bogotá, em Julho de 2003 a assinatura, de um acordo entre<br />
Espanha, França, Reino-Unido e Colômbia, visando um combate ao tráfico<br />
numa parceria entre a União Europeia e a Colômbia, país responsável<br />
pela produção de 750 toneladas, por ano, de cocaína, 75% do total da<br />
produção mundial.<br />
O Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência, em<br />
2003, por sua vez, consciente do problema das dependências a nível<br />
Europeu, correndo o risco de se agravar devido ao alargamento a 25, apelou<br />
à necessidade de uma maior cooperação entre os Estados Membros na<br />
tentativa de controlar e combater o fenómeno.<br />
Na realidade, os resultados do combate ao tráfico de droga a nível<br />
mundial têm sido escassos, e as intervenções têm sobretudo demonstrado<br />
a grande capacidade de adaptação das redes de tráfico internacional aos<br />
condicionalismos emergentes do combate internacional. É demonstrativo<br />
o facto de Estados do Norte e da Costa Africana, fruto do aumento do controlo<br />
no Centro e Sul da Europa, por onde tradicionalmente se abastece o<br />
continente europeu, se terem tornado bases logísticas para o narcotráfico<br />
ao ponto de suscitar a preocupação da ONU com a eminência de alguns<br />
desses Estados se transformarem em narco-Estados. Foi demonstrativa da<br />
ameaça a campanha eleitoral para as eleições de 16 de Novembro de 2008,<br />
na Guiné-Bissau, a qual ficou profundamente marcada pelas acusações e<br />
suspeitas recíprocas, entre os partidos políticos candidatos ao poder, de<br />
envolvimento no narcotráfico (CA, 30/Out/2008: 36).<br />
Seria desejável aprofundar-se a investigação sobre mecanismos de<br />
cooperação, capazes de produzir efeitos reais, o que está longe de ser<br />
garantido, estando mesmo em florescimento o tráfico através da internet.<br />
Enquanto não se congregam esforços, só em relação à cannabis, em 2006,<br />
47
Alberto Peixoto<br />
atingiu-se a fasquia dos 30 milhões de consumidores na UE, Islândia,<br />
Liechtenstein, Noruega e Suíça (DN, 01/Mar/2006: 18).<br />
O combate ao tráfico de estupefacientes é uma luta que tem sido travada<br />
pelas autoridades policiais, que, ano após ano, foram batendo novos<br />
recordes nas apreensões, apesar da redução do número de detenções de<br />
traficantes (RAENLCD, <strong>2004</strong>)2. Contudo o mérito da actuação tem sido<br />
abafado na comunicação social por todo um conjunto de outras criminalidades,<br />
que, não sendo novas, têm assumido particular relevo social.<br />
Falamos dos crimes económicos, da corrupção e dos crimes sexuais. Em<br />
bom rigor não falamos dos crimes em si, mas sim das mediáticas figuras<br />
referenciadas nas suspeições.<br />
Em 2002, apreenderam-se, em Portugal, 986 315 quilos de heroína, 3<br />
140 103 quilos de cocaína, 361 000 quilos de cannabis e 222 479 pastilhas<br />
de ecstasy, mas o ano de <strong>2004</strong> foi ainda mais fértil em apreensões de grande<br />
quantidade. Apenas no primeiro semestre, as quantidades apreendidas<br />
quintuplicaram3 em relação ao período homólogo de 2003. Apenas a operação<br />
«Mar do Sul», efectuada pela PJ/Porto, rendeu a apreensão de 2 231<br />
quilos de cocaína com elevado estado de pureza que se encontrava em<br />
caixa de pavimento cerâmico. Duros golpes foram infligidos ao topo das<br />
redes de droga, em Portugal. Foi capturado o «Lagostas» de Peniche com<br />
ligações a grupos internacionais, o «empresário dos BMW» de Cascais, o<br />
«casal do Casal Ventoso», responsável pelo tráfico na zona do Casal<br />
Ventoso, e o famoso Franquelim Pereira Lobo, classificado como o maior<br />
traficante da Península Ibérica, condenado à revelia a 25 anos de prisão,<br />
mas que, após um recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, acabou por<br />
ser novamente colocado em liberdade devido à incompetência (?) de um<br />
Juiz que se esqueceu de validar a sentença (GR, 26/Jun/<strong>2004</strong>: 22-29).<br />
Franquelim Pereira Lobo acabou por ser novamente detido e colocado em<br />
prisão preventiva, em Março de <strong>2009</strong>, conjuntamente com o filho, pelo tráfico<br />
de estupefacientes.<br />
Nos Açores, é na década de 90 que o fenómeno da toxicodependência<br />
ganha visibilidade; no Continente, “no final dos anos 70, a<br />
heroína saiu de círculos restritos, sendo divulgada como ‘nova droga’<br />
2 Em 1999, foram detidos 3.121 traficantes e, em 2003, baixaram para 2.357.<br />
3 Relatório semestral da actividade desenvolvida a nível nacional pelas diferentes Polícias,<br />
divulgado através da agência Lusa a 14 de Setembro de <strong>2004</strong>.<br />
48
Dependências e outras violências…<br />
de consumo, a qual se generalizou nos anos 80, ‘quase como uma epidemia’”<br />
(CIDM, 1995: 39). Até então era a dependência alcoólica que<br />
predominava, porém a heroinodependência foi ganhando visibilidade.<br />
Embora sempre menos frequente que a dependência alcoólica, a dependência<br />
da heroína foi-se assumindo como uma “ patologia principalmente<br />
masculina, numa proporção de quatro homens para uma<br />
mulher” (Idem: 39).<br />
Até ao ano de <strong>2004</strong>, nos Açores, foram apreendidos, praticamente,<br />
todos os tipos de substâncias ilícitas, sendo mesmo de destacar o combate<br />
que as Polícias levaram a cabo sobretudo por via repressiva, materializada<br />
nas apreensões, se tomarmos como demonstrativos os anos de<br />
2003 e <strong>2004</strong>. Assim, de ecstasy, em 2003, foram apreendidas 10 unidades<br />
para, em <strong>2004</strong>, terem sido 1 284 os comprimidos apreendidos desta<br />
substância. Também as apreensões de haxixe, em <strong>2004</strong>, atingiram um<br />
crescimento considerável ao serem apreendidas 40 566 doses ao passo<br />
que, em 2003, tinha-se ficado pelas 16 663 doses. Portanto, um aumento<br />
de 243%. Já no tocante à cocaína e heroína, tinha-se registado um<br />
decréscimo das apreensões. De cocaína foram apreendidas, em <strong>2004</strong>, 2<br />
605 doses contra 4 673 826 doses, apreendidas em 2003. No tocante à<br />
heroína, foram, em <strong>2004</strong>, apreendidas 24 523 doses contra 32 532 doses,<br />
apreendidas em 2003 (Fonte: CRA-PSP).<br />
Em síntese, em <strong>2004</strong>, apreenderam-se em média 47,7 gramas por mês<br />
de heroína, ao passo que, em 2005, apreenderam-se 107,6 gramas. Em termos<br />
de cocaína, de 13,4 gramas por mês, em <strong>2004</strong>, passou-se para 25,0<br />
gramas por mês. <strong>Outras</strong> substâncias estupefacientes, em <strong>2004</strong>, foram apreendidas<br />
à média de 0,5 gramas por mês, tendo-se passado para 7,93 gramas<br />
por mês (Fonte: CRA-PSP).<br />
O ano de 2006 foi de crescimento nas apreensões em geral, mas foi<br />
em 2007 que a PSP, nos Açores, bateu o recorde, ao nível da heroína, ao<br />
apreender 3 076,65 gramas. Ao nível da cocaína, com apenas 190,96 gramas,<br />
registou-se um significativo decréscimo, tal como no montante<br />
monetário, conectado com o tráfico de droga.<br />
49
Alberto Peixoto<br />
Total Apreensões Total Apreensões Total Apreensões Total Apreensões Total Apreensões<br />
SUBSTÂNCIA Açores/ 2005 Açores/ 2006 Açores/ 2007 Açores/ 2008 Açores/ <strong>2009</strong><br />
(Gramas) (Gramas) (Gramas) (Gramas) (Gramas)<br />
Cocaína 267,99 12 252,65 190,96 8,86 248,47<br />
Ecstasy (unidades) 22 56 62 145 7<br />
Haxixe 434,54 2 666,35 3 068,99 4 538,6 60 493,63<br />
Heroína 2 219,70 2 762,14 3 076,65 110,87 2 145,40<br />
Liamba 6 474,64 47 586,20 69 305,39 130 175,0 243 700,67<br />
Out. Drogas Sint. 9,58 2,0 0,77 11 478,0 164,67<br />
Out. substâncias 79,25 2 551,62 15,59 6,66 0,0<br />
Dinheiro 10 404,10€ 68 914,47€ 59 097,00€ 25 674,00€ 40 913,51€<br />
Quadro n.º 6 Apreensões de droga, efectuadas pela PSP, nos Açores, entre 2005 e <strong>2009</strong>. (Fonte:<br />
CRA-PSP)<br />
Em 2008, registou-se uma grande quebra nas apreensões de heroína,<br />
baixando para 110,87 gramas, tendo também baixado as apreensões de<br />
cocaína para 8,86 gramas, bem como as outras substâncias ilícitas, que<br />
baixaram para 6,66 gramas. Todavia as apreensões de liamba quase duplicaram<br />
atingindo os 130 175,0 gramas. Também aumentaram as apreensões<br />
de haxixe, para 4 538,6 gramas, de ecstasy, para 142 unidades, e de outras<br />
substâncias ilícitas sintéticas, para 11 478,0 gramas.<br />
O ano de <strong>2009</strong> ficou marcado por uma significativa recuperação das<br />
apreensões de droga na região. As apreensões de heroína atingiram os<br />
valores de 2005 e 2006. A cocaína também se aproximou do valor de 2005.<br />
As apreensões de liamba cresceram 37 vezes em relação às quantidades<br />
apreendidas em 2005. No entanto, em <strong>2009</strong>, foi ao nível das apreensões de<br />
haxixe que se registou o maior crescimento, sendo as quantidades 139<br />
vezes superiores às de 2005.<br />
O Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência analisou os<br />
preços das substâncias ilícitas nos últimos anos e concluiu que os preços<br />
estão a diminuir sendo Portugal o país onde se praticam os preços mais<br />
baixos. Tal cenário pode estar relacionado com os fluxos e respectivas<br />
rotas de abastecimento da Europa (DN, 24/Nov/2006: 17). A ser assim, as<br />
variações nas apreensões registadas nos Açores espelham sobretudo as<br />
quantidades de droga a circular no mercado. Nesta óptica, os dados de<br />
50
Dependências e outras violências…<br />
<strong>2009</strong> apontam para o aumento da oferta colocando o mercado açoriano ao<br />
nível de 2005 e 2006.4<br />
Cocaína Ecstasy Haxixe Heroína LSD<br />
PAÍSES (1 grama ou 10 (unidade) (1 grama ou 5 ( 1 grama ou 12 (unidade)<br />
doses doses doses<br />
individuais) individuais) individuais)<br />
Alemanha 58,9 6,7 6,1 42,6 10,2<br />
Espanha 61,7 10,0 4,4 64,2 10,3<br />
França 60,0 8,0 3,3 35,0 11,0<br />
Inglaterra 64,0 5,2 4,0 36,9 5,8<br />
Portugal 42,2 4,5 2,3 46,5 2,5<br />
Quadro n.º 7 Preços do custo de droga ao consumidor em euros. (Fonte: Observatório Europeu da<br />
Droga e Toxicodependência – <strong>2004</strong>)<br />
Em Portugal, o baixo preço da cocaína, e segundo Rui Pedro do IDT,<br />
parece estar associado ao boom registado no consumo da cocaína em detrimento<br />
da heroína, em actividades de diversão nocturna em particular nas<br />
after hours privadas, onde já há entregas ao domicílio (DN, 05/Mai/2008:<br />
12). Nas averiguações efectuadas a nível regional não foi detectado qualquer<br />
registo policial nem há conhecimento informal de ter ocorrido qualquer<br />
situação idêntica.<br />
SUBSTÂNCIA Gramas Doses Individuais Preço por Dose<br />
Cocaína 1 Grama 10 doses 15€/dose - 40€/Grama<br />
(Açores 80/100€/Grama)<br />
Ecstasy unidade 1 dose 5?<br />
Haxixe 1 Grama 5 doses 5€/dose - 1250€/Sabonete<br />
(200/250Gramas)<br />
Heroína 1 Grama 12 doses 15€/dose - 35€/Grama<br />
(Açores 40/50€/Grama)<br />
Liamba 25 Gramas 10 doses 5€/5Gramas<br />
Quadro n.º 8 Número de doses individuais de droga, por grama e preços do custo ao consumidor, em<br />
euros. (Fonte: Observatório Europeu da Droga e Toxicodependência – <strong>2004</strong> e informação de rua em<br />
Ponta Delgada, em <strong>2009</strong>)<br />
4 Por exemplo, nos Estados Unidos, fruto da luta contra o tráfico de droga na Colômbia e no<br />
México, em 2007, o preço da cocaína cresceu 44% (DA, 10/Nov/2007:14).<br />
51
Alberto Peixoto<br />
Total Apreensões Total Apreensões Total Apreensões Total Apreensões Total Apreensões<br />
SUBSTÂNCIA Nacionais/ 2005 Nacionais/ 2006 Nacionais/ 2007 Nacionais/ 2008 Nacionais/ <strong>2009</strong><br />
(Gramas) (Gramas) (Gramas) (Gramas) (Gramas)<br />
Cocaína 18 083 296,20 34 477 479,99 4 877 410,61 4 838 379,61 2 697 053,17<br />
Ecstasy (unidades) 213 807 133 292 70 476 73 638 8 987<br />
Haxixe 28 263 541,30 8 458 435,50 61 237 097,79 61 287 324,78 22 961 771,62<br />
Heroína 182 289,10 144 295,28 67 706,99 68 349,71 128 041,33<br />
Quadro n.º 9 Quantidade de droga apreendida, em Portugal. (Fonte: RASI 2005-<strong>2009</strong>)<br />
Se efectuarmos uma comparação entre as quantidades de estupefacientes<br />
apreendidas pelas Polícias, em Portugal, verificamos que de 1995 a 1999, em<br />
comparação com o período de 2000, ao primeiro semestre de <strong>2004</strong>,<br />
verificámos terem aumentado 499%. Contudo, se tivermos em referência as<br />
quantidades apreendidas no quinquénio 95/99 e as quantidades apreendidas<br />
tanto em 2007 como em 2008, torna-se ainda mais claro o crescimento, apesar<br />
de uma forte quebra em <strong>2009</strong>, com excepção para a heroína. No caso da<br />
cocaína (excepto em 2008 e <strong>2009</strong>), do haxixe e do ecstasy, num único ano,<br />
conseguiu-se apreender quantidades superiores ao somatório das quantidades<br />
apreendidas entre 95/99.<br />
SUBSTÂNCIA 1995-1999 2007 2008 <strong>2009</strong><br />
Cocaína (gramas) 7 556 484,647 4 877 410,61 4 838 379,61 2 697 053,17<br />
Ecstasy (unidades) 37 030 70 476 73 638 8 987<br />
Haxixe (gramas) 38 463 598,615 61 237 097,79 61 287 324,78 22 961 771,62<br />
Heroína (gramas) 347 436,769 67 706,99 68 349,71 128 041,33<br />
Quadro n.º 10 Quantidades de estupefacientes apreendidos em Portugal de 1995 a 1999 em comparação<br />
com as quantidades apreendidas em 2007, 2008 e <strong>2009</strong>, incluindo Açores e Madeira. (Fonte:<br />
Polícia Judiciária e RASI 2007-<strong>2009</strong>)<br />
Nos anos de 2008 e <strong>2009</strong>, em relação a anos anteriores, registaram-se<br />
quebras nas apreensões de cocaína bastante acentuadas, tanto nos Açores,<br />
como no Continente e até em Espanha, situação que, conforme consta do<br />
relatório de <strong>2009</strong> da Autoridade Internacional de Controlo de<br />
Estupefacientes, se terá ficado a dever ao estabelecimento de novas rotas<br />
na entrada dessa droga na Europa (DA, 25/Fev/2010: 11).<br />
52
Dependências e outras violências…<br />
SUBSTÂNCIA Valor Droga Apreendida Valor estimado da droga<br />
em Portugal/ <strong>2009</strong> não apreendida em<br />
Portugal/<strong>2009</strong><br />
Cocaína 107 882 126,00 2 049 760 397, 00<br />
Ecstasy 44 935,00 853 765,00<br />
Haxixe 640 205,00 12 163 895,00<br />
Heroína 4 481 446,00 85 147 474,00<br />
TOTAL 113 048 712,00 2 147 925 531,00<br />
Quadro n.º 11 Valor em euros da droga apreendida, em Portugal, e valor<br />
estimado da substância estupefaciente não apreendida. (Fonte: Valor estimado<br />
pelo autor segundo estimativas da INTERPOL)<br />
No tocante aos valores, em euros, das diferentes drogas apreendidas, por<br />
exemplo, só em <strong>2009</strong>, a heroína valia 4 481 446,55 euros, a cocaína 107 882<br />
126,80 euros, o haxixe 640 205,00 euros e o ecstasy 44 935,00 euros.<br />
Segundo M. Kendall, então Secretário-Geral da Interpol<br />
(Moncomble, 1997: 9), estima-se que apenas 5% do total da produção<br />
mundial de estupefacientes seja apreendida pelas autoridades. Se dermos<br />
como certa tal estimativa, então o valor das substâncias apreendidas em<br />
Portugal, em <strong>2009</strong>, pelas autoridades, estimado em 113 048 712,00 euros,<br />
corresponderá apenas a 5% do valor total daquilo que entrou no mercado,<br />
que será na ordem dos 2 147 925 531,00 euros.5<br />
Segundo um estudo encomendado pela Comissão Europeia e apresentado<br />
na Conferência Internacional da ONU contra a Droga, Portugal serve de<br />
plataforma giratória ao tráfico de cocaína, vinda de países da África<br />
Ocidental e do haxixe proveniente de Marrocos com destino a países europeus<br />
(DN, 12/Mar/<strong>2009</strong>: 25). Os Açores, apesar da sua localização geográfica,<br />
continuam a não fazer parte da rotas internacionais do tráfico de drogas.<br />
Valadares Teixeira, responsável pela avaliação Estratégica Nacional de<br />
Luta Contra a Droga, a 15/Dez/<strong>2004</strong>, efectuou o balanço do combate à droga,<br />
5 As investigações de Fritz Sörgel e Verena Jakob, já citadas, com base na análise de esgotos,<br />
têm apontado também para o facto de apenas 5% do total da cocaína que dá entrada<br />
na Alemanha ser apreendida pelas autoridades policiais. Estimaram que por ano os alemães<br />
consomem cerca de 20 toneladas de cocaína, quando as autoridades em média têm<br />
apreendido apenas cerca de uma tonelada (CINT, 20/Jun/2007: 38).<br />
53
Alberto Peixoto<br />
em Portugal, de 1999 a 2003; apesar de duras críticas de descoordenação e<br />
excesso de burocracia, aumento do número de mortes, devido ao consumo de<br />
drogas não opiáceas, aumento de consumidores e diminuição do número de<br />
traficantes detidos, não deixou de considerar o balanço positivo.<br />
Em matéria de droga, em Portugal, o balanço mais negativo que poderá<br />
ser feito prende-se com o fracasso do Plano de Acção Nacional de Luta<br />
Contra a Droga e a Toxicodependência – Horizonte <strong>2004</strong>, que tinha definido,<br />
como objectivo, a redução em 25% da prática de criminalidade associada<br />
às drogas.<br />
O quadro jurídico em vigor não define qual a criminalidade associada<br />
à droga, tendo-se Cândido da Agra esforçado por demonstrar que “nem<br />
todas as drogas estão associadas ao crime, nem todos os crimes associados<br />
às drogas. Não existe uma associação geral, como vulgarmente se crê. As<br />
matérias que entram na composição do mundo droga-crime são: do lado<br />
das substâncias, fundamentalmente a heroína e a cocaína. As drogas leves<br />
não entram nesta composição, são substâncias psicoactivas, praticamente<br />
desproblematizadas; do lado do crime, são fundamentalmente o roubo, o<br />
furto, a receptação e o tráfico. A violência e o crime contra pessoas não<br />
entra, por regra, na composição droga crime” (Agra, 2002: 112).<br />
Como também Costa & Leal (<strong>2004</strong>: 21) precisam, as ligações entre<br />
droga e crime são ao nível da criminalidade praticada contra o património,<br />
predominantemente ao nível da propriedade, residindo aqui o motivo do<br />
fracasso do Plano de Acção Nacional de Luta Contra a Droga e a<br />
Toxicodependência – Horizonte <strong>2004</strong>, por em vez de esta criminalidade ter<br />
descido 25%, como definiram, de 2000 a 2003, em comparação com o<br />
período de 1996 a 1999, ter mesmo aumentado 7,3%. De um total de<br />
737.770 crimes, associados às drogas, praticados de 1996 a 1999, passou-<br />
-se, em 2000 a 2003, para 791 477, ou seja, mais 53 707 crimes quando se<br />
pretendia reduzir em 185 000 crimes.<br />
O relatório da Eurojust, de 2007, ressalvou o facto de ter diminuído<br />
na Europa a actividade terrorista, mas em contraponto estar a aumentar o<br />
tráfico de droga e a corrupção (CA, 12/Mar/2008: 21). Entre 1998 e 2007,<br />
o acesso às drogas, na Europa, tornou-se mais fácil e em geral as drogas<br />
tornaram-se mais baratas (DN, 12/Mar/<strong>2009</strong>: 25).<br />
Tem sido constatável algum amadorismo na definição de objectivos bem<br />
como descoordenação na sua consecução. Cremos ser nas campanhas de sen-<br />
54
Dependências e outras violências…<br />
sibilização onde são mais notórias as barreiras existentes na passagem da mensagem<br />
apesar de quando em vez surgirem campanhas, cujo impacto consegue<br />
cativar a atenção dos media e de alguns públicos, como foi o caso da campanha<br />
contra o consumo excessivo de álcool, «100 por cento cool», a qual decorreu<br />
entre 19 de Novembro e 11 de Dezembro de <strong>2004</strong>, em Coimbra, Porto e<br />
Lisboa, permitindo o contacto com 14 318 jovens dos quais 2 171 se submeteram<br />
ao teste de alcoolemia, efectuado por elementos da PSP. Entre os testados,<br />
40% apresentavam taxas acima dos 0,5 gramas de álcool por litro de sangue e<br />
8% não tinham consumido qualquer quantidade de álcool, motivo pelo qual<br />
foram contemplados com um prémio de valor acrescido pela simbologia.<br />
O consumo de álcool e de substâncias ilícitas provoca também sérios<br />
prejuízos às empresas, sendo de prever que num futuro próximo possam<br />
tomar medidas para evitar tais situações. Existem já empresas de camionagem,<br />
ferroviárias, nucleares ou químicas que submetem os seus trabalhadores<br />
à verificação de consumo de drogas ou álcool. Em <strong>2004</strong>, foi a vez<br />
da British Airways, tendo sido a primeira da aviação europeia, por autorecriação,<br />
a avançar para a realização de testes aos seus trabalhadores, de<br />
forma arbitrária e obrigatoriamente, em caso de acidente, no sentido de<br />
despistar o consumo de drogas ou álcool. É de referir que, neste caso, contou<br />
com o apoio dos sindicatos britânicos.<br />
A Câmara Municipal de Lisboa, com base no regulamento aprovado<br />
em Maio de <strong>2004</strong>, envolto em alguma polémica, sem se compreender bem<br />
porquê, durante os meses de Junho, Julho e Agosto de <strong>2004</strong>, procedeu a<br />
testes de despistagem de consumo excessivo de álcool junto de trabalhadores<br />
voluntários. Tendo submetido 514 funcionários, constatou-se que<br />
mais de 20% da amostra estava sob influência de álcool, metade dos quais<br />
nem podia conduzir um veículo, demonstrando que o consumo de álcool<br />
excessivo é efectivamente uma prática socialmente tolerada, mas começam<br />
a ser dados alguns passos no sentido da inversão das posturas.<br />
Em Março de 2010, foi a vez da Câmara Municipal de Lagoa ter<br />
anunciado a intenção de arrancar com a realização de testes de despistagem<br />
do consumo de álcool entre os funcionários municipais.<br />
Independentemente dos formatos, as acções de sensibilização, realizadas<br />
junto de populações de risco, constituem uma das formas possíveis de<br />
intervenção no sentido do combate às dependências. Dado que, por exemplo,<br />
as populações estudantis são tradicionalmente consideradas de risco,<br />
55
Alberto Peixoto<br />
justificam-se as acções de informação e prevenção. No entanto, na região,<br />
tal como acontece em todo o território nacional, não tem havido uma intervenção<br />
estratégica e concertada, revestindo-se as intervenções de carácter<br />
ocasional sem qualquer coordenação centralizada. Entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>, não<br />
houve qualquer melhoria a este nível.<br />
Tomando como referência o programa Escola Segura, que em todo o território<br />
nacional conta com mais de 300 elementos policiais adstritos, não<br />
existe um planeamento das acções de sensibilização, nem existem estudos<br />
para identificação de diferentes problemáticas a fim de condicionarem as<br />
intervenções a efectuar em cada meio escolar específico. As acções são<br />
desenvolvidas um pouco a gosto dos agentes e a pedido de cada uma das<br />
escolas, embora sejam o tipo de acções de prevenção mais concretizadas a<br />
nível europeu (A Evolução do Fenómeno da Droga na Europa, 2008: 23).<br />
O programa Escola Segura, assente numa filosofia de proximidade,<br />
com uma melhor coordenação e adequada preparação das acções e dos elementos,<br />
deverá ser rentabilizado um pouco à imagem do que já acontece<br />
em Inglaterra, por acção da Scotland Yard, que, em <strong>2004</strong>, lançou uma campanha<br />
coordenada em toda a cidade de Londres, com fotografias chocantes,<br />
acompanhadas da sua história, entre as quais a de Roseanne, que tinha<br />
29 anos na primeira fotografia e 37 anos na última, a qual já faleceu.<br />
Imagem n.º 1 Fotografias de Roseanne, pertencentes aos ficheiros da Scotland Yard de Londres.<br />
As fotografias, retratando os efeitos nocivos da droga, foram mostradas<br />
em Londres, pelos agentes, em escolas previamente seleccionadas,<br />
mas também através de cartazes em locais públicos, como estações de<br />
transportes públicos e bares, passando a mensagem «não deixe que os traficantes<br />
mudem a cara do seu bairro». Foi ao mesmo tempo feito um<br />
apelo público para que toda a população colaborasse no combate às drogas,<br />
incentivando esta a denunciar suspeitos de tráfico.<br />
56
Imagem n.º 2 The Downward Spiral- www.rotten.com.<br />
Dependências e outras violências…<br />
Nós próprios, ao sermos convidados para, na ilha de São Miguel, proferir<br />
algumas comunicações nas escolas sobre a problemática das dependências,<br />
de Fevereiro de 2003 a Novembro de <strong>2004</strong>, nomeadamente, na<br />
Escola Profissional de Capelas, Escola 2+3 de Arrifes, Escola 2+3 da<br />
Maia, Escola Secundária Domingos Rebelo e Escola Secundária das<br />
Laranjeiras, para abordar o fenómeno de uma forma persuasiva, utilizámos<br />
a imagem n.º 3 que recolhemos na Internet, pertencente a uma jovem que<br />
faleceu em 1997, com 28 anos de idade, depois de várias detenções, que<br />
começaram em 1983, aos 14 anos, pela prática de crimes relacionados com<br />
o consumo de heroína.<br />
A utilização de imagens chocantes tem sido uma das estratégias de sensibilização<br />
a nível europeu. Por exemplo, a Comissão Europeia chegou<br />
mesmo a seleccionar um conjunto de 28 imagens sobre consequências de<br />
fumar para colocar a cobrir metade dos maços de tabaco (DN, 08/Abr/2006:<br />
19), tendo sido a Bélgica o primeiro país da Europa a obrigar à introdução de<br />
imagens chocantes nos maços de tabaco (DA, 08/Dez/2006: 11).<br />
Já em <strong>2004</strong>, David Byrne6, partindo do princípio de que as pessoas<br />
precisam de um choque que as acorde da complacência para com o tabaco,<br />
tinha apresentado 42 fotografias que os Estados-Membros teriam de<br />
colocar nos maços dos cigarros, sendo esta mais uma medida em que a<br />
União Europeia apostava para fazer reduzir o consumo. Foi ainda referido<br />
6 Comissário Europeu para a Saúde, em conferência de imprensa a 23/Out/<strong>2004</strong>, em Bruxelas.<br />
57
Alberto Peixoto<br />
que o Canadá utilizava esta estratégia desde 2000, existindo já estudos que<br />
confirmam o resultado de um ligeiro decréscimo do consumo.<br />
Imagem n.º 3 Imagens utilizadas em maços de tabaco para combater o consumo.<br />
(Fonte: DN, 04/Mai/2008: 70)<br />
A Inglaterra não se tem coibido também de seguir a estratégia e de<br />
tempos a tempos são realizadas algumas campanhas de prevenção bastante<br />
chocantes, como forma de não deixar ninguém indiferente,<br />
reproduzindo-se aqui algumas das suas imagens.<br />
Imagem n.º 4 Imagens utilizadas em campanhas de consciencialização inglesas. (Fonte: DN,<br />
04/Mai/2008: 70)<br />
58
Dependências e outras violências…<br />
Imagem n.º 5 Imagens utilizadas em campanha de consciencialização<br />
inglesa contra o tabaco. (Fonte: DN, 04/Mai/2008: 70)<br />
Em Janeiro de 2007, arrancou uma campanha anti-tabagista, a nível<br />
Europeu, em 80 canais de televisão, direccionada para os malefícios do<br />
fumo passivo. Também considerada chocante, podia ver-se uma adolescente<br />
com dificuldades respiratórias e, ao chegar a casa, depara com os<br />
pais a fumar na sala.<br />
Um projecto, que tem conferido alguma visibilidade ao esforço de abandono<br />
da dependência da droga, é suíço e consiste em colocar grupos de<br />
jovens a bordo de uma escuna de dois mastros, baptizada de Ruach, numa<br />
viagem com a duração de um ano e meio e que visa o tratamento e a ressocialização<br />
dos jovens visados. Em Agosto de 2006, a embarcação fez escala<br />
em Ponta Delgada, numa dessas viagens, com direito a cobertura através de<br />
várias reportagens nos órgãos de comunicação social (CA, 1/Ago/2006: 9).<br />
As novas tecnologias, além de servirem para a comercialização de drogas,<br />
estão, também, a constituir-se como uma útil ferramenta ao nível do tratamento.<br />
É demonstrativo dessa realidade um projecto, iniciado em 2006, na<br />
Alemanha, Bélgica e Holanda, designado “Quit the Shit Programm” e que<br />
tem contado com uma média de 500 a 600 pessoas por ano.<br />
59
Alberto Peixoto<br />
Com as garantias de anonimato e privacidade, a difusão de pequenas<br />
mensagens através da internet pode ser a primeira forma de aproximação<br />
dos consumidores de cannabis a uma terapia. Após o primeiro contacto com<br />
o consumidor, no caso de aceitação, segue-se uma consulta on-line de uma<br />
hora com um especialista no sentido de avaliar a situação e o contexto do<br />
consumidor, nomeadamente, regularidade de consumo, grau de dependência,<br />
número de tentativas de abandono da dependência. Após a consulta, o<br />
dependente passa a ter acesso a um diário digital, para, durante 50 dias, relatar<br />
as suas experiências e outras preocupações que levaram a uma autoreflexão.<br />
Semanalmente, o especialista interage com o dependente e motiva-o<br />
a prosseguir com o programa até ao fim (DA, 08/Mai/<strong>2009</strong>: 24).<br />
Outra estratégia apresentada, em Inglaterra (DN., 06/Jan/05: 31), já<br />
em 2005, foi divulgada pelo director, Peter Walker, da Abbey School, do<br />
sul de Londres, mais precisamente de Kent, consistindo em seleccionar<br />
todas as semanas, aleatoriamente, por computador, grupos de 20 alunos,<br />
com idades compreendidas entre os 11 e os 19 anos de idade, com o objectivo<br />
de recolherem amostras para despistagem de consumo de substâncias.<br />
Os alunos cujos resultados fossem positivos poderiam ser alvo de um<br />
acompanhamento especial, tendo sido esclarecido que qualquer aluno<br />
poderia recusar submeter-se ao teste sem ser alvo de qualquer sanção.<br />
Refira-se que a estratégia foi aprovada por 85% dos pais dos alunos.<br />
Na linha da iniciativa da Abbey School, o Conselho Municipal do VI<br />
Bairro de Milão decidiu, em 2007, distribuir cupões às famílias para que<br />
pudessem levantar gratuitamente kits familiares de detecção de droga através<br />
da urina, nas farmácias, avaliados em 25 euros cada. O objectivo foi colocar<br />
o teste ao alcance de qualquer pessoa, transformando as famílias no centro<br />
de diálogo e prevenção do consumo de drogas (CINT, 01/Jun/2007: 47).<br />
As campanhas de prevenção têm sido, nos Açores, recorrentemente questionadas<br />
e, tendo a edição de <strong>2004</strong> do Guia para a Prevenção da Droga, enviada<br />
para todos os lares açorianos, sido a maior acção de sensibilização, desenvolvida<br />
na região, ficaram sérias reservas quanto à sua eficácia ou impacto,<br />
por ser um tipo de informação que chega às caixas do correio, mas por norma<br />
não é lida, além de claudicar no facto de ser uma informação homogénea para<br />
públicos com características diferentes e que é desaconselhável.<br />
Em Março de 2006, no âmbito do Plano Regional de Prevenção do<br />
Mau Uso e Abuso de Substâncias Psicoactivas/Droga, foi realizada uma<br />
60
Dependências e outras violências…<br />
campanha que visava os alunos do ensino secundário, sendo-lhes pedido<br />
que criassem slogans contra o consumo de substâncias a troco de prémios,<br />
tendo sido vencedor o slogan “Vicia-te na Vida” (DA, 18/Mar/2006: 4).<br />
Sendo a acção meritória pelo número de jovens que se envolveram no concurso<br />
e pelos baixos custos, foi pouco rentabilizada em termos de consciencialização<br />
social por não se ter dado mais visibilidade pública e por não<br />
se ter dado continuidade no tempo.<br />
As intervenções nas escolas, no âmbito das aulas de Desenvolvimento<br />
Pessoal e Social ou de Formação Cívica, são uma possibilidade por permitir<br />
direccionar a intervenção junto de uma população em que o risco de<br />
experiências com drogas é maior, mas mesmo esta opção tem de ser precedida<br />
de estudos prévios para classificação das escolas por níveis que<br />
permitam a adequação da sensibilização, que tem de ser diferenciada.<br />
As acusações do Governo Regional dos Açores ao Instituto da Droga<br />
e Toxicodependência (CA, 20/Mar/04: 5) por este não ter investido um<br />
cêntimo em prevenção na região, apesar do acordo assinado em Fevereiro<br />
de 2002, foi uma constatação, em <strong>2004</strong>, que apenas serviu para demonstrar<br />
como cooperam as instituições na resolução de um problema que a<br />
própria sociedade considera ser o mais grave existente na actualidade<br />
(Peixoto, <strong>2004</strong>: 80).<br />
O tratamento dos dependentes, outra das formas de combate do consumo<br />
de drogas ilícitas, tem dado origem a várias abordagens ao fenómeno,<br />
surgindo o discurso da redução de riscos como uma das estratégias não para<br />
o combater, mas para minimizar as suas consequências. Trata-se da aplicação<br />
de uma filosofia da razão prática resultante da sabedoria popular «se<br />
não consegues vencer os teus inimigos junta-te a eles!». Enquadra-se nesta<br />
filosofia o programa de substituição com metadona português, que, em<br />
2003, contava já com a adesão de 16 877 toxicodependentes, quando em<br />
1999 contava apenas com 6 040. Idêntico crescimento se verificou na<br />
Europa dos quinze, que, em 1999, contava com 320 000 aderentes, para, em<br />
2003, contar com 410 000 toxicodependentes (RAENLCD, <strong>2004</strong>).<br />
A administração de metadona ao dependente de opiáceos é um programa<br />
de redução de riscos não só para os dependentes mas também para<br />
a própria sociedade. Estima-se que cada euro investido no programa referido<br />
permite poupar dez euros em despesas ao nível da saúde e ao nível da<br />
justiça. Reduz o risco da propagação de doenças infecto-contagiosas,<br />
61
Alberto Peixoto<br />
ajuda a reinserir os dependentes e reduz a sua propensão para a prática da<br />
criminalidade relacionada com as drogas.<br />
A administração de metadona tem sido uma das apostas do Governo<br />
Regional dos Açores, tendo, em <strong>2009</strong>, sido disponibilizados 570 000 euros<br />
(mais 35% que em 2008), aumentando o âmbito do programa através de<br />
uma descentralização de pontos de apoio e acompanhamento, procurando-<br />
-se atingir a meta de 350 utentes (AO, 29/Abr/<strong>2009</strong>: 8).<br />
Em 2008, nos Açores, usufruíam do programa de metadona 240<br />
utentes. Traduzindo já um aumento significativo, em Setembro de <strong>2009</strong>, só<br />
na Casa de Saúde de São Miguel estavam em tratamento, com metadona,<br />
264 utentes (237 homens e 27 mulheres) dos quais 175 residiam em Ponta<br />
Delgada, 36, na Ribeira Grande, 18, na Lagoa, 12, em Vila Franca do<br />
Campo, 2, na Povoação e 23 estavam presos no Estabelecimento Prisional<br />
de Ponta Delgada (DA, 13/Set/<strong>2009</strong>: 3).<br />
Em Dezembro de <strong>2009</strong>, foi, então, anunciado pelo Secretário Regional<br />
da Saúde, Miguel Correia, mais um passo que consistia na disponibilização<br />
de um posto móvel, instalado numa carrinha, que circularia entre Ponta<br />
Delgada, Ribeira Grande e Lagoa, com a finalidade de administrar metadona<br />
e ao mesmo tempo fazer prevenção através da redução de riscos.<br />
A 09 de Março de 2010, efectuado, em Ponta Delgada, um balanço<br />
referente a <strong>2009</strong> das actividades regionais ao nível da luta contra a toxicodependência,<br />
registou-se um incremento das actividades de cada uma das<br />
instituições. No âmbito da reabilitação de toxicodependentes, a<br />
Alternativa, em 2005, registou 71 intervenções, em 2006, 90, em 2007,<br />
101, em 2008, 146, e, em <strong>2009</strong>, foram 180, representando uma duplicação<br />
da sua actividade nos últimos quatro anos. Cenário idêntico se verificou na<br />
ARRISCA, ao apoiar 189 toxicodependentes, apenas em <strong>2009</strong>, duplicando<br />
o número obtido nos dois anos anteriores, que se tinha ficado pelos 116<br />
apoios. A Casa de Saúde de São Miguel, em <strong>2009</strong>, chegou aos 478 internamentos<br />
de dependentes e a Villa de Passos situada no concelho da<br />
Lagoa, fruto da procura, também em <strong>2009</strong>, mais do que duplicou o número<br />
de camas disponíveis para internamento de toxicodependentes chegando<br />
às 19 camas, quando até então dispunham de apenas 7.<br />
No ano de <strong>2009</strong>, houve a nível regional um aumento significativo da<br />
capacidade de resposta à procura de acompanhamento e tratamento de<br />
toxicodependentes, colmatando-se, assim, algumas lacunas, embora, por<br />
62
Dependências e outras violências…<br />
exemplo, a Casa de Saúde de São Miguel continue a assumir a existência<br />
de uma lista de espera, para desintoxicações, de três meses.<br />
As prevalências de consumo de drogas e os riscos de contágio, por<br />
exemplo, segundo dados fornecidos pelo Centro das Taipas, em Lisboa,<br />
dizem-nos que mais de 60% dos toxicodependentes são portadores do<br />
vírus da hepatite C. De uma amostra de 112 toxicodependentes testados,<br />
no primeiro trimestre de 2003, ao HIV, 8% obtiveram resultado positivo.<br />
Os dados do relatório de <strong>2004</strong> do Observatório Europeu das Drogas e<br />
Toxicodependência ditam um quadro bem mais problemático, referindo<br />
que entre 15 a 16% dos toxicodependentes estão infectados com HIV. Com<br />
hepatite C são contabilizados entre 45 a 62% dos toxicodependentes.<br />
Sendo público que, nos Açores, nos últimos 25 anos, se registaram<br />
200 casos declarados com Sida ou infectados com HIV e que anualmente<br />
se registam 25 a 30 novos casos (DA, 08/Dez/<strong>2009</strong>: 4), existem motivos<br />
de preocupação em relação às possibilidades de propagação de doenças<br />
infecto-contagiosas, justificando-se o esforço anunciado pelo Governo<br />
Regional. Além do referido posto móvel, que pode minimizar alguns riscos<br />
de contágio, foi também implementada a estratégia de realização de<br />
testes rápidos de despistagem da SIDA, gratuitos nos centros de saúde de<br />
Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta.<br />
As acções descritas, articuladas com acções de consciencialização contra<br />
comportamentos de risco, como os programas Tu Decides, apresentado<br />
em 2008, os protocolos assinados entre a Secretaria Regional da Saúde, a<br />
ARRISCA, a Alternativa e o Centro Villa dos Passos, no dia 23 de Junho de<br />
<strong>2009</strong>, ou o programa Expressa-te, apresentado em Setembro de <strong>2009</strong>, a par<br />
de iniciativas de distribuição de seringas ou de preservativos, foram as<br />
acções governamentais de maior visibilidade nos Açores dos últimos anos.<br />
Acresce destacar o aumento muito significativo das verbas destinadas à prevenção<br />
e tratamento de comportamentos de risco, nos últimos anos. De<br />
cerca de 500 mil euros gastos por ano, entre <strong>2004</strong> e 2008, em <strong>2009</strong> foram<br />
disponibilizados 1 482 000,00 euros e, em 2010, 1,5 milhões de euros.7<br />
No âmbito da luta contra a propagação de doenças transmissíveis por<br />
via do consumo de drogas injectadas, Portugal foi o país da Europa que<br />
mais se destacou pelo número de seringas trocadas. No entanto, a Lei<br />
7 Fonte: Direcção Regional da Prevenção e Combate às Dependências.<br />
63
Alberto Peixoto<br />
3/2007, que visava introduzir nas prisões um programa específico para<br />
toca de seringas, caracterizou-se por ser um profundo fracasso, apesar de<br />
se estimar que 60% dos reclusos têm hábitos de consumo de drogas. Numa<br />
primeira fase, os guardas prisionais recusaram-se a receber formação<br />
sobre o programa e após o seu arranque nas prisões não houve nenhum<br />
recluso que tivesse aderido ao mesmo.<br />
Se algumas estratégias seguidas não têm produzido os resultados desejáveis,<br />
os avanços científicos vão procurando novas soluções para o combate<br />
e alimentando novas esperanças. O cientista Marc Claron8, em 2003, conseguiu<br />
isolar a molécula cerebral em que a cocaína actua, molécula essa que<br />
é uma proteína e que pode dar origem ao aparecimento de vacina.<br />
Em 2007, Fernando Torrealba, investigador da Pontifícia Universidade<br />
Católica do Chile, através de experiências com ratos, descobriu que o córtex<br />
insular é uma região profunda do cérebro que filtra a informação sobre<br />
o estado e as necessidades do corpo. A neutralização de tal zona pode suprimir<br />
a necessidade de consumo da substância (DA, 31/Out/2007: 16).<br />
Em <strong>2009</strong>, foi publicado no Archives of General Psychiatry os resultados<br />
conseguidos pelos cientistas da Yale University e do Baylor College of<br />
Medicine, através da administração de uma vacina anti-cocaína. Com uma<br />
população alvo de 115 dependentes, 58 receberam a vacina e 57 receberam<br />
um placebo. Durante o ensaio clínico, que teve a duração de seis<br />
meses, constatou-se que 38% dos pacientes vacinados produziram um<br />
nível suficiente de anticorpos para bloquear os efeitos da droga, embora<br />
sem conseguirem manter os níveis de anticorpos além de dois meses obrigando<br />
à repetição da vacina (DA, 12/Out/<strong>2009</strong>: 20).<br />
Apesar de uma melhoria significativa nos resultados, tudo indica que<br />
continuamos a dar passos em direcção ao maior controlo possível das diferentes<br />
adições. As abordagens terapêuticas têm apresentado resultados<br />
mais significativos sobretudo ao nível do tabaco, com destaque para os<br />
resultados de uma equipa de investigadores dos Estados Unidos, Portugal<br />
e Brasil, que conseguiram identificar uma via utilizada pela nicotina na<br />
viagem entre a boca e o córtex insular, o que poderá permitir no futuro<br />
intervenções terapêuticas no sentido de interromper o percurso e anular a<br />
vontade de fumar (AE, 26/Jan/<strong>2009</strong>: 16).<br />
8 Apresentação feita na 11.ª edição do Porto – Meeting on Adrenergic Mechanisms, 2003.<br />
64
O TABACO<br />
Sendo o tabaco uma das maiores dependências no planeta, a<br />
Organização Mundial de Saúde (CA., 17/Nov/<strong>2004</strong>: 13) estima que em<br />
todo o mundo existam mil e duzentos milhões de fumadores dos quais<br />
duzentos milhões são mulheres, não hesitando em apontar o tabaco como<br />
a principal causa de morte evitável, atingindo 4,9 milhões de pessoas por<br />
ano (DA, 01/Mar/2005: 3).<br />
Segundo um relatório realizado pela World Lung Foundation e pela<br />
American Câncer Society, estima-se que em 2010, em todo o mundo, seis<br />
milhões de pessoas sejam vítimas mortais do consumo de tabaco, devido ao<br />
desenvolvimento de cancros, problemas cardiovasculares, enfisemas pulmonares,<br />
entre outras patologias. As despesas médicas e a perda de produtividade<br />
resultantes do consumo de tabaco são estimadas em 500 mil milhões de<br />
dólares, sendo um problema que afecta 35% dos homens no mundo desenvolvido,<br />
50% no mundo em desenvolvimento, 22% das mulheres no mundo<br />
desenvolvido e 9% no mundo em desenvolvimento (DA, 25/Set/<strong>2009</strong>: 21).<br />
Em Portugal, o tabaco é apontado como o grande responsável pelas<br />
doenças cardiovasculares, causando a morte a 40 000 pessoas anualmente,<br />
sendo de destacar o facto de 19% da população, com mais de 10 anos<br />
de idade, fumar mais de 20 cigarros por dia (DA., 02/Set/2003, 7). Nos<br />
Açores, estima-se que 80 a 90% dos internamentos no Hospital de Ponta<br />
Delgada, por questões respiratórias, devem-se a patologias directamente<br />
relacionadas com o tabagismo (DA, 17/Nov/<strong>2009</strong>: 5).<br />
Um estudo resultante de uma parceria entre o Centro de <strong>Estudo</strong>s<br />
Aplicados da Universidade Católica Portuguesa, o Centro de <strong>Estudo</strong>s de<br />
Medicina Baseada na Evidência e a Unidade de Nutrição e Metabolismo da<br />
Faculdade de Medicina de Lisboa demonstrou que o tabaco é três vezes mais<br />
65
Alberto Peixoto<br />
fatal que o consumo de álcool devendo por isso ser a prioridade do Sistema<br />
Nacional de Saúde. Os tratamentos de doenças relacionadas com o consumo<br />
de tabaco representam para o Serviço Nacional de Saúde um encargo de 490<br />
milhões de euros/ano enquanto os encargos com o consumo abusivo de álcool<br />
atingem os 189 milhões de euros/ano (DN, 19/Set/2008: 6-7).<br />
Não existem hoje grandes dúvidas quanto às consequências do acto de<br />
fumar resultando do mesmo a possibilidade do desenvolvimento de inúmeras<br />
doenças respiratórias, perda de sentidos, como é o caso da perda de gosto<br />
e do olfacto. Com novos estudos a sucederem-se, multiplica-se o conhecimento<br />
dos malefícios do tabaco, alertando um dos mais recentes estudos<br />
(BJC, 04/Jun/<strong>2004</strong>: 7), realizado por cientistas israelitas, dirigidos por Rafi<br />
Nagler, para o facto de o tabaco transformar as moléculas anti-oxidantes<br />
existentes na boca numa mescla corrosiva, fazendo com que as células bocais<br />
se tornem cancerígenas. A referida mescla torna-se mais devastadora para<br />
a saúde que o próprio fumo. Tratou-se de mais uma achega no âmbito dos<br />
problemas cancerígenos orais que têm como principais causas o tabaco e o<br />
álcool que a nível mundial provocam cerca de 400 000 novos casos/ano.<br />
O Psiquiatra João Barreto (CA, 20/Nov/<strong>2004</strong>: 28) considera que as<br />
dependências do álcool e tabaco estão ao mesmo nível dos comportamentos<br />
psicóticos, sendo de ressalvar o facto de o tabaco não provocar convulsões<br />
sociais.<br />
A Universidade de Oregon, através dos seus investigadores liderados<br />
por James F. Pankon, em 2003, lançaram a suspeita de que a indústria tabaqueira<br />
era responsável por um aumento da dependência dos fumadores por<br />
deliberadamente juntarem um tipo específico de nicotina, denominada base<br />
livre, que rapidamente entra na corrente sanguínea. Através de um estudo,<br />
que envolveu onze marcas americanas, verificaram que as quantidades da<br />
referida nicotina apresentam variações muito consideráveis apenas conseguidas<br />
através da manipulação de técnicas e métodos que poderão ser efectuadas<br />
para aumentar as vendas por via de um aumento da dependência.<br />
Em 2006, foram analisadas 100 marcas de tabaco nos Estados Unidos,<br />
pelos investigadores da Universidade de Harvard, tendo-se concluído que<br />
entre 1997 e 2006 a nicotina deliberadamente colocada nos cigarros para<br />
fazer aumentar a adição, aumentou 11% (DA, 19/Jan/2007: 12).<br />
Kren Law (MP, Jun/2003), liderando um equipa de investigadores,<br />
concluiu que fumar durante a gravidez provoca alterações comportamen-<br />
66
Dependências e outras violências…<br />
tais nos fetos idênticas às provocadas pelo consumo de crack, cocaína, ou<br />
heroína, ainda que a mulher grávida fume apenas seis a sete cigarros por<br />
dia. Os bebés de mães fumadoras tornam-se mais stressados, tornam-se<br />
mais agitados, mais irrequietos e mais difíceis de consolar do que os bebés<br />
de mães não fumadoras.<br />
Investigadores do Centers for Disease Control and Prevention, de<br />
Atlanta (EUA), através da análise de 915 441 nascimentos, concluíram que<br />
a cessação do hábito de fumar durante a gravidez reduz o risco de o bebé<br />
nascer prematuramente ou pequeno para a idade (DA, 28/Jul/<strong>2009</strong>: 21).<br />
O mais recente estudo da Cardiff University, no País de Gales, revelou<br />
que o consumo de tabaco durante a gravidez aumenta o risco de perturbações<br />
psicológicas nos bebés, tendo impacto sobre a impulsividade, a<br />
atenção e a aprendizagem (DA, 9/Out/<strong>2009</strong>: 21).<br />
Ao nível do consumo de drogas durante a gravidez, segundo o IDT, a<br />
nível nacional, registou-se uma consciencialização bastante positiva,<br />
materializada na redução de cerca de 50% no número de casos. Em 2003,<br />
tinham sido acompanhadas 309 grávidas e, em 2008, diminuíram para 120<br />
(DA, 06/Set/<strong>2009</strong>: 21).<br />
Apesar dos alertas dos técnicos para que as parturientes não fumem,<br />
doze em cada cem mulheres grávidas fumam, conhecendo os riscos, conforme<br />
estima Pais Clemente, presidente do Conselho Nacional do Não-fumador<br />
(DA., 17/Nov/<strong>2004</strong>, 10). Nem o sentimento de culpa com que se deparam<br />
parece ser suficiente para as demover da apetência pela nicotina. Um<br />
estudo realizado em Braga, pela Associação para a Prevenção e Tratamento<br />
do Tabagismo, com uma amostra de 1 000 alunos com idades entre os 11 e<br />
os 15 anos, conclui que os filhos dos pais que fumam têm três vezes mais<br />
probabilidades de serem fumadores do que os demais. Sabe-se hoje que uma<br />
criança filha de pais fumadores, de forma passiva, consome até dois cigarros<br />
por dia (DA, 21/Set/2008: 12), o que poderá reforçar o sentimento de<br />
culpa pelo determinismo imposto pelos pais fumadores.<br />
Investigadores do Imperial College de Londres, através de um estudo<br />
com 123 000 pessoas, durante sete anos, concluíram que as crianças<br />
expostas ao fumo do tabaco de familiares fumadores têm três vezes mais<br />
probabilidades de vir a contrair o cancro do pulmão em idade adulta do<br />
que as crianças oriundas de famílias não fumadoras (DA, 30/Jan/2005:<br />
11). Sabe-se também, segundo um estudo, com uma amostra de 926 bebés,<br />
67
Alberto Peixoto<br />
realizado pela Universidade de Creta e divulgado em Agosto de <strong>2009</strong>, que<br />
os bebés expostos ao fumo do tabaco têm mais infecções e consequentes<br />
hospitalizações (DA, 21/Ago/<strong>2009</strong>: 21).<br />
Ao falar-se nos filhos de pais dependentes de drogas, o cenário parece<br />
não ser muito diverso, o que leva Conceição Almeida Pública (PÚB,<br />
30/Nov/2003: 7- 27) a considerá-los em pé de igualdade, na sintomatologia<br />
psicológica, com as crianças sobreviventes das guerras ou de catástrofes<br />
naturais, demonstrando os condicionalismos a que ficam sujeitos.<br />
Foi anunciado por especialistas gregos, no Congresso da Sociedade<br />
Europeia de Cardiologia 2003, que um estudo com 1 900 pessoas não fumadoras,<br />
expostas ao fumo, ainda que durante poucas semanas, permitiu concluir<br />
que aumentava o risco de contrair uma doença coronária em 15%.<br />
Um estudo dirigido por Richard Doll (BM, Jul/<strong>2004</strong>), iniciado em<br />
1954, concluiu que a vida dos fumadores, pela acção do acto de fumar, é<br />
reduzida em dez anos em relação aos não fumadores, além de haver também<br />
uma redução da qualidade de vida. As pessoas que por volta dos 30<br />
anos deixam de fumar reduzem para metade o risco da morte prematura.<br />
O relatório da Organização Mundial de Saúde de 2001 alerta para o<br />
facto de entre cada 100 indivíduos esquizofrénicos 80 a 90 serem fumadores<br />
e com a característica de fumarem o dobro de um fumador médio, o<br />
que pode servir como um indicador do despiste da doença, que leva anualmente,<br />
no mundo, a um milhão de suicídios.<br />
Peter H. Whincup, com outros colegas (BM, Jun/<strong>2004</strong>) do St. George’s<br />
Hospital Medical School, de Londres, estudou quatro mil homens, britânicos,<br />
não-fumadores, com idades compreendidas entre os 40 e os 59 anos de idade,<br />
e concluíram que, por terem estado expostos ao fumo de outros, apresentavam<br />
um risco de sofrer de uma doença cardíaca idêntico aos fumadores de dez<br />
cigarros por dia. Assim, um não-fumador, ao fumar o fumo de outros, vê<br />
aumentada a probabilidade de contrair uma doença cardiovascular em 60%.<br />
Em <strong>2009</strong>, uma investigação do Harold C. Simmons Comprehensive<br />
Cancer Center no UT Southwester Medical Center, em Dallas, permitiu<br />
compreender a forma como 60 carcinogénios, associados ao fumo de tabaco,<br />
se ligam ao ADN e o modificam quimicamente, levando a mutações<br />
que potenciam o aparecimento de cancro (DA, 22/Dez/<strong>2009</strong>: 21).<br />
Investigadores do National Brain Research Center descobriram que<br />
existe uma ligação directa entre o tabagismo e a ocorrência de danos cere-<br />
68
Dependências e outras violências…<br />
brais, em virtude de existir no tabaco o composto NKK que induz os glóbulos<br />
brancos no sistema nervoso a atacar as células saudáveis provocando<br />
graves danos neurológicos (DA, 19/Jul/<strong>2009</strong>: 21).<br />
Um estudo, publicado na revista londrina Tabacco Control, refere que<br />
a exposição ao ambiente de fumo numa discoteca durante quatro horas corresponde<br />
ao convívio diário com um fumador durante um mês. Concluiu o<br />
mesmo estudo que nem a separação de salas de fumadores e não fumadores<br />
é suficiente para se conseguir atingir níveis zero de nicotina em tais<br />
espaços, sendo de ressalvar o facto de os fumadores, quando confrontados,<br />
tenderem a desvalorizar os malefícios do tabaco (CA, 27/Fev/2005: 37).<br />
No âmbito do projecto Familial Intracranial Aneurysm, um estudo da<br />
Universidade de Cincinnati permitiu constatar que os fumadores de um<br />
maço diário de tabaco durante 20 anos vêem aumentado o risco de ter um<br />
aneurisma e caso entre os fumadores exista uma variação genética tal risco<br />
aumenta mais de cinco vezes (DA, 05/Mar/2010: 21).<br />
<strong>Estudo</strong>s como estes parecem fundamentar decisões políticas como a<br />
que surgiu durante a realização do presente estudo de avaliação das dependências<br />
nos Açores. Veio a debate público a possibilidade de alargamento<br />
das proibições de se fumar em locais públicos como restaurantes, bares,<br />
discotecas, estabelecimentos de ensino e locais de trabalho fechados.<br />
A referida norma prevê a criação de áreas destinadas exclusivamente<br />
a fumadores. Tal aprovação pode mesmo representar uma redução de consumo<br />
de tabaco de 6% e de 1% do consumo de cerveja e uma quebra de<br />
15 milhões de euros nas receitas do Estado (DA, 11/Nov/<strong>2004</strong>, 3).<br />
Um estudo dirigido por Carla Lopes, da Faculdade de Medicina da<br />
Universidade do Porto, em <strong>2004</strong>, tendo por base uma amostra de 946 pessoas,<br />
concluiu que a proibição de fumar em bares e restaurantes não provoca<br />
qualquer redução na frequência desses espaços, tendo 6,4% dos fumadores<br />
afirmado que passariam a ir mais vezes, 65% afirmam não alterar o comportamento<br />
independentemente da proibição ou não e 12,3% afirmam passar a<br />
frequentar menos vezes. No entanto, entre os não fumadores, 36% afirmam<br />
passar a frequentar mais vezes com a proibição. Outro estudo realizado na<br />
Califórnia, após a proibição de fumar em bares e restaurantes, imposta no início<br />
de 1998, comparando os resultados do primeiro trimestre de 1997 com o<br />
primeiro trimestre de 1998, chega mesmo a concluir que se verificou um<br />
acréscimo de 6% no resultado das vendas em tais estabelecimentos.<br />
69
Alberto Peixoto<br />
A Noruega e a Irlanda são países europeus bastante restritivos,<br />
enquanto países como a Alemanha e a Grã-Bretanha não impõem qualquer<br />
restrição ao acto de fumar em espaços públicos. A França impôs a existência<br />
de zonas reservadas a fumadores desde 1992, embora exista um desrespeito<br />
público mais ou menos generalizado nesta matéria.<br />
Fruto de uma fiscalização muito deficitária, era de prever uma situação<br />
idêntica em Portugal, daí que, ao longo de 2008, primeiro ano de<br />
vigência da lei, apenas 10 coimas foram aplicadas por incumprimento da<br />
lei do tabaco (DA, 15/Abr/<strong>2009</strong>: 24). Todavia, cremos, resultante de uma<br />
certa pressão mediática, a ASAE anunciou (DA, 30/Dez/<strong>2009</strong>:11) ter instaurado<br />
1800 processos por infracções à lei de tabaco durante os dois primeiros<br />
anos de vigência.<br />
Nos Estados Unidos em matéria de proibição de fumo, primeiro na<br />
Califórnia e em <strong>2009</strong>, em Nova Iorque, depois dos bares, restaurantes e<br />
locais de trabalho, foi-se ainda mais longe ao restringir o tabaco também<br />
nas praias e parques (DA, 17/Set/<strong>2009</strong>: 13).<br />
Uma sondagem efectuada pela Organização Mundial de Saúde (AO,<br />
05/Jun/<strong>2004</strong>: 20), em 35 países da Europa e América do Norte, a 162 mil<br />
jovens, com idades entre os 11 e os 15 anos, concluiu que os jovens portugueses<br />
de 13 anos eram os que menos tinham experimentado tabaco, no<br />
entanto situavam-se no 3.º lugar no fumar uma vez por semana e em 6.º lugar<br />
no fumar com frequência. O mesmo estudo dava conta de que os jovens portugueses<br />
eram os que menos consumiam álcool e tabaco e estavam acima da<br />
média nas práticas sexuais, mas eram dos que menos usavam preservativos.<br />
Além das consequências para a saúde do acto de fumar, não é de descurar<br />
o peso do encargo no seio das famílias, conforme documenta o Instituto<br />
Nacional de Estatística, estimando, com dados referentes a 2000, que a<br />
média nacional da despesa anual das famílias com o tabaco seja de 1,6 %<br />
dos rendimentos, equivalendo a 218 euros. Nos Açores, o peso da despesa<br />
com tabaco é ainda maior atingindo os 2,3% do rendimento anual das famílias.<br />
Se tivermos em conta apenas as famílias onde se fuma, o gasto com<br />
tabaco poderá atingir os 749,00 euros anuais (CA, 17/Nov/<strong>2004</strong>: 13).<br />
O tabaco é fortemente tributado e, segundo valores de 2003, 76,5% do<br />
preço de venda ao consumidor são impostos (DN, 12/Jan/2005: 3), calculando-se<br />
que os lucros totais do volume de negócios da indústria do tabaco<br />
foram de 373 milhões de euros, permitindo ao Estado português um encaixe<br />
70
Dependências e outras violências…<br />
de 1 220 milhões de euros. Para 2005, o orçamento de Estado aprovado, por<br />
via do aumento dos impostos sobre o tabaco, previa ser de 8,7% o crescimento<br />
das receitas. Apesar do aumento do preço fixado para 2005, Portugal pratica<br />
os preços mais baixos da Europa na venda de tabaco. Praticamente, apenas<br />
os novos países membros da Europa de Leste praticam preços inferiores.<br />
As receitas, como vimos, são elevadas, mas estima-se que a dependência<br />
do tabaco absorva cerca de 15% dos orçamentos para a saúde de<br />
países como a França ou os Estados Unidos da América (AO,<br />
12/Nov<strong>2004</strong>: 2), não devendo Portugal estar muito longe desta estimativa.<br />
O estudo da Rede Europeia para a Prevenção do Tabagismo (de 1998 a<br />
2002), que engloba 28 países europeus, apresenta Portugal em nono lugar<br />
quanto à adopção de políticas efectivas contra o tabaco. No período em análise,<br />
os jovens portugueses, de 15 anos de idade, que apresentavam uma taxa<br />
de fumadores de 14%, passaram para 26%, em 2002. Apresentamos o<br />
segundo maior crescimento da taxa de prevalência de fumadores, embora<br />
continue a ser a mais baixa dos 28 países em análise. O estudo também revela<br />
que as pessoas com mais dificuldades económicas fumam mais que as<br />
mais abastadas e são também as pessoas com mais dificuldades económicas<br />
que em idade adulta têm mais dificuldades em abandonar o vício. Concluiuse,<br />
ainda, que um aumento de 10% no preço do tabaco provoca uma diminuição<br />
de consumo na ordem dos 4%. Deste modo o aumento do preço<br />
surge como a mais eficiente medida para a redução do consumo embora na<br />
União Europeia sejam utilizadas outras medidas para a redução do consumo<br />
como a obrigatoriedade em vigor de se colocar um aviso, nos maços de<br />
tabaco, a informar que prejudica a saúde, de entre 14 avisos definidos a<br />
nível comunitário.<br />
Em 2006, foram publicados dados na revista americana Public<br />
Library of Science Medicine que comparavam as mortes causadas pelo<br />
tabaco e as mortes causadas pela Sida. Tendo como referência os dados de<br />
2002, foram projectados dados até 2030, concluindo-se que o tabaco matará<br />
mais 50% que a Sida até 2015. O tabaco sobrepõe-se sempre à Sida, em<br />
todo o mundo e em todos os grupos etários à excepção do grupo dos 0 aos<br />
5 anos de idade. Estima-se que o tabaco mate, em 2030, mais de oito<br />
milhões de pessoas enquanto a Sida se fica pelos 6,5 milhões, embora nos<br />
países ricos se estime uma redução de 9% no número de mortes, causada<br />
pelo tabaco (DN, 30/Nov/2006: 20).<br />
71
Alberto Peixoto<br />
Segundo dados de 2006, o estado português arrecadava cerca de 100<br />
milhões de euros por mês com os impostos sobre o tabaco. Nos primeiros<br />
oito meses de 2007, em relação a 2006, o Estado perdeu 2,8% da receita,<br />
representando tal facto uma quebra de 24 milhões de euros, ou seja, menos<br />
3 milhões de euros por mês. Ao longo de todo o ano de 2007, o Estado<br />
arrecadou menos 170 milhões de euros em impostos sobre o tabaco (DN,<br />
1/Fev/2008: 4). Em 2008, a receita proveniente dos impostos sobre o tabaco<br />
continuou a descer. Entre Janeiro e Julho de 2008, em relação ao período<br />
homólogo de 2007, a quebra foi de 117,2 milhões de euros, ou seja,<br />
menos 20,7% (CM, 22/Ago/<strong>2009</strong>: 21).<br />
O cenário descrito traduz claramente uma tendência de redução da<br />
propensão para o consumo de tabaco da população portuguesa e que não<br />
pode ser dissociada do agravamento do preço do tabaco e das bebidas<br />
alcoólicas por via do agravamento da carga fiscal imposta pelo Governo<br />
de José Sócrates.<br />
Um contributo importante para a redução da propensão do acto de<br />
fumar foram as restrições impostas ao consumo de tabaco, nos estabelecimentos<br />
públicos e locais de trabalho, pela lei em vigor desde 01 de<br />
Janeiro de 2008.<br />
O Director-Geral da Saúde, Francisco George, estimou que, em<br />
média, ao longo do ano de 2008, os portugueses fumaram menos nove<br />
cigarros por dia, tendo em conta a redução de 5%, no número de fumadores,<br />
conseguida. Conforme dados recolhidos no Faial, apesar de se denotar<br />
igualmente uma tendência para o decréscimo de 0,5%, entre <strong>2004</strong> e<br />
2008, a redução de tal consumo ficou bastante aquém da redução estimada<br />
pelo organismo citado.<br />
A situação portuguesa não é caso único, pois o primeiro ano em que vigorou<br />
em Inglaterra uma lei idêntica à portuguesa (Julho/2007 a Junho/2008)<br />
deixaram de fumar 400 000 pessoas e venderam-se menos dois mil milhões<br />
de cigarros9, menos cerca de 6% do total da produção de cigarros. Nos<br />
Estados Unidos, segundo um estudo da American Câncer Society, a redução<br />
do número de fumadores, nos últimos 40 anos, apresenta-se como a melhor<br />
hipótese explicativa do facto de terem diminuído as mortes por cancro no pulmão,<br />
cancro da mama, da próstata e do cólon (DA, 21/Jan/2007: 2).<br />
9 Dados publicados no Independent de 30/06/2008.<br />
72
Dependências e outras violências…<br />
Em contra-ciclo, os dados da Faculdade de Medicina do Porto, divulgados<br />
por Agostinho Marques, dão conta de que, a nível nacional, estão a<br />
aumentar os fumadores nos adolescentes de 13 e 14 anos de idade.<br />
Estimando uma taxa de fumadores de 31% da população portuguesa, com<br />
tendência para a diminuição, a taxa feminina de fumadoras é 6 a 7% inferior<br />
à masculina, mas com tendência para o crescimento10.<br />
Segundo um estudo do projecto europeu PESCE, uma redução de<br />
15% no consumo de tabaco poderia evitar 400 mortes por ano, 2 200<br />
patologias graves, além de representar uma poupança de 37,4 milhões de<br />
euros/ano (DN, 02/Mai/<strong>2009</strong>: 14). Considerando que em 2008 se conseguiu<br />
uma redução de 5%, é possível que se tenha evitado a perda de 133<br />
vidas, o desenvolvimento de 733 patologias graves e poupado 12, 46<br />
milhões de euros.<br />
Um estudo promovido pelo Instituto Americano de Medicina concluiu<br />
que, além dos benefícios directos, a proibição de fumar nos espaços<br />
públicos reduz a probabilidade de ocorrência de ataques cardíacos entre os<br />
fumadores passivos. Também no Journal of the American College of<br />
Cardiology e no Journal of the American Heart Association foram publicados<br />
dados sobre este assunto resultantes de estudos realizados nos<br />
Estados Unidos da América, Canadá e Europa, sobre 24 milhões de pessoas,<br />
estimando-se que tais restrições tenham feito reduzir os enfartes do<br />
miocárdio até 26 por cento por ano.11<br />
Para além da melhoria da qualidade de vida dos não fumadores, corroborada<br />
pelos diversos estudos citados, um grupo de investigadores<br />
liderados por Arto Y. Strandberg, da Universidade de Helsinki, na<br />
Finlândia, foi ainda mais longe e através da comparação de dados, referente<br />
à população em 1974 e em 2000, chegou à conclusão que os não<br />
fumadores vivem em média mais 10 anos que os fumadores (DA,<br />
16/Out/2008: 13).<br />
Um estudo realizado pelo Grupo de Apoio ao Tabagista do Hospital<br />
do Cancro A. C. Camargo, em São Paulo, Brasil, demonstrou, em <strong>2009</strong>, a<br />
maior vulnerabilidade das mulheres aos efeitos do tabaco, em relação aos<br />
homens. Detectaram, ainda, que uma parte considerável das mulheres<br />
10 Dados apresentados no 23.º Congresso de Pneumologia, na Guarda, que decorreu entre<br />
08 e 10 de Novembro/2007.<br />
11 Disponível em www.facebooc.com/pages/revistafocus/, em 08/Dez/<strong>2009</strong>.<br />
73
Alberto Peixoto<br />
associava o fumar à possibilidade de emagrecer e o parar de fumar com à<br />
probabilidade de aumentar o peso.<br />
Embora tenha sido estimado que o ganho com o consumo de tabaco<br />
represente menos 4 quilos de peso, os autores do referido estudo alertaram<br />
que o ganho é muito pequeno em relação aos malefícios provocados sobretudo<br />
nas mulheres (DA, 25/Mar/<strong>2009</strong>: 16).<br />
Dados recolhidos em 2001, sobre substâncias psicoactivas, lícitas ou<br />
ilícitas, pela Universidade Nova de Lisboa, a pedido do Instituto da Droga<br />
e Toxicodependência (DA, 26/Mai/<strong>2004</strong>: 14), revelavam que 29% da<br />
população continental consumia tabaco 69% da qual eram homens e 31%<br />
eram mulheres, enquanto nos Açores o nosso estudo, em <strong>2004</strong>, apresentou<br />
uma população de 79 782 consumidores (33%), dos quais 54 730 eram<br />
homens (68,6%) e 25 052 eram mulheres (31,4%).<br />
Em <strong>2009</strong>, registou-se uma diminuição na percentagem de fumadores<br />
atingindo-se os 32%. É de salientar o facto de se ter registado uma redução<br />
apenas de fumadores do sexo masculino, visto que houve um aumento<br />
real da percentagem de mulheres fumadoras de 6,6 pontos agrupando,<br />
em <strong>2009</strong>, 38% do total de fumadores, enquanto os homens baixaram para<br />
62%. Em termos absolutos, em <strong>2009</strong>, existiam nos Açores 78 329 fumadores<br />
dos quais 48 563 do sexo masculino e 29 766 do sexo feminino.12<br />
Ou seja, menos 1 453 fumadores que em <strong>2004</strong>.<br />
74<br />
FUMADORES CONTINENTE <strong>2004</strong> AÇORES <strong>2004</strong> AÇORES <strong>2009</strong><br />
(%) (%) (%)<br />
Homens 69,0 68,6 62,0<br />
Mulheres 31,0 31,4 38,0<br />
TOTAL DA POPULAÇÃO 29,0 33,0 32,0<br />
Quadro n.º 12 Comparação por sexos e total das percentagens de fumadores entre<br />
o Continente e os Açores.<br />
12 Valor calculado com base na população residente nos Açores, estimativa para<br />
31/12/2008, disponível em http://estatistica.azores.gov.pt a 15 de Março de 2010. Por<br />
serem os dados oficiais, mais recentes, todas as estimativas apresentadas no presente<br />
estudo, referentes a <strong>2009</strong>, foram calculadas com base em tais números.
