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Raquel Ferrari da Veiga - Sonia Afonso - UFSC

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA<br />

CENTRO TECNOLÓGICO – CTC<br />

DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO<br />

PROJETO: APA – ARQUITETURA E PAISAGEM – AVALIAÇÃO DA<br />

INSERÇÃO URBANA NO MEIO FÍSICO.<br />

SUB-PROJETO: EXEMPLOS SIGNIFICATIVOS DA ARQUITETURA<br />

RESIDENCIAL PARA A OCUPAÇÃO DE<br />

ENCOSTAS EM FLORIANÓPOLIS-SC<br />

RELATÓRIO FINAL DE ATIVIDADES<br />

Florianópolis, agosto de 2005.<br />

__________________________<br />

Bolsista: <strong>Raquel</strong> <strong>Ferrari</strong> <strong>da</strong> <strong>Veiga</strong><br />

__________________________<br />

Orientadora: <strong>Sonia</strong> <strong>Afonso</strong>


SUMÁRIO<br />

1. Resumo.............................................................................................. 03<br />

2. Introdução......................................................................................... 04<br />

2.1. Justificativa............................................................................... 04<br />

2.2. Objetos de estudo...................................................................... 05<br />

2.2.1. Casa Carmem Cassol..................................................... 05<br />

2.2.2. Casa de Vidro............................................................... 05<br />

2.2.3. Casa <strong>da</strong>s Canoas........................................................... 05<br />

2.3. Objetivos.................................................................................. 06<br />

2.4. Revisão Bibliográfica.................................................................. 07<br />

3. Materiais e Métodos......................................................................... 10<br />

4. Resultados ..................................................................................... 12<br />

4.1. Modernismo.............................................................................. 12<br />

4.2 Análise Gráfica Carmem Cassol..................................................... 13<br />

4.3 Lina Bo Bardi, o contexto Moderno e a Casa de Vidro 14<br />

4.3.1 Análise Gráfica Casa de Vidro........................................... 20<br />

4.4 Oscar Niemeyer, o contexto Moderno e a Casa <strong>da</strong>s Canoas............... 21<br />

4.4.1 Análise Gráfica Casa <strong>da</strong>s Canoas....................................... 27<br />

5. Considerações Finais....................................................................... 28<br />

6. Referências Bibliográficas............................................................... 29<br />

2


1. RESUMO:<br />

A ocupação de encostas deve carregar consigo todo um estudo do impacto<br />

ambiental que poderá causar. Sendo assim, as construções exigem grande<br />

comprometimento técnico do autor do projeto para se obter um resultado satisfatório,<br />

ou seja, que não se prejudique o ambiente em que estão inseri<strong>da</strong>s. Estes<br />

condicionantes naturais não devem ser encarados apenas como problemas, e sim<br />

como geradores de um partido criativo para o projeto.<br />

Tendo em vista a ocupação residencial nas encostas, propomos analisar<br />

exemplares unifamiliares já construídos. Para a escolha destes, levamos em<br />

consideração a importância <strong>da</strong> Arquitetura Moderna na ocupação de encostas,<br />

especialmente porque sua intervenção apresenta menor impacto no terreno.<br />

A pesquisa já vinha sendo encaminha<strong>da</strong> pela análise <strong>da</strong> residência projeta<strong>da</strong><br />

pelos arquitetos Carmem e Ademar Cassol, em Florianópolis, quando foi possível<br />

compreender sua inserção no espaço urbano, buscando conceitos que nos confirmam a<br />

relação <strong>da</strong> Arquitetura Moderna como modelo adequado para a ocupação em encosta.<br />

Dando continui<strong>da</strong>de à pesquisa, procuramos realizar um estudo comparativo de<br />

outros dois grandes exemplos <strong>da</strong> arquitetura moderna residencial brasileira em<br />

encostas: A Casa de Vidro, em São Paulo, projeta<strong>da</strong> pela arquiteta Lina Bo Bardi; e a<br />

Casa <strong>da</strong>s Canoas, no Rio de Janeiro, projeta<strong>da</strong> pelo arquiteto Oscar Niemeyer.<br />

Pretendemos assim identificar elementos projetuais, dentro tipologias<br />

arquitetônicas estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, que possam gerar diretrizes para o projeto qualificado de<br />

novas construções residenciais implanta<strong>da</strong>s em encostas. Dessa forma contribuiremos<br />

para a manutenção do meio físico através de uma adequa<strong>da</strong> intervenção antrópica.<br />

Palavras Chave: Ocupação de encostas; Arquitetura Moderna; Arquitetura<br />

Residencial Unifamiliar.<br />

3


2. INTRODUÇÃO:<br />

As residências dos arquitetos Lina Bo Bardi e Oscar Niemeyer foram escolhi<strong>da</strong>s<br />

como objetos de estudo por se tratarem de marcos na arquitetura moderna<br />

residencial, apresentando características plásticas que fornecem a implantação<br />

adequa<strong>da</strong> ao terreno com grandes declivi<strong>da</strong>des.<br />

Os exemplos selecionados permitiram a realização de levantamentos a fim de<br />

conhecer sua história, suas proporções, suas funções, suas relações de integração com<br />

o ambiente externo, entre outros aspectos explorados adiante.<br />

Para a compreensão dos projetos desenvolvemos análise <strong>da</strong>s plantas baixas,<br />

cortes, fotos e textos. Para completa visualização é extremamente importante a<br />

visitação destas, o que foi possível realizar com a Casa <strong>da</strong>s Canoas. A confecção de<br />

maquetes eletrônicas também se mostrou fun<strong>da</strong>mental.<br />

2.1. JUSTIFICATIVA:<br />

As encostas são origina<strong>da</strong>s pela ação de forças externas e internas à superfície<br />

terrestre, “... podem ser considera<strong>da</strong>s como terrenos em equilíbrio transitório,<br />

principalmente expostos à ação <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong>de e a agentes subsuperficiais e externos à<br />

superfície terrestre, que tendem a remodelá-la, procurando transforma-las em<br />

terrenos planos” (FARAH, Flávio p. 48)<br />

Estes agentes podem provocar instabilizações e são classificados como<br />

“PREDISPONENTES (geológicas, geométricas e ambientais) e EFETIVOS (chuvas<br />

incomuns, ação do homem e erosão)”. (AFONSO, S., 1999).<br />

Em alguns casos há a preferência de se estabelecer em altas declivi<strong>da</strong>des, como,<br />

por exemplo, para se obter maior visualização do entorno e facilitar a defesa militar.<br />

To<strong>da</strong>via, embora o processo de urbanização aconteça prioritariamente em terrenos<br />

planos, com o aumento populacional há uma pressão para a ocupação <strong>da</strong>s encostas.<br />

A princípio este fato não deveria ser um problema, pois existem formas corretas<br />

de urbanização em terrenos acidentados. Porém isso requer estudos específicos,<br />

fiscalização do órgão responsável, responsabili<strong>da</strong>des ecológicas por parte <strong>da</strong><br />

população, entre muitos outros aspectos que infelizmente não são cumpridos<br />

rigorosamente no Brasil.<br />

Os arquitetos possuem a obrigação de ter o conhecimento necessário para saber<br />

li<strong>da</strong>r corretamente com terrenos acidentados. Infelizmente no curso de graduação não<br />

existem disciplinas com o objetivo de preparar os profissionais para esta situação, o<br />

que resulta em graduados que mesmo não tendo conhecimento sobre o assunto terão<br />

permissão para projetar em encostas. Muitas vezes as cartas topográficas são<br />

desconsidera<strong>da</strong>s, agravando ain<strong>da</strong> mais a futura situação de ocupação nos morros.<br />

Com o agravante <strong>da</strong> grande presença <strong>da</strong> população de baixa ren<strong>da</strong> em encostas,<br />

a segurança <strong>da</strong>s construções, dos moradores e do meio ambiente está ca<strong>da</strong> dia mais<br />

preocupante. As conseqüências <strong>da</strong> ocupação imprópria podem ser devastadoras. A<br />

permeabili<strong>da</strong>de e contenção do solo são prejudica<strong>da</strong>s quando não se preserva a<br />

vegetação existente. Edificar em locais por onde passam os cursos d’água também é<br />

um fator condicionante para desastres geológicos. Ou seja, para a implantação de<br />

assentamentos em locais de alta declivi<strong>da</strong>de, deve-se saber como preservar as<br />

características originais destes.<br />

Por esses motivos, propusemos a análise de exemplos significativos de ocupação<br />

adequa<strong>da</strong> em encostas – Casa <strong>da</strong>s Canoas e Casa de Vidro -, buscando características<br />

de projeto que respeitassem as leis naturais de morfologia do terreno. A princípio<br />

estudos bibliográficos nos propiciaram contato com as obras, e o maior e completo<br />

entendimento será proporcionado por viagem ao local destas.<br />

4


2.2. OBJETOS DE ESTUDO<br />

Os princípios <strong>da</strong> Arquitetura Moderna tornam-se adequados para a ocupação em<br />

terrenos acidentados em vários aspectos. Procuramos apresenta-los através <strong>da</strong> análise<br />

de residências que seguem estes preceitos.<br />

2.2.1. Casa <strong>da</strong> arquiteta – Carmem Cassol<br />

“A residência dos arquitetos Ademar e Carmem Cassol não segue o lirismo formal<br />

de Niemeyer, nem as massas colori<strong>da</strong>s de Burle Marx. Essa adota uma planta<br />

geometricamente concebi<strong>da</strong>, semelhante às obras dos arquitetos paulistas,<br />

identificados como brutalistas, pelo uso de materiais como o concreto aparente. Assim,<br />

a vegetação não surge plena na composição do espaço. Os materiais empregados na<br />

residência também se distanciam <strong>da</strong> vegetação, uma vez que se oferece um contraste<br />

notável entre o verde e o concreto aparente.” (ABRAHAM & AFONSO, 2004)<br />

“A arquiteta não se preocupa no ato de projetar com a introdução de uma<br />

linguagem própria que lhe confira reconhecimento como autora do projeto, diz que às<br />

vezes o projeto acaba ficando com a cara do arquiteto, pois ele repete elementos que<br />

lhe agra<strong>da</strong>m, mas é apenas uma conseqüência e não está presente conscientemente<br />

durante o ato de projetar”. (ABRAHAM & AFONSO, 2004)<br />

O estudo desta residência já vinha sendo desenvolvido nesta pesquisa, cabendo<br />

aqui apenas a análise de iluminação natural utilizando o programa Lightscape.<br />

