Revista - Colégio Sagrado Coração de Maria
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a nossa gente<br />
Cada aluno...<br />
sempre um <strong>de</strong>safio!<br />
Voltamos a entrevistar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> portas<br />
na rubrica A Nossa Gente. A professora<br />
Elsa Coelho é conhecida <strong>de</strong> todos. É<br />
docente <strong>de</strong> primeiro ciclo e pelas suas mãos<br />
passaram muitas centenas <strong>de</strong> meninos e<br />
meninas, cujos rostos infantis “sofreram”<br />
a transformação do crescimento e da<br />
mudança. A nossa entrevistada trabalha<br />
no colégio há 19 anos e, por certo, já<br />
conhece todos os cantos à casa. De carácter<br />
entusiasta e aberto à inovação, <strong>de</strong>cidimos<br />
trocar “dois <strong>de</strong>dos <strong>de</strong> conversa”, pois agora<br />
é a nossa vez <strong>de</strong> a conhecermos melhor.<br />
Olhares: Por certo, lembra-se dos dias em que começou<br />
a leccionar no nosso colégio. Quais são as diferenças<br />
que mais sobressaem entre o passado e o presente da<br />
nossa escola?<br />
Elsa Coelho: Claro que me lembro do primeiro dia em que<br />
comecei a trabalhar no <strong>Colégio</strong>, como o po<strong>de</strong>ria<br />
esquecer! Era tão mais nova, no início<br />
da vida adulta, com sonhos e projectos, cheia<br />
<strong>de</strong> uma energia que molda essa ida<strong>de</strong>, mas<br />
que felizmente me tem acompanhado ao<br />
longo dos anos.As diferenças são algumas...<br />
mais físicas que humanas. Cheguei uns anos<br />
antes das obras do edíficio que é um ex libris<br />
do nosso <strong>Colégio</strong>. Por isso, o espaço era diferente,<br />
assim como as salas, as escadas, os<br />
jardins...até os cheiros!E ao longo dos anos,<br />
muitas pessoas foram passando. No entanto, há coisas que<br />
permanecem iguais. Não posso <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> referir o espírito<br />
e a <strong>de</strong>dicação que todas as Irmãs e a Comunida<strong>de</strong> Educativa<br />
colocam no seu trabalho diário ao longo <strong>de</strong> todos estes<br />
anos.<br />
O: Apesar <strong>de</strong> muitos pensarem que ser professor é<br />
“passar sempre pelas mesmas coisas” e “dizer sempre<br />
as mesmas coisas”, a verda<strong>de</strong> é que não será bem assim.<br />
De que modo está presente a mudança, e as novas<br />
i<strong>de</strong>ias no dia a dia <strong>de</strong> um professor <strong>de</strong> 1º ciclo?<br />
EC: Cada ano, cada dia, cada turma, cada aluno...sempre um<br />
<strong>de</strong>safio. Trabalho com a vida ou melhor com vidas. Nunca<br />
passamos pelas mesmas coisas, apesar <strong>de</strong> querer que os<br />
alunos aprendam o mesmo que os pais e os avós, nunca a<br />
forma é igual. Tentam-se novas estratégias, novos métodos<br />
que permitam tornar as aprendizagens significativas,<br />
que levem os alunos a consciencializar a própria estrutura<br />
do conhecimento, a fim <strong>de</strong> melhor o utilizar. O professor<br />
do 1ºciclo tem <strong>de</strong> ser criativo, motivador, sempre inquieto,<br />
aberto ao que possa servir o seu acto <strong>de</strong> educar. É um professor<br />
que <strong>de</strong>ve colaborar com as mudanças sociais e públicas<br />
e ampliar o horizonte da compreensão crítica da sua<br />
actuação. É um profissional que possui ginástica mental e<br />
flexibilida<strong>de</strong> cognitiva que reflecte na acção e sobre a acção.<br />
Os nossos alunos não apren<strong>de</strong>m se nós oferecermos basicamente<br />
a mesma forma <strong>de</strong> ensinar a quase todos. Cabe pois,<br />
ao professor estar atento aos <strong>de</strong>sejos dos alunos, colaborar<br />
e cooperar no seu empenho, fornecendo sem preconceitos.<br />
O: É, no entanto, difícil inovar todos os dias. Como é que<br />
um professor se po<strong>de</strong> reinventar, perante a sua turma?<br />
EC: Nem sempre se inova, há activida<strong>de</strong>s que se repetem<br />
porque assim é necessário, há rotinas saudáveis, necessárias<br />
para quem está a crescer. O bom-senso e o conhecimento<br />