Sem serem conhecidos dados estatísticos, referentes a <strong>2009</strong>, sobre a<br />
população portuguesa fumadora e que tenham sido recolhidos com metodologia<br />
idêntica à do presente estudo, apenas se pode afirmar que os<br />
dados referentes aos Açores continuam a manter-se acima dos valores do<br />
Continente de <strong>2004</strong>. Se em <strong>2004</strong> a percentagem de mulheres fumadoras<br />
estava acima da média nacional quatro décimas, em <strong>2009</strong>, passou a estar<br />
sete pontos percentuais.<br />
As mudanças sócio-culturais, provocadas pelos movimentos feministas,<br />
ocorridas depois da década de 60 (séc. XX), contribuíram para o<br />
aumento do consumo de tabaco, apresentando-se em crescimento, sobretudo<br />
no mundo ocidental, o número de mulheres fumadoras com a característica<br />
de iniciarem o consumo, em termos etários, cada vez mais cedo,<br />
realidade à qual as mulheres açorianas não são alheias, conforme<br />
demonstram os dados recolhidos.<br />
RESIDE EM COSTUMA FUMAR (%)<br />
Meio rural 54,0<br />
Meio urbano 46,0<br />
Quadro n.º 13 Comparação das percentagens de<br />
fumadores, tendo em conta a área de residência.<br />
Dependências e outras violências…<br />
O facto de a população residir em meio rural ou em meio urbano<br />
sugere uma influência exercida sobre a decisão de fumar, na medida<br />
em que 54% dos fumadores (42 298) residia em meio rural enquanto<br />
46% dos fumadores (36 031) residia em meio urbano. Sem alterações<br />
significativas em <strong>2009</strong>, é de referir que os Açores apresentaram tendência<br />
contrária à média nacional em que a percentagem de fumadores<br />
em meio urbano era superior à percentagem dos residentes em<br />
meio rural.<br />
75
Alberto Peixoto<br />
ILHA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%) Variação (%)<br />
Corvo 48,0 44,0 -4,0<br />
Faial 28,0 28,0 0,0<br />
Flores 37,0 27,0 -10,0<br />
Graciosa 28,0 26,0 -2,0<br />
Pico 34,0 29,0 -5,0<br />
São Jorge 28,0 29,0 +1,0<br />
São Miguel 35,0 38,0 +3,0<br />
Santa Maria 44,0 42,0 -2,0<br />
Terceira 30,0 26,0 -4,0<br />
Média Açores 33,0 32,0 -1,0<br />
Quadro n.º 14<br />
<strong>2004</strong> -<strong>2009</strong><br />
Percentagem da população fumadora por ilha,<br />
Em <strong>2004</strong>, as variações percentuais de fumadores, entre ilhas, situavam-<br />
-se entre a mais elevada, de 48% no Corvo, seguindo-se Santa Maria, com<br />
44%. A Terceira apresentava uma população de fumadores de 30%, o Pico,<br />
de 34%, São Miguel, de 35%, e as Flores, de 37%. Com uma população<br />
idêntica de fumadores, de 28%, surgiram São Jorge, Graciosa e Faial.<br />
Em <strong>2009</strong>, registaram-se variações bastante significativas nas taxas de<br />
fumadores com uma tendência, ainda que ligeira, para a diminuição da<br />
propensão. O Corvo manteve-se com a taxa mais elevada, 44%, seguindo-<br />
-se Santa Maria, com 42%, São Miguel, com 38%, São Jorge, com 29%,<br />
Pico, com 29%, Faial, com 28%, e Flores, com 27%. A Graciosa e a<br />
Terceira registaram as taxas mais baixas de fumadores, situadas nos 26%,<br />
sendo as ilhas, a par do Pico e Flores, em que se registaram as diminuições<br />
mais acentuadas no número de fumadores.<br />
Em <strong>2004</strong>, por concelhos, o Corvo, com 48%, apresentou a mais elevada<br />
taxa de prevalência do consumo de tabaco, seguindo-se Vila do<br />
Porto, na ilha de Santa Maria, com 44%, Santa Cruz das Flores, com<br />
42,1%, Lajes do Pico, com 40,8%, Nordeste, em São Miguel, com 38,7%,<br />
Ribeira Grande, com 37,3%, Madalena do Pico, com 36,1%, Lagoa, com<br />
35,9%, Ponta Delgada, com 35,8%, Lajes das Flores, com 34,8%, Velas de<br />
São Jorge, com 34,7%, Vila Franca do Campo, com 32,5%, Angra do<br />
Heroísmo, com 30,4%, Horta, com 28,4%, Praia da Vitória, com 27,9%,<br />
76
Dependências e outras violências…<br />
Santa Cruz da Graciosa, com 27,5%, Povoação, com 24,7%, Calheta de<br />
São Jorge, com 23,3%, e por último São Roque do Pico, com 22,8%.<br />
CONCELHOS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Angra do Heroísmo 30,4 27,3<br />
Calheta de São Jorge 23,3 27,8<br />
Corvo 48,0 43,5<br />
Horta 28,4 28,4<br />
Lagoa 35,9 27,3<br />
Lajes das Flores 34,8 28,3<br />
Lajes do Pico 40,8 26,1<br />
Madalena 36,1 31,8<br />
Nordeste 38,7 28,3<br />
Ponta Delgada 35,8 42,0<br />
Povoação 24,7 27,8<br />
Praia da Vitória 27,9 24,7<br />
Ribeira Grande 37,3 42,7<br />
São Roque do Pico 22,8 25,4<br />
Santa Cruz da Graciosa 27,5 25,9<br />
Santa Cruz das Flores 42,1 26,7<br />
Velas de São Jorge 34,7 32,7<br />
Vila do Porto 44,0 42,3<br />
Vila Franca do Campo 32,5 31,3<br />
Quadro n.º 15 Consumo de tabaco por concelhos <strong>2004</strong> -<br />
<strong>2009</strong>.<br />
Em <strong>2009</strong>, por concelhos, registou-se uma tendência clara de redução<br />
do número de fumadores à excepção dos concelhos de Ribeira Grande,<br />
São Roque do Pico, Calheta de São Jorge, Povoação e Ponta Delgada.<br />
Quanto à idade de início, o consumo, em <strong>2004</strong>, em 31% dos fumadores,<br />
nos Açores, tinha começado antes dos 15 anos, enquanto, no<br />
Continente, a média dos fumadores que iniciaram o consumo antes dos 15<br />
anos era de 25%, demonstrando que os açorianos tendem a fumar significativamente<br />
mais cedo do que a média nacional. No período compreendido<br />
entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>, nos Açores, houve mesmo um agravamento no<br />
77
Alberto Peixoto<br />
número de novos fumadores abaixo dos 15 anos passando de 31% para<br />
34,7%, o que deve constituir preocupação crescente.<br />
O relatório a nível comunitário, referente a Abril de <strong>2004</strong>, dava conta<br />
de que 36% dos jovens portugueses, entre os 15 e os 24 anos de idade, eram<br />
consumidores regulares de tabaco. Se considerarmos este indicador, verificava-se<br />
que a média da população açoriana, dos 15 aos 24 anos, em <strong>2004</strong>, era<br />
de 34,6%, situando-se ligeiramente abaixo da média nacional; todavia, em<br />
<strong>2009</strong>, aumentou para 39,1% o número de fumadores em tal grupo etário.<br />
A 1 de Março de 2005, como que fundamentada no retro-mencionado<br />
relatório, a Comissão Europeia lançou uma nova campanha de prevenção<br />
contra o tabaco, orçamentada em 72 milhões de euros, cujo principal<br />
objectivo assentava em duas vertentes: levar os jovens a não começarem a<br />
fumar e fazer com que os fumadores deixassem de fumar. Tratava-se de<br />
uma decisão importante em consonância com o Tratado Mundial, aprovado<br />
por 192 países, um dos quais Portugal, na 56.ª Assembleia Mundial de<br />
Saúde para a Prevenção e Controlo do Tabaco. A Organização Mundial de<br />
Saúde, como justificação das suas acções, considerou que o acto de fumar,<br />
praticado na Europa por 40% dos adultos, era responsável pela morte de<br />
550 000 europeus por ano, dos quais 12 000, só em Portugal, com idades<br />
compreendidas entre os 35 e os 69 anos (DA, 02/03/2005, 3).<br />
Todos os dados conhecidos apontam no mesmo sentido, sendo os<br />
jovens a população alvo preferencial para as acções de sensibilização a<br />
desenvolver também nos Açores, visto que as idades de maior propensão<br />
para o acto de fumar se situavam no grupo etário dos 15 aos 20 anos, com<br />
53% dos fumadores, enquanto 13% se iniciou entre os 21 e os 25 anos. Se<br />
considerarmos o início do consumo antes dos 25 anos, nos Açores, em <strong>2004</strong>,<br />
constatámos um agrupamento de 97% dos fumadores e, em <strong>2009</strong>, ainda<br />
mais três décimas. No entanto, considerando-se que a média nacional se<br />
situava nos 96%, não existiam diferenças muito significativas a este nível.<br />
Ao longo das duas análises, foi notória a grande diminuição da probabilidade<br />
de início do consumo de tabaco depois dos 26 anos de idade; por<br />
cada cem pessoas apenas duas ou três iniciam tal consumo neste escalão<br />
etário, tornando-se uma probabilidade meramente residual, se considerarmos<br />
os escalões etários seguintes. Por exemplo, a probabilidade de se iniciar<br />
o consumo de tabaco ao longo da vida depois dos 31 anos de idade era<br />
igual a 1%, demonstrando como é remota tal possibilidade.<br />
78
Considerando a frequência de consumo diário dos fumadores continentais<br />
de 96%, e de 4% para os que passam mais de um dia sem fumar,<br />
conclui-se que os açorianos possuem uma frequência inferior, situada, em<br />
<strong>2004</strong>, nos 85%, no consumo diário, nos 15%, para mais de um dia sem<br />
fumar, nos 79,2% e 17,5%, respectivamente, em <strong>2009</strong>.<br />
GRUPO ETÁRIO <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
14 e menos 31,0 34,7<br />
15-20 anos 53,0 58,7<br />
21-25 anos 13,0 3,9<br />
26-30 anos 2,0 1,9<br />
31-35 anos 0,4 0,2<br />
36-40 anos 0,4 0,3<br />
41-45 anos 0,06 0,0<br />
46-50 anos 0,07 0,0<br />
51 e mais anos 0,07 0,3<br />
Quadro n.º 16 Idade de início do consumo<br />
de tabaco nos Açores.<br />
Dependências e outras violências…<br />
Entre a população fumadora dos Açores e do Continente constata-se<br />
um diferencial que chega aos 16,8%, permitindo classificar os açorianos<br />
mais como fumadores ocasionais e menos como fumadores diários.<br />
Além de ter diminuído, na região, o número de fumadores em geral,<br />
está a diminuir a frequência de consumo de tabaco, o que pode estar relacionado<br />
com o aumento de preço do tabaco e com as restrições ao nível<br />
dos locais em que é permitido fumar, bem como eventualmente com a disponibilização<br />
nas unidades de saúde de consultas de cessação tabágica.13<br />
FUMADORES CONTINENTE (%) AÇORES <strong>2004</strong> (%) AÇORES <strong>2009</strong> (%)<br />
Diário 96,0 85,0 79,2<br />
Ocasional 4,0 15,0 17,5<br />
Quadro n.º 17 Comparação das percentagens de fumadores, com prevalência<br />
diária e prevalência inferior à diária, entre o Continente e os Açores.<br />
13 Em 2008 e <strong>2009</strong>, nos três hospitais e seis centros de saúde, foram realizadas, no total,<br />
1 433 consultas de cessação tabágica segundo dados da Direcção Regional da Prevenção<br />
e Combate às Dependências (DA, 31/Mar/2010: 9).<br />
79
Alberto Peixoto<br />
O presente estudo permitiu concluir que a probabilidade de se iniciar o<br />
consumo de tabaco depois dos 25 anos é praticamente nula, justificando uma<br />
necessidade crescente de realização de campanhas de prevenção contra o<br />
tabagismo nos grupos etários em idade escolar, ou seja, no início da juventude,<br />
adolescência e pré-adolescência por se verificar que, entre os fumadores,<br />
84%, em <strong>2004</strong>, e 93,4%, em <strong>2009</strong>, iniciam o consumo com menos de 21 anos<br />
de idade.<br />
Uma das características do consumo de tabaco prende-se com o facto de<br />
normalmente a iniciação do consumo não partir de uma vontade própria, mas<br />
sim de uma influência exercida por pessoas próximas sendo os amigos/colegas,<br />
considerados por 83%, em <strong>2004</strong>, e 83,3%, em <strong>2009</strong>, dos fumadores<br />
aqueles a quem se deve o facto de terem iniciado o comportamento.<br />
INICIOU O CONSUMO DE TABACO <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Sozinho 11,0 8,7<br />
Com os familiares 6,0 8,0<br />
Com amigos/colegas 83,0 83,3<br />
Quadro n.º 18 Iniciação ao consumo de tabaco.<br />
Mesmo assim existiam 11% dos fumadores, em <strong>2004</strong>, e 8,7%, em <strong>2009</strong>,<br />
a afirmar terem começado sozinhos, enquanto apenas 6%, em <strong>2004</strong>, e 8%,<br />
em <strong>2009</strong>, admitiu ter iniciado o consumo de tabaco com os familiares.<br />
Os grupos de amigos surgiram como o meio mais fértil para o início<br />
do consumo de tabaco de acordo com 39% dos fumadores, em <strong>2004</strong>, e<br />
34,4%, em <strong>2009</strong>, seguindo-se a escola como o lugar decisivo para 35% dos<br />
fumadores, em <strong>2004</strong>, e 29,1%, em <strong>2009</strong>.<br />
Entre os dois momentos de análise é de salientar a diminuição de<br />
5,9% na escola enquanto local de início do consumo de tabaco, cenário<br />
que não será alheio ao facto de entretanto ter sido proibido fumar no interior<br />
de todo o espaço escolar, podendo, por isso, ser considerada uma decisão<br />
com impacto ao nível da diminuição de tal propensão.<br />
Se conjugarmos o local onde se iniciou o consumo de tabaco com a<br />
variável medida através da questão «com quem iniciou o consumo de tabaco?»<br />
demonstra-se o peso da influência dos amigos no início do consumo<br />
de tabaco.<br />
80
LOCAL <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Em casa 11,0 12,9<br />
Na escola 35,0 29,1<br />
Em festas 12,0 21,8<br />
No grupo 39,0 34,4<br />
Outro 3,0 1,8<br />
Quadro n.º 19 Local onde foi iniciado o<br />
consumo de tabaco.<br />
Dependências e outras violências…<br />
A residência surgiu como o meio onde foi iniciado o consumo por<br />
11% dos fumadores, em <strong>2004</strong>, e 12,9%, em <strong>2009</strong>. Os meios festivos, que<br />
proporcionaram o início de consumo a 12% dos fumadores, em <strong>2004</strong>, e<br />
21,8%, em <strong>2009</strong>, assumiram uma importância crescente no início do consumo<br />
de tabaco, enquanto apenas 3% dos fumadores, em <strong>2004</strong>, e 1,8%, em<br />
<strong>2009</strong>, iniciaram o consumo noutro local para além dos indicados, com<br />
especial relevo para os bares/cafés e a própria rua.<br />
Em <strong>2004</strong>, tinham tentado abandonar o consumo do tabaco 36% dos<br />
fumadores açorianos, dos quais 29% assumiram ter a tentativa sido bem<br />
sucedida. Em <strong>2009</strong>, assistiu-se a uma redução para 33,7% na percentagem<br />
de fumadores que tentou abandonar a dependência a par de uma redução<br />
na taxa de sucesso no abandono de tabaco para 10,9%. Ou seja, registou-<br />
-se um menor número de pessoas predispostas a tentar abandonar a dependência<br />
do tabaco e entre elas uma maior dificuldade em obter êxito. Este<br />
é um dado pertinente na medida em que contradiz a ideia veiculada de que<br />
tem aumentado o número de pessoas a abandonar o consumo de tabaco. A<br />
redução do número de fumadores ficou, então, a dever-se sobretudo à<br />
diminuição de novos fumadores com idade acima dos 20 anos.<br />
A nicotina produz uma sensação de tranquilidade, relaxamento e elimina<br />
a ansiedade, todavia os malefícios visíveis a longo prazo chegam mesmo a<br />
conduzir à morte sem que os consumidores tenham encontrado motivação para<br />
abandonar o consumo de tabaco por estar este envolto numa nuvem de mitos,<br />
crenças e até superstições e, neste contexto, Luís Patrício14 refere que o fumador<br />
passivo é um “coitado que fuma obrigado”. O fumador activo que “chupa<br />
o cigarro fá-lo por prazer”. Depois do almoço o fumador procura o “cigarro<br />
14 Então Director do Centro das Taipas na conferência proferida na Universidade dos<br />
Açores a 07/Fev/<strong>2004</strong>.<br />
81
Alberto Peixoto<br />
digestivo”. Fumar para despertar no trabalho ou durante a condução é o<br />
“fumar para manter o olho aberto”. Se o fumador está irritado ou ansioso<br />
então “puxa pelo cigarro terapêutico”. Por fim classifica a grande maioria dos<br />
cigarros que se fuma como “os cigarros parvos, fumados sem se dar por eles”.<br />
Se o controlo da ansiedade pode ser uma motivação para o consumo de<br />
tabaco, um estudo japonês publicado no American Journal of Clinical<br />
Nutrition apontou o chá verde como um possível substituto, além de outras<br />
propriedades atribuídas ao chá por estudos anteriores no controlo da doença<br />
de Alzheimer, certos tipos de cancro, melhoria da saúde cardiovascular, oral,<br />
no controlo de peso (DA, 05/Out/<strong>2009</strong>: 21). Um outro estudo realizado na<br />
Universidade de Chung Shan, com uma amostra de 170 doentes em comparação<br />
com 340 indivíduos saudáveis, demonstrou que os fumadores com o<br />
hábito diário de consumir chá verde tinham treze vezes menos probabilidades<br />
de desenvolver o cancro do pulmão (DA, 17/Jan/2010: 16).<br />
O CONSUMO DE TABACO É <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Diário 28,1 25,7<br />
Semanal 1,0 1,1<br />
Ocasional 4,0 5,2<br />
Quadro n.º 20 Frequência do consumo de tabaco nos Açores.<br />
Em <strong>2004</strong>, constatou-se que 33% dos açorianos tinham por hábito fumar.<br />
Questionados quanto à frequência do consumo, verificámos que 28,1% do<br />
total da população fazia-o diariamente, enquanto 1% fumava apenas uma vez<br />
por semana e 4% fumava ocasionalmente. Em <strong>2009</strong>, entre os 32% de fumadores,<br />
25,7% fumavam diariamente, 1,1% semanalmente e 5,2% ocasionalmente,<br />
evidenciando a redução na frequência de consumo diário e um aumento<br />
no consumo ocasional.<br />
82<br />
O QUE FUMA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Cigarro normal 95,4 96,5<br />
Cigarrilha 1,8 2,2<br />
Charuto 1,8 0,9<br />
Cachimbo 0,3 0,2<br />
Outro 0,3 0,2<br />
POLICONSUMO 0,4 3,3<br />
Quadro n.º 21 Tipologia de tabaco fumado nos Açores.
Dependências e outras violências…<br />
Quanto ao que é fumado, sem grandes variações entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>,<br />
95,4% e 96,5% afirma fumar cigarros normais, enquanto 1,8% e 0,9% afirma<br />
fumar charutos e 1,8%, 2,2%, cigarrilhas. Já o fumar através de<br />
cachimbo não apresenta qualquer expressão nos Açores. Verifica-se que<br />
apenas 4,6% procuram satisfazer os seus ímpetos de fumar com cigarrilhas,<br />
charutos ou cachimbos.<br />
Além da questão da fidelidade à marca de tabaco, a substância fumada<br />
é alvo de uma grande fidelidade por parte dos consumidores, situando-<br />
-se, em <strong>2004</strong>, nos 0,4%, e, em <strong>2009</strong>, nos 3,3% aqueles que admitem mais<br />
de uma forma de fumar.<br />
Com o objectivo de caracterizar a população fumadora, procurámos<br />
averiguar as principais variações da idade de início de consumo de tabaco<br />
por ilha, tendo-se apurado, em <strong>2004</strong>, ser na ilha do Pico onde se<br />
registava o volume de início mais significativo de tabaco antes dos 15<br />
anos, ao apresentar 19% de tal população com este comportamento,<br />
seguindo-se Santa Maria, com 18,5%, e em terceiro lugar a Graciosa,<br />
com 15,2%.<br />
Em <strong>2009</strong>, registaram-se alterações significativas, passando a média<br />
dos Açores de fumadores antes dos 15 anos a ser de 11,7%, sendo o Corvo<br />
a ilha que registou a mais elevada percentagem de novos fumadores a iniciar<br />
antes dos 15 anos, agrupando 19,6%, seguindo-se Santa Maria, com<br />
18,2%, Pico, com 12,6%, Faial, com 12,5, Flores, com 11,8%, Graciosa,<br />
com 11,1%, e a Terceira, com 10,0% passou a ser a ilha com menor percentagem<br />
de fumadores antes dos 15 anos. Em síntese, em todas as ilhas,<br />
à excepção de Graciosa, Pico e Santa Maria, aumentou o número de pessoas<br />
a começar a fumar antes dos 15 anos.<br />
Entre os 15 e os 20 anos, a ilha de Santa Maria era, em <strong>2004</strong>, o local<br />
com maior expressividade do início de consumo neste escalão etário ao<br />
concentrar 23,5% da população naquela idade, seguindo-se a ilha de São<br />
Miguel com 19,5% de tal população a iniciar o consumo naquela fase,<br />
situando-se em terceiro lugar a ilha do Faial, com 19,2%. Em <strong>2009</strong>, Santa<br />
Maria e São Miguel mantiveram-se como as ilhas com maior número de<br />
pessoas a iniciar o consumo de tabaco entre os 15 e os 20 anos, aumentando<br />
para 29,2% e 24,2%, respectivamente.<br />
83
Alberto Peixoto<br />
84<br />
IDADE DE INÍCIO 14 e 14 e 15-20 15-20 21-25 21-25 26-30 26-30 31-35 31-35 36-40 36-40 41-45 41-45 46-50 46-50 51 e 51 e<br />
DE CONSUMO menos menos <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> mais mais<br />
DE TABACO <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
POR ILHA (%) (%) (%) (%)<br />
Corvo 2,0 19,6 0,0 13,0 46,0 8,7 0,0 2,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Faial 6,6 12,5 19,2 11,7 1,9 3,0 0,3 0,0 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Flores 0,0 11,8 14,0 13,6 23,3 1,4 0,7 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Graciosa 15,2 11,1 10,3 13,5 1,0 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Pico 19,0 12,6 12,1 14,3 1,6 1,7 1,0 0,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
São Jorge 6,2 12,2 17,3 16,0 2,3 0,0 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5<br />
São Miguel 10,7 12,2 19,5 24,2 3,8 1,2 0,5 0,7 0,1 0,2 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5<br />
Santa Maria 18,5 18,2 23,5 29,2 0,5 0,7 1,5 0,7 0,0 0,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Terceira 8,1 10,0 17,1 13,8 3,3 0,8 0,6 0,5 0,6 0,0 0,2 0,2 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5<br />
MÉDIA AÇORES 10,4 11,7 17,6 19,8 4,3 1,3 0,5 0,6 0,1 0,1 0,1 0,08 0,05 0,0 0,05 0,0 0,05 0,1<br />
Quadro n.º 22 Idade de início de consumo de tabaco, por ilhas.
Terceira, São Jorge, Faial e Flores destacaram-se, em <strong>2009</strong>, ao conseguirem<br />
uma redução no número de pessoas a iniciar o consumo de tabaco<br />
entre os 15 e 20 anos, todavia tal redução resulta do facto de se terem antecipado<br />
no acto para antes dos 15 anos.<br />
É de salientar o facto de, em <strong>2004</strong>, em média, nos Açores, 10,4% dos<br />
adolescentes com menos de 15 anos de idade terem iniciado o consumo<br />
de tabaco neste grupo etário enquanto 17,6% fizeram-no entre os 15 e os<br />
20 anos de idade. Com especial particularidade surgiram as Ilhas do<br />
Corvo e Flores cujo grupo etário com maior probabilidade de início de<br />
consumo se situava entre os 21 e os 25 anos, demonstrando ser os locais<br />
onde mais tardiamente se iniciava o consumo de tabaco. Tal facto<br />
não seria alheio à proximidade familiar, ao fechamento e ao conservadorismo<br />
do meio funcionando como uma almofada de amortecimento na<br />
vontade dos indivíduos, conduzindo a um retardamento da idade de consumo<br />
de tabaco.<br />
Os cinco anos que separaram as duas análises demonstraram que se<br />
registaram alterações muito significativas nas Ilhas do Corvo e Flores,<br />
passando estas a acompanhar as tendências das demais ilhas. Na percentagem<br />
de pessoas a iniciar o consumo de tabaco abaixo dos 15 anos, as ilhas<br />
mais ocidentais do arquipélago chegaram mesmo a ultrapassar a média dos<br />
Açores situada, em <strong>2009</strong>, nos 11,7%.<br />
IDADE COSTUMA FUMAR COSTUMA FUMAR<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
14 e menos 2,7 4,5<br />
15-20 17,2 11,2<br />
21-25 17,5 14,9<br />
26-30 13,7 14,5<br />
31-35 12,1 13,4<br />
36-40 11,1 12,9<br />
41-45 8,8 11,8<br />
46-50 8,3 10,6<br />
51 e mais 8,6 6,2<br />
Quadro n.º 23 Consumo de tabaco por idades.<br />
Dependências e outras violências…<br />
85
Alberto Peixoto<br />
Tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, continuam a ser maioritariamente os<br />
homens os principais fumadores apresentando maior prevalência de consumo<br />
entre os 15 e os 40 anos de idade, começando a partir daí a diminuir<br />
tal prevalência.<br />
Destacaram-se, em <strong>2004</strong>, os grupos etários dos 15 aos 20 anos e dos<br />
21 aos 25 anos por apresentarem prevalências de consumo de tabaco mais<br />
elevadas. Em <strong>2009</strong>, os fumadores no grupo etário abaixo dos 15 anos e nos<br />
grupos etários 26-50 anos aumentaram, tendo nos grupos etários entre os<br />
15 e os 25 anos e 51 e mais, diminuído.<br />
Assim, concluiu-se que assistimos a dois fenómenos opostos: por um<br />
lado aumentaram os novos fumadores e por outro lado assistiu-se a um envelhecimento<br />
dessa população. A redução do número de fumadores situou-se<br />
apenas na população entre os 15 e os 25 anos e com 51 ou mais anos.<br />
Pretendemos saber a prevalência dos consumos de tabaco, tendo em<br />
conta os estados civis dos fumadores. Constatou-se que, em ambos os<br />
momentos de avaliação, tanto os solteiros como os casados apresentavam<br />
idênticas propensões para o consumo, situando-se, entre os 35,3 e os<br />
31,5%, em <strong>2004</strong>, e 33,9 e 32,6%, em <strong>2009</strong>.<br />
ESTADO CIVIL COSTUMA FUMAR COSTUMA FUMAR<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Solteiro 35,3 33,9<br />
Casado 31,5 32,6<br />
Divorciado 43,2 52,6<br />
Viúvo 21,9 8,5<br />
Separado 41,3 53,6<br />
União de Facto 52,1 46,9<br />
Quadro n.º 24 Consumo de tabaco por estados civis.<br />
Da análise dos estados civis denota-se que as pessoas que detêm<br />
maior instabilidade emocional possuem maior propensão para o consumo<br />
de tabaco. Os viúvos destacaram-se, tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>,<br />
por possuírem as mais baixas propensões tabagistas, podendo inferir-se<br />
que a perda do cônjuge pode contribuir para a diminuição de tal propensão.<br />
86
Dependências e outras violências…<br />
Diferentes níveis de habilitações literárias apresentam diferentes<br />
taxas de consumo de tabaco, surgindo, em <strong>2004</strong>, o 9.º ano de escolaridade,<br />
com 33,9%, a par do 12.º ano de escolaridade, com 31,2%, como<br />
os níveis literários que apresentam as mais elevadas taxas de consumidores<br />
de tabaco. Idêntico cenário se verificou em <strong>2009</strong>, apesar de uma<br />
redução.<br />
Em ambas as análises, os indivíduos sem qualquer nível de ensino,<br />
a par dos indivíduos com cursos profissionais e cursos superiores,<br />
apresentaram as taxas de prevalência de consumo de tabaco mais<br />
baixas.<br />
HABILITAÇÕES COSTUMA FUMAR COSTUMA FUMAR<br />
LITERÁRIAS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Não Sabe Ler 12,4 10,3<br />
Sabe ler e escrever 3,8 3,4<br />
1º Ciclo (4ª cl.) 21,6 13,9<br />
2º Ciclo (6ª cl.) 17,9 22,4<br />
3º Ciclo (9ª cl.) 33,9 25,3<br />
Ensino Secundário (10º-12º) 31,2 24,3<br />
Curso Profissional 10,0 10,7<br />
Curso Superior 11,9 11,1<br />
Quadro n.º 25 Consumo de tabaco, tendo em conta as habilitações literárias.<br />
Detendo-nos sobre as profissões, agrupadas segundo a qualificação<br />
designada de baixa, média e elevada, detectámos que não existem diferenças<br />
muito significativas visto que o valor da propensão se situa num intervalo<br />
inferior a 7%, embora de profissão para profissão existissem maiores<br />
disparidades, mas sem regularidades de relevo.15<br />
15 Conforme foi anteriormente referido, optámos por abandonar algumas das variáveis<br />
e indicadores analisados em <strong>2004</strong> por falta de relevância e introduzir outros,<br />
apesar de, por motivos óbvios, não termos no estudo de <strong>2004</strong> dados para comparação.<br />
87
Alberto Peixoto<br />
PROFISSÕES MAIS COSTUMA FUMAR<br />
REPRESENTATIVAS <strong>2009</strong> (%)<br />
Agricultor 39,2<br />
Carpinteiro 62,8<br />
Electricista 56,6<br />
Estudante 26,1<br />
Pedreiro 66,9<br />
Taxista 50,0<br />
Quadro n.º 26 Consumo de tabaco por profissões.<br />
Seleccionadas as profissões com maior prevalência no consumo de<br />
tabaco, sobressaíram em primeiro lugar os pedreiros, os carpinteiros e os<br />
electricistas. Os estudantes, entre os grupos representados no quadro das<br />
profissões, com 26,1%, apresentaram a prevalência mais baixa sendo de<br />
referir que, em relação a <strong>2004</strong>, o consumo de tabaco aumentou 5,1%.<br />
A questão de o indivíduo ter vivenciado durante a sua infância situações<br />
de violência doméstica apresentou-se como um factor potenciador da prevalência<br />
do consumo de tabaco bem mais influenciador do que por exemplo a<br />
questão da separação vivenciada na infância. Entre os indivíduos que guardavam<br />
recordações de violência doméstica no seio das suas famílias de origem,<br />
47% tinham por hábito fumar, contra 53% que não o faziam. Em <strong>2009</strong>,<br />
manteve-se tal regularidade apesar de uma redução de 7,5% na propensão de<br />
fumar entre os que vivenciaram a prática de violência doméstica.<br />
TEM RECORDAÇÕES COSTUMA FUMAR COSTUMA FUMAR<br />
DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Sim 47,0 39,5<br />
Não 32,0 32,7<br />
Quadro n.º 27 Consumo de tabaco e recordações de violência doméstica na<br />
infância.<br />
Idêntica conclusão obtivemos relacionando a propensão para o consumo<br />
de tabaco e a vivência de problemas com as autoridades em geral.<br />
Assim, entre os indivíduos não consumidores de tabaco, 96%, nunca<br />
tinham tido qualquer problema com tais autoridades reforçando a ideia de<br />
que as pessoas fumadoras predispõem-se mais a comportamentos de risco;<br />
88
Dependências e outras violências…<br />
destemidas e desafiadoras, apresentam comportamentos mais extrovertidos,<br />
mais irreverentes.<br />
Outros indicadores gerais apurados disseram-nos que, em <strong>2004</strong>, entre<br />
os fumadores, 77,7% consumia álcool com regularidade. Em <strong>2009</strong>, manteve-se<br />
a regularidade embora baixando, ligeiramente, para 74,7% os<br />
fumadores que consumiam bebidas alcoólicas.<br />
Fumar e consumir café apresentou-se como uma combinação bastante<br />
frequente dado que entre os fumadores 67,5%, em <strong>2004</strong>, e 75,6%, em<br />
<strong>2009</strong>, consumiam regularmente café, não se podendo afirmar o mesmo em<br />
relação aos consumidores regulares de café, constatando-se que apenas<br />
42,4%, em <strong>2004</strong>, 45,5%, em <strong>2009</strong>, fumavam regularmente.<br />
Apesar de tudo, consensualmente, o tabaco é tido como um tranquilizador<br />
comportamental para grande parte dos seus consumidores; apenas<br />
9,5% dos fumadores, em <strong>2004</strong>, e 8,8%, em <strong>2009</strong>, admitiu já ter sido violento.<br />
As pessoas que fumam regularmente, sem outros hábitos de consumo<br />
de álcool ou drogas, tendem a praticar menos actos de violência e<br />
menos crimes, podendo a baixa propensão para a prática da violência/crime<br />
nos fumadores derivar de um efeito psicológico conseguido com<br />
o consumo de tabaco e que assumidamente é apontado como um dos principais<br />
motivos pelo qual os fumadores são levados a fumar.<br />
As motivações do acto de fumar foi outra das variáveis questionadas.<br />
Constatou-se que, em <strong>2004</strong>, 52% dos fumadores afirmaram fazê-lo por<br />
prazer enquanto 28% disseram fazê-lo por outro motivo não especificado.<br />
O procurar sentir-se calmo foi apontado como a motivação do acto de<br />
fumar para 11% enquanto a busca de desinibição foi apontada por 4% dos<br />
fumadores. Segundo dados de <strong>2009</strong>, apurámos que a obtenção de prazer<br />
é, segundo 42% dos fumadores, a primeira motivação do acto de fumar<br />
seguindo-se a crença do poder tranquilizador do tabaco.<br />
Em média, 20,6% dos fumadores gastavam menos de 10,00 euros<br />
semanais, 64,4% gastava entre 10,00 e 50,00 euros semanais e 15,0% gastava<br />
mais de 50,00 euros por semana, dinheiro esse que em 23% dos casos<br />
provinha do salário próprio, 4,8% da mesada atribuída pelos pais, 1,2% da<br />
pensão que auferiam e 4,3% de proveniência diversa.<br />
Em 90,5% dos casos, os familiares do fumador tinham conhecimento<br />
de que aquele fumava. Entre tais familiares do fumador, 61,3% também<br />
fumava sendo em 40,9% os próprios pais.<br />
89
Alberto Peixoto<br />
O PERFIL DO FUMADOR<br />
Ao nível do perfil do fumador açoriano, em síntese, pode dizer-se que<br />
possui entre os 21 e os 40 anos de idade, é predominantemente do sexo<br />
masculino e fuma cigarros ditos normais. Vive predominantemente em<br />
meio urbano, tem um nível de habilitações escolares entre o 9.º e o 12º<br />
ano, possui instabilidade emocional, sendo solteiro, divorciado, separado<br />
ou a viver em união de facto e possui no seio da sua família outros fumadores.<br />
Começou a fumar no grupo ou no meio escolar por influência dos<br />
amigos, desempenha profissões variadas, que vão das menos às mais qualificadas,<br />
e gasta entre 10,00 a 50,00 euros por semana em tabaco.<br />
90
O ÁLCOOL<br />
Até finais de <strong>2004</strong>, confinavam-se ao antigo Médio Oriente, mais precisamente<br />
aos Montes Zagros, ocidente do Irão, há 5 400 a.C., os mais longínquos<br />
vestígios do consumo de bebidas alcoólicas, altura em que Patrick<br />
McGovern (AACA, 05-12/Dez/<strong>2004</strong>) procurou refutar tal ideia ao concluir<br />
que há 9 000 anos, onde as fronteiras actuais definem a nação chinesa,<br />
fazia parte dos seus habitantes o consumo de bebidas alcoólicas, obtidas<br />
a partir de arroz, mel, uvas, ervas e frutos de pilriteiro. Assim, constatámos<br />
que o consumo de álcool tem acompanhado a civilização humana<br />
no âmbito das relações sociais, religiosas e médicas, fazendo parte de uma<br />
ampla esfera ancestral comum aos povos de todo o planeta.<br />
Diversos especialistas, entre os quais Fátima Ismail (2003), defendem<br />
que o consumo de álcool com moderação e a acompanhar o consumo de<br />
alimentos pode até ser positivo para pessoas equilibradas e ditas normais,<br />
evitando problemas cardiovasculares, menor incidência da diabetes tipo II,<br />
bem como problemas psicológicos como a depressão e a ansiedade,<br />
podendo mesmo o álcool ser utilizado como um ansiolítico ou um antidepressivo<br />
e em elevadas quantidades chega a ser anestésico.<br />
Um estudo apresentado pelo Conselho Superior de Investigações<br />
Científicas da Espanha, defendeu o consumo moderado de cerveja para os<br />
atletas como fonte de hidratação, visto que os componentes da cerveja ajudam<br />
na recuperação do metabolismo hormonal e imunológico depois da<br />
prática desportiva (DA, 12/Jul/<strong>2009</strong>: 20).<br />
Uma investigação da Universidade Católica de Campobasso (<strong>2009</strong>)<br />
foi mais longe ao demonstrar que um copo de vinho a cada refeição ajuda<br />
a paciente do cancro da mama a tolerar melhor a radioterapia e a reduzir<br />
os efeitos indesejados (DA, 03/Jul/<strong>2009</strong>: 21).<br />
91
Alberto Peixoto<br />
Em sentido contrário, um estudo, com uma população alvo de 1 900<br />
mulheres, que já tinham tido cancro da mama, apresentado no San Antonio<br />
Brest Cancer Symposium da American Association for Cancer Research,<br />
permitiu concluir que em particular as mulheres na pós-menopausa que<br />
consomem três a quatro copos de álcool por semana correm um risco significativamente<br />
maior de sofrerem uma recorrência do cancro da mama<br />
(DA, 22/Dez/<strong>2009</strong>: 21). Também um estudo da Universidade de Oxford,<br />
coordenado por Naomi Allen, demonstrou que mesmo o consumo moderado<br />
de álcool não evita que aumente o risco de cancro de mama, fígado e<br />
recto em mulheres (DA, 26/Fev/<strong>2009</strong>: 10).<br />
Realizado um estudo na Universidade de Glasgow, também se encontrou<br />
no vinho substâncias anti-oxidantes, capazes de prevenir infecções,<br />
que podem degenerar em septicemias (DA, 04/Ago/<strong>2009</strong>: 21).<br />
Da Universidade Médica da Carolina do Sul, chegaram-nos as conclusões<br />
do estudo coordenado por Dana King, com uma amostra de 7 697 indivíduos.<br />
Aqueles que começam a beber na meia-idade têm 38% menos probabilidade<br />
de ter graves problemas cardíacos. Mesmo as pessoas que bebiam<br />
todos os dias tinham menos probabilidade de morrer de doenças cardíacas do<br />
que aquelas que bebiam entre 1 e 36 vezes por ano (AJM, Março/2008).<br />
É frequente acreditar-se que o álcool é agradável, consumindo-se<br />
“por prazer do paladar ou por excitações e ilusões que ele dá (...)”<br />
(Harichaux & Humbert, 1978, 44). Os limites do consumo tolerado pelo<br />
organismo: “não deve ultrapassar a dose quotidiana de 1 ml de álcool<br />
absoluto por quilo de peso do seu corpo” (idem, 45), podendo o efeito do<br />
álcool ser multiplicado se consumido em simultâneo com tranquilizantes.<br />
Ultrapassar aquele limite poderá conduzir o consumidor a danos individuais<br />
e sociais. Os danos individuais situam-se ao nível de doenças, provocadas<br />
pela acção do álcool sobre o corpo, nomeadamente, sobre o aparelho<br />
digestivo, sobre o estômago, podendo acarretar gastrites agudas ou<br />
crónicas, sobre o fígado, como a cirrose. Faz com que o organismo tenha<br />
um menor grau de resistência a doenças como a tuberculose, a pneumonia<br />
e a alguns casos de cancro.<br />
A acção do álcool atinge também os órgãos dos sentidos e o sistema<br />
nervoso, provocando perturbações do sono, irritabilidade, esgotamento,<br />
confusão mental, delírio do ciúme e a demência alcoólica, embora, por<br />
exemplo, investigadores espanhóis tenham efectuado, em 2003, um estu-<br />
92
do (AE, 08/Nov/<strong>2004</strong>, 25) com 300 adultos com o objectivo de demonstrar<br />
que os consumidores regulares de vinho tinto apresentam 57% de probabilidade<br />
inferior de contraírem, por exemplo, o cancro na laringe.<br />
Jonathan Powell foi o responsável pelo estudo conjunto da<br />
Universidade King’s College e do Hospital St. Thomas, que envolveu 2<br />
700 indivíduos, tendo concluído que o consumo de dois a três copos de<br />
cerveja ajuda a prevenir a osteoporose. O consumo de cerveja através das<br />
moléculas de ácido sílico estimulam a produção de colagéneo, proteína<br />
fibrosa fundamental para a maturação da estrutura dos ossos (CM,<br />
25/Jul/2003, 15). Segundo, também, as conclusões de um outro estudo da<br />
Universidade de Estremadura, em Espanha, divulgado em Agosto de<br />
<strong>2009</strong>, o consumo moderado de cerveja melhora a densidade dos ossos, no<br />
entanto os investigadores alertaram para a dificuldade de se definir um<br />
limite de dose saudável, na medida em que foi igualmente apurado que o<br />
consumo superior a duas doses de álcool é prejudicial ao ossos (DA,<br />
18/Ago/<strong>2009</strong>: 17).<br />
No 25.º congresso anual da Sociedade Europeia de Cardiologia16,<br />
foi defendida por Christos Papamichael uma propriedade existente no<br />
vinho tinto, mas não no álcool, capaz de conter o efeito nocivo do tabaco<br />
ao nível da disfunção arterial. O método defendido, que não funciona<br />
no fumador crónico, consiste em beber dois copos de vinho tinto, sem<br />
álcool, depois de fumar um cigarro, anulando deste modo a disfunção<br />
arterial causada pelo tabaco. No entanto, entre as várias bebidas alcoólicas<br />
existentes, o vinho é considerado tão nocivo como qualquer outra<br />
bebida com igual teor alcoólico.<br />
Estamos longe de assumir os benefícios do álcool sem o aprofundamento<br />
de mais estudos científicos que os fundamentem sobretudo devido ao<br />
risco de dependência provocada por uma conjugação de factores que ultrapassam<br />
as vontades individuais, entre eles factores de ordem genética, sociais,<br />
culturais, ambientais e evidentemente também de personalidade.<br />
Ao nível da descendência, o alcoolismo é tido como um factor de<br />
redução da fecundidade, aumenta a probabilidade do aborto involuntário,<br />
de partos prematuros, correndo os filhos de alcoólicos o risco de sofrerem<br />
de patologias tanto ao nível físico como ao nível mental.<br />
16 Decorreu em Viena, 1.ª Semana de Setembro/2003.<br />
Dependências e outras violências…<br />
93
Alberto Peixoto<br />
Realizado na Dinamarca, um estudo (DM, Set/2003), dirigido por<br />
Mette Juhl, do Instituto Serológico do Estado, com uma amostra de 30<br />
mil mulheres, demonstra que as mulheres que não consomem qualquer<br />
tipo de álcool têm mais dificuldade em engravidar. Entre as que consomem<br />
bebidas alcoólicas, as consumidoras de vinho apresentam maior<br />
fecundidade do que as consumidoras de cerveja ou bebidas espirituosas.<br />
Reconhecendo que o vinho não possui qualquer substância benéfica à<br />
fecundidade, explicou que a maior fecundidade se poderá dever a uma<br />
relação com o estilo de vida e alimentação das mulheres que preferem o<br />
vinho à cerveja.<br />
Uma equipa de investigadores das universidades de Turim e Florença<br />
concluíram que as mulheres que bebiam um ou dois copos de vinho tinto<br />
por dia tinham melhores pontuações nas categorias de desejo sexual, função<br />
sexual geral e lubrificação. O estudo foi realizado, por inquérito, a<br />
uma amostra de 798 mulheres da Toscânia, dividida em três grupos de<br />
acordo com as frequências de consumo: as mulheres que bebem um copo<br />
de vinho por dia; as mulheres abstémias; e as mulheres que consomem<br />
vinho ocasionalmente. Os cientistas do estudo atribuem aos polifenóis<br />
(substância existente no vinho) a causa da referida reacção.17<br />
Subhash Pandey, investigadora da Universidade de Illinois (CM,<br />
17/Jul/<strong>2004</strong>, 13), através do seu estudo, procurou definir qual a influência<br />
da família no alcoolismo. Conseguiu estabelecer uma relação entre os<br />
níveis elevados de ansiedade e o alcoolismo, ao verificar que são regulados<br />
pelo mesmo gene, o CREB, por entre 30 a 70% dos alcoólicos sofrerem<br />
também de ansiedade ou depressão.<br />
Um estudo da Universidade de Otago, Nova Zelândia, publicado a 2<br />
de Março de <strong>2009</strong>, na revista Archives of General Psychiatry, concluiu que<br />
o consumo abusivo de álcool aumenta o risco de o consumidor cair em<br />
depressão profunda (DA, 04/Mar/<strong>2009</strong>: 21).<br />
Investigadores do Seattle Children’s Research Institute, dos Estados<br />
Unidos da América, iniciaram um estudo em 1985 com jovens, de ambos<br />
os sexos, de 24, 27 e 30 anos e concluíram que existe uma relação entre o<br />
abuso de álcool, a obesidade e a depressão (DA, 01/Out/<strong>2009</strong>: 21).<br />
17 Disponível em http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1438242&seccao=Sa%FAde<br />
a 04/Dez/<strong>2009</strong>.<br />
94
Dependências e outras violências…<br />
O consumo de álcool antes de dormir é também apontado como um<br />
comportamento potenciador das consequências negativas para a saúde por<br />
dificultar o sono além de fazer acordar o consumidor, várias vezes, durante<br />
a noite. Enquanto, numa população comum, 10 a 15% dos indivíduos<br />
apresentava dificuldades em dormir, entre os consumidores, tal problema<br />
afectava 50% dos indivíduos, conforme demonstraram investigadores da<br />
Universidade de Calgary (ACER, Ago/2003).<br />
Cientistas da Universidade da Califórnia concluíram, ao fim de vários<br />
anos de estudo, que as mulheres consumidoras de bebidas alcoólicas,<br />
ainda que só duas vezes por dia, correm o dobro do risco de contraírem o<br />
cancro da mama. Se consumirem três vezes por dia, o risco quadruplica<br />
(BCR, Mai/2003).<br />
O consumo moderado ou excessivo de álcool é uma qualificação relativa<br />
em função de um conjunto de factores passíveis de influir na referida qualificação;<br />
no entanto estudos científicos efectuados definem consumo moderado<br />
o consumo continuado, nos homens, sem ultrapassar os 20-24 gramas de<br />
álcool por dia, e os 10-12 gramas por dia nas mulheres. Tais quantias correspondem<br />
a “duas latas de cerveja ou dois copos de vinho para os homens e<br />
uma lata ou um copo de vinho para as mulheres, por dia” (FS, Ago/<strong>2004</strong>, 24).<br />
Financiado pelo National Institute of Health, um estudo revela que o<br />
sexo feminino, na realidade, é mais propenso aos sintomas das ressacas,<br />
provocadas pelo consumo excessivo de álcool, sendo adiantada como<br />
hipótese explicativa o facto de as mulheres terem menor percentagem de<br />
água no organismo do que os homens, facilitando a intoxicação alcoólica<br />
(CA, 23/Set/2003, 12). O estudo referido fundamenta o quadro da relação<br />
estimada entre consumo de bebidas alcoólicas, sexo, peso e taxa de alcoolemia,<br />
utilizado pela Polícia de Segurança Pública para, a título demonstrativo,<br />
elucidar os condutores sobre as consequências do consumo de<br />
bebidas alcoólicas nos níveis de álcool no sangue, sendo de ressalvar que<br />
a absorção no sangue de álcool é mais facilmente concretizável, por exemplo,<br />
numa pessoa que não se tenha alimentado convenientemente.<br />
A relação estimada apresentada no quadro requer no entanto algumas<br />
ressalvas desde logo devido ao facto de as taxas apresentarem variações<br />
significativas, se os consumidores de álcool tiverem ou não ingerido alimentos,<br />
não deixando de ser demonstrativo um nexo de causalidade entre<br />
as variáveis em foco.<br />
95
Alberto Peixoto<br />
HOMEM 55 KG 60 KG 65 KG 75 KG 79 KG 80 KG 85 KG 90 KG<br />
1 /2 Litro cerveja 0,51 0,47 0,43 0,40 0,38 0,35 0,33 0,31<br />
1 /2 Litro vinho 11º 0,76 0,69 0,64 0,59 0,55 0,52 0,49 0,49<br />
1<br />
/2 Litro vinho 11º<br />
+ 1 Whisky<br />
+ 1 Cognac<br />
1,14 1,05 0,97 0,88 0,84 0,78 0,74 0,70<br />
MULHER 45 KG 50 KG 55 KG 60 KG 65 KG 70 KG 75 KG 80 KG<br />
1<br />
/2 Litro cerveja 0,74 0,66 0,60 0,55 0,51 0,47 0,44 0,41<br />
1 /2 Litro vinho 11º 1,08 0,97 0,88 0,81 0,75 0,60 0,65 0,61<br />
1<br />
/2 Litro vinho 11º<br />
+ 1 Whisky<br />
+ 1 Cognac<br />
1,63 1,47 1,34 1,22 1,13 1,05 0,98 0,92<br />
Quadro n.º 28 Relação estimada entre consumo de bebidas alcoólicas, sexo, peso e taxa de alcoolemia.<br />
(Fonte: PSP)<br />
É consensual que o álcool ou etanol provoca desinibição, euforia e<br />
tem efeitos sedativos, mas produz também a descoordenação motora e<br />
alterações do sistema nervoso, convulsões, tremores, cancro no fígado e<br />
cirroses, apesar da postura dos especialistas reticentes, invocando que os<br />
consumos moderados até apresentam propriedades benéficas. Estão também<br />
comprovadas as complicações provocadas pelo consumo de álcool no<br />
coração, podendo levar dias a desaparecer os seus efeitos mesmo em<br />
pequenas quantidades.<br />
A União Europeia tem assumido uma posição de combate ao consumo<br />
de álcool difundindo que tal substância conduz à dependência e provoca<br />
doenças mortais. Em Portugal, o consumo excessivo de álcool é apontado<br />
como a quarta causa de morte em consequência do desenvolvimento<br />
de doenças como cirroses, cancros diversos, problemas sexuais, além de<br />
não raras vezes fazer parte do perfil de indivíduos com elevada prevalência<br />
para o suicídio.<br />
A Irlanda, em 2003, fruto de um aumento de 50% do consumo de<br />
álcool, num período compreendido entre 1989 e 2001, abraçou uma campanha<br />
feroz contra o consumo de álcool, proibindo as happy hours que ora<br />
oferecem ora vendem bebidas alcoólicas a preços mais baixos em bares e<br />
discotecas, além de reforçarem a proibição da venda de bebidas a indiví-<br />
96
Dependências e outras violências…<br />
duos embriagados ou a menores de 18 anos, punindo com o encerramento<br />
temporário os bares que desrespeitem as normas.<br />
Os danos sociais do alcoolismo registam-se ao nível do trabalho<br />
(afectando a sua qualificação e a sua longevidade), da circulação rodoviária<br />
e dos tempos livres. É de salientar também a sinistralidade no trabalho<br />
cuja frequência é mais acentuada às Segundas-feiras, fruto de uma maior<br />
prevalência de consumo aos Domingos. Quanto à ocupação de tempos<br />
livres, o consumo de álcool pode ser apontado como um elemento potenciador<br />
da participação em actividades não saudáveis para o organismo, se<br />
tivermos em conta que, por exemplo, diminui a apetência para a prática de<br />
desporto. Convém relembrar, a título demonstrativo, que a Irlanda aponta<br />
o consumo excessivo de álcool como responsável por 30% da sinistralidade<br />
rodoviária e por 40% dos acidentes mortais em geral (CA,<br />
22/Ago/2003: 22). O alcoolismo, em França, é responsável por “um terço<br />
de acidentes na estrada” (Harichaux & Humbert, 1978: 13), sensivelmente<br />
o mesmo peso que apresenta na sinistralidade rodoviária em Portugal.<br />
Estima-se que, em Portugal, 1,8 milhões de pessoas abusem do consumo<br />
de álcool enquanto 800 000 pessoas serão dependentes (JP,<br />
26/Out/2003: 26). No entanto cremos que os números carecem de outra<br />
fundamentação, sendo essencial um maior rigor conceptual na definição<br />
do que é afinal um dependente de álcool.<br />
Portugal é um grande produtor de vinhos, e, em <strong>2004</strong> as exportações<br />
ultrapassaram os 8,9 milhões de euros (DA, 27/Fev/2005: 8). O Estado<br />
português já em 1997 tinha arrecadado em receitas fiscais com bebidas<br />
alcoólicas 860 milhões de contos (ALF, Nov/1999).<br />
No aspecto económico, no seio da família, “ (...) certos alcoólicos<br />
gastam na bebida 40 % do seu salário” (Harichaux & Humbert, 1978: 79)<br />
e, em França, o consumo de álcool “eleva-se anualmente a perto de nove<br />
milhões de hectolitros (...)” (idem, 107).<br />
O rácio médio anual dita que os portugueses consomem 10,8 litros de<br />
álcool puro correspondendo a 244 garrafas de litro de vinho (JP,<br />
26/Out/2003: 26); porém, mesmo assim, dois relatórios do Observatório<br />
Europeu das Drogas e da Toxicodependência, debruçando-se sobre os<br />
jovens de 15 e 16 anos de idade, conclui que Portugal apresenta a mais<br />
baixa taxa de consumo excessivo de álcool apesar de um em cada três<br />
jovens ter admitido que já se embriagou (AO, 23/Out/2003: 14).<br />
