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Um mundo a ser descoberto - Grupo Educacional Uninter

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Curitiba, dezembro de 2009 MARCO ZERO<br />

MARCO ZERO<br />

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Facinter • Ano I • Número 1 • Curitiba, dezembro de 2009<br />

LENDAS URBANAS<br />

Como Maria<br />

Bueno<br />

virou um mito<br />

O túmulo de Maria<br />

Bueno é o mais visitado<br />

do Cemitério Municipal.<br />

Conheça esta história que<br />

permanece no imaginário<br />

do curitibano.<br />

Página 6<br />

PERFIL<br />

E o circo<br />

pegou fogo<br />

Liamir Hauer, autora<br />

dos livros O circo pegou<br />

fogo e Rescaldo, conta em<br />

entrevista sobre os seus<br />

personagens e o que<br />

mudou na cidade nos<br />

últimos tempos.<br />

Página 3<br />

Onde Curitiba<br />

começou<br />

Apesar de estar na<br />

região onde se iniciou<br />

oficialmente a cidade<br />

de Curitiba, o marco<br />

zero é praticamente<br />

desconhecido dos<br />

habitantes da capital.<br />

Página 7<br />

SEBOS<br />

<strong>Um</strong> <strong>mundo</strong> a<br />

<strong>ser</strong> <strong>descoberto</strong><br />

Páginas 4 e 5<br />

Claudia Bilobran


2<br />

EDITORIAL<br />

Aos leitores<br />

Com este primeiro número, estamos<br />

lançando o Marco Zero, jornal-laboratório<br />

do curso de Comunicação Social com<br />

habilitação em Jornalismo da Faculdade<br />

Internacional de Curitiba (Facinter).<br />

Se “educação de qualidade é a maior<br />

atração do centro da cidade”, como reza o<br />

slogan do <strong>Grupo</strong> <strong>Uninter</strong>, ressaltando a<br />

localização privilegiada de várias unidades<br />

do <strong>Grupo</strong>, o Marco Zero pretende<br />

fazer com que a informação de qualidade<br />

sobre o centro de Curitiba também seja<br />

uma atração para seus leitores.<br />

Como jornal-laboratório, o Marco<br />

Zero <strong>ser</strong>á um espaço para a prática<br />

dos estudantes e, portanto, sujeito<br />

a lacunas e falhas eventuais, normais<br />

nesse tipo de veículo, mas também às<br />

experimentações portadoras de novidades,<br />

sempre bem-vindas na formação<br />

de futuros jornalistas.<br />

As pautas envolvem a região central<br />

de Curitiba e buscam revelar informações,<br />

curiosidades, personagens e fatos<br />

menos conhecidos dessa área da capital<br />

paranaense.<br />

O Marco Zero mantém um canal<br />

aberto com seu público-alvo – gente<br />

que trabalha, mora ou transita pela<br />

área central de Curitiba – e acolherá<br />

críticas, comentários ou sugestões dos<br />

leitores. O contato pode <strong>ser</strong> feito pelo email:<br />

assessoriajr@grupouninter.com.br<br />

ou pelos telefones 2102-7953 e 2102-<br />

7954. Boa leitura!<br />

Expediente<br />

O jornal-laboratório Marco Zero<br />

é uma publicação do Curso de<br />

Jornalismo da Facinter<br />

Coordenadordo Curso de<br />

Comunicação Social: Gustavo Lopes<br />

Professores responsáveis:<br />

Roberto Nicolato e Tomás Barreiros<br />

Redação: Regiane Silva, Letícia Lemos,<br />

Walter Voigt Bach, Cláudia Bilobran,<br />

Larissa Glass, Mariana Lima,<br />

Vanusa Pereira da Silva<br />

Concepção gráfica: Professor Roberto<br />

Nicolato<br />

Facinter: Rua do Rosário, 147<br />

CEP 80020-110 Curitiba-PR<br />

RESENHA<br />

Em meio aos filmes arrasa-quarteirões<br />

de origem nacional, alguns têm insistido<br />

em temáticas fortes, sendo ambientados<br />

em morros e favelas e apresentando<br />

a violência e o tráfico de drogas entre<br />

algumas situações barras-pesadas que<br />

suas personagens têm de suportar para<br />

sobreviver. Cidade de Deus (2002) e Tropa<br />

de elite (2007) são alguns exemplos. Cada<br />

uma à sua maneira, essas obras contam<br />

histórias pesadas, baseadas em aspectos<br />

da realidade brasileira que estão sempre<br />

presentes nos noticiários – combates<br />

entre traficantes e policiais, crime<br />

organizado e situações que se deterioram<br />

a cada década. <strong>Um</strong> documentário que não<br />

é tão conhecido e não deve <strong>ser</strong> esquecido<br />

é Notícias de uma guerra particular, dirigido<br />

por João Moreira Salles e Kátia Lund.<br />

Filmado no Morro Dona Marta,<br />

no Rio de Janeiro, entre 1998 e 1999,<br />

Notícias de uma guerra particular aborda<br />

este mesmo assunto: como é a vida nos<br />

morros, quais os problemas que seus<br />

habitantes enfrentam, e quão complicada<br />

é essa situação. Porém, existem diferenças<br />

significativas nesse documentário que<br />

merecem <strong>ser</strong> destacadas. Em vez de uma<br />