consciente do alcance dos nossos actos educativos po<strong>de</strong>m<br />
“salvar vidas” ou con<strong>de</strong>ná-las a um futuro menos feliz<br />
e inadaptado. Todas as experiências <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong>vem<br />
ser significativas, integradas, diversificadas, activas e<br />
sociabilizadoras.Temos <strong>de</strong> inventar, todos os dias, formas <strong>de</strong><br />
trabalhar que permitam que cada aluno adquira plenamente,<br />
segundo o seu ritmo e a sua especificida<strong>de</strong> as aprendizagens<br />
curriculares <strong>de</strong> que irá necessitar ao longo da vida. E,<br />
nada melhor do que inovar para mudar e para criar formas<br />
diferentes <strong>de</strong> ensinar e <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r.<br />
O: Sabemos que muitos alunos são entusiastas e se motivam<br />
com facilida<strong>de</strong>, contudo há outros que precisam<br />
<strong>de</strong> “uma aposta especial” do professor. Qual a importância<br />
que têm as novas metodologias e as diferentes<br />
estratégias para cativar a atenção <strong>de</strong>stes alunos?<br />
EC: A importância é igual para todos os alunos. Se uns precisam<br />
<strong>de</strong> motivação e tempo para apren<strong>de</strong>r, outros precisam<br />
<strong>de</strong> continuar a estar motivados para o fazer. E é este o gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>safio com que me <strong>de</strong>paro todos os dias. Tento promover<br />
a cooperação, o trabalho <strong>de</strong> pares, cada um dar o melhor<br />
que tem <strong>de</strong> si para ao superar-se conseguir ajudar o outro e<br />
perceber que o seu conhecimento foi útil.<br />
Depois há que fazer uma boa preparação do meu trabalho<br />
<strong>de</strong> modo a ter tempo para todos, o que nem sempre<br />
é tarefa fácil porque as horas voam e no final do dia nem<br />
sempre se consegue ter tempo para dar atenção especial a<br />
um ou a outro que nesse dia precisava <strong>de</strong> um mimo extra.<br />
É por vezes necessária uma nova organização pedagógica<br />
<strong>de</strong> espaços e tempos, com recurso a materiais diversificados.<br />
O professor como agente <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong>ve organizar os<br />
meios e criar o ambiente <strong>de</strong> modo a que essa aprendizagem<br />
seja, na sala <strong>de</strong> aula, o reflexo do dinamismo das crianças.<br />
Sem dúvida que cativar a atenção dos alunos menos<br />
motivados exige tempo e <strong>de</strong>dicação, sabedoria e uma paci-<br />
ência a toda a prova, mudanças <strong>de</strong> planos e <strong>de</strong> estratégias.<br />
Sendo muito importante que eles sintam que nunca <strong>de</strong>sistimos<br />
<strong>de</strong>les e que acreditamos que eles vão conseguir.<br />
O: No feedback que vai recebendo dos seus alunos, e<br />
sabendo que os alunos <strong>de</strong> primeiro ciclo estabelecem<br />
com a professora uma relação bastante afectiva, o que<br />
consi<strong>de</strong>ra mais gratificante?<br />
EC: Os sorrisos, os olhares felizes, o seu crescimento pleno,<br />
o senti-los parte <strong>de</strong> mim, conhecê-los tão bem que me antecipo<br />
ao que preten<strong>de</strong>m, o conhecerem-me tão bem que<br />
quando os largo para uma nova etapa, voltam para falar <strong>de</strong>les<br />
e saber <strong>de</strong> mim... mesmo os da primeira hora... tudo isso<br />
é gratificante. É bom saber que lhes <strong>de</strong>ixei marcas positivas.<br />
É um orgulho formar pessoas íntegras, <strong>de</strong>spertar nelas vocações<br />
e ajudá-las a construir o futuro. É uma relação única<br />
e privilegiada. Para mim que sou tão ligada aos afectos, não<br />
po<strong>de</strong>ria ter escolhido melhor forma <strong>de</strong> estar na vida. E vemme<br />
à memória uma frase <strong>de</strong> Rubem Alves ,“ Educar é um<br />
exercício <strong>de</strong> imortalida<strong>de</strong>”.<br />
O: Nos últimos anos, o nosso colégio tem feito inúmeras<br />
apostas na inovação e na mudança, nomeadamente na<br />
área das tecnologias. Em sua opinião, qual o papel que<br />