2.2.2. Casa de vidro – Lina Bo Bardi – São Paulo, 1950-1951<br />

Primeira obra concretiza<strong>da</strong> integralmente pela arquiteta. Nela estão representa<strong>da</strong>s<br />

lições do modernismo como os pilotis sustentando levemente um bloco horizontal com<br />

fechamento de vidro.<br />

Localiza<strong>da</strong> em uma encosta no Morumbi, evidencia a beleza <strong>da</strong> Mata Atlântica e<br />

se preocupa com a integração desta à casa, através <strong>da</strong>s transparências e <strong>da</strong> própria<br />

morfologia.<br />

2.2.3. Casa <strong>da</strong>s Canoas - Oscar Niemeyer – Rio de Janeiro, 1953<br />

Niemeyer optou por uma forma orgânica basea<strong>da</strong> nas formas do Rio de Janeiro e<br />

<strong>da</strong>s mulheres brasileiras. Outro ponto fun<strong>da</strong>mental é que Niemeyer elaborou uma<br />

outra relação entre a casa e o seu entorno, permitindo a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> natureza no<br />

interior <strong>da</strong> residência.<br />

A residência foi alvo de muitas críticas e gerou debates sobre conceitos <strong>da</strong><br />

arquitetura moderna brasileira. Possui fechamento de vidro, o que não limita o olhar<br />

através <strong>da</strong> residência. O piso, as floreiras externas e a pedra que penetram na obra<br />

funcionam como integradores do espaço. É uma casa que permite a simbiose entre a<br />

arquitetura e a paisagem. Essa integração vital <strong>da</strong> casa na natureza foi influencia<strong>da</strong><br />

pela obra do amigo pessoal de Niemeyer, o paisagista Burle Marx, uma pessoa muito<br />

importante para entender e situá-lo corretamente.<br />

5


2.3. OBJETVOS:<br />

Geral:<br />

• Progredir na prática de análise projetual em situações de difícil implantação<br />

Específicos:<br />

• Compreender a lógica construtiva e morfológica de edificações em encostas;<br />

• Identificar os elementos <strong>da</strong> Arquitetura Moderna nas residências seleciona<strong>da</strong>s<br />

na encosta;<br />

• Aprofun<strong>da</strong>r a análise <strong>da</strong> residência Cassol. Será registra<strong>da</strong> e analisa<strong>da</strong> a<br />

vegetação emprega<strong>da</strong> no paisagismo e serão estu<strong>da</strong>dos os aspectos de conforto<br />

ambiental;<br />

• Elaborar análises projetuais <strong>da</strong>s obras em questão: distribuição do lazer, a<br />

circulação, a infra-estrutura, a vegetação e hierarquias;<br />

• Elaborar maquetes para a visualização em 3D dos diferentes aspectos<br />

arquitetônicos e paisagísticos: implantação, conforto ambiental e vegetação;<br />

• Realizar visitas às residências escolhi<strong>da</strong>s em São Paulo (Casa de Vidro), e no<br />

Rio de Janeiro (Casa <strong>da</strong>s Canoas) e obtenção de acervo fotográfico próprio.<br />

• Estabelecer termos de comparação entre a Arquitetura Moderna de encostas<br />

realiza<strong>da</strong> em São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis e a partir <strong>da</strong>í estabelecer<br />

critérios que sirvam como base para novos projetos em situações semelhantes.<br />

6


2.4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA:<br />

BEAUD, Michel. ARTE DA TESE: COMO PREPARAR E REDIGIR UMA TESE DE<br />

MESTRADO, UMA MONOGRAFIA OU QUALQUER OUTRO TRABALHO<br />

UNIVERSITÁRIO. Tradução: Glória de Carvalho Lins. Rio de Janeiro. Bertrand<br />

Brasil, 2000.<br />

É um guia prático que aju<strong>da</strong> pesquisadores de diferentes níveis a elaborarem seu<br />

trabalho. Enfatiza que a realização de uma monografia ou de uma tese de<br />

mestrado/doutorado é uma tarefa que exige muita dedicação e disciplina e, portanto, é<br />

imprescindível a vontade do pesquisador.<br />

Dá conselhos quanto à escolha do professor (orientador), como fazer um bom<br />

uso dele e como avaliar se o assunto será bem aceito e trabalhado. Este deverá:<br />

- Ser do interesse de ambos (pesquisador e do professor);<br />

- Propiciar novos conhecimentos, evitando-se assuntos tratados freqüentemente;<br />

- Evitar decepção do leitor e crítica <strong>da</strong> banca, afastando assuntos muito amplos<br />

ou afunilados;<br />

- De preferência abor<strong>da</strong>r um aspecto crucial <strong>da</strong> questão estu<strong>da</strong><strong>da</strong>;<br />

- Verificar to<strong>da</strong>s as teses e pesquisas sobre o assunto feitas nos últimos anos.<br />

Aju<strong>da</strong> a montar o cronograma <strong>da</strong> pesquisa, fun<strong>da</strong>mental para a boa organização<br />

e an<strong>da</strong>mento desta. Na primeira etapa deve-se começar uma exploração sistemática<br />

<strong>da</strong> documentação, entrar em contato com a fonte e as pessoas que irá tratar, tomar<br />

notas através de fichas dos livros, artigos, idéias, hipóteses e interpretações. É preciso<br />

dimensionar a amplitude <strong>da</strong> tarefa, assinalar os livros cuja leitura é urgente, ou seja,<br />

separar o essencial do secundário.<br />

Após isso, o autor desenvolve métodos expor re<strong>da</strong>ção, problemática, hipóteses e<br />

bibliografia.<br />

ECO, Umberto. COMO SE FAZ UMA TESE. São Paulo. Perspectiva, 2001.<br />

Não é um guia com a pratici<strong>da</strong>de de tópicos, mas trata-se de uma leitura<br />

agradável com uma boa re<strong>da</strong>ção e que não deixa de ser objetiva.<br />

Defende que o assunto não é o mais importante aspecto <strong>da</strong> tese, e sim a<br />

oportuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> tese em si, pois esta se trata de um aprendizado que servirá para<br />

to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong> (como reunir e organizar informações, etc).<br />

Na hora <strong>da</strong> escolha do tema, vários aspectos devem ser levados em conta,<br />

sobretudo deve-se escolher um assunto acessível, não repetitivo, considerar as fontes<br />

disponíveis, e ter perspectivas de buscar algo inovador e não medíocre.<br />

É preciso evitar ser explorado pelo orientador. Ele pode, por exemplo, utilizar-se<br />

dos alunos para a obtenção de <strong>da</strong>dos para a sua própria pesquisa. Um ato sincero é o<br />

orientador sugerir algum assunto que se interesse, que não esteja 100% no seu<br />

domínio, e assim se dispõe a aju<strong>da</strong>r o aluno nas suas descobertas.<br />

Sobre o tempo necessário para a elaboração, diz que é até possível fazer uma<br />

boa tese em 6 meses se o assunto for de domínio anterior do aluno, o pesquisador for<br />

hábil e experiente e não se escolha um tema muito complexo e trabalhoso. Se a tese<br />

passar de 3 anos, certamente haverá problemas como a “neurose <strong>da</strong> tese”.<br />

Enfatiza que diferentes tipos de pesquisas e estudos poderão ser realizados, uns<br />

mais práticos (como pesquisas de campo) e outros mais teóricos dependendo do tipo<br />

de tese.<br />

A bibliografia é um fator extremamente importante na pesquisa, pois sua<br />

indisponibili<strong>da</strong>de pode dificultar muito e até impedir a execução de uma tese<br />

específica. Portanto deve ser o primeiro ponto a ser verificado.<br />

7


AFONSO, <strong>Sonia</strong>. URBANIZAÇÃO DE ENCOSTAS. A OCUPAÇÃO DO MORRO DA CRUZ.<br />

FLORIANÓPOLIS. SC. TRABALHO PROGRAMADO 2. ESTUDO GEOTÉCNICO. Curso<br />

de pós-graduação em arquitetura e urbanismo. Área de concentração estruturas<br />

ambientais urbanas. Nível de mestrado. São Paulo. FAUUSP.1992.<br />

Com freqüência no cotidiano <strong>da</strong> prática projetual dos arquitetos, nota-se que as<br />

cartas topográficas são desconsidera<strong>da</strong>s. Neste estudo o objetivo é salientar a<br />

importância <strong>da</strong> cartografia geotécnica como instrumento de projeto e como forma de<br />

auxílio à toma<strong>da</strong> de decisões no planejamento urbano. Como resultados foram<br />

apresentados a “análise <strong>da</strong>s ocorrências e riscos, comentários sobre a aplicação <strong>da</strong>s<br />

cartas geotécnicas, e como conclusão apresentamos recomen<strong>da</strong>ções que consideram a<br />

aptidão física do Morro <strong>da</strong> Cruz ao assentamento urbano e a necessi<strong>da</strong>de de se criar<br />

faixas de transição entre as áreas sem problemas, a serem urbaniza<strong>da</strong>s e as áreas<br />

acima, a serem preserva<strong>da</strong>s”.<br />

O texto nos mostra a importância de se preservar a floresta existente nas<br />

encostas como forma de manutenção <strong>da</strong> contenção natural, bem como de evitar a<br />

mutilação do terreno e a alteração nas drenagens junto aos morros. Demonstra os<br />

parâmetros para minorar os efeitos dos escorregamentos, como intervir nos morros<br />

para propiciar uma ocupação racional e econômica e que deve-se propor a remoção<br />