97
Alberto Peixoto<br />
Dados referentes a 2005 apontavam no sentido de cada português com<br />
mais de 15 anos consumir por ano uma média de 115 litros de bebidas<br />
alcoólicas. A cerveja, com 517 milhões de litros destacou-se como sendo<br />
a bebida mais consumida seguindo-se o vinho em crescendo, com 481<br />
milhões de litros e por fim as bebidas destiladas, com 6,7 milhões de litros,<br />
situando-se Portugal em sétimo lugar na lista de países consumidores de<br />
álcool, elaborada pela World Drink Trend (DN, 09/Abr/2006: 18).<br />
Partindo do rácio anteriormente apresentado, se tivermos presente<br />
que todos os vinhos e bebidas espirituosas têm de possuir selos com um<br />
custo unitário, por garrafa, de 0,016€, o Estado arrecada receitas muito<br />
significativas, sem termos em conta outras como as obtidas através do<br />
IVA, aposto sobre o valor da venda, IRS, tributado aos trabalhadores do<br />
sector, ou IRC, cobrado às empresas sobre os lucros obtidos com a venda<br />
de bebidas alcoólicas.<br />
Nos Açores, em 2002, segundo dados fornecidos por Daniel Mestre,<br />
na qualidade de Director da Direcção de Serviços do Comércio - Açores,<br />
foram arrecadados, no total, 29 434,04€ com a venda de selos para bebidas<br />
regionais e importadas.<br />
No ano 2000, foram produzidos na região 168 131 litros de licor, avaliados<br />
em cerca de um milhão e quinhentos mil euros. Do total da produção,<br />
75% foi consumida nos Açores, tendo os restantes 25% sido exportados<br />
sobretudo para os Estados Unidos da América e Canadá.<br />
Dada a grande quantidade de estabelecimentos que comercializam bebidas<br />
alcoólicas, é difícil achar-se um número que espelhe o volume da comercialização<br />
e consumo de tais bebidas nos Açores. Utilizando como referência<br />
o volume de vendas dos dois hipermercados de Ponta Delgada, constatámos<br />
que no ano 2000 tinham sido comercializados pelo Hiper Solmar,<br />
2 244 967,86€, em 2001, 2 235 879,89€ e, em 2002, 2 579 203,97€.<br />
O Hiper Modelo tinha comercializado, em 2000, 2 676 276,00€, em 2001,<br />
3 326 593,00€, e, 2 973 640,00€, em 2002.<br />
O crescimento significativo das vendas do Hiper Modelo, em 2001,<br />
ficou a dever-se às campanhas promocionais desenvolvidas para a venda<br />
de cerveja, demonstrando como é fácil levar a população em geral a consumir<br />
mais bebidas alcoólicas. A mesma empresa, em 2002, comercializou<br />
na Horta 153 063,00€, na Praia da Vitória, 782 263,63€ e, em Angra do<br />
Heroísmo, 1 657 025,00€.<br />
98
Dependências e outras violências…<br />
Inegavelmente a comercialização das bebidas alcoólicas é também um<br />
bom negócio para as finanças dos Estados, embora todos os lucros se diluam<br />
nas despesas de saúde resultantes das doenças provocadas pelo consumo<br />
excessivo de álcool, estimando-se que, em Portugal, em termos de tratamento<br />
médico, cada alcoólico custe ao Estado, por ano, cerca de 169 000,00€.<br />
Na Noruega, os gastos do Estado com este problema atingem os 2,21 mil<br />
milhões de euros/ano. Preocupados com esta problemática, os cinco Países<br />
Nórdicos, Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia e Islândia, acordaram<br />
pressionar a União Europeia para que fossem aumentados os impostos sobre<br />
o álcool para valores próximos dos praticados naqueles países, contribuindo,<br />
assim, para uma redução do consumo de álcool e das cotas de importação<br />
para a União Europeia (DA, 03/Nov/<strong>2004</strong>: 9).<br />
Não deixa de ser curioso que em relação aos licores e aguardentes<br />
produzidos nos Açores, em <strong>2009</strong>, o Parlamento Europeu tenha aprovado<br />
uma proposta, que mantém, até 2011, uma redução da taxa de imposto até<br />
75% do valor cobrado a nível nacional, situação que vigora desde 2002<br />
como forma de protecção de um sector que na região assegura 90 postos<br />
de trabalho (DA, 21/Out/<strong>2009</strong>: 6).<br />
Os Açores são produtores de vinhos e licores, existindo 14 marcas oficialmente<br />
reconhecidas: oito marcas de vinhos brancos, quatro marcas de<br />
tintos e três marcas licorosas. Na safra de 2003, foram produzidos 1,7<br />
milhões de litros de vinho de cheiro nas Ilhas de Santa Maria, São Miguel,<br />
Terceira, Pico e Graciosa enquanto, de licores, foram produzidos 150 400<br />
litros, dos quais 137 600 só no Pico.<br />
Na ilha Terceira, conscientes deste problema, os técnicos da Casa de<br />
São Rafael optaram por desenvolver um projecto tendo em vista a sensibilização<br />
para o tratamento da dependência do álcool. Todavia a decisão partiu<br />
de uma intuição sem qualquer estudo regional que a fundamentasse,<br />
conforme fez questão de recordar Fernando Rosas, responsável pelo projecto<br />
(CA, 24/Set/2003: 3), visando a identificação de dependentes de<br />
álcool e consequente motivação para a sujeição ao tratamento.<br />
Segundo dados dos últimos anos do Hospital de Santo Espírito, em<br />
Angra do Heroísmo, têm sido internadas, em média, 380 pessoas por ano,<br />
200 homens e 180 mulheres, devido a problemas resultantes do consumo<br />
excessivo de álcool, existindo ainda mais 250 toxicodependentes a fazerem<br />
tratamento com metadona e brufernofina.<br />
99
Alberto Peixoto<br />
Em São Miguel, além da Casa de Saúde, situada na Fajã de Baixo, que<br />
intervém no tratamento e prevenção da Toxicodependência em geral, o<br />
Centro de Alcoólicos Recuperados dos Açores, desde 1984, procura também<br />
intervir em termos preventivos e da motivação para o tratamento da<br />
dependência do álcool, mas, como admitiu então Luís Gonzaga, na qualidade<br />
de Presidente do referido Centro, há muito a fazer e não é de esconder<br />
a falta de entendimento entre as entidades com capacidade para combaterem<br />
o alcoolismo (AE, 01/Dez/2003: 18-19).<br />
Na Casa de Saúde de São Miguel, entre 1991 e 2000, passaram por ali<br />
1 018 homens e 30 mulheres, além de mais 945 reincidentes (AO, 15/Jun/2003:<br />
2-3). Em 2002, foram tratadas 181 pessoas dependentes de álcool, com uma<br />
média de idades de 42 anos, 166 homens e 15 mulheres. No primeiro semestre<br />
de 2003, foram internadas 225 pessoas, 203 homens e 22 mulheres.<br />
Também do Arquipélago da Madeira nos chegou a preocupação da<br />
Casa de Saúde de São João de Deus com o problema do álcool, multiplicando-se<br />
as acções de sensibilização naquela região, que contará com 35 000<br />
dependentes, quando há 10 anos atrás eram 26 000, números estes estimados<br />
pela Associação de Alcoologia «Mão Amiga» e pela referida Casa de<br />
Saúde (DNM, 21/Set/2003: 4). Ali o consumo de álcool é apresentado,<br />
sobretudo, como uma questão cultural que tolera o álcool devido ao isolamento,<br />
servindo de ocupação do tempo de lazer. A embriaguez pode mesmo<br />
ser um motivo de vaidade que começa aos 11 anos de idade, conforme afirmou<br />
Aires Gameiro, na qualidade de director da Casa de Saúde (idem 4).<br />
A nível nacional, nos centros de tratamento de toxicodependentes em<br />
geral, existem 1 200 camas disponíveis, das quais 700 estão vagas, havendo<br />
em média apenas 500 regularmente utilizadas estando 60% a 70% ocupadas<br />
por dependentes de álcool. Tal dado é revelador de uma falha significativa<br />
ao nível da motivação dos dependentes para o tratamento, constituindo-se<br />
como o principal problema nesta matéria.<br />
Entre 15 mil pessoas, com idades compreendidas entre os 15 e os 65<br />
anos de idade, inquiridas pela Universidade Nova de Lisboa, em 2001, chegou-se<br />
à conclusão de que 75,6% da população portuguesa consumia álcool<br />
com regularidade. Nos Açores, em <strong>2004</strong>, através da população inquirida,<br />
concluiu-se que 54,5% dos açorianos admitia consumir regularmente bebidas<br />
alcoólicas contra 45,5%, que negou fazê-lo. Em <strong>2009</strong>, registou-se uma<br />
ligeira subida de 1,2%, constituindo os consumidores regulares de bebidas<br />
100
alcoólicas 55,7% do total da população açoriana. Os Açores continuam a<br />
apresentar taxas de prevalência de consumo inferiores à média nacional.<br />
Se considerarmos que a população, em <strong>2004</strong>, era de 241 763 habitantes<br />
e, em <strong>2009</strong>, segundo a mais recente estimativa para a população residente,<br />
244 780 habitantes, então assistimos a um crescimento da população de 1,2%,<br />
ou seja, precisamente o mesmo valor do aumento no consumo de bebidas<br />
alcoólicas. Nesse caso, não se pode falar em aumento do consumo de bebidas<br />
alcoólicas, mas sim numa estabilização durante o período em estudo.<br />
COSTUMA CONSUMIR BEBIDAS ALCOÓLICAS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Sim 54,5 55,7<br />
Não 45,5 43,3<br />
Quadro n. º 29 Consumo regular de álcool nos Açores.<br />
Dependências e outras violências…<br />
Através da nossa estimativa em termos absolutos, nos Açores, existiam,<br />
em <strong>2004</strong>, 131 760 e, em <strong>2009</strong>, 136 342 indivíduos consumidores<br />
regulares de álcool. Mais 4 582 que em <strong>2004</strong>, perfazendo em média, mais<br />
916 novos consumidores por ano. 18<br />
Diversos especialistas, entre eles Domingos Neto, consideram que<br />
não se deve falar em alcoolismo como o problema mais grave, mas sim em<br />
abuso de álcool em geral por melhor cobrir tal problemática, entrando<br />
neste conceito todos os consumidores diários, semanais e ocasionais que<br />
consomem em excesso.<br />
Na realidade os dependentes de álcool, que consomem diariamente, e<br />
mesmo aqueles que, não sendo dependentes, consomem todos os dias, são<br />
uma pequena parte em relação aos demais com consumos semanais e/ou ocasionais.<br />
Os dados referentes aos Açores em ambas as análises são bem esclarecedores<br />
da referida tese na medida em que os consumidores semanais e ocasionais<br />
eram 83,1%, em <strong>2004</strong>, e 86,9%, em <strong>2009</strong>, enquanto os consumidores<br />
diários de bebidas alcoólicas eram 16,9%, em <strong>2004</strong>, e 13,1%, em <strong>2009</strong>.<br />
18 Continua a ser extremamente difícil saber-se quantos são os alcoólicos, porque o conceito<br />
de dependente de álcool é complexo até porque além dos considerados dependentes<br />
existem os condutores problemáticos que ocasionalmente abusam do álcool, nomeadamente<br />
aos fins-de-semana, desencadeando, por exemplo, problemas gravíssimos ao<br />
nível da sinistralidade.<br />
101
Alberto Peixoto<br />
Se atendermos ao fenómeno da dependência e à sua gravidade, é possível<br />
identificarmos diferentes níveis, formando uma pirâmide com três partes:<br />
ocupa a base o consumo ocasional, sem existir uma dependência, intoxicações<br />
ocasionais de consequências multifacetadas; num segundo nível,<br />
ou nível intermédio, surgem os consumidores regulares já numa situação de<br />
dependência, na maior parte dos casos, inconsciente, embora consigam<br />
desenvolver as suas relações interpessoais ao nível familiar, profissional e<br />
social de forma aceitável. Não conseguem deixar de consumir bebidas alcoólicas<br />
com regularidade; no topo da pirâmide, situam-se os dependentes<br />
com situações graves de consumo com afectação global da vivência.<br />
Ao precisar a regularidade e gravidade do consumo de bebidas alcoólicas,<br />
no universo de consumidores, constatamos que, em <strong>2004</strong>, 16,9%<br />
consumia todos os dias, correspondendo a 21 950 açorianos. O consumo<br />
semanal era praticado por 14,3% dos consumidores, ou seja, 18 260 açorianos,<br />
e o consumo ocasional era efectuado por 68,8% dos indivíduos,<br />
equivalendo a um grupo de 89 238 açorianos.<br />
REGULARIDADE DO <strong>2004</strong> (%) N.ºs ABSOLUTOS, <strong>2009</strong> (%) N.ºs ABSOLUTOS,<br />
CONSUMO DE ÁLCOOL AÇORES <strong>2004</strong> AÇORES <strong>2009</strong><br />
Diária 16,9 21 950 13,1 17 860<br />
Semanal 14,3 18 260 13,4 18 269<br />
Ocasional 68,8 89 238 73,5 100 211<br />
Quadro n.º 30 Regularidade do consumo de álcool a nível Açores.<br />
Em <strong>2009</strong>, registou-se uma diminuição de 3,8% no consumo diário de<br />
álcool, sendo em nosso entender o dado apurado mais positivo em relação<br />
aos hábitos de consumo de álcool. Em termos absolutos não se registou<br />
qualquer alteração no número de consumidores semanais (18 260, em<br />
<strong>2004</strong>, e, 18 269, em <strong>2009</strong>). O aumento mais significativo foi ao nível do<br />
consumo ocasional tendo-se passado de 89 238 para 100 211, o que, à luz<br />
de algumas das teses aludidas no presente estudo, se for feito com moderação,<br />
até pode ser considerado benéfico para a saúde.<br />
Por sexos, são os homens os principais consumidores, ao terem<br />
apresentado, em <strong>2004</strong>, um agrupamento de 70% dos inquiridos, enquanto<br />
30% eram mulheres, ou seja, nos Açores, tínhamos 92 232 homens e<br />
102
39 528 mulheres. Em <strong>2009</strong>, de um universo de 136 342 consumidores<br />
regulares de álcool, 79 896 (58,6%) eram homens e 56 446 (41,4%)<br />
mulheres, continuando os homens a estar em maioria, apesar de as<br />
mulheres com um aumento de 11,4% em relação a <strong>2004</strong>, estarem a caminhar<br />
para a paridade também nesta matéria.<br />
SEXO CONSUMO REGULAR CONSUMO REGULAR<br />
DE ÁLCOOL <strong>2004</strong> (%) DE ÁLCOOL <strong>2009</strong> (%)<br />
Masculino 70,0 58,6<br />
Feminino 30,0 41,4<br />
Quadro n.º 31 Consumo regular de álcool por sexos.<br />
Dependências e outras violências…<br />
O consumo de álcool entre as mulheres tem aumentado ao longo dos<br />
últimos anos, o que não poderá ser dissociado de uma maior participação<br />
activa feminina a nível social. Prevê-se mesmo que seja um fenómeno em<br />
crescimento, conforme demonstrou Rui Correia da Associação Alcoólicos<br />
Anónimos, composta por 83 grupos, da qual era presidente (CM,<br />
06/Nov/<strong>2004</strong>: 17). Nos últimos dez anos, duplicou o número de mulheres<br />
participantes nas reuniões, tendo as mulheres, em <strong>2004</strong>, agrupado 30% dos<br />
utentes, o que corresponde à dimensão da prevalência feminina do consumo<br />
de bebidas alcoólicas, nos Açores, embora, em 2007, aquele agrupamento<br />
tenha diminuído para 25% (DA, 19/Mar/2008: 24).<br />
Todos os dados disponíveis indicam que está a aumentar o número de<br />
mulheres consumidoras apesar de estas demonstrarem que têm maior dificuldade<br />
em abandonar o consumo que os homens.<br />
Em <strong>2009</strong>, Paula Sucena, em representação dos Alcoólicos Anónimos,<br />
anunciou que o número de alcoólicos em Portugal está a diminuir, embora<br />
se denotem novas formas de consumo e um aumento de pessoas dependentes<br />
a tentarem o abandono da dependência (DA, 04/Nov/<strong>2009</strong>: 17).<br />
Os homens, além de no geral apresentarem uma prevalência de consumo<br />
de álcool muito superior às mulheres, também apresentam maior regularidade<br />
de consumo. Em <strong>2004</strong>, no total dos indivíduos que consumiam<br />
bebidas alcoólicas todos os dias, 89% eram homens e apenas 11% das<br />
mulheres se encontravam no mesmo patamar de consumo. No consumo<br />
regular semanal, 76% dos consumidores eram homens contra os 23,9% de<br />
consumidores femininos. Relativamente ao consumo ocasional, a preva-<br />
103
Alberto Peixoto<br />
lência feminina aproximava-se da masculina por, do total de consumidores<br />
ocasionais, 55,5% serem homens contra 44,5% de mulheres.<br />
Em <strong>2009</strong>, assistiu-se a um ligeiro agravamento da intensidade de consumo<br />
diário e semanal entre os homens, enquanto o agravamento do<br />
número de mulheres consumidoras se situa a nível ocasional. Foi ao nível<br />
do consumo diário feminino que se registou a diminuição de consumo<br />
mais significativo.<br />
REGULARIDADE DO Masculino Feminino Masculino Feminino<br />
CONSUMO DE ÁLCOOL <strong>2004</strong> (%) <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Diária 89,0 11,0 90,9 9,1<br />
Semanal 76,1 23,9 77,9 22,1<br />
Ocasional 55,5 44,5 49,5 50,5<br />
Quadro n.º 32 Regularidade do consumo de álcool a nível Açores.<br />
É notório que, em ambos os momentos de análise da sociedade açoriana,<br />
com o aumento da regularidade de consumo, diminui o número de<br />
mulheres em relação aos homens, ficando clara a ideia de que as mulheres,<br />
no geral, bebem menos e as que o fazem, por norma, fazem-no com<br />
menos regularidade do que os homens, são, portanto, muito mais moderadas<br />
no consumo.<br />
O alcoolismo feminino, no mundo ocidental, está em progressão,<br />
fruto em parte da crescente profissionalização do sector e respectiva intensificação<br />
das relações sociais, resultante da participação em almoços, jantares<br />
e convívios, facilitando o alcoolismo “mundano” (Harichaux &<br />
Humbert, 1978: 87), caracterizado como sendo o consumo de álcool<br />
segundo os critérios de elegância e de bom gosto.<br />
Sem se conseguir quantificar a taxa de crescimento do consumo feminino<br />
de álcool nos Açores, até <strong>2004</strong>, sabemos que até <strong>2009</strong> cresceu 11,4%<br />
sendo sem margem para dúvida a substância que apresenta a mais elevada<br />
taxa de crescimento entre as mulheres.<br />
O consumo de álcool é cada vez mais atractivo, sobretudo para os<br />
jovens, resultando tal conjuntura de todo um conjunto de propriedades<br />
atribuídas ao álcool, predominantemente míticas, que têm subsistido<br />
no tempo, apesar das campanhas de informação. Tem sido demonstra-<br />
104
Dependências e outras violências…<br />
do que o álcool não dá alegria, não diverte, não aumenta a potência<br />
sexual, não produz calor, não mata a sede, não abre o apetite, não<br />
ajuda a digestão, não dá força, não alimenta e não tem qualidades<br />
medicinais.<br />
Uma investigação realizada por cientistas da Universidade de Bristol,<br />
na Grã-Bretanha, demonstrou que o consumo de álcool afecta a percepção<br />
de beleza. Uma pessoa de 70kg, depois de consumir 250ml de vinho,<br />
começa a achar os demais que a rodeiam mais bonitos. Uma outra abordagem,<br />
realizada na Universidade de Yale, na mesma linha, também<br />
demonstrou que as pessoas, após consumirem bebidas alcoólicas, tendem<br />
a assumir comportamentos sexuais mais arriscados. Tornam-se mais<br />
sedutoras e ao mesmo tempo deixam-se seduzir mais facilmente (DA,<br />
23/Ago/2008: 23). Tais conclusões podem ajudar a explicar a representação<br />
social de que o álcool é um facilitador da iniciação de relações interpessoais<br />
e que chega mesmo a afectar as representações construídas sobre<br />
os outros que as rodeiam.<br />
Um outro estudo sobre as motivações do consumo de álcool, realizado<br />
em Março de <strong>2009</strong>, a pedido da Associação Nacional de Empresas de<br />
Bebidas Espirituosas, revelou que 89,9% dos consumidores de álcool<br />
faziam-no por apreciarem beber e 25,9% disseram que bebiam por uma<br />
questão de socialização. Sete em cada dez portugueses, que saíam à noite,<br />
consumiam álcool, enquanto 13,3% consumiam poucas vezes e 12, 2%<br />
raramente (DA, 25/Abr/<strong>2009</strong>: 11).<br />
Partindo das motivações de consumo de álcool, identificadas num<br />
estudo, em Inglaterra, foi efectuada uma tipologia de consumidores e lançada<br />
uma campanha direccionada para cada uma. Foram, assim, identificados<br />
os consumidores deprimidos; os stressados; os sociais; os conformistas;<br />
os comunitários; os entediados; os machões; os hedonistas; os<br />
quase dependentes (DA, 20/Set/2008: 14).<br />
Quando procurámos saber a motivação dos consumidores de álcool<br />
nos Açores, verificámos que as representações e os mitos continuam bem<br />
presentes. Em <strong>2004</strong>, 45,5% dos consumidores de álcool diziam fazê-lo<br />
para sentir prazer enquanto, em <strong>2009</strong>, o consumo por prazer chegou a<br />
49,3%, registando-se um aumento na busca de prazer.<br />
105
Alberto Peixoto<br />
MITOS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Não sentir frio 1,2 0,5<br />
Refrescar-se 19,5 15,2<br />
Sentir-se desinibido 10,0 8,8<br />
Sentir-se calmo 1,2 1,1<br />
Ter coragem 1,0 0,6<br />
Ter mais força/potência 2,0 0,1<br />
Esquecer 2,3 0,9<br />
Sentir prazer 45,5 49,3<br />
Outro 17,3 23,5<br />
Quadro n.º 33 Principais mitos que justificam o consumo de<br />
álcool nos Açores.<br />
Em <strong>2004</strong>, refrescar-se, ao consumir álcool, era o objectivo de 19,5%<br />
dos consumidores, enquanto 17,5% optava por outro motivo não especificado<br />
para o consumo. A procura de desinibição era invocada por 10% dos consumidores<br />
e 2% invocava a procura do aumento da força/potência ou o querer<br />
esquecer algo. O não sentir frio, sentir-se calmo ou a procura de coragem,<br />
reunia cada um destes mitos 1,2% dos consumidores.<br />
Em <strong>2009</strong>, apesar de algumas alterações, mantiveram-se as tendências<br />
das motivações de consumo, sendo que 15,2% consumiam para se refrescar,<br />
8,8%, para se sentirem desinibidos, 1,1%, para se sentirem calmos, 0,9%,<br />
para esquecer, 0,6%, para ter coragem, 0,5%, para não sentir frio, 0,1%,<br />
para ter força/potência, e 23,5%, por motivo diverso. Em relação ao motivo<br />
diverso, apurou-se que, em primeiro lugar, surgia o beber social, o beber<br />
associado à alimentação e o beber no âmbito da diversão. Em síntese, há<br />
uma tendência crescente para o consumo associado ao prazer e diversão.<br />
O consumo de álcool e o alcance de prazer/gosto tem motivado a imaginação<br />
para esconder a detecção de tal comportamento sem que tenha de<br />
se abster, sendo tal intento conseguido através da administração de um<br />
produto farmacêutico denominado de Moderarão, um composto de hidratos<br />
de carbono que se dissolve na água e é consumido entre 15 a 30 minutos<br />
antes da ingestão de álcool. O produto foi comercializado em Espanha<br />
apenas durante uma semana, tendo sido ordenada a sua retirada do mercado<br />
pelo Ministro da Saúde espanhol por incentivar o consumo de álcool.<br />
106
Dependências e outras violências…<br />
Também foi veiculado que estaria à venda em Portugal, mas, apesar das<br />
diligências efectuadas pelas autoridades portuguesas, não foi detectado<br />
nenhum caso (CA, 27/Ago/2003: 18).<br />
Talvez a crença mítica em algumas propriedades do álcool seja motivo<br />
para que alguns condutores e consumidores tenham procedimentos<br />
igualmente míticos, como comer cebola crua, após o consumo de álcool,<br />
ingerir quantidades excessivas de água para iludir a detecção por parte das<br />
autoridades policiais em vez de se absterem de consumir.<br />
Conforme representado no quadro da prevalência de consumo de álcool,<br />
há variações bastante significativas de ilha para ilha, tendo surgido, em<br />
<strong>2004</strong>, a ilha de São Jorge com a mais elevada taxa de consumo regular.<br />
Porém, em <strong>2009</strong>, cedeu o lugar a Santa Maria (64%), tendo São Jorge revelado<br />
a mais acentuada quebra ao passar de 70% para 51% da população com<br />
consumo regular de bebidas alcoólicas. 19 No panorama açoriano, em segundo<br />
lugar, surgiu a ilha do Pico, com 62% da população, em <strong>2004</strong>, e 57%, em<br />
<strong>2009</strong>, representando uma quebra de cinco pontos percentuais.<br />
ILHA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%) Variação (%)<br />
Corvo 22,0 56,0 +34,0<br />
Faial 57,0 49,0 -13,0<br />
Flores 27,0 53,0 +21,0<br />
Graciosa 56,0 50,0 -6,0<br />
Pico 62,0 57,0 -5,0<br />
São Jorge 70,0 51,0 -19,0<br />
São Miguel 55,0 57,0 +2,0<br />
Santa Maria 47,0 64,0 +17,0<br />
Terceira 48,0 45,0 -3,0<br />
MÉDIA AÇORES 54,5 55,7 + 1,2<br />
,Quadro n.º 34 Percentagem da população consumidora de álcool<br />
por ilha.<br />
19 Dizem-nos os muitos estudos sobre comportamentos sociais e humanos que estes tendem<br />
para não sofrer alterações acentuadas ao longo do tempo, na medida em que os seres<br />
humanos são, por natureza, congruentes e tendem a manter os seus hábitos e tendências.<br />
Por seu turno, tal como Hegel, acreditamos que não é possível modificar comportamentos<br />
sociais sem ser através da força e/ou do constrangimento normativo. Entenda-se força não<br />
só em sentido físico, mas também a força das circunstâncias, como, por exemplo, uma<br />
doença, a falta de dinheiro, resultante do desemprego, entre outras. Tendo sido seguidos<br />
107
Alberto Peixoto<br />
Em São Miguel, aumentou a prevalência de consumo de bebidas<br />
alcoólicas em dois pontos percentuais enquanto, na Graciosa, diminuiu<br />
seis pontos, na ilha do Faial, diminuiu treze, no Pico, diminuiu cinco,<br />
e, na Terceira, diminuiu três. Corvo, Flores e Santa Maria apresentaram<br />
as mais elevadas taxas de crescimento.<br />
O baixo consumo de bebidas alcoólicas nas Flores e Corvo, em<br />
<strong>2004</strong>, reveste-se de uma particularidade que se perde no tempo, conforme<br />
foi retratado pelo antropólogo José Leite Vasconcellos. Ali não<br />
se produziam bebidas alcoólicas, por isso eram só consumidas pelas<br />
festas. A alternativa era o leite e o café, feito de forma “muito rudimentar:<br />
torram favas, envolvem-nas num pano, e depois batem neste<br />
com um martelo, uma pedra, ou um simples pau. Empregar para isto<br />
um moinho, seria luxo demasiado!” (Vasconcellos, 1926: 42). Os<br />
dados referentes a <strong>2009</strong>, podem indiciar que estamos perante profundas<br />
alterações nos comportamentos individuais bem como nos hábitos<br />
sociais e que certamente merecem ser alvo de outras investigações<br />
sociológicas.<br />
Panorama bastante diferenciado foi o recolhido através da avaliação<br />
da prevalência de consumo de bebidas alcoólicas concelho a concelho,<br />
tendo surgido, em <strong>2004</strong>, o concelho das Lajes do Pico com a<br />
taxa média mais elevada dos Açores, seguindo-se o concelho das Velas<br />
de São Jorge, com 76,2%, Calheta de São Jorge, com 66,7%, Ponta<br />
Delgada, com 61,9%, Povoação, com 59,7%, Horta, com 56,8%, Santa<br />
Cruz da Graciosa, com 56,4%, e o concelho de Lagoa, com 55%. Com<br />
uma taxa igual à taxa média açoriana surgiu o concelho de Ribeira<br />
Grande, com 54,5%, seguindo-se, abaixo da média, Madalena, com<br />
51,5%, Vila Franca do Campo, com 51%, Praia da Vitória, com 47,9%,<br />
Angra do Heroísmo, com 47,9%, Vila do Nordeste, com 44%, São<br />
Roque do Pico, com 31,7%, Lajes das Flores, com 27,7%, Santa Cruz<br />
das Flores, com 26,3% e por último surgiu o concelho do Corvo, com<br />
22%, apresentando a mais baixa taxa de consumo regular de bebidas<br />
alcoólicas.<br />
com rigor os procedimentos metodológicos, acreditamos que, apesar de algumas diferenças<br />
muito acentuadas entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>, elas espelham a realidade social, embora em<br />
alguns casos não tenham sido identificadas as causas das transformações, carecendo as<br />
possíveis respostas de aprofundamento ao nível de outras investigações científicas.<br />
108
CONCELHOS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Angra do Heroísmo 47,9 46,5<br />
Calheta de São Jorge 66,7 46,8<br />
Corvo 22,0 56,0<br />
Horta 56,8 49,0<br />
Lagoa 55,0 45,3<br />
Lajes das Flores 27,7 51,0<br />
Lajes do Pico 94,2 63,0<br />
Madalena 51,5 50,0<br />
Nordeste 44,0 40,2<br />
Ponta Delgada 61,9 56,9<br />
Povoação 59,7 70,8<br />
Praia da Vitória 47,9 47,8<br />
Ribeira Grande 54,5 70,1<br />
São Roque do Pico 31,7 47,9<br />
Santa Cruz da Graciosa 56,4 50,0<br />
Santa Cruz das Flores 26,3 55,3<br />
Velas de São Jorge 76,2 61,8<br />
Vila do Porto 47,0 64,0<br />
Vila Franca do Campo 51,0 50,7<br />
Quadro n.º 35 Consumo de álcool por concelhos.<br />
Dependências e outras violências…<br />
Em <strong>2009</strong>, dos 19 concelhos, em 12, nomeadamente, Santa Cruz da<br />
Graciosa, Lagoa, Horta, Angra do Heroísmo, Praia da Vitória, Calheta e<br />
Velas de São Jorge, Lajes do Pico, Madalena, Nordeste, Ponta Delgada e<br />
Vila Franca do Campo, registou-se decréscimo no consumo de bebidas<br />
alcoólicas, em particular na regularidade de consumo diário. Em sentido<br />
contrário, nos concelhos do Corvo, Lajes e Santa Cruz das Flores,<br />
Povoação, Ribeira Grande e São Roque do Pico a prevalência do consumo<br />
aumentou.<br />
Procurando-se dissecar um pouco mais a informação recolhida com<br />
os nossos estudos, verificaram-se outras diferenciações bastante significativas.<br />
Se as Flores e Corvo, em <strong>2004</strong>, apresentavam as mais baixas taxas<br />
de consumo regular de álcool, o mesmo já não se pode afirmar quanto à<br />
regularidade de consumo visto ter sido precisamente a ilha das Flores que,<br />
109
Alberto Peixoto<br />
com 39,5%, apresentava a mais elevada taxa de consumo diário de bebidas<br />
alcoólicas, seguindo-se a Graciosa, com uma taxa de 37,1%, e o Corvo<br />
apresentava a terceira mais elevada taxa diária de consumo, com 27% dos<br />
consumidores. O Faial apresentava uma taxa diária de consumo de 26,1%,<br />
seguindo-se São Jorge, que, apesar de ter uma taxa de consumo regular de<br />
70%, apenas 21,5% consumia bebidas alcoólicas todos os dias. São<br />
Miguel, com uma taxa de consumo regular de 55%, é a ilha em que os consumidores<br />
apresentam a mais baixa prevalência diária de consumo, com<br />
11,4%.<br />
REGULARIDADE DE Diário Diário Semanal Semanal Ocasional Ocasional<br />
CONSUMO DE <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
ÁLCOOL POR ILHA (%) (%) (%) (%) (%) (%)<br />
Corvo 27,0 15,4 18,2 26,9 54,8 57,7<br />
Faial 26,1 14,3 21,1 20,9 52,8 64,8<br />
Flores 39,5 15,4 6,5 17,9 54,0 66,7<br />
Graciosa 37,1 20,0 0,9 9,8 62,0 70,2<br />
Pico 13,4 22,6 6,8 9,0 79,8 68,4<br />
São Jorge 21,5 24,7 24,2 9,7 54,3 65,6<br />
São Miguel 11,4 10,9 18,2 11,2 70,4 77,9<br />
Santa Maria 18,2 6,7 10,1 29,2 71,7 64,1<br />
Terceira 18,9 15,2 6,7 12,6 74,4 72,2<br />
MÉDIA AÇORES 17,2 13,1 14,7 13,4 68,1 73,5<br />
Quadro n.º 36 Regularidade do consumo de álcool por ilhas.<br />
Em termos médios, entre consumidores, nos Açores, em <strong>2004</strong>, a regularidade<br />
de consumo diário era de 17,2%, enquanto o consumo semanal<br />
era de 14,7% e o consumo ocasional situava-se nos 68,1%. Em <strong>2009</strong>,<br />
diminuiu para 13,1% o consumo diário, bem como o consumo semanal,<br />
para 13,4%, tendo aumentado o consumo ocasional de 68,1 para 73,5%.<br />
Apenas no Pico e em São Jorge não se registaram diminuições na regularidade<br />
de consumo diário.<br />
A redução da regularidade de consumo de bebidas alcoólicas poderá<br />
estar associada sobretudo às questões económicas, materializadas num<br />
decréscimo do rendimento disponível das famílias.<br />
110
Dependências e outras violências…<br />
A cerveja, nos dois momentos, apresentou-se como a bebida alcoólica<br />
mais consumida pelos açorianos, obtendo a preferência de 43,5% dos<br />
consumidores, em <strong>2004</strong>, e 39,4%, em <strong>2009</strong>. O vinho recolheu a preferência<br />
de 25,6%, em <strong>2004</strong>, e 23,9% em <strong>2009</strong>. Em <strong>2004</strong>, em relação ao<br />
whisky, 3,6% disseram consumi-lo e 21,5% disseram preferir outras bebidas<br />
alcoólicas para além das especificadas.<br />
A especificação de bebidas destiladas junto do Whisky, no inquérito<br />
de <strong>2009</strong>, levou a uma inversão dos valores, permitindo concluir que tais<br />
bebidas depois da cerveja são as preferidas dos açorianos.<br />
Tal como tinha sido detectado no estudo realizado em 17 países europeus<br />
e divulgado em <strong>2009</strong> (DA, 8/Jan/<strong>2009</strong>: 12), é possível afirmar-se<br />
que são diferenciadas as preferências por cada uma das bebidas alcoólicas<br />
em função do género do consumidor. Os homens (55%) maioritariamente<br />
preferiam a cerveja seguindo-se o vinho (32%) enquanto entre as<br />
mulheres 49% preferiam o vinho em primeiro lugar e em segundo a cerveja<br />
(30%). Nos Açores detectámos que as preferências dos homens são<br />
diferentes em relação às mulheres. Em <strong>2009</strong>, 50,8% dos homens consumidores<br />
preferiam a cerveja, 24,8%, o vinho, 23,9%, o whisky e as bebidas<br />
destiladas, e 0,5%, outras. Entre as mulheres, 35,3% preferiam as<br />
bebidas destiladas, 32,9%, a cerveja, 28,3%, o vinho, e 3,5%, outras,<br />
nomeadamente os licores.<br />
TIPO DE BEBIDA ALCOÓLICA CONSUMIDA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Cerveja 43,5 39,4<br />
Outra 21,5 1,6*<br />
Vinho 25,6 23,9<br />
Whisky/ bebidas destiladas 3,6 27,3*<br />
POLICONSUMO 5,8 7,8<br />
Quadro n.º 37 Tipo de bebidas alcoólicas consumidas nos Açores.<br />
* No inquérito de <strong>2009</strong>, optou-se por acrescentar à opção de resposta<br />
Whisky, a opção, bebidas destiladas, o que terá sido responsável pela alteração<br />
tão acentuada nos valores.<br />
Ao nível do tipo de bebidas alcoólicas, é possível afirmar-se que os<br />
consumidores açorianos mantêm as suas preferências bem vincadas e por<br />
norma consomem apenas a bebida da sua preferência.<br />
111
Alberto Peixoto<br />
A situação de policonsumo refere-se aos consumidores que admitem<br />
consumir regularmente mais do que um tipo de bebida alcoólica, verificando-se<br />
ser este comportamento, em <strong>2004</strong>, frequente entre 5,8% dos consumidores,<br />
correspondendo a 7 642 açorianos e, em <strong>2009</strong>, entre 7,8%, correspondendo<br />
a 10 635 açorianos, o que se traduz num agravamento em<br />
dois pontos percentuais, ou seja, mais três mil pessoas.<br />
TIPO DE BEBIDA Cerveja Cerveja Vinho Vinho Whisky Whisky Outra Outra<br />
ALCOÓLICA <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
CONSUMIDA<br />
POR ILHA<br />
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)<br />
Corvo 54,5 42,9 18,2 23,8 9,1 33,3 18,2 0,0<br />
Faial 34,5 37,1 20,6 28,4 0,6 34,5 44,4 0,0<br />
Flores 21,9 38,9 34,2 31,7 0,0 43,9 29,4 0,0<br />
Graciosa 69,5 31,2 16,5 40,0 6,0 26,6 8,0 2,2<br />
Pico 40,0 44,0 21,3 28,6 1,6 25,6 37,1 1,8<br />
São Jorge 54,1 43,7 24,0 32,2 1,7 22,9 20,2 1,2<br />
São Miguel 40,3 43,3 28,1 24 5,5 30,2 26,1 2,5<br />
Santa Maria 46,3 45,3 30,5 24,1 4,2 28,4 19,0 2,2<br />
Terceira 50,0 48,5 28,9 28,0 1,9 22,4 19,2 1,1<br />
Quadro n.º 38 Tipo de bebidas alcoólicas consumidas por ilhas.<br />
À excepção da ilha das Flores, em <strong>2004</strong>, e da Graciosa, em <strong>2009</strong>, onde<br />
o vinho era a bebida alcoólica preferida, a cerveja apresentou-se sem margem<br />
para dúvidas como a bebida predilecta dos açorianos. O consumo de<br />
cerveja obteve, em <strong>2004</strong>, a maior taxa de preferência entre os graciosenses<br />
e, em <strong>2009</strong>, passou a ser a Terceira a líder de tal consumo.<br />
Flores e Faial, em <strong>2004</strong>, apresentaram os consumos mais baixos de<br />
cerveja e, em <strong>2009</strong>, apresentaram o consumo mais elevado de whisky e<br />
bebidas destiladas. Aliás, nas Flores, assistiu-se mesmo a uma alteração<br />
significativa no padrão de consumo de bebidas alcoólicas visto que foi<br />
onde mais decaiu o consumo de cerveja, entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>, e em contrapartida<br />
mais cresceu o consumo de vinho.<br />
Em praticamente todas as ilhas, o whisky era a bebida menos consumida,<br />
todavia, como no inquérito de <strong>2009</strong> acrescentámos as bebidas<br />
112
Dependências e outras violências…<br />
destiladas à opção whisky, assistimos a uma transferência da opção<br />
“outra”.<br />
Apesar do esvaziamento da opção “outra”, em <strong>2009</strong>, podemos afirmar<br />
que o consumo de bebidas destiladas registou mesmo um crescimento<br />
exponencial na sociedade açoriana à semelhança do cenário nacional e<br />
europeu conforme atestam os relatórios do Instituto da Droga e<br />
Toxicodependência. O consumo de vinho foi mesmo ultrapassado pelas<br />
bebidas destiladas, cenário que convém acautelar devido ao elevado teor<br />
alcoólico que tais bebidas possuem.<br />
João Breda (CM, 06/09/<strong>2004</strong>, 13) considera que, a nível nacional,<br />
95% dos consumidores de álcool começaram a fazê-lo antes dos 15 anos.<br />
Baseando-se nos dados do Instituto Nacional de Emergência Médica,<br />
defendeu que 37% das emergências médicas são devidas a problemas relacionados<br />
com o consumo de álcool por jovens até aos 19 anos.<br />
Os dados apresentados por João Breda parecem-nos um pouco inflacionados,<br />
sendo discrepantes com o resultado da nossa pesquisa por 21%<br />
dos açorianos, em <strong>2004</strong>, e 22,8%, em <strong>2009</strong>, ter iniciado o consumo de<br />
bebidas alcoólicas antes dos 15 anos de idade. Se prolongarmos o período<br />
de início antes dos 20 anos, mesmo assim não se atinge os valores propostos<br />
por João Breda, alcançando-se, nos Açores, 83% do total da população,<br />
em <strong>2004</strong>, e 93,4%, em <strong>2009</strong>.<br />
Um dado pertinente prende-se com o facto de serem praticamente inexistentes<br />
as situações em que os indivíduos iniciam o consumo de bebidas<br />
alcoólicas depois dos 25 anos de idade. Assim, se até aos 25 anos não<br />
começarem a consumir, dificilmente o farão depois dessa idade.<br />
A ilha do Pico apresentava-se, em <strong>2004</strong>, como a ilha onde mais cedo<br />
se iniciava o consumo de álcool, tendo, em <strong>2009</strong>, sido ultrapassada pelo<br />
Faial em seis décimas.<br />
Já em <strong>2004</strong>, através do cruzamento de dados, tínhamos chegado à<br />
conclusão de que o consumo de bebidas alcoólicas se estava a fazer em<br />
idades cada vez mais jovens, apesar de ser evidente a consciência de que<br />
o álcool é prejudicial ao crescimento e desenvolvimento das crianças e<br />
adolescentes. Na análise de <strong>2009</strong>, o cenário agravou-se.20<br />
20 Em <strong>2009</strong>, optámos por analisar as idades de início do consumo de bebidas alcoólicas em<br />
termos totais e não em termos relativos como foi efectuado em <strong>2004</strong>, por entendermos<br />
ser mais esclarecedor, embora, grosso modo, as tendências se mantenham constantes.<br />
113
Alberto Peixoto<br />
IDADE DE INÍCIO 14 e 15-20 21-25 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51 e<br />
DO CONSUMO DE menos Mais<br />
ÁLCOOL POR <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong> <strong>2004</strong><br />
ILHA, EM <strong>2004</strong> (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)<br />
Corvo 9,1 36,4 54,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Faial 22,5 61,8 14,1 1,1 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Flores 2,6 21,8 73,0 2,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Graciosa 31,5 63,2 4,4 0,0 0,0 0,9 0,0 0,0 0,0<br />
Pico 61,2 31,0 3,9 3,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
São Jorge 29,3 66,5 2,1 2,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
São Miguel 15,4 66,1 16,7 1,1 0,5 0,2 0,0 0,0 0,0<br />
Santa Maria 6,3 75,8 15,8 0,0 2,1 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Terceira 12,1 64,8 18,2 3,3 0,6 1,0 0,0 0,0 0,0<br />
MÉDIA AÇORES 21,3 61,4 14,6 1,7 0,6 0,4 0,0 0,0 0,0<br />
Quadro n.º 39 Idades de início do consumo de bebidas alcoólicas, entre consumidores regulares, por<br />
ilhas, em <strong>2004</strong>.<br />
IDADE DE INÍCIO 14 e 15-20 21-25 26-30 31-35 36-40 41-45 46-50 51 e<br />
DO CONSUMO DE menos mais<br />
ÁLCOOL POR <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong> <strong>2009</strong><br />
ILHA, EM <strong>2009</strong> (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)<br />
Corvo 32,0 64,0 4,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Faial 45,8 48,8 5,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Flores 30,0 65,5 4,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Graciosa 13,5 78,4 8,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Pico 45,2 45,2 9,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
São Jorge 28,8 68,4 0,0 2,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
São Miguel 15,4 75,3 8,1 1,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Santa Maria 16,5 75,8 6,6 0,0 1,1 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Terceira 32,7 61,9 5,4 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
MÉDIA AÇORES 22,8 70,6 4,3 1,1 0,2 0,3 0,1 0,1 0,5<br />
Quadro n.º 40 Idades de início do consumo de bebidas alcoólicas, entre consumidores regulares, por<br />
ilhas, em <strong>2009</strong>.<br />
114
Dependências e outras violências…<br />
Em termos médios, nos Açores, em <strong>2009</strong>, 22,8% dos consumidores<br />
começaram antes dos 15 anos a consumir e 70,6% começaram entre os 15<br />
e os 20 anos de idade, quando, em <strong>2004</strong>, eram 21,3% os que tinham iniciado<br />
antes dos 15 anos e 61,4% aqueles que tinham começado entre os 15<br />
e os 20 anos.<br />
Sabendo-se que o consumo de bebidas alcoólicas antes dos 13 anos<br />
aumenta em 50% o risco de dependência, conforme um estudo realizado<br />
pela Cruz Vermelha e divulgado em 2008 (DN, 21/Out/<strong>2009</strong>: 10), os dados<br />
referentes à realidade açoriana demonstram a existência de um grande<br />
espaço para acções de prevenção e mesmo para o aumento das restrições<br />
no acesso a bebidas alcoólicas por menores.<br />
Se considerarmos também os estudos que demonstraram que o consumo<br />
de álcool antes dos 18 anos de idade aumenta significativamente o<br />
risco de dependência e que estiveram na base da legislação em vigor em<br />
diversos Estados norte-americanos e também na Irlanda, levando à proibição<br />
do consumo antes dos 18 anos, então os dados do presente estudo,<br />
mais uma vez, demonstram que está consideravelmente justificada a<br />
necessidade de intervenção a nível legislativo para restringir o acesso a<br />
bebidas alcoólicas a menores de 18.<br />
Constatou-se, em <strong>2004</strong>, que 54,5% dos açorianos que consomem<br />
regularmente bebidas alcoólicas, 82,7% iniciou o consumo antes dos 20<br />
anos, e, em <strong>2009</strong>, dos 55,7% de açorianos consumidores passaram a ser<br />
93,4% os que iniciaram o consumo regular antes dos 20 anos, ou seja, verificou-se<br />
um agravamento de 11 em cada 100 consumidores.<br />
Se dúvidas existiam, mais uma vez se justifica, deste modo, que as<br />
campanhas de prevenção contra o alcoolismo devem ter como público<br />
alvo sobretudo jovens até aos 20 anos, sendo imperioso desenvolverem-se<br />
mecanismos atendendo a este aspecto, para que as campanhas atinjam<br />
objectivos minimamente satisfatórios.<br />
Tal como tínhamos verificado quanto ao início do acto de fumar, o início<br />
do consumo de álcool dificilmente é efectuado por iniciativa própria,<br />
sendo nítida a influência dos amigos/colegas conforme se verifica entre<br />
68,1% da população, em <strong>2004</strong>, e 72,2%, em <strong>2009</strong>.<br />
115
Alberto Peixoto<br />
INICIOU O CONSUMO DE ÁLCOOL <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Sozinho 5,5 1,6<br />
Com os familiares 26,4 26,2<br />
Com amigos/colegas 68,1 72,2<br />
Quadro n.º 41 Iniciação do consumo de bebidas alcoólicas.<br />
A influência dos familiares no início do consumo de álcool é bem<br />
mais evidente do que a verificada no fumar, surgindo 26% dos açorianos<br />
a admitir tal situação, em ambos os estudos, enquanto no fumar apenas 6%<br />
da população afirmou ter iniciado o acto com os familiares.<br />
O acto de fumar no seio da família é ainda considerado uma falta de<br />
respeito para com os mais velhos embora hoje seja bem mais tolerado do<br />
que era num passado não muito longínquo e, para tal constatarmos, basta<br />
questionar a população com mais de 30 anos. Fica demonstrado que a censura<br />
familiar, quanto ao acto de fumar, é bem mais forte do que a censura<br />
familiar quanto ao acto de consumir bebidas alcoólicas, havendo deste<br />
modo uma grande responsabilidade dos pais na tolerância do consumo de<br />
álcool.<br />
INICIOU O CONSUMO DE ÁLCOOL <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Em casa 21,9 21,8<br />
Na escola 2,0 2,0<br />
Em festas 43,8 52,5<br />
No grupo 27,9 22,8<br />
Outra 4,4 0,9<br />
Quadro n.º 42 Local onde foi iniciado o consumo de bebidas alcoólicas.<br />
As festas e os grupos de amigos, de modo crescente, são os locais de<br />
eleição para o início do consumo de álcool, reunindo estas duas possibilidades<br />
71,7%, em <strong>2004</strong>, e 75,3%, em <strong>2009</strong>, dos casos vivenciados pela<br />
população açoriana.<br />
O início do consumo na escola tornou-se um cenário remoto desde<br />
logo compreensível pelo facto de ali, por imposição legal, não ser permitida<br />
a comercialização de bebidas alcoólicas. Mesmo assim, 2% da popu-<br />
116
Dependências e outras violências…<br />
lação, ou seja, 2 alunos em cada 100, admitiram ter iniciado o consumo de<br />
álcool na escola quando a percentagem deveria ser 0%.<br />
Bem sabemos que as bebidas alcoólicas podem ser facilmente adquiridas<br />
nas imediações das escolas, numa clara violação às normas legais, como<br />
se verifica, por exemplo, com a Escola Secundária Antero de Quental, em<br />
Ponta Delgada, ou com a Escola Básica 2+3 Roberto Ivens onde foram<br />
construídos bares com esplanadas ou ainda como com a Escola Secundária<br />
Domingos Rebelo, junto à qual foi autorizada a construção de um grande<br />
centro comercial. Ali vende-se todo o tipo de bebidas alcoólicas, sendo apenas<br />
necessário atravessar a Rua da Juventude para as obter.<br />
Em casa, foi o local utilizado por cerca de 22% da população, em<br />
ambos os momentos do estudo, reforçando a ideia da referida tolerância<br />
familiar para com o consumo de álcool.<br />
Uma das questões centrais desta abordagem prende-se com a relação<br />
existente entre a violência e o abuso de substâncias que, conforme já referimos,<br />
Steadman (1998) se encarregou de demonstrar em laboratório num<br />
estudo de dez semanas, tornando-se claro que em indivíduos considerados<br />
normais o consumo mais que triplica a probabilidade de ocorrência de violência<br />
enquanto que entre indivíduos portadores de doença mental mais<br />
que quintuplica a possibilidade de ocorrer um acto violento.<br />
Todavia quisemos verificar em que medida a população açoriana era<br />
capaz de revelar tal nexo de causalidade e, a existir, como é que evoluía no<br />
tempo. Por isso perguntámos a cada um dos inquiridos se tinha sido vítima<br />
de indivíduo alcoolizado, verificando-se que, em <strong>2004</strong>, 16%, e em <strong>2009</strong>,<br />
17,6% dos açorianos já vivenciaram tal experiência, representando em<br />
números absolutos a existência de 38 682 (<strong>2004</strong>) e 43 082 (<strong>2009</strong>) pessoas<br />
vítimas deste tipo de violência na sociedade açoriana. Se tivermos presente<br />
que mais de 80% das vítimas de violência física, no seio da família, são do<br />
sexo feminino, das 43 082 pessoas que assumiram ter sido vítimas de violência<br />
praticada por indivíduos ébrios cerca de 34 500 serão mulheres.<br />
Os dois momentos do estudo ditam que está a aumentar a propensão<br />
para a vitimização de violência praticada por pessoas sob a influência de<br />
álcool, evidenciando que existe um grande espaço de intervenção social ao<br />
nível da formação e da consciencialização tanto contra a prática da violência<br />
como contra o consumo excessivo de álcool.<br />
117
Alberto Peixoto<br />
JÁ FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA PRATICADA<br />
POR INDIVÍDUO ALCOOLIZADO<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Sim 16,0 17,6<br />
Não 84,0 82,4<br />
Quadro n.º 43 Vítimas de violência praticada por indivíduos alcoolizados.<br />
A ilha de São Jorge apresentou, em <strong>2004</strong>, a mais elevada taxa de prevalência<br />
do consumo de álcool, confirmando a tese de Steadman, ao igualmente<br />
apresentar o maior número de pessoas vítimas de violência relacionada<br />
com o consumo de álcool. Idêntica constatação se verifica na ilha das<br />
Flores e Corvo, ao apresentarem as percentagens mais baixas quer da prevalência<br />
do consumo de álcool quer no número de pessoas vítimas deste<br />
tipo de violência. Santa Maria, com 24,5%, apresenta uma percentagem de<br />
vítimas superior à média açoriana, estimando-se que ali existam 1 367 pessoas<br />
que vivenciaram tal situação. Em São Miguel, existem 20 794 deste<br />
tipo de vítimas e, na ilha Terceira, existem 7 481.<br />
Em <strong>2009</strong>, os dados demonstraram um cenário bastante diferenciado<br />
tendo o grupo ocidental, nomeadamente Faial, Flores e Corvo, sido o local<br />
em que se apresentaram as taxas de vitimização por agressor sob a influência<br />
de álcool mais elevadas.<br />
118<br />
VÍTIMAS DE ALCOÓLICOS POR ILHA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Corvo 8,0 26,0<br />
Faial 13,6 46,9<br />
Flores 1,3 35,9<br />
Graciosa 16,2 4,9<br />
Pico 12,1 15,0<br />
São Jorge 35,4 21,3<br />
São Miguel 15,8 12,9<br />
Santa Maria 24,5 12,9<br />
Terceira 13,4 14,3<br />
MÉDIA AÇORES 16,0 17,6<br />
Quadro n.º 44 Vítimas de violência praticada por indivíduos alcoolizados,<br />
por ilha.
