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Foram muitas tardes iguais, com a <strong>do</strong>r da saudade<br />
aumentan<strong>do</strong> pouco a pouco. Até que o canto da araponga<br />
ressoou na floresta, desta vez não para anunciar a chuva mas<br />
para prenunciar que Itagibá não voltaria, pois tinha morri<strong>do</strong><br />
na batalha.<br />
E pela primeira vez Potira chorou. Sem dizer palavra,<br />
como não haveria de fazer nunca mais, ficou à beira <strong>do</strong> rio<br />
para o resto de sua vida, soluçan<strong>do</strong> tristemente. E as lágrimas<br />
que desciam pelo seu rosto sem cessar foram-se tornan<strong>do</strong><br />
sólidas e brilhantes no ar, antes de submergir na água e bater<br />
no cascalho <strong>do</strong> fun<strong>do</strong>.<br />
Dizem que Tupã, con<strong>do</strong>í<strong>do</strong> com tanto sofrimento,<br />
transformou suas lágrimas em diamantes, para perpetuar a<br />
lembrança daquele amor.<br />
COMO A NOITE APARECEU<br />
Lenda tupi<br />
No princípio não havia noite — dia somente havia em<br />
to<strong>do</strong> tempo. A noite estava a<strong>do</strong>rmecida no fun<strong>do</strong> das águas.<br />
Não havia animais; todas as coisas falavam.<br />
A filha da Cobra Grande - contam - casara-se com<br />
um moço.<br />
Esse moço tinha três fâmulos fiéis. Um dia, ele chamou<br />
os três fâmulos e disse-lhes:<br />
— Ide passear, porque minha mulher não quer <strong>do</strong>rmir<br />
comigo.<br />
Os fâmulos foram-se, e então ele chamou sua<br />
mulher para <strong>do</strong>rmir com ele. A filha da Cobra Grande<br />
respondeu-lhe<br />
— Ainda não é noite.<br />
O moço disse-lhe:<br />
— Não há noite, somente há dia.<br />
A moça falou:<br />
— Meu pai tem noite. Se queres <strong>do</strong>rmir comigo, manda<br />
buscá-la lá, pelo grande rio.<br />
O moço chamou os três fâmulos; a moça man<strong>do</strong>u-os à