Trabalhos Selecionados para Apresentação - Unigranrio
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OBTENÇÃO E ISOLAMENTO DE SPOROTHRIX SCHENCKII DE GATOS<br />
URBANOS DA BAIXADA FLUMINENSE- RIO DE JANEIRO<br />
Mariana Saraiva Pedro ¹<br />
Alexandre de Pina Costa 2<br />
A esporotricose é uma micose causada, na maior parte dos casos, por implantação traumática do<br />
fungo dimorfo Sporothrix schenckii (Ramos- e- Silva 2007). Este é um fungo saprófita amplamente<br />
disperso na natureza (Schell, 1998) encontrado em solo rico em matéria orgânica em decomposição,<br />
que cresce como filamentoso de 25o a 300C e na forma de levedura a 37oC, especialmente em<br />
climas temperados e tropicais (Rippon J 1988).<br />
O diagnóstico laboratorial da esporotricose é feito pelo isolamento do fungo de material coletado da<br />
lesão, obtido através de swab, raspagem ou fragmentos de biópsia (Kauffman 1999). O meio<br />
utilizado <strong>para</strong> o isolamento é o ágar Sabouraud com cloranfenicol com ou sem cicloheximida<br />
(Moura et al,1994).<br />
Como constatado por Schubach (2005), atualmente os felinos domésticos são os principais<br />
transmissores dessa doença no estado do Rio de janeiro de modo que a ausência de um controle de<br />
esporotricose felino e fatores comportamentais desses animais podem ter contribuído <strong>para</strong><br />
disseminação da micose. Além disso, a interrupção do tratamento nos gatos, o abandono de animais<br />
infectados sem tratamento ou sacrifício desses animais com abandono dos corpos em terrenos<br />
baldios e dificuldade de se levar o tratamento até o final, são entraves <strong>para</strong> tentativa de controle<br />
dessa epidemia (Barros et al, 2010)<br />
A ocorrência de esporotricose em animais, principalmente em gatos, têm sido descrita em diversos<br />
países, assim como no Brasil (Barros et al, 2010). No entanto, a doença assumiu proporções<br />
epidêmicas no estado do Rio de Janeiro onde há mais de 12 anos ocorre uma epidemia de<br />
esporotricose com transmissão zoonótica.<br />
Dentre os 1848 casos de esporotricose humana diagnosticados entre 1997 e 2007 pelo Instituto de<br />
Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC/Fiocruz), 94,5% eram provenientes dos municípios do Rio<br />
de Janeiro, Duque de Caxias, São João de Meriti, Nova Iguaçu, Nilópolis, Belford Roxo e<br />
Mesquita. Tavares (2010) demonstrou que o município de Duque de Caxias já apresentava um<br />
número significativo de casos da doença nos primeiros três anos do estudo (1997 a 2000) com um<br />
contínuo aumento ao longo dos anos, representando a área com maior densidade de casos.<br />
A real incidência no Estado do Rio de Janeiro é desconhecida, pois a doença não é um agravo de<br />
notificação compulsória. Foram registrados até dezembro de 2009, aproximadamente 2200 casos<br />
humanos, 3244 gatos e mais de 120 cães foram diagnosticados com esporotricose no IPEC (Barros,<br />
et al, 2010).<br />
Diante deste contexto, objetivou-se com essa pesquisa a obtenção e o isolamento do fungo<br />
Sporothrix schenckii em gatos atendidos no Hospital Veterinário da <strong>Unigranrio</strong>, localizado no<br />
município de Duque de Caxias no período de setembro de 2010 a abril de 2011.<br />
Foi realizado estudo descritivo do isolamento do fungo Sporothrix schenckii de gatos atendidos no<br />
Hospital Escola de Medicina Veterinária da <strong>Unigranrio</strong>, no período de setembro de 2010 a abril de<br />
2011, e o isolamento do fungo foi realizado no laboratório multidisciplinar da <strong>Unigranrio</strong>, ambos no<br />
município de Duque de Caxias/RJ.<br />
Durante este período, foram coletadas amostras durante cinco meses, totalizando 70 felinos (Felis S.<br />
catus, Linnaeus, 1758), independente da raça, sexo e idade. Os animais foram divididos em dois<br />
grupos: gatos com lesões cutâneas e gatos sem lesões cutâneas.<br />
A coleta de dados dos animais foi feita por meio de um formulário padronizado, contendo<br />
informações sobre dados sócio-demográficos, hábitos sociais, e históricos de castração e de<br />
____________________<br />
¹ Discente do Curso Medicina Veterinária, UNIGRANRIO – Bolsista de Iniciação Científica, FUNADESP<br />
2 Docente da Escola de Ciências da Saúde, UNIGRANRIO<br />
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esporotricose. Além disso, os proprietários foram informados a respeito da doença e sobre seu<br />
tratamento, e do risco da transmissão zoonótica.<br />