Voltando à caracterização do consumo individual, é possível, com a<br />
análise do consumo regular de álcool por idades, percepcionar mais um<br />
traço caracterizador do consumo de álcool nos Açores. Em <strong>2004</strong>, dos indivíduos<br />
com 14 anos e menos, 16,2% consumiam regularmente álcool,<br />
enquanto 67% dos indivíduos, dos 15 aos 20 anos, faziam-no com regularidade.<br />
Parece-nos grave o facto de 16,2% dos menores de 15 anos consumirem<br />
bebidas alcoólicas com regularidade, quando por questões de metabolismo,<br />
do ponto de vista clínico, não é aconselhado o consumo de álcool<br />
antes dos 16 anos de idade.<br />
Em <strong>2009</strong>, a situação agravou-se, tendo passado para 24,5% os adolescentes<br />
com menos de 15 anos e 72,3% os indivíduos entre os 15 e os 20<br />
anos que assumiram consumir álcool com regularidade.<br />
IDADES CONSUMO DE ÁLCOOL CONSUMO DE ÁLCOOL<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
14 e menos 16,2 24,5<br />
15-20 67,0 72,3<br />
21-25 71,7 73,2<br />
26-30 63,3 68,8<br />
31-35 63,0 57,9<br />
36-40 57,0 57,2<br />
41-45 54,8 54,9<br />
46-50 47,7 51,8<br />
51 e mais 41,4 44,7<br />
Quadro n.º 45 Consumo regular de álcool por idades.<br />
Dependências e outras violências…<br />
Até aos 25 anos, o consumo regular de álcool é crescente, atingindo,<br />
nessa idade, o ponto mais elevado da prevalência, com 71,7% (em<br />
<strong>2004</strong>), e 73,2% (em <strong>2009</strong>) da população. Depois dos 26 anos, decresce<br />
a propensão para o consumo ao longo da vida, porém, entre as pessoas<br />
com mais de 51 anos de idade, 41,4% (<strong>2004</strong>) e 44,7% (<strong>2009</strong>) consumia<br />
regularmente bebidas alcoólicas, demonstrando uma difusão considerável<br />
do álcool.<br />
119
Alberto Peixoto<br />
IDADE REGULARIDADE DO REGULARIDADE DO<br />
CONSUMO DE ÁLCOOL CONSUMO DE ÁLCOOL<br />
POR IDADES - <strong>2004</strong> POR IDADES - <strong>2009</strong><br />
Diária Semanal Ocasional Diária Semanal Ocasional<br />
14 e menos 0,2 2,0 14,0 0,4 1,0 23,1<br />
15-20 4,0 10,0 53,0 0,8 8,6 62,9<br />
21-25 8,0 13,4 50,3 4,2 18,0 51,0<br />
26-30 7,7 11,5 44,1 7,5 11,8 49,5<br />
31-35 10,2 11,0 41,8 4,6 6,7 46,6<br />
36-40 13,7 8,4 34,9 8,2 7,7 41,3<br />
41-45 17,3 4,6 32,9 12,0 4,7 38,2<br />
46-50 13,0 6,0 28,7 11,8 4,5 35,5<br />
51 e mais 14,0 3,2 24,2 17,5 3,8 23,4<br />
Quadro n.º 46 Regularidade do consumo de álcool por idades.<br />
Para melhor medir a prevalência do consumo de bebidas alcoólicas<br />
por idades, procurámos caracterizá-la através da regularidade do consumo,<br />
verificando-se que se torna mais intenso depois dos 35 anos. Deste modo,<br />
depois dos 35 anos, aumenta consideravelmente o número de pessoas que<br />
consome todos os dias, sendo o grupo etário dos 41 aos 45 anos o que<br />
registou o maior número de consumidores diários.<br />
Os problemas mais graves de alcoolismo atingem sobretudo pessoas<br />
com mais de 36 anos de idade, sendo também a partir desta idade que é<br />
mais forte a prevalência do consumo, atingindo, em <strong>2004</strong>, entre os 41 e os<br />
45 anos de idade, a taxa mais elevada de todos os grupos etários com<br />
17,3%, e, em <strong>2009</strong>, entre os 51 anos e mais, com 17,5%.<br />
Note-se que as pessoas com 21-25 anos de idade apresentavam uma<br />
prevalência de 8%, em <strong>2004</strong>, representando um crescimento muito expressivo<br />
em relação ao anterior grupo etário e, caso prosseguissem uma carreira<br />
de consumo, em 20 anos, poderiam atingir valores de prevalência de<br />
consumo bastante superiores aos que hoje têm 41 a 45 anos de idade. Os<br />
dados de <strong>2009</strong> apontam para uma inversão da situação visto que ao nível<br />
do consumo diário de álcool se registou uma diminuição muito significativa<br />
entre os 15 e os 25 anos de idade.<br />
120
Dependências e outras violências…<br />
A Directora Regional da Prevenção e Combate às Dependências, em<br />
entrevista ao jornal Açoriano Oriental, de 29 de Março de <strong>2009</strong> (p. 5),<br />
comentando dados preliminares de um estudo nacional não referenciado,<br />
que apontava para 25% a percentagem de jovens açorianos que, entre os<br />
16 e os 30 anos, consumiam uma vez por semana, afirmou estar preocupada.<br />
Todavia os dados identificados são bem diferentes e bem menos preocupantes<br />
na medida em que, segundo os dados de <strong>2009</strong>, naquele segmento<br />
etário, são 11,5% os que consomem uma vez por semana, 4,7%, os que<br />
consomem todos os dias, e 51,9%, os que consomem ocasionalmente.<br />
Tendo em conta o estado civil enquanto indicador de um tipo de relações<br />
interpessoais e sociais dos inquiridos, procurou-se verificar em que medida<br />
poderia tal aspecto influenciar a prevalência do consumo de álcool.<br />
Constataram-se algumas variações bastante significativas, surgindo as pessoas<br />
divorciadas, com 32,2%, em <strong>2004</strong>, e, em <strong>2009</strong>, as separadas, com 34,7%,<br />
como aquelas que apresentam as prevalências de consumo mais baixas.<br />
Ser solteiro, casado, viúvo ou divorciado não parece ter um peso muito<br />
significativo na decisão de consumir ou não álcool, em função das significativas<br />
variações nas prevalência de consumo entre <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>. O mesmo<br />
não se pode afirmar em relação às pessoas que vivem em união de facto<br />
sendo o único estado civil em que se manteve constante a mais elevada prevalência<br />
do consumo de álcool, 70,9%, em <strong>2004</strong>, e 67,3%, em <strong>2009</strong>.<br />
ESTADO CIVIL CONSUMO DE ÁLCOOL CONSUMO DE ÁLCOOL<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Solteiro 57,3 59,3<br />
Casado 52,9 53,6<br />
Viúvo 66,9 34,7<br />
Divorciado 32,2 56,0<br />
Separado 54,3 38,7<br />
União de Facto 70,9 67,3<br />
Quadro n.º 47 Consumo regular de álcool segundo o estado civil.<br />
Para além do consumo regular, procurámos, ainda, medir a respectiva<br />
intensidade e mais uma vez se verificaram variações, surgindo, em <strong>2004</strong>,<br />
as pessoas casadas como as que mais consumiam diariamente, atingindo<br />
121
Alberto Peixoto<br />
13,7% do total de consumidores casados e, em <strong>2009</strong>, embora tenham diminuído<br />
para 10,4%, as pessoas casadas mantiveram-se como as que mais<br />
consumiam todos os dias.<br />
ESTADO REGULARIDADE COM REGULARIDADE COM<br />
CIVIL CONSUMO DE ÁLCOOL CONSUMO DE ÁLCOOL<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Diária Semanal Ocasional Diária Semanal Ocasional<br />
Solteiro 4,8 9,9 42,6 3,7 10,8 44,8<br />
Casado 13,7 6,1 33,1 10,4 4,6 38,6<br />
Viúvo 13,2 13,2 40,5 9,1 3,1 22,5<br />
Divorciado 8,9 3,3 20,0 9,8 5,4 40,8<br />
Separado 4,3 8,7 41,3 8,9 6,0 23,8<br />
União de Facto 4,2 20,9 45,8 6,1 11,3 49,9<br />
Quadro n.º 48 Regularidade do consumo de álcool segundo o estado civil.<br />
Tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, a nível do consumo semanal bem como<br />
ocasional, eram as pessoas que viviam em união de facto as que mais consumiam<br />
bebidas alcoólicas, seguindo-se as solteiras, podendo-se inferir a existência<br />
de uma relação entre consumo de álcool e um estilo de vivência que<br />
passa pela participação em festas e convívios com alguma regularidade.<br />
Não se denotaram diferenças muito significativas na prevalência do<br />
consumo de álcool entre campo ou cidade, embora no meio urbano exista<br />
uma prevalência na ordem dos três pontos percentuais superior à do meio<br />
rural. No entanto registaram-se diferenças em relação à intensidade de<br />
consumo. No meio rural, consome-se bastante mais diariamente, enquanto<br />
os consumos em meio urbano são mais moderados.<br />
122<br />
RESIDE EM REGULARIDADE COM QUE<br />
CONSOME ÁLCOOL (%)<br />
Diária Semanal Ocasional<br />
Meio rural 21,4 11,3 67,3<br />
Meio urbano 12,9 18,3 68,8<br />
Quadro n.º 49 Regularidade do consumo de álcool segundo a área<br />
de residência.
Dependências e outras violências…<br />
O consumo semanal é bem mais evidente na cidade do que no campo,<br />
o que não será alheio a todas as actividades de diversão nocturnas bem<br />
mais frequentes no meio urbano.<br />
A formação e o conhecimento das consequências da dependência do<br />
álcool e das dependências em geral apresentaram-se como factores influenciadores<br />
da prevalência de consumo.<br />
HABILITAÇÕES CONSUMO DE CONSUMO DE<br />
LITERÁRIAS ÁLCOOL ÁLCOOL<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Não Sabe Ler 32,0 28,2<br />
Sabe ler e escrever 31,3 45,5<br />
1º Ciclo (4ª cl.) 41,6 48,7<br />
2º Ciclo (6ª cl.) 46,7 43,0<br />
3º Ciclo (9ª cl.) 59,1 56,1<br />
Ensino Secundário (10º-12º) 70,3 71,1<br />
Curso Profissional 64,5 82,2<br />
Curso Superior 59,5 68,5<br />
Quadro n.º 50 Consumo regular de álcool segundo as habilitações literárias.<br />
As pessoas com mais habilitações literárias tendem a consumir<br />
álcool mais regularmente, mas com menos intensidade. Observou-se<br />
que 70,3% (em <strong>2004</strong>) e 71,1% (em <strong>2009</strong>) das pessoas habilitadas<br />
com o ensino secundário consumiam regularmente álcool enquanto<br />
as pessoas sem qualquer habilitação escolar se situavam na casa dos<br />
30%. Entre os habilitados com cursos superiores, 59,5% (em <strong>2004</strong>)<br />
e 68,5% (em <strong>2009</strong>) consumiam regularmente, porém eram os que<br />
menos bebiam diariamente, apostando no consumo semanal ou ocasional.<br />
123
Alberto Peixoto<br />
HABILITAÇÕES REGULARIDADE COM REGULARIDADE COM<br />
LITERÁRIAS QUE CONSOME QUE CONSOME<br />
ÁLCOOL - <strong>2004</strong> (%) ÁLCOOL - <strong>2009</strong> (%)<br />
Diária Semanal Ocasional Diária Semanal Ocasional<br />
Não Sabe Ler 37,5 6,3 56,2 10,3 2,6 15,3<br />
Sabe ler e escrever 21,1 19,2 59,7 22,8 4,5 18,2<br />
1º Ciclo (4ª cl.) 31,7 11,5 56,7 15,5 3,4 29,8<br />
2º Ciclo (6ª cl.) 22,3 10,5 67,2 7,6 5,8 29,6<br />
3º Ciclo (9ª cl.) 16,8 16,4 66,8 4,3 7,5 44,3<br />
Ensino Secundário 10,4 14,8 74,8 6,1 10,7 54,3<br />
(10º-12º)<br />
Curso Profissional 12,9 22,2 64,9 6,7 11,1 64,4<br />
Curso Superior 4,5 15,6 79,9 2,9 11,5 54,1<br />
Quadro n.º 51 Regularidade de consumo de álcool segundo as habilitações literárias.<br />
Sendo notório como as pessoas com menos habilitações literárias<br />
consomem álcool com maior intensidade diária, fica, assim, demonstrado<br />
que o investimento na formação da população se apresenta como a<br />
forma mais adequada de se combater o abuso do consumo de bebidas<br />
alcoólicas.<br />
Na análise das profissões e da regularidade de consumo de álcool,<br />
constatou-se que, nas profissões que requerem maior especialização<br />
e detêm maior capital cultural e social, surgem pessoas mais moderadas<br />
no consumo de bebidas alcoólicas, apresentando menor prevalência<br />
de consumo diário e maior prevalência de consumo semanal ou<br />
ocasional.<br />
A estabilidade do desempenho da actividade profissional surge como<br />
um jogo interactivo, capaz de condicionar e ao mesmo tempo ser condicionado<br />
pela propensão para o consumo de álcool por se ter observado que<br />
eram os trabalhadores prestadores de serviços ocasionais por conta própria<br />
os que tendencialmente reuniam maior prevalência de consumo. Além da<br />
maior prevalência de consumo, era aquele tipo de população que mais consumia<br />
bebidas alcoólicas diariamente.<br />
124
PROFISSÕES MAIS COSTUMA CONSUMIR<br />
REPRESENTATIVAS ÁLCOOL <strong>2009</strong> (%)<br />
Agricultor 67,9<br />
Carpinteiro 88,6<br />
Electricista 78,3<br />
Estudante 51,6<br />
Pedreiro 81,6<br />
Taxista 38,2<br />
Quadro n.º 52 Regularidade de consumo de<br />
álcool por profissões.<br />
A questão de as pessoas se encontrarem numa situação de contrato a<br />
prazo sugere ter um efeito coercivo e normativo sobre a apetência para o<br />
consumo ao apresentarem índices de consumo diário relativamente baixos<br />
e ao mesmo tempo índices de consumo ocasional tendencialmente<br />
elevados.<br />
A situação de efectividade na profissão indicia a referida estabilidade<br />
profissional e também alguma racionalidade no consumo, sendo os<br />
consumos ocasionais os que melhor caracterizam a prevalência daquela<br />
população.<br />
VÍNCULO REGULARIDADE COM REGULARIDADE COM<br />
PROFISSIONAL QUE CONSOME QUE CONSOME<br />
ÁLCOOL - <strong>2004</strong> (%) ÁLCOOL - <strong>2009</strong> (%)<br />
Diária Semanal Ocasional Diária Semanal Ocasional<br />
Serviço ocasional 37,4 12,5 50,1 10,6 17,4 72,0<br />
por conta de outrém<br />
Dependências e outras violências…<br />
Serviço ocasional<br />
por conta própria<br />
33,9 15,2 50,9 14,0 12,6 73,3<br />
Contrato a termo 14,9 17,9 67,2 17,7 13,4 68,8<br />
Efectivo 18,4 13,4 68,2 29,6 11,8 58,6<br />
Outra 8,3 41,6 50,1 34,4 15,6 50,0<br />
Quadro n.º 53 Regularidade do consumo de álcool e o vínculo profissional.<br />
125
Alberto Peixoto<br />
Sem se definir se é o consumo racional que leva a uma estabilidade<br />
profissional, ou se é a estabilidade profissional que conduz a baixos índices<br />
de consumo, os dados apontam para a evidência de estarmos perante<br />
dois indicadores que aparentemente interagem em sentidos inversos. Em<br />
<strong>2004</strong>, os dados apontavam no sentido de que quanto maior fosse a estabilidade<br />
profissional menor era a prevalência de consumo e vice-versa; todavia<br />
os dados de <strong>2009</strong> não são tão lineares sem que persistam algumas regularidades.<br />
Em sentido contrário à estabilidade profissional, a vivência de violência<br />
doméstica no seio da família, durante a infância, é consensualmente<br />
considerado um factor potenciador de comportamentos desviantes. Por<br />
isso procurámos apurar em que medida o consumo de álcool influenciava<br />
e ao mesmo tempo era influenciado pelo fenómeno da violência doméstica.<br />
Entre a população, que vivenciou situações de violência doméstica,<br />
entre os seus familiares mais próximos, 71,3%, em <strong>2004</strong>, e 61%, em <strong>2009</strong>,<br />
consumia regularmente bebidas alcoólicas contra 28,7% (<strong>2004</strong>), 39,0%<br />
(<strong>2009</strong>) da população que afirmou não o fazer.<br />
TEM RECORDAÇÕES DE CONSUMO NÃO CONSUMO CONSUMO NÃO CONSUMO<br />
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DE ÁLCOOL NA INFÂNCIA DE ÁLCOOL NA INFÂNCIA<br />
NO SEIO DA FAMÍLIA, <strong>2004</strong> (%) DE ÁLCOOL <strong>2009</strong> (%) DE ÁLCOOL<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Sim 71,3 28,7 61,0 39,0<br />
Não 52,4 47,6 55,5 44,5<br />
Quadro n.º 54 Consumo regular de álcool e as recordações de violência doméstica no seio da<br />
família.<br />
Idêntica conclusão obtivemos ao analisar a população que não<br />
vivenciou tais acontecimentos, apresentando uma prevalência para o<br />
consumo regular inferior aos demais, nos dois momentos de avaliação.<br />
Mais evidente se torna o nexo de causalidade entre a violência doméstica<br />
e o consumo de álcool, se atendermos à frequência desse mesmo<br />
consumo.<br />
126
Dependências e outras violências…<br />
TEM REGULARIDADE COM REGULARIDADE COM<br />
RECORDAÇÕES QUE CONSOME QUE CONSOME<br />
DE VIOLÊNCIA ÁLCOOL ÁLCOOL<br />
DOMÉSTICA NO <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
SEIO DA FAMÍLIA,<br />
NA INFÂNCIA Diária Semanal Ocasional Total Diária Semanal Ocasional Total<br />
Sim 27,9 13,7 58,4 71,3 8,5 8,8 43,7 61,0<br />
Não 8,1 7,5 36,8 52,4 7,2 7,3 41,0 55,5<br />
Quadro n.º 55 Regularidade do consumo de álcool e as recordações de violência doméstica no seio<br />
da família.<br />
As pessoas que estiveram expostas à violência doméstica durante<br />
a infância apresentaram maior probabilidade de consumir bebidas<br />
alcoólicas diariamente, maior probabilidade de consumirem com<br />
maior frequência semanal e mesmo a prevalência do consumo ocasional<br />
nos indivíduos que estiveram expostos à violência doméstica<br />
era superior aos não expostos.<br />
Observando-se a regularidade do consumo, verificou-se que<br />
quem já teve problemas com polícias/tribunais apresentava uma prevalência<br />
de consumo superior em todas as modalidades em relação à<br />
população que nunca teve problemas, embora na regularidade de<br />
consumo ocasional não fosse muito significativa a diferença de propensão.<br />
Conforme já vimos, a população mais jovem tende a iniciar o<br />
consumo de álcool cada vez mais cedo, no entanto é possível falar-<br />
-se numa melhoria significativa, quando comparamos grupos etários<br />
mais avançados, ao que pensamos, fruto da consciencialização que<br />
se tem desenvolvido nos últimos anos nas escolas e nos media em<br />
geral.<br />
127
Alberto Peixoto<br />
CONSUMO DE ÁLCOOL INÍCIO DO CONSUMO INÍCIO DO CONSUMO<br />
POR IDADES DE ÁLCOOL COM DE ÁLCOOL COM<br />
14 ANOS E MENOS 14 ANOS E MENOS<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
14 e menos 13,3 19,6<br />
15-20 31,1 24,9<br />
21-25 14,9 11,9<br />
26-30 9,4 7,9<br />
31-35 8,0 8,3<br />
36-40 5,8 6,5<br />
41-45 4,9 9,2<br />
46-50 4,8 4,9<br />
51 e + 7,8 6,8<br />
Quadro n.º 56 Consumo regular de álcool por idades e a idade de início do consumo.<br />
Se compararmos as percentagens dos consumidores abaixo dos 21<br />
anos, verifica-se que tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong> o número de pessoas<br />
que iniciaram o consumo antes dos 14 anos era precisamente o mesmo,<br />
com apenas uma décima de diferença (44,4, em <strong>2004</strong>, e 44,5, em <strong>2009</strong>),<br />
apesar de ter havido um aumento de 6,3% no grupo etário 14 e menos e<br />
uma diminuição idêntica no grupo etário dos 15 aos 20 anos. Ou seja, se<br />
em <strong>2004</strong> entre os indivíduos que tinham 14 anos ou menos, em cada cem,<br />
13 consumiam bebidas alcoólicas com regularidade, em <strong>2009</strong>, em cada<br />
cem, cerca de 20 já tinham hábitos de consumo.<br />
Entre as pessoas, com 51 ou mais anos, 7,8%, em <strong>2004</strong>, 6,8%, em<br />
<strong>2009</strong>, iniciaram o consumo antes dos 15 anos de idade, o que, comparado<br />
com os grupos etários mais jovens, é bem elucidativo do facto de o consumo<br />
de álcool ser cada vez mais precoce.<br />
A relação entre a violência conscientemente provocada, devido ao<br />
consumo de álcool ou droga, foi testada, tendo-se apurado uma certa constância<br />
tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>. Entre as pessoas causadoras de actos<br />
de violência, neste contexto, 90,2% (em <strong>2004</strong>), 91,3% (em <strong>2009</strong>) consumiam<br />
regularmente bebidas alcoólicas.<br />
128
Dependências e outras violências…<br />
PRÁTICA DE REGULARIDADE DE REGULARIDADE DE<br />
ACTO DE CONSUMO CONSUMO<br />
VIOLÊNCIA DE ÁLCOOL DE ÁLCOOL<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Diária Semanal Ocasional Total Diária Semanal Ocasional Total<br />
Sim 28,7 22,4 39,1 90,2 29,4 27,8 34,1 91,3<br />
Não 8,5 7,3 36,9 52,7 9,2 9,5 56,8 75,5<br />
Quadro n.º 57 Propensão para a violência e a regularidade de consumo de álcool.<br />
Sem que o álcool possa ser considerado um factor isolado, tanto em<br />
<strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, quem consumia álcool diariamente viu potenciada a<br />
probabilidade de praticar um acto violento. Os que consumiam semanalmente,<br />
apesar de menor influência, viram também aumentada a propensão<br />
para a violência. Quem consumiu ocasionalmente álcool apresentou uma<br />
propensão muito menor para a prática da violência.<br />
Há uma destrinça ao nível de senso comum entre acto violento e<br />
crime; denota-se nas respostas obtidas uma clara diferenciação entre os<br />
dois actos, sendo o crime visto com uma conotação estigmatizante superior<br />
ao acto de violência em abstracto. As pessoas admitem mais dificilmente<br />
a prática de um crime do que a prática de um acto de violência, mas tanto<br />
num caso como no outro mantém-se idêntica a prevalência do consumo de<br />
álcool.<br />
Procurando-se definir a prevalência do consumo regular de álcool e o<br />
consumo de outras substâncias, passíveis de provocar dependência, verificámos<br />
que mais de 90% dos indivíduos que consomem ou já consumiram<br />
droga também costumavam consumir regularmente álcool, contra apenas<br />
cerca de 10% que afirmaram nunca ter consumido álcool.<br />
Entre os consumidores de álcool, 18,5% (<strong>2004</strong>) e 23% (<strong>2009</strong>) consomem<br />
ou já consumiram droga, permitindo concluir ser bem mais frequente<br />
um consumidor de drogas consumir álcool do que o contrário.<br />
Entre os consumidores de álcool, 47,6% (<strong>2004</strong>) e 45,3% (<strong>2009</strong>) fumavam,<br />
mas entre os fumadores, 77,6%, em <strong>2004</strong>, e 74,5%, em <strong>2009</strong>, consumiam<br />
regularmente álcool, demonstrando, do mesmo modo, ser mais frequente<br />
os fumadores consumirem álcool do que os consumidores de álcool<br />
129
Alberto Peixoto<br />
fumarem, quadro este não verificado se comparamos o consumo de álcool<br />
e o consumo regular de café.<br />
Quanto à questão do consumo de álcool e ao ser-se vítima de acto praticado<br />
por indivíduo alcoolizado, conclui-se que 73,6%, em <strong>2004</strong>, 70,7%,<br />
em <strong>2009</strong>, dos indivíduos consumidores regulares de álcool já foram vítimas<br />
de acto praticado por indivíduo alcoolizado enquanto entre os não<br />
consumidores de álcool apenas 26,4%, em <strong>2004</strong>, e 21,8%, em <strong>2009</strong>, já<br />
tinha sido vítima de acto praticado por indivíduo alcoolizado.<br />
O consumo regular de álcool não se apresenta apenas como um factor<br />
potenciador da prática de violência na condição de agressor como faz<br />
aumentar a probabilidade de se tornar vítima de violência praticada por<br />
outro indivíduo também consumidor de bebidas alcoólicas ou drogas,<br />
sendo uma conclusão que se manteve constante nas duas análises.<br />
Em relação ao custo do consumo médio semanal de álcool, nos Açores,<br />
em <strong>2009</strong>, apurou-se que 48,5% dos consumidores gastavam até 5,00 euros<br />
por semana em bebidas alcoólicas, 25,2%, entre 6,00 e 10,00 euros semanais,<br />
12,9%, entre 11,00 e 20,00 euros, entre 21,00 e 50,00 euros, 3,7%, e<br />
9,7% gastavam mais de 50,00 semanais. Quanto à proveniência desse<br />
dinheiro, 60,0% disse ser do salário, 19,8%, da mesada que recebiam,<br />
3,9%, da pensão, 13,9%, era oferecido, e 2,4%, de origem diversa.<br />
Efectuada uma análise por idades dos gastos e da proveniência do<br />
dinheiro dispendido em bebidas alcoólicas, conclui-se que entre os jovens<br />
com menos de 21 anos, que consumiam bebidas alcoólicas com regularidade,<br />
86,1% gastavam até 20,00 euros por semana e, em 89,7%, o dinheiro<br />
era dado pelos próprios pais.<br />
O PERFIL DO CONSUMIDOR DE BEBIDAS ALCOÓLICAS<br />
Concluiu-se que o perfil do consumidor regular de bebidas alcoólicas,<br />
nos Açores, aponta para os indivíduos do sexo masculino, os quais consomem<br />
por prazer e/ou por afirmação social, consomem cerveja e bebidas<br />
destiladas, têm menos de 25 anos de idade e começaram a beber por<br />
influência dos amigos, em festas.<br />
Predominantemente o consumidor tipo é solteiro, a viver em união de<br />
facto ou divorciado, reside em meio urbano e possui entre o 9.º ano e o 12.º<br />
130
Dependências e outras violências…<br />
ano de escolaridade ou equivalente. Quando trabalha, desempenha profissões<br />
pouco qualificadas e com vínculos profissionais precários, possuindo<br />
recordações de infância no seio da sua família de origem ligadas a disfuncionalidades<br />
diversas e quadros de violência. Em 52,8% dos casos de consumo<br />
regular de bebidas alcoólicas, existe conhecimento da situação por<br />
parte dos familiares, tendo sido admitido que, em 17,2%, eles próprios<br />
abusam do consumo de álcool.<br />
131
A DROGA<br />
Da antiguidade à contemporaneidade, houve esforços de conhecer e<br />
controlar os efeitos produzidos pelas substâncias tóxicas, desde Ebers, em<br />
1500 a.C., Hipócrates, em 400 a.C, Dioscorides, em 50 d. C, Maimonides,<br />
em finais do século XII, Paracelsus, na primeira metade do século XVI, a<br />
Orfila, no início do século XIX, com a publicação, em 1814, do Tratado<br />
de Toxicologia Geral.<br />
Considerando-se que todas as substâncias a partir de um limiar quantitativo<br />
se tornam tóxicas, no essencial, apenas varia a quantidade para produzir<br />
um efeito desejado ou indesejado. Foi crescendo o conhecimento<br />
sobre a toxicidade e respectivas consequências individuais e colectivas ao<br />
ponto de alguns tóxicos, vulgarmente designados por drogas, se tornarem<br />
um fenómeno social e se confundirem com algumas formas de comportamento<br />
desviante para as quais “Pinel, no século XIX, recomendava o trabalho<br />
como uma forma de cura, nomeadamente uma forma de sujeição do<br />
homem aos necessários constrangimentos da vida social” (Dias, 1978: 74).<br />
Multiplicaram-se os esforços para se compreender o motivo de uns<br />
em detrimento de outros e Carlos Amaral Dias (1978:83) pegou no caso<br />
concreto de uma jovem para apresentar uma explicação possível para a<br />
prevalência de consumo de droga resultante de uma “crise de adolescência<br />
como uma crise de identidade particular aguda e como ela se vê, pelo<br />
falhanço óbvio do modelo que os pais lhe propõem, por assim dizer<br />
empurrada a optar por um modelo que seja o negativo daquele, e que na<br />
actual conjuntura sócio-cultural lhe é fornecido pelo ‘mundo da droga’”.<br />
Em síntese a terapia que propõe para essa jovem centra-se na construção<br />
da identidade própria para que consiga viver a vida ganhando autonomia<br />
e enfrentando as consequências respectivas. “O uso da droga pelos ado-<br />
133
Alberto Peixoto<br />
lescentes é antes de mais um sintoma de mal-estar e de angústia, uma<br />
maneira de se confrontar com a existência (a do seu corpo, do que lhe está<br />
próximo, da sociedade). Trata-se de uma reivindicação como a que faz de<br />
«taguer» muros e construções” (Richard, 1998: 98).<br />
O fenómeno da dependência tóxica apresenta hoje toda uma parafernália<br />
de substâncias. Os opiácios agrupam os derivados de ópio, a heroína,<br />
a morfina, a codeína e os sucedâneos sintéticos. Nos anos 60, no início,<br />
o consumo de heroína estava associado a novas formas de viver e a<br />
uma certa ideologia “da procura de felicidade e prazer característicos<br />
dessa época, (...) atingindo elevados níveis de consumo nos meios mais<br />
desfavorecidos e nos meios marginais” (CIDM, 1995: 38).<br />
As anfetaminas incluem as substâncias psicotrópicas de origem sintética<br />
e pertencem ao grupo dos estimulantes. Os psicofármacos, sendo compostos<br />
químicos, afectam o sistema nervoso central, sendo esse o fim ao<br />
serem administrados em terapêuticas ao nível das perturbações da vida mental.<br />
Dividindo-se em dois grupos são designados por drunfos e speeds. Os<br />
primeiros têm a capacidade de diminuir a actividade do sistema nervoso,<br />
são predominantemente utilizados pelas mulheres em idade adulta em dietas<br />
para emagrecer ou com o objectivo de conseguirem um equilíbrio entre<br />
a actividade e o repouso, entre o meio individual e meio envolvente. Os<br />
jovens, não os desconhecendo, experimentam-nos sobretudo com os amigos<br />
por curiosidade quando não são os próprios pais que, inocentemente, os fornecem<br />
aos filhos, ou lhes facilitam o acesso. Os speeds têm a capacidade de<br />
estimular a actividade do sistema nervoso, são estimulantes do humor (antidepressivos)<br />
e estimulantes da vigília (anfetaminas e derivados anorexígenos).<br />
Embora existam alguns condicionalismos na venda ao público, são<br />
consumidos como substitutos da heroína ou da cocaína.<br />
Os alucinogéneos agrupam as substâncias de origem sintética ou natural,<br />
classificadas como perturbadoras do sistema nervoso central. Sem qualquer<br />
aplicação médica, apresentam-se sob a forma de comprimidos, líquido,<br />
em pó, em autocolantes ou no verso de selos, ou inseridos em cubos de açúcar.<br />
Pertencem a este grupo os cogumelos mágicos, o LSD, o MDA, o<br />
DOM, a MMDA e o ecstasy, que tem a sua origem no MDMA.O ecstasy é<br />
consumido sob a forma de comprimido, em momentos de lazer, em festas,<br />
junto de bares e discotecas visando aumentar a capacidade de autoconfiança,<br />
energia e euforia, com resultados imediatos, normalmente traduzidos em<br />
134
Dependências e outras violências…<br />
dança ao som de ritmos fortes, conduzindo a uma exaustão contínua, capaz<br />
de provocar a morte por via da desidratação, de problemas cardíacos ou de<br />
problemas renais. Após a sensação dos efeitos, os consumidores sentem-se<br />
exaustos, melancólicos e deprimidos, catapultando-se para um novo consumo<br />
para que sejam combatidos tais efeitos indesejáveis.<br />
Os derivados do cânhamo, «cannabis», como a liamba, a marijuana e o<br />
haxixe, produzem efeitos de relaxamento, bem-estar, mas também alterações<br />
cognitivas e psicomotoras, perda de memória, irritabilidade, ataques de<br />
pânico e ansiedade. Tal como o álcool, os efeitos do haxixe sugerem a facilitação<br />
da forma de estar com os outros, uma vez que “a desinibição provocada<br />
por esta substância cria a ilusão do desaparecimento das dificuldades,<br />
desvia a atenção e desfoca os temas habituais utilizados para afirmar a<br />
força e capacidade de ultrapassar riscos” (CIDM, 1995: 23). Derivando<br />
esta droga da planta Cannabis Sativa, tem a particularidade de provocar<br />
uma dependência lenta sendo usualmente caracterizada como uma droga<br />
leve, porém as consequências do consumo podem traduzir-se na “manifestação<br />
de um processo de crescimento perturbado” (CIDM, 1995: 28).<br />
Realizado na Nova Zelândia, um estudo coordenado por Richard<br />
Beasley concluiu que o consumo de um ‘charro’ de cannabis ao nível dos<br />
pulmões e da obstrução respiratória tem o mesmo impacto que 2,5 a 5<br />
cigarros normais fumados em simultâneo (AE, 6/Ago/2007: 15).<br />
Cientistas de vários países europeus, liderados por Rajinder Singh,<br />
descobriram que o acto de fumar cannabis danifica o ADN. Partindo do<br />
conhecimento da toxicidade do fumo de tabaco, detectaram que o fumo da<br />
cannabis tem cerca de 400 compostos, incluindo 60 canabinóides, e que<br />
fumar três a quatro cigarros por dia está associado ao mesmo grau de<br />
danos das membranas da mucosa bronquial, provocados por 20 ou mais<br />
cigarros de tabaco por dia (DA, 26/Jun/<strong>2009</strong>: 21).<br />
Um estudo publicado na revista norte-americana Cancer permitiu<br />
concluir que, para além de consequências graves do consumo regular de<br />
cannabis, passando por quadros de mania, pelo desenvolvimento de quadros<br />
de esquizofrenia e pela propensão acrescida para o suicídio, os fumadores<br />
regulares de cannabis têm 70% mais probabilidade de desenvolver<br />
um cancro nos testículos (DA, 10/Fev/<strong>2009</strong>: 14).<br />
Publicado em Archives of General Psychiatry, um estudo com mais de<br />
3 800 homens e mulheres permitiu demonstrar que os jovens que fumam<br />
135
Alberto Peixoto<br />
cannabis durante seis anos têm duas vezes mais probabilidade de sofrer<br />
episódios psicóticos, alucinações ou delírios em relação às pessoas que<br />
nunca consumiram aquela substância (DA. 06/Mar/2010: 21).<br />
Um dos maiores problemas associados ao consumo de cannabis resulta<br />
da representação de que é uma droga leve e que possui até propriedades<br />
medicinais podendo ser utilizada para atenuar a dor. Tais argumentos têm<br />
sido invocados pelos grupos que se têm manifestado a favor da sua liberalização,<br />
conforme já vimos. Não deixa de ser uma representação enviesada<br />
na medida em que os níveis do princípio activo tetrahidrocannabinol,<br />
existente na cannabis, são hoje muito mais elevados do que há 20 ou 30<br />
anos atrás, produzindo efeitos devastadores (Coelho, <strong>2004</strong>: 24).<br />
O aparecimento da cocaína e sua rápida difusão ficou a dever-se às<br />
propriedades que lhe foram atribuídas: “A cocaína foi isolada pela primeira<br />
vez em 1859, e logo se comercializa em grande escala. A propagação<br />
torna-se ainda mais intensa que a da morfina e da heroína, dado que<br />
passa por «alimento para os nervos» e «forma inofensiva de curar a tristeza»”<br />
(Escohotado, <strong>2004</strong>: 87). Hoje sabemos que o consumo de cocaína,<br />
de crack ou de anfetaminas provoca efeitos tardios, traduzidos em euforia,<br />
excitação sexual, estado de alerta, delírios paranóides, visões e sensação<br />
de perseguição, fácil irritação e um acentuado emagrecimento, psicose e<br />
agressividade. A possibilidade de perfuração do septo nasal é frequente<br />
entre os dependentes de cocaína devido ao sistemático consumo por inalação<br />
bem como hemorragia cerebral, hipertermia e afrontamentos.<br />
<strong>Outras</strong> substâncias de fácil acesso são os solventes voláteis, capazes<br />
de produzirem igualmente dependência, derivados de substâncias compostas<br />
por acetona, benzeno e hidrocarbonetos halogenados, com odores fortemente<br />
activos, quando inalados têm a capacidade de alterar o estado de<br />
consciência provocando uma sensação de bem-estar. São, normalmente,<br />
crianças que preenchem o perfil deste tipo de consumidores. Sendo os<br />
efeitos muito semelhantes aos provocados pelas bebidas alcoólicas, é frequente<br />
constatarmos um “falar arrastado e pouco claro, andar cambaleante<br />
(ataxia), feridas à volta da boca e nariz, sendo acompanhadas de<br />
náuseas, vómitos e sensação de mal estar geral”(CIDM, 1995: 29).<br />
O policonsumo traduz-se no uso em simultâneo de vários tipos de<br />
substâncias ilícitas em que não raramente as substâncias lícitas como o<br />
álcool e o tabaco também entram.<br />
136
Dependências e outras violências…<br />
Após se compreender a amplitude do problema da dependência de<br />
tóxicos na vida dos consumidores, familiares e sociedade em geral, os<br />
Estados têm, de forma mais ou menos planeada, fomentado o estudo e o<br />
controlo do fenómeno, surgindo a quantificação, tipificação e difusão<br />
espacial como indicadores privilegiados para a definição de políticas de<br />
intervenção.<br />
Neste contexto, têm sido criados diversos organismos, destacando-se o<br />
Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência, o qual tem apresentado<br />
diversos relatórios sobre a problemática em análise. Em 2003, foi<br />
apresentado um relatório (AO, 23/Out/2003: 14) em que consta que os<br />
jovens portugueses de 15 e 16 anos de idade apresentam a mais baixa taxa<br />
de consumo de cannabis com 8% de tal população a admitir o consumo pelo<br />
menos uma vez, encontrando-se em primeiro lugar os jovens Franceses,<br />
Checos e Ingleses, com 35%, seguindo-se os Irlandeses, com 32%, e os<br />
Espanhóis, com 30%. Os jovens dos Países Baixos apresentam uma taxa de<br />
consumo de 28% e os Dinamarqueses apresentam um consumo de 24%.<br />
O Grupo Pompidou, outro dos organismos europeus que se tem<br />
debruçado sobre o assunto, realizou, em 35 países, um estudo com os grupos<br />
etários mais jovens, concluindo-se que, em Portugal continental, de<br />
uma taxa, nos indivíduos de 16 anos que já experimentaram o consumo de<br />
drogas, pelo menos uma vez, de 12%, em 1999, passou-se para uma taxa<br />
de 18%, em 2003. O consumo de cannabis de 9%, em 1999, passou para<br />
17%, em 2003. Os indivíduos que já experimentaram outras drogas, de<br />
6%, em 1999, passaram para 8%, em 2003. Foi registado um decréscimo<br />
na taxa de jovens que consumiram tranquilizantes ou ansiolíticos de 8%,<br />
em 1999, para 5%, em 2003.<br />
Margarida Matos (2003), da Universidade Técnica de Lisboa, apresentou,<br />
na última semana de Junho, um estudo por si coordenado que apresenta<br />
resultados diferentes. Tendo-se debruçado sobre a evolução da toxicodependência,<br />
entre 1998 e 2002, nos jovens portugueses em idade escolar,<br />
concluiu que a percentagem daqueles que já experimentaram pelo menos<br />
uma droga ilícita passou de 3,8 para 9,2%. Em 2002, entre os indivíduos do<br />
sexo masculino, 12% já experimentaram haxixe, enquanto que no sexo<br />
feminino 6,5% também já o experimentaram. Em 1998, os valores eram de<br />
5,4 e de 2,5%, respectivamente. Quanto à heroína, em 1998, 1,3% dos alunos<br />
confessava tê-la experimentado. Em 2002, o valor passou para 1,8%.<br />
137
Alberto Peixoto<br />
Os dados do Instituto da Droga e Toxicodependência, por se referirem<br />
exclusivamente à população estudantil, perdem alguma pertinência ao pretendermos<br />
abordar a prevalência do fenómeno na população em geral,<br />
apesar de serem uma referência consistente na análise da prevalência dos<br />
consumos em tal escalão etário, conforme foi já demonstrado no capítulo<br />
«Evolução comparativa de outros estudos».<br />
Depois do estudo de Cândido da Agra, sobre a relação entre droga e<br />
crime, a Lei 30/2000, em vigor desde 01/Jul/2001, veio descriminalizar o<br />
consumo de drogas e a posse de droga, correspondente a 10 dias de consumo<br />
individual. Nesse contexto, na sociedade portuguesa, tem ganho<br />
expressão o discurso de se tolerar a comercialização de cannabis como<br />
acontece na Holanda.<br />
Em 2005, enquadrado na mesma filosofia de abordagem, foi realizado<br />
um projecto piloto, em sessenta farmácias e quatro hospitais da<br />
Catalunha — Espanha, fundamentado nos efeitos benéficos do consumo<br />
de cannabis. Também uma investigação espanhola, liderada por Maria<br />
Ceballos, cujas conclusões foram publicadas na revista The Journal of<br />
Neuronscience, afirma que a cannabis pode prevenir a perda de memória,<br />
reduzindo a inflamação cerebral relacionada com a doença de Alzheimer,<br />
doença esta que só em Portugal afecta cerca de 60.000 pessoas (CA,<br />
27/Fev/2005: 37).<br />
Cremos serem convenientes algumas cautelas e não esquecer que é a<br />
própria Convenção de 1961 das Nações Unidas que impõe restrições à<br />
produção de cannabis. Em primeiro lugar, apesar de já no ano 5 737 a.C.,<br />
com o imperador Shen Nuna, ter sido referenciada para fins medicinais,<br />
não estão ainda totalmente demonstradas cientificamente tais propriedades,<br />
sabendo-se, isso sim, que o abuso reiterado da substância conduz a<br />
ataques de pânico, distúrbios psicológicos e até à possibilidade de desenvolvimento<br />
de quadros de esquizofrenia21. Em segundo lugar, maiores<br />
cautelas nos são exigidas se tivermos em conta o relatório de <strong>2004</strong> do<br />
Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência que aponta a<br />
dependência de tal substância como a dependência com maior crescimento<br />
entre os que procuram uma desintoxicação, atingindo já os 30% de<br />
21 Novo dado apresentado em Paris a 20/Mai/<strong>2004</strong> pelo Instituto Nacional de Saúde e da<br />
Investigação Médica.<br />
138
Dependências e outras violências…<br />
novos doentes. O mesmo relatório refere que entre 3 a 12% da população<br />
europeia, entre 15 a 34 anos, terá consumido cannabis nos últimos trinta<br />
dias. Entre 0,9% a 3,7% desta população consome diariamente.<br />
Se existiam dúvidas na edição de Dezembro de <strong>2009</strong> do British<br />
Journal of Psychiatry, foram apresentados resultados de mais um estudo<br />
no qual participou o psiquiatra português Tiago Reis Marques na qualidade<br />
de co-autor, sobre o consumo de cannabis, demonstrando-se que o uso<br />
diário da substância aumenta seis vezes o risco de desenvolvimento de<br />
uma doença psicótica, como a esquizofrenia ou outras semelhantes.<br />
Um relatório, divulgado a nível comunitário, cuja informação foi<br />
recolhida em Abril de <strong>2004</strong>, contando com uma amostra de 500 jovens<br />
portugueses, portanto dois meses antes da nossa recolha de dados na<br />
Região Autónoma dos Açores de <strong>2004</strong>, deu conta da prevalência média<br />
europeia do consumo de cannabis, nos jovens dos 15 aos 24 anos de idade,<br />
de 33%. A Espanha era apresentada como o Estado com maior prevalência<br />
do consumo de cannabis ao apresentar uma taxa de 44%.<br />
Portugal, que, no referido estudo, em 2002, apresentou uma taxa de<br />
14%, em Abril de <strong>2004</strong> atingiu os 23%. Entre os consumidores portugueses,<br />
85% disseram que adquiriram a substância junto de bares e discotecas,<br />
durante a noite.<br />
Conforme já dissemos, a Universidade Nova de Lisboa inquiriu, em<br />
2001, 15 mil pessoas, com idades compreendidas entre os 15 e os 65 anos<br />
de idade sobre o consumo de substâncias psicoactivas. À pergunta se já<br />
tinham consumido algum tipo de droga concluiu-se que a média nacional<br />
era de 7,8%, surgindo a cannabis como a substância mais consumida<br />
(7,6%), seguindo-se a cocaína (0,9%), o ecstasy (0,7%), a heroína (0,7%),<br />
as anfetaminas (0,5%) e o LSD (0,4%). O consumo de antidepressivos ou<br />
tranquilizantes foi admitido por 5,7% dos inquiridos.<br />
Com base no referido estudo, se pretendermos fazer algumas comparações<br />
a nível europeu, verificamos que Portugal, na substância ilícita<br />
mais consumida, cannabis, com 7,6%, apresenta a taxa mais baixa da<br />
Europa, surgindo a Grã-Bretanha, com 25%, a mais elevada taxa de consumo,<br />
a França, com 21,9%, a Espanha, com 19,8%, a Holanda, com<br />
19,1%, e a ex-Alemanha Ocidental, com 13,4%.<br />
Segundo o relatório de 2007 do Gabinete sobre Drogas e Crime das<br />
Nações Unidas, havia no mundo 25 milhões de dependentes das vulgar-<br />
139
Alberto Peixoto<br />
mente designadas drogas duras correspondendo a 0,5% do total da população.<br />
Nesse relatório, a Espanha aparece como o país com o recorde mundial<br />
no consumo de cocaína, com mais de 900 mil indivíduos entre os 15<br />
e os 64 anos com hábitos de consumo regulares.<br />
No últimos dez anos, em Espanha, duplicou o consumo entre os adultos<br />
e quadruplicou entre os adolescentes (AE, 17/Mar/2008: 23). Portugal,<br />
com taxas de consumo muito mais baixas que as espanholas, tal como em<br />
toda a Europa, regista um aumento significativo do consumo de cocaína<br />
(DN, 09/Mai/<strong>2009</strong>: 20).<br />
Nos Açores, em <strong>2004</strong>, 10,8% da população já tinha experimentado<br />
substâncias ilícitas pelo menos uma vez, 3% acima da média continental,<br />
que se situava nos 7,8%. Em <strong>2009</strong>, a prevalência de consumo nos Açores<br />
atingiu os 14,8%, ou seja, 2,8% acima da média registada no Continente,<br />
em 2007, indiciando um encurtar da distância, apesar de ligeiro.<br />
JÁ CONSUMIU DROGA CONTINENTE AÇORES CONTINENTE AÇORES<br />
2001 (%) <strong>2004</strong> (%) 2007(%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Sim 7,8 10,8 12,0 14,8<br />
Não 92,2 89,2 88,0 85,2<br />
Quadro n.º 58 Comparação de percentagens de indivíduos que já consumiram substâncias<br />
ilícitas (droga) pelo menos uma vez, no Continente e nos Açores.<br />
Os dados referentes ao Continente utilizados para comparação são<br />
os da Universidade Nova de Lisboa; embora apresentados em <strong>2004</strong>,<br />
foram recolhidos em 2001, distando, portanto, três anos do estudo que<br />
realizámos nos Açores. Os dados de 2007 distam dois anos dos nossos<br />
recolhidos em <strong>2009</strong>, o que também é necessário ter presente para se compreender<br />
as diferenças, visto que todos os anos se registam novos consumidores<br />
a somar aos existentes em anos anteriores. Contudo, dada a<br />
grande abrangência populacional em termos etários, os dois estudos citados<br />
constituem para nós a mais adequada base de comparação com os<br />
dados açorianos.<br />
Em termos absolutos, em <strong>2004</strong>, nos Açores, de um total de 241 762<br />
pessoas, 26 110 já experimentaram o consumo de drogas. Em <strong>2009</strong>, de um<br />
total da população constituída por 244 780 habitantes, 36 227 afirmaram<br />
140
possuir experiências de consumo. Estamos perante um aumento de 10 117<br />
consumidores em cinco anos, ou, se preferirmos, 2 023 novos consumidores<br />
por ano.22<br />
JÁ CONSUMIU DROGA <strong>2004</strong> (%) N.º <strong>2009</strong> (%) N.º<br />
ABSOLUTO ABSOLUTO<br />
<strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
Sim 10,8 26 110 14,8 36 227<br />
Não 89,2 215 652 85,2 208 552<br />
Quadro n.º 59 Percentagem e número absoluto de indivíduos nos Açores que já consumiram<br />
substâncias ilícitas (droga) pelo menos uma vez.<br />
Decompondo a percentagem de 14,8% dos açorianos que afirmaram<br />
já ter consumido drogas, concluiu-se que 2,4% do total da população, ou<br />
seja, 5 875 açorianos tinham consumido há menos de uma semana, 2,7%<br />
(6 609), há menos de um mês, 4,2% (10 280), há menos de um ano, e 5,5%<br />
(13 463), há vários anos atrás.<br />
O ÚLTIMO CONSUMO FOI HÁ <strong>2009</strong> (%)<br />
Menos de uma semana 16,4<br />
Menos de um mês 17,9<br />
Menos de um ano 28,4<br />
Vários anos atrás 37,3<br />
Dependências e outras violências…<br />
Quadro n.º 60 Tempo que medeia entre o momento do inquérito e<br />
o último consumo, entre os 14,8% que admitiram já ter consumido.<br />
Atendendo à distribuição espacial e à prevalência do consumo, verificou-se<br />
ser na ilha do Pico onde percentualmente mais pessoas já tinham<br />
experimentado o consumo de drogas atingindo, em <strong>2004</strong>, os 14,3% do total<br />
da população, seguindo-se São Miguel, com 13,2% da população, Santa<br />
22 A taxa de novos consumidores de substâncias ilícitas nos Açores com 2 023 novos consumidores<br />
ano é bem superior à taxa de novos consumidores regulares de álcool que se<br />
estima em 916 novos indivíduos por ano.<br />
141
Alberto Peixoto<br />
Maria, com 11,5%, Faial, com 11,4%, São Jorge, com 9,2%, Graciosa, com<br />
8,8%, Terceira, com 7% e tanto na ilha das Flores como na ilha do Corvo<br />
não se conseguiu identificar nenhuma pessoa a assumir já ter experimentado<br />
o consumo de uma qualquer substância ilícita.<br />
Em <strong>2009</strong>, foi encontrado um cenário bastante diferente agravado<br />
pelas taxas de crescimento em praticamente todas as ilhas. O Pico, com<br />
um crescimento de 8,7% e uma prevalência de 23%, mantém-se na frente,<br />
seguindo-se Santa Maria, com uma prevalência de 22,9% (+11,4%), e em<br />
terceiro lugar São Jorge, com 16%. A ilha de São Miguel apresentou uma<br />
prevalência estabilizada nos 13,2% bem como o Faial, apesar de uma diferença<br />
de duas décimas. As Flores e o Corvo, que em <strong>2004</strong> não tinham apresentado<br />
consumidores, em <strong>2009</strong>, surgiram com uma prevalência de 9,8%<br />
e 9,6%, respectivamente, abaixo da média regional, denunciando um percurso<br />
evolutivo mais tardio em relação às demais ilhas.<br />
ILHA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%) Variação (%)<br />
Corvo 0,0 9,6 + 9,6<br />
Faial 11,4 11,6 + 0,2<br />
Flores 0,0 9,8 + 9,8<br />
Graciosa 8,8 9,7 + 0,9<br />
Pico 14,3 23,0 + 8,7<br />
São Jorge 9,2 16,0 + 6,8<br />
São Miguel 13,2 13,2 0,0<br />
Santa Maria 11,5 22,9 + 11,4<br />
Terceira 7,0 13,2 + 6,2<br />
MÉDIA AÇORES 10,8 14,8 + 4,0<br />
Quadro n.º 61 Percentagem da população consumidora de drogas<br />
por ilha.<br />
Embora o Pico tivesse apresentado, em <strong>2004</strong>, a mais elevada taxa de prevalência<br />
de consumo de substâncias ilícitas, por ilhas, a nível Açores, por concelhos<br />
era o das Lajes do Pico que se situava em primeiro lugar, com uma taxa<br />
de 32,5%, seguindo-se, na ilha de São Miguel, Vila Franca do Campo, com uma<br />
taxa de 22,5% do total da população, enquanto a taxa média regional era de<br />
10,8%. Também em São Miguel, e em terceiro lugar, surgiu a Lagoa, com uma<br />
142
taxa de 16,7%, e em quarto lugar Ponta Delgada, com uma taxa de 14,7%.<br />
Em <strong>2009</strong>, é também um concelho do Pico que se situa em primeiro<br />
lugar a nível regional, com uma prevalência de 27,1%, seguindo-se a<br />
Madalena, com 24,3%, e depois as Velas de São Jorge, com 23, 6%.<br />
O Concelho de Lajes, apesar de ter apresentado uma taxa de prevalência<br />
de 23,3%, foi aquele que apresentou o maior decréscimo, seguindo-se Lagoa,<br />
com um decréscimo de 2,6%, Ponta Delgada, com um decréscimo de nove<br />
décimas, e Vila Franca do Campo, com um decréscimo de duas décimas.<br />
CONCELHOS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Angra do Heroísmo 6,4 14,2<br />
Calheta de São Jorge 7,5 12,7<br />
Corvo 0,0 9,6<br />
Horta 11,4 11,6<br />
Lagoa 16,7 14,1<br />
Lajes das Flores 0,0 9,6<br />
Lajes do Pico 32,5 23,3<br />
Madalena 6,2 24,3<br />
Nordeste 3,0 16,5<br />
Ponta Delgada 14,2 13,3<br />
Povoação 3,9 17,4<br />
Praia da Vitória 8,2 13,2<br />
Ribeira Grande 10,9 19,6<br />
S. Roque do Pico 0,0 27,1<br />
Santa Cruz da Graciosa 8,8 9,7<br />
Santa Cruz das Flores 0,0 9,8<br />
Velas de São Jorge 11,9 23,6<br />
Vila do Porto 11,5 22,9<br />
Vila Franca do Campo 22,5 22,3<br />
Quadro n.º 62 Consumo de droga por concelhos.<br />
Dependências e outras violências…<br />
Para além das diferenças muito significativas ao nível da prevalência<br />
de consumo, tal como em <strong>2004</strong>, mantêm-se profundas diferenças de concelho<br />
para concelho quanto às tipologias. Em Vila Franca do Campo,<br />
Lagoa e na ilha do Pico, em geral, as opções de consumo eram por liam-<br />
143
Alberto Peixoto<br />
ba, cannabis e haxixe. Ponta Delgada situava-se já num outro patamar de<br />
consumo onde a heroína e cocaína tinham uma prevalência significativa e<br />
o policonsumo apresenta-se como o mais elevado dos Açores, superior a<br />
3%, ao passo que a média era à volta de 1%.<br />
A experimentação de uma substância ilícita apresenta-se sobretudo<br />
como uma resposta à curiosidade ou à pressão do grupo, mas para além da<br />
quantificação de indivíduos que já consumiram importava caracterizar<br />
esse mesmo consumo, nomeadamente ao nível da regularidade. Os valores<br />
do quadro que se segue decompõem a prevalência global do consumo,<br />
ilha a ilha, definindo a partir desse valor a parte a que corresponde cada<br />
uma das periodicidades possíveis.<br />
REGULARIDADE DO Diária Diária Semanal Semanal Ocasional Ocasional<br />
CONSUMO DE DROGA <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
POR ILHA (%) (%) (%) (%) (%) (%)<br />
Corvo 0,0 0,3 0,0 2,9 0,0 6,4<br />
Faial 0,7 1,4 0,0 2,0 10,7 8,2<br />
Flores 0,0 0,4 0,0 2,8 0,0 6,6<br />
Graciosa 0,0 0,0 1,5 0,5 7,3 9,2<br />
Pico 0,5 1,2 0 1,8 13,8 20,0<br />
São Jorge 0,0 0,9 0,0 1,1 9,2 14,0<br />
São Miguel 0,5 0,7 0,9 0,6 9,9 11,9<br />
Santa Maria 1,2 0,0 1,3 1,4 9,0 21,5<br />
Terceira 0,5 0,2 0,3 0,3 6,2 13,2<br />
MÉDIA AÇORES 0,5 0,6 0,6 0,7 9,7 13,5<br />
Quadro n.º 63 Regularidade do consumo de droga por ilha.<br />
No arquipélago, o consumo de substâncias ilícitas caracterizou-se por<br />
ser sobretudo ocasional por, em <strong>2004</strong>, existir uma prevalência ocasional de<br />
9,7%, numa taxa geral de consumo de 10,8% da população, e, em <strong>2009</strong>,<br />
de 13,5% para uma prevalência geral de consumo de 14,8%.<br />
Em termos diários, nos Açores, em <strong>2004</strong>, tínhamos 0,5% do total da<br />
população, e, em <strong>2009</strong>, 0,6% a afirmar fazê-lo. Em conformidade com<br />
o nosso conceito de dependência em termos do consumo de substâncias<br />
ilícitas é possível afirmar-se que, em <strong>2009</strong>, 0,6% do total da população<br />
144
Dependências e outras violências…<br />
açoriana é dependente de drogas, correspondendo a 1 469 habitantes,<br />
podendo este número ser engrossado se utilizarmos outros critérios,<br />
como veremos mais adiante.23<br />
Na ilha de Santa Maria, em <strong>2004</strong>, de uma prevalência de consumo<br />
global de 11,5% do total da população, 9% afirmava que só ocasionalmente<br />
o fazia, 1,3% consumia semanalmente e 1,2% da população<br />
diariamente consumia pelo menos uma substância ilícita. Em<br />
São Miguel, 9,9% da população afirmou consumir ocasionalmente<br />
enquanto 0,9% fazia-o semanalmente e 0,5% diariamente. Na ilha<br />
Terceira, 6,3% consumia ocasionalmente, 0,3% consumia uma vez<br />
por semana e 0,5% da população dizia consumir todos os dias. Com<br />
quadros relativamente próximos, surgiram Graciosa, Flores e Corvo,<br />
apesar de a ilha Graciosa não ter apresentado qualquer indivíduo a<br />
assumir o consumo diário.<br />
Em termos de consumo diário de substâncias ilícitas, e que nos<br />
permite classificar como quadro de dependência, podemos afirmar que<br />
a situação se agravou na ilha do Faial, no Pico, em São Jorge e em São<br />
Miguel. Passámos a ter no Faial pelo menos 219 dependentes de drogas,<br />
178 no Pico, 85 em São Jorge e 937 em São Miguel.<br />
O tipo de substâncias consumidas apresentou também variações<br />
muito significativas, apesar de uma certa tendência, que se manteve<br />
constante. Em termos de prevalência, a ilha de Santa Maria aproximou-<br />
-se do Pico, em <strong>2009</strong>, tal como nas tipologias. São Miguel e em particular<br />
Ponta Delgada também apresentaram uma tendência de estabilização<br />
não só ao nível da prevalência de consumo como também do tipo de<br />
substâncias consumidas.<br />
Registou-se uma melhoria ao nível do policonsumo em São Miguel e<br />
Faial, apesar de a nível Açores se ter agravado uma décima. De 1,4% de<br />
policonsumo, em <strong>2004</strong>, passou-se para 1,5%, em <strong>2009</strong>.<br />
Relativamente ao ecstasy, em <strong>2004</strong>, estava-se num patamar com 0,4%<br />
do total da população a dizer já ter experimentado pelo menos uma vez e,<br />
em <strong>2009</strong>, atingiu-se os 0,8%, ou seja, duplicou a prevalência. De cerca de<br />
23 Seguindo o mesmo critério, em <strong>2004</strong>, tínhamos 1 209 dependentes de drogas, e, em<br />