construção em que se vêem os fatos pela<br />

ótica de apenas uma personagem, nessa<br />

obra são mostradas várias perspectivas: a<br />

do morador, a do policial e a do traficante,<br />

o que transmite uma visão muito mais<br />

realista dos acontecimentos.<br />

Ao mesmo tempo em que busca<br />

uma forma de sobreviver, o traficante diz<br />

que “não quer machucar ninguém”. A<br />

impressão que se tem é que no seu modo<br />

de ver a atividade é como outra qualquer,<br />

com seus riscos e ganhos – mas muito<br />

maiores do que uma profissão regularizada.<br />

Ele faz o “<strong>ser</strong>viço” – e é cobrado por<br />

isso –, mas se tiver que tirar a vida de<br />

um policial, é o que vai fazer. Entradas<br />

e fugas da prisão são comuns, e pessoas<br />

são iniciadas no tráfico desde crianças.<br />

Em entrevista com Leandro, de 14 anos,<br />

ele responde que só fez até a 3ª série, mas<br />

sabe o nome de várias armas usadas no<br />

“<strong>ser</strong>viço”. Em outra cena, um jovem diz<br />

MARCO ZERO Curitiba, dezembro de 2009<br />

Notícias de uma<br />

guerra particular<br />

Walter Voigt Bach<br />

que já assaltou e já assassinou. Quando a<br />

equipe do documentário pergunta se ele já<br />

matou um policial, ele responde: “Ainda<br />

não tive essa oportunidade”. Nota-se o<br />

que a vida no meio dessa guerra re<strong>ser</strong>va<br />

para os mais jovens: nenhum estudo, nem<br />

futuro, apenas violência gerando violência<br />

para sobreviver.<br />

“Estou participando de uma guerra<br />

(...) mas volto para casa todo dia”,<br />

afirma o capitão Pimentel. Quando está<br />

equipado, é como se fosse invencível.<br />

Na guerra entre policial e traficante, não<br />

existe necessariamente um vencedor.<br />

Apenas quem fica vivo – para no dia<br />

seguinte encarar o combate de novo. É<br />

uma luta injusta, pois os oponentes estão<br />

com arsenal bélico mais potente que<br />

os policiais. De acordo com o capitão<br />

Pimentel, a família já nem pergunta mais<br />

como foi o dia.<br />

No meio desse fogo cruzado, está<br />

o morador do morro. Sem opção,<br />

acaba encontrando no tráfico alguém<br />

que o ajuda. Quando precisa de um<br />

remédio para o filho ou alguma outra<br />

coisa, a moradora recorre ao traficante,<br />

não a entidades assistencialistas. De<br />

certa forma, quem acaba ajudando a<br />

“comunidade” do morro é o bandido,<br />

pois o povo do tráfico faz “tudo que o<br />

governo não faz”, como respondem os<br />

presos aos berros. Se falharem com o<br />

pessoal que faz algo por eles, não quer<br />

dizer que estejam seguros pela proteção<br />

oficial, pois a polícia também representa<br />

uma ameaça. <strong>Um</strong>a moradora afirma:<br />

“quando o policial sobe no morro, vai<br />

preparado para agredir”.<br />

Enfim, Notícias de uma guerra particular<br />

é um documentário tão forte que pode<br />

chocar alguns espectadores, tamanho<br />

o caos da situação. Como citado<br />

anteriormente, o filme foi rodado em<br />

1998-99. Considerando-se a história<br />

contada por traficantes, policiais e<br />

moradores, cabe a quem assiste imaginar<br />

o desenvolvimento desse círculo vicioso.<br />

A obra oferece uma visão assustadora,<br />

mas extremamente realista do que<br />

poderia <strong>ser</strong> chamado um <strong>mundo</strong> à parte<br />

– mas está no Brasil.<br />

BOCA NO<br />

TROMBONE<br />

O que você<br />

mudaria no<br />

centro de<br />

Curitiba?<br />

“Eu tiraria o trânsito do<br />

centro e deixaria somente<br />

nas proximidades”.<br />

Simone Lima<br />

“Eu colocaria mais policiais no<br />

centro, melhoraria a segurança,<br />

principalmente no Largo da<br />

Ordem”.<br />

Guilherme Pereira<br />

“Eu gosto do Centro, não<br />

mudaria nada”.<br />

Rafael Gonçalves Cordeiro<br />

“Eu fecharia algumas ruas,<br />

deixaria abertas somente<br />

para transporte público”.<br />

Flávio Manfré<br />

“Não mudaria nada, tá bom<br />

como tá!”<br />

Camila Oliveira<br />

“Eu limparia os orelhões, tiraria<br />

esses papéis horríveis que ficam<br />

colados neles e tiraria a Guarda<br />

Municipal”.<br />

Fernanda Lima<br />

“Eu colocaria teto na XV”.<br />

Jonas Milan<br />

“Faria rodízio de veículos pelo<br />

final da placa, pararia um dia<br />

os de final par e no outro os<br />

ímpares”.<br />

Daylon Henrique<br />

“Se fosse possível, eu<br />

mudaria as pessoas,<br />

aumentaria o policiamento,<br />

pegaria todos os usuários<br />

de drogas e os traficantes e<br />

internaria para tratamento”.<br />

Juliane Corominas<br />

“Não mudaria nada”!<br />

Erivaldo Felipe