<strong>da</strong>s moradias implanta<strong>da</strong>s em áreas instáveis.<br />

“Um planejamento conseqüente respeita os estudos técnicos elaborados, realiza<br />

as obras recomen<strong>da</strong><strong>da</strong>s, fiscaliza as novas ocupações e as áreas a serem preserva<strong>da</strong>s,<br />

mas sobretudo, coloca à disposição um conhecimento técnico necessário à elaboração<br />

e à análise dos novos projetos que devem estar a<strong>da</strong>ptados ao ambiente.”<br />

FARAH, Flávio. HABITAÇÃO DE ENCOSTAS. São Paulo. IPT, 2003.<br />

Esta obra é o resultado <strong>da</strong> união <strong>da</strong> Tese de Doutorado de Flavio Farah com<br />

pesquisas do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo).<br />

A tese, denomina<strong>da</strong> “Habitação e Encostas”, foi concluí<strong>da</strong> em 1998, no curso de<br />

pós-graduação “Estruturas Ambientais Urbanas” – FAU/ USP. Trata <strong>da</strong> ocupação de<br />

encostas no Brasil, abor<strong>da</strong>ndo aspectos históricos, legais, sociais, políticos, econômicos<br />

e técnicos.<br />

As encostas sofrem processos naturais de instabilização, porém a crescente<br />

atuação antrópica no meio tem desencadeado muitas delas. Os prejuízos financeiros e<br />

sociais <strong>da</strong> destruição são enormes, ao mesmo tempo em que os recursos de correção<br />

de erros podem também gerar grande prejuízo. Após a leitura <strong>da</strong> obra constatamos<br />

então que a melhor alternativa é a ocupação correta deste meio. Hoje há uma linha<br />

técnica que desenvolve meios de tentar minimizar os efeitos dos desastres, com<br />

profissionais de várias áreas.<br />

O autor também deixa claro que a ocupação urbana inadequa<strong>da</strong> vai além <strong>da</strong>s<br />

encostas, mas que nelas é evidentemente desmascara<strong>da</strong>. Sugere diferentes soluções<br />

tipológicas adequa<strong>da</strong>s.<br />

A pesquisa “Desenvolvimento de tipologias para habitações de interesse social em<br />

encostas, sistematização de procedimentos para sua concepção e subsídio à revisão de<br />

critérios urbanísticos aplicáveis”, do IPT, consolidou metodologias para o projeto<br />

habitacional em encostas, apresenta<strong>da</strong>s de forma organiza<strong>da</strong> no final <strong>da</strong> obra.<br />

8


AFONSO, <strong>Sonia</strong>. – URBANIZACAO DE ENCOSTAS: CRISES E POSSIBILIDADES. O<br />

MORRO DA CRUZ COMO UM REFERENCIAL DE PROJETO DE ARQUITETURA DA<br />

PAISAGEM. São Paulo. FAUUSP. Tese de Doutorado. 1999.<br />

“... estudo sobre o Morro <strong>da</strong> Cruz, Florianópolis, SC, como referencial<br />

contemporâneo de projeto <strong>da</strong> paisagem e do ambiente <strong>da</strong>s encostas, suas crises e<br />

possibili<strong>da</strong>des”. (AFONSO, <strong>Sonia</strong> , 1999)<br />

É um amplo estudo sobre a ocupação de encostas. Sobre paisagem, fala <strong>da</strong>s<br />

escalas, padrões de relevo, malhas e tecidos. Abor<strong>da</strong> também temas abrangentes<br />

como a herança cultural e seus significados, as atrações que as encostas podem<br />

proporcionar e, sobretudo explica as características e nomenclaturas dessa<br />

manifestação geológica.<br />

Com uma síntese conceitual elabora critérios de projeto, apresentando formas<br />

corretas de urbanização nos locais acidentados. Compreende desde a conformação <strong>da</strong>s<br />

vias de modo a evitar grandes cortes/aterros, até tipologias adequa<strong>da</strong>s.<br />

Apresenta diversas ci<strong>da</strong>des pelo mundo com a mesma problemática, mas que<br />

souberam li<strong>da</strong>r com ela. No Brasil, utiliza várias áreas de São Paulo como exemplos.<br />

UNDERWOOD, David. OSCAR NIEMEYER E O MODERNISMO DA FORMAS LIVRES<br />

NO BRASIL. São Paulo. Cosac e Naify, 2002.<br />

Neste livro o autor analisa os variados contextos –físico, cultural, político e<br />

teórico - que Oscar Niemeyer esteve inserido enquanto realizava sua arte, procurando<br />

assim negar a concepção de que a contribuição do arquiteto para o modernismo tenha<br />

sido apenas formal. No entanto ressalta as origens <strong>da</strong>s formas do traçado adotado em<br />

suas obras, salientando a importância <strong>da</strong> sensuali<strong>da</strong>de e curvas <strong>da</strong> mulher.<br />

Em ordem cronológica apresenta as principais obras de Niemeyer, desde seus<br />

primeiros trabalhos estagiando no escritório de Lúcio Costa, passando pela sua Casa<br />

<strong>da</strong>s Canoas impregna<strong>da</strong> de emoções cariocas, os marcantes projetos de Brasília, seus<br />

trabalhos internacionais até sua última obra prima, o Memorial <strong>da</strong> América Latina.<br />

Oferece imagens preciosas de seus projetos mais significativos, como fotos<br />

varia<strong>da</strong>s, plantas baixas, cortes e elevações.<br />

FERRAZ, Marcelo Carvalho. LINA BO BARDI. São Paulo. Instituto Lina Bo e P. M.<br />

Bardi / Empresa <strong>da</strong>s Artes, 1993.<br />

É uma publicação do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, que dá seqüência a sua linha<br />

editorial no campo <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> arquitetura. Juntamente com o documentário em<br />

vídeo-tape e a exposição “Lina Bo Bardi”, faz parte do “Projeto Lina Bo Bardi”. A<br />

arquiteta esteve presente no início do projeto do livro, e é autora de todos os textos<br />

presentes nele.<br />

A primeira parte <strong>da</strong> obra é uma biografia <strong>da</strong> arquiteta, contando um pouco de sua<br />

vi<strong>da</strong> na Itália até sua vin<strong>da</strong> para o Brasil, suas ideologias e anseios. Fotos e desenhos<br />

mostram seu universo particular.<br />

A segun<strong>da</strong> parte são expostas to<strong>da</strong>s as arquiteturas considera<strong>da</strong>s por Lina: jóias,<br />

edifícios, cenários, museus, móveis e exposições. Quanto às edificações, oferece<br />

imagens varia<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s obras, assim como suas plantas, cortes e facha<strong>da</strong>s.<br />

Este livro ricamente ilustrado pode ser considerado uma valiosa obra que valoriza<br />

e sintetiza to<strong>da</strong> a arte construí<strong>da</strong> por Lina em sua vi<strong>da</strong>.<br />

9


3. MATERIAIS E MÉTODOS:<br />

Para nos familiarizarmos com o ambiente de pesquisa, realizamos revisões<br />

bibliográficas sobre metodologia científica, as quais eram finaliza<strong>da</strong>s com seminários<br />

onde ca<strong>da</strong> bolsista expunha seu novo conhecimento para os demais. Esquemas sobre<br />

ca<strong>da</strong> livro foram elaborados como auxílio nas apresentações e também para consultas<br />

posteriores. O mesmo foi feito com o tema Ocupação de Encostas.<br />

Em segui<strong>da</strong> nos direcionamos para os pontos específicos de ca<strong>da</strong> pesquisa,<br />

buscando bibliografias na biblioteca do Grupo APA, no Laboratório de Documentação e<br />

Acervo – LDA/ARQ, na Biblioteca Central <strong>da</strong> <strong>UFSC</strong> e em sites sobre arquitetura.<br />

Durante este processo, foram programa<strong>da</strong>s diversas ativi<strong>da</strong>des para to<strong>da</strong>s as<br />

bolsistas, tais como: aulas de topografia (ECV/<strong>UFSC</strong>), participação em apresentações<br />

<strong>da</strong> Pós Graduação e defesas de mestrado, palestras e aulas de campo. O mestrando<br />

Richard H. Lamb nos apresentou o software ArcView, que serve para sistematizar<br />

informações geográficas. Nesta pesquisa em particular, ocorreram treinamentos de<br />

softwares específicos como o Architectural 2004, o 3D StudioMax e o Lightscape 3.2.<br />

O levantamento de <strong>da</strong>dos sobre as residências se iniciou através <strong>da</strong> varia<strong>da</strong><br />

bibliografia. Como certas informações foram difíceis de encontrar, participamos de<br />

fóruns na internet podendo entrar em contato com outros pesquisadores e estu<strong>da</strong>ntes<br />

que nos enviaram materiais. Foram contata<strong>da</strong>s as instituições que agora funcionam<br />

nas residências, sendo que <strong>da</strong> Casa de Vidro nos enviou por e-mail desenhos técnicos<br />

e a <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong>s Canoas encaminhou textos e bibliografias específicas.<br />

Após a coleta de material suficiente, utilizamos o método de análise de<br />

edificações dos autores Pause e Clark como base, pois este é um guia que proporciona<br />

um bom entendimento <strong>da</strong> obra estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, se for seguido corretamente.<br />

Foi possível a visitação <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong>s Canoas – RJ que se mostrou de extrema<br />

importância para a total compreensão <strong>da</strong> obra, verificar a paisagem atual e ain<strong>da</strong><br />

obtermos um acervo próprio, com fotos específicas sobre os tópicos estu<strong>da</strong>dos e assim<br />

completar levantamento realizado inicialmente. Nesta viagem foi possível solicitar ao<br />

Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos, na prefeitura do Rio de Janeiro, o<br />

levantamento plani-altimétrico <strong>da</strong> área que contém o terreno, na escala 1:2000.<br />

Em segui<strong>da</strong> elaboramos maquetes eletrônicas <strong>da</strong> Casa de Vidro e Casa <strong>da</strong>s<br />

Canoas, através <strong>da</strong>s quais é possível visualiza-las em diversos ângulos e diferentes<br />

aproximações. Porém, o mais importante é o processo de elaboração do modelo 3D,<br />

pois para tal é obrigatório o domínio do projeto.<br />

O modelo <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong>s Canoas foi elaborado por pelo Arq. César Coelho (apoio<br />

técnico CNPq) através do programa AutoCad 2004. O método utilizado, inicialmente, é<br />

mais simples, porém cria estruturas rígi<strong>da</strong>s e sóli<strong>da</strong>s. Torna-se difícil então qualquer<br />

mu<strong>da</strong>nça nos elementos criados, exigindo-se na maioria <strong>da</strong>s vezes que sejam refeitos.<br />

A Casa de Vidro foi elabora<strong>da</strong> utilizando-se o software Architectural 2004, que<br />

apresenta vantagens como a completa diferenciação dos elementos: paredes, lajes,<br />

telhados, janelas e portas; ca<strong>da</strong> qual com opções específicas que facilitam mu<strong>da</strong>nças e<br />

diferentes formatos.<br />

Para estudos de iluminação, o Laboratório de Conforto Ambiental (LabCon / <strong>UFSC</strong>)<br />

ofereceu o programa Apolux – de autoria do professor Anderson Claro – com o qual<br />

seria possível realizar a elaboração do mascaramento solar e simulações. Porém, como<br />

o programa é altamente específico, o projeto deveria ter sido feito em 3Dfaces para se<br />

tornar compatível. Para as correções dos modelos, seria necessário um treinamento<br />

aprofun<strong>da</strong>do, o que não foi possível de ser realizado no prazo que dispomos.<br />

Optamos então pela utilização do programa Lightscape 3.2, do mesmo fabricante<br />

do Architectural Desktop, a Autodesk. Este fato gerou maior compatibili<strong>da</strong>de entre os<br />

softwares, facilitando o seu uso. O bolsista Arq. Diego Lemes nos auxiliou no<br />

aprendizado do processo, que foi complementado com a leitura de tutoriais.<br />

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EQUIPAMENTOS DE INFORMÁTICA UTILIZADOS<br />

(HARDWARE):<br />

Laboratório do grupo APA/<strong>UFSC</strong><br />

• 2 Micro-Computadores AMD, 1.99GHz, 480 MB de Ram<br />

• Impressora hp 840c<br />

• Scanner Genius<br />

Pessoais<br />

• Micro-Computador Intel, Pentium 4, CPU 2.80GHz, 512 MB de RAM<br />

• Impressora, scanner e copiadora hp psc 1210 all-in-one<br />

(SOFTWARE):<br />

• Sistema Operacional Windows XP Professional<br />

• Programa CAD - Architectural 2004<br />

• Aplicativos gráficos CorelDRAW 11 – CorelDRAW e Corel PHOTO-PAINT<br />

• Editor de Imagens Photoshop 7.0.1<br />

• Editor de texto Word<br />

• Lightscape 3.2<br />

MATERIAL MÉTODO<br />

CONTEÚDO DOS<br />

TEXTOS<br />

DESENHOS TÉCNICOS<br />

IMAGENS TRATADAS<br />

HABILIDADE COM OS<br />

SOFTWARES<br />

MAQUETES<br />

ELETRÔNICAS<br />

MODELO 3D DOS<br />

TERRENOS<br />

SIMULAÇÃO DE<br />

ILUMINAÇÃO<br />

Revisão bibliográfica de teses, livros, relatórios, publicações<br />

periódicas e sites específicos.<br />

Vetorização <strong>da</strong>s imagens escanea<strong>da</strong>s, utilizando o software<br />

Architectural 2004 (no caso <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong>s Canoas).<br />

Manipulação utilizando os softwares CorelDraw 11,<br />

CorelPhotopaint 11 e Photoshop 7.0<br />

Realização do curso de 3Dstudio Max durante o período <strong>da</strong><br />

bolsa, experiências anteriores com Architectural, CorelDraw<br />

e Photoshop, adquiri<strong>da</strong>s com realização de cursos. Os<br />

conhecimentos dos programas Apolux e Lightscape foram<br />

repassados pela equipe do LabCon, e este último exigiu<br />

ain<strong>da</strong> a leitura de tutoriais específicos em inglês.<br />

Feitas com base na interpretação dos desenhos técnicos e<br />

atenção minuciosa às fotos.<br />

Vetorização <strong>da</strong>s curvas de nível <strong>da</strong>s plantas planialtimétricas<br />

e geração de sólidos no CAD.<br />

Os modelos <strong>da</strong>s residências foram submetidos aos cálculos<br />

com a utilização do programa Lightscape 3.2.<br />

11


4. RESULTADOS:<br />

Tendo em vista que o tema <strong>da</strong> pesquisa é como a Arquitetura Moderna pode<br />

influenciar positivamente na construção em encostas, faz-se necessária uma breve<br />

síntese de como o modernismo surgiu e se implantou no Brasil. Com este texto já pode<br />

ser percebido como as características modernas podem influenciar positivamente na<br />

ocupação de encostas.<br />

4.1. MODERNISMO<br />

É clara a rejeição dos modernistas ao repertório formal do passado. Os<br />

ornamentos tornaram-se inimigos a ser combatidos, e a produção de uma arquitetura<br />

limpa uma meta nobre a ser atingi<strong>da</strong>. Com a descoberta do design passou-se a<br />

acreditar que o arquiteto era um profissional responsável pela justa construção do<br />

ambiente habitado pelo homem, carregando um fardo pesado. Os edifícios deveriam<br />

ser econômicos e úteis; os espaços abstratos, geométricos e mínimos.<br />

O Modernismo anunciou princípios que foram seguidos por inúmeros arquitetos,<br />

<strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s escolas e tendências. Os maiores nomes <strong>da</strong> Arquitetura Moderna:<br />

Walter Gropius - professor e fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> escola Bauhaus. Representa o Estilo<br />

Internacional e Racionalismo no equilíbrio entre forma e função.<br />

Mies Van Der Rohe - mais cubista e minimalista que Gropius. Juntos foram a<br />

maior tendência <strong>da</strong> arquitetura moderna corporativa e comercial do mundo.<br />

Frank Lloyd Wright - revolucionou as residências do século XX. Criou formas de<br />

geometria revolucionária que acompanhavam as funções de seus projetos.<br />

Le Corbusier - teorizou sobre a "arte <strong>da</strong> era <strong>da</strong> máquina", integrado ao Estilo<br />

Internacional na Arquitetura. É notável sua influência no desenvolvimento <strong>da</strong><br />

arquitetura moderna brasileira, ain<strong>da</strong> mais se levarmos em conta que Lúcio Costa e<br />

Niemeyer foram seus discípulos. Os traços <strong>da</strong> arquitetura “corbusierana” são:<br />

o brise-soleil;<br />

o edifício levantado do solo por meio de pilotis que liberam o chão para os<br />

jardins, a circulação e os automóveis;<br />

o jogo funcional e ao mesmo tempo escultural dos volumes;<br />

técnicas modernas de construção como colunas estruturais, liberando a parede<br />

de suas funções de sustentação;<br />

a planta livre - resultado de um pensamento funcionalista que separava a<br />

ve<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> estrutura<br />

conquistas tecnológicas que possibilitaram as construções de concreto armado;<br />

a facha<strong>da</strong> livre e a janela que se estendia ao longo de to<strong>da</strong> a parede, <strong>da</strong>ndo<br />

origem aos panos de vidro;<br />

o terraço-jardim que eliminava o telhado e <strong>da</strong>va uma aparência nova, abstrata<br />

e geométrica à casa dos novos tempos.<br />

Porém, os ideais difundidos por Le Corbusier enfrentavam inúmeros obstáculos<br />

para serem seguidos, tais como a hostili<strong>da</strong>de pública, falta de liber<strong>da</strong>de de composição<br />

e alto custo dos materiais.<br />

A Semana de Arte Moderna de 1922 foi a grande proporcionadora de uma nova<br />

arte, abrangendo conferências, recitais de música, declamações de poesia e exposição<br />

de quadros que apresentaram ao público as novas tendências <strong>da</strong>s artes do país. “... de<br />

um ponto de vista objetivo, não exerceu a Semana <strong>da</strong> Arte Moderna qualquer<br />

influência sobre a arquitetura. Isto não significa, no entanto, que seu papel tenha sido<br />

nulo. Ela criou um clima novo, revelou um espírito de luta contra o marasmo<br />

intelectual, contra a aceitação incondicional dos valores estabelecidos”. (BRUAND, Y.,<br />

1981) Ela certamente deu origem a uma clientela que gostaria de uma arquitetura<br />

diferencia<strong>da</strong>. Foi então que o europeu Gregory Warchavchik veio ao Brasil, e<br />

enfrentando estas barreiras deu início ao Modernismo em São Paulo na déca<strong>da</strong> de 20.<br />