<strong>2009</strong>, passámos a ter mais 260 dependentes, o que representou mais 52 dependentes por<br />
ano. Ou seja, por cada semana que passou, um novo indivíduo tornou-se dependente de<br />
drogas, nos Açores.<br />
145
Alberto Peixoto<br />
900 indivíduos consumidores de ecstasy, em <strong>2004</strong>, nos Açores, em <strong>2009</strong>,<br />
passámos a ter cerca de 1 800.<br />
No Pico, 12,3% da população, em <strong>2004</strong>, já tinha consumido cannabis<br />
contra apenas 4,2% da população micaelense que afirmou tê-lo feito.<br />
Contudo, em <strong>2009</strong>, no Pico, passámos a ter 14,2% de consumidores de<br />
cannabis, enquanto em São Miguel apenas 4,7% disse tê-lo feito.<br />
O Pico, tal como o Faial e a Terceira, em <strong>2009</strong>, apresentaram as percentagens<br />
mais elevadas de consumidores de heroína, seguindo-se a população<br />
de São Miguel com uma prevalência de 0,4%, pelos vistos superior<br />
à média Açores que se situava em 0,1%.<br />
A cannabis/liamba e o haxixe foram as substâncias ilícitas que registaram<br />
maior procura por parte dos consumidores, e ao mesmo tempo as<br />
mais elevadas taxas de crescimento, embora o ecstasy também tenha<br />
duplicado a prevalência.<br />
Se em <strong>2004</strong> a prevalência de heroína e cocaína se situava no mesmo<br />
patamar, depois de a nível europeu a heroína ter perdido terreno para a<br />
cocaína, nos Açores, em <strong>2009</strong>, a heroína e a cocaína mantiveram em 0,1%<br />
a prevalência de consumo.<br />
As Ilhas Flores e Corvo não tinham registado nenhuma experiência de<br />
consumo de qualquer tipo de substância, em <strong>2004</strong>, mas, em <strong>2009</strong>, apareceram<br />
experiências de consumo de cannabis e haxixe e, nas Flores, em<br />
particular, também surgiu o consumo de ecstasy, heroína e cocaína. O<br />
mesmo se verificou na Graciosa que de uma prevalência de consumo de<br />
haxixe de 8,3%, em <strong>2004</strong>, evoluiu para uma prevalência mais diversificada<br />
onde, em <strong>2009</strong>, surgiu também a cocaína, a heroína e outra substância<br />
não identificada.<br />
Na ilha Terceira, em <strong>2004</strong>, registou-se o consumo de liamba/cannabis,<br />
ecstasy e haxixe, tendo, em <strong>2009</strong>, sido agravadas tais prevalências de consumo<br />
a par do aparecimento, com expressão, da heroína e da cocaína.<br />
São Jorge apresentou, em <strong>2004</strong>, a taxa mais elevada de consumo de<br />
cocaína com 0,4%, e, em <strong>2009</strong>, baixou para 0,3% mesmo assim três vezes<br />
superior à média açoriana, de 0,1% do total da população.<br />
146
TIPO DE DROGA Ecstasy Ecstasy Liamba/ Liamba/ Haxixe Haxixe Heroína Heroína Cocaína Cocaína Outra Outra Poli- Poli-<br />
CONSUMIDA <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> Cannabis Cannabis <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> consumo consumo<br />
POR ILHA (%) (%) <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
(%) (%) (%) (%)<br />
Corvo 0,0 0,0 0,0 6,1 0,0 3,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Faial 0,3 0,4 4,7 5,2 4,1 4,8 0,3 0,5 0,0 0,5 0,6 0,0 1,4 0,2<br />
Flores 0,0 0,4 0,0 5,7 0,0 3,5 0,0 0,1 0,0 0,1 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Graciosa 0,0 0,0 1,0 3,4 8,3 4,7 0,0 0,2 0,0 0,2 1,0 1,2 0,0 0,0<br />
Pico 0,6 0,9 12,3 14,2 0,6 5,0 0,3 0,6 0,0 0,4 0,0 0,4 1,4 1,5<br />
Dependências e outras violências…<br />
São Jorge 0,0 0,0 3,8 8,4 4,6 6,4 0,0 0,2 0,4 0,3 0,4 0,6 0,0 0,1<br />
São Miguel 0,6 0,6 4,2 4,7 4,3 4,3 0,1 0,4 0,1 0,3 0,6 0,4 3,5 2,5<br />
Santa Maria 0,0 1,1 5,0 8,2 0,0 9,2 0,0 0,4 0,0 0,7 6,5 2,2 0,0 1,1<br />
Terceira 0,3 0,8 4,2 5,3 1,7 4,7 0,0 0,6 0,0 0,3 0,3 0,3 1,1 1,2<br />
MÉDIA AÇORES 0,4 0,8 4,6 6,2 3,4 5,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,8 0,9 1,4 1,5<br />
Quadro n.º 64 Tipo de drogas consumidas dentro da percentagem de prevalência geral, por ilhas.<br />
147
Alberto Peixoto<br />
Utilizando novamente os dados recolhidos em 2001, pela<br />
Universidade Nova de Lisboa, e publicados em <strong>2004</strong>, como base de comparação,<br />
em termos gerais os Açores apresentaram uma prevalência superior<br />
à média nacional na cannabis, liamba e haxixe, atingindo os 8%,<br />
enquanto a média nacional do somatório destas três substâncias se fixa nos<br />
7,6%. A cocaína, nos Açores, é consumida por 0,1% da população enquanto<br />
no Continente tem uma prevalência superior atingindo os 0,9%. A prevalência<br />
do consumo de heroína nos Açores atinge os 0,1% enquanto a<br />
média nacional se situa nos 0,7% da população. O somatório de outras<br />
drogas não especificadas atinge nos Açores 0,8% da população enquanto<br />
a média nacional é de 0,9%.<br />
Em <strong>2009</strong>, a prevalência de consumo de cannabis/liamba e haxixe atingiu<br />
os 11,4%, mais 3,4% que em <strong>2004</strong>, ou mais 3,4% que a média nacional<br />
de 2005, ou 1,4% superior à média da Finlândia, mas bastante inferior<br />
à média dos demais Estados da União Europeia conforme consta no quadro<br />
n.º 1.<br />
Os indivíduos que nos Açores, em <strong>2004</strong>, tinham consumido substâncias<br />
ilícitas caracterizavam-se por o terem feito predominantemente até<br />
aos 25 anos de idade e apesar de entre os 26 e os 30 anos ainda existirem<br />
alguns acontecimentos era notória a diminuição da propensão não se registando<br />
qualquer consumo depois dos 30 anos, exceptuando-se a ilha de São<br />
Miguel que apresenta uma taxa de 0,1% da população entre os 31 e os 35<br />
anos.<br />
Em <strong>2009</strong>, ao nível da prevalência de consumos por grupos etários,<br />
manteve-se a mesma tendência de <strong>2004</strong>, com um agravamento nas idades<br />
mais jovens e uma persistência de indivíduos com hábitos de consumo<br />
para além dos 35 anos, demonstrando que é um fenómeno em evolução.<br />
Os indivíduos que surgiam em <strong>2004</strong> para além dos 30 anos estão agora<br />
para além dos 35 tendo sido os que deram expressão ao fenómeno a nível<br />
Açores que conforme já referimos iniciaram o consumo por meados da<br />
década de 90.24<br />
24 É de referir a este propósito que os indivíduos pioneiros no consumo de drogas nos<br />
Açores representavam, em <strong>2009</strong>, 0,3% do total da população açoriana e que têm hoje<br />
mais de 51 anos, nascidos, portanto, na década de 50 e que apanharam os denominados<br />
«loucos anos 60 e 70» muito ligados a movimentos contestatários, entre os quais as drogas,<br />
na época, proliferaram com alguma facilidade.<br />
148
IDADE DE 14 e 14 e 15-20 15-20 21-25 21-25 26-30 26-30 31-35 31-35 36-40 36-40 41-45 41-45 46-50 46-50 51 e 51 e<br />
INÍCIO DE menos menos <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> mais mais<br />
CONSUMO <strong>2004</strong> <strong>2009</strong> (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
DE DROGA (%) (%) (%) (%)<br />
POR ILHA<br />
Corvo 0,0 33,3 0,0 66,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Faial 5,3 24,4 69,9 68,9 22,1 15,0 2,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Flores 0,0 17,9 0,0 64,1 0,0 12,8 0,0 5,2 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Graciosa 9,7 12,5 90,3 75,0 0,0 12,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Pico 20,9 11,3 64,1 75,5 6,5 13,2 8,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Dependências e outras violências…<br />
São Jorge 0,0 11,1 69,7 88,9 30,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
São Miguel 17,1 18,8 67,4 70,7 13,3 6,4 2,3 1,4 0,0 1,8 0,0 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,4<br />
Santa Maria 4,5 8,8 59,1 73,6 36,4 14,7 0,0 2,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
Terceira 12,9 13,0 71,4 77,9 11,9 7,8 3,8 0,0 0,0 0,0 0,0 1,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0<br />
MÉDIA AÇORES 13,9 14,1 69,4 75,0 13,9 8,1 2,8 1,2 0,0 0,8 0,0 0,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,3<br />
Quadro n.º 65 Idades de início do consumo de droga por ilha.<br />
Nota: O presente quadro foi refeito para <strong>2004</strong>, por entendermos ser mais elucidativo apresentar a prevalência total dos inícios de consumos, em todos os grupos etários, correspondente a 100% em vez de<br />
efectuarmos a distribuição, por grupos etários, da prevalência total de consumo de 10,8% (<strong>2004</strong>), conforme apresentámos (Peixoto, 2005: 125).<br />
149
Alberto Peixoto<br />
Do total de indivíduos que nos Açores, em <strong>2004</strong>, assumiram já ter<br />
consumido drogas, 13,9% tinha-o feito antes dos 15 anos e 69,4%, entre<br />
os 15 e os 20 anos, 13,9%, entre os 21 e os 25 anos, e 2,8% fê-lo entre<br />
os 26 e os 30 anos de idade. Em <strong>2009</strong>, assistiu-se a um abaixamento das<br />
idades de início de consumo considerando que passou para 14,1% os<br />
que iniciaram antes dos 15 anos e para 75% os que iniciaram entre os<br />
15 e os 20 anos de idade.<br />
Em <strong>2004</strong>, São Miguel e Pico apresentaram as idades mais baixas<br />
de início do consumo de drogas. No entanto, em <strong>2009</strong>, houve uma<br />
significativa alteração tendo passado a ser Faial, São Miguel e<br />
Terceira as ilhas onde se começou a iniciar mais cedo o consumo de<br />
droga.25<br />
Como já tínhamos verificado na questão do tabaco e do álcool, é<br />
sobretudo em festas e na interacção no grupo que se inicia o consumo<br />
de drogas, sendo estes os espaços de maior probabilidade de ocorrência<br />
deste tipo de acontecimento agrupando, em <strong>2004</strong>, 75,9%, e, em<br />
<strong>2009</strong>, 81,6% das respostas do inquiridos. Em síntese, denotou-se de<br />
<strong>2004</strong> para <strong>2009</strong> um aumento das oportunidades conferidas pelas festas<br />
para se iniciar o consumo de drogas.<br />
INICIOU O CONSUMO DE DROGA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Em casa 9,2 9,3<br />
Na escola 13,8 8,4<br />
Em festas 22,2 31,6<br />
No grupo 53,7 50,0<br />
Outra 1,1 0,7<br />
Quadro n.º 66 Local de início de consumo de droga.<br />
É de destacar o facto de o espaço escolar ser apontado por 13,8%<br />
(<strong>2004</strong>), 8,4% (<strong>2009</strong>) dos consumidores como o local onde tiveram o pri-<br />
25 Em bom rigor, as ilhas que apresentaram as percentagens mais elevadas de início de consumo<br />
nas idades mais baixas foram Corvo e Flores, contudo não podemos fazer uma leitura<br />
linear na medida em que estamos a falar em populações de pequena dimensão em<br />
que os números produzem um efeito alavanca nas percentagens além do ponto de partida<br />
de há cinco anos ter sido o zero.<br />
150
meiro contacto com a substância ilícita enquanto no consumo de álcool<br />
apenas 2% indicava este local como o local de iniciação. Consumir<br />
álcool em casa pela primeira vez tinha sido revelado por 21,9% (<strong>2004</strong>)<br />
e 21,8% (<strong>2009</strong>) dos inquiridos e já quanto ao início de consumo de<br />
droga apenas 9,2% (<strong>2004</strong>) e 9,3% (<strong>2009</strong>) assumiram ter sido aquele o<br />
local de iniciação.<br />
A diminuição do número de indivíduos que afirmaram ter sido a<br />
escola o local de início de consumo de droga (menos 5,4%) pode estar<br />
relacionada com o facto de ter sido proibido fumar nos recintos escolares.<br />
Como normalmente os primeiros consumos de droga se fazem<br />
pela via fumada, é compreensível que tal restrição tenha tido impacto.<br />
Mais perceptível se torna tal facto se considerarmos que no inquérito<br />
de <strong>2009</strong> foi indicada a rua como o outro local mais expressivo ao nível<br />
do início do consumo.26<br />
Os locais de início de consumo de drogas são bastante reveladores<br />
dos mecanismos individuais e sociais envolventes do comportamento<br />
desviante em apreço e mais reveladores se tornam se tivermos em conta<br />
com quem foi iniciado o consumo de tais substâncias.<br />
INICIOU O CONSUMO DE DROGA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Sozinho 1,9 0,5<br />
Com os familiares 1,0 2,2<br />
Com amigos/colegas 97,1 97,3<br />
Quadro n.º 67 Como foi iniciado o consumo de droga.<br />
Dependências e outras violências…<br />
Em 97,1%, em <strong>2004</strong>, e 97,3%, <strong>2009</strong>, dos indivíduos que tiveram<br />
pelo menos uma experiência com drogas foi com amigos ou colegas e<br />
somente 1%, em <strong>2004</strong>, e 2,2%, em <strong>2009</strong>, o fizeram com familiares e<br />
1,9%, em <strong>2004</strong>, e 0,5%, em <strong>2009</strong>, assumiram tê-lo feito por iniciativa<br />
própria e sozinhos. Tal como anteriormente tínhamos verificado, os<br />
indivíduos estão cada vez mais permeáveis à influência dos pares.<br />
26 O aparecimento da rua como o local de início de uma certa vulgaridade no acto de consumir<br />
substâncias ilícitas e que não pode ser dissociado daquilo que se passa hoje à porta<br />
das escolas devido à proibição do fumo nos recintos escolares.<br />
151
Alberto Peixoto<br />
MOTIVO DO CONSUMO DE DROGA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Para se sentir desinibido 15,7 17,3<br />
Para se sentir calmo 5,5 7,7<br />
Para ter coragem 3,7 0,1<br />
Para ter mais força/potência 2,8 1,1<br />
Para esquecer 7,4 2,9<br />
Para sentir prazer 25,0 22,1<br />
Outro 39,8 48,8<br />
Quadro n.º 68 Motivação do consumo de droga.<br />
A procura de obtenção de prazer foi apresentada como a principal<br />
motivação do consumo de drogas de acordo com as justificações<br />
apresentadas por 25% (<strong>2004</strong>) e 22,1% (<strong>2009</strong>) dos inquiridos, seguindo-se<br />
o esforço de desinibição invocado por 15,7% (<strong>2004</strong>) e 17,3%<br />
(<strong>2009</strong>).<br />
Uma das principais motivações invocadas para o consumo apresentou<br />
uma taxa de 39,8% (<strong>2004</strong>) e 48,8% (<strong>2009</strong>) da população, tendo sido<br />
referida como outra que não as apontadas e que cremos ser a satisfação<br />
da curiosidade em experimentar as sensações frequentemente descritas,<br />
mas nem sempre de forma objectiva e despidas de preconceitos e estereótipos.<br />
Em <strong>2009</strong>, atendendo à frequência de respostas na opção «outra»,<br />
já registada em <strong>2004</strong>, quisemos investigar o que traduzia de forma<br />
mais objectiva tal opção. Constatámos que em primeiro lugar surgiu a<br />
motivação da experimentação, seguindo-se a motivação social, a curiosidade<br />
e por último a diversão.<br />
A pesquisa das relações entre prática de violência e o consumo de<br />
drogas foi efectuada no quadro que se segue tendo-se perguntado à<br />
população se já tinha sido vítima de qualquer acção de violência perpetrada<br />
por indivíduo que se encontrava sob o efeito de tais substâncias.<br />
152
ILHAS VÍTIMAS DE DEPENDENTES VÍTIMAS DE DEPENDENTES<br />
DE DROGAS - <strong>2004</strong> (%) DE DROGAS - <strong>2009</strong> (%)<br />
Corvo 0,0 13,0<br />
Faial 4,4 12,0<br />
Flores 0,0 11,8<br />
Graciosa 1,0 1,2<br />
Pico 2,5 11,7<br />
São Jorge 6,9 1,7<br />
São Miguel 3,9 12,0<br />
Santa Maria 3,0 13,0<br />
Terceira 2,5 11,8<br />
MÉDIA AÇORES 3,4 6,2<br />
Quadro n.º 69 Vítimas de dependentes de drogas, por ilha.<br />
Dependências e outras violências…<br />
Em <strong>2004</strong>, em média, a população açoriana, que já tinha sido vítima de<br />
uma acção violenta, praticada por indivíduo alcoolizado, atingiu os 16%<br />
do total da população. A vitimização por indivíduos sob a influência de<br />
droga apresentava uma taxa de prevalência bastante inferior à da influência<br />
de álcool situando-se nos 3,4%. Em <strong>2009</strong>, a percentagem de vítimas de<br />
indivíduo sob influência de droga passou para 6,2% enquanto sob a influência<br />
de álcool a vitimização aumentou para 17,6%. Se a vitimização praticada<br />
por indivíduo sob a influência de álcool aumentou 1,6%, a vitimização<br />
resultante da acção sob a influência de droga aumentou 2,8%.<br />
Conforme demonstrou Cândido da Agra (2000), e os dados recolhidos<br />
nos Açores confirmam-no, o álcool apresenta uma prevalência da prática<br />
de violência bastante superior à prevalência da violência praticada devido<br />
ao consumo de drogas em geral.<br />
A cocaína, entre as drogas mais consumidas, é, conforme foi demonstrado<br />
por vários estudos, apontada como a substância ilícita com maior potencialidade<br />
de levar os consumidores a actos de violência, embora em menor grau que o<br />
álcool. Tal tendência transpareceu, em <strong>2004</strong>, nos dados referentes à ilha de São<br />
Jorge onde surgiu a maior prevalência percentual de consumo de cocaína e de<br />
igual modo apresentava-se como a ilha com maior percentagem de pessoas vítimas<br />
de violência, praticada por indivíduos consumidores de drogas. Em <strong>2009</strong>,<br />
foram as Ilhas do Faial e de Santa Maria que apresentaram as prevalências mais<br />
153
Alberto Peixoto<br />
elevadas do consumo de cocaína e de igual modo foram as ilhas que apresentaram<br />
as mais elevadas taxas de prática de violência sob a influência de droga.<br />
Em São Miguel, 3,9% da população, afirmou, em <strong>2004</strong>, já ter sido vítima<br />
de acções violentas praticadas por consumidores de drogas e, em <strong>2009</strong>, a percentagem<br />
alterou-se para 5,1%. O Faial apresentou 4,4% da população vitimada,<br />
em <strong>2004</strong>, e, em <strong>2009</strong>, 12%. Santa Maria passou de 3% para 4,8%, em <strong>2009</strong>.<br />
Em qualquer dos casos a prevalência de violência praticada pelo consumo de<br />
álcool é sempre bastante superior à praticada no caso de consumo de drogas.<br />
Todavia também os consumidores acabam por ser vítimas de actos de<br />
violência praticados por outros indivíduos igualmente consumidores. Em<br />
<strong>2004</strong>, quantificaram-se em 13,2% os consumidores vítimas, enquanto<br />
entre os que não consumiam droga só 2,2% admitiram ter sido vítimas de<br />
tais actos. Em <strong>2009</strong>, 13,7% dos consumidores de droga tinham sido vítimas<br />
de violência praticada por indivíduos sob influência de droga e 4,9%<br />
eram os que sem hábitos de consumo de droga tinham sido vítimas de indivíduos<br />
sob a influência de droga. Portanto quem consome tem muito maior<br />
probabilidade de ser vítima de acto violento praticado por dependente.<br />
Detendo-nos sobre o perfil do consumidor de droga, nos Açores, verificamos<br />
que, em <strong>2004</strong>, 75,1% eram homens e 24,9% eram mulheres, e em<br />
<strong>2009</strong>, 68,9% eram homens e 31,1% eram mulheres, estando, também, ao<br />
nível do consumo de drogas, a aumentar o número de mulheres.<br />
Em <strong>2004</strong>, o volume da prevalência de consumo de drogas entre as<br />
mulheres, 24,9%, já era expressivo, aproximando-se da prevalência feminina<br />
do álcool, que era de 30% dos consumidores, ou da prevalência feminina<br />
do tabaco, quantificada em 31,4% do total dos consumidores. Em <strong>2009</strong>, a<br />
prevalência feminina do consumo de tabaco passou para 38%, a de álcool<br />
passou para 41,4% e a prevalência do consumo de droga passou para 31,1%.<br />
SEXO CONSUMO DE DROGA CONSUMO DE DROGA<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Masculino 75,1 68,9<br />
Feminino 24,9 31,1<br />
Quadro n.º 70 Consumo de droga, por sexos.<br />
Em <strong>2009</strong>, entre os homens, 20,8% do total (25 253) assumiu já ter consumido<br />
substâncias ilícitas, enquanto entre o universo feminino apenas 9,1%<br />
154
(11 227) o admitiu. Pegando no universo de açorianos, que assumiu já ter<br />
consumido, concluiu-se que 68,9% eram homens e 31,1% eram mulheres.<br />
Conforme foi já constatado noutros estudos, a prevalência do consumo<br />
feminino surge em crescimento no tabaco, no álcool e nas drogas em geral,<br />
traduzindo as transformações sociais que produziram uma maior abertura do<br />
universo feminino. De <strong>2004</strong> para <strong>2009</strong>, a frequência de consumo de drogas<br />
entre as mulheres em relação aos homens cresceu 6,2 pontos percentuais.<br />
Em <strong>2004</strong>, detectámos que três em cada cem crianças com menos de 15<br />
anos consumia ou já tinha consumido drogas pelo menos uma vez. A faixa<br />
etária entre os 15 e os 20 anos apresentava a maior propensão para o consumo<br />
de drogas com cerca de 25 em cada 100 indivíduos. Entre os 21 e os 25<br />
anos, 24 em cada cem jovens já tinha consumido. Dos 15 anos aos 30 anos,<br />
a prevalência do consumo era sempre superior à média açoriana, que, como<br />
vimos, era de 10,8%, agrupando 64,9% do total dos consumidores.<br />
Apesar da gravidade do facto de 3,1 em cada 100 adolescentes com<br />
menos de 15 anos já ter experimentado drogas ter passado, em <strong>2009</strong>, para<br />
3,5 em cada cem, foi neste grupo etário que se registou a menor taxa de<br />
crescimento de consumo. No grupo etário 15-20 anos, a prevalência<br />
aumentou para 27 em cada cem, e entre os 21-25, aumentou de 24 em cada<br />
cem para 36 em cada cem. No grupo etário 26-30 anos, registou-se um<br />
aumento de 9,7% e de 7,3% no grupo etário 31-35 anos de idade.<br />
IDADE CONSUMO DE DROGA CONSUMO DE DROGA<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
14 e menos 3,1 3,5<br />
15-20 24,6 27,0<br />
21-25 23,6 35,7<br />
26-30 15,3 25,0<br />
31-35 9,1 16,4<br />
36-40 6,4 12,6<br />
41-45 4,0 6,7<br />
46-50 0,9 5,3<br />
51 e mais 1,1 1,9<br />
Quadro n.º 71 Consumo de droga, por idades.27<br />
Dependências e outras violências…<br />
27 Os dados do presente quadro, referentes a <strong>2004</strong>, foram refeitos por necessidades de<br />
comparabilidade devido a ligeiros desvios entre amostras.<br />
155
Alberto Peixoto<br />
Em síntese podemos afirmar que, em <strong>2009</strong>, em relação a <strong>2004</strong>, registaram-se<br />
alterações bastante expressivas em todas as classes etárias, sendo<br />
entre os 21 e os 25 anos que a situação mais se agravou.<br />
O inquérito nacional de 2001, em meio escolar, efectuado pelo<br />
Instituto da Droga e Toxicodependência, teve como amostra 25 000 alunos<br />
com idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos de idade. Concluiu-se<br />
que 14% dos inquiridos já tinha experimentado pelo menos uma vez substâncias<br />
ilícitas, sendo a cannabis a substância mais referida. O ecstasy e a<br />
cocaína foram experimentadas por 4% daquela população, enquanto 3% já<br />
tinha experimentado heroína, anfetaminas, LSD e cogumelos mágicos.<br />
Naquele inquérito, os Açores surgiam como a região com maior propensão<br />
para o consumo, com 19% de respostas afirmativas, seguindo-se<br />
Santarém, com 18%, Vila Real e Castelo Branco, com 17%, encontrando-<br />
-se todas estas regiões acima da média nacional situada em 14% da população<br />
estudantil. Tendo a nossa amostra sido agrupada de modo diferente<br />
do citado estudo, concluímos não ser tão significativo o número de indivíduos<br />
que com 15 ou menos anos já experimentou drogas pelo menos<br />
uma vez, o que, como já referimos nas nossas abordagens, se situou, em<br />
<strong>2004</strong>, nos 3,1%, e, em <strong>2009</strong>, nos 3,5%.<br />
A prevalência do consumo de drogas quanto às idades tem denunciado<br />
diferenças bastante significativas quando comparadas com o consumo<br />
de outras substâncias susceptíveis de provocarem dependência, nos mais<br />
diversos estudos. No entanto, dada a pertinência do indicador, entendemos<br />
efectuar uma análise, refazendo os grupos etários, a fim de permitir uma<br />
abordagem comparativa mais pormenorizada em relação aos dois estudos<br />
de Casimiro Balsa, de 2001 e 2007, à população em geral, referentes ao<br />
todo nacional.<br />
156<br />
DADOS 15-64 15-19 20-24 25-34 35-44 45-54 55-64<br />
Nacional 2001 7,8 10,8 14,0 12,4 12,9 7,7 2,2<br />
Nacional 2007 12,0 8,6 22,2 15,4 19,0 15,0 6,1<br />
Açores <strong>2009</strong> 16,2 25,2 38,0 21,1 10,8 5,7 2,2<br />
Quadro n.º 72 Dados do inquérito à população geral (IDT) sobre a prevalência de<br />
consumo de drogas, em comparação com os dados referentes à Região Açores.
Da análise dos números sobre a prevalência do consumo nos Açores,<br />
resultantes de um agrupamento etário idêntico ao dos estudos do IDT, realizados<br />
por Casimiro Balsa, conclui-se que existem diferenças muito significativas<br />
em termos percentuais. Assim, a prevalência do consumo da<br />
população entre os 15 e os 64 anos de idade, nos Açores, em <strong>2009</strong>, passou<br />
para 16,2%, ou seja, 4,2% superior à média nacional. O grupo etário 15-<br />
-19 anos passa para 25,2%, enquanto incompreensivelmente a média nacional<br />
era de 8,6%, em 2007, depois de ter sido 10,8%, em 2001. Os Açores,<br />
em <strong>2009</strong>, apenas conseguiram apresentar taxas de prevalência de consumo<br />
de drogas nos grupos etários para além dos 35 anos, o que mais uma vez<br />
demonstra que o fenómeno da droga nos Açores é bastante mais recente<br />
que no Continente.28<br />
Considerando os estados civis dos inquiridos, conclui-se que os indivíduos<br />
com maior propensão para o consumo de drogas são os solteiros, visto<br />
que, em <strong>2004</strong>, 73 em cada 100 consumidores encontravam-se nessa situação.<br />
Seguiram-se os casados, com 21 em cada 100, e os divorciados em terceiro<br />
lugar, com 3 em cada 100 consumidores. Em <strong>2009</strong>, manteve-se a mesma tendência,<br />
apesar da diminuição do peso dos solteiros (65,2%) a favor dos casados<br />
(22,9%), dos divorciados e dos que viviam em união de facto.<br />
ESTADO CIVIL CONSUMO DE DROGA CONSUMO DE DROGA<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Solteiro 72,5 65,2<br />
Casado 20,8 22,9<br />
Divorciado 2,9 5,4<br />
Viúvo 0,4 0,0<br />
Separado 1,7 0,7<br />
União de Facto 1,7 5,8<br />
Quadro n.º 73 Consumo de droga, segundo o estado civil.<br />
Dependências e outras violências…<br />
28 As diferenças das taxas gerais de prevalência do consumo de droga, apresentadas no quadro em<br />
comparação com os dados do IDT, em relação àquelas que consideramos as mais correctas para<br />
caracterização da região devem-se ao facto de naqueles dados nacionais não terem sido considerados<br />
os referentes à população com menos de 15 anos o que faz aumentar as taxas. Convém<br />
também não esquecer que o hiato de tempo de dois anos também provoca, só por si, diferenciações,<br />
na medida em que a tendência natural da prevalência de experiências de consumo é<br />
para aumentar devido à entrada de novos consumidores a adicionar aos sobreviventes no tempo<br />
que também experimentaram independentemente de ter sido uma ou mais vezes.<br />
157
Alberto Peixoto<br />
Se analisarmos isoladamente as prevalências de consumo em cada um<br />
dos estados civis e depois as compararmos entre si, conclui-se que são as<br />
pessoas a viver em união de facto as que apresentam as mais elevadas prevalências<br />
do consumo de substâncias ilícitas, chegando-se entre tais indivíduos<br />
aos 31,6%. Depois surgem os solteiros com uma prevalência de<br />
23%, os divorciados, com 15%, os separados, com 1,29%, os casados, com<br />
7,2%, e por último os viúvos que apresentam a mais baixa propensão para<br />
o consumo de drogas.<br />
RESIDE EM CONSUMO DE DROGA (%)<br />
Meio rural 31,0<br />
Meio urbano 69,0<br />
Quadro n.º 74 Consumo de droga, segundo a<br />
área de residência.<br />
Contrariamente ao verificado no consumo de álcool, em que não se<br />
registam diferenças significativas, no consumo de droga, a prevalência no<br />
meio urbano, com 69%, é bastante superior à prevalência no meio rural,<br />
quantificada em 31%.<br />
A droga, apesar de ter assumido visibilidade no meio rural, continua<br />
a ser um fenómeno particularmente citadino, quanto à prevalência de<br />
consumo, e de certa forma também em termos de representação social,<br />
ao traduzir um estilo de vida mais condicente com o estilo de vida urbano.<br />
Embora o rural e o urbano e as suas representações sociais estejam<br />
esbatidas, certo é que continuam a existir traços identitários que as caracterizam<br />
e condicionam os comportamentos dos indivíduos que neles se<br />
movem.<br />
Tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, são as pessoas com habilitações literárias<br />
entre o 6º ano e o 12º ano que demonstram maior prevalência de<br />
consumo de droga em termos relativos. Porém, se analisarmos as prevalências<br />
dentro de cada nível de habilitações literárias, a mais elevada é<br />
entre as pessoas com o 12.º ano, chegando a 25% os que já consumiram,<br />
24% dos que possuíam cursos médios/profissionais e 21,1% dos que possuíam<br />
cursos superiores.<br />
158
HABILITAÇÕES CONSUMO DE CONSUMO DE<br />
LITERÁRIAS DROGA DROGA<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Não Sabe Ler 0,05 0,0<br />
Sabe ler e escrever 0,05 0,0<br />
1º Ciclo (4ª cl.) 5,9 3,7<br />
2º Ciclo (6ª cl.) 15,6 15,6<br />
3º Ciclo (9ª cl.) 29,5 28,1<br />
Ensino Secundário (10º-12º) 34,6 35,5<br />
Curso Profissional 5,7 2,0<br />
Curso Superior 8,6 15,1<br />
Quadro n.º 75 Consumo de droga e habilitações literárias.<br />
Assume particular agravamento a prevalência, se a população estiver<br />
em idade escolar, reflectindo a influência do meio escola/grupos não deixando<br />
qualquer dúvida sobre os meios onde as acções de prevenção têm<br />
de ser cada vez mais intensas e mais diversificadas.<br />
Se o consumo de álcool era significativo nos grupos profissionais de<br />
baixa qualificação, o mesmo não se pode afirmar relativamente à prevalência<br />
de consumo de drogas, cujos valores, naqueles grupos, são de<br />
dimensão bem menos expressiva.<br />
PROFISSÕES MAIS CONSUMO DE DROGA<br />
REPRESENTATIVAS <strong>2009</strong> (%)<br />
Agricultor 13,9<br />
Carpinteiro 11,4<br />
Electricista 34,8<br />
Estudante 18,0<br />
Pedreiro 25,6<br />
Taxista 2,9<br />
Quadro n.º 76 Regularidade de consumo de drogas<br />
por profissões.<br />
Dependências e outras violências…<br />
Especificando as profissões mais representativas, tal como se verificou<br />
no consumo de álcool, à excepção dos estudantes, profissões como<br />
159
Alberto Peixoto<br />
pedreiros, carpinteiros, electricistas e agricultores possuem uma prevalência<br />
de consumo de drogas mais evidente.<br />
Sendo o consumo de drogas, álcool, tabaco ou café transversal a quase<br />
todas as profissões, não deixa de sobressair que o consumo de drogas, conforme<br />
vimos, tenha assumido particular prevalência em profissões pouco<br />
qualificadas tecnicamente e pouco exigentes do ponto de vista literário. Por<br />
outro lado o grau de satisfação com a vida profissional/escolar apresentouse<br />
como um factor influenciador da propensão do consumo de drogas. Entre<br />
os que se sentiam satisfeitos, 13,9% tinham hábitos de consumo, enquanto<br />
entre os insatisfeitos a prevalência de consumo atingia os 20%.<br />
Para além de a actividade profissional dos consumidores regulares<br />
ser pouco exigente e produzir menor grau de satisfação, denota-se que<br />
tal população também detém vínculos profissionais precários ou mesmo<br />
inexistentes.<br />
VÍNCULO CONSUMO DE DROGA CONSUMO DE DROGA<br />
PROFISSIONAL <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Sem ocupação 45,7 38,9<br />
Serviço ocasional- por<br />
conta de outrém<br />
1,3 13,1<br />
Serviço ocasional- por<br />
conta própria<br />
12,6 8,3<br />
Contrato a termo 24,3 22,9<br />
Efectivo 15,2 14,4<br />
Outra 0,9 2,4<br />
Quadro n.º 77 Consumo de droga e vínculo profissional.<br />
De entre o total dos consumidores de droga, em <strong>2004</strong>, 45,7%, e<br />
38,9%, em <strong>2009</strong>, não possuíam qualquer ocupação profissional e, quando<br />
existiam, as relações laborais eram pouco significativas. Se excluirmos os<br />
trabalhadores efectivos e outros com vínculo não identificado, reunirmos<br />
85%, em <strong>2004</strong>, e 83,2%, em 2005, da população inquirida, que respondeu<br />
já ter consumido droga pelo menos uma vez, deste modo, os indivíduos<br />
que já consumiram drogas também apresentaram maior probabilidade de<br />
vir a possuir uma carreira profissional instável.<br />
160
O consumo de droga e de álcool não raras vezes surge em simultâneo, constatando-se<br />
que, em <strong>2004</strong>, 92,5%, 88,8%, em <strong>2009</strong>, dos indivíduos que já consumiram<br />
drogas consumiam regularmente álcool. Ao inverso, 18,5%, em <strong>2004</strong>,<br />
22,2%, em <strong>2009</strong>, dos consumidores regulares de álcool afirmaram também ter<br />
consumido drogas pelo menos uma vez. Conclui-se, portanto, que é bem mais<br />
frequente os consumidores de droga consumirem álcool que o contrário.<br />
Detendo, até ao momento, a nossa atenção no consumo ou não de<br />
droga, importa comparar, em caso afirmativo, a tipologia e regularidade<br />
desses mesmos consumos, observando-se que 17,3% (<strong>2004</strong>), 12,4%<br />
(<strong>2009</strong>) do total dos consumidores diários de droga consomem também diariamente<br />
álcool. Dos que consumiam droga semanalmente, 32,2% (<strong>2004</strong>),<br />
27,3% (<strong>2009</strong>), consumiam, de igual modo, álcool semanalmente.<br />
CONSUMO DE DROGA E TIPO DE <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
BEBIDAS ALCOÓLICAS QUE<br />
COSTUMA CONSUMIR<br />
(%) (%)<br />
Cerveja 52,1 46,9<br />
Vinho 9,3 10,4<br />
Whisky/Bebidas destiladas 7,5 13,7<br />
Várias 31,1 29,0<br />
Quadro n.º 78 Consumo de droga e o tipo de bebida<br />
alcoólica consumida.<br />
Dependências e outras violências…<br />
Quanto ao tipo de bebida alcoólica preferida daqueles que já tinham<br />
consumido droga, em primeiro lugar surgiu a cerveja conforme 52,1%<br />
(<strong>2004</strong>), 46,9% (<strong>2009</strong>) dos inquiridos, seguindo-se o vinho e o whisky com<br />
preferências de 9,3% (<strong>2004</strong>) e 10% (<strong>2009</strong>). Sobressaiu o facto de 31,1%<br />
(<strong>2004</strong>), 29,0% (<strong>2009</strong>) dos consumidores de substâncias ilícitas consumirem<br />
outro tipo de bebidas para além das especificadas. Estamos a falar em<br />
misturas de bebidas com forte teor alcoólico.<br />
Tendo-se verificado ser frequente, nos indivíduos com experiência<br />
no consumo de drogas, o consumo simultâneo de álcool, tentámos<br />
efectuar uma sobreposição entre o consumo de droga e a idade de início<br />
de consumo de álcool e de tabaco. Constatou-se que entre os indivíduos<br />
que já consumiram droga, tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, mais<br />
161
Alberto Peixoto<br />
de 90% começaram a consumir álcool com regularidade antes dos 20<br />
anos de idade.<br />
Entre os consumidores de droga com 14 ou menos anos de idade,<br />
35,2% (<strong>2004</strong>) e 37,3% (<strong>2009</strong>) começaram a consumir álcool com regularidade<br />
antes dos 15 anos e 57,8% (<strong>2004</strong>), 61% (<strong>2009</strong>) começaram a consumir<br />
álcool entre os 15 e os 20 anos.<br />
CONSUMO DE IDADE DE INÍCIO DO IDADE DE INÍCIO DO<br />
DROGA CONSUMO DE ÁLCOOL CONSUMO DE ÁLCOOL<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
14 e menos 35,2 37,3<br />
15-20 57,8 61,0<br />
21-25 6,0 1,7<br />
26-30 1,0 0,0<br />
31-35 0,0 0,0<br />
36-40 0,0 0,0<br />
41-45 0,0 0,0<br />
46-50 0,0 0,0<br />
51 e + 0,0 0,0<br />
TOTAL 100,0 100,0<br />
Quadro n.º 79 Consumo de droga e idade de início de consumo de bebidas<br />
alcoólicas.<br />
Relativamente ao consumo de droga em simultâneo com o consumo de<br />
tabaco, antes dos 20 anos surgiram 96,6% (<strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>) dos indivíduos<br />
com experiência nas substâncias ilícitas. Entre os consumidores de droga<br />
com 14 anos ou menos, 45,4% (<strong>2004</strong>), 38,4% (<strong>2009</strong>) tornaram-se consumidores<br />
regulares de tabaco antes dos 15 anos de idade. Iniciaram o consumo<br />
regular de tabaco entre os 15 e os 20 anos 51,2% (<strong>2004</strong>), 58,2% (<strong>2009</strong>) dos<br />
indivíduos que já experimentaram drogas dentro do mesmo escalão etário.<br />
A experimentação e dependência de substâncias ilícitas surgiu tanto<br />
em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, predominantemente, acompanhada pela experimentação<br />
e dependência de substâncias como o álcool e o tabaco não se<br />
podendo tirar conclusões significativas quanto à prevalência do café por<br />
este apresentar uma forte difusão de consumo na população.<br />
162
Dependências e outras violências…<br />
CONSUMO DE IDADE DE INÍCIO DE IDADE DE INÍCIO DE<br />
DROGA CONSUMO DE TABACO CONSUMO DE TABACO<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Menos de 14 45,4 38,4<br />
15-20 51,2 58,2<br />
21-25 2,8 2,6<br />
26-30 0,3 0,5<br />
31-35 0,3 0,3<br />
36-40 0,0 0,0<br />
41-45 0,0 0,0<br />
46-50 0,0 0,0<br />
51 e mais 0,0 0,0<br />
Quadro n.º 80 Consumo de droga e idade de início de consumo de tabaco.<br />
Não estaria completa a análise do consumo de drogas se não estimássemos<br />
quantitativamente em termos percentuais e absolutos a população<br />
açoriana consumidora de droga quanto à regularidade constatando-se que,<br />
em <strong>2004</strong>, entre essa população, 4,3% fazia-o diariamente, correspondendo<br />
a 1 136 indivíduos, 6,0% fazia-o semanalmente, ou seja, 1 571 indivíduos,<br />
e 23 451 consumiam ocasionalmente perfazendo 89,7% do total dos consumidores<br />
de droga. Em <strong>2009</strong>, de um total de 36 227 açorianos com propensão<br />
para o consumo de drogas, 1 469 consumiam diariamente, 1 713,<br />
semanalmente, e 33 045 consumiam ocasionalmente.<br />
REGULARIDADE DO N.os ABSOLUTOS <strong>2004</strong> N.os ABSOLUTOS <strong>2009</strong><br />
CONSUMO DE DROGA NOS AÇORES (%) NOS AÇORES (%)<br />
<strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
Diariamente 1 136 4,3 4,1 1 469<br />
Semanalmente 1 571 6,0 4,7 1 713<br />
Ocasionalmente 23 451 89,7 91,2 33 045<br />
TOTAL 26 158 100,0 100,0 36 227<br />
Quadro n.º 81 Regularidade do consumo de droga por percentagens e números absolutos de consumidores<br />
nos Açores.<br />
163
Alberto Peixoto<br />
Conforme já nos reportámos por diversas vezes ao estudo da<br />
Universidade Nova de Lisboa, com 15 mil indivíduos, sobre o consumo de<br />
drogas, concluiu-se que a média nacional era de 7,8% enquanto nos<br />
Açores é de 10,8%, em <strong>2004</strong>, e 14,8%, em <strong>2009</strong>. No Continente, a cannabis<br />
era a substância mais consumida atingindo 7,6%, enquanto nos Açores<br />
atinge os 3,6%. A cocaína apresenta uma prevalência de 0,1% nos Açores<br />
sendo no Continente de 0,9%. O ecstasy, nos Açores, já foi experimentado<br />
por 0,4% da população contra 0,7% no Continente apresentando-se o<br />
mesmo valor para a heroína, a qual, nos Açores, tem prevalência em 0,1%<br />
da população açoriana.<br />
Se atendermos apenas aos indivíduos que já experimentaram pelo<br />
menos uma vez substâncias ilícitas, verificamos que o ecstasy foi preferido<br />
por 2,6 %, a liamba, por 7,1%, a cannabis, por 33,1%, o haxixe, por<br />
31,5%, a heroína, por 1%, a cocaína, por 1,5%, outra não especificada, por<br />
6,5%, e 16,7% afirmam já ter experimentado duas ou mais substâncias.<br />
TIPO DE DROGA <strong>2004</strong> N.º s ABSOLUTOS <strong>2009</strong> N.º s ABSOLUTOS<br />
CONSUMIDA (%) NOS AÇORES (%) NOS AÇORES<br />
<strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
Cocaína 1,5 386 2,2 420<br />
Ecstasy 2,6 688 3,0 1 958<br />
Haxixe 31,5 7 942 24,8 12 729<br />
Heroína 1,0 250 2,9 256<br />
Liamba/ Cannabis 40,2 10 443 46,8 15 176<br />
Outra 6,5 1 692 3,7 2 203<br />
Policonsumo 16,7 4 757 16,6 3 485<br />
Total 100,0 26 158 100,0 36 227<br />
Quadro n.º 82 Tipo de droga consumida por percentagens e números absolutos de consumidores<br />
respectivos nos Açores.<br />
Em termos absolutos, em <strong>2004</strong>, nos Açores, 688 pessoas já tinham<br />
experimentado ecstasy, 1 876 experimentado liamba, 8 567, cannabis,<br />
7 942, haxixe, 250, heroína, 386, cocaína, 1 692 outra não especificada<br />
e 4 757 já tinham consumido duas ou mais substâncias ilícitas. Em<br />
<strong>2009</strong>, aumentou consideravelmente o consumo de haxixe, liamba/can-<br />
164
nabis e ecstasy, que, de 688, em <strong>2004</strong>, atingiu os 1 958 consumidores,<br />
em <strong>2009</strong>.29<br />
Nos Açores, em <strong>2004</strong>, 26 158, e, em <strong>2009</strong>, 36 227 indivíduos já<br />
tinham consumido droga, ou seja, notou-se um aumento traduzido em<br />
mais 10 069 pessoas.<br />
Tendo-se tentado ir um pouco mais longe, em <strong>2009</strong>, procurámos também<br />
apurar os valores gastos pelos consumidores em substâncias ilícitas,<br />
bem como a respectiva proveniência desse dinheiro. Conseguiu-se apurar<br />
que, em 80,9% dos casos, o dinheiro usado na aquisição de drogas era,<br />
segundo os inquiridos, obtido através das mesadas ou das ofertas que os<br />
pais lhes fazem. Se tivermos em conta que os consumidores de drogas gastam<br />
semanalmente até 50,00 euros, mais 10,00 a 50,00 euros em tabaco e<br />
mais 10,00 euros em bebidas alcoólicas, percebe-se o impacto que tais<br />
problemáticas desencadeiam nos próprios e nas suas famílias quer a montante<br />
quer a jusante.<br />
VALOR SEMANAL GASTO EM<br />
SUSBSTÂNCIAS ILÍCITAS (euros)<br />
<strong>2009</strong> (%)<br />
Até 50,00 81,3<br />
De 51,00 a 200,00 13,5<br />
Mais de 200,00 5,2<br />
Quadro n.º 83 Montantes semanais dispendidos<br />
pelos consumidores de drogas na aquisição das<br />
substâncias.<br />
Dependências e outras violências…<br />
Em apenas 5,1% dos casos, os familiares dos consumidores tinham<br />
conhecimento da existência de consumo por parte daqueles, o que<br />
demonstra, contrariamente ao consumo de álcool e de tabaco, que o consumo<br />
de drogas continua a fazer-se envolto em rituais de grande secretis-<br />
29 Os números de consumidores de heroína e cocaína, de <strong>2004</strong> e <strong>2009</strong>, são aparentemente<br />
muito baixos, contudo convém não esquecer que se reportam apenas à percentagem de<br />
inquiridos que revelaram consumir um único tipo de substância. Embora o dependente<br />
típico de heroína ou cocaína tenha a sua preferência centrada numa ou noutra droga, na<br />
realidade, são frequentes outros consumos motivo pelo qual também estão agrupados<br />
nos números referentes ao policonsumo.<br />
165
Alberto Peixoto<br />
mo e longe dos olhares dos familiares. É, no entanto, surpreendente que<br />
12,6% dos consumidores tenham dito que possuem familiares que também<br />
consomem drogas.<br />
O PERFIL DO CONSUMIDOR DE DROGA<br />
Ao nível do perfil do consumidor de substâncias ilícitas, nos Açores,<br />
pode dizer-se que é do sexo masculino, tem menos de 25 anos, é solteiro<br />
e começou a consumir por influência dos pares/amigos, no grupo e em festas.<br />
Satisfazer a curiosidade, experimentar sensações e ter prazer são as<br />
principais motivações. Reside maioritariamente em meio urbano e possui<br />
entre o 6.º ano e o 12.º ano de escolaridade. Não tem ocupação e quando<br />
trabalha é em actividades pouco exigentes e com vínculos precários.<br />
Fumador habitual, indica a liamba/cannabis e o haxixe como as substâncias<br />
ilícitas de eleição e a cerveja como a bebida favorita. A existência de<br />
disfuncionalidades e quadros de violência no seio da família de origem são<br />
frequentes.<br />
166
O CAFÉ<br />
A cafeína é a substância estimuladora mais consumida no mundo estando<br />
presente em inúmeras bebidas, dos refrigerantes ao café. Consumida pelo<br />
menos desde o séc. VI a. C., é sistematicamente repetido o gesto, no quotidiano,<br />
que faz da cafeína a substância mais socialmente tolerada, sendo<br />
muito amplo o conjunto de motivações pelas quais se ingere.<br />
O consumo regular de café, no nosso país, generalizou-se. Não existe<br />
bar ou restaurante que não disponha de máquina de café. Das mais simples<br />
às mais sofisticadas, praticamente todos os locais propiciam café aos funcionários<br />
ou clientes. Nas salas de espera dos hospitais, voluntárias, entre<br />
água, sumo, chá e bolachas, oferecem café aos utentes dos hospitais. Em<br />
locais públicos, máquinas para venda de café apelam ao consumo enquanto<br />
se espera o atendimento. Entre as entidades empregadoras é cada vez<br />
mais frequente colocarem à disposição dos colaboradores máquinas de<br />
café para preencherem uma curta pausa nas actividades ou para fomentarem<br />
o desenvolvimento e aprofundamento de relações interpessoais.<br />
O ritual de tomar café assume hoje dois papéis distintos, um, numa<br />
vertente individual, outro, numa vertente social. A nível individual, o café<br />
é consumido pelas suas qualidades estimuladoras, na luta individual contra<br />
o sono ou contra o cansaço. Na vertente social, o consumo do café é<br />
justificado pela possibilidade de facilitar as relações sociais e o convívio,<br />
sendo recorrente convidar-se alguém para tomar um café.<br />
Portugal situa-se no grupo dos países europeus cujos habitantes<br />
consomem em média 5,4 quilos de café, por ano, situando-se os finlandeses<br />
à frente com um consumo per capita de 11 quilos enquanto os<br />
norte-americanos consomem 4,2 quilos e os japoneses 3,1 quilo (DA,<br />
22/Jan/2005: 16).<br />
167
Alberto Peixoto<br />
Não têm sido muito frequentes os estudos sobre os malefícios do consumo<br />
excessivo do café, embora se saiba que o seu consumo regular pode<br />
ser também encarado como uma dependência. Para Jack James da<br />
Universidade Nacional da Irlanda (NG, Jan/2005: 21), é mesmo uma<br />
droga psicoactiva que por via do aumento do ritmo cardíaco é capaz de<br />
fazer aumentar o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas, conclusão<br />
entretanto contrariada por uma investigação da Beth Israel Deaconess<br />
Medical Center de Boston (DA, 03/Nov/<strong>2009</strong>: 21).<br />
Todavia, mantêm-se válidas algumas propriedades malignas atribuídas<br />
ao café através de diversas investigações científicas. Uma equipa de<br />
investigadores da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega apurou<br />
que o consumo excessivo de café aumenta o risco de sofrer de enxaquecas<br />
(DA, 19/Ago/<strong>2009</strong>: 16).<br />
Um estudo sueco coordenado por Helena Jernstrom, da Universidade<br />
de Lund, bastante sugestivo, com uma amostra de 300 mulheres, permitiu<br />
concluir que o consumo diário, de três ou mais chávenas de café, pode fazer<br />
reduzir os seios, na medida em que o café possui estrogénios que podem<br />
afectar directamente as hormonas femininas (DA, 26/Out/2008: 17).<br />
Uma investigação britânica, coordenada por Simon Jones da<br />
Universidade de Durham, com uma amostra de 200 estudantes, permitiu<br />
demonstrar que o consumo superior a três chávenas de café provoca alucinações.<br />
As pessoas que consomem mais de sete chávenas de café por dia, em<br />
relação às que bebem menos de uma chávena, têm três vezes mais probabilidades<br />
de ouvir vozes, ver coisas que não existem e até acreditarem que<br />
estão a sentir a presença de pessoas que já morreram (DA, 26/Jan/<strong>2009</strong>: 17).<br />
Em síntese, o lado maligno da substância reside sobretudo no consumo<br />
excessivo podendo, mesmo, conforme diversos estudos, o consumo<br />
moderado de cafeína através do café, chá, comprimidos ou através das<br />
bebidas energéticas ser considerado benigno.<br />
Assim, foram atribuídas ao café potencialidades de prevenção da doença<br />
de Alzheimer, facto este que motivou Rodrigo Cunha, do Centro de<br />
Neurociências de Coimbra, a desenvolver um estudo sobre a forma de evitar<br />
os efeitos negativos do consumo excessivo da cafeína (CM, 17/Jul/<strong>2004</strong>: 18).<br />
É considerado consumo excessivo de cafeína o consumo diário superior<br />
a cinco ou seis chávenas, de tamanho pequeno, de café ou chá, ou de<br />
seis a oito latas de refrigerantes (NG, Jan/2005: 26).<br />
168
Dependências e outras violências…<br />
Uma equipa de investigadores portugueses e franceses estudou o efeito<br />
da cafeína em 4 197 mulheres e 2 820 homens e concluiu que o consumo<br />
regular de cafeína sugere diminuir o risco de declínio cognitivo nas<br />
mulheres sem demência, mas não nos homens (DA, 04/Jul/<strong>2009</strong>: 21).<br />
Parece estar demonstrado que, consumida com moderação, a cafeína pode<br />
estimular o sistema nervoso central e melhorar o desempenho das capacidades<br />
físicas. Alivia as dores e melhora o humor, reduz o estado de fadiga<br />
prolongando o estado de vigilância.<br />
Investigadores da Universidade de Tóquio, dirigidos por Ichiro<br />
Tssuji30, através de um estudo realizado entre 1984 e 1997, com 61 000<br />
pessoas de mais de 40 anos de idade, concluíram que o consumo diário de<br />
mais de uma taça de café, através do ácido clorogénico, que existe na sua<br />
composição, produz uma probabilidade de contrair o cancro do fígado de<br />
0,56% enquanto os consumidores de quantidades inferiores de café apresentam<br />
uma probabilidade de 0,71%. Experiências desenvolvidas em animais<br />
chegaram a idênticas conclusões às verificadas nos humanos, indiciando<br />
ter o consumo regular de café a potencialidade de prevenir o cancro<br />
referido.<br />
Um outro estudo (DA, 20/Fev/2005: 13), publicado no Journal<br />
National Cancer Institute, de Fevereiro de 2005, também desenvolvido<br />
por investigadores japoneses, dirigido por Monami Inoue, do Centro<br />
Nacional do Cancro de Tóquio, durante dez anos, com mais de 90 000<br />
japoneses, refere que o consumo diário de café faz reduzir para metade a<br />
probabilidade de se contrair o cancro do fígado, reduzindo ainda mais a<br />
probabilidade caso o consumo de café se faça três a quatro vezes por dia.<br />
Em 100 000 pessoas que nunca ou quase nunca consomem café, durante<br />
dez anos, 547 pessoas contraíram o referido cancro. Entre as consumidoras<br />
regulares de café nas mesmas circunstâncias apenas 215 contraíram o<br />
cancro do fígado. Também um estudo, coordenado por Emilie Friberg do<br />
Karolinska Institutet de Estocolmo, atribuiu ao café a propriedade de fazer<br />
diminuir o risco de cancro do endométrio (DA, 08/Nov/<strong>2009</strong>: 21).<br />
Realizada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma investigação<br />
sobre o consumo moderado de café veio confirmar que pode ajudar a<br />
30 Resultados apresentados a 22 de Janeiro de 2005, na reunião da Associação Japonesa de<br />
Epidemiologia, em Shiga, e difundidos pela agência noticiosa Kyodo.<br />
169
Alberto Peixoto<br />
prevenir diversas doenças crónicas, nomeadamente a diabetes mellitus tipo<br />
2, doenças de fígado e a doença de Parkinson (DA, 25/Mar/<strong>2009</strong>: 16).<br />
Investigadores do National Cancer Institute, nos Estados Unidos da<br />
América, constataram que o consumo diário de três chávenas de café pode<br />
ajudar a combater a doença do fígado associada à infecção prolongada<br />
pelo vírus da hepatite C (DA, 01/Nov/<strong>2009</strong>: 21).<br />
O chá tem conquistado ao café algumas opções de escolha ao nível do<br />
consumo, o que poderá estar relacionado com os diversos estudos realizados<br />
a nível internacional e que vão atribuindo ao chá propriedades até<br />
então desconhecidas. Foi o caso da investigação realizada na Universidade<br />
do Texas que atribuiu ao chá a propriedade de reduzir os riscos de desenvolver<br />
a diabetes tipo 2, o que pode ser conseguido através do consumo de<br />
pelo menos duas chávenas diárias (DA, 28/Nov/<strong>2009</strong>: 21); ou a investigação<br />
do Centro Oncológico Feist-Weiller, do Centro de Ciências da Saúde<br />
da Universidade do Louisiana que identificou no chá verde a propriedade<br />
de reduzir o avanço do cancro da próstata (DA, 23/Jun/<strong>2009</strong>:16); ou ainda<br />
a investigação japonesa que detectou no chá verde a propriedade de evitar<br />
a doença periodontal (inflamação das gengivas, tecidos e ossos à volta dos<br />
dentes) devido ao seu poder antioxidante que garante uma boa saúde oral.<br />
Embora os Açores se tenham destacado na Europa como produtores de chá,<br />
é o consumo de café que está generalizado visto que, em <strong>2004</strong>, 53,3% do total<br />
da população afirmava consumir regularmente e, em <strong>2009</strong>, passou a ser 56%,<br />
demonstrando que aumentou o consumo regular de café entre os açorianos.<br />
AÇORES CONSUMO REGULAR CONSUMO REGULAR<br />
DE CAFÉ <strong>2004</strong> (%) DE CAFÉ <strong>2009</strong> (%)<br />
Consome 53,3 56,0<br />
Não consome 46,7 44,0<br />
Quadro n.º 84 Consumo regular de café nos Açores.<br />
Em termos absolutos existiam, em <strong>2004</strong>, 128 860 açorianos, e, em <strong>2009</strong>,<br />
137 077 que consumiam café com regularidade. Apesar da diferença ser residual,<br />
o consumo feminino, com 50,1%, em <strong>2004</strong>, ultrapassava o consumo<br />
masculino quantificado em 49,9% do total na região. Em <strong>2009</strong>, os homens,<br />
com 52,5% do consumo total de café, ultrapassaram o consumo feminino.<br />
170
SEXO CONSOME REGULARMENTE CONSOME REGULARMENTE<br />
CAFÉ - <strong>2004</strong> (%) CAFÉ - <strong>2009</strong> (%)<br />
Masculino 49,9 52,5<br />
Feminino 50,1 47,5<br />
Quadro n.º 85 Consumo regular de café por sexos.<br />
Dependências e outras violências…<br />
A prevalência de consumo apresenta de ilha para ilha diferenças bastante<br />
significativas surgindo as populações do Corvo e das Flores como as<br />
maiores consumidoras regulares de café atingindo 94% e 86%, em <strong>2004</strong>,<br />
e 78,9% e 77,7%, em <strong>2009</strong>, respectivamente. Em terceiro lugar, surgiu a<br />
população de São Jorge com 61,9% (<strong>2004</strong>) e 61,3% (<strong>2009</strong>) dos habitantes<br />
a responder afirmativamente.<br />
ILHA <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%) Variação (%)<br />
Corvo 94,0 78,9 - 15,1<br />
Faial 51,4 55,7 + 4,3<br />
Flores 86,0 77,7 - 8,3<br />
Graciosa 51,0 44,4 - 6,6<br />