Curitiba, dezembro de 2009 MARCO ZERO<br />

PERFIL<br />

“O que aconteceu com Curitiba<br />

não é evolução, é retrocesso”<br />

Regiane Silva<br />

Nascida em Curitiba, em 9 de<br />

março de 1923, a escritora<br />

Liamir dos Santos Hauer<br />

mudou-se para Paranaguá aos cinco<br />

anos de idade, juntamente com seus<br />

pais, os professores Pompilia Lopes<br />

dos Santos e Dario Nogueira dos<br />

Santos, que foram nomeados para lecionar<br />

na Escola Normal Dr. Caetano<br />

Munhoz da Rocha, no litoral.<br />

Liamir estudou em Paranaguá<br />

do Jardim de Infância até os 15 anos,<br />

quando se casou com o seu professor<br />

e diretor do Ginásio, Ernani Santiago<br />

de Oliveira, com quem teve dois filhos,<br />

Ernani Filho e Leilah.<br />

Após o casamento, Liamir voltou<br />

para a capital e, na década de 50,<br />

ao lado de seu marido, então prefeito<br />

de Curitiba, dedicou-se a diferentes<br />

atividades sociais e políticas, como<br />

convinha a uma primeira-dama.<br />

Passado esse período, Liamir foi<br />

classificada em concurso para o cargo<br />

de escriturária do quadro de <strong>ser</strong>viços<br />

públicos do Paraná e começou<br />

a trabalhar na Biblioteca Pública e,<br />

posteriormente, na Escola de Música<br />

e Belas Artes do Paraná. Em 1977,<br />

desenvolveu o gosto pela literatura e<br />

dedicou-se inteiramente a ela, tendo<br />

hoje cinco livros publicados (O circo,<br />

O circo pegou fogo, Do trapézio para o <strong>mundo</strong>,<br />

Pra lá de Marrakech e Rescaldo).<br />

Hoje, a biografia dessa notável<br />

mulher está sendo escrita pelo poeta<br />

e vice-presidente do Centro de Letras<br />

do Paraná, Paulo Walback, sob o titulo<br />

Mulher Araucária, Frente-Verso e Reverso.<br />

Por que mulher araucária? Mulher<br />

Araucária por sua fibra e grandeza,<br />

afinal, trata-se de é uma árvore impoente,<br />

que não se curva ao tempo.<br />

A seguir, a escritora fala sobre<br />

sua obra e a cidade de Curitiba.<br />

A senhora escreveu um livro autobiográfico,<br />

O Circo, em 1977. Qual<br />

o assunto abordado nele?<br />

Nesse livro, falo de minha vida,<br />

do tempo que vivi em Paranaguá, de<br />

como foi bom. Ele é dedicado a meu<br />

irmão, Dario, companheiro de uma<br />

feliz infância, cuja perda havia sido<br />

recente. Escrever esse livro me aju-<br />

“Esses dias, fiquei por um tempo sentada na Rua XV<br />

e fiquei boba com as coisas que vi. Meninas com a<br />

barriga de fora naquele frio, mulheres grávidas com<br />

aqueles pircengs no umbigo...”<br />

dou a sair de uma depressão.<br />

O que levou à escolha de O Circo<br />

para título de seu primeiro livro?<br />

Eu não poderia deixar de falar no<br />

meu livro sobre o circo que montamos<br />

no quintal da chácara onde morávamos,<br />

em Paranaguá, com a colaboração<br />

da criançada. Foi ele que inspirou<br />

o titulo do meu livro.<br />

Como foi montar esse circo em<br />

seu quintal?<br />

A principio, tivemos que limpar<br />

o quintal, carpir, rastelar. Escolhemos<br />

essa área pelos bons galhos de<br />

goiabeira que tinha no local, essas<br />

árvores muito resistentes cujos galhos,<br />

mesmo os mais finos, podem<br />

<strong>ser</strong> dobrados até o chão sem lascar<br />

ou quebrar. Esses galhos foram usados<br />

de trapézio e de corda bamba.<br />

Usamos até os lençóis de minha mãe<br />

para construí-lo.<br />

Quais as lembranças que esse circo<br />

lhe traz?<br />

Principalmente de meu irmão,<br />

que foi quem me ajudou a construílo.<br />

Não só ele, outras pessoas também<br />

ajudaram, mas me lembra dele em especial.<br />

Me lembro de nossas travessuras,<br />

da dificuldade para construí-lo,<br />

de como foi difícil carregar para casa<br />

os sacos de <strong>ser</strong>ragem que buscávamos<br />

cheios na casa de um amigo.<br />

O circo tinha bilheteria?<br />

Sim, graças a nossa imaginação.<br />

Improvisamos com a tampa de uma<br />

privada aposentada amarrada entre as<br />

árvores. Quando o circo estava aberto,<br />

deixávamos a tampa levantada, e<br />

quando estava abaixado era porque<br />

estava fechado. Vendíamos entradas,<br />

que deviam custar 50 réis. Em cima<br />

da tampa tinha uma frase que dizia:<br />

Grande Circo Mirim!<br />

Trecho do livro Do trapézio para o <strong>mundo</strong><br />

Claudia Bilobran<br />

“Nessa época já havia punguistas aproveitadores da confusão para furtar<br />

nesses locais. Geralmente agiam em dupla: um pivete apalpava a nádega das<br />

mulheres e, enquanto elas largavam a alça da bolsa para se defenderem, o<br />

outro a esvaziava num zás. Depois dessa, não descuidei mais da minha bolsa,<br />

