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20 janeiro 2010 história de sucesso<br />
21<br />
“Eu nasci em São José dos Pinhais, no Paraná, na região<br />
metropolitana de Curitiba, mas vivi meus primeiros 10 anos<br />
em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Voltei para São José<br />
dos Pinhais com 11 anos. Tive uma infância tranquila. Venho<br />
de uma família <strong>que</strong> não é rica, mas <strong>que</strong> tem uma condição<br />
de vida muito boa. Afinal, meus pais sempre me deram<br />
o <strong>que</strong> precisei. Estudei em bons colégios, fiz faculdade…<br />
Fiz Computação, na PUC do Paraná, três anos de Engenharia<br />
e depois tran<strong>que</strong>i e comecei a trabalhar. Nas horas vagas<br />
dava aulas de saxofone, <strong>que</strong> até hoje é meu grande hobbie.<br />
Há seis anos, eu trabalhava como balconista em uma loja<br />
de fechaduras, gostava do <strong>que</strong> fazia, mas não gostava do<br />
<strong>que</strong> ganhava. Sabe como é, todos os meses sobravam dias<br />
e faltava dinheiro. Mas, mesmo assim, durante quatro anos<br />
continuei no mesmo trabalho e com os mesmos hábitos.<br />
Logicamente <strong>que</strong> os resultados também eram sempre os<br />
mesmos. E, diga-se de passagem, nada bons.<br />
Até <strong>que</strong> um dia resolvi mudar. O meu sonho era ser livre,<br />
não depender financeiramente dos meus pais e ser<br />
reconhecido por algo <strong>que</strong> construí. E não pelo <strong>que</strong> me<br />
deram. Por isso, quando ouvi dizer <strong>que</strong> as pessoas <strong>que</strong><br />
trabalhavam fora do Brasil estavam ganhando muito dinheiro<br />
e mudando suas vidas, comecei a pensar em fazer<br />
“um dia resolvi mudar.<br />
o meu sonho era ser<br />
livre, não depender<br />
financeiramente<br />
dos meus pais e ser<br />
reconhecido por alGo<br />
<strong>que</strong> construí.”<br />
o mesmo. Eu trabalhava durante o dia como balconista,<br />
vendia também sorvete para tirar uma grana extra e cursava<br />
Direito à noite.<br />
Na<strong>que</strong>la época eu ainda era aluno do curso de Direito,<br />
na Faculdade Dom Bosco, <strong>que</strong> cursei depois do curso<br />
de Engenharia. Mas não tive dúvidas. Como não via muitas<br />
possibilidades por aqui, tran<strong>que</strong>i meu curso na faculdade,<br />
peguei dinheiro emprestado e fui tentar a vida na Inglaterra.<br />
Primeira viagem<br />
Escolhi a Europa por ter cidadania italiana e por<strong>que</strong> a Inglaterra<br />
era um dos países <strong>que</strong> melhor pagavam na época. Ou<br />
seja, pensava <strong>que</strong> dava para ganhar mais dinheiro.<br />
Cheguei na<strong>que</strong>le país no início de 2005 com uma grande<br />
expectativa, crente <strong>que</strong> tinha encontrado a oportunidade<br />
da minha vida e ficaria por mais de 10 anos por lá. Tudo<br />
era lindo e maravilhoso. Uma paisagem diferente <strong>que</strong> me<br />
encantou, um país organizado, uma cultura diferente e<br />
uma população com elevado poder de compra. Estava tão<br />
empolgado <strong>que</strong> não conseguia ver defeitos e achava <strong>que</strong><br />
todos viviam bem. Já fazia até planos de construir uma<br />
carreira em uma grande empresa. Enfim, ser uma pessoa<br />
próspera e, finalmente, conquistar meus objetivos.<br />
Até hoje o saxofone é o grande hobbie de Luciano<br />
Faculdade, balcão de loja de fechadura e até sorveteria nas horas vagas para completar o orçamento: primeiros anos de trabalho<br />
Mas a vida lá não era nada do <strong>que</strong> eu imaginava. Não falava<br />
inglês e, nos primeiros quinze dias, tive de dormir no<br />
chão, literalmente, enrolado em um cobertor. E o travesseiro<br />
era uma ja<strong>que</strong>ta <strong>que</strong> tinha levado do Brasil. O tempo<br />
foi passando e o dinheiro <strong>que</strong> tinha levado estava acabando.<br />
Até <strong>que</strong> um dia, numa conversa em casa – morava<br />
com cinco amigos num flat de dois quartos pe<strong>que</strong>nos – ,<br />
um colega disse <strong>que</strong> o restaurante em <strong>que</strong> trabalhava estava<br />
precisando de um ajudante de lavador de pratos. Só<br />
para se ter uma ideia, em Londres, um dos trabalhos de<br />
menor remuneração é justamente o de lavador de pratos.<br />
Agora, imaginem então como seria o de ajudante.<br />
14 horas por dia<br />
Mas, mesmo assim, resolvi aceitar. Afinal, estava precisando<br />
muito de dinheiro. Comecei na<strong>que</strong>le restaurante e<br />
trabalhava, em média, 14 horas dia, sendo <strong>que</strong> só tinha<br />
sete minutos de almoço. Isso mesmo. No primeiro dia<br />
era tudo novidade, no segundo, tranquilo, no terceiro já<br />
estava cansado e, no quinto dia, eu já estava tendo pesadelos<br />
com pratos.<br />
Lembro-me bem de uma sexta-feira, já no final de mais um<br />
cansativo dia de trabalho, quando fi<strong>que</strong>i sabendo <strong>que</strong> os<br />
funcionários seriam observados no final de semana. Prova-<br />
velmente, alguns seriam promovidos. Logo pensei: é minha<br />
chance de sair da cozinha. Se irão promover alguém, esse<br />
alguém tem de ser eu.<br />
Já estava imaginando <strong>que</strong> seria promovido a garçom e<br />
comecei a fazer contas com o <strong>que</strong> faria com as ‘gordas<br />
gorjetas’ <strong>que</strong> eu receberia dos clientes. Trabalhei o final de<br />
semana animado, <strong>que</strong>rendo mostrar serviço. Até <strong>que</strong> na<br />
segunda-feira, o gerente da<strong>que</strong>le estabelecimento mandou<br />
me chamar. Estava feliz e já pensando em ser garçom. Entrei<br />
na sala do gerente com um sorriso enorme e ele foi logo<br />
contando as novidades. Me disse <strong>que</strong> fariam algumas mudanças<br />
no restaurante e, por consequência, deslocariam<br />
algumas pessoas de função. Nesse momento não consegui<br />
esconder minha felicidade e comentei com ele: ‘<strong>que</strong><br />
maravilha, vou ser garçom!’<br />
Lembro-me como se fosse hoje da expressão no rosto<br />
da<strong>que</strong>le gerente, <strong>que</strong> respondeu: ‘Garçom? Quem sabe<br />
um dia, se você continuar trabalhando animado como<br />
neste final de semana, chegar sempre no horário, melhorar<br />
o seu inglês... Aí, talvez um dia possa pensar em<br />
promovê-lo a garçom.’<br />
Mas não desanimei e perguntei a ele, então, qual seria<br />
minha nova função. Resumindo, virei o ‘batateiro’ do res-