12


4.2 ANÁLISE GRÁFICA CARMEM CASSOL<br />

Arquiteta: Carmem Cassol<br />

Localização: R.14 de Julho, Coqueiros/Florianópolis/SC.<br />

Projeto: anos 1950<br />

Área construí<strong>da</strong>: 414, 80 m²<br />

Área terreno: 1.596m². (ver figura 1)<br />

Pudemos perceber que no período <strong>da</strong> manhã dos<br />

solstícios - <strong>da</strong>tas escolhi<strong>da</strong>s por possuírem luminosi<strong>da</strong>de<br />

extrema - a facha<strong>da</strong> leste e norte são as mais<br />

favoreci<strong>da</strong>s, conferindo boa luminosi<strong>da</strong>de à cozinha e<br />

salas. A maioria dos quartos fica na porção oeste <strong>da</strong><br />

casa, não recebem incidência direta do Sol, o que<br />

prejudica a assepsia e o conforto térmico desses<br />

ambientes. Pelo sol incidir mais obliquamente no<br />

inverno, o pavimento inferior recebe maior luz nessa<br />

época do ano. (ver figura 2)<br />

SOLSTÍCIO DE INVERNO – 10:00h<br />

Facha<strong>da</strong> Leste<br />

Facha<strong>da</strong> Oeste<br />

SOLSTÍCIO DE VERÃO – 10:00h<br />

Facha<strong>da</strong> Leste<br />

Facha<strong>da</strong> Oeste<br />

Facha<strong>da</strong> Sul<br />

Facha<strong>da</strong> Norte<br />

Facha<strong>da</strong> Sul<br />

Facha<strong>da</strong> Norte<br />

Figura 2. Imagens resultantes <strong>da</strong> simulação com o software Lightscape<br />

Figura 1. Implantação<br />

Fonte: ABRAHAM & AFONSO.,2004<br />

Perspectiva<br />

Perspectiva<br />

13


4.3. LINA BO BARDI, O CONTEXTO MODERNO E A CASA DE VIDRO.<br />

Arquiteto: Achillina Bo Bardi (05/12/1914 Roma – 20/03/1992 São Paulo)<br />

Formação: Facul<strong>da</strong>de de Arquitetura <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Roma<br />

Depois de forma<strong>da</strong> começa a trabalhar no escritório do arquiteto Giò Ponti, em<br />

Milão. Foi também nessa ci<strong>da</strong>de que Lina estabeleceu seu próprio escritório, que em<br />

1943 foi alvo de um bombardeiro devido a II Guerra Mundial, quando a arquiteta entra<br />

para o Partido Comunista Clandestino.<br />

Em 1946, Lina casa-se com o marchand Pietro Maria Bardi e no ano seguinte se<br />

mu<strong>da</strong>m para o Brasil. No Rio de Janeiro conhecem personali<strong>da</strong>des como Lúcio Costa,<br />

Oscar Niemeyer e Burle Marx.<br />

Lina sempre se manteve ativa na área <strong>da</strong> cultura, tendo participado de inúmeros<br />

projetos em teatro, arquitetura, cinema e artes plásticas no Brasil e no exterior. Sua<br />

atuação como designer (móveis, objetos e jóias), cenógrafa, curadora e organizadora<br />

de exposições merece destaque.<br />

Sua paixão pelo Brasil foi oficializa<strong>da</strong> em 1951, quando a arquiteta se naturaliza.<br />

Nesse mesmo ano fica pronta a primeira obra concretiza<strong>da</strong> integralmente pela<br />

arquiteta, a Casa de Vidro, que foi projeta<strong>da</strong> para ela e seu marido. A casa, além de<br />

moradia também foi idealiza<strong>da</strong> como um grande ateliê e ponto de encontro de artistas.<br />

Esta residência, localiza<strong>da</strong> numa encosta ocupa<strong>da</strong> pela Mata Atlântica, tira do<br />

modernismo características de comprometimento com o do meio ambiente em que se<br />

insere, onde ao mesmo tempo respeita o solo e a vegetação original e ain<strong>da</strong> incorporaos<br />

à construção. Uma <strong>da</strong>s maneiras mais evidentes em que isso é feito é o uso dos<br />

pilotis, herança de Le Corbusier, assim como o fechamento feito por folhas<br />

envidraça<strong>da</strong>s que proporcionam visualização máxima <strong>da</strong> paisagem. Trata-se<br />

praticamente de uma caixa retangular com transparência máxima. É importante citar o<br />

vão deixado no interior <strong>da</strong> casa para abrigar uma árvore e assim o verde dentro <strong>da</strong><br />

residência.<br />

Características marcantes do modernismo podem ser facilmente distingui<strong>da</strong>s na<br />

casa, como a planta livre, que libera as paredes de sua função estrutural (o que<br />

acontece ate mesmo nas paredes de vidro <strong>da</strong> facha<strong>da</strong>) e os pilotis que possibilitam a<br />

circulação. A arquiteta possuía uma grande sensibili<strong>da</strong>de, e procurava em sua<br />

arquitetura unir tecnologia, natureza e cultura.<br />

"... Freqüentemente completava uma explicação científica perfeita dizendo ter<br />

querido apenas fazer uma 'coisa poética'. Do estudo dos complexos problemas de um<br />

projeto à poesia e ao domínio e incorporação adequa<strong>da</strong> <strong>da</strong>s tecnologias avança<strong>da</strong>s,<br />

Lina, digo-o sem receio, foi o maior e mais completo arquiteto brasileiro em seu tempo<br />

e insisto no 'brasileiro'. Produziu alguns dos mais extraordinários fragmentos urbanos<br />

deste século. To<strong>da</strong>s as suas poucas obras e desenhos são obras primas, desenvolvidos<br />

ao lado de uma ampla ativi<strong>da</strong>de intelectual, reflexões e pesquisas sobre o Brasil, tão<br />

notáveis como a sua arquitetura, abrangendo gráfica, teatro, cinema, montagens de<br />

exposições, entrevistas, seminários, conferências e, às vezes, sua simples presença.<br />

Uma cadeira desenha<strong>da</strong> por Lina é peça de museu. E foram muitas."<br />

(GUEDES, Joaquim)<br />

Em 1990 foi fun<strong>da</strong>do o Instituto Lina Bo e P.M. Bardi. Realizando o desejo do<br />

casal Bardi, sua intenção é exaltar a cultura brasileira nacional e internacionalmente,<br />

através de exposições, palestras e discussões. Em 1995 a sede passou a ser na própria<br />

Casa de Vidro, que hoje ain<strong>da</strong> abriga parte <strong>da</strong> coleção de arte de Lina e Pietro Bardi. A<br />

casa virou um testemunho valioso de uma cultura que parece ter sumido de São Paulo.<br />

“A obra de muitos outros arquitetos brasileiros, que foram reunidos na publicação de<br />

Mindlin, iriam terminar num formalismo bonito, mas estéril. Foi Lina Bo Bardi quem<br />

conseguiu traduzir a vitali<strong>da</strong>de do seu novo país em uma obra tanto vital como<br />

pessoal. O tesouro <strong>da</strong> Casa de Vidro é uma belo reflexo disto.” (DUBOIS, Marc)<br />

14


CASA DE VIDRO<br />

Projeto: Lina Bo Bardi Ano do Projeto: 1949<br />

Período de construção: 1949-1951<br />

Projetos complementares/especiais: Túlio Stuschierf – verificação dos cálculos<br />

Homero Lopes - instalações<br />

Executores: Comercial Construtora – construção<br />

Endereço: Rua Gal. Américo de Moura, 200, Real Parque / Morumbi / São Paulo<br />

Áreas: terreno: 9.000 m² - construí<strong>da</strong>: 817,39 m² - útil: 548,67 m²<br />

ENTORNO / SÍTIO<br />

A casa se localiza no Morumbi, que abriga abun<strong>da</strong>nte flora e fauna características<br />

<strong>da</strong> Mata Atlântica. Não havia construções vizinhas na época, a área era apenas uma<br />

malha retalha<strong>da</strong> em grandes lotes.<br />

O terreno onde a casa está implanta<strong>da</strong> apresenta uma variação de cota acentua<strong>da</strong>,<br />

porém, devido a sua morfologia e aos pilotis, ela se encaixa nas curvas de nível<br />

exigindo poucas mu<strong>da</strong>nças no terreno natural. (ver figuras 3e 4)<br />

805<br />

800<br />

N<br />

790<br />

795<br />

800<br />

805<br />

785<br />

Figura 3. Implantação<br />

Figura 4. Perspectiva eletrônica<br />

Desenhos de <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong> a partir de mapa de<br />

ACAYABA.<br />

No passado a vegetação sofreu um processo de devastação fazendo com que a<br />

casa se destacasse de forma indeseja<strong>da</strong>, mas ao longo dos anos a ela foi se<br />

recuperando e hoje está praticamente de volta ao caráter original. (ver fotos 1 e 2)<br />

Foto 1 Fonte: Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi Foto 2 Autor: Arnaldo Pappalardo<br />

15


ACESSO / ENTRADA<br />

O acesso à parte principal <strong>da</strong> casa é<br />

feito pela esca<strong>da</strong> que une o terreno direto<br />

ao vestíbulo, localizado praticamente no<br />

centro <strong>da</strong> porção suspensa do solo. (ver<br />

foto 3). O pavimento inferior é um setor de<br />

serviços, compreendendo depósitos que<br />

possuem entra<strong>da</strong>s próprias. Há também<br />

caminhos externos para as demais áreas de<br />

serviço <strong>da</strong> casa. (ver foto 4). O acesso de<br />

automóveis é <strong>da</strong>do pela parte inferior <strong>da</strong><br />

casa, com garagem próxima ao alpendre.<br />

(ver figura 5)<br />

Acessos externos<br />

Acessos verticaisl<br />

Acessos internos principais<br />

Acessos internos secundários<br />

Acessos de veículos<br />

PISO INFERIOR<br />

N<br />

PISO SUPERIOR<br />

CORTE<br />

Figura 5. Desenho de <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong>, modificação <strong>da</strong>s plantas originais concedi<strong>da</strong>s pelo Instituto Bardi.<br />

