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vieira pinto, o filósofo das massas - Revista de Ciência Política

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Mais do que <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>ário original, Vieira Pinto introduziu uma<br />

perspectiva inovadora em seus ensaios. Exerceu sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar os<br />

problemas nacionais à luz tão somente <strong>de</strong> um referencial próprio, atitu<strong>de</strong> esta que<br />

atribui à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “indigenizar” to<strong>das</strong> as influências teóricas e doutrinárias.<br />

Trata-se, sem dúvida, <strong>de</strong> uma postura discutível, porém extremamente ousada e<br />

perigosa, <strong>de</strong> vez que ignorou a importância do conhecimento acumulado, que não<br />

po<strong>de</strong> conhecer fronteira <strong>de</strong> qualquer or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>le fazendo tábua rasa.<br />

É possível que esse excessivo apego às matrizes nacionais tenha sido<br />

<strong>de</strong>corrente da influência do integralismo. O fato é que esse envolvimento com as<br />

questões nacionais o coloca como o pensador mais autêntico <strong>de</strong> uma época em que<br />

os <strong>de</strong>sejos, por vezes, sobrepunham-se à realida<strong>de</strong>, numa <strong>de</strong>monstração eloqüente<br />

da busca <strong>de</strong> saí<strong>das</strong> para os impasses nacionais. E é evi<strong>de</strong>nte que tais arroubos<br />

frequentemente expunham à crítica essas proposições, sujeitas aos reparos<br />

inevitáveis <strong>das</strong> contradições e (ou) generalizações que estavam conti<strong>das</strong> em suas<br />

formulações generosas e ingênuas.<br />

O legado <strong>de</strong>ixado por Vieira Pinto é rico por duas razões fundamentais: em<br />

primeiro lugar, porque se é possível reconhecer uma concepção criativa, que se<br />

esten<strong>de</strong>u durante os anos <strong>de</strong> 1950 e meados dos anos 60, ela teve nele seu<br />

interlocutor mais <strong>de</strong>spojado e expressivo; e, em segundo lugar, em função do<br />

exemplo fornecido por um “scholar”, que possibilitou o encontro entre a<br />

Universida<strong>de</strong> e a intelectualida<strong>de</strong> não acadêmica, através <strong>de</strong> um diálogo dos mais<br />

instigantes. A este, emprestou seu talento e os argumentos <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> para<br />

elevá-lo ao nível do mais alto cre<strong>de</strong>nciamento. E isso só se tornou possível em<br />

virtu<strong>de</strong> da ação operosa, diligente, do então professor catedrático <strong>de</strong> Filosofia da<br />

Faculda<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Filosofia da Universida<strong>de</strong> do Brasil, hoje UFRJ, que fez <strong>de</strong><br />

sua cátedra um instrumento <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> pública, <strong>de</strong> efetiva ativida<strong>de</strong> pedagógica e,<br />

finalmente, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> contribuição para a elevação do exercício crítico da cidadania<br />

<strong>de</strong>mocrática brasileira.<br />

Figura <strong>das</strong> mais <strong>de</strong>staca<strong>das</strong> do Instituto Superior <strong>de</strong> Estudos Brasileiros<br />

(ISEB), ao qual se <strong>de</strong>dicou com entusiasmo foi, como muitos <strong>de</strong> seus<br />

colaboradores, atingido pela repressão política e institucional <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada com o<br />

golpe <strong>de</strong> 1964. Exilado inicialmente em Belgrado, na antiga Iugoslávia, e <strong>de</strong>pois em<br />

Santiago do Chile, Vieira Pinto não <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> escrever. No exílio produziu, em<br />

1967 e editou dois anos <strong>de</strong>pois, o alentado trabalho <strong>Ciência</strong> e Existência 4 ,<br />

4 Álvaro Vieira Pinto. <strong>Ciência</strong> e Existência. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra, 1969.<br />

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