poderiam apalpar meu bumbum à vontade...”<br />

O seu livro O Circo pegou fogo fala dos<br />

escândalos de Curitiba. O que a senhora<br />

acha que mudou na cidade de<br />

Curitiba de ontem para a de hoje?<br />

Mudou barbaridade! Esses dias,<br />

fiquei por um tempo sentada na Rua<br />

XV e fiquei boba com as coisas que<br />

vi. Meninas com a barriga de fora<br />

naquele frio, mulheres grávidas com<br />

aqueles pircengs no umbigo... O que<br />

aconteceu em Curitiba não é evolução,<br />

é um retrocesso.<br />

Quais os escândalos de que a senhora<br />

fala em seu livro?<br />

Conto várias histórias, escândalos<br />

que aconteceram em Curitiba,<br />

só que uso nomes fictícios para não<br />

mexer com a imagem dessas pessoas.<br />

Mas quem conhece a história sabe de<br />

quem eu estou falando.<br />

Todas as mudanças na cidade foram<br />

para pior ou há características<br />

boas que foram mantidas?<br />

Para mim, as mudanças foram<br />

para pior. Na verdade, as características<br />

boas da cidade foram mantidas, o<br />

que mudou foi a índole das pessoas.<br />

Depois de seu primeiro livro, a senhora<br />

deixou de lado seu trabalho<br />

como escriturária e se dedicou somente<br />

à literatura?<br />

Na realidade, não deixei. Eu já estava<br />

aposentada, mas nem minhas amigas<br />

acreditaram que eu ia me dedicar a<br />

escrever... Não que elas achassem que<br />

eu não tinha capacidade – elas sabiam<br />

que eu escreveria até uma enciclopédia<br />

se fosse preciso –, mas, por eu <strong>ser</strong><br />

elétrica, elas não acreditavam que eu ia<br />

conseguir parar para escrever. Mas eu<br />

me sentei durante cinco anos e me dediquei<br />

somente a meu livro.<br />

Depois de sua dedicação à<br />

literatura, às pessoas e à vida, qual<br />

é a sua maior recompensa?<br />

Minha vida é uma recompensa!<br />

Tudo o que fiz, o reconhecimento das<br />

pessoas pelas coisas de valor, minha<br />

liberdade... Meu terceiro casamento, com<br />

Arnaldo Hauer, foi uma recompensa,<br />

assim como minha enteada, Ossy<br />

Hauer, que mora comigo e é minha fiel<br />

companheira. Ela foi a grande herança<br />

que Arnaldo me deixou.<br />

3


4<br />

MARCO ZERO Curitiba, dezembro de 2009<br />

SEBOS<br />

DO ANTIGO AO CONTEM<br />

Em busca<br />

de raridades<br />

Larissa Glass<br />

Num sebo, pode-se encontrar<br />

edições fora de circulação,<br />

livros raros, discos em vinil e<br />

até lançamentos usados a preços<br />

baixos, entre outras coisas<br />

interessantes.<br />

Devido à diversidade de produtos,<br />

os sebos atraem diferentes<br />

grupos de pessoas, como o<br />

colecionador como José Albano<br />

Fernandes Luiz, de Paranaguá,<br />

que sempre que possível vem a<br />

Curitiba e roda os sebos da cidade<br />

atrás de vinis e LPs para<br />

completar sua coleção de rock<br />

das décadas de 60 e 70.<br />

José Albano começou a colecionar<br />

discos aos 14 anos de<br />

idade e devido à mudança com<br />

o casamento acabou perdendo<br />

boa parte de sua coleção, que<br />

foi encontrar quase 30 anos<br />

mais tarde.<br />

Apaixonado por vinil, ele e<br />

sua esposa mantêm um tocadiscos<br />

na cozinha, onde escutam<br />

juntos os embalos da<br />

Jovem Guarda e dos Beatles,<br />

banda da qual ele possui quase<br />

todos os discos.<br />

Hoje, é possível encontrar diversos<br />

sebos na cidade. Alguns<br />

são mais populares, e seu foco<br />

são livros atuais e revistas. Há<br />

também os mais tradicionais, que<br />

mantêm oferecem peças mais<br />

raras, como é o caso do Sebo Arcádia,<br />

no centro da cidade. O estabelecimento<br />

conta com uma vasta<br />

opção, sendo possível encontrar<br />

desde os livros mais procurados a<br />

algumas peças raras.<br />

Para o proprietário João Nei de<br />

Almeida Barbosa, que trabalha há<br />

12 anos no ramo, ter livros raros é<br />

um atrativo maior e acaba fazendo<br />

parte de um acervo. Se for pensar<br />

na parte financeira, não rendem<br />

muito dinheiro, pois a procura por<br />

essas peças é bem menor.<br />

Albano: “Venho a Curitiba completar<br />

minha coleção de rock dos anos 70”<br />

Geralmente, são colecionadores<br />

que as procuram. A internet<br />

tem facilitado bastante o acesso.<br />

Os materiais vendidos no sebo<br />

são adquiridos de outros sebos<br />

que estão fechando ou de clientes<br />

que querem trocar ou vender seus<br />

produtos usados.<br />

Em seu acervo, a Arcádia conta<br />

com alguns livros autografados,<br />

como alguns de Juscelino Kubitschek,<br />

Clarice Lispector e as<br />

primeiras edições de Raquel de<br />

Queiroz, além dos importados,<br />

como uma obra de 1899, de Rainer<br />

Maria Rilke (Canção de amor<br />

e morte do Alferes Cristovão Rilke)<br />

em alemão. Este livro foi escrito<br />

em uma noite e foi o livro que<br />

tornou conhecido o autor.<br />

João Nei e sua esposa Adriana<br />

Chaiarelli, que também trabalha<br />

com ele, possuem uma coleção<br />

particular – ele na área de artes<br />

plásticas, e ela, de música.<br />

Mariana Lima<br />

Os discos de vinil, como a trilha do Festival de Woodstock, ainda são muito procurados nos sebos de Curitiba<br />