As amostras foram coletadas com auxílio de swabs passados nas bordas das lesões dos animais que<br />
apresentavam lesões cutâneas. Nos animais que não apresentavam lesões nem suspeita de<br />
esporotricose, as amostras foram coletadas com swabs passados sob as unhas, de preferência dos<br />
membros anteriores.<br />
Os animais foram manipulados com a utilização de equipamentos de proteção individual, como<br />
luvas e jaleco. Em todas as coletas de amostras foram utilizados swabs estéreis com uso de<br />
conservante que foram mantidas sobre refrigeração até o momento de serem semeadas no<br />
laboratório, não excedendo 4 horas após as coletas.<br />
As amostras foram semeadas em placas de Petri (90x15mm), contendo aproximadamente 30 mL de<br />
meio Ágar Sabouraud com cloranfenicol e mantidas a 26oC por 12 dias. Para a identificação do<br />
fungo, foram observadas as características macroscópicas da colônia seguido da morfologia<br />
microscópica das estruturas fúngicas em microscopia óptica (Bioval L2000) no aumento de 400x.<br />
Foram atendidos 70 gatos sendo que 45 não apresentavam lesões cutâneas (grupo 1) e 25<br />
apresentavam ( grupo 2).<br />
No grupo 1, 80% (n=36) das amostras foram negativas, 9% (n=4) positivas e obtivemos 11%( n=5)<br />
de perdas (figura 1). E no grupo 2, observaram-se 76%(n=19) de amostras positivas, 16% (n=4)<br />
negativas e 8% (n=2) perdas (figura 2).<br />
A associação entre os resultados da cultura e as variáveis estudadas será analisada pelo teste do quiquadrado<br />
<strong>para</strong> cada grupo (1 e 2).<br />
Gatos com manifestações clínicas da esporotricose são os principais transmissores <strong>para</strong> seres<br />
humanos e animais, porém Souza et al (2006), detectaram a presença do fungo sob unhas de gatos<br />
saudáveis. Nosso estudo também pesquisou o fungo em gatos saudáveis e sob suas unhas onde foi<br />
possível encontrar o Sporothrix schenckii. Isso ressalta a importância dos gatos como a mais<br />
importante espécie do ponto de vista epidemiológica da doença, uma vez que mesmo sem<br />
manifestar os sinais clínicos, pode haver a transmissão (Shubach et al, 2005).<br />
O local de obtenção das amostras foi o Hospital Escola de Medicina Veterinária onde se atende<br />
diariamente uma diversidade de animais, tendo o cão como principal paciente. Em relação aos<br />
gatos, uma média de 15 são atendidos mensalmente. Como tivemos seis meses de coleta de<br />
amostras e no final obtivemos 70 gatos no projeto, esse número de animais ficou dentro do esperado<br />
embora ficasse aquém <strong>para</strong> um estudo mais abrangente da doença. O pequeno número de animais<br />
suspeitos pode ser justificado pelo fato, que no IPEC- FIOCRUZ o departamento de<br />
dermatozonoses possibilita atendimento e tratamento gratuito <strong>para</strong> animais suspeitos de<br />
esporotricose.<br />
Todos os proprietários que aceitaram participar e autorizaram a coleta de material nos seus gatos,<br />
foram alertados sobre a doença tais como manifestações clínicas, transmissão e tratamento,<br />
ressaltando que este é fundamental <strong>para</strong> recuperação do animal. Outro ponto abordado foi o impacto<br />
da doença na saúde pública.<br />
Algumas amostras foram classificadas como perdas, pois devido ao tipo de coleta empregada,<br />
houve contaminação principalmente de fungos ambientais que possivelmente competiram no meio<br />
de cultura com Sporothrix schenckii dificultando seu crescimento. Outro aspecto, é que alguns<br />
gatos sintomáticos já haviam iniciado o tratamento com itraconazol interferindo no crescimento do<br />
fungo (Sidrim e Rocha, 2006).<br />
Infelizmente não existe por parte do poder público nenhum programa de controle da esporotricose<br />
no estado do Rio de Janeiro nem no Brasil, que seria de grande importância <strong>para</strong> conter a<br />
disseminação da epidemia. Entre outros aspectos, o controle de animais de rua, a posse responsável,<br />
castração e capturas de animais errantes são pontos chaves no controle.<br />
Com isso, concluímos que a esporotricose é uma doença instalada na baixada fluminense, e que<br />
gatos sintomáticos e ate mesmo aparentemente saudáveis podem disseminar o agente, devido ao<br />
hábito dos gatos arranharem suas unhas em madeiras e troncos de árvores, locais estes que são<br />
reservatórios do Sporothrix schenckii.<br />
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
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