Pico 37,9 47,8 + 9,9<br />
São Jorge 61,9 61,3 - 0,6<br />
São Miguel 49,9 53,4 + 3,5<br />
Santa Maria 49,0 58,8 + 9,8<br />
Terceira 50,3 59,7 + 9,4<br />
Média Açores 53,3 56,0 + 2,7<br />
Quadro n.º 86 Percentagem da população consumidora regular de<br />
café, por ilha.<br />
As Ilhas de São Miguel, Santa Maria e Terceira apresentavam, em<br />
<strong>2004</strong>, prevalências de consumo bastante idênticas encontrando-se as respectivas<br />
populações repartidas, praticamente, em partes iguais entre o consumir<br />
e o não consumir regularmente. Em <strong>2009</strong>, ambas, de igual modo,<br />
apresentaram taxas de crescimento de consumo, embora a população de<br />
Santa Maria se tenha destacado.<br />
A ilha do Pico apresentava-se, em <strong>2004</strong>, como aquela onde menos se<br />
consumia café visto que apenas 37,9% da população admitia fazê-lo. Ali,<br />
171
Alberto Peixoto<br />
em <strong>2009</strong>, o consumo de café aumentou quase dez pontos percentuais colocando<br />
a Graciosa na cauda do consumo de café a nível Açores.<br />
Por concelhos, em <strong>2004</strong>, era a população de Santa Cruz das Flores a<br />
que mais consumia café, tendo, em <strong>2009</strong>, sido ultrapassada pela população<br />
de Vila do Corvo. Apesar de a nível Açores o consumo de café, em <strong>2009</strong>,<br />
em relação a <strong>2004</strong>, ter aumentado à custa dos maiores concelhos, em doze<br />
dos dezanove concelhos açorianos, o consumo de café diminuiu.<br />
CONCELHOS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Angra do Heroísmo 52,8 62,0<br />
Calheta de São Jorge 66,7 62,7<br />
Corvo 94,0 78,9<br />
Horta 51,4 55,7<br />
Lagoa 54,6 43,7<br />
Lajes das Flores 82,1 76,3<br />
Lajes do Pico 65,0 54,3<br />
Madalena 49,5 44,1<br />
Nordeste 53,6 51,3<br />
Ponta Delgada 54,1 59,5<br />
Povoação 32,5 46,5<br />
Praia da Vitória 45,7 54,9<br />
Ribeira Grande 70,0 56,4<br />
São Roque do Pico 47,5 41,7<br />
Santa Cruz da Graciosa 51,0 44,4<br />
Santa Cruz das Flores 97,4 78,0<br />
Velas de São Jorge 54,5 58,2<br />
Vila do Porto 49,0 58,8<br />
Vila Franca do Campo 32,5 51,2<br />
Quadro n.º 87 Consumo regular de café por concelhos.<br />
Se tivermos presente a prevalência das demais substâncias por idades,<br />
ao compararmos com a prevalência do café, denotam-se diferenças bastante<br />
significativas. Quanto ao tabaco, em <strong>2004</strong>, 2,7% dos indivíduos com<br />
menos de 15 anos consumiam com regularidade, nas substâncias ilícitas,<br />
3,1%, no álcool, 16,2%, e no café existia uma propensão de 6,3% dos<br />
172
inquiridos neste grupo etário. Em <strong>2009</strong>, 4,7% dos menores de 15 anos<br />
fumavam, 3,5% já tinham consumido drogas, 24,5% consumiam bebidas<br />
alcoólicas com regularidade e 7,2% consumiam café. O café, nos dois<br />
momentos de análise, depois do álcool, era a substância mais consumida<br />
pelos menores de 15 anos.<br />
As principais diferenças na prevalência do consumo de café surgiram<br />
ao longo da vida. Nas demais substâncias, era notório um crescimento da<br />
prevalência até aos trinta anos de idade. Depois dessa idade, a prevalência<br />
dos consumos diminuía consideravelmente atingindo, nas idades avançadas,<br />
valores residuais. O mesmo não se pode afirmar relativamente ao<br />
café, pois, embora a curva gráfica traduzisse a mesma tendência, era bastante<br />
mais suave transmitindo a ideia de que o consumo de café, em <strong>2004</strong>,<br />
era o mais estabilizado ao longo da vida. Em <strong>2009</strong>, denotou-se uma alteração<br />
na tendência, em virtude de um aumento do consumo, sobretudo a<br />
partir dos 30 anos, sendo a única substância, entre as estudadas, que apresentava<br />
um aumento da prevalência do consumo ao longo da vida.<br />
IDADE CONSOMEM CONSOMEM<br />
REGULARMENTE REGULARMENTE<br />
CAFÉ - <strong>2004</strong> (%) CAFÉ - <strong>2009</strong> (%)<br />
14 e menos 6,3 7,2<br />
15-20 42,5 36,4<br />
21-25 65,1 59,1<br />
26-30 70,3 69,0<br />
31-35 66,7 71,3<br />
36-40 66,2 67,5<br />
41-45 62,1 68,3<br />
46-50 54,9 71,3<br />
51 e mais 43,6 56,1<br />
Quadro n.º 88 Consumo regular de café por idades.<br />
Dependências e outras violências…<br />
É de salientar, nos dois momentos de análise, o facto de, nos escalões<br />
etários mais baixos, terem sido apresentadas prevalências de consumo de<br />
café inferiores às dos demais escalões etários.<br />
173
Alberto Peixoto<br />
ESTADO CONSOMEM NÃO CONSOMEM CONSOMEM NÃO CONSOMEM<br />
CIVIL REGULARMENTE REGULARMENTE REGULARMENTE REGULARMENTE<br />
CAFÉ - <strong>2004</strong> (%) CAFÉ - <strong>2004</strong> (%) CAFÉ - <strong>2009</strong> (%) CAFÉ - <strong>2009</strong> (%)<br />
Solteiro 43,4 56,6 40,6 59,4<br />
Casado 61,1 38,9 67,3 32,7<br />
Divorciado 76,0 24,0 76,7 23,3<br />
Viúvo 40,6 59,4 38,9 61,1<br />
Separado 60,9 39,1 70,9 29,1<br />
União de Facto 85,4 14,6 70,4 29,6<br />
Quadro n.º 89 Consumo regular de café segundo o estado civil.<br />
Tendo em conta o estado civil dos consumidores de café, verificou-se<br />
que os indivíduos solteiros e os viúvos apresentavam menor propensão<br />
para o consumo, enquanto os indivíduos divorciados ou a viver em união<br />
de facto foram os que mais se afirmaram como consumidores regulares.<br />
Os indivíduos casados e os separados apresentaram idênticas prevalências<br />
de consumo.<br />
O consumo de café generalizou-se, tendo, no meio rural, conseguido<br />
maior expressão, com 55,1% da população a afirmar consumir contra<br />
44,9% de consumidores regulares residentes em meio urbano.<br />
RESIDE EM CONSOME REGULARMENTE CAFÉ (%)<br />
Meio rural 55,1<br />
Meio urbano 44,9<br />
Quadro n.º 90 Consumo regular de café segundo a área de<br />
residência.<br />
As pessoas com habilitações literárias mais elevadas apresentaram<br />
taxas de consumo de café superiores às das pessoas com habilitações<br />
literárias mais baixas. Entre as pessoas que não possuem<br />
qualquer nível escolar, entre 30 a 40%, consumiam regularmente<br />
café, ao passo que, entre a população açoriana com cursos superiores,<br />
na casa dos 70%, consumiam, apesar de se ter registado uma<br />
diminuição de 7,9%.<br />
174
Dependências e outras violências…<br />
HABILITAÇÕES CONSUMO DE CAFÉ CONSUMO DE CAFÉ<br />
LITERÁRIAS <strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Não Sabe Ler 32,0 35,9<br />
Sabe ler e escrever 35,8 40,9<br />
1º Ciclo (4ª cl.) 43,6 60,3<br />
2º Ciclo (6ª cl.) 41,3 51,2<br />
3º Ciclo (9ª cl.) 52,7 49,5<br />
Ensino Secundário (10º-12º) 64,5 60,7<br />
Curso Profissional 68,7 66,7<br />
Curso Superior 76,1 68,2<br />
Quadro n.º 91 Consumo regular de café e habilitações literárias dos consumidores.<br />
O café é tido pela população como um estimulador capaz de combater o<br />
sono, aumentando o estado de vigilância, ideia esta traduzida pela prevalência<br />
de consumo tendo em conta as actividades profissionais desempenhadas.<br />
Se no consumo de substâncias, como álcool ou substâncias ilícitas, era bastante<br />
evidente ser nas profissões menos especializadas e menos exigentes<br />
tecnicamente a prevalência do consumo, no caso do café, são as pessoas que<br />
desempenham actividades profissionais mais qualificadas e mais especializadas<br />
que mais consomem. As actividades de jurista, instrutor, jornalista, psicólogo,<br />
analista, inspector, entre outras, apresentaram uma prevalência de<br />
consumo de café praticamente a 100% enquanto a população doméstica e<br />
agricultora apresentaram taxas de consumo na ordem dos 40%.<br />
Ainda relativamente à prevalência do consumo de café em conjugação<br />
com a actividade profissional, constatou-se que, contrariamente à tendência<br />
verificada nas demais substâncias, quanto mais forte era o vínculo<br />
profissional maior era a prevalência do consumo.<br />
VÍNCULO PROFISSIONAL CONSUMO DE CAFÉ CONSUMO DE CAFÉ<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Serviço ocasional- por conta de outrém 47,4 65,1<br />
Serviço ocasional- por conta própria 58,9 70,2<br />
Contrato a termo 68,9 72,5<br />
Efectivo 71,4 69,5<br />
Outra 48,0 60,7<br />
Quadro n.º 92 Consumo regular de café e vínculos profissionais dos consumidores.<br />
175
Alberto Peixoto<br />
O consumo de café é em grande parte um ritual de cariz social, pelo<br />
que a prevalência apresenta-se como um indício de inserção social, evidenciado<br />
pelas variáveis habilitações literárias, profissão desempenhada e<br />
respectivo vínculo.<br />
As pessoas que consumiam regularmente café apresentavam uma<br />
menor prevalência da prática de violência. Questionada tal população<br />
quanto à prática de um crime, apenas 1,2%, em <strong>2004</strong>, e 2%, em <strong>2009</strong>, dos<br />
consumidores regulares de café o admitem, mais uma vez reforçando a<br />
conclusão de que o consumo regular de café faz parte de um estilo de vida,<br />
caracterizado pela convivência e coesão social.<br />
Não permitindo o presente estudo idêntica conclusão em relação ao<br />
consumo de chá por não ter sido colocada tal questão, tanto no inquérito<br />
de <strong>2004</strong> como no de <strong>2009</strong>, conforme demonstrou uma investigação da<br />
Universidade do Yale, nos Estados Unidos da América, é bem provável<br />
que o consumo de chá apareça também associado a uma diminuição da<br />
propensão para a prática da violência, na medida em que na referida investigação,<br />
coordenada pelo professor de psicologia John Bargh, foram atribuídas<br />
às bebidas quentes a particularidade de aumentarem a sensação de<br />
confiança entre as pessoas e assim diminuírem a conflitualidade (DA,<br />
2/Nov/<strong>2009</strong>: 21).<br />
O PERFIL DO CONSUMIDOR DE CAFÉ<br />
Ao nível do consumo regular de café não existem traços muito distintivos,<br />
tendo-se apresentado como o mais transversal dos consumos aqui<br />
estudados. Todavia é possível afirmar-se que as pessoas com mais habilitações<br />
literárias e que desempenham actividades profissionais mais de<br />
cariz intelectual apresentaram maiores prevalências de consumo.<br />
Os consumidores de café são, maioritariamente, do sexo masculino<br />
(52,6%), divorciados, separados ou a viver em união de facto, mas evidenciaram<br />
maior inserção social com menor propensão para comportamentos<br />
desviantes e demonstraram possuir maior grau de satisfação com a actividade<br />
profissional tendo chegado a 79,2% os que consumiam café e se diziam<br />
satisfeitos.<br />
176
AS DEPENDÊNCIAS E A VIOLÊNCIA<br />
Patrick Baudry (1986) fez um esforço para demonstrar como nos relacionamos<br />
com a violência atraindo-nos ou afastando-nos consoante representa<br />
ou não uma ameaça à nossa vida. É inegável em cada um de nós um<br />
gosto sádico pela possibilidade do seu visionamento. Comprovam-no<br />
desde logo as audiências televisivas. Comprova-no também a quantidade<br />
de obras literárias e estudos que anualmente chegam às bancas.<br />
No que concerne às ligações entre as dependências e o tema da delinquência,<br />
trata-se de “uma consequência das modificações do regime económico<br />
a nível do aparelho mental do toxicodependente, as quais aumentam<br />
o potencial de passagem ao acto, favorecendo os comportamentos delituosos”<br />
(Dias 1978: 109). É desta forma simples que Amaral Dias apresenta<br />
um quadro explicativo que correlaciona os dois fenómenos sociais.<br />
Nem todas as drogas são geradoras de criminalidade e de violência<br />
“faz sentido a ligação: heroína, cocaína – roubo, furto, tráfico; mas já<br />
não faz sentido afirmar, como se pretende vulgarmente, que os crimes contra<br />
pessoas, ou a chamada «criminalidade violenta» seja explicada «pela<br />
droga» em geral(...)” (Agra, 2002: 13). Todavia, tais premissas não podem<br />
ser consideradas válidas para as questões associadas à ingestão de álcool,<br />
que, consumido em excesso, exponencia a agressividade e, consequentemente,<br />
comportamentos criminais praticados contra as pessoas<br />
(Virkkunen, 1987, entre outros já citados).<br />
Socialmente somos treinados para tolerar, ainda que de forma ténue,<br />
a violência, basta recordar quantos de nós não fomos embalados ao sons<br />
da cantilena «[…] Sebastião come tudo […], come tudo sem colher […] e<br />
depois dá pancada na mulher». De uma maneira geral censuramos drasticamente<br />
a violência mais grave, premeditada e fria, ignorando que quer<br />
177
Alberto Peixoto<br />
num caso quer no outro estamos perante uma única realidade que directa<br />
ou indirectamente se entrecruza em pontos comuns.<br />
A violência é um fenómeno ancestral e faz parte da história da<br />
Humanidade tendo sido sistematicamente utilizada para punir, reprovar ou<br />
sancionar por se ter representado socialmente que a repulsa à dor física ou<br />
psicológica permite uma correcção dos comportamentos tornando-os adequados.<br />
Um estudo, publicado na revista científica Science, dirigido pela<br />
investigadora Naomi Eisenberger, da Universidade da Califórnia, em 2003,<br />
parece dar razão a tal representação, ao demonstrar que a dor física ou a<br />
angústia psicológica, sentida pela rejeição social ou pela reprovação verbal,<br />
desencadeiam precisamente a mesma reacção no cérebro. Quer a pessoa seja<br />
vítima de uma agressão física ou de uma agressão psicológica essa informação<br />
afecta o cortex cingulato anterior provocando sensações idênticas.<br />
Passámos a conhecer melhor as reacções e sensações provocadas nos<br />
indivíduos pelo uso da violência e nas relações interpessoais para educação<br />
ou reeducação. A violência torna-se cada vez mais uma forma censurável<br />
e a combater socialmente.<br />
É também longínquo, no tempo, o reconhecimento das ligações entre o<br />
consumo de álcool e os comportamentos violentos. Carlos V, em meados do<br />
século XVI, decidiu que o facto de um indivíduo se encontrar embriagado<br />
no momento da prática de um crime, não poderia ser considerado comportamento<br />
inimputável nem tão pouco servir para atenuar a sua culpa, procurando<br />
deste modo combater alguma frequência comportamental a este nível<br />
bem como uma certa tolerância social que ainda hoje perdura.<br />
Existe um amplo conjunto de factores potenciadores da violência que<br />
não nos permite eleger uma causa a combater. Factores que aparentemente<br />
nos parecem desconexos podem ser determinantes para que tenha ocorrido<br />
este ou aquele comportamento conforme se conclui do estudo de<br />
Craig Anderson da Universidade do Iowa, em 2003, que através de uma<br />
investigação, envolvendo mais de 500 jovens, concluiu que a audição de<br />
canções com letras violentas fazia aumentar a propensão dos jovens para<br />
a prática de actos de violência verbal e física, causando uma espiral de violência<br />
ascendente (JPSP, Mai/2003).<br />
Na vida familiar, beber produz consequências graves sendo os filhos<br />
os que mais sofrem directa ou indirectamente o alcoolismo dos pais devido<br />
à irritabilidade fácil do alcoólico, caracterizada por uma variação sig-<br />
178
Dependências e outras violências…<br />
nificativa de humores. O ciúme e a agressividade no pai alcoólico, por<br />
norma, traduzem-se em maus tratos ao cônjuge que raramente bebe.<br />
Produz um efeito devastador nas relações familiares não sendo um exclusivo<br />
português dado que “85 % dos algozes de crianças (95 % em Paris)<br />
são alcoólicos (o bebedor é um tirano), 75 % das crianças delinquentes<br />
têm ascendência alcoólica, 25 % dos divórcios devem-se ao álcool”<br />
(Harichaux & Humbert, 1978: 79). O abuso sexual é também um dos comportamentos<br />
típicos dos intoxicados, tendo Allen Gomes, psiquiatra especialista<br />
em sexologia, citado estudos efectuados, referindo que 30% dos<br />
abusadores de crianças estão sob o efeito de álcool e 20% sob o efeito da<br />
droga (CM, 14/Mai/2003: 15).<br />
A criminalidade e a delinquência são favorecidas pelo consumo de<br />
álcool sendo também frequente a prevalência do consumo nas mulheres<br />
prostitutas. Os atentados ao pudor, os estupros, os incêndios voluntários,<br />
os roubos, a danificação de objectos públicos e privados e os homicídios<br />
são comportamentos frequentemente relacionados com o consumo excessivo<br />
de álcool por parte dos agressores “65 % dos estupros e 50 % dos<br />
assassinatos devem-se ao álcool” (Harichaux & Humbert, 1978: 84).<br />
Os maus tratos infantis, em geral, através da demonstração científica,<br />
têm sido relacionados com o abuso de substâncias, não se esgotando no<br />
álcool. São de realçar as conexões dos consumos não só num impacto<br />
adverso no funcionamento familiar, como também tem sido identificado<br />
como um sintoma de abuso e negligência infantil (Daro & McCurdy,<br />
1992; Kurzon & Overpeck, 1992; Magura & Landet, 1996; in Brown et al,<br />
1998; Browne & Hamilton, 1998; Costa & Duarte, 2000: 38).<br />
Tem-se verificado que a violência funciona como uma herança dos<br />
filhos em relação aos pais, às suas práticas e aos seus modos de vivência<br />
(Hackler, 1991: 199-215).<br />
Kruttschmith (1993: 61-75) demonstrou que os filhos de pais dependentes,<br />
que viveram quadros de instabilidade, disfuncionalidade e violência,<br />
vêem aumentada a propensão para as práticas delinquentes e consequente<br />
internamento em estabelecimentos para menores.<br />
Em Portugal, os dados estatísticos policiais, relativamente aos<br />
menores, não oferecem fiabilidade na medida em que os actos delinquentes<br />
praticados por menores de 14 anos e descritos em participações de<br />
factos ilícitos por norma não são contabilizados nas estatísticas policiais<br />
179
Alberto Peixoto<br />
por não possuírem número único de identificação de processo crime,<br />
conforme tivemos oportunidade de constatar durante o ano de 2003,<br />
tendo motivado a nossa chamada de atenção. Apesar disso o fenómeno<br />
da delinquência juvenil tem ganho visibilidade, sendo crescente o número<br />
de internamentos nos doze centros educativos que o Instituto de<br />
Reinserção Social possui para o efeito. Das 289 vagas existentes em<br />
Portugal, em finais de 2002, 271 estavam preenchidas por 250 rapazes e<br />
21 raparigas (CM, 01/Jun/2003: 38-39). Em finais de <strong>2004</strong>, já ultrapassavam<br />
o número de vagas, tendo-se chegado aos 300 menores institucionalizados.<br />
O relatório das Nações Unidas, Habitat <strong>2004</strong>, debruçando-se sobre o<br />
período de 1996 a 2000, conclui que Portugal registou um aumento da criminalidade<br />
violenta na ordem dos 28%, colocando-se em quarto lugar a<br />
nível Europeu entre os países onde mais cresceu o fenómeno, que apresentava<br />
uma taxa média de crescimento de 14%. O referido relatório não<br />
aprofundou muito as causas de tal crescimento, sendo um fenómeno predominantemente<br />
urbano e em crescimento praticamente a nível mundial.<br />
No ano de <strong>2004</strong>, apesar de a criminalidade total denunciada, em Portugal,<br />
ter decrescido 1%, a criminalidade violenta cresceu 3%, conforme documentou<br />
o Relatório Anual de Segurança Interna.<br />
Outro dos problemas relacionados com o consumo de substâncias ilícitas<br />
e de álcool é o da sinistralidade rodoviária, que quase se banalizou,<br />
embora, desde 2005, se tenha registado uma melhoria muito significativa.<br />
Tendo nós, em Junho de <strong>2004</strong>, estado, a convite, na Escola Secundária<br />
Domingos Rebelo, perante uma plateia de 45 pessoas, predominantemente<br />
com idades compreendidas entre os 16 e os 18 anos, com o objectivo de em<br />
conjunto se reflectir sobre a sinistralidade rodoviária nos Açores, nos últimos<br />
20 anos, verificámos que todos os presentes tinham um familiar ou um<br />
amigo que já tinha ficado ferido num acidente de viação. Dos 45 presentes,<br />
apenas quatro nunca tinham vivenciado a experiência de participar num acidente<br />
como condutores ou como tripulantes de veículo acidentado.<br />
A condução sob o efeito de substâncias psicotrópicas, tal como de<br />
álcool, foi classificada como crime. Apenas uma questão de meios técnicos<br />
não tem permitido um despiste mais eficiente de tais substâncias, pelo<br />
menos com a mesma facilidade com que as autoridades policiais efectuam<br />
a despistagem do álcool, apesar da necessidade de intervenção global ser<br />
180
Dependências e outras violências…<br />
consensual. O estudo europeu “Drogas e condução”, de 2002, apresentou<br />
79,4% dos jovens europeus a manifestarem-se neste sentido.<br />
O ano de 1999 foi, em Portugal, marcante na preocupação oficial<br />
com a violência doméstica, não como uma descoberta nacional antes<br />
como o reflexo de uma preocupação particular do mundo ocidental e que<br />
em França assumiu particular relevo, conforme documenta o relatório da<br />
Conferência de Alto Nível sobre a Prevenção da Criminalidade, publicado<br />
em 2001.<br />
Foi nos Estados Unidos da América, em 1874, com a questão da violência<br />
praticada entre membros familiares que o fenómeno ganhou visibilidade.<br />
A ajuda veio do caso Mary Ellen, criança maltratada pelos pais, tratada<br />
como um animal acorrentado, que, ao ser descoberta, não conseguiu<br />
nenhum apoio institucional por não existir qualquer lei de protecção a crianças.<br />
Só foi possível um apoio com recurso à lei de protecção dos animais,<br />
por se considerar que a criança também era um animal.<br />
A violência doméstica, de acordo com a Associação Americana de<br />
Psicologia, é “um padrão de comportamentos abusivos que incluem uma<br />
variabilidade de maus tratos possíveis, desde físicos, sexuais e psicológicos,<br />
usados por uma pessoa contra outra, num contexto de intimidade, em<br />
ordem a adquirir poder ou manter essa pessoa controlada” (Costa &<br />
Duarte, 2000:19).<br />
De acordo com a Comissão para a Igualdade dos Direitos das<br />
Mulheres, em Portugal, 19,3% do total das mulheres portuguesas são<br />
vítimas de maus tratos por parte dos maridos. Na União Europeia, estima-se<br />
que uma em cada cinco mulheres seja vítima (DA,<br />
09/Mar/2005: 10).<br />
Neste âmbito, de 2000 a <strong>2009</strong>, os crimes mais frequentes que têm<br />
sido denunciados são as ofensas à integridade física simples, ameaças e<br />
injúrias, reunindo só estes três crimes entre 90 a 95% do total da violência<br />
doméstica praticada nos Açores, repartindo-se os restantes entre os crimes<br />
de ofensas à integridade física por negligência, subtracção de menores e<br />
violação da obrigação de alimentos ou sustento. Os homicídios, embora<br />
possuam muito menor expressão estatística em relação aos demais crimes,<br />
também têm sido registados, surgindo o ano de 2008 com 48 casos no total<br />
a nível nacional, o mais trágico dos últimos anos, tanto nos Açores como<br />
no Continente (DA, 08/Jan/<strong>2009</strong>: 12).<br />
181
Alberto Peixoto<br />
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA N.º<br />
Crimes denunciados em 2000 504<br />
Crimes denunciados em 2001 661<br />
Crimes denunciados em 2002 660<br />
Crimes denunciados em 2003 735<br />
Crimes denunciados em <strong>2004</strong> 731<br />
Crimes denunciados em 2005 939<br />
Crimes denunciados em 2006 920<br />
Crimes denunciados em 2007 820<br />
Crimes denunciados em 2008* 1 259<br />
Crimes denunciados em <strong>2009</strong>* 1 302<br />
Quadro n.º 93 Violência Doméstica nos Açores - (Número<br />
de crimes praticados entre familiares, incluindo cônjuges,<br />
ou análogos, filhos e outros familiares). (Fonte: CRA-PSP)<br />
* Em virtude de a partir de 2008 o Relatório Anual de<br />
Segurança Interna ter passado a apresentar dados mais precisos<br />
sobre a violência doméstica por distritos/regiões autónomas,<br />
optámos por aqueles dados por serem mais globais.<br />
Atendendo aos crimes de violência doméstica, praticados entre familiares<br />
que habitam o mesmo espaço habitacional, nos Açores, em 2000,<br />
registaram-se 504 denúncias, em 2001, 661, em 2002, 660, em 2003, 735,<br />
em <strong>2004</strong>, 731, em 2005, 939, em 2006, 920, em 2007, 820, em 2008, 1<br />
259, e, em <strong>2009</strong>, registaram-se 1 302 denúncias.<br />
Os números apresentam uma clara tendência de crescimento. Os técnicos<br />
e analistas têm-se encarregado de explicar que o aumento do número<br />
de denúncias de violência doméstica não representa um maior recurso à<br />
sua prática. Os dados de <strong>2009</strong> do presente estudo, em comparação com os<br />
dados de <strong>2004</strong>, não demonstram que tal explicação seja assim tão linear.<br />
Falaremos do assunto mais adiante.<br />
Se analisarmos o perfil das vítimas, nos Açores, conforme tendência dos<br />
últimos anos, encontramos predominantemente mulheres, mas os homens<br />
vítimas apresentam, no arquipélago, embora em decréscimo, uma maior<br />
expressão em relação à média nacional quantificada em 15%. Em 2002, de<br />
660 crimes de violência doméstica, 21,3% foram contra homens e 78,7% con-<br />
182
Dependências e outras violências…<br />
tra mulheres. Entre as vítimas, 5% tinham menos de 16 anos e igualmente 5%<br />
tinham mais de 64 anos. Em 2003, de 735 crimes, 17,7% foram contra<br />
homens e 82,3% contra mulheres. Entre as vítimas, 7% tinham menos de 16<br />
anos e 4% tinham mais de 64 anos. Se nos debruçarmos sobre os dados de<br />
<strong>2004</strong>, verificamos que em 731 crimes, 16,1% foram contra homens e 83,9%<br />
contra mulheres, 6,2% têm menos de 16 anos e 5% têm mais de 64 anos. Em<br />
<strong>2009</strong>, entre os crimes de violência doméstica denunciados, 82,6% foram contra<br />
vítimas do sexo feminino e 82,8% tinham 25 ou mais anos de idade.31<br />
Em 2000, houve 504 denúncias, perfazendo em média 1,4 crimes por<br />
dia; em <strong>2004</strong>, em termos médios, verificaram-se duas denúncias por dia e,<br />
em <strong>2009</strong>, registaram-se 3,6 denúncias por dia de violência doméstica, o que<br />
demonstra um crescimento notável. A análise de tais crimes requer cuidados<br />
na sua abordagem, nomeadamente, devido à alteração legislativa verificada<br />
com a Lei n.º 7/2000, de 27 de Maio, que transformou a violência doméstica<br />
em crime público, quando reiterada, conferindo ao Ministério Público,<br />
poder para processar os agressores o que anteriormente apenas pertencia às<br />
vítimas. Não podemos também esquecer a multiplicação de instituições de<br />
apoio às vítimas bem como a atenção dispensada ao fenómeno pelos meios<br />
de comunicação social que desencadearam uma crescente reprovação.<br />
Ao analisarmos os relatórios anuais da União de Mulheres Alternativa<br />
e Resposta (UMAR) do núcleo de São Miguel, constatamos que, entre os<br />
agressores, em média, 50% são alcoólicos, enquanto os dependentes de<br />
drogas são 5%, surgindo a perturbação de comportamento e a infidelidade<br />
como as outras motivações mais frequentes. Assim, depreende-se que<br />
qualquer intervenção neste tipo de criminalidade é difícil e exige preparação<br />
específica dos intervenientes, na medida em que envolve pessoas em<br />
situação de fragilidade física e psicológica a necessitar de uma intervenção<br />
eficaz e imediata, nomeadamente, terapias familiares com vista a evitar<br />
a ruptura, minimizando os riscos. Nem sempre as instituições sociais<br />
com capacidade de intervenção são capazes de o fazer.<br />
Efectuada uma análise comparativa dos dados referentes à violência<br />
doméstica, denota-se uma prevalência pelo menos das denúncias deste<br />
tipo de violência nos Açores em relação à média nacional. Os Açores, em<br />
31 As estatísticas policiais não possuem quaisquer outros dados socio-demográficos que<br />
complementem a caracterização efectuada.<br />
183
Alberto Peixoto<br />
2008, registaram 1 259 denúncias, o que perfaz um rácio de 5,1 denúncias<br />
em cada 1 000 habitantes e, em <strong>2009</strong>, 5,3, por cada 1 000 habitantes. A<br />
nível nacional, em 2008, registaram-se 2,4 denúncias por cada 1 000 habitantes<br />
e 2,7. Portanto a média nacional de denúncias é sensivelmente metade<br />
da média Açores.<br />
Um dado relevante prende-se com o facto de, após a denúncia, a intervenção<br />
judicial, apesar da melhoria dos últimos anos, ainda não ser tão<br />
imediata quanto o desejável, podendo ser um factor que contribui para o<br />
agravamento das relações familiares ainda existentes, devido a actos de<br />
represálias e vinganças.<br />
Em média, 23% dos homicídios, que ocorrem em Portugal, são no<br />
seio da família e resultantes de conflitos familiares, equivalendo a um em<br />
cada quatro homicídios. Em média, em cada mês, há cinco mulheres mortas,<br />
vítimas de maus tratos. No mundo inteiro, segundo Marshall, em<br />
1993, existiam 1,8 milhões de mulheres agredidas pelos maridos e metade<br />
das mulheres assassinadas no mundo eram mortas pelos homens com<br />
quem tinham aceitado partilhar uma vida.<br />
A violência brutal no seio da família é um dado histórico que há dois<br />
mil anos no direito romano permitia ao homem dispor da vida ou da morte<br />
da mulher e das suas filhas. Em Portugal, conforme documentou Francisco<br />
Moita Flores (CM, 01/Set/<strong>2004</strong>: 27), numa investigação sobre a 1.ª<br />
República, entre 1910 e 1926, houve 31 homens que mataram as esposas,<br />
dos quais 18 fizeram-no só por mera desconfiança. Nos restantes 13 casos,<br />
não se conseguiu provar que as esposas tivessem sido adúlteras. O mais<br />
pertinente foi o facto de nenhum destes homens ter sido condenado em<br />
tribunal e alguns deles foram aplaudidos à saída.<br />
Jorge Sá vê a violência doméstica como um fenómeno de gerações,<br />
transitando de pais para filhos como um modelo correcto (CM,<br />
01/Set/<strong>2004</strong>: 26). A vivência da violência doméstica tem sido responsável<br />
pela propagação da criminalidade e de comportamentos violentos, conforme<br />
demonstram os estudos de Emery (1998) e de Hackler (1991).<br />
Para além das questões que sempre se levantam sobre a validade das<br />
estatísticas existentes e das cifras negras, quisemos precisar algumas das<br />
questões em aberto a nível de toda a região, nomeadamente, as variações<br />
de ilha para ilha bem como outras correlações de relevo para a compreensão<br />
do fenómeno.<br />
184
Dependências e outras violências…<br />
Nos Açores, em <strong>2004</strong>, 10,6% do total da população admitiu a existência<br />
de violência doméstica no seio da sua família de origem. O fenómeno não se<br />
apresentou de forma homogénea de ilha para ilha, tendo surgido a ilha do<br />
Pico como o local onde mais era reconhecida a sua existência, conforme<br />
21,3% dos inquiridos. Em seguida surgiu a Graciosa, com 12,3% da população<br />
a admiti-la, São Miguel, com 12,3%, o Faial, com 11,4%, Santa Maria,<br />
com 7,5%, a Terceira, com 6,4%, São Jorge, com 6,2%, Flores, com 0,7%, e<br />
por último surge o Corvo onde ninguém admite a existência de tal facto.<br />
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA<br />
POR ILHA<br />
<strong>2004</strong> (%) <strong>2009</strong> (%)<br />
Corvo 0,0 6,5<br />
Faial 11,4 29,5<br />
Flores 0,7 20,0<br />
Graciosa 12,3 14,8<br />
Pico 21,3 16,9<br />
São Jorge 6,2 7,7<br />
São Miguel 12,0 15,4<br />
Santa Maria 7,5 25,0<br />
Terceira 6,4 11,3<br />
MÉDIA AÇORES 10,6 16,0<br />
Quadro n.º 94 Dimensão da violência doméstica vivenciada,<br />
por ilha.<br />
Em <strong>2009</strong>, 16% dos açorianos admitiram ter existido violência no seio<br />
da família de origem, tendo 7,6% dito que tal vivência tinha sido na infância,<br />
3,2%, na adolescência, e 5,2% já na idade adulta. À excepção da ilha<br />
do Pico, que registou o valor mais elevado, em <strong>2004</strong>, todas as demais apresentaram<br />
crescimentos.<br />
Os dados apresentados ainda não nos permitem concluir que a prática<br />
real da violência doméstica esteja a aumentar, sendo possível afirmar-se<br />
que existe uma maior consciencialização em torno da problemática sendo<br />
talvez mais fácil admiti-la e até denunciá-la. Mas voltaremos ao assunto.<br />
Sabemos que os índices de desenvolvimento nos Açores não são<br />
homogéneos em todas as ilhas. Sabemos, também, que quanto mais fecha-<br />
185
Alberto Peixoto<br />
da e mais conservadora é a comunidade maior é a dificuldade por parte dos<br />
cidadãos em aceitar novos comportamentos e novos paradigmas. Em<br />
<strong>2004</strong>, na ilha do Corvo, ninguém assumiu ter consumido drogas, nem ninguém<br />
assumiu ter vivenciado violência doméstica no seio da família.<br />
Volvidos cinco anos no Corvo, tais comportamentos foram assumidos<br />
embora aparentemente com alguma timidez a avaliar pelo facto de terem<br />
sido apresentados valores muito baixos. Idêntica leitura se pode fazer em<br />
relação a outras ilhas e a outras problemáticas.<br />
IDADE TÊM RECORDAÇÕES TÊM RECORDAÇÕES<br />
DE VIOLÊNCIA DE VIOLÊNCIA<br />
DOMÉSTICA <strong>2004</strong> (%) DOMÉSTICA <strong>2009</strong> (%)<br />
Menos de 14 3,7 6,2<br />
15-20 16,9 12,2<br />
21-25 14,2 13,6<br />
26-30 10,2 17,5<br />
31-35 10,7 15,9<br />
36-40 11,2 20,1<br />
41-45 11,2 21,2<br />
46-50 11,2 19,8<br />
51 e mais 10,7 17,8<br />
Quadro n.º 95 Prevalência das recordações de vivência da violência<br />
doméstica no seio da família, por idades.<br />
Como já dissemos, inúmeras têm sido as interrogações sobre se a violência<br />
doméstica está ou não em crescimento. Não tínhamos até ao<br />
momento forma estatística de o demonstrar. O quadro comparativo da prevalência<br />
das recordações de vivência da violência doméstica no seio da<br />
família, por idades, dá-nos precisamente essa resposta.<br />
É inegável que houve um aumento da consciencialização em torno da<br />
problemática, nos últimos anos, por isso, em <strong>2004</strong>, eram as pessoas dos 15<br />
aos 25 anos as que mais assumiam ter existido violência doméstica no seio<br />
da família. Chegados a <strong>2009</strong>, verificamos que entre a população dos 15<br />
aos 25 anos houve uma redução, seguindo-se um aumento nos grupos etários<br />
seguintes, demonstrando que, em <strong>2004</strong>, ao nível da prática, havia mais<br />
186
Dependências e outras violências…<br />
violência doméstica do que em <strong>2009</strong>, embora em <strong>2009</strong> tenham existido<br />
muito mais denúncias.<br />
Todavia, o facto de 3,7% dos menores de 15 anos, em <strong>2004</strong>, e 6,2%,<br />
em <strong>2009</strong>, terem admitido a existência de violência no seio da família de<br />
origem levantou-nos algumas dúvidas por contrariar a leitura anterior. Ou<br />
estamos perante uma nova percepção da violência doméstica por parte dos<br />
menores de 15 anos? Ou, então, em 2008 e <strong>2009</strong>, assistimos a um retrocesso<br />
numa tendência de decréscimo real?<br />
Da análise da única taxa de vitimização referente aos Açores conhecida<br />
(Peixoto, <strong>2004</strong>: 92) sabemos que a taxa de denúncia era de 66% do total<br />
de crimes praticados. Em <strong>2009</strong> encontrámos uma taxa de vitimização de<br />
6,9%, o que perfaz uma ocorrência real, nos Açores, em 2008, de 16 890<br />
crimes. Segundo o relatório do Ministério Público, onde consta o número<br />
total de crimes denunciados independentemente da origem, ocorreram 12<br />
245 crimes, o que perfez uma cifra negra de 4 645, ou seja, 38% em relação<br />
ao número de denúncias.<br />
Os dados recolhidos em <strong>2009</strong>, reportando-se ao total de ocorrências criminais<br />
de 2008, apontam para uma diminuição na taxa de denúncia de 66%,<br />
em <strong>2004</strong>, para 62%, em 2008. Se o número de denúncias de crimes de violência<br />
doméstica aumentou significativamente em 2008 e <strong>2009</strong>, conforme<br />
consta no quadro n.º 94, mas a propensão para a denúncia diminuiu, então<br />
estamos perante um aumento real da prática de violência doméstica.32<br />
Apesar de termos apurado que as pessoas residentes em meios rurais, em<br />
geral, têm menos problemas com as polícias ou com os tribunais, a violência<br />
doméstica apresenta-se como um fenómeno transversal e viver no campo ou<br />
na cidade não se apresenta como um factor minimizador ou potenciador existindo<br />
apenas uma variação de seis décimas entre os dois meios.<br />
32 Sabemos que os anos de 2008 e <strong>2009</strong> foram anos de grandes dificuldades económicas,<br />
de aumento do desemprego e até de alguma conflitualidade social. Não dispomos actualmente<br />
de informação no Serviço Regional de Estatística dos Açores referente ao número<br />
de divórcios em 2008 e <strong>2009</strong>, para podermos afirmar se houve um aumento da conflitualidade<br />
familiar materializada num aumento da taxa de divorcialidade. Estimamos<br />
que sim. Contudo é uma questão que fica em aberto e na qual apenas com a continuação<br />
da investigação sociológica poderemos encontrar uma resposta; no entanto, os dados de<br />
que dispomos de momento, levam-nos a crer que o aumento estatístico de 2008 e <strong>2009</strong><br />
do número de denúncias de crimes de violência doméstica traduziu um aumento real da<br />
prática contrariando a tendência de diminuição registada em <strong>2004</strong>.<br />
187
Alberto Peixoto<br />
RESIDÊNCIA TÊM RECORDAÇÕES DE<br />
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA (%)<br />
Meio rural 10,9<br />
Meio urbano 10,3<br />
Quadro n.º 96 Prevalência das recordações de<br />
vivência da violência doméstica no seio da família,<br />
por áreas de residência.<br />
Entre os habitantes em meio rural, 10,9% admitiu a existência de violência<br />
doméstica no seio da família enquanto no meio urbano 10,3% da<br />
população assumiu tal prática.<br />
Apenas analisada em <strong>2004</strong>, a variável separação de familiar próximo<br />
na infância, verificámos que a sua vivência aumenta a propensão para o<br />
consumo de drogas atingindo-se, nesse grupo, uma prevalência de 15,7%,<br />
enquanto entre os que não a vivenciaram apresentaram uma prevalência de<br />
10,3%. Se a separação for em relação ao pai ou à mãe não se vislumbram<br />
diferenças significativas em torno de uma prevalência de 13%. Contudo se<br />
a separação for vivenciada em relação a ambos os progenitores a prevalência<br />
de consumo chega a ultrapassar os 21%.<br />
Conforme já anteriormente verificámos, um impacto negativo no processo<br />
de aprendizagem e formação da personalidade, relacionado com um<br />
ambiente desregular e disfuncional, nomeadamente com violência doméstica,<br />
produz ainda maior impacto ao nível da prevalência de consumo do<br />
que propriamente a vivência da separação.<br />
A exposição à violência doméstica, na infância, potencia a prevalência<br />
do consumo de álcool, mas exerce ainda maior influência na prevalência<br />
do consumo de drogas. Se a média da prevalência de consumo de drogas<br />
era de 10,8%, nos indivíduos expostos à violência doméstica, essa propensão<br />
passava para 21,2%, praticamente o dobro da prevalência média.<br />
Consumir drogas apresenta-se como um comportamento potenciador<br />
da vivência de problemas com as autoridades, visto que entre os indivíduos<br />
que consomem ou consumiram drogas pelo menos uma vez 16,9%<br />
dos indivíduos já tiveram problemas com as autoridades, contra apenas<br />
9,5% dos consumidores que nunca os tiveram.<br />
As pessoas expostas à violência doméstica no seio da família têm<br />
4,4 % de probabilidade de cometerem um crime ou de virem a ser con-<br />
188
Dependências e outras violências…<br />
denadas em tribunal enquanto nas famílias onde não há violência<br />
doméstica a probabilidade de cometerem um crime e de serem condenadas<br />
é de 1,8 %.<br />
O PERFIL DOS INDIVÍDUOS QUE VIVENCIARAM A PRÁTICA DE<br />
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA<br />
O presente estudo permitiu-nos detectar algumas regularidades ao<br />
nível dos indivíduos que vivenciaram a prática da violência no seio das<br />
suas famílias. Assim, detectámos que 11,3% eram do sexo masculino e<br />
20,8 do sexo feminino concluindo-se que não só a violência física e psicológica<br />
é mais praticada contra as mulheres como também os agressores<br />
praticam os actos com maior facilidade na presença de mulheres.<br />
As pessoas que presenciaram a violência doméstica apresentaram<br />
indicadores de possuírem maior probabilidade de desenvolverem relações<br />
pessoais instáveis. Entre as pessoas solteiras, 10,9% disseram ter presenciado<br />
tal violência. Entre as casadas, os que presenciaram a violência agrupavam<br />
15,8%, contudo entre as pessoas que viviam em união de facto a<br />
percentagem atingia os 30,6%, 35,5%, entre as separadas, e 39,9%, entre<br />
as divorciadas.<br />
Conclui-se, também, que quanto mais elevadas as habilitações dos<br />
inquiridos menores eram as percentagens daqueles que tinham presenciado<br />
a prática da violência no seio das suas famílias. Enquanto entre as pessoas<br />
sem saber ler ou escrever 38,5% assumiram ter presenciado a violência,<br />
entre os licenciados apenas 10,4% presenciou tal prática.<br />
Os indivíduos que presenciaram a prática da violência apresentam<br />
maior propensão para a insatisfação profissional, desempenham actividades<br />
profissionais menos qualificadas, possuem vínculos profissionais mais<br />
instáveis e apresentam maiores propensões para o consumo de tabaco,<br />
álcool, drogas e fármacos.<br />
189
O CONSUMO DE FÁRMACOS<br />
Um dos mais recentes estudos sobre o consumo de fármacos, entre os<br />
quais os antipsicóticos, foi divulgado através do Journal of the American<br />
Medical Association. Tendo como população alvo 272 crianças e adolescentes,<br />
demonstrou-se que a toma de tais fármacos faz aumentar o peso e<br />
torna os pacientes obesos. Os investigadores, perante as evidências, recomendaram<br />
ponderação aos médicos e familiares no uso de tais fármacos<br />
(DA, 27/Nov/<strong>2009</strong>: 21).<br />
O consumo de fármacos, no estudo de <strong>2004</strong>, não foi apurado. Fruto de<br />
uma crescente preocupação sobre a problemática, optámos por introduzila<br />
no estudo de <strong>2009</strong>, até porque segundo dados dos inquéritos do IDT, de<br />
2001, em meio escolar, nomeadamente em relação à prevalência do consumo<br />
de tranquilizantes, nos Açores, era superior à média nacional. A nível<br />
nacional, em 2001, 14% dos inquiridos disseram consumi-los com regularidade,<br />
tendo, em 2006, baixado para 7%, enquanto, nos Açores, em 2001,<br />
eram 16% os que os consumiam regularmente, embora, em 2006, também<br />
tenham baixado para 7%.<br />
Segundo dados do Infarmed, entre 2003 e 2008, o consumo de psicofármacos<br />
aumentou 36,6%. Só em 2008 foram consumidos 28 milhões de<br />
embalagens, avaliadas em 372 323 619,00 euros, representando um<br />
aumento de 7,6% em relação a 2007 (DA, 17/Out/<strong>2009</strong>: 10).<br />
Em declarações à Agência Lusa em Outubro de <strong>2009</strong>, o Alto<br />
Comissariado da Saúde anunciou que, em Portugal, a média de consumo<br />
de psicofármacos foi de 152,1 por mil habitantes, em 2008, enquanto a<br />
média europeia referente a 2006 era de 42,3 por cada mil habitantes, estando<br />
por apurar a motivação do consumo português acrescido em relação à<br />
média europeia (DA, 17/Out/<strong>2009</strong>: 10).<br />
191
Alberto Peixoto<br />
Dados referentes a Setembro de <strong>2009</strong> dão conta de um aumento de<br />
3,1% do consumo de antidepressivos. De Janeiro a Setembro de <strong>2009</strong>,<br />
foram vendidas 6 736 milhões de embalagens, o que por si demonstra a<br />
dimensão da realidade (DA, 25/Nov/<strong>2009</strong>: 9).<br />
Conforme já dissemos, colocou-se a questão do consumo de tranquilizantes,<br />
sedativos e anti-depressivos apenas no estudo de <strong>2009</strong>, tendo-se<br />
apurado que 16,7% dos açorianos tinham consumido tais medicamentos<br />
nos últimos trinta dias que antecederam a presente inquirição. Entre o total<br />
de tais consumidores, 28% eram-no sem qualquer prescrição médica.<br />
CONSUMO NOS ÚLTIMOS 30 DIAS DE CONSUMO<br />
TRANQUILIZANTES/SEDATIVOS/ANTIDEPRESSIVOS <strong>2009</strong> (%)<br />
Sim 16,7<br />
Não 83,3<br />
Quadro n.º 97 Prevalência do consumo de fármacos psicoactivos, nos<br />
últimos 30 dias.<br />
Os dados referentes à população açoriana, em <strong>2009</strong>, eram bastante<br />
mais elevados do que os encontrados entre a população estudantil de 2006<br />
pelo IDT, e sete décimas mais elevado que o de 2001, o que pode indiciar<br />
o aumento da propensão de tal consumo entre os açorianos.<br />
Através dos dados recolhidos sabemos que, nos Açores, as pessoas<br />
com maior propensão para o consumo de psicofarmacos têm mais de 35<br />
anos e entre os 15 e os 18 anos a prevalência de consumo, nos Açores era,<br />
em <strong>2009</strong>, de 4,8%, portanto ainda mais baixa do que a prevalência de 7%<br />
encontrada pelo IDT em 2006, podendo falar-se de uma redução de 2,2%.<br />
Sem possuirmos dados de avaliação sobre o consumo de psicofármacos<br />
para além dos 18 anos, antes de <strong>2009</strong>, não é possível fazer-se qualquer<br />
caracterização da evolução do fenómeno, no entanto podemos afirmar,<br />
com segurança, que qualquer acção a desenvolver no âmbito do combate<br />
à prevalência de consumo terá de ser muito específica e sobretudo entre<br />
as mulheres e com idades a partir dos 35 anos.<br />
As pessoas com menores habilitações literárias até ao 2.º ciclo eram<br />
as que apresentavam a maior propensão para o consumo de tais substâncias,<br />
mas ao mesmo tempo eram as que menos se automedicavam. Entre<br />
192
as pessoas com habilitações literárias acima do 9.º ano de escolaridade até<br />
ao 12.º ano, assistiu-se a um processo inverso, ou seja, a prevalência de<br />
consumo era menor, mas automedicavam-se mais. As pessoas com cursos<br />
superiores, entre as que possuíam habilitações acima do 9.º ano, eram as<br />
que consumiam mais psicofármacos apesar de se automedicarem menos<br />
que as anteriores, mas 10% mais do que aquelas que não possuíam habilitações<br />
literárias.<br />
O PERFIL DO CONSUMIDOR DE TRANQUILIZANTES/SEDATIVOS/<br />
ANTIDEPRESSIVOS<br />
Dependências e outras violências…<br />
Entre aqueles que assumiram ter consumido tranquilizantes ou similares<br />
nos últimos trinta dias, 77,7% eram do sexo feminino contra 22,3%<br />
do sexo masculino, com idades a partir dos 35 anos. Se em relação ao tabaco,<br />
álcool e substâncias ilícitas estamos perante uma maior prevalência<br />
masculina abaixo dos 35 anos, o consumo de fármacos é um fenómeno<br />
predominantemente feminino e com maior prevalência para além dos 35<br />
anos de idade.<br />
A propensão de consumo daqueles fármacos entre as pessoas viúvas é<br />
de 65,3%, constituindo por isso grupo de risco, seguindo-se as separadas,<br />
com 29,0%, e as divorciadas, com 24,4%. As pessoas com menor propensão<br />
são as solteiras, com apenas 8,5% de prevalência, e as que vivem em<br />
união de facto, com 16,3%.<br />
Entre os consumidores de tranquilizantes, sedativos e antidepressivos<br />
surge como regularidade uma maior insatisfação pessoal em relação àqueles<br />
que afirmaram não os consumir, uma maior propensão para o consumo<br />
de café (56,9%), uma menor propensão para o consumo de tabaco, álcool<br />
ou drogas embora 35,3% tenham admitido já ter tentado abandonar a<br />
dependência de uma daquelas substâncias.<br />
193
A PREVALÊNCIA DA EMBRIAGUEZ<br />
Num estudo a nível de 35 países, os jovens com 16 anos, nos últimos trinta<br />
dias, tomaram cinco ou mais bebidas alcoólicas. Em 2003, 25% dos inquiridos<br />
assumiu consumos excessivos de álcool e, em 2007, subiu para 56%.<br />
Beber até cair para o lado aumentou em Portugal (DA, 28/Mar/<strong>2009</strong>: 13).<br />
No inquérito à população geral (15-64 anos), de 2007, dirigido por<br />
Casimiro Balsa, conclui-se que a maior parte da população consumidora,<br />
entre 50 a 64 por cento, disse nunca ter ficado embriagada, independentemente<br />
de consumir álcool regularmente. Com um número de experiências<br />
de embriaguez igual ou inferior a cinco vezes ao longo da vida, estavam<br />
27 por cento dos consumidores, 23 por cento no último ano e 24 por<br />
cento no último mês. Com mais de cinco casos de embriaguez registaram-<br />
-se 16 por cento dos consumidores ao longo da vida, seis por cento, no último<br />
ano, e igual valor no último mês.<br />
Os dados referentes a <strong>2009</strong> dizem-nos que 53,9% da população açoriana<br />
já se embriagou, entre os quais 5,4% embriagaram-se há menos de<br />
uma semana, 7,4% disse ter sido entre uma semana e um mês, 15,9% disse<br />
ter sido entre um mês e um ano e 25,2% disse ter-se embriagado há vários<br />
anos atrás. Admitiram possuir familiares que consomem bebidas alcoólicas<br />
em excesso 17,2% dos inquiridos.<br />
Segundo as conclusões obtidas, em relação ao estudo nacional de<br />
2007, de Casimiro Balsa, nos Açores, há mais população a assumir ter-se<br />
já embriagado, são mais frequentes as bebedeiras ao longo da vida, no<br />
último ano e no último mês.<br />
Um estudo do College London, realizado em 21 países entre 1999 e<br />
2001, demonstrou que 18% dos jovens universitários do sexo masculino<br />
consumiam álcool de forma exagerada, situando-se no 13.º lugar, contra<br />
195
Alberto Peixoto<br />
9%, entre as mulheres universitárias portuguesas, que se situavam no 11.º<br />
lugar, ocupando a Irlanda, tanto ao nível feminino como masculino o 1.º<br />
lugar da lista de consumos excessivos (CA, 24/Nov/2006: 14).<br />
No presente estudo, apurámos que, nos Açores, entre a população<br />
estudantil, 51,4% consumiam bebidas alcoólicas com regularidade<br />
sendo que do total 43,4% consumiam ocasionalmente, 7,2% todas as<br />
semanas e 0,8% consumiam todos os dias. Assumiram que já se tinham<br />
embriagado 38,9% dos estudantes dos quais 6,9% há menos de uma<br />
semana, 11,3% há menos de um mês, 15,7% há menos de um ano e 5%<br />
há vários anos atrás.<br />
A nível profissional os consumos excessivos de álcool sobressaíram<br />
em sete grupos. Entre os estudantes conforme já vimos, entre os pedreiros,<br />
carpinteiros, electricistas, agricultores, taxistas e entre os desempregados.<br />
PROFISSÕES Assumiram terem-se já<br />
embriagado (%)<br />
Agricultores 77,9<br />
Carpinteiros 88,6<br />
Desempregados 65,2<br />
Electricistas 78,3<br />
Estudantes 51,4<br />
Pedreiros 81,6<br />
Taxistas 61,7<br />
Quadro n.º 98 Regularidade de consumo de<br />
drogas por profissões.<br />
Entre os taxistas inquiridos e que assumiram já se terem embriagado,<br />
2,9% disseram ter sido há menos de uma semana e 2,9%, ter sido<br />
há menos de um mês. Entre os electricistas, 8,7% disseram ter-se embriagado<br />
há menos de uma semana. Os carpinteiros disseram terem-se<br />
embriagado há menos de uma semana, 2,8%, e 14,3%, há menos de um<br />
mês.<br />
Entre os agricultores, 9,3% tinham-se embriagado há menos de uma<br />
semana e 9,3%, há menos de um mês. Entre os desempregados, 8,0%<br />
tinham-se embriagado há menos de uma semana e 9,4%, há menos de um<br />
196
mês. Foi entre os pedreiros que se registaram as frequências mais elevadas<br />
chegando a 11,9% os que se tinham embriagado há menos de uma semana<br />
e 10,1%, há menos de um mês.<br />
O PERFIL NA EMBRIAGUEZ<br />
Dependências e outras violências…<br />
Entre os que assumiram já se terem embriagado, são maioritariamente<br />
do sexo masculino (62,8%). Ao nível do estado civil e da propensão<br />
para a embriaguez, são os indivíduos a viver em união de facto seguidos<br />
dos divorciados e dos casados.<br />
Em termos de habilitações literárias, denota-se que, paradoxalmente,<br />
à medida que aumenta o nível de escolaridade, aumenta de igual modo a<br />
prevalência da embriaguez. Se entre os indivíduos que não sabem ler ou<br />
escrever há uma prevalência de 28,2%, entre os que possuem o 1.º ciclo do<br />
ensino básico existe uma prevalência de 47,0%, entre os que possuem o 3.º<br />
ciclo, aumenta para 51,7%, e entre os que possuem cursos superiores há<br />
uma prevalência de embriaguez de 70,6%. A principal diferença na prevalência<br />
da embriaguez por habilitações literárias reside no facto de o espaço<br />
temporal entre o último episódio e o momento do inquérito aumentar à<br />
medida que aumenta o nível das habilitações literárias. Em síntese, há uma<br />
maior prevalência de consumo de consumo de bebidas alcoólicas entre as<br />
pessoas com mais habilitações literárias, mas as pessoas com menos habilitações<br />
literárias embriagam-se muito mais vezes.<br />
197
O ABANDONO DA DEPENDÊNCIA E RECUPERAÇÃO<br />
A intervenção e recuperação dos dependentes surge como um dos<br />
mais complexos esforços e a prová-lo estão as várias centenas de indivíduos<br />
repatriados, dos Estados Unidos e do Canadá para os Açores, com um<br />
historial de problemas, conflitos, marginalidades e afinidades com as<br />
dependências, ao longo dos últimos 30 anos.33<br />
A mudança de meio conjugada com a necessidade de apoio técnico<br />
e familiar apresentam-se como fundamentais para o abandono bem<br />
sucedido de uma dependência. Tendo-se questionado a população sobre<br />
o que se sente com a satisfação de um vício ou dependência, em <strong>2004</strong>,<br />
54,6% e, 73,4%, em <strong>2009</strong>, dos inquiridos responderam sentir precisamente<br />
uma sensação de satisfação. Uma sensação de indiferença foi<br />
apontada por 13,6%, em <strong>2004</strong>, 12%, dos inquiridos, em <strong>2009</strong>, enquanto<br />
7,5% (<strong>2004</strong>), 3,4% (<strong>2009</strong>) disseram ser frustração, 5,5% (<strong>2004</strong>),<br />
3,2% (<strong>2009</strong>), revolta, 5,3% (<strong>2004</strong>), arrependimento, 4,5% (<strong>2004</strong>), 0,3%<br />
(<strong>2009</strong>) medo e 9% (<strong>2004</strong>), 2,4% (<strong>2009</strong>) disseram ser outra sensação não<br />