Em Curitiba, existem mais de 30 sebos, onde se po<br />

de livros e CDs antigos até uma variedade de prod<br />

Mariana Lima<br />

Andar pelos os corredores de uma<br />

loja de sebo é contemplar o passado<br />

junto com o presente. Dos clássicos<br />

ao contemporâneo, do brega ao cult,<br />

do trash ao intelectual. Pelos corredores,<br />

muitas vezes estreitos, dessas lojas,<br />

instaladas principalmente no centro de<br />

Curitiba, pode-se ob<strong>ser</strong>var nas prateleiras<br />

altas uma infinidade de títulos de<br />

livros para todas as áreas e gostos, autores<br />

e temas diferenciados.<br />

“A leitura é um hábito viciante<br />

para quem gosta”, diz Cristiane Marques,<br />

26 anos, frequentadora de sebos<br />

há seis anos. É uma sensação indescritível<br />

poder abrir um livro e sentir o<br />

cheiro de um objeto velho e imaginar<br />

quais as pessoas que o leram, quais as<br />

mãos que o tocaram, e porque está escrita<br />

aquela dedicatória a tal pessoa e<br />

o telefone anotado.<br />

Os sebos vendem histórias nos<br />

livros “ensebados” pelas velas do<br />

passado e fazem a história do comportamento<br />

atual. Em Curitiba, existem<br />

mais de 30 sebos espalhados pela<br />

cidade, onde podem <strong>ser</strong> encontrados<br />

não apenas livros usados e raridades,<br />

mas também livros atuais, novinhos<br />

em folha.<br />

Eles estão localizados em regiões<br />

centrais, bairros antigos, centros históricos<br />

e até feiras ao ar livre, como<br />

por exemplo aos domingos no Lar-


Curitiba, dezembro de 2009 MARCO ZERO<br />

PORÂNEO<br />

Mariana Lima<br />

de encontrar de tudo:<br />

utos inimagináveis<br />

go da Ordem. Embora o que esteja à<br />

venda sejam, principalmente, objetos<br />

usados, muitos proprietários de sebos<br />

têm-se utilizado de ferramentas modernas<br />

para divulgar seus produtos,<br />

seja por meio de lojas virtuais ou da<br />

“cibercultura”, com a troca de informações<br />

entre comunidades do Orkut.<br />

Nestas pode-se encontrar a história<br />

do dono de uma loja e comprar pela<br />

a internet produtos ou descobrir que<br />

um livro lido em Curitiba está sendo<br />

folheado em Maceió por outra pessoa<br />

de uma de cultura e clima diferentes.<br />

O mais antigo<br />

O sebo mais antigo de Curitiba,<br />

a “Feira dos Livros Usados”, existe há<br />

65 anos e atualmente fica no centro,<br />

na Rua Emiliano Perneta, 325. Há<br />

55 anos, é administrado por Irajá<br />

Souza Reis. Ele conta que desde<br />

os dez anos de idade acompanha<br />

a rotina do negócio de seu pai, o<br />

fundador, Claudio Luis Reis.<br />

Irajá lembra que entre os frequentadores<br />

do sebo que fazem<br />

parte da história da cidade, estão<br />

Dalton Trevisan, Jaime Lernner,<br />

Rocha Pombo e o próprio Emiliano<br />

Perneta.<br />

O sebo Feira de Livros Usados<br />

foi fundado em 1942 com<br />

o nome de “Agência Atômica”,<br />

numa referência à bomba atômica,<br />

e ficava na Praça Osório. Depois<br />

foi para a Rua Desembargador<br />

Westhephalen, com o nome<br />

de “Ao desaperto”, por causa do<br />

pós-guerra. “Alguns comerciantes<br />

vendiam livros para desapertar”,<br />

conta Reis. Depois, foi para a Rua<br />

Voluntários da Pátria e em segida<br />

se estabilizou na Rua Emiliano<br />

Perneta. Reis diz que no sebo<br />

os livros mais procurados são os<br />

clássicos da literatura brasileira,<br />

como Machado de Assis e José<br />

de Alencar.<br />

Hoje, não é difícil encontrar<br />

em Curitiba colecionadores de<br />

música, amantes da velha vitrola,<br />

que saem em busca daquele vinil<br />

raro de certo cantor ou banda.<br />

Procuram desde Beatles e Pink<br />

Floyd a Guilherme Arantes, Pepeu<br />

Gomes, Secos & Molhados e<br />

Roberto Carlos. Os colecionadores<br />

de CDs, DVDs, gibis, revistas<br />

e VHS também encontram nesses<br />

locais o seu espaço.<br />

Estudantes e apreciadores<br />

de arte procuram filmes, gravuras,<br />

quadros, camisetas de bandas,<br />

vitrolas e peças antigas para coleção,<br />

como miniaturas de desenhos<br />

animados antigos e manequins.<br />

Nessa mistura, é possível depararse<br />

com uma máquina de costura<br />

de ferro ao lado de mestre Yoda,<br />

de Guera nas Estrelas, junto com<br />

Bart Simpson e a camiseta da banda<br />

Kiss. Os sebos trazem de volta<br />

o passado, num complemento ao<br />

presente fragmentado. Para todos<br />

estilos e gostos.<br />

<strong>Um</strong>a viagem<br />

pelo tempo<br />

Claudia Bilobran<br />

Não é novidade para os apreciadores<br />

de uma boa leitura que<br />