CIRCULAÇÃO<br />

A circulação se dá de diferentes formas. Na porção<br />

inferior ela é basicamente externa, pois há pouca<br />

comunicação interna entre os ambientes.<br />

Já no segundo pavimento ela se dá de duas formas. A<br />

primeira é livre e ocupa uma grande área: vestíbulo, estar,<br />

jantar, e biblioteca, que não têm divisórias, ou seja, estão<br />

integrados. (ver foto 5). Já na parte íntima e de serviços<br />

observa-se uma circulação linear através de corredores,<br />

com ambientes bem divididos. (ver figuras 5 e 6 -pg 18)<br />

Foto 3. Esca<strong>da</strong> Foto 4. Acesso lateral<br />

Fonte: BARDI & FERRAZ, 1999<br />

Foto 5. Ambientes integrados.<br />

Fonte: BARDI & FERRAZ, 1999<br />

16


VOLUME / SUPERFÍCIES DEFINIDORAS DO ESPAÇO<br />

Os traços perpendiculares são predominantes, formando<br />

uma caixa transparente devido às suas paredes envidraça<strong>da</strong>s.<br />

Essa porção se desprende do solo e consta o principal volume<br />

que indubitavelmente se sobressai levemente na paisagem.<br />

Preso ao solo está um sólido bloco de concreto.<br />

O interior <strong>da</strong> casa é revelado para o exterior, que ao<br />

mesmo tempo não pode se esconder em nenhum momento.<br />

Tem-se a vista <strong>da</strong> floresta, <strong>da</strong>s plantações e <strong>da</strong>s bor<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de de São Paulo. (ver foto 6)<br />

A horizontali<strong>da</strong>de é mais explora<strong>da</strong>, tanto na circulação<br />

quanto na forma. Seguindo o modernismo, a funcionali<strong>da</strong>de<br />

dos volumes acaba por esculpi-los, integrando-os<br />

harmoniosamente à paisagem.<br />

Foto 6. Relação com o exterior<br />

Fonte: BARDI & FERRAZ, 1999<br />

ESTRUTURA / TÉCNICA CONSTRUTIVA<br />

Estrutura:<br />

Cobertura:<br />

Laje intermediária:<br />

Alvenaria:<br />

Esca<strong>da</strong>:<br />

Ve<strong>da</strong>ção lateral:<br />

• Vigas de concreto armado e pilares de tubos e aço.<br />

• Laje fina de concreto, recoberta com telha de fibrocimento e<br />

isola<strong>da</strong> com lã de vidro.<br />

• Caixão perdido com vigas inverti<strong>da</strong>s de concreto armado.<br />

• Tijolo revestido com massa e pintado.<br />

• Estrutura metálica com degraus de granito natural.<br />

• Chapa de ferro duplo com isolamento de lã de vidro.<br />

Fonte: ACAYABA, M.M<br />

Observa-se que a técnica construtiva é mista, pois ora é sustenta<strong>da</strong> pelos pilotis,<br />

ora tem contato direto com o solo. Parece que a estrutura busca se misturar com a<br />

composição <strong>da</strong> casa, fazendo parte de sua estética e não comprometendo a<br />

funcionali<strong>da</strong>de dos ambientes.<br />

HIERARQUIAS<br />

Como a casa era, além de residência, um local para encontros artísticos e<br />

intelectuais, o projeto deixou os ambientes sociais limpos e vazios, como uma forma<br />

de ressaltar o que ali tinha de mais<br />

importante: as obras de arte. (ver foto 7).<br />

Alguns elementos estão expostos, como as<br />

lareiras.<br />

Este espaço privado/social se<br />

sobressai perante os outros por estar<br />

contido no principal volume, por sua<br />

facha<strong>da</strong> ser destaca<strong>da</strong> pela parede<br />

envidraça<strong>da</strong> e assim ter seu interior<br />

exposto. Em segui<strong>da</strong> a zona íntima se<br />

apresenta, e por último, na parte mais<br />

“afasta<strong>da</strong>” <strong>da</strong> casa, se encontra a área de<br />

serviços.<br />

Foto 7. Ambiente social e obras de arte<br />

Fonte: BARDI & FERRAZ, 1999<br />

17


ZONEAMENTO FUNCIONAL<br />

“A grande sala, que congrega o estar em torno <strong>da</strong> lareira, o estúdio por todo o<br />

espaço, a biblioteca composta de livros de arte e de arquitetura e inúmeros objetos<br />

espalhados, parece um acervo de museu. No meio deste espaço contínuo, uma área<br />

interna, uma espécie de pátio suspenso, orienta<strong>da</strong> para noroeste e nordeste, permite<br />

melhores condições térmicas e ventilação cruza<strong>da</strong> para o ambiente. Ain<strong>da</strong> neste<br />

espaço, o volume de esca<strong>da</strong> e lavabo separa o vestíbulo <strong>da</strong> biblioteca. Aí, os quatro<br />

dormitórios alinhados com dois banheiros entre eles ligam-se pelo corredor que<br />

percorre internamente a casa. Um jardim fechado de um lado divide a parte de serviço<br />

<strong>da</strong> parte dos fundos: as duas comunicam-se através <strong>da</strong> cozinha.” (ACAYABA, M.M )<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

9<br />

10<br />

11<br />

12<br />

Pilotis<br />

Jardim<br />

Alpendre<br />

Depósito<br />

Vestíbulo<br />

Lavabo<br />

Biblioteca<br />

Sala de Estar<br />

Vazio<br />

Lareira<br />

Sala de jantar<br />

Dormitórios<br />

13<br />

14<br />

15<br />

16<br />

17<br />

18<br />

19<br />

20<br />

Banheiros<br />

Copa<br />

Cozinha<br />

Adega<br />

Quarto de serviços<br />

Banheiro de emprega<strong>da</strong><br />

Sala de serviços<br />

Rouparia<br />

21 Depósito<br />

22<br />

23<br />

Área de serviço<br />

Pátio<br />

PISO INFERIOR<br />

Serviços Zona íntima / priva<strong>da</strong><br />

Ambiente 15 – Cozinha Ambiente 23 – Pátio<br />

N<br />

PISO SUPERIOR<br />

Zona social / semi-pública<br />

Figura 6. Fotos fonte: BARDI & FERRAZ, 1999<br />

Desenho de <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong>, modificação <strong>da</strong>s plantas originais concedi<strong>da</strong>s pelo Instituto Bardi.<br />

CORTE<br />

18


DEFINIÇÃO DOS ESPAÇOS<br />

As soluções estruturais aju<strong>da</strong>m a <strong>da</strong>r bom funcionamento aos diferentes espaços<br />

<strong>da</strong> casa. Os pilotis elevam e destacam a zona social e abrigam a área de serviços, ao<br />

mesmo tempo em que proporciona uma circulação externa para acessar estes<br />

ambientes. Essa estrutura também possibilita a característica modernista <strong>da</strong> planta<br />

livre, quando as paredes não têm papel estrutural deixando o espaço mais fluido e a<br />

circulação livre. (ver foto 8). No bloco junto ao solo e nas zonas íntimas ocorre o<br />

oposto: os ambientes são compartimentados. (ver foto 9)<br />

Foto 8. Circulação livre entre os ambientes. Foto 9. Ambientes fechados.<br />

Fonte: BARDI & FERRAZ, 1999 Fonte: ACAYABA, 1986.<br />

Os vãos marcam a divisão dos ambientes e tornam-se elementos centrais. Na parte<br />

social a vegetação faz o papel <strong>da</strong>s paredes que marcam os variados núcleos. Já o<br />

jardim, na parte de trás dos dormitórios, os separa <strong>da</strong> área de serviço.<br />

Os níveis variados acentuam a diferença funcional entre os espaços, marcando as<br />

diferentes ativi<strong>da</strong>des.<br />

CONDICIONANTES AMBIENTAIS<br />

Na parte central <strong>da</strong> edificação se localiza a grande abertura de vidro, que além<br />

de ser uma fonte luminosa também abriga uma árvore e abun<strong>da</strong>nte vegetação. A zona<br />

social é o a que mais recebe luz, pois além deste elemento ain<strong>da</strong> possui panos de<br />

vidro. A proteção contra os raios solares se dá internamente através de cortinas.<br />

Os demais ambientes são iluminados por janelas comuns, porém abun<strong>da</strong>ntes<br />

como podemos observar na cozinha. (ver Figura 6, Ambiente 15 – pg 18)<br />

SIMETRIA / ASSIMETRIA / EQUILÍBRIO<br />

A casa pode ser considera<strong>da</strong> simétrica nos eixos<br />

sudeste-noroeste. Internamente ela é bem equilibra<strong>da</strong>, os<br />

volumes e usos bem definidos.<br />

Analisando a facha<strong>da</strong> pode-se notar a diferença<br />

estética que a estrutura proporciona. Os finos pilotis<br />

sustentam o grande bloco, <strong>da</strong>ndo por vezes uma sensação<br />

de fragili<strong>da</strong>de, assim como a esca<strong>da</strong> de ferro.<br />

(ver foto 10)<br />

Foto 10. Pilotis.<br />

Fonte: BARDI & FERRAZ, 1999<br />

19


4.3.1 Análise Gráfica Casa De Vidro<br />

No período <strong>da</strong> manhã dos solstícios a facha<strong>da</strong> nordeste, que contém áreas sociais<br />

e de serviços, é a mais ilumina<strong>da</strong>. Os aposentos íntimos estão voltados para noroeste,<br />

não recebendo incidência direta do Sol, o que prejudica a assepsia e o conforto térmico<br />

e assepsia desses ambientes. (ver figura 7)<br />

Na face sudeste, sudoeste e nordeste pelo pátio se encontra a sala, permitindo a<br />

eliminação de venezianas e quebra-sol: a proteção faz-se com cortinas.<br />

SOLSTÍCIO DE INVERNO – 10:00h<br />

Facha<strong>da</strong> Nordeste<br />

Facha<strong>da</strong> Sudoeste<br />

Facha<strong>da</strong> Sudeste<br />

SOLSTÍCIO DE VERÃO – 10:00h<br />

Facha<strong>da</strong> Nordeste<br />

Facha<strong>da</strong> Sudoeste<br />

Facha<strong>da</strong> Sudeste<br />

Perspectiva<br />

Facha<strong>da</strong> Noroeste<br />

Perspectiva<br />

Facha<strong>da</strong> Noroeste<br />

Figura 7. Imagens resultantes <strong>da</strong> simulação com o software Lightscape<br />