especificada.<br />
33 Com uma intervenção assente em vários pilares, nomeadamente, alojamento, alimentação,<br />
emprego, saúde e apoio burocrático tem-se conseguido resultados bastante<br />
satisfatórios, na medida em que se verifica uma taxa de sucesso de inserção<br />
na ordem dos 70%, conforme referiu Telma Silva, então Directora do Centro de<br />
Apoio ao Repatriado (EN, 02/07/<strong>2004</strong>: 7-8). Do universo de 207 indivíduos repatriados,<br />
que receberam apoio do centro, em 2003, 36 foram novos repatriamentos<br />
para S. Miguel, 51 encontravam-se em fase de transição, 73 eram casos estáveis,<br />
apresentando níveis de inserção satisfatórios. Quanto a indivíduos com dependências<br />
crónicas, existiam 43, os quais iam tentando as desintoxicações, mas as recaídas<br />
sucediam-se.<br />
199
Alberto Peixoto<br />
NA SATISFAÇÃO DE <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
UM VÍCIO SENTE (%) (%)<br />
Satisfação 54,6 73,4<br />
Revolta 5,5 3,2<br />
Indiferença 13,6 12,0<br />
Medo 4,5 0,3<br />
Arrependimento 5,3 5,3<br />
Frustração 7,5 3,4<br />
Outra 9,0 2,4<br />
Quadro n.º 99 Sensação vivenciada com a satisfação<br />
de um vício.<br />
Um artigo científico, publicado na edição de Maio de 2007 da revista<br />
francesa Science & Vie, dava conta de que todas as drogas, desde o tabaco<br />
ao álcool, passando pelas substâncias ilícitas, têm em comum a capacidade<br />
de alteração da actividade cerebral e o despertar de um mecanismo<br />
de recompensa e prazer, por via da libertação de dopamina. Quanto maior<br />
a dopamina libertada maior é o prazer e o potencial viciante da substância.<br />
No mesmo artigo, pode ler-se que o jogo a dinheiro dos casinos, a internet<br />
ou os jogos de vídeo activam no cérebro as mesmas zonas que as activadas<br />
por substâncias como a heroína ou a cocaína, surgindo a falta de autodomínio<br />
como o principal factor para a persistência na dependência, admitindo-se<br />
a existência de factores genético-hereditários que contribuem para<br />
uma maior vulnerabilidade do indivíduo apesar do grau de dependência<br />
também variar de substância para substância. Considerando como padrão a<br />
repetição de consumo por seis vezes, 76% dos consumidores de cocaína tornam-se<br />
dependentes, na heroína, 73%, no tabaco, 60%, no álcool, 39%, nas<br />
anfetaminas, 26%, na cannabis, 23%, e nos medicamentos, 20%.<br />
Um estudo da Washington University School of Medicine, em St. Louis,<br />
nos Estados Unidos, demonstrou que os genes responsáveis pela propensão para<br />
a dependência de álcool são os mesmos para a propensão da dependência de<br />
cannabis. Apesar de a questão hereditária possuir um peso de cerca de 50%, não<br />
é determinista visto que 40 a 50% das pessoas que se tornam dependentes de<br />
uma ou de outra substância é por influências ambientais (DA, 25/Dez/<strong>2009</strong>: 21).<br />
Sendo elevadas as taxas de recaídas dos dependentes, em termos médios,<br />
no caso da heroína, 60 a 75% no primeiro mês, na cocaína, 45% nos primeiros<br />
seis meses, no tabaco, 70 a 90% nos primeiros seis meses, no álcool 50% nos<br />
200
Dependências e outras violências…<br />
primeiros seis meses (no caso dos medicamentos, cannabis, alucinogénios e<br />
anfetaminas não existem dados), a indústria farmacêutica tem procurado a descoberta<br />
de bloqueadores da adição e até uma vacina (AE, 25/Jun/2007: 15).<br />
Em média, 20,8% (<strong>2004</strong>), 20,2% (<strong>2009</strong>) da população açoriana já tentou<br />
abandonar uma dependência, ou seja, cerca de 50 000 pessoas assumiram-se<br />
como dependentes de pelo menos uma substância ao ponto de sentirem<br />
a necessidade de abandonar o seu consumo.<br />
Santa Maria, em <strong>2004</strong>, apresentou-se como o local onde mais se tinha<br />
tentado abandonar uma dependência com 31,5% da população a responder<br />
nesse sentido. No Pico, 24,8% da população também já o tinha tentado, em<br />
São Miguel, 22,4% da população, e, na ilha Terceira, 20,7%. Em <strong>2009</strong>, registaram-se<br />
alterações significativas. Para além da particularidade do Corvo que<br />
não pode ser excessivamente valorizada devido ao efeito alavanca das respostas,<br />
tendo em conta a dimensão reduzida da população, a maior prevalência<br />
de tentativas de abandono de dependências passou a ser na ilha Terceira,<br />
com 23,9% da população a responder nesse sentido. Depois da prevalência<br />
da ilha Terceira seguiu-se a prevalência de abandono do Faial, com 21,9%,<br />
portanto, 1,7% acima da média Açores de 20,2%. Foi nas Flores, com 13,6%,<br />
que se registou a mais baixa preocupação em abandonar as dependências.<br />
TENTATIVAS DE ABANDONO <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
DE DEPENDÊNCIA POR ILHA (%) (%)<br />
Corvo 4,0 26,1<br />
Faial 19,9 21,9<br />
Flores 4,0 13,6<br />
Graciosa 16,7 14,8<br />
Pico 24,8 18,3<br />
São Jorge 15,4 14,4<br />
São Miguel 22,4 16,5<br />
Santa Maria 31,5 18,8<br />
Terceira 20,7 23,9<br />
MÉDIA AÇORES 20,8 20,2<br />
Quadro n.º 100 Tentativas de abandono de dependências por ilha.<br />
A substância que, nos Açores, tanto em <strong>2004</strong> como em <strong>2009</strong>, mais se<br />
tentou abandonar foi o tabaco, com 15,8% e 17% da população, respectivamente.<br />
Em termos absolutos corresponde a cerca de 40 mil indivíduos.<br />
201
Alberto Peixoto<br />
Santa Maria, em <strong>2004</strong>, com 29,5% (1 645 indivíduos) foi onde mais<br />
pessoas tinham tentado abandonar o tabaco. No Pico, 2 532 indivíduos<br />
(17,1%), em São Miguel, 21 979 pessoas, (16,7%), no Faial 2 425<br />
(16,1%), na Terceira, 8 933 (16%), na Graciosa, 679 (14,2%), em São<br />
Jorge, 706 (7,3%), enquanto nas Flores, 160 e Corvo, 17 (4%) da população<br />
em cada uma das ilhas já tinha tentado abandonar o tabaco.<br />
Em <strong>2009</strong> registámos a tentativa de abandono da dependência de tabaco<br />
de 127 indivíduos no Corvo, 3 423, no Faial, 559, nas Flores, 726, na<br />
Graciosa, 2 717, no Pico, 1 364, em São Jorge, 22 079, em São Miguel,<br />
1 048, em Santa Maria, e 13 366, na Terceira.<br />
O abandono da dependência de substâncias ilícitas, em <strong>2004</strong>, tinha sido<br />
tentada por 2,1% da população açoriana, correspondendo a 5 077 pessoas. Em<br />
São Miguel, 4 211 indivíduos tentaram abandonar o consumo de drogas, em<br />
Santa Maria, 112 pessoas, no Pico, 237, na Graciosa, 72, em São Jorge, 116,<br />
na Terceira, 614, no Faial, 136, e nas Flores e Corvo não existia ninguém que<br />
tivesse tentado o abandono de tal dependência em consonância com o facto<br />
de não ter sido identificado ninguém a assumir consumir tais substâncias.<br />
Em <strong>2009</strong>, a percentagem de indivíduos que, nos Açores, já tinha tentado<br />
o abandono da dependência de substâncias ilícitas aumentou uma décima<br />
correspondendo ao número total de 5 385 dependentes. São Miguel foi a ilha<br />
onde mais tentativas de abandono se registaram seguindo-se o Pico.<br />
TENTATIVAS DIFERENCIADAS<br />
DE ABANDONO DE DEPENDÊNCIA<br />
POR ILHA, EM <strong>2009</strong><br />
TABACO ÁLCOOL MEDICAMENTOS DROGA OUTRA<br />
Corvo 26,0 0,0 0,0 0,0 0,1<br />
Faial 18,4 1,5 0,7 0,4 0,4<br />
Flores 12,2 0,0 0,4 0,5 0,5<br />
Graciosa 14,1 0,0 0,3 0,1 0,3<br />
Pico 15,8 0,4 0,0 1,3 0,8<br />
São Jorge 13,6 0,6 0,0 0,0 0,2<br />
São Miguel 11,7 0,2 0,5 3,9 0,2<br />
Santa Maria 18,1 0,6 0,1 0,0 0,0<br />
Terceira 22,9 0,3 0,2 0,2 0,3<br />
MÉDIA AÇORES 17,0 1,3 0,5 2,2 0,2<br />
Quadro n.º 101 Tentativas de abandono de dependências, apuradas em <strong>2009</strong>, por ilha e por substâncias.<br />
202
Dependências e outras violências…<br />
Do total da população açoriana, em <strong>2004</strong>, menos de 1%, 1,3% em <strong>2009</strong>,<br />
tinha tentado abandonar o consumo de álcool, em número absoluto, cerca de<br />
3 000 pessoas. Percentualmente, em <strong>2004</strong>, foi no Corvo onde se registou o<br />
número mais elevado de pessoas que tentaram o abandono do álcool, correspondendo<br />
a 9 pessoas de um universo de 425. Em <strong>2009</strong>, nenhum indivíduo<br />
assumiu a tentativa de abandono no Corvo, nas Flores, ou na Graciosa. No<br />
Faial, em <strong>2004</strong>, tinham tentado abandonar 45 indivíduos e, em <strong>2009</strong>, foi<br />
quando percentualmente mais tentativas se registaram.34<br />
A maioria dos dependentes de qualquer substância, em geral, afirma<br />
pretender abandonar a dependência, surgindo o tabaco como a substância<br />
que mais pessoas pretendem evitar embora apenas 3 a 7% dos fumadores<br />
o consiga sem qualquer ajuda, conforme divulgado num estudo de Sofia<br />
Ravara por uma especialista de desabituação do Hospital Amadora-Sintra<br />
(SPP, <strong>2004</strong>). Se os fumadores forem apoiados por técnicos, a taxa de<br />
sucesso pode variar entre 15 a 30%, conforme o mesmo estudo.<br />
RESULTADOS POSITIVOS DE <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
ABANDONO DE DEPENDÊNCIA POR ILHA (%) (%)<br />
Corvo 33,3 0,0<br />
Faial 36,5 26,3<br />
Flores 16,6 6,7<br />
Graciosa 29,4 0,0<br />
Pico 13,9 30,0<br />
São Jorge 40,0 3,8<br />
São Miguel 33,8 9,5<br />
Santa Maria 12,6 9,1<br />
Terceira 44,5 15,5<br />
MÉDIA AÇORES 32,3 12,5<br />
Quadro n.º 102 Taxa de sucesso obtida com as tentativas de<br />
abandono de dependências por ilha.<br />
Nos Açores, em <strong>2004</strong>, quantificámos a taxa geral de sucesso de abandono<br />
de dependência em 32,3% entre os que efectuaram tal esforço, tendo sido na<br />
34 É possível que as nossas estimativas contenham uma margem de erro, contudo recorde-<br />
-se que, conforme já referimos, só no ano de <strong>2009</strong>, na Ilha de São Miguel, as várias instituições<br />
que tratam toxicodependentes registaram 813 tentativas de desintoxicação.<br />
203
Alberto Peixoto<br />
ilha Terceira onde se verificaram os resultados positivos de abandono mais significativos,<br />
atingindo uma taxa de sucesso de 44,5%, seguindo--se São Jorge,<br />
com uma taxa de 40%, Faial, com 36,5%, São Miguel, com 33,8%, Corvo,<br />
com 33,3%, Graciosa, com 29,4%, Flores, com 16,6%, Pico, com 13,9% e<br />
Santa Maria apresentou-se como o local onde mais dificuldade tinham os que<br />
tentavam abandonar uma qualquer dependência. Em <strong>2009</strong>, as taxas de sucesso<br />
decaíram consideravelmente, tendo a média Açores passado para apenas<br />
12,5%, bem mais próxima dos valores apresentados no estudo de Sofia Ravara.<br />
Se é sobretudo prazer o que se sente com a satisfação de uma dependência,<br />
compreende-se facilmente como é difícil o seu abandono, daí que<br />
68,8% (<strong>2004</strong>), 75,9% (<strong>2009</strong>) dos inquiridos tenham apontado a incapacidade<br />
individual como a principal causa do insucesso. A falta de apoio dos<br />
amigos foi apontada por 10,1% (<strong>2004</strong>), 5,4% (<strong>2009</strong>) dos indivíduos que<br />
tentaram abandonar um determinado consumo e, como terceiro factor, em<br />
<strong>2004</strong>, verificou-se um outro não especificado conforme 9,4% e, em <strong>2009</strong>,<br />
a falta de apoio familiar (7,4%).<br />
RESULTADO DA TENTATIVA FOI <strong>2004</strong> <strong>2009</strong><br />
NEGATIVO POR (%) (%)<br />
Falta de apoio familiar 3,0 7,4<br />
Falta de apoio dos amigos 10,1 5,4<br />
Incapacidade individual 68,8 75,9<br />
Dificuldades de inserção num novo grupo 3,0 1,0<br />
Problemas habitacionais 0,7 1,1<br />
Problemas familiares 3,6 4,3<br />
Culpa dos técnicos de apoio 1,4 0,3<br />
<strong>Outras</strong> 9,4 4,6<br />
Quadro n.º 103 Causas do insucesso obtido nas tentativas de<br />
abandono de dependências.<br />
A existência de problemas familiares foi apontada por 3,6% (<strong>2004</strong>),<br />
4,3% (<strong>2009</strong>) dos inquiridos como factor de insucesso. Apenas 1,4%<br />
(<strong>2004</strong>), 0,3% (<strong>2009</strong>) dos inquiridos considerava ser por culpa dos técnicos<br />
de apoio e 0,7% (<strong>2004</strong>), 1,1% (<strong>2009</strong>) considerava serem os problemas<br />
habitacionais a principal causa de ter fracassado a tentativa de abandono<br />
da dependência de que eram portadores.<br />
204
SÍNTESE CONCLUSIVA<br />
Nos Açores, em particular, nos últimos cinco anos, foi demonstrada<br />
uma significativa preocupação política com o problema das dependências,<br />
materializada, como vimos, na criação da Direcção Regional da Prevenção<br />
e do Combate às Dependências, em 2008. Além da visibilidade que se pretendeu<br />
conferir à problemática, disponibilizou-se uma dotação orçamental<br />
anual na ordem de 1,5 milhões de euros, três vezes superior à disponibilizada<br />
anualmente, entre <strong>2004</strong> e 2008, no âmbito do então Plano Regional<br />
de Prevenção de Mau Uso e Abuso de Substâncias Psicoactivas/Droga.<br />
Entendida pela tutela a necessidade de actualização do inquérito à<br />
população em geral, realizado em <strong>2004</strong>, não se pode deixar de considerar<br />
um acto de coragem, tendo em conta o melindre do objecto em estudo.<br />
Decorridos cinco anos entre os dois momentos de avaliação, a primeira<br />
grande conclusão deriva do facto de se manter constante a premissa de<br />
que a transformação de um consumo esporádico numa dependência resulta<br />
de um conjunto de circunstâncias condicionadas por factores de ordem<br />
bio-psico-sociológicos.<br />
O objecto de estudo analisado, não sendo linear mas potenciador de<br />
acesos debates, remete-nos para implicações a vários níveis, que vão da<br />
esfera individual, passando pela familiar, social, médica, económica, judicial<br />
e até política.<br />
Em termos gerais, tal como tínhamos verificado em <strong>2004</strong>, podemos<br />
afirmar que existe um desconformismo entre as representações sociais em<br />
torno da problemática das dependências em particular das substâncias ilícitas<br />
e as realidades descritas pelos diferentes estudos citados, realizados<br />
a nível europeu. Se compararmos os diferentes indicadores, apesar das<br />
muitas preocupações que devem suscitar, os Açores apresentam médias de<br />
205
Alberto Peixoto<br />
prevalência de consumo de droga, bem como números de quadros de<br />
dependência, mais baixos.<br />
Outra das realidades identificadas na região, comum a outras regiões,<br />
diz respeito ao facto de se assistir a uma crescente vulgarização do consumo<br />
de drogas e em contra-corrente uma crescente censura social em torno<br />
do consumo de tabaco, enquanto em relação ao consumo de álcool se tem<br />
mantido uma grande tolerância social.<br />
Se pretendermos elaborar uma escala de preocupações sociais em função<br />
de indicadores como a dimensão, consequências e custos, conclui-se<br />
que são possíveis várias leituras. Em termos de dimensão e custos ao nível<br />
da saúde, resultantes do consumo, em primeiro lugar surge a dependência<br />
do tabaco, seguindo-se o álcool e por fim a droga. Se tivermos em conta<br />
as relações interpessoais e a propensão para a violência, a maior preocupação<br />
advém do consumo abusivo de álcool. Ao nível do sentimento de<br />
segurança e da propensão para a prática da criminalidade aquisitiva, a<br />
maior preocupação resulta dos quadros de dependência de drogas, apesar<br />
de a sua prevalência ser seis vezes inferior à prevalência da dependência<br />
de álcool e catorze vezes inferior à dependência do tabaco.<br />
Conforme vimos, estimativas europeias apontam para que 15% do<br />
total do orçamento do sector saúde seja gasto em cuidados médicos relacionados<br />
com a dependência do tabaco. Com base nesta estimativa, tendo<br />
em conta os planos anuais do sector saúde dos Açores entre 2005 e <strong>2009</strong>,<br />
o tabagismo em cuidados de saúde poderá ter representado um encargo de<br />
13,1 milhões de euros, ou seja, 2,6 milhões de euros por ano. Se juntarmos<br />
a este valor o que se pode extrapolar em relação a gastos directos e indirectos<br />
relacionados com os demais quadros de dependências é bem perceptível<br />
a dimensão da problemática.<br />
Em <strong>2004</strong>, existiam, nos Açores, 79 782 fumadores (33%) e em<br />
cinco anos assistiu-se a uma redução de 1%, representando menos 1 453<br />
fumadores (31%). Entre o número estimado de 78 329 fumadores, em<br />
<strong>2009</strong>, 48 563 eram do sexo masculino e 29 766 do sexo feminino. Além<br />
de se ter registado uma diminuição do número de fumadores em geral,<br />
registou-se de igual modo uma diminuição da frequência de consumo de<br />
tabaco.<br />
A redução do número de fumadores fez-se de forma desigual entre<br />
homens e mulheres. Enquanto entre os homens o consumo diminuiu<br />
206
Dependências e outras violências…<br />
11,3%, entre as mulheres aumentou 18,8%. Acresce referir que a redução<br />
no número de fumadores ficou a dever-se à diminuição de novos fumadores<br />
do sexo masculino com idades acima dos 20 anos.<br />
O novo cenário materializado ao longo dos últimos cinco anos, resultante<br />
do aumento do preço de tabaco, das restrições ao nível dos locais em<br />
que é permitido fumar e das inúmeras abordagens nos órgãos de comunicação<br />
social e nos próprios maços de tabaco sobre os malefícios dos hábitos<br />
tabágicos, pode ajudar a compreender a redução registada.<br />
Em média, 20,6% dos fumadores declararam gastar menos de 10,00<br />
euros semanais, 64,4%, entre 10,00 e 50,00 euros semanais, e 15,0% mais<br />
de 50,00 euros por semana. Com base em tais dados, em termos médios o<br />
consumo de tabaco, na região, representava, em <strong>2009</strong>, dois milhões de<br />
euros por semana, ou 104 milhões de euros por ano.<br />
De <strong>2004</strong> para <strong>2009</strong>, em todas as ilhas, à excepção de Santa Maria, Pico,<br />
e Graciosa, aumentou o número de pessoas a começar a fumar antes dos 15<br />
anos. O número de novos fumadores no grupo etário dos 15 aos 24 anos continuou<br />
a aumentar e abaixo dos 15 anos os fumadores representam já 13,6%<br />
de toda a população naquele escalão etário residente nos Açores.<br />
Segundo os dados de <strong>2004</strong>, tinham tentado abandonar o consumo do<br />
tabaco 36% do total de fumadores açorianos. Naquele momento, 29% afirmaram<br />
que a tentativa tinha sido bem sucedida. Em <strong>2009</strong>, entre o total de<br />
fumadores, 33,7% disseram já ter tentado abandonar a dependência, mas<br />
apenas 18,1% declaram terem sido bem sucedidos.<br />
Em síntese, registou-se um menor número de pessoas disponíveis a<br />
tentar abandonar a dependência do tabaco e entre elas foi evidenciada<br />
uma maior dificuldade em conseguir ter êxito. Podemos mesmo afirmar<br />
que este foi um dado surpreendente por contrariar o facto de ter aumentado<br />
significativamente o número de consultas tabágicas nas unidades de<br />
saúde da região. Assim, pelo facto de ter aumentado a procura de consultas<br />
tabágicas não se pode concluir que tal aumento traduza uma correspondência<br />
com um aumento da vontade de abandonar o tabaco entre os<br />
fumadores em geral.<br />
Como referimos, a diminuição do número de fumadores ficou a<br />
dever-se ao facto de ter havido uma diminuição de novos fumadores,<br />
homens acima dos 20 anos de idade, sendo um facto bastante positivo,<br />
minimizado pela tendência crescente de haver cada vez mais fumadores<br />
207
Alberto Peixoto<br />
nos grupos etários mais jovens, devendo constituir o principal desafio em<br />
relação ao tabagismo.<br />
Nos Açores, em <strong>2004</strong>, considerando a população quantificada em 241<br />
762 residentes, 26 110 já tinham experimentado o consumo de drogas.<br />
Chegados a <strong>2009</strong>, entre uma população constituída por 244 780 habitantes,<br />
36 227 afirmaram ter tido experiências de consumo. Em cinco anos,<br />
estima-se que 10 117 novos indivíduos vivenciaram experiências de consumo,<br />
representando 2 023 novos consumidores por ano, 39 por semana,<br />
ou 6 novos consumidores por dia.<br />
De 10,8% da população que já tinha experimentado o consumo de<br />
drogas em <strong>2004</strong>, evoluímos para 14,8%. Em <strong>2009</strong>, 2,4%, ou seja, 5 875<br />
açorianos tinham consumido há menos de uma semana, 2,7% (6 609 açorianos)<br />
tinham consumido há menos de um mês, 4,2% (10 280), há menos<br />
de um ano, e 5,5% (13 463) tinham consumido há vários anos atrás e não<br />
mais repetiram qualquer consumo.<br />
Em <strong>2004</strong>, tínhamos 1 209 dependentes de drogas, que assumiram consumir<br />
todos os dias, e, em <strong>2009</strong>, passámos para 1 469 dependentes, representando,<br />
em cinco anos, mais 260 dependentes, ou mais 52 dependentes<br />
por ano. Dito de outro modo, por cada semana passada surgiu um novo<br />
dependente de drogas, nos Açores.<br />
Comparativamente, os dois momentos de avaliação deram conta de<br />
um agravamento das taxas de crescimento da prevalência de consumo de<br />
drogas em praticamente todas as ilhas. Na ilha do Pico, o agravamento foi<br />
de 8,7%, atingindo uma prevalência de 23%, seguindo-se Santa Maria,<br />
com uma prevalência de 22,9%, e um agravamento de 11,4%. São Jorge,<br />
com um agravamento de 6,8%, atingiu os 16% de prevalência. São<br />
Miguel, com 13,2%, apresentou uma prevalência de consumo estabilizada<br />
tal como a ilha do Faial, embora exista uma diferença de duas décimas.<br />
Flores e o Corvo, com 9,8% e 9,6%, respectivamente, apresentaram prevalências<br />
abaixo da média regional, quando, em <strong>2004</strong>, não tinha sido identificado<br />
qualquer consumidor. O registo recente das duas ilhas mais ocidentais<br />
indicia que foi durante os últimos cinco anos que o consumo de<br />
substâncias ilícitas ali ganhou expressão.<br />
No tocante ao consumo diário de substâncias ilícitas e que classificamos<br />
de quadros de dependência, podemos afirmar que a situação se agravou<br />
em São Jorge, em São Miguel, no Pico e na ilha do Faial.<br />
208
Dependências e outras violências…<br />
A prevalência de consumo de cannabis/liamba e haxixe, em <strong>2009</strong>,<br />
atingiu os 11,4% do total da população, representando um aumento de<br />
mais 3,4%, em relação a <strong>2004</strong>, e em relação aos dados europeus mais<br />
recentes, mais 3,4% que a média nacional, ou 1,4% superior à média da<br />
Finlândia, mas 1,6% inferior à média da Suécia, da Grécia, da Noruega, ou<br />
do Luxemburgo, menos 3,6% que a da Holanda, menos 8,6% que a da<br />
Irlanda, ou menos 19,6% que a da Dinamarca.<br />
Em <strong>2004</strong>, o volume da prevalência de consumo de drogas entre as<br />
mulheres era de 24,9% e passou para 31,1%, em <strong>2009</strong>. Tal como tínhamos<br />
registado em relação ao consumo de tabaco, as mulheres também se<br />
estão a afirmar ao nível do consumo de substâncias ilícitas.<br />
A prevalência de consumos por grupos etários manteve a mesma tendência<br />
de <strong>2004</strong>, materializada num agravamento nas idades mais jovens e<br />
na persistência de indivíduos com hábitos de consumo para além dos 35<br />
anos, traduzindo uma ideia clara de evolução de um fenómeno que, nos<br />
Açores, ganhou expressão a partir de meados da década de 90.<br />
As Ilhas do Pico, São Miguel e Terceira, nos dois momentos de análise,<br />
apresentaram as populações consumidoras de substâncias ilícitas<br />
mais jovens, sendo de igual modo onde mais cedo se inicia o consumo a<br />
nível Açores.<br />
Em <strong>2004</strong>, 31 em cada mil adolescentes com menos de 15 anos já<br />
tinha consumido drogas pelo menos uma vez. Em <strong>2009</strong>, tal prevalência<br />
subiu para 35 adolescentes em cada mil. Os consumidores açorianos de<br />
substâncias ilícitas caracterizam-se por maioritariamente terem menos<br />
de 25 anos de idade, embora exista alguma expressão no grupo etário<br />
dos 26 aos 30 anos.<br />
Os quadros mais graves de consumo de drogas verificaram-se entre<br />
indivíduos com baixas qualificações, sem ocupação ou quando a possuíam<br />
era ao nível de actividades pouco exigentes do ponto de vista técnico, com<br />
destaque para a construção civil ou de uma forma mais ampla para a prestação<br />
de serviços não qualificados.<br />
De <strong>2004</strong> para <strong>2009</strong>, sobressaiu um aumento das oportunidades conferidas<br />
pelas festas, bem como pela influência de pares para se iniciar o consumo<br />
de drogas, ao fim-de-semana.<br />
Se considerarmos as pessoas que admitiram gastos semanais com o<br />
consumo de drogas, conclui-se que representam 2,6% da população açori-<br />
209
Alberto Peixoto<br />
ana, o que corresponde a 6 364 indivíduos. Tomando como referência os<br />
valores médios declarados com a aquisição semanal de drogas, pode afirmar-se<br />
que por cada sete dias são movimentados 420 000,00 euros, ou, se<br />
preferirmos, anualmente, a valores de <strong>2009</strong>, são gastos aproximadamente<br />
21,8 milhões de euros em substâncias ilícitas, dinheiro esse que em 80,9%<br />
dos casos, segundo os inquiridos, é obtido através das mesadas ou das<br />
ofertas que os pais lhes fazem.<br />
Embora a proveniência maioritária do dinheiro seja através dos pais,<br />
é curioso que, apenas em 5,1% dos casos, os familiares tinham conhecimento<br />
de que eles consumiam drogas, ao contrário do que se verificou ao<br />
nível do consumo de álcool e de tabaco.<br />
Um em cada cinco consumidores de drogas, em <strong>2004</strong>, tinha elevada<br />
probabilidade de se tornar dependente. Em <strong>2009</strong>, passou a tornar-se<br />
dependente um em cada seis. Tal transformação indicia que durante os<br />
cinco anos em que decorreram os dois estudos os consumidores de drogas<br />
tornaram-se menos vulneráveis às dependências, ou porque foram consumos<br />
mais esporádicos de cariz meramente recreativo, ou porque o grau de<br />
pureza das substâncias consumidas poderá ter diminuído e daí a diminuição<br />
da probabilidade de provocar dependências.<br />
A influência do contexto e a teoria da associação diferencial ficou<br />
bem patente no facto de indivíduos, oriundos de famílias em que existem<br />
hábitos de consumo de tabaco, álcool, ou drogas, possuírem uma<br />
probabilidade acrescida em relação aos demais. Entre o universo de<br />
consumidores de drogas, apenas entre 5,1% os familiares tinham conhecimento,<br />
no entanto entre 12,6% dos consumidores os familiares também<br />
consumiam drogas.<br />
Constatou-se que os indivíduos com consumos de substâncias ilícitas<br />
são referenciados bastante cedo, contudo permaneceram numa denominada<br />
carreira de consumo. Tal indicador evidencia as dificuldades que estão<br />
a ser sentidas ao nível da intervenção que está a ser desenvolvida junto dos<br />
menores para prevenir ou reduzir o consumo.<br />
Entre as drogas mais consumidas, a cocaína, conforme tem sido<br />
demonstrado por vários estudos, é apontada como a droga com maiores<br />
potencialidades para levar os consumidores à prática de actos de violência,<br />
apesar de ser sempre inferior ao efeito do álcool. Os dados recolhidos nos<br />
dois momentos de análise vieram confirmar tal tendência. As ilhas com<br />
210
Dependências e outras violências…<br />
maior prevalência do consumo de cocaína foram as que apresentaram maiores<br />
percentagens de pessoas vítimas de violência, praticada por indivíduos<br />
sob o efeito de droga. Destacaram-se as Ilhas de São Jorge, em <strong>2004</strong>,<br />
e Faial e Santa Maria, em <strong>2009</strong>.<br />
O consumo excessivo de álcool manteve o traço de <strong>2004</strong>. Nos<br />
Açores, em média, a população consome menos do que no Continente,<br />
contudo as pessoas que consomem apresentam uma maior propensão<br />
para consumos excessivos. A comparação de dados com o estudo nacional<br />
de 2007, de Casimiro Balsa, permitiu concluir que, nos Açores, a<br />
população que assumiu já se ter embriagado é superior à média nacional.<br />
Por cá são mais frequentes as «bebedeiras» ao longo da vida, no<br />
último ano e no último mês.<br />
Quanto às motivações para o consumo de bebidas alcoólicas, não se<br />
registaram alterações significativas. Continua-se a consumir sobretudo por<br />
prazer em que o beber social, o beber associado à alimentação e o beber<br />
no contexto da diversão são as justificações. Denota-se uma tendência<br />
crescente na crença de que prazer, diversão e consumo de bebidas alcoólicas<br />
são indissociáveis.<br />
Em <strong>2004</strong>, dos 54,5% de açorianos consumidores regulares de bebidas<br />
alcoólicas, 82,7% iniciou o consumo antes dos 20 anos, e, em <strong>2009</strong>, dos<br />
55,7% de açorianos consumidores passaram a ser 93,4% aqueles que<br />
tinham iniciado o consumo regular antes dos 20 anos, apontando para um<br />
aumento de 110 em cada mil consumidores.<br />
A prevalência feminina do consumo de álcool, que era de 30%, passou<br />
para 41,4%. Portanto as mulheres assumem-se de forma crescente no<br />
consumo de todas as substâncias, tendo sido ao nível do consumo de álcool<br />
que mais se afirmaram.<br />
Os indivíduos estão cada vez mais permeáveis à influência dos pares,<br />
sendo cada vez menos frequente que iniciem o consumo do tabaco, álcool,<br />
ou drogas por vontade própria e em solidão. É crescente o número de<br />
indivíduos a indicar que iniciaram os consumos por influência dos amigos/colegas<br />
em festas e até na rua.<br />
Na região, em <strong>2004</strong>, já tinham sido vítimas de pelo menos uma acção<br />
violenta praticada por indivíduo alcoolizado 160 pessoas por cada mil<br />
habitantes e a vitimização por indivíduos sob a influência de droga representava<br />
34 por cada mil. Em <strong>2009</strong>, os indivíduos que tinham sido vítimas<br />
211
Alberto Peixoto<br />
de indivíduos sob influência de droga passaram para 62 por cada mil habitantes<br />
enquanto sob a influência de álcool a vitimização aumentou para<br />
176 casos em cada mil habitantes.<br />
Ao nível do consumo de bebidas alcoólicas, registaram-se alterações<br />
bastante expressivas em todas as classes etárias até aos 35 anos. Destaca-<br />
-se o particular agravamento da prevalência de consumo regular antes dos<br />
15 anos. De 162 adolescentes entre cada mil, com hábitos de consumo<br />
regular, em <strong>2004</strong>, passámos para 245, por cada mil, em <strong>2009</strong>, traduzindo<br />
um aumento de 51%.<br />
Foi divulgado no jornal Açoriano Oriental, de 29 de Março de <strong>2009</strong><br />
(p. 5), que um estudo nacional não referenciado apontava para 25% a<br />
percentagem de jovens açorianos entre os 16 e os 30 anos que consumiam<br />
álcool pelo menos uma vez por semana. Tais dados não foram confirmados<br />
no presente estudo. Entre os 16 e os 30 anos são 11,5% os que<br />
consomem álcool semanalmente, 4,7%, todos os dias, e 51,9% só o<br />
fazem ocasionalmente.<br />
Em relação ao custo do consumo médio semanal de álcool, com base<br />
nos valores declarados e no número de consumidores, estima-se que em<br />
<strong>2009</strong> o montante tenha atingido 1 204 382,00 euros. Se multiplicarmos<br />
o valor por 52 semanas, podemos afirmar que o consumo de bebidas<br />
alcoólicas, a valores de <strong>2009</strong>, na região, ascendeu a 62 milhões de euros<br />
por ano.<br />
Manteve-se constante a demonstração de que além de o consumo<br />
regular de álcool se apresentar como factor potenciador da prática de violência<br />
faz também aumentar a probabilidade de o consumidor ser vítima<br />
de um acto de violência praticada por outro indivíduo também consumidor<br />
regular de bebidas alcoólicas.<br />
De <strong>2004</strong> para <strong>2009</strong>, registou-se, nos Açores, um aumento real da prática<br />
da violência em geral e da violência doméstica em particular, embora<br />
de forma disforme. Nos anos de 2005, 2006 e 2007, detectou-se uma diminuição<br />
real da prática da violência em geral, apesar do aumento do número<br />
de denúncias. Contudo, em 2008 e em <strong>2009</strong>, a prática real da violência<br />
aumentou, mas as denúncias só aumentaram em 2008. As denúncias de<br />
violência doméstica aumentaram em 2008 e <strong>2009</strong>.<br />
Estimámos a existência de 30 000 indivíduos dependentes de bebidas<br />
alcoólicas nos Açores, em <strong>2004</strong>, e, embora a prevalência de consumo<br />
212
Dependências e outras violências…<br />
tenha aumentado 1,2%, em <strong>2009</strong>, o número de dependentes de álcool<br />
poderá mesmo ter diminuído 3,8% se tivermos em conta a diminuição no<br />
número de consumidores regulares diários. Assim, em cinco anos, perderam-se<br />
cerca de mil alcoólicos, ou, se preferirmos, 200 por ano, estimando-se<br />
para <strong>2009</strong> a existência de 29 000 alcoólicos.<br />
Além da diminuição do número de consumidores diários, registou-se<br />
também uma diminuição de 1% de consumidores semanais, podendo afirmar-se<br />
que, em <strong>2009</strong>, o consumo de bebidas alcoólicas era bem mais<br />
moderado do que em <strong>2004</strong>.<br />
Em <strong>2009</strong>, fruto de um aumento de 870 dependentes de drogas em<br />
relação a <strong>2004</strong>, estimámos em perto de 6 000 os indivíduos que apresentam<br />
quadros de consumo que permitem qualificá-los como dependentes.<br />
Embora se tenham identificado 79 782 fumadores, em <strong>2004</strong>, em bom<br />
rigor eram 68 000 os consumidores diários, dependentes de tabaco. Em<br />
<strong>2009</strong>, de um universo identificativo de 78 329 fumadores passou-se para<br />
62 000 consumidores diários dependentes de tabaco, o que representa uma<br />
perda de 6 000 fumadores em cinco anos, ou seja, menos 1 200 fumadores<br />
por ano.<br />
Em <strong>2004</strong>, tínhamos cerca de 128 000 consumidores diários de café,<br />
tendo, em <strong>2009</strong>, tal número subido para 137 000. Em cinco anos, assistimos<br />
ao aparecimento de mais 9 000 consumidores de café, perfazendo<br />
uma distribuição de mais 1 800 novos consumidores anuais.<br />
Tinham tentado abandonar pelo menos uma dependência de que padeciam,<br />
em <strong>2004</strong>, 50 000 açorianos e, apesar de uma ligeira diminuição, em<br />
<strong>2009</strong>, podemos falar de estabilização no número de tentativas. Recorde-se<br />
que a diminuição expressiva de dependentes de tabaco se ficou a dever à<br />
diminuição de novos fumadores e não do número de pessoas que decidiram<br />
abandonar o consumo. Até porque, como vimos, a taxa de sucesso de<br />
abandono das dependências em geral diminuiu ao longo dos últimos cinco<br />
anos.<br />
Do total de indivíduos referenciados como dependentes, metade<br />
afirmaram ter a dependência controlada. Mesmo que assim seja, paira<br />
sobre eles a possibilidade de recaída, fazendo com que à luz da<br />
Organização Mundial de Saúde continuem a ser contabilizados como<br />
dependentes.<br />
213
Alberto Peixoto<br />
Apurou-se que 16,7% da população açoriana possuía hábitos de consumo<br />
de tranquilizantes, sedativos ou anti-depressivos e 28% fazia-o sem<br />
qualquer prescrição médica. As pessoas com maior propensão para o consumo<br />
de psicofármacos têm entre os 15 e os 18 anos de idade ou mais de<br />
35 anos. Nos Açores, a prevalência de consumo de fármacos era, em <strong>2009</strong>,<br />
de 4,8%, portanto 2,2% mais baixa que a prevalência de 7% encontrada<br />
pelo IDT, em 2006.<br />
Em termos monetários, à luz dos dados recolhidos no presente estudo,<br />
podemos afirmar que nos Açores o consumo de tabaco, álcool e droga<br />
representa um volume de negócios na ordem dos 3,6 milhões de euros por<br />
semana, ou 190 milhões de euros ano, tendo como referência os valores de<br />
<strong>2009</strong>.<br />
A juvenalização crescente de substâncias psicoactivas a par de uma<br />
crescente influência de pares e do grupo como forma de obtenção de prazer<br />
em contra-ciclo com as necessidades de gestão das frustrações derivadas<br />
dos conflitos existenciais, familiares e sociais é uma das conclusões<br />
fortes do presente estudo.<br />
A exposição à violência doméstica na infância quase duplica a probabilidade<br />
de se consumir drogas. De uma probabilidade geral de 11 a 15 em<br />
cada 100 indivíduos de consumir drogas, entre 100 indivíduos que vivenciaram<br />
violência doméstica na sua família de origem, 21 a 26 tendem a<br />
consumir substâncias ilícitas no futuro.<br />
Hoje sabemos que os menores que presenciam a prática da violência<br />
têm mais dificuldades em desenvolver relações interpessoais estáveis,<br />
apresentam maior propensão para a insatisfação profissional, possuem<br />
vínculos profissionais mais fracos, desempenham actividades profissionais<br />
menos qualificadas e apresentam maiores propensões para o consumo<br />
de tabaco, álcool, drogas e fármacos.35<br />
Tendo em conta as especificidades do fenómeno das dependências nos<br />
Açores, numa forma piramidal, podemos definir três categorias de consumidores:<br />
os consumidores minimalistas, os consumidores desconexos, e<br />
os consumidores irreflexivos.<br />
35 O presente parágrafo com a pergunta «é esta a herança que quer deixar ao seu filho?»<br />
bem poderia constituir um slogan na luta contra a prática da violência bem como de<br />
outros comportamentos desviantes, nos Açores.<br />
214
Consumidores<br />
Irreflexivos<br />
Consumidores Desconexos<br />
Consumidores Minimalistas<br />
Figura n.º 2 Categorias de consumidores identificados<br />
face à intensidade e justificações de consumo.<br />
Dependências e outras violências…<br />
Ocupam a base da pirâmide os consumidores minimalistas.<br />
Caracterizam-se por ser consumidores sobretudo ocasionais e justificam<br />
os consumos com a curiosidade, com interesses de cariz social e com o<br />
desenvolvimento de relações sociais. Quando questionados sobre a intensificação<br />
de consumo, desvalorizam o facto argumentando que a qualquer<br />
momento deixam de consumir. Ao nível do consumo de álcool e droga, os<br />
consumidores minimalistas agrupam entre 70 a 90% dos consumidores<br />
enquanto os consumidores minimalistas de tabaco não agrupam mais de<br />
15% do total.<br />
Os consumidores desconexos são indivíduos que já possuem um quadro<br />
de dependência em relação a uma ou várias substâncias ou comportamentos.<br />
Sentem com frequência algum desconformismo pela necessidade<br />
de repetição do consumo. São frequentes as hesitações e justificam com<br />
regularidade factos, acontecimentos, datas entre outros para consumir.<br />
Conseguem desenvolver relações interpessoais a nível familiar, profissional<br />
e social de forma aceitável sem que a substância produza grande prejuízo.<br />
Detentores de um grau de consciencialização para o facto de o consumo<br />
os prejudicar individualmente, minimizam a coacção exterior com<br />
as justificações mais ou menos adequadas e oportunas. No âmbito do consumo<br />
de álcool e droga, quantificámos entre 5 e 15% os consumidores desconexos,<br />
enquanto no âmbito do consumo de tabaco são muito raros e inferiores<br />
a 5% do total.<br />
215
Alberto Peixoto<br />
Os consumidores irreflexivos são possuidores de quadros de dependência<br />
aguda. Não conseguem deixar de consumir com regularidade.<br />
Ocupam o topo da pirâmide e vivem afectados na vertente individual<br />
(física e/ou psicologicamente) bem como na vertente sócio-familiar. Têm<br />
consciência da gravidade da situação. Invocam já ter tentado abandonar o<br />
consumo e não serem capazes de o fazer. São capazes de evidenciar comportamentos<br />
profundamente incongruentes e mesmo irracionais só para<br />
satisfazer o desejo de consumo. Os consumidores irreflexivos de álcool e<br />
droga variam entre 5 a 15% do total ao passo que ao nível do tabaco chegam<br />
a ultrapassar os 80% do total.<br />
VERIFICAÇÃO DAS HIPÓTESES<br />
Hipótese 1) Existindo uma relação entre hábitos de consumo e desenvolvimento<br />
social, continuarão a existir diferenciações na prevalência de<br />
consumos de substâncias tóxicas por ilhas e por concelhos.<br />
Conclusão: Hipótese confirmada.<br />
(Conferir páginas 64-65; 94-95; 123-125; 151-152)<br />
Hipótese 2) Dada a influência da vivência familiar nos comportamentos<br />
futuros dos indivíduos, os elementos oriundos de famílias onde eram<br />
frequentes os quadros de violência doméstica continuarão a apresentar<br />
maior propensão para as dependências em geral.<br />
Conclusão: Hipótese confirmada.<br />
(Conferir páginas 167-168)<br />
Hipótese 3) Partindo do princípio de que a propensão para o consumo<br />
de substâncias está relacionada, em parte, com um certo estilo de vida,<br />
então é de prever a existência de regularidades ao nível dos perfis dos consumidores<br />
e/ou abusadores de substâncias.<br />
Conclusão: Hipótese confirmada.<br />
(Conferir páginas 77; 113-114; 145-146; 156; 171; 173-174)<br />
216
PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO<br />
Tal como detectado por diversos estudos internacionais, nos Açores,<br />
entre 80 a 90% dos dependentes de drogas ou de álcool são fumadores.<br />
Por isso, o combate à dependência de substâncias ilícitas e de álcool deve<br />
passar por uma aposta prioritária no consumo de tabaco, que, além de ser<br />
em termos de número a maior das dependências, continua a ser a<br />
substância psicoactiva de iniciação.<br />
As campanhas de prevenção do tabagismo, direccionadas aos<br />
jovens, não devem versar as consequências do tabaco, na medida em que<br />
estas apenas se materializam nos fumadores ao longo de anos de consumo.<br />
As campanhas de prevenção tabágica devem sobretudo versar as<br />
representações de que fumar está fora de moda e de que o conceito de<br />
beleza e de atracção de hoje estão primordialmente relacionados com o<br />
não fumar.<br />
Nas acções de formação, ministradas nas Escolas dos Açores desde<br />
2006, que abrangeram mais de 500 professores dos diferentes níveis de<br />
ensino sobre segurança em meio escolar, foram detectadas inúmeras lacunas<br />
na formação dos professores sobre as questões das dependências, apesar<br />
de ser uma das áreas em que as escolas estão obrigadas a ter de desenvolver<br />
projectos no âmbito do programa escolar Educação para a Saúde.<br />
Assim, deve ser criado um curso de formação contínua, de 30 horas, acreditado<br />
pelo Conselho Científico-Pedagógico, a fim de ser ministrado aos<br />
professores nas escolas, nas respectivas janelas de formação.<br />
Como forma de aumentar a consciencialização contra as dependências,<br />
devem candidatar-se todos os municípios dos Açores ao título de<br />
municípios livres de drogas, através do European Cities Against Drogs,<br />
que, em <strong>2004</strong>, contava já com 264 municípios de 30 países diferentes.<br />
217
Alberto Peixoto<br />
Justifica-se a realização de uma campanha de sensibilização de<br />
grande alcance em relação aos efeitos nocivos da cannabis devido aos<br />
elevados teores de tetrahidrocannabinol que detém na actualidade e em<br />
particular devido ao crescente cultivo e comercialização de cananbis nos<br />
Açores.<br />
O desenvolvimento de iniciativas que visem a consciencialização da<br />
comunidade necessitam cada vez mais de técnicas criativas e inovadoras e<br />
com forte poder de persuasão para que sejam alcançados os dois principais<br />
objectivos: a mobilização da comunidade e a interiorização de hábitos e<br />
práticas saudáveis.<br />
Tal como tinha sido evidenciado na primeira edição, o álcool apresenta-se<br />
como a substância que mais preocupações suscita. Por isso é fundamental<br />
recentrar as preocupações em torno do combate e prevenção ao<br />
consumo abusivo de álcool.<br />
É crucial a definição de um plano regional de combate ao consumo<br />
de álcool assente em quatro vertentes: o aumento do preço por via do<br />
agravamento da carga fiscal, o aumento da idade mínima do consumo<br />
de 16 para 18 anos, o aumento da consciencialização pública para as<br />
consequências do consumo de álcool e o aumento das acções de fiscalização<br />
do consumo de álcool não só na circulação rodoviária, mas também<br />
nos estabelecimentos que o comercializam e em particular no<br />
mundo laboral.<br />
Em <strong>2009</strong>, no Dia Mundial da Juventude (22 de Agosto), realizou-<br />
-se um piquenique sem o consumo de bebidas alcoólicas, no Terreiro<br />
dos Padres, na ilha Terceira. A iniciativa, com uma significativa cobertura<br />
mediática, apresentou-se como uma excelente oportunidade de<br />
consciencialização da opinião pública para a problemática do consumo<br />
excessivo de bebidas alcoólicas. Tendo sido organizada por jovens<br />
sobretudo para jovens, o que facilita a aceitação da mensagem e consequente<br />
prevenção, constitui-se como um modelo estratégico que pode<br />
ser seguido noutras acções futuras de prevenção para diferentes problemáticas.<br />
Conhecidas que são algumas interligações entre o uso e abuso de substâncias<br />
psicoactivas e práticas sexuais de risco, como forma de prevenção de<br />
tais comportamentos faz todo o sentido o investimento na educação para<br />
os afectos, em educação sexual, como é hoje prática em diversos países,<br />
218
Dependências e outras violências…<br />
em particular na Inglaterra em que a educação sexual é iniciada nas escolas,<br />
no ensino obrigatório, a partir dos 5 anos de idade.<br />
Conhecidas que são as taxas de prevalência de consumo de álcool nos<br />
grupos etários 15-20 e dos 20 aos 25 anos e se cruzarmos com as taxas de<br />
sinistralidade rodoviária, nestas idades, faz todo o sentido a proposta apresentada<br />
pelo IDT, em <strong>2009</strong>, no sentido de ser reduzida a taxa de alcoolemia<br />
nos novos condutores de acordo com uma recomendação estratégica<br />
da União Europeia.<br />
Igual sentido faz a proposta de se alterar dos 16 para os 18 anos a<br />
idade mínima para a venda de bebidas alcoólicas, de acordo com o que se<br />
verifica já na maior parte dos países europeus. Recorde-se que ainda antes<br />
de o IDT apresentar a proposta o assunto fora debatido na Assembleia<br />
Regional dos Açores e chumbado. Os dados obtidos com o presente estudo<br />
mais uma vez demonstram as potencialidades de tal norma, desde que<br />
articulada com uma melhoria nas acções de fiscalização.<br />
Tal como em 2005, os dados recolhidos no presente estudo devem ser<br />
apresentados às diversas entidades que intervêm na problemática em cada<br />
um dos 19 concelhos no sentido de incentivar a cooperação e o desenvolvimento<br />
de projectos a nível concelhio embora articulados com a Direcção<br />
Regional da Prevenção e Combate às Dependências.<br />
É fundamental que o plano regional de prevenção e combate às<br />
dependências defina um conjunto de acções direccionadas para populações<br />
com riscos acrescidos como as populações prisionais, os<br />
jovens/adolescentes desintegrados ou pertencentes a famílias desestruturadas,<br />
procurando a minimização de danos, a reinserção social e laboral,<br />
a prevenção por via da educação para práticas saudáveis e respectiva<br />
monitorização.<br />
Deverão ser criados dias regionais diferenciados de luta contra o<br />
consumo e o abuso de substâncias que provocam dependência. Cada<br />
um dos dias regionais deve ser comemorado e assinalado com a realização<br />
de eventos, como seminários, conferências, visitas e concursos,<br />
alusivos às datas, e entrega de prémios, ainda que simbólicos, como<br />
forma de dar visibilidade às problemáticas e ao mesmo tempo fazer<br />
prevenção.<br />
Tem sido contraditória a postura das autoridades nacionais e regionais<br />
em relação ao combate ao alcoolismo. A nível nacional, entre as pro-<br />
219
Alberto Peixoto<br />
postas apresentadas pelo IDT, no âmbito do Plano Nacional para a<br />
Redução dos Problemas ligados ao álcool, que era para ter entrado em<br />
vigor antes do Verão de <strong>2009</strong>, o Governo da República recusou as restrições<br />
à publicidade de bebidas alcoólicas, recusou o aumento dos impostos<br />
sobre o álcool e acabou também por recusar o aumento de 16 para 18<br />
anos a idade mínima para venda de bebidas alcoólicas. Na iniciativa<br />
legislativa regional, de Setembro de 2008, agravaram-se as coimas para<br />
venda de álcool a menores, mas não se registou um incremento das<br />
acções de fiscalização. A produção de aguardentes e licores nos Açores,<br />
desde 2002, beneficia de taxas de imposto reduzidas fazendo com que os<br />
preços de venda ao público sejam mais baixos. Quando se sabe que os<br />
jovens açorianos iniciam o consumo por volta dos treze anos de idade e<br />
que existe uma propensão acrescida para os consumos de risco em idades<br />
inferiores a 18 anos, faz todo o sentido a proibição da venda de bebidas<br />
alcoólicas a menores de 18 anos.<br />
Considerando os dados dos diferentes estudos tanto a nível nacional<br />
como a nível regional, constata-se que têm aumentado os denominados<br />
consumos de risco entre a população mais jovem sendo fundamental<br />
entre outras a implementação de medidas restritivas do consumo<br />
de álcool sob pena de se assistir a um agravamento acelerado da<br />
situação.<br />
A proposta sugerida na análise de <strong>2004</strong>, tendo por base o modelo<br />
surgido em Inglaterra, na Abbey School36, desde 2005, e nunca implementada<br />
nos Açores, continua a ser uma estratégia de intervenção com<br />
possibilidade de obtenção de resultados positivos. Sugere-se o desenvolvimento<br />
pelo menos de um projecto piloto, no 3.º ciclo, numa das escolas<br />
da região em que tenham sido referenciados hábitos significativos de<br />
consumo entre alunos.<br />
Deve ser criada uma equipa de técnicos, devidamente habilitados<br />
para realizar conferências em todas as escolas da região a partir do 3.º<br />
ciclo de ensino, utilizando filmes, imagens e gravuras com conteúdos,<br />
36 O modelo de intervenção consiste em seleccionar todas as semanas, aleatoriamente, grupos<br />
de alunos, com idades compreendidas entre os 11 e os 19 anos de idade, para despistagem<br />
do consumo de substâncias, com a concordância de pais e alunos, a fim de se<br />
detectarem hábitos de consumo e encaminhamento para o gabinete de apoio psicológico<br />
a fim de se evitar a reincidência de consumo e possíveis quadros de dependência.<br />
220
Dependências e outras violências…<br />
adequados aos diferentes grupos etários, sobre as principais dependências<br />
e respectivas consequências, seguindo um calendário previamente<br />
definido de modo a que todos os adolescentes e jovens obtenham formação<br />
nesta área.<br />
Tendo sido uma proposta apresentada no anterior estudo, já se<br />
avançou com a criação de equipas de técnicos no terreno para interagirem<br />
com os dependentes com o objectivo de conquistarem a confiança<br />
e posteriormente motivá-los para o tratamento. Urge dar continuidade<br />
ao projecto e alargá-lo a outras localidades ainda não cobertas por<br />
aquela rede.<br />
Embora se tenham registado melhorias, deve-se continuar a apostar<br />
na melhoria de canais de comunicação privilegiados entre as equipas<br />
técnicas, Polícias e Ministério Público de modo a facilitar o encaminhamento<br />
para tratamento dos indivíduos referenciados no consumo de<br />
álcool e drogas.<br />
A criação de uma equipa multidisciplinar de técnicos para os casos de<br />
dependências a operar junto do Tribunal de Comarca de Ponta Delgada,<br />
onde o fenómeno da toxicodependência é mais expressivo nos Açores, à<br />
semelhança da já existente equipa multidisciplinar de apoio ao Tribunal de<br />
Família e Menores, poderia ser uma mais valia na sinalização e encaminhamento<br />
de dependentes de álcool, drogas e até tabaco.<br />
Continuam por fazer-se os controlos preventivos do consumo<br />
excessivo de álcool junto dos estabelecimentos que comercializam bebidas<br />
alcoólicas e em particular junto dos estabelecimentos de diversão<br />
nocturna.<br />
A dinamização dos Planos de Prevenção Municipais já existentes e o<br />
incentivo ao surgimento de planos nos municípios que ainda não os possuem<br />
deverá constituir uma prioridade da Direcção Regional da Prevenção<br />
e Combate às Dependências, na medida em que poderiam funcionar como<br />
ferramentas de rentabilização do plano regional.<br />
As futuras campanhas de prevenção a desenvolver na região têm<br />
de ser “agressivas” e até polémicas para que se consiga obter impacto<br />
junto da comunidade. As campanhas de prevenção não podem ficar-se<br />
pelo plano estético dos cartazes. As campanhas têm de ser pensadas por<br />
equipas multidisciplinares para que os slogans preventivos atinjam<br />
profundidade.<br />
221
Alberto Peixoto<br />
Entendemos ser crucial multiplicar-se a oferta de programas livres de<br />
drogas e combater os tempos de espera para início de tratamento de dependentes<br />
nas instituições que operam na região.<br />
Da análise efectuada à imprensa regional durante os cinco anos que<br />
medeiam os dois momentos de avaliação do fenómeno das dependências<br />
nos Açores, o jornal que mais se destacou na publicação e divulgação de<br />
informação relacionada com a problemática foi o Jornal Diário dos<br />
Açores, pelo que se propõe o seu reconhecimento público.<br />
A criação de um prémio regional de jornalismo anual, sobre peças jornalísticas<br />
que abordem o fenómeno da toxicodependência, pode ser uma<br />
forma de se conferir maior visibilidade à problemática e ao mesmo tempo<br />
apostar-se na prevenção através dos órgãos de comunicação social.<br />
Mantém-se o apelo à tutela para que se mantenha a boa prática de, de<br />
cinco em cinco anos, repetir-se este estudo ou patrocinar-se outros estudos<br />
similares que permitam a monitorização da problemática das dependências<br />
na região. Ainda que tais estudos potenciem o risco de ataque político, no<br />
âmbito do real interesse público, o pior seria não serem feitos e implementarem-se<br />