os grandes livros estão nos sebos,<br />

lojas que só vendem livros antigos,<br />

obras raras, discos de vinil e coisas<br />

desse gênero.<br />

As livrarias modernas, que contam<br />

com ciber-cafés, computadores de<br />

última geração e livros novinhos em<br />

folha, além de oferecer um preço não<br />

muito camarada, muitas vezes não<br />

possuem um acervo tão rico e culturalmente<br />

interessante quanto um<br />

sebo.<br />

Todo sebo tem seu charme, seja<br />

pela música de fundo, pela decoração<br />

ou por aquele cheiro de papel<br />

antigo, amarelado e cheio de histórias<br />

para contar.<br />

Há aproximadamente uma década,<br />

era difícil adquirir uma obra literária<br />

rara, ou um livro técnico muito<br />

importante para o universitário. Porém,<br />

nos dias atuais, com a ajuda da<br />

internet e com a inclusão digital, tudo<br />

ficou mais fácil, pois os sebos também<br />

aderiram à era digital.<br />

Veja algumas dicas de sites de sebos<br />

virtuais:<br />

http://www.estantevirtual.com.br<br />

http://www.traca.com.br<br />

http://www.sebol.com.br<br />

http://www.sebosonline.com<br />

http://www.reler.com.br<br />

http://www.tabernalivraria.com.br<br />

http://www.espacodolivro.com.br<br />

http://www.sebopapirus.com.br<br />

http://www.livrariacultura.com.br<br />

A origem dos sebos<br />

Os sebos surgiram no século<br />

XVI, na Europa, quando os mercadores<br />

começaram a vender a<br />

pesquisadores papiros e documentos<br />

importantes da época.<br />

Segundo o historiador Leonardo<br />

Dantas Silva, esses mascates<br />

eram chamados de alfarrabistas<br />

(alfarrábio significa livro velho<br />

e raro), nome que os acompanha<br />

até hoje em países como a França<br />

e a Bélgica, onde essa atividade<br />

é considerada essencial para<br />

historiadores e pesquisadores.<br />

O nome sebo vem do tempo<br />

em que não havia energia elétrica,<br />

e as pessoas liam à luz de<br />

velas, sujando e engordurando<br />

os livros. O contato com as velas<br />

deixava o livro todo engordurado,<br />

ensebado, o que originou a<br />

expressão sebo para o comércio<br />

de livros usados.<br />

Os primeiros sebos no Brasil<br />

foram montados por intelectuais<br />

no Rio de Janeiro, no final do século<br />

XIX, e logo se espalharam<br />

pelo território nacional.<br />

5<br />

DICAS DE SITES<br />

Claudia Bilobran<br />

“Dos diversos instrumentos<br />

utilizados pelo homem, o<br />

mais espetacular é, sem<br />

dúvida, o livro. Os demais<br />

são extensões de seu próprio<br />

corpo. O microscópio, o<br />

telescópio são extensões<br />

de sua visão; o telefone é<br />

a extensão de sua voz; em<br />

seguida, temos o arado e a<br />

espada, extensões de seu<br />

braço. O livro, porém, é<br />

outra coisa: o livro é uma<br />

extensão da memória e da<br />

imaginação.”<br />

Jorge Luis Borges


6<br />

LENDAS URBANAS<br />

Maria da Conceição Bueno,<br />

conhecida popularmente como<br />

Maria Bueno, nasceu no dia 8 de<br />

dezembro de 1854, dia de Nossa<br />

Senhora da Conceição, daí o nome<br />

Maria da Conceição. Sua história é<br />

envolta em mistérios desde o seu<br />

nascimento. Conta-se que, quando<br />

grávida, sua mãe, Júlia, teve a visão<br />

de uma santa que dizia que seu<br />

bebê <strong>ser</strong>ia uma menina com uma<br />

missão muito importante.<br />

Mas, diferentemente da tradicional<br />

vida de santa, Maria Bueno<br />

veio jovem para Curitiba e, contrariando<br />

os costumes da época, frequentava<br />

bailes e festas, circulando<br />

pela cidade. Teve vários envolvimentos<br />

sentimentais, despertando<br />

paixão num soldado do Exército,<br />

Ignácio José Diniz, com quem viveu<br />

sem se casar legalmente<br />

A morte<br />

São muitas as histórias em<br />

torno da morte de Maria Bueno.<br />

Ela foi assassinada na noite de 29<br />

de janeiro de 1893, com 28 anos,<br />

quando passava por um matagal na<br />

rua Campos Gerais, a atual Vicente<br />

Machado, entre as ruas Visconde<br />

de Nácar e Visconde do Rio Branco,<br />

zona do meretrício na época.<br />

Teve a cabeça e as mãos quase<br />

separadas do corpo a navalhadas,<br />

por Ignácio José Diniz. Motivo?<br />

Ciúmes. Segundo relatos dos<br />

seus fiéis, Maria Bueno foi morta<br />

ao resistir à tentativa de Diniz de<br />

estuprá-la, quando voltava de seu<br />

trabalho como lavadeira. Já seus<br />

difamadores afirmam que Diniz,<br />

seu amante (já que ela não era casada,<br />

nem ele era seu marido), a teria<br />

proibido de ir ao bordel naquela<br />

noite. Ela desobedeceu. Como castigo,<br />

foi assassinada.<br />