estas tecnologias <strong>de</strong>vem ter numa sala <strong>de</strong><br />
aula <strong>de</strong> 1º ciclo e qual a melhor maneira<br />
<strong>de</strong> as utilizar?<br />
EC: Sim, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que trabalho no colégio, as<br />
tecnologias foram entrando na sala <strong>de</strong> aula<br />
e foi necessário torná-las um aliado no nosso<br />
trabalho. Não foi fácil, porque o computador<br />
e a internet não fizeram parte da minha formação<br />
profissional, mas como <strong>de</strong>vemos estar<br />
sempre abertos à inovação, foi com muita<br />
satisfação e entusiasmo que fui apren<strong>de</strong>ndo<br />
(e ainda tenho tanto a apren<strong>de</strong>r...) a utilizá-los da melhor<br />
forma.<br />
A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os alunos terem um computador<br />
na sala, também me fez reformular a forma <strong>de</strong> dar algumas<br />
aulas e motivou-os para outro tipo <strong>de</strong> trabalho. Sim,<br />
o computador <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser apenas um “brinquedo” on<strong>de</strong><br />
os alunos podiam jogar, ouvir música e comunicar com os<br />
amigos, mas passava a funcionar como um objecto <strong>de</strong> trabalho.<br />
E foi necessário ajudar e motivar os alunos a trabalharem<br />
com o computador. Mas, é com orgulho que ao fim<br />
<strong>de</strong> algumas aulas consigo ter uma turma a funcionar silenciosamente,<br />
com os seus computadores pessoais, a enviar<br />
o trabalho feito..e a ensinar à professora as virtualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
muitos programas.<br />
O quadro interactivo também trouxe inovação. Po<strong>de</strong>mos<br />
preparar as aulas <strong>de</strong> outra forma, mostrar filmes, ler jornais,<br />
ouvir e ler histórias, projectar os livros adoptados e vermos<br />
em conjunto o que vamos fazendo. Sem esquecer que<br />
também é bom escrever no outro quadro com giz e sujar as<br />
mãos com o seu pó, numa relação mais física com o material.<br />
O: Por último, abor<strong>de</strong>mos o tema da Olhares <strong>de</strong>ste<br />
trimestre. Em sua opinião, qual a importância <strong>de</strong> sabermos<br />
arriscar nos momentos certos e que proveitos isso<br />
nos po<strong>de</strong> trazer?<br />
EC: A nossa vida é feita <strong>de</strong> riscos...uns calculados...outros<br />
nem tanto. Penso que quando falamos em educação não<br />
po<strong>de</strong>mos arriscar sem termos a certeza <strong>de</strong> que o resultado<br />
não irá prejudicar a vida dos nossos alunos. Mas é preciso<br />
arriscar sempre que sentimos que um aluno po<strong>de</strong> beneficiar<br />
com isso e é preciso arriscar quando acreditamos que<br />
um novo projecto po<strong>de</strong> fazer a diferença no acto <strong>de</strong> educar.<br />
Os resultados po<strong>de</strong>m ser pequenos aos olhos dos outros<br />
mas para um professor po<strong>de</strong> significar que o seu aluno ou<br />
o seu grupo <strong>de</strong> alunos conseguiu subir mais um <strong>de</strong>grau ou<br />
superou dificulda<strong>de</strong>s. Se calhar mais do que falar em arriscar<br />
<strong>de</strong>ve-se falar em inovar, voltando aqui ao tópico inicial<br />
da entrevista. É preciso arriscar quando todas as estratégias<br />
falharam, quando está em jogo uma inaptidão dos mo<strong>de</strong>los<br />
instituídos. Mas o risco <strong>de</strong>ve ser bem calculado em termos<br />
<strong>de</strong> custos v. benefícios.<br />
Os proveitos da inovação<br />
são evi<strong>de</strong>ntes. Permitem<br />
a mudança e a alteração<br />
<strong>de</strong> hábitos. Evoluir no<br />
acto educativo é acompanhar<br />
a própria evolução<br />
do educando.<br />
E termino citando Albert<br />
Einstein, “A arte mais<br />
importante do professor<br />
consiste em <strong>de</strong>spertar a<br />
motivação para a criativida<strong>de</strong><br />
e para o conhecimento”.<br />
Neste sentido...<br />
arrisquemos!<br />
Entrevista conduzida<br />
por Catarina Carrilho,<br />
coord. Olhares<br />
20 | OLHARES | REVISTA DO CSCM | OUT-DEZ 2007 OLHARES | REVISTA DO CSCM | JAN-MAR 2011 | 21