umas medidas avulsas mais ou menos mediáticas, mas sem qualquer<br />
fundamentação científica.<br />
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Estatística, <strong>2009</strong>.<br />
COMISSÃO Consultiva Regional para os Direitos das Mulheres, Prevenir a<br />
Violência Doméstica, Ponta Delgada, 2002. (CCRDM, 2002)<br />
COMISSÃO Consultiva Regional para os Direitos das Mulheres, Igualdade de<br />
Oportunidades no Trabalho e no Emprego, Ponta Delgada, 2003. (CCRDM,<br />
2003)<br />
COMISSÃO Para a Igualdade e Direitos das Mulheres, As Mulheres e as<br />
Toxicodependências, Colecção Informar as Mulheres nº15, , Ministério do<br />
Emprego e da Segurança Social, 3ª Edição, 1995. (CIDM, 1995)<br />
COMISSÃO Para a Igualdade e Direitos das Mulheres, Portugal. Situação das<br />
Mulheres 1998, Ministério do Emprego e da Solidariedade Social, Lisboa,<br />
1998. (CIDM, 1998)<br />
Inquérito Violência de Género, Região Autónoma dos Açores, Relatório Final, Vol. I<br />
e Vol. II, Socinova/Cesnova, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas,<br />
Lisboa, <strong>2009</strong>.<br />
GABINETE para as Relações Internacionais Europeias e de Cooperação,<br />
Conferência de Alto Nível sobre a Prevenção da Criminalidade, Ministério<br />
da Justiça, Lisboa, 2001. (GRIEC, 2001)<br />
Relatório da Actividade da UMAR- São Miguel, 2000. (RAU, 2000)<br />
Relatório da Actividade da UMAR- São Miguel, 2001. (RAU, 2001)<br />
Relatório da Actividade da UMAR- São Miguel, 2002. (RAU, 2002)<br />
Relatório Anual 2001. A Situação do País em Matéria de Drogas e<br />
Toxicodependência, Vol.1, Informação estatística, Lisboa, IPDT, 2002.<br />
(IPDT, 2002)<br />
231
Alberto Peixoto<br />
Relatório Anual 2002. A Situação do País em Matéria de Drogas e<br />
Toxicodependência, Vol.1, Informação estatística, Lisboa, IDT, 2003. (IDT,<br />
2003)<br />
Relatório de Avaliação da Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga, <strong>2004</strong>.<br />
(RAENLCD, <strong>2004</strong>)<br />
Relatório de Segurança Interna, 2002. (RSI, 2003)<br />
Relatório de Segurança Interna, 2003. (RSI, <strong>2004</strong>)<br />
Relatório de Segurança Interna, <strong>2004</strong>. (RSI, 2005)<br />
Relatório de Segurança Interna, 2005. (RSI, 2006)<br />
Relatório de Segurança Interna, 2006. (RSI, 2007)<br />
Relatório de Segurança Interna, 2007. (RSI, 2008)<br />
Relatório de Segurança Interna, 2008. (RSI, <strong>2009</strong>)<br />
Relatório de Segurança Interna, <strong>2009</strong>. (RSI, 2010)<br />
SÍTIOS:<br />
www.drogas.pt<br />
www.emcdda.eu.int<br />
www.gballone.sites.uol.com<br />
www.rotten.com<br />
www.facebooc.com/pages/revistafocus/<br />
http://estatistica.azores.gov.pt<br />
http://apps.einstein.br/alcooledrogas/novosite/dependencia_conceito.htm<br />
http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1438242&sec-<br />
232<br />
cao=Sa%FAde
NOTÍCIAS PUBLICADAS NA IMPRENSA<br />
ANO 2006<br />
15% dos jovens estudantes europeus fumam haxixe mais de 40 vezes por ano, DN,<br />
01/Mar/2006, p.18<br />
César desafia estudantes a encontrar slogan contra a droga, DA, 18/Mar/2006,<br />
p.4<br />
Whitney Houston nas malhas da droga, CA, 02/Abr/2006, p.41<br />
Apoio a toxicómanos perde 1400 técnicos, DN, 03/Abr/2006, p. 5<br />
Governo proíbe tabaco em todos os locais públicos, DN, 07/Abr/2006, p. 2<br />
Portugal bebe 2,8 milhões de litros de álcool por dia, DN, 09/Abr/2006, p. 18<br />
Colóquio sobre droga nas prisões ignorado por responsáveis prisionais, DN,<br />
10/Mai/2006, p. 20<br />
Governo introduz novas regras no teste ao consumo de droga nas estradas, DA,<br />
15/Jul/2006, p. 3<br />
15 dias será tempo de espera para tratamento de droga, DN, 28/Ago/2006, p. 14<br />
Conselho de Cidadania quer travar consumo de drogas, AO, 19/Nov/2006, p. 5<br />
Haxixe à venda em Portugal é o mais barato da Europa, DN, 24/Nov/2006, p. 17<br />
Portugal na rota de entrada de cocaína na Europa, DN, 24/Nov/2006, p. 9<br />
Bêbados, mas não muito, CA, 24/Nov/2006, p. 14<br />
Preço do tabaco vai aumentar 25 cêntimos a partir de 2007, DA, 08/Dez/2006,<br />
p. 10<br />
Nove em cada dez notas têm resíduos de cocaína, DN, 26/Dez/2006, p. 40<br />
233
Alberto Peixoto<br />
ANO 2007<br />
Investigadores confirmam aumento da nicotina, DA, 19/Jan/2007, p. 12<br />
Diminuição das mortes por cancro nos Estados Unidos, DA, 21/Jan/2007, p. 2<br />
Cocaína apreendida em 2006 pagava metade do aeroporto da Ota, DN,<br />
15/Fev/2007, p. 17<br />
Medicamento para tratar parasitas tornou-se uma nova droga na Europa, DN,<br />
26/Mar/2007, p. 21<br />
É necessário dar uma alternativa aos camponeses que cultivam ópio, DN,<br />
28/Mai/2007, p.33<br />
‘Kit’ antidroga para a família, CINT, 01/Jun/2007, p. 47<br />
Drogas não são todas iguais, AE, 25/Jun/2007, p.15<br />
Um charro é igual a cinco cigarros, AE, 06/Ago/2007, p. 15<br />
Identificadas estruturas cerebrais que ‘forçam’ cumprimento de regras, DA,<br />
4/Out/2007, p. 15<br />
Plantações de cannabis disparam no interior, DN, 08/Out/2007, pp. 2-3<br />
Liamba do Pico entre as melhores, DN, 08/Out/2007, p. 3<br />
17 mil viciados nos jogos, DN, 11/Out/2007, p. 33<br />
Receita do imposto sobre tabaco continua abaixo do esperado, DA, 17/Out/2007, p. 19<br />
Droga nas prisões é para ser apreendida, DN, 18/Out/2007, 12<br />
Neutralizar zona cerebral diminuiria vício em drogas, DA, 31/Out/2007, p. 16<br />
Luta anti-droga faz subir o preço da cocaína nos Estados Unidos, 10/Nov/2007, p. 14<br />
ANO 2008<br />
Não fumadores passam ao ataque, DN, 01/Fev/2008, p.4<br />
PJ exclui País das rotas de tráfico de droga dura, DN, 22/Fev2008, p. 11<br />
Droga rende menos 13 milhões de euros, AE, 25/Fev/2008, p. 16<br />
<strong>Estudo</strong> diz que beber de vez em quando pode prolongar vida, DA, 11/Mar/2008, p. 17<br />
Diminuiu o terrorismo e cresce a droga e corrupção, CA, 12/Mar/2008, p.21<br />
Clima de insegurança sem solução à vista, CA, 15/Mar/2008, p. 6<br />
5% da população mundial adulta é dependente, AE, 17/Mar/2008, p. 23<br />
Reformados e operários são quem mais adere aos Alcoólicos Anónimos, DA,<br />
19/Mar/2008, p. 24<br />
Consumo emergente de percursor GBL cria “preocupação crescente”, DA,<br />
19/Mar/2008, p. 21<br />
234
Quebra de 15% no tabaco evita 400 mortes por ano, DN, 02/Mai/2008, p. 14<br />
Presidente do IDT reconhece benefícios da cannabis, DA, 03/Mai/2008, p. 12<br />
Campanha antitabaco retirada no Reino Unido, DN, 04/Mai/2008, p. 70<br />
O mundo das festas privadas com droga ao domicílio, DN, 05/Mai/2008, p. 12<br />
<strong>Estudo</strong> relaciona intoxicação por chumbo com delinquência, DA, 01/Jun/2008, p. 21<br />
Jogos de vídeo responsáveis por crimes de jovens, DA, 14/Ago/2008, p.17<br />
<strong>Estudo</strong> analisa tendências no consumo de bebidas alcoólicas, DA, 19/Ago/2008, p. 19<br />
Álcool torna tudo mais bonito, CA, 23/Ago/2008, p. 23<br />
Novo regime jurídico agrava coimas para venda de álcool a menores, DA,<br />
7/Set/2008, p. 2<br />
Homem tornou-se agricultor por causa da cerveja, diz historiador natural, DA,<br />
11/Set/2008, p. 24<br />
Cientistas criam novos gráficos sobre risco de morte, DA, 12/Set/2008, p. 21<br />
Tabaco matou três vezes mais portugueses que álcool em 2005, DA, 19/Set/2008, p. 24<br />
Álcool e tabaco mataram 16 mil pessoas num ano, DN, 19/Set/2008, p. 6-7<br />
Campanha britânica define nove ‘tipos’ de bêbados, DA, 20/Set/2008, p. 14<br />
Crianças de pais fumadores podem ‘consumir’ até dois cigarros por dia, DA,<br />
21/Set/2008, p. 12<br />
Em comparação com o álcool tabaco mata mais 7,9%, AE, 29/Set/2008, p. 23<br />
<strong>Estudo</strong> diz que café em excesso pode reduzir seios, DA, 26/Out/2008, p. 17<br />
Eleições na Guiné – Droga domina campanha, CA, 30/Out/2008, p. 36<br />
Novos alcoólicos têm menos de 30 anos e consomem drogas, DN, 27/Nov/2008, p. 15<br />
ANO <strong>2009</strong><br />
Dependências e outras violências…<br />
Homens portugueses preferem cerveja e mulheres vinho, DA, 8/Jan/<strong>2009</strong>, p. 12<br />
A violência doméstica mata 45 mulheres em 2008, DA, 08/Jan/<strong>2009</strong>, p. 12<br />
Novo caminho para tratar o vício da nicotina pela boca, AE, 26/Jan/<strong>2009</strong>, p. 16<br />
Excesso de café pode provocar alucinações, DA, 26/Jan/<strong>2009</strong>, p. 17<br />
IDT quer redução da taxa de alcoolemia para novos condutores, DA,<br />
10/Fev/<strong>2009</strong>, p. 12<br />
Negócio invisível de haxixe consumido em São Miguel, DA, 13/Fev/<strong>2009</strong>, p. 19<br />
Fumador passivo pode desenvolver demência, diz estudo, DA, 18/Fev/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Beber diariamente eleva risco de cancro em mulheres, 26/Fev/<strong>2009</strong>, p. 10<br />
Álcool aumenta risco de depressão profunda, diz estudo, DA, 04/Mar/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
235
Alberto Peixoto<br />
Especialistas estimam aumento de 62% da cirrose em dez anos, DA,<br />
12/Mar/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Pais têm de controlar mais o que os filhos bebem, DA, 12/Mar/<strong>2009</strong>, p. 12<br />
Aumento de impostos excluído do plano do álcool, DN, 12/Mar/<strong>2009</strong>, p. 9<br />
Portugal é plataforma giratória de tráfico, DN, 12/Mar/<strong>2009</strong>, p. 25<br />
Prevenção de comportamentos desviantes com projecto alargado, DA,<br />
13/Mar/<strong>2009</strong>, p. 6<br />
Dependência do álcool aumenta nas mulheres, EN, 13/Mar/<strong>2009</strong>, p. 10<br />
“Sala de xuto” do Beco do Jardim António Borges fechada a blocos, DA,<br />
14/Mar/<strong>2009</strong>, 24<br />
Antidepressivos disparam, DN, 22/Mar/<strong>2009</strong>, p. 14<br />
Consumo de heroína no país pode aumentar, CA, 24/Mar/<strong>2009</strong>, p. 24<br />
Portugal capturou 180 “correios” de droga em 2008, cada um pode custar 80 mil<br />
euros, DA, 24/Mar/<strong>2009</strong>, p. 11<br />
Consumo moderado de café pode ser bom para a saúde, DA, 25/Mar/<strong>2009</strong>, p. 16<br />
Mulheres sofrem efeitos mais intensos do cigarro, diz estudo, DA, 25/Mar/<strong>2009</strong>, p. 16<br />
25 por cento dos jovens consomem bebidas alcoólicas, AO, 29/Mar/<strong>2009</strong>, p. 5<br />
Consumo de álcool quadruplicou, DN, 27/Mar/<strong>2009</strong>, p. 12<br />
Beber até cair para o lado aumentou em Portugal , DA, 28/Mar/<strong>2009</strong>, p. 13<br />
Rosto vermelho após beber sinaliza risco de cancro, DA, 29/Mar/<strong>2009</strong>, p. 14<br />
Deputada propõe medidas para restringir acesso de jovens a bebidas alcoólicas,<br />
DA, 4/Abr/<strong>2009</strong>, p. 24<br />
Como travar o consumo de álcool nos jovens? AO, 5/Abr/<strong>2009</strong>, p. 2<br />
Maior usuário de ecstasy tomou 40 mil comprimidos, DA, 06/Abr/<strong>2009</strong>, p. 20<br />
Apenas 10 coimas por incumprimento no primeiro ano da Lei do Tabaco, DA,<br />
15/Abr/<strong>2009</strong>, p. 24<br />
7 em cada 10 pessoas que saem à noite consomem bebidas, DA, 25/Abr/<strong>2009</strong>, p. 11<br />
Soluções para a gravidez precoce claramente ligadas à Educação, DA,<br />
28/Abr/<strong>2009</strong>, p. 2<br />
Programa de metadona vai chegar a 350 utentes em São Miguel, AO,<br />
29/Abr/<strong>2009</strong>, p. 8<br />
Tabaco falsificado já é vendido em cafés e bares, AO, 29/Abr/<strong>2009</strong>, p. 30<br />
Novas formas de consumo e medidas de combate à droga em discussão, DA,<br />
07/Mai/<strong>2009</strong>, p. 11<br />
Programas de tratamento de cannabis através da Web fundamentais para chegar<br />
aos jovens, DA, 08/Mai/<strong>2009</strong>, p. 24<br />
236
Consumo de droga abaixo da média da UE, DN, 09/Mai/<strong>2009</strong>, p. 20<br />
Meio milhar marchou pela legalização da ‘cannabis’, DN, 10/Mai/<strong>2009</strong>, p. 22<br />
Álcool é agora o principal desafio do Instituto da Droga e Toxicodependência,<br />
DA, 29/Mai/<strong>2009</strong>, p. 24<br />
Cor da pele pode influenciar absorção de nicotina, DA, 31/Mai/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Governo não deixará cair aumento da idade mínima para consumo de álcool,<br />
DA, 11/Jun/<strong>2009</strong>, p. 19<br />
A droga venceu a guerra, I, 18/Jun/<strong>2009</strong>, p. 4<br />
Idosas que tomam café perdem menos memória, revela estudo científico, DA,<br />
13/Jun/<strong>2009</strong>, p. 19<br />
Área das dependências com novos apoios, DA, 23/Jun/<strong>2009</strong>, p. 6<br />
<strong>Estudo</strong> indica que chá verde pode reduzir cancro de próstata, DA, 23/Jun/<strong>2009</strong>, p. 16<br />
Três em cada 100 pessoas no mundo usaram drogas, DA, 25/Jun/<strong>2009</strong>, p. 13<br />
ARRISCA tem dois novos programas para ajuda a toxicodependentes, DA;<br />
26/Jun/<strong>2009</strong>, p. 4<br />
Fumar cannabis danifica ADN e potencia aparecimento de cancro, DA,<br />
26/Jun/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Vinho pode minimizar efeito de radioterapia, diz estudo, DA, 03/Jul/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Consumo de café protege a memória das mulheres idosas, DA, 04/Jul/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
População de S. Pedro preocupada com segurança devido à droga, DA,<br />
08/Jul/<strong>2009</strong>, p. 8<br />
<strong>Estudo</strong> aconselha atletas a beber cerveja todos os dias, DA, 12/Jul/<strong>2009</strong>, p. 20<br />
Apreensão de tabaco ilegal atinge valor recorde, DA, 16/Jul/<strong>2009</strong>, p. 11<br />
Beber chá pode reduzir os teores de ferro no organismo, DA, 19/Jul/<strong>2009</strong>, p. 16<br />
<strong>Estudo</strong> revela que tabaco pode provocar danos cerebrais, DA, 19/Jul/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Cessação tabágica durante a gravidez reduz risco de parto prematuro, DA,<br />
28/Jul/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Ribeira Grande promove estilos de vida saudáveis, DA, 31/Jul/<strong>2009</strong>, p. 6<br />
Substância presente no vinho tinto previne infecções graves como a septicemia,<br />
DA, 04/Ago/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
<strong>Estudo</strong> identifica parte do cérebro ligada ao vício de jogo, DA, 06/Ago/<strong>2009</strong>, p. 12<br />
Governantes sensibilizam jovens para a condução sem álcool em bares, DA,<br />
15/Ago/<strong>2009</strong>, p. 12<br />
JSD/ Terceira comemora juventude sem bebidas alcoólicas, DA, 16/Ago/<strong>2009</strong>, p. 5<br />
Cerveja pode fazer bem aos ossos, DA, 18/Ago/<strong>2009</strong>, p. 17<br />
Dependências e outras violências…<br />
Consumidores de café têm maior risco de sofrer enxaquecas, DA, 19/Ago/<strong>2009</strong>, p. 16<br />
237
Alberto Peixoto<br />
Bebés expostos ao fumo do tabaco têm mais infecções, DA, 21/Ago/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
São as açorianas “tesas para a pinga?”, DA, 27/Ago/<strong>2009</strong>, p. 3<br />
Formação de equipas de rua no combate às dependências, DA, 1/Set/<strong>2009</strong>, p. 6<br />
Prática de Exercício físico ajuda a combater o vício de fumar, DA, 2/Set/<strong>2009</strong>, p. 2<br />
Grávidas toxicodependentes diminuem mais de 50%, DA, 06/Set/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Discriminação de droga na Amazónia, DA, 12/Set/<strong>2009</strong>, p.13<br />
Casa de Saúde de S. Miguel diz que é “insustentável” haver atrasos nos pagamentos<br />
do Governo, DA, 13/Set/<strong>2009</strong>, p. 3<br />
Prevenção das dependências em debate, DA, 16/Set/<strong>2009</strong>, p. 5<br />
Nova Iorque com novas proibições de fumo, DA, 17/Set/<strong>2009</strong>, p. 13<br />
Governo celebra protocolo para prevenção das dependências com Câmaras do<br />
Faial, Pico e Terceira, DA, 18/Set/<strong>2009</strong>, p. 2<br />
PSP apreendeu mais de 130 mil doses de estupefacientes entre Janeiro e Julho,<br />
DA, 23/Set/<strong>2009</strong>, p. 3<br />
Inaugurada sede da Direcção Regional da Prevenção e Combate às<br />
Dependências, na Praia da Vitória, DA, 24/Set/<strong>2009</strong>, p. 5<br />
Tabagismo deve matar seis milhões de pessoas em 2010, DA, 25/Set/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
<strong>Estudo</strong> revela que álcool, obesidade e depressão estão interligados, DA,<br />
01/Out/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Consumo de certos antibióticos pela grávida associado a defeitos congénitos,<br />
DA, 05/Out/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Consumo de chá verde reduz a ansiedade, DA, 05/Out/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Fumar na gravidez aumenta risco de psicose nas crianças, DA, 9/Out/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Vacina trava dependência de cocaína, DA, 12/Out/<strong>2009</strong>, p. 20<br />
Homens que nunca fumaram vivem mais, DA, 16/Out/<strong>2009</strong>, p. 13<br />
No Dia da Depressão dados do Infarmed apontam para aumento do consumo de<br />
psicofármacos, DA, 17/Out/<strong>2009</strong>, p. 10<br />
Slot machines, clandestinos de cartas e ciberjogo são os jogos que causam maior<br />
dependência, DA, 20/Out/<strong>2009</strong>, p. 11<br />
Álcool aos 13 anos aumenta em 50% risco de vício, DN, 21/Out/<strong>2009</strong>, p. 10<br />
Parlamento Europeu aprova aplicação de imposto reduzido a rum, licores e<br />
aguardentes dos Açores, DA, 21/Out/<strong>2009</strong>, p. 6<br />
Jovens com poucos conhecimentos dos riscos que o álcool acarreta, DA,<br />
21/Out/<strong>2009</strong>, p. 5<br />
Associação Juvenil Aprender a Viver combate problemas de toxicodependência e<br />
de alcoolismo nos jovens de São Pedro, DA, 22/Out/<strong>2009</strong>, p. 4<br />
238
Dependências e outras violências…<br />
Educação sexual desde os 5 anos, CA, 25/Out/<strong>2009</strong>, p. 36<br />
Bebidas quentes estimulam sensações boas, diz estudo, DA 2/Nov/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Projecto aposta em equipa de rua para toxicodependentes, DA, 2/Nov/<strong>2009</strong>, p. 11<br />
Afinal, o café não aumenta risco de insuficiência cardíaca, DA, 03/Nov/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Número de alcoólicos não tem aumentado mas crescem pedidos de tratamento,<br />
DA, 04/Nov/<strong>2009</strong>, p. 17<br />
Café ajuda a diminuir danos no fígado decorrentes da hepatite, DA,<br />
04/Nov/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Droga: Mortes por consumo em Portugal subiram 45%, DA, 06/Nov/<strong>2009</strong>, p. 11<br />
Café diminui risco de cancro do endométrio, DA, 08/Nov/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
106 doses de haxixe apreendidas na cadeia de Ponta Delgada, DA, 17/Nov/<strong>2009</strong>, p. 9<br />
80 a 90% dos internamentos no Hospital de Ponta Delgada devem-se a patologias<br />
relacionadas com o tabagismo, DA, 17/Nov/<strong>2009</strong>, p. 5<br />
Consumo de antidepressivos aumentam nos últimos meses, DA, 25/Nov/<strong>2009</strong>, p. 9<br />
Açores registam aumento de novos casos de contágio por SIDA, mas açorianos<br />
aderem ao teste voluntário de SIDA, DA, 27/Nov/<strong>2009</strong>, p.4<br />
Novos casos de HIV descem 17%, DA, 27/Nov/<strong>2009</strong>, p. 13<br />
Antipsicóticos causam aumentos drásticos de peso em crianças, DA,<br />
27/Nov/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Consumo regular de chá pode ajudar a prevenir diabetes, DA, 28/Nov/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Cannabis consumida dia-a-dia aumenta até seis vezes o risco de esquizofrenia,<br />
CA, 03/Dez/<strong>2009</strong>, p. 27<br />
Jovens adultos mais velhos são os principais alvos do combate contra a SIDA,<br />
DA, 08/Dez/<strong>2009</strong>, p. 4<br />
Anti-retrovirais para o HIV associados a maior risco de desenvolver a doença,<br />
DA, 10/Dez/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Ingestão de álcool aumenta recorrência de cancro da mama, DA, 22/Dez/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Cientistas descobrem mutações no DNA causadas pelo tabaco, DA, 22/Dez/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Aumento de mortes em Portugal por consumo de drogas, DA, 22/Dez/<strong>2009</strong>, p. 12<br />
Luxemburgo tem maior consumo de álcool entre países da OECD, DA,<br />
23/Dez/<strong>2009</strong>, p. 13<br />
Dependência de álcool e marijuana com genes partilhados, DA, 25/Dez/<strong>2009</strong>, p. 21<br />
Tabaco: ASAE instaurou 1800 processos por infracções à lei em dois anos, DA,<br />
30/Dez/<strong>2009</strong>, p. 11<br />
239
Alberto Peixoto<br />
ANO 2010<br />
Tabaco: preço poderá aumentar até 10 cêntimos, DA, 3/Jan/2010, p. 20<br />
Chá verde protege do cancro do pulmão, DA, 17/Jan/2010, p. 16<br />
Suzete Frias: “A maioria dos toxicodependentes deverá estar em programas<br />
livres de drogas”, DA, 06/Fev/2010, p. 4-5<br />
Apreensões de cocaína diminuíram em Portugal e Espanha em 2008,<br />
25/Fev/2010, p. 11<br />
Fumadores são mais propensos a sofrer ruptura de aneurisma, DA, 05/Mar/2010, p. 21<br />
Consumo prolongado de cannabis duplica risco de psicose, DA, 06/Mar/2010, p. 21<br />
Unidades de saúde realizaram 1 433 consultas de cessação tabágica em dois<br />
anos, DA, 31/Mar/2010, p. 9<br />
Prevenção da sida falha entre toxicodependentes, DA, 02/Mar/2010, p. 11<br />
240
ANEXOS
Otl Jovem <strong>2004</strong> – Os Jovens e a Polícia contra<br />
as dependências – AÇORES<br />
INQUÉRITO<br />
Rua__________________________ Nº Casas ___________ Amostra(10%)<br />
Freguesia _________________ Concelho ___________ Ilha____________<br />
1. Sexo: Mas.❑(1) Fem.❑(2)<br />
2. Idade: 14 e menos ❑(1) 21 – 25 ❑(3) 31 – 35 ❑(5) 41 – 45 ❑(7)<br />
15 – 20 ❑(2) 26 – 30 ❑(4) 36 – 40 ❑(6) 46 – 50 ❑(8) 51 e + ❑(9)<br />
3. Estado Civil: Solteiro ❑(1) Divorciado ❑(3) Separado ❑(5)<br />
Casado ❑(2) Viúvo ❑(4) União de Facto ❑(6)<br />
4. Reside em: Meio rural ❑(1)<br />
Meio urbano ❑(2)<br />
5. Habilitações Literárias: Não Sabe Ler ❑(1)<br />
Sabe ler e escrever ❑(2)<br />
1º Ciclo (4ªcl) ❑(3)<br />
2º Ciclo (6ªcl) ❑(4)<br />
3º Ciclo (9ªcl) ❑(5)<br />
Ensino Secundário (10º – 12º) ❑(6)<br />
Curso Profissional ❑(7)<br />
Curso Superior ❑(8)<br />
Dependências e outras violências…<br />
6. Profissão: __________________________________________________<br />
6.1. Vínculo Profissional: Serviço ocasional - por conta de outrém ❑(1)<br />
- por conta própria ❑(2)<br />
Contrato a termo ❑(3)<br />
Efectivo ❑(4)<br />
Outra ❑(5)<br />
243
Alberto Peixoto<br />
7. Habitação: Dos pais/Sogros ❑(1) Do próprio ❑(3) Arrendada ❑(5)<br />
Hipotecada ❑(2) Dada pelo Estado ❑(4) Outra ❑(6)<br />
7.1 Satisfação com a habitação: Muito Boa ❑(1) Razoável ❑(3)<br />
Boa ❑(2) Imprópria ❑(4)<br />
7.1.1 Quantos quartos tem? ______<br />
7.1.2 Quantas pessoas nela habitam? ______<br />
8. Na sua infância foi separado de algum familiar próximo:<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
8.1 Se Sim, foi separado:<br />
Do pai ❑(1)<br />
Da mãe ❑(2)<br />
De ambos ❑(3)<br />
De outro com função de educador ❑(4)<br />
9. Tem recordações de infância de violência doméstica no seio da sua<br />
família?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
244<br />
10. Já teve problemas com a polícia ou tribunais? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
10.1. Se sim, de que tipo? ______________<br />
10.1.1 Com que idade teve o primeiro problema? _____________<br />
11. Alguma vez foi condenado em Tribunal: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
11.1 Se sim, foi a: Multa ❑(1) Prisão ❑(2) Pena suspensa ❑(3)
11.1.1 Se sim, a infracção cometida foi por:<br />
Irreverência ❑(1) Aventura ❑(2) Benefício imediato ❑(3)<br />
Auto afirmação ❑(4) Acidente ❑(5) Companhias ❑(6)<br />
Necessidade ❑(7) Diversão ❑(8) Dependências (diversas) ❑(9)<br />
12. A violação das normas em geral depende:<br />
Da sua vontade ❑(1)<br />
Do meio onde vive ❑(2)<br />
Da vontade das companhias ❑(3)<br />
Algo que não sabe explicar ❑(4)<br />
12. Costuma ingerir bebidas alcoólicas: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
12.1 Se sim, consome:<br />
Diariamente ❑(1) Semanalmente ❑(2) Ocasionalmente ❑(3)<br />
12.1.1 De que tipo?<br />
Cerveja ❑(1)<br />
Vinho ❑(2)<br />
Whisky ❑(3)<br />
<strong>Outras</strong> ❑(4)<br />
12.1.2 Com que idade iniciou o consumo?<br />
14 e menos ❑(1) 21 – 25 ❑(3) 31 – 35 ❑(5) 41 – 45 ❑(7)<br />
15 – 20 ❑(2) 26 – 30 ❑(4) 36 – 40 ❑(6) 46 – 50 ❑(8) 51 e + ❑(9)<br />
12.1.3 Iniciou:<br />
Em casa ❑(1)<br />
Na Escola ❑(2)<br />
Em festas ❑(3)<br />
No grupo ❑(4)<br />
Outro ❑(5)<br />
Dependências e outras violências…<br />
245
Alberto Peixoto<br />
246<br />
12.1.4 Consome para:<br />
Não sentir frio q(1)<br />
Se refrescar q(2)<br />
Se sentir desinibido ❑(3)<br />
Se sentir calmo ❑(4)<br />
Ter coragem ❑(5)<br />
Ter mais força/potência ❑(6)<br />
Esquecer ❑(7)<br />
Sentir prazer ❑(8)<br />
Outra ❑(9)<br />
12.1.5 Iniciou o consumo:<br />
Sozinho ❑(1)<br />
Com familiares ❑(2)<br />
Com amigos/Colegas ❑(3)<br />
12.1.6 Já foi vítima de acto praticado por indivíduo alcoolizado?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
13.Costuma fumar: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
13.1 Se sim, fuma:<br />
Diariamente ❑(1) Semanalmente ❑(2) Ocasionalmente ❑(3)<br />
13.1.1 O quê?<br />
Cigarros normais ❑(1)<br />
Cigarrilhas ❑(2)<br />
Charuto ❑(3)<br />
Cachimbo ❑(4)<br />
Outro ❑(5)<br />
13.1.2 Com que idade iniciou?<br />
14 e menos ❑(1) 21 – 25 ❑(3) 31 – 35 ❑(5) 41 – 45 ❑(7)<br />
15 – 20 ❑(2) 26 – 30 ❑(4) 36 – 40 ❑(6) 46 – 50 ❑(8) 51 e + ❑(9)
13.1.3 Iniciou:<br />
Em casa ❑(1)<br />
Na Escola ❑(2)<br />
Em festas ❑(3)<br />
No grupo ❑(4)<br />
Outro ❑(5)<br />
13.1.4 Fuma para:<br />
Se sentir desinibido ❑(1)<br />
Se sentir calmo ❑(2)<br />
Ter coragem ❑(3)<br />
Ter mais força/potência ❑(4)<br />
Esquecer ❑(5)<br />
Sentir prazer ❑(6)<br />
Outra ❑(7)<br />
13.1.5 Iniciou o consumo:<br />
Sozinho ❑(1)<br />
Com familiares ❑(2)<br />
Com amigos/Colegas ❑(3)<br />
14. Já consumiu algum tipo de droga: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
14.1. Se sim, consome:<br />
Diariamente ❑(1) Semanalmente ❑(2) Ocasionalmente ❑(3)<br />
14.1.1 De que tipo?<br />
Ecstasy ❑(1)<br />
Liamba ❑(2)<br />
Cannabis ❑(3)<br />
Haxixe ❑(4)<br />
Heroína ❑(5)<br />
Cocaína ❑(6)<br />
Outra ❑(7)<br />
Dependências e outras violências…<br />
247
Alberto Peixoto<br />
14.1.2 Com que idade iniciou?<br />
14 e menos ❑(1) 21 – 25 ❑(3) 31 – 35 ❑(5) 41 – 45 ❑(7)<br />
15 – 20 ❑(2) 26 – 30 ❑(4) 36 – 40 ❑(6) 46 – 50 ❑(8) 51 e + ❑(9)<br />
14.1.3 Iniciou:<br />
Em casa ❑(1)<br />
Na Escola ❑(2)<br />
Em festas ❑(3)<br />
No grupo ❑(4)<br />
Outro ❑(5)<br />
14.1.4 Iniciou o consumo:<br />
Sozinho ❑(1)<br />
Com familiares ❑(2)<br />
Com amigos/Colegas ❑(3)<br />
14.1.5 Consome/consumiu drogas para:<br />
Se sentir desinibido ❑(1)<br />
Se sentir calmo ❑(2)<br />
Ter coragem ❑(3)<br />
Ter mais força/potência ❑(4)<br />
Esquecer ❑(5)<br />
Sentir prazer ❑(6)<br />
Outra ❑(7)<br />
14.1.6 Já foi vítima de acto praticado por indivíduo que se encontrava<br />
sob o efeito de droga? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
248<br />
15. Na satisfação de um vício/dependência sente:<br />
Satisfação ❑(1)<br />
Revolta ❑(2)<br />
Indiferença ❑(3)<br />
Medo ❑(4)<br />
Arrependimento ❑(5)<br />
Frustração ❑(6)
15.1 Já efectuou alguma tentativa para abandonar um vício/ dependência?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
15.1.2 Se sim, foi de:<br />
Álcool ❑(1)<br />
Droga ❑(2)<br />
Tabaco ❑(3)<br />
Outra ❑(4)<br />
15.1.3 Resultou?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
15.1.4 Se não foi devido a:<br />
Falta de apoio familiar ❑(1)<br />
Falta de apoio dos amigos ❑(2)<br />
Incapacidade individual ❑(3)<br />
Dificuldades de inserção num novo grupo ❑(4)<br />
Problemas habitacionais ❑(5)<br />
Problemas familiares ❑(6)<br />
Culpa dos técnicos de apoio ❑(7)<br />
Outros ❑(8)<br />
16. Consome regularmente café? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
17. Admite ter já sido violento devido ao consumo de álcool ou droga?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
18. Já cometeu algum crime relacionado com o consumo de álcool ou droga?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
Dependências e outras violências…<br />
19. Tem conhecimento de casos de consumo/ tráfico de droga no meio<br />
onde reside? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
20. Tem conhecimento de casos de consumo excessivo de álcool no meio<br />
onde reside? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
249
INQUÉRITO<br />
OS JOVENS E A PREVENÇÃO DAS<br />
DEPENDÊNCIAS – <strong>2009</strong><br />
Freguesia ______________ Concelho _______________ Ilha___________<br />
1. Sexo: Mas. ❑(1) Fem. ❑(2)<br />
2. Ano de nascimento:<br />
3. Estado Civil: Solteiro ❑(1) Divorciado ❑(3) Separado ❑(5)<br />
Casado ❑(2) Viúvo ❑(4) União de Facto ❑(6)<br />
4. Habilitações Literárias: Não Sabe Ler ❑(1)<br />
Sabe ler e escrever ❑(2)<br />
1º Ciclo (4ªcl) ❑(3)<br />
2º Ciclo (6ªcl) ❑(4)<br />
3º Ciclo (9ªcl) ❑(5)<br />
Ensino Secundário (10º – 12º) ❑(6)<br />
Curso Profissional ❑(7)<br />
Curso Superior ❑(8)<br />
4.1 Já fez algum curso profissional? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
4.2 Em que área?<br />
5. Profissão:<br />
Dependências e outras violências…<br />
5.1. Sente-se realizado com a sua profissão/vida escolar?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
251
Alberto Peixoto<br />
5.2. Situação Profissional, permanente: termo ❑(1)<br />
efectivo ❑(2)<br />
ocasional: conta de outrem ❑(3)<br />
conta própria ❑(4)<br />
outra, qual?<br />
6. Participa em alguma Associação ou actividade fora do meio profissional/escolar?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
252<br />
6.1. Se sim, em que área?<br />
Desportiva ❑(1)<br />
Musical ❑(2)<br />
Cultural ❑(3)<br />
Religiosa ❑(4)<br />
Outra, qual?<br />
7. Consome regularmente café? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
8. Costuma fumar: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
8.1. Se sim, fuma:<br />
Diariamente ❑(1) Semanalmente ❑(2) Ocasionalmente ❑(3)<br />
8.1.1. Onde? Em casa ❑(1)<br />
Na escola/trabalho ❑(2)<br />
Em festas ❑(3)<br />
No grupo ❑(4)<br />
Outra, qual?
8.1.2. O quê? Cigarros normais ❑(1)<br />
Cigarrilhas ❑(2)<br />
Charuto ❑(3)<br />
Cachimbo ❑(4)<br />
Outro, qual?<br />
8.2. Com que idade iniciou?<br />
8.2.1. Onde iniciou o consumo de tabaco?<br />
Em casa ❑(1)<br />
Na escola ❑(2)<br />
Em festas ❑(3)<br />
No grupo ❑(4)<br />
Outro, qual?<br />
8.2.2. Com quem iniciou o consumo de tabaco?<br />
Sozinho ❑(1)<br />
Com familiares ❑(2)<br />
Com amigos/Colegas ❑(3)<br />
8.3. Fuma para: Se sentir desinibido ❑(1)<br />
Se sentir calmo ❑(2)<br />
Ter coragem ❑(3)<br />
Ter mais força/potência ❑(4)<br />
Esquecer ❑(5)<br />
Sentir prazer ❑(6)<br />
Outra, qual?<br />
Dependências e outras violências…<br />
8.4. Quanto gasta por semana em tabaco? €<br />
253
Alberto Peixoto<br />
254<br />
8.5.1. De onde vem o dinheiro?<br />
Salário ❑(1)<br />
Mesada ❑(2)<br />
Pensão ❑(3)<br />
Outro, qual?<br />
8.6 Algum dos seus familiares/próximos tem conhecimento de que fuma?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
8.7. Tem algum familiar próximo que fuma com regularidade?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
8.7.1. Se sim, quem?<br />
9. Nos últimos 30 dias, consumiu tranquilizantes/ sedativos/anti-depressivos?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
9.1. Se sim, foram receitados por um médico?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
10. Costuma ingerir bebidas alcoólicas:<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
10.1. Se sim, consome:<br />
Diariamente ❑(1) Semanalmente ❑(2) Ocasionalmente ❑(3)<br />
10.1.1. Onde? Em casa ❑(1)<br />
Na escola/trabalho ❑(2)<br />
Em festas ❑(3)<br />
No grupo ❑(4)<br />
Outro, qual?
10.1.2. Que tipo de bebidas consumiu?<br />
Cerveja com álcool ❑(1)<br />
Vinho ❑(2)<br />
Bebidas destiladas (Whisky, gin, vodka, aguardente, etc) ❑(3)<br />
Outra, qual?<br />
10.2. Com que idade iniciou o consumo de bebidas alcoólicas?<br />
10.2.1. Onde iniciou o consumo : Em casa ❑(1)<br />
Na escola ❑(2)<br />
Em festas ❑(3)<br />
No grupo ❑(4)<br />
Outro, qual?<br />
10.2.2. Com quem iniciou o consumo: Sozinho ❑(1)<br />
Com familiares ❑(2)<br />
Com amigos/Colegas ❑(3)<br />
10.3. Quanto gasta por semana com bebidas alcoólicas? €<br />
10.3.1. De onde vem o dinheiro?<br />
Salário ❑(1)<br />
Mesada ❑(2)<br />
Pensão ❑(3)<br />
Outro, qual?<br />
Dependências e outras violências…<br />
10.4. Algum dos seus familiares/próximos tem conhecimento de que<br />
consome? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
10.5. Tem algum familiar próximo que consuma em excesso?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
255
Alberto Peixoto<br />
256<br />
10.5.1. Se sim, quem?<br />
10.6. Consome para: Não sentir frio ❑(1)<br />
Se refrescar ❑(2)<br />
Se sentir desinibido ❑(3)<br />
Se sentir calmo ❑(4)<br />
Ter coragem ❑(5)<br />
Ter mais força/potência ❑(6)<br />
Esquecer ❑(7)<br />
Sentir prazer ❑(8)<br />
Outro, qual?<br />
11. Já se embriagou alguma vez? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
11.1 Se sim, a última vez que se embriagou foi:<br />
há menos de uma semana ❑(1)<br />
há menos de um mês ❑(2)<br />
há menos de um ano ❑(3)<br />
há vários anos atrás ❑(4)<br />
12. Já foi vítima de acto praticado por indivíduo alcoolizado?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
13. Admite ter já sido violento devido ao consumo de álcool?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
14. Já cometeu algum crime relacionado com o consumo de álcool?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
15. Já consumiu algum tipo de droga: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
15.1. Se sim, consome:<br />
Diariamente ❑(1) Semanalmente ❑(2) Ocasionalmente ❑(3)
15.1.1. Onde? Em casa ❑(1)<br />
Na escola/trabalho ❑(2)<br />
Em festas ❑(3)<br />
No grupo ❑(4)<br />
Outro, qual?<br />
15.1.2. Que tipo? Ecstasy/ anfetaminas ❑(1)<br />
Liamba/marijuana (cannabis: folhas) ❑(2)<br />
Haxixe (Cannabis: resina) ❑(3)<br />
LSD/ cogumelos alucinogéneos ❑(4)<br />
Heroína ❑(5)<br />
Cocaína ❑(6)<br />
Outra, qual?<br />
15.2. No caso de já ter consumido uma qualquer substância mais de uma<br />
vez, o último consumo foi:<br />
há menos de uma semana ❑(1)<br />
há menos de um mês ❑(2)<br />
há menos de um ano ❑(3)<br />
há vários anos atrás ❑(4)<br />
15.3. Com que idade iniciou o consumo de drogas?<br />
15.3.1. Onde iniciou o consumo de drogas?<br />
Em casa ❑(1)<br />
Na escola ❑(2)<br />
Em festas ❑(3)<br />
No grupo ❑(4)<br />
Outra, qual?<br />
Dependências e outras violências…<br />
15.3.2. Cpm quem iniciou o consumo de drogas?<br />
Sozinho ❑(1)<br />
Com familiares ❑(2)<br />
Com amigos/Colegas ❑(3)<br />
257
Alberto Peixoto<br />
15.4. Quanto gasta por semana com drogas? €<br />
15.4.1 De onde vem o dinheiro?<br />
Salário ?(1)<br />
Mesada ?(2)<br />
Pensão ?(3)<br />
Outra, qual?<br />
15.5. Algum dos seus familiares/próximos tem conhecimento de que<br />
consome? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
258<br />
15.6. Tem algum familiar que consome com regularidade?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
15.7. Consome/consumiu drogas para:<br />
Se sentir desinibido ❑(1)<br />
Se sentir calmo ❑(2)<br />
Ter coragem ❑(3)<br />
Ter mais força/potência ❑(4)<br />
Esquecer ❑(5)<br />
Sentir prazer ❑(6)<br />
Outra, qual?<br />
16. Já foi vítima de acto praticado por indivíduo sob o efeito de droga?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
17. Admite ter já sido violento devido ao consumo de droga?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)
18. Já cometeu algum crime quando estava sob o efeito de droga?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
19. Acha que está dependente/ viciado (a) no consumo de:<br />
tabaco ❑(1)<br />
álcool ❑(2)<br />
medicamentos ❑(3)<br />
droga ❑(4)<br />
outra, qual?<br />
20. Já efectuou alguma tentativa para abandonar essa dependência/vício?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
20.1. Se sim, foi de: tabaco ❑(1)<br />
álcool ❑(2)<br />
medicamentos ❑(3)<br />
droga ❑(4)<br />
outra, qual?<br />
20.2. Resultou? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
20.3. Se não, foi devido a:<br />
falta de apoio familiar ❑(1)<br />
falta de apoio dos amigos ❑(2)<br />
incapacidade individual ❑(3)<br />
dificuldades de inserção num novo grupo ❑(4)<br />
problemas habitacionais ❑(5)<br />
problemas familiares ❑(6)<br />
culpa dos técnicos de apoio ❑(7)<br />
outra, qual?<br />
Dependências e outras violências…<br />
259
Alberto Peixoto<br />
21. Na satisfação de um vício/dependência sente:<br />
satisfação ❑(1)<br />
revolta ❑(2)<br />
indiferença ❑(3)<br />
medo ❑(4)<br />
arrependimento ❑(5)<br />
frustração ❑(6)<br />
outra, qual?<br />
22. Relativamente à violência doméstica, diga se já viveu experiências dessas<br />
no seio da sua família? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
260<br />
22.1. Se sim, em que altura da sua vida? Infância ❑(1)<br />
Adolescência ❑(2)<br />
Idade adulta ❑(3)<br />
23.1. Durante o ano de 2008 alguém:<br />
23.1.1. o (a) agrediu? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
23.1.2. lhe tirou (furtou/roubou) alguma coisa?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
23.1.3. o (a) forçou ou tentou forçar sexualmente?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
23.1.4. não lhe pagou o valor devido por um trabalho?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
24. Durante o ano de 2008 foi vítima de um ou mais crimes praticados contra si?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
23.2. Se sim, denunciou o<br />
caso à polícia/autoridades?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)
Dependências e outras violências…<br />
25. Se sim, depois de ter sido vítima de um crime: Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
25.1. alguma vez teve vontade de mudar de residência?<br />
Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
25.2. alguma vez teve vontade de deixar de passar ou frequentar determinados<br />
locais? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
25.3. passou a sentir medo de sair sozinho à noite? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
25.4. passou a sentir-se mais seguro em casa? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
25.5. passou a evitar certas partes da cidade? Sim ❑(1) Não ❑(2)<br />
Obrigado pela colaboração<br />
261
ÍNDICE DE FIGURAS E IMAGENS<br />
Figura n.º 1 A pirâmide mostra dois aspectos importantes. Em primeiro<br />
lugar, que os padrões de consumo são incontáveis e variam ao longo<br />
de uma linha contínua. Quanto mais intenso o consumo, maiores serão<br />
os problemas. Em segundo, conforme aumenta a quantidade de substâncias<br />
consumidas diminui o número de indivíduos envolvidos...............<br />
Figura n.º 2 Categorias de consumidores identificados face à intensidade<br />
e justificações de consumo. .........................................................<br />
Imagem n.º 1 Fotografias de Roseanne, pertencentes aos ficheiros da<br />
Scotland Yard de Londres. ...................................................................<br />
Imagem n.º 2 The Downward Spiral- www.rotten.com.........................<br />
Imagem n.º 3 Imagens utilizadas em maços de tabaco para combater o<br />
consumo..................................................................................................<br />
Imagem n.º 4 Imagens utilizadas em campanhas de consciencialização<br />
inglesas. ..................................................................................................<br />
Imagem n.º 5 Imagens utilizadas em campanha de consciencialização<br />
inglesa contra o tabaco. ..........................................................................<br />
ÍNDICE DE QUADROS<br />
Quadro n.º 1 Prevalência do consumo de cannabis na UE dos 15. ............<br />
Quadro n.º 2 Comparação por sexos da população inquirida. .............<br />
Quadro n.º 3 Estado civil da população inquirida ..............................<br />
Quadro n.º 4 Comparação das habilitações literárias da população<br />
inquirida..................................................................................................<br />
Quadro n.º 5 População inquirida segundo o vínculo profissional. ....<br />
Quadro n.º 6 Apreensões de droga, efectuadas pela PSP, nos Açores,<br />
entre 2005 e <strong>2009</strong>. .................................................................................<br />
Pag.<br />
15<br />
215<br />
56<br />
57<br />
58<br />
58<br />
59<br />
33<br />
41<br />
42<br />
43<br />
44<br />
50<br />
263
Alberto Peixoto<br />
Quadro n.º 7 Preços do custo de droga ao consumidor em euros. ......<br />
Quadro n.º 8 Número de doses individuais de droga, por grama e preços<br />
do custo ao consumidor, em euros. .................................................<br />
Quadro n.º 9 Quantidade de droga apreendida, em Portugal. .............<br />
Quadro n.º 10 Quantidades de estupefacientes apreendidos em<br />
Portugal de 1995 a 1999 em comparação com as quantidades apreendidas<br />
em 2007, 2008 e <strong>2009</strong>, incluindo Açores e Madeira. .....................<br />
Quadro n.º 11 Valor em euros da droga apreendida, em Portugal, e<br />
valor estimado da substância estupefaciente não apreendida. ..............<br />
Quadro n.º 12 Comparação por sexos e total das percentagens de<br />
fumadores entre o Continente e os Açores.............................................<br />
Quadro n.º 13 Comparação das percentagens de fumadores, tendo em<br />
conta a área de residência.......................................................................<br />
Quadro n.º 14 Percentagem da população fumadora por ilha, <strong>2004</strong> -<br />
<strong>2009</strong> ........................................................................................................<br />
Quadro n.º 15 Consumo de tabaco por concelhos <strong>2004</strong> - <strong>2009</strong>. .........<br />
Quadro n.º 16 Idade de início do consumo de tabaco nos Açores. ......<br />
Quadro n.º 17 Comparação das percentagens de fumadores, com prevalência<br />
diária e prevalência inferior à diária, entre o Continente e os<br />
Açores.....................................................................................................<br />
Quadro n.º 18 Iniciação ao consumo de tabaco. .................................<br />
Quadro n.º 19 Local onde foi iniciado o consumo de tabaco...............<br />
Quadro n.º 20 Frequência do consumo de tabaco nos Açores. ............<br />
Quadro n.º 21 Tipologia de tabaco fumado nos Açores. ......................<br />
Quadro n.º 22 Idade de início de consumo de tabaco, por ilhas. ........<br />
Quadro n.º 23 Consumo de tabaco por idades......................................<br />
Quadro n.º 24 Consumo de tabaco por estados civis. ..........................<br />
Quadro n.º 25 Consumo de tabaco, tendo em conta as habilitações literárias.<br />
......................................................................................................<br />
Quadro n.º 26 Consumo de tabaco por profissões................................<br />
Quadro n.º 27 Consumo de tabaco e as recordações de violência<br />
doméstica na infância. ............................................................................<br />
Quadro n.º 28 Relação estimada entre consumo de bebidas alcoólicas,<br />
sexo, peso e taxa de alcoolemia. ...........................................................<br />
Quadro n. º 29 Consumo regular de álcool nos Açores........................<br />
Quadro n.º 30 Regularidade do consumo de álcool a nível Açores. ....<br />
264<br />
51<br />
51<br />
52<br />
52<br />
53<br />
74<br />
75<br />
76<br />
77<br />
79<br />
79<br />
80<br />
81<br />
82<br />
82<br />
84<br />
85<br />
86<br />
87<br />
88<br />
88<br />
96<br />
101<br />
102
Dependências e outras violências…<br />
Quadro n.º 31 Consumo regular de álcool por sexos. ..........................<br />
Quadro n.º 32 Regularidade do consumo de álcool a nível Açores. ....<br />
Quadro n.º 33 Principais mitos que justificam o consumo de álcool nos<br />
Açores.....................................................................................................<br />
Quadro n.º 34 Percentagem da população consumidora de álcool<br />
por ilha...............................................................................................<br />
Quadro n.º 35 Consumo de álcool por concelhos. ..............................<br />
Quadro n.º 36 Regularidade do consumo de álcool por ilhas. ............<br />
Quadro n.º 37 Tipo de bebidas alcoólicas consumidas nos Açores. ...<br />
Quadro n.º 38 Tipo de bebidas alcoólicas consumidas por ilhas. ........<br />
Quadro n.º 39 Idades de início do consumo de bebidas alcoólicas,<br />
entre consumidores regulares, por ilhas, em <strong>2004</strong>.................................<br />
Quadro n.º 40 Idades de início do consumo de bebidas alcoólicas,<br />
entre consumidores regulares, por ilhas, em <strong>2009</strong>. .............................<br />
Quadro n.º 41 Iniciação do consumo de bebidas alcoólicas. ...............<br />
Quadro n.º 42 Local onde foi iniciado o consumo de bebidas alcoólicas. ....<br />
Quadro n.º 43 Vítimas de violência praticada por indivíduos alcoolizados.<br />
......................................................................................................<br />
Quadro n.º 44 Vítimas de violência praticada por indivíduos alcoolizados,<br />
por ilha.........................................................................................<br />
Quadro n.º 45 Consumo regular de álcool por idades..........................<br />
Quadro n.º 46 Regularidade do consumo de álcool por idades............<br />
Quadro n.º 47 Consumo regular de álcool segundo o estado civil.......<br />
Quadro n.º 48 Regularidade do consumo de álcool segundo o estado civil..<br />
Quadro n.º 49 Regularidade do consumo de álcool segundo a área de<br />
residência................................................................................................<br />
Quadro n.º 50 Consumo regular de álcool segundo as habilitações literárias.<br />
......................................................................................................<br />
Quadro n.º 51 Regularidade de consumo de álcool segundo as habilitações<br />
literárias. ......................................................................................<br />
Quadro n.º 52 Regularidade de consumo de álcool por profissões......<br />
Quadro n.º 53 Regularidade do consumo de álcool e o vínculo profissional.......................................................................................................<br />
Quadro n.º 54 Consumo regular de álcool e as recordações de violência<br />
doméstica no seio da família. ...........................................................<br />
103<br />
104<br />
106<br />
107<br />
109<br />
110<br />
111<br />
112<br />
114<br />
114<br />
116<br />
116<br />
118<br />
118<br />
119<br />
120<br />
121<br />
122<br />
122<br />
123<br />
124<br />
125<br />
125<br />
126<br />
265
Alberto Peixoto<br />
Quadro n.º 55 Regularidade do consumo de álcool e as recordações de<br />
violência doméstica no seio da família. .................................................<br />
Quadro n.º 56 Consumo regular de álcool por idades e a idade de início<br />
do consumo.......................................................................................<br />
Quadro n.º 57 Propensão para a violência e a regularidade de consumo<br />
de álcool. ..........................................................................................<br />
Quadro n.º 58 Comparação de percentagens de indivíduos que já consumiram<br />
substâncias ilícitas (droga) pelo menos uma vez, no continente<br />
e nos Açores........................................................................................<br />
Quadro n.º 59 Percentagem e número absoluto de indivíduos nos<br />
Açores que já consumiram substâncias ilícitas (droga) pelo menos uma<br />
vez...........................................................................................................<br />
Quadro n.º 60 Tempo que medeia entre o momento do inquérito e o<br />
último consumo, entre os 14,8% que admitiram já ter consumido........<br />
Quadro n.º 61 Percentagem da população consumidora de drogas por<br />
ilha. .........................................................................................................<br />
Quadro n.º 62 Consumo de droga por concelhos...............................<br />
Quadro n.º 63 Regularidade do consumo de droga por ilha.................<br />
Quadro n.º 64 Tipo de drogas consumidas dentro da percentagem de<br />
prevalência geral, por ilhas.....................................................................<br />
Quadro n.º 65 Idades de início do consumo de droga por ilha. ..........<br />
Quadro n.º 66 Local de início de consumo de droga. ..........................<br />
Quadro n.º 67 Como foi iniciado o consumo de droga. .......................<br />
Quadro n.º 68 Motivação do consumo de droga. .................................<br />
Quadro n.º 69 Vítimas de dependentes de drogas, por ilha..................<br />
Quadro n.º 70 Consumo de droga, por sexos. ......................................<br />
Quadro n.º 71 Consumo de droga, por idades......................................<br />
Quadro n.º 72 Dados do inquérito à população geral IDT sobre a prevalência<br />
de consumo de drogas, em comparação com os dados referentes<br />
à Região Açores. ...............................................................................<br />
Quadro n.º 73 Consumo de droga, segundo o estado civil...................<br />
Quadro n.º 74 Consumo de droga, segundo a área de residência. .......<br />
Quadro n.º 75 Consumo de droga e habilitações literárias. .................<br />
Quadro n.º 76 Regularidade de consumo de drogas por profissões.....<br />
Quadro n.º 77 Consumo de droga e vínculo profissional.....................<br />
266<br />
127<br />
128<br />
129<br />
140<br />
141<br />
141<br />
142<br />
143<br />
144<br />
147<br />
149<br />
150<br />
151<br />
152<br />
153<br />
154<br />
155<br />
156<br />
157<br />
158<br />
159<br />
159<br />
160
Dependências e outras violências…<br />
Quadro n.º 78 Consumo de droga e o tipo de bebida alcoólica consumida.<br />
.......................................................................................................<br />
Quadro n.º 79 Consumo de droga e idade de início de consumo de<br />
bebidas alcoólicas...................................................................................<br />
Quadro n.º 80 Consumo de droga e idade de início de consumo de<br />
tabaco......................................................................................................<br />
Quadro n.º 81 Regularidade do consumo de droga por percentagens e<br />
números absolutos de consumidores nos Açores. ..................................<br />
Quadro n.º 82 Tipo de droga consumida por percentagens e números<br />
absolutos de consumidores respectivos nos Açores...............................<br />
Quadro n.º 83 Montantes semanais dispendidos pelos consumidores<br />
de drogas na aquisição das substâncias..................................................<br />
Quadro n.º 84 Consumo regular de café nos Açores............................<br />
Quadro n.º 85 Consumo regular de café por sexos. .............................<br />
Quadro n.º 86 Percentagem da população consumidora regular de<br />
café, por ilha...........................................................................................<br />
Quadro n.º 87 Consumo regular de café por concelhos. .....................<br />
Quadro n.º 88 Consumo regular de café por idades............................<br />
Quadro n.º 89 Consumo regular de café segundo o estado civil..........<br />
Quadro n.º 90 Consumo regular de café segundo a área de residência.......<br />
Quadro n.º 91 Consumo regular de café e habilitações literárias dos<br />
consumidores..........................................................................................<br />
Quadro n.º 92 Consumo regular de café vínculos profissionais dos<br />
consumidores..........................................................................................<br />
Quadro n.º 93 Violência Doméstica nos Açores - (Número de crimes<br />
praticados entre familiares, incluindo cônjuges, ou análogos, filhos e<br />
outros familiares). ..................................................................................<br />
Quadro n.º 94 Dimensão da violência doméstica vivenciada, por ilha....<br />
Quadro n.º 95 Prevalência das recordações de vivência da violência<br />
doméstica no seio da família, por idades. ..............................................<br />
Quadro n.º 96 Prevalência das recordações de vivência da violência<br />
doméstica no seio da família, por áreas de residência..........................<br />
Quadro n.º 97 Prevalência do consumo de fármacos psicoactivos, nos<br />
últimos 30 dias........................................................................................<br />
Quadro n.º 98 Regularidade de consumo de drogas por profissões.....<br />
161<br />
162<br />
163<br />
163<br />
164<br />
165<br />
170<br />
171<br />
171<br />
172<br />
173<br />
174<br />
174<br />
175<br />
175<br />
182<br />
185<br />
186<br />
188<br />
192<br />
196<br />
267
Alberto Peixoto<br />
Quadro n.º 99 Sensação vivenciada com a satisfação de um vício.....<br />
Quadro n.º 100 Tentativas de abandono de dependências por ilha. ....<br />
Quadro n.º 101 Tentativas de abandono de dependências, apuradas em<br />
<strong>2009</strong>, por ilha e por substâncias. ............................................................<br />
Quadro n.º 102 Taxa de sucesso obtida com as tentativas de abandono<br />
de dependências por ilha. ..................................................................<br />
Quadro n.º 103 Causas do insucesso obtido nas tentativas de abandono<br />
de dependências.................................................................................<br />
268<br />
200<br />
201<br />
202<br />
203<br />
204