José Diniz foi preso, julgado<br />

e… absolvido.<br />

Por <strong>ser</strong> prostituta, segundo<br />

alguns, os padres da Matriz<br />

recusaram-se a enterrá-la. Missa?<br />

Muito menos. A princípio, seu tú-<br />

mulo era comum, sem capela, no<br />

mesmo cemitério Municipal São<br />

Francisco de Paula. Contava apenas<br />

com cimento e uma pequena<br />

placa. Outro motivo da recusa dos<br />

padres <strong>ser</strong>ia por Bueno <strong>ser</strong> praticante<br />

de outra religião.<br />

Canonização<br />

Embora muitas pessoas digam<br />

que Maria Bueno tem operado milagres,<br />

segundo Jadir Pessette Buzanello,<br />

integrante da irmandade Maria<br />

da Conceição Bueno, o processo<br />

de canonização tem um custo muito<br />

alto e teria de <strong>ser</strong> iniciado por uma<br />

organização com provas escritas e<br />

científicas dos milagres. “Milagres<br />

acontecem todos os dias e a irmandade<br />

já pensou em iniciar este processo,<br />

mas as despesas dependeriam<br />

de doações e são poucas. Nem sede<br />

temos ainda “, diz Jadir.<br />

Ele afirma que, na visão da<br />

Igreja, Maria Bueno era “mulher de<br />

MARCO ZERO Curitiba, dezembro de 2009<br />

Maria Bueno: verdade ou crença popular?<br />

Vanusa Pereira da Silva<br />

Túmulo de Maria Bueno no Cemitério Municipal de Curitiba<br />

Claudia Bilobran<br />

A repercussão da morte de Maria Bueno chamou<br />

muito a atenção na época pelo fato de ter sido<br />

o primeiro crime passional de Curitiba<br />

vida fácil”, o que ele considera uma<br />

forma preconceituosa de qualificála,<br />

já que ninguém sabe verdadeiramente<br />

a profissão de Maria Bueno<br />

e, mesmo que fosse uma prostituta,<br />

esse fato não deveria <strong>ser</strong> considerado,<br />

já que Maria Madalena, santa<br />

abençoada por Jesus e reconhecida<br />

pela Igreja, foi prostituta.<br />

O culto a Maria Bueno<br />

A repercussão da morte chamou<br />

muito a atenção na época<br />

pelo fato de ter sido o primeiro crime<br />

passional de Curitiba. Até então,<br />

não havia registro de um crime<br />

como esse. Chocada, a população,<br />

por curiosidade ou comoção, começou<br />

a frequentar o túmulo de<br />

Maria Bueno. Logo, começaram a<br />

surgir as primeiras placas de agradecimentos<br />

colocadas por fiéis que<br />

diziam ter sido agraciados por Maria<br />

Bueno.<br />

Em 1962, foi inaugurada na<br />

primeira Rua do Cemitério São<br />

Francisco de Paula a capela de Maria<br />

Bueno, onde estão até hoje seus<br />

restos mortais. Há na capela uma<br />

imagem em tamanho real, local<br />

para se acenderem velas à alma de<br />

Maria Bueno e para oração.<br />

Santa ou não, no feriado de<br />

Finados, segundo a administração<br />

do cemitério, o túmulo de Maria<br />

Bueno recebe em média 3 mil visitantes<br />

por dia. O muro em frente à<br />

capela está quase tomado por placas<br />

de agradecimentos, com datas<br />

que vão de 1983 até os dias atuais.<br />

Fiéis de todo o Brasil e do exterior<br />

frequentam o túmulo, aberto todos<br />

os dias.<br />

Os fiéis<br />

O túmulo de Maria Bueno é<br />

frequentado por devotos de todas<br />

as idades e classes sociais, mas há<br />

boatos de que os devotos mais fervorosos<br />

são infratores e foras da lei<br />

que diante do túmulo costumam<br />

relatar seus crimes e pedir proteção.<br />

Reza a lenda que, por ter sido<br />

assassinada por um policial, Maria<br />

Bueno tenha se tornado adversa a<br />

policiais e homens da lei, tornandose<br />

defensora e protetora dos bandidos<br />

e infratores.<br />

Tal ideia é contrariada pelo<br />

fato de sua capela e a irmandade<br />

Maria da Conceição Bueno <strong>ser</strong>em<br />

gerenciadas por Dona Lenira, policial<br />

investigadora aposentada.<br />

Devoção ou desespero?<br />

Diante da muitas crises do<br />

<strong>mundo</strong> de hoje, o povo anda em<br />

busca de consolo espiritual e cria<br />

suas próprias devoções.<br />

Assim, no mesmo cemitério,<br />

na mesma rua onde se encontra o<br />

túmulo de Maria Bueno, já se iniciou<br />

um novo culto. A nova “santa”<br />

é a menina Eunice Taborda<br />

Ribas, nascida em 15 de janeiro<br />

de 1923 e falecida aos seis anos,<br />

em 20 de julho de 1929. Já podem<br />

<strong>ser</strong> encontradas no túmulo<br />

da menina as primeiras placas de<br />

agradecimento. O motivo da devoção<br />

ainda é um mistério.


Curitiba, dezembro de 2009 MARCO ZERO<br />

TRILHAS DO TEMPO<br />

Marco Zero de Curitiba<br />

é pouco conhecido<br />

Marco Zero, na Praça Tirantes foi o local onde nasceu oficialmente a cidade de Curitiba<br />