20


4.4. OSCAR NIEMEYER, O CONTEXTO MODERNO E A CASA DAS CANOAS.<br />

Arquiteto: Oscar Niemeyer Soares Filho (15/12/1907 – Rio de Janeiro – RJ)<br />

Formação: Academia de Belas Artes Rio de Janeiro, 1930<br />

Após Warchavchik, precursor <strong>da</strong> Arquitetura Moderna no Brasil, surge Lúcio<br />

Costa, francês educado na Inglaterra e na Suíça, o pai espiritual do modernismo<br />

brasileiro e importante estudioso de Le Corbusier.<br />

“Lúcio Costa adotou para to<strong>da</strong>s as construções (...), o piloti louvado por Le<br />

Corbusier, por constituir a solução mais lógica para o terreno acidentado: reduzia-se<br />

os trabalhos de preparação do terreno, o que compensava o elevado custo local do<br />

concreto armado; o emprego deste revelou-se até mesmo econômico, já que a criação<br />

de um piso artificial isolado <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de do solo natural permitiu retomar,<br />

especialmente para as residências, o processo tradicional e econômico...”. (BRUAND,<br />

1981. pg.75)<br />

O arquiteto realizou importantes reformas no currículo <strong>da</strong> Academia de Belas-<br />

Artes que proporcionavam aos alunos uma clara escolha entre o velho e o novo. Foi<br />

nesse momento em que Niemeyer começou seus estudos.<br />

Após se formar, em 1934, Niemeyer foi trabalhar como estagiário nãoremunerado<br />

no escritório de Lúcio Costa, onde teve grandes possibili<strong>da</strong>des de<br />

desenvolver sua arte. Colaborou com projetos de grandes arquitetos e em segui<strong>da</strong><br />

deslanchou em sua carreira marcante.<br />

“No âmago <strong>da</strong>s melhores obras de Niemeyer há uma série de revoltas<br />

conscientes – primeiramente contra a arquitetura européia histórico-acadêmica e<br />

depois contra a geometria retilínea do Estilo Internacional e a racionali<strong>da</strong>de ortodoxa e<br />

estrutural, que bloqueavam o caminho <strong>da</strong> criação do que ele chamou de ‘espaço para<br />

imaginação’”. (UNDERWOOD, David. Pg 22).<br />

Outras fontes de inspiração do arquiteto provêem de sua infância, vivi<strong>da</strong> nos<br />

valores <strong>da</strong> família patriarcal e tradições coloniais, com conforto, privilégios e proteção<br />

materna que acabaram por formar sua segurança. Porém, a natureza e o<br />

relacionamento fecundo com as mulheres brasileiras são as peças-chave de sua<br />

liber<strong>da</strong>de artística.<br />

São essas forças que condicionam o projeto de muitas casas que fez para si, pois<br />

refletem a busca por segurança doméstica num mundo em que as relações sociais<br />

estão sendo retalha<strong>da</strong>s pela industrialização.<br />

Há uma tentativa de fazer com que a natureza proporcione uma força<br />

alimentadora, o que foi alcançado com esplendor em sua Casa <strong>da</strong>s Canoas, pois esta<br />

abriga o maior exemplo do objeto natural participante de sua arquitetura: uma enorme<br />

pedra de granito que sai <strong>da</strong> área <strong>da</strong> piscina e penetra na sala até ao limite <strong>da</strong> esca<strong>da</strong><br />

que dá acesso ao an<strong>da</strong>r inferior.<br />

Suas transparências e formas ondula<strong>da</strong>s também colaboram na integração com a<br />

vegetação do local.<br />

A vista para o mar e a preocupação com o declive acentuado do terreno foram<br />

pontos para o pensamento <strong>da</strong> composição arquitetônica <strong>da</strong> obra. “...foi essa casa que<br />

permitiu uma simbiose entre a arquitetura e a paisagem (...), leva<strong>da</strong> a um grau<br />

raramente alcançado...” (BRUAND, 1981. pg.164)<br />

Há alguns anos Niemeyer deixou de habitar a Casa <strong>da</strong>s Canoas, devido à<br />

insegurança que cresce no Rio de Janeiro, ain<strong>da</strong> por cima num local tão isolado.<br />

Atualmente a casa pertence à Fun<strong>da</strong>ção Oscar Niemeyer e está aberta ao público<br />

para visitas.<br />

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CASA DAS CANOAS<br />

Projeto: Oscar Niemeyer Ano do Projeto: 1952<br />

Período de construção: 1953-1954<br />

Projetos complementares/especiais: Joaquim Cardozo - engenharia estrutural<br />

Roberto Burle Marx - projeto paisagístico<br />

Executores: Construtora Guanabara - construção<br />

Endereço: Estra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Canoas, 2310 / São Conrado / Rio de Janeiro<br />

Áreas: pavimento inferior: 95,8m² pavimento superior 112,5 m²<br />

Dados fornecidos pela Fun<strong>da</strong>ção Oscar Niemeyer, exceto as áreas que foram calcula<strong>da</strong>s no AutoCad.<br />

ENTORNO / SÍTIO<br />

A casa eleva-se, no topo do morro de São Conrado, sendo privilegia<strong>da</strong> com uma<br />

vista abrangente <strong>da</strong> baía do Rio. Hoje em dia, a vegetação ao redor é abun<strong>da</strong>nte,<br />

obstruindo um pouco a visão. (ver foto 12). Ao lado <strong>da</strong> residência há um curso<br />

d´água, que continua fazendo seu caminho sem ser prejudicado.<br />

Figura 8. Implantação<br />

Figura 9. Perspectiva eletrônica.<br />

Desenhos de <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong> a partir de planta<br />

topográfica cedi<strong>da</strong> pela prefeitura/RJ<br />

Niemeyer afirma: “Minha preocupação foi projetar essa residência com inteira<br />

liber<strong>da</strong>de, a<strong>da</strong>ptando-a aos desníveis do terreno, sem o modificar, fazendo-a em<br />

curvas, de forma a permitir que a vegetação nelas penetre, sem a separação ostensiva<br />

<strong>da</strong> linha reta”. O arquiteto aproveitou, então, o desnível do terreno para implantar, no<br />

nível de menor cota, o an<strong>da</strong>r inferior, e num nível mais elevado o an<strong>da</strong>r superior e a<br />

zona <strong>da</strong> piscina. (ver foto 11)<br />

Foto 11. An<strong>da</strong>r superior e piscina Foto 12. Vista do pátio<br />

Autora: <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong>, 2005 Autora: <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong>, 2005<br />

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ACESSO / ENTRADA<br />

N<br />

PISO SUPERIOR<br />

Acessos externos principais<br />

Acessos externos de serviço<br />

Acesso vertical<br />

Acessos internos principais<br />

Acessos internos secundários<br />

A casa não tem frente nem fundo, existem<br />

duas grandes entra<strong>da</strong>s principais que se<br />

localizam nas facha<strong>da</strong>s envidraça<strong>da</strong>s e dão<br />

acesso ao estar. Outras duas entra<strong>da</strong>s<br />

menores, de serviço, ficam junto à cozinha e à<br />

área de serviço. Há acesso à área íntima<br />

também pelo exterior <strong>da</strong> casa, através de uma<br />

entra<strong>da</strong> pouco marca<strong>da</strong>. (ver foto 14)<br />

De carro, chega-se pelas curvas <strong>da</strong><br />

estra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Canoas, mas para ter acesso a<br />

Foto 13. Rampa de acesso<br />

Autora: <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong>, 2005 casa é preciso estacionar num ponto mais Foto 14. Entra<strong>da</strong> para<br />

acima dela e descer através de um trilho no<br />

meio <strong>da</strong> mata. (ver foto 13)<br />

área íntima.<br />

Autora: <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong>,<br />

2005<br />

CORTE<br />

CIRCULAÇÃO<br />

Devido à planta livre que o primeiro piso apresenta, a<br />

circulação no seu interior é feita de modo espontâneo, ou seja, não é<br />

estabelecido nenhum tipo de percurso.<br />

Já no piso inferior o mesmo não acontece, pois a planta deste é<br />

de traçado retilíneo. O elo de ligação entre os dois pisos é uma larga<br />

esca<strong>da</strong>, que no an<strong>da</strong>r inferior desemboca na biblioteca. (ver foto 15)<br />

Esta acaba funcionando como núcleo deste pavimento, pois é dela<br />

que partem os corredores de acesso aos outros ambientes, sendo<br />

assim um local de passagem além do trabalho e lazer.<br />

PISO INFERIOR<br />

Figura 10. Desenho de <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong> e do apoio técnico César Coelho modificado UNDERWOOD, David.<br />

Foto 15. Esca<strong>da</strong>.<br />

Autora: <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong>,<br />

2005<br />

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VOLUME / SUPERFÍCIES DEFINIDORAS DO ESPAÇO<br />