Poucas são as pessoas que param para ob<strong>ser</strong>var as<br />

informações contidas nos locais públicos de Curitiba<br />

Letícia Lemos<br />

Apesar de estar na região onde<br />

se iniciou oficialmente a cidade de<br />

Curitiba, o marco zero ainda é praticamente<br />

desconhecido dos habitantes<br />

da capital paranaense. Além da<br />

falta de conhecimento, um dos pretextos<br />

para isso é a correria do dia a<br />

dia, pois a maioria das pessoas não<br />

pára para ob<strong>ser</strong>var as informações<br />

que constam nos locais públicos.<br />

A estudante de radiologia Alana<br />

Silva, 22, disse que não sabia onde<br />

fica o marco zero da cidade e que na<br />

escola os professores nunca haviam<br />

falado no assunto. Mas gostou de saber<br />

que um local tão importante está<br />

tão próximo dela. Apesar de sempre<br />

passar pela Praça Tiradentes, a cabeleireira<br />

Maria Carolina, 52, também<br />

desconhece o monumento. Para ela,<br />

o governo deveria divulgar mais o<br />

patrimônio histórico da cidade.<br />

O marco zero de Curitiba fica na<br />

Praça Tiradentes, que teve outros dois<br />

nomes: Largo da Matriz e Largo Dom<br />

Pedro II, este último em homenagem<br />

ao imperador, que visitou a cidade em<br />

1880. Logo no ano seguinte, passou<br />

a <strong>ser</strong> nomeada Praça Tiradentes em<br />

consequência do regime republicano.<br />

Na região, há um monolito histórico<br />

com a Cruz de Cristo, que simboliza<br />

o poder legalmente constituído pelo<br />

rei de Portugal no dia 29 de março de<br />

1693, dia do aniversário da cidade.<br />

Reforma<br />

A praça passou por uma reforma<br />

no ano passado cuja maior intervenção<br />

foi no piso, que já estava deteriorado<br />

devido às raízes expostas<br />

das árvores, causando problemas de<br />

acessibilidade. O novo piso de concreto<br />

foi elevado cerca de cinco centímetros,<br />

fazendo com que as raízes<br />

das árvores não o atinjam. A iluminação<br />

foi reforçada, melhorando a<br />

segurança da população.<br />

A dona de casa Ana Carvalho, 41,<br />

disse estar muito feliz com a reforma,<br />

pois antes tinha medo de passar pelo<br />

local em virtude dos altos índices de<br />

criminalidade e hoje traz os amigos de<br />

fora da cidade para ver o marco zero.<br />

A Praça Tiradentes possui o<br />

desenho original do século XX, que<br />

Hamilton Júnior<br />

foi mantido. O trabalho de reforma<br />

teve o acompanhamento de um arqueólogo,<br />

que orientou a renovação<br />

sem tirar a originalidade do local. O<br />

formato dos canteiros, visto de cima,<br />

lembra uma estrela com uma rosácea<br />

no centro da praça.<br />

Segundo a funcionária pública<br />

Genilda Soares, 45, que faz a limpeza<br />

da praça há cerca de seis anos, a<br />

reforma ajudou muito no seu trabalho,<br />

pois está conseguindo con<strong>ser</strong>var<br />

mais o jardim. Ela diz que as pessoas<br />

estão colaborando, e que antigamente<br />

haviam muitos drogados que permaneciam<br />

o dia todo no local, dificultando<br />

seu trabalho.<br />

O mesmo afirma seu colega de<br />

trabalho Carlos Paulo de Godoy, 51,<br />

que há cerca de seis meses faz a limpeza<br />

da região, de segunda a sexta-feira,<br />

das 9 horas da manhã até as 17h30min,<br />

cuidando do jardim. “Tenho muita satisfação<br />

em trabalhar aqui na praça.<br />

É um ambiente gostoso, com pessoas<br />

que respeitam nosso trabalho”.<br />

Godoy faz apenas um reparo: “Acho<br />

que a única coisa que está faltando é<br />

um banheiro público”.<br />

SERVIÇO<br />

PÚBLICO<br />

Agência do Trabalhador<br />

Rua Pedro Ivo, 744<br />

Fones: (41) 3883-2200 • 3883-2500<br />

Horário de atendimento: de segunda a<br />

sexta-feira, das 8h às 16h.<br />

Site: http://www.setp.pr.gov.br<br />

A Agência do Trabalhador conta com<br />

atendimento para informações e encaminhamento<br />

do seguro desemprego, além<br />

de intermediação de mão de obra para<br />

<strong>ser</strong>viços temporários ou efetivos.<br />

Ministério do Trabalho<br />

Rua José Loureiro, 574<br />

Fone: 3219-7700<br />

Site: http://www.mte.gov.br<br />

Ministério da Fazenda<br />

Rua João Negrão 246 6º and.<br />

Fones para Curitiba e Região<br />

Metropolitana: 3350-5009 •<br />

3222-5863 (ligação local)<br />

Fone para outras localidades:<br />

0800-41-1528 (ligação gratuita).<br />

Atendimento de segunda a sexta-feira,<br />

das 7h às 19h.<br />

Site: http://www.fazenda.pr. gov.br<br />

Delegacia da Mulher<br />

Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 480<br />

Fone: 3223-5323<br />

Delegacia de Polícia Civil<br />

Cepol - Centro de Comunicações<br />

Av. Pres. Getúlio Vargas, 430 - Rebouças<br />

Fone: 3324-3020<br />

Secretaria de Estado da<br />

Justiça e da Cidadania<br />

Palácio das Araucárias<br />

Rua Jacy Loureiro de Campos S/N - 2º<br />

andar. Fone: 3221-7200<br />

Delegacia de Homicídios<br />

(Denúncias)<br />

Avenida sete Setembro, 2007<br />

Fone: 3363-0121<br />

Guarda Municipal<br />

R. Pres. Faria 451<br />

Fone: 3222-8010<br />

Serviço Municipal de Homeopatia<br />

Av. Mal Floriano Peixoto, 250 - 6º andar<br />

Fone: 3321-2777<br />

Instituto Médico Legal (IML)<br />

Av. Visc. de Guarapuava, 2652<br />

Fone: 3281-5600<br />

Unidade Municipal<br />

de Saúde da Mulher<br />

Av. Mal Floriano Peixoto, 250<br />

Fone: 3232-5411<br />

Hospital de Clínicas<br />

R. Gen. Carneiro, 181 - Alto da Glória<br />

Fone: 3360-1800<br />

Liceu de Ofícios<br />

Fone: 3321-2645<br />

Site: http://www.fas.curitiba.pr.gov.br<br />

Horário de atendimento: de segunda a<br />

sexta-feira, das 8h às 22h.<br />

Rua da Cidadania<br />

- Matriz<br />

- Praça Ruy Barbosa<br />

Fone: 3323-4474<br />

Fax: 3324-2552<br />

7


8<br />

ENSAIO<br />

MARCO ZERO Curitiba, dezembro de 2009<br />

Cenas do cotidiano<br />

Texto e fotos de Claudia Bilobran<br />

O jornal Marco Zero registrará as cenas<br />

do dia a dia do centro de Curitiba.<br />

Mostrará a rotina das pessoas que passam<br />

pelas ruas e avenidas e dos que moram<br />

em bancos ou sob marquises. Imagens<br />

curiosamente engraçadas, ou tristes,<br />

porém que revelam a realidade e os<br />

costumes dos caminhantes e moradores<br />

da região central da cidade.

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