A forma <strong>da</strong> residência foi inspira<strong>da</strong> nas<br />

curvas na natureza e <strong>da</strong> mulher brasileira. O<br />

pavimento superior é composto de paredes<br />

ondula<strong>da</strong>s, assim como sua laje que apresenta<br />

curvatura semelhante ao contorno <strong>da</strong> praia que<br />

se avista <strong>da</strong> casa. (ver foto 16)<br />

Já o pavimento inferior possui ângulos<br />

retos, mas que pela sua localização<br />

desprivilegia<strong>da</strong> não se apresentam como<br />

geradores <strong>da</strong> forma. (ver foto 17)<br />

A horizontali<strong>da</strong>de predomina sobre a<br />

Foto 16. Formas curvas.<br />

Autora: <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong>, 2005<br />

verticali<strong>da</strong>de, o que é ain<strong>da</strong> ressalta<strong>da</strong> pela laje<br />

com grandes beirais.<br />

Nesta parede está presente uma pequena janela que aproveita a vista sobre a<br />

praia e enquadra o mar. Nos quartos voltados para o Sul também estão presentes<br />

estas pequenas janelas que tiram partido <strong>da</strong> vista ao mesmo tempo em que conferem<br />

privaci<strong>da</strong>de.<br />

Há um jogo com texturas, cores, cheios e vazios. A aplicação de painéis de<br />

madeira nas paredes curvas <strong>da</strong>s salas de estar e jantar geram contraste com a área<br />

envidraça<strong>da</strong>, <strong>da</strong>ndo simultaneamente um caráter transparente e fechado. Essa<br />

característica nega a caixa retangular com transparência máxima, usa<strong>da</strong> por Lina Bo<br />

Bardi na Casa de Vidro. Mesmo com as superfícies opacas, a relação com o envolvente<br />

proporciona<strong>da</strong> pelas transparências acaba por ser muito forte, convi<strong>da</strong>ndo a natureza e<br />

a paisagem externa a entrar. (ver foto 18)<br />

Foto 17. Pavimento inferior. Autora: <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong>, 2005<br />

Autora: <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong>, 2005<br />

ESTRUTURA / TÉCNICA CONSTRUTIVA<br />

A utilização do concreto armado tornou possível a configuração curvilínea <strong>da</strong><br />

cobertura e <strong>da</strong>s paredes do piso térreo.<br />

Os pilares arredon<strong>da</strong>dos fazem parte <strong>da</strong> composição exterior <strong>da</strong> casa, sendo que<br />

internamente se encontram integrados as paredes, desaparecendo ao olhar.<br />

Na biblioteca há uma lareira com abertura circular. Sua chaminé é formula<strong>da</strong><br />

quase invisível do lado exterior, provando que ele considerou o possível volume <strong>da</strong><br />

chaminé um elemento perturbador na composição.<br />

24


HIERARQUIAS / ZONEAMENTO FUNCIONAL<br />

A casa tem dois an<strong>da</strong>res ligados por uma esca<strong>da</strong>ria. O piso com os dormitórios<br />

possui uma configuração completamente diferente em relação ao an<strong>da</strong>r superior. A<br />

parte mais íntima abriga quatro quartos, três banheiros e biblioteca, localizando-se no<br />

pavimento inferior que é esteticamente menos importante. Essa discrição é adequa<strong>da</strong><br />

ao uso privado por resguar<strong>da</strong>r a visão exterior-interior.<br />

Já o espaço semi-público, que é composto pelas salas e cozinhas, está mol<strong>da</strong>do<br />

pelas intrigantes curvas de Niemeyer. Estas áreas coletivas estão quase que<br />

totalmente expostas pela ve<strong>da</strong>ção envidraça<strong>da</strong>, ao mesmo tempo em que recebem<br />

elementos do meio que por ela penetram, conferindo a marcante união com a<br />

natureza.<br />

Zona social / semi-pública<br />

Serviços<br />

N<br />

PISO SUPERIOR<br />

Zona íntima / priva<strong>da</strong><br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

6<br />

7<br />

8<br />

Sala de estar<br />

Sala de jantar<br />

Cozinha<br />

Pedra<br />

Piscina<br />

Dormitórios<br />

PISO INFERIOR<br />

Sala íntima / biblioteca<br />

Casas de Banho<br />

Ambiente 3 – Cozinha Ambiente 7 – Biblioteca Ambiente 1 – Sala de Estar<br />

Figura 11. Desenho de <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong> modificado UNDERWOOD, David.<br />

Fotos de <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong>, 2005<br />

25


DEFINIÇÃO DOS ESPAÇOS<br />

Os espaços do pavimento superior<br />

são definidos pelas reentrâncias <strong>da</strong>s<br />

paredes curvas externas e, por não<br />

apresentar muitas divisórias internas,<br />

pela disposição do mobiliário. Esta<br />

combinação confere um sentimento de<br />

envolvência e familiari<strong>da</strong>de.<br />

Os espaços são utilizados com uma<br />

fluidez que é favoreci<strong>da</strong> por certos<br />

elementos como a parede curva no<br />

espaço <strong>da</strong>s refeições. O limite externo X<br />

interno é superado de várias maneiras:<br />

o piso do interior continua nos terraços<br />

exteriores e a penetração <strong>da</strong>s floreiras e<br />

<strong>da</strong> pedra dentro <strong>da</strong> casa gera espaços<br />

intermediários fascinantes. (ver foto 19 e 20)<br />

Já o pavimento inferior não apresenta espaços tão fluidos, pois eles são<br />

compartimentados e modulados por se tratarem de dormitórios e casas de banho.<br />

A pedra de granito é um dos elementos mais marcantes <strong>da</strong> obra, e parece ter<br />

conformado os espaços de acordo com a vontade <strong>da</strong> sua presença nestes.<br />

CONDICIONANTES AMBIENTAIS<br />

Foto 20: Diferentes ve<strong>da</strong>ções.<br />

Autora: <strong>Raquel</strong> <strong>Ferrari</strong> <strong>da</strong> <strong>Veiga</strong><br />

Foto 19. Integração entre interno e externo<br />

Autora: <strong>Raquel</strong> <strong>Veiga</strong>, 2005<br />

Nos espaços como a sala de<br />

estar e jantar, Niemeyer quis criar<br />

ambientes mais acolhedores e para<br />

isso criou ve<strong>da</strong>ções opacas de<br />

alvenaria revesti<strong>da</strong>s de madeira. (ver<br />

foto 20)<br />

Quanto ao restante espaço do<br />

piso superior é relevante o fato de<br />

to<strong>da</strong>s as paredes serem<br />

envidraça<strong>da</strong>s, privilegiando deste<br />

modo a iluminação e visual. Foram<br />

cria<strong>da</strong>s zonas de sombras ao redor<br />

<strong>da</strong>s janelas para evitar o uso de<br />

cortinas.<br />

Análises de insolação serão<br />

apresenta<strong>da</strong>s a seguir.<br />

SIMETRIA / ASSIMETRIA / EQUILÍBRIO<br />

Por ser dona de uma forma livre e orgânica, não se observa na planta baixa do<br />

pavimento superior nenhum eixo de simetria. No pavimento inferior há maior<br />

racionali<strong>da</strong>de, porém essa ausência continua.<br />

Contudo, a residência aparenta estar equilibra<strong>da</strong> nos seus elementos de<br />

composição mais marcantes: a pedra, a piscina e a laje, que acompanham<br />

harmoniosamente a forma do meio ambiente em que a casa está inseri<strong>da</strong>.<br />

26


4.4.1 Análise Gráfica Casa Das Canoas<br />

Pudemos perceber que no período <strong>da</strong> manhã dos solstícios a facha<strong>da</strong> nordeste <strong>da</strong><br />

casa é a mais ilumina<strong>da</strong>, isso se desconsiderarmos a vegetação presente. (ver fig 12).<br />

Os aposentos íntimos estão voltados para sudeste, não recebendo incidência direta do<br />

Sol, o que prejudica a assepsia e o conforto térmico desses ambientes. Pelo sol incidir<br />

mais perpendicularmente no verão, o pavimento inferior recebe maior luz nessa época.<br />

SOLSTÍCIO DE INVERNO – 10:00h<br />

Facha<strong>da</strong> Nordeste<br />

Facha<strong>da</strong> Sudoeste<br />

Facha<strong>da</strong> Sudeste<br />

SOLSTÍCIO DE VERÃO – 10:00h<br />

Facha<strong>da</strong> Nordeste<br />

Facha<strong>da</strong> Sudoeste<br />

Facha<strong>da</strong> Sudeste<br />

Figura 12: Imagens resultantes <strong>da</strong> simulação com o software Lightscape<br />

Perspectiva<br />

Facha<strong>da</strong> Noroeste<br />

Perspectiva<br />

Facha<strong>da</strong> Noroeste<br />

27


5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O trabalho foi iniciado com a revisão de literatura sobre Urbanização de Encostas,<br />

Metodologia Científica, Arquitetura Moderna e Paisagismo, juntamente foram<br />

ocorrendo participações em alguns seminários <strong>da</strong> disciplina de Urbanização de<br />

Encostas do PósARQ. Semanalmente eram realizados seminários entres as bolsistas<br />

para apresentação de suas diferentes leituras, com a presença do apoio técnico e <strong>da</strong><br />

orientadora. Foi possível realizar treinamento de inúmeros softwares que se<br />

mostraram indispensáveis para o an<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> pesquisa.<br />

Com a escolha <strong>da</strong>s residências a serem estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s, iniciou-se a coleta dos<br />

desenhos, mapas e plantas para a vetorização e digitalização.<br />

Após análise e conhecimento <strong>da</strong> edificação, criamos de um modelo em 3D para<br />

melhor visualização e compreensão <strong>da</strong>s edificações, que no caso <strong>da</strong> Casa de Vidro foi<br />

completa<strong>da</strong> com sua visitação. Foram feitas também análises <strong>da</strong> iluminação com o<br />

apoio do LabCon.<br />

Algumas dificul<strong>da</strong>des foram encontra<strong>da</strong>s para encontrar a bibliografia específica,<br />

principalmente desenhos técnicos e plantas topográficas. O conhecimento do programa<br />

Lightscape não ultrapassou a superficiali<strong>da</strong>de, pois aprendemos a manuseá-lo sozinhos<br />

com a aju<strong>da</strong> de manuais em inglês e informações básicas concedi<strong>da</strong>s pelo LabCon.<br />

Portanto, para um estudo mais aprofun<strong>da</strong>do desta questão se faz indubitavelmente<br />

necessário um treinamento mais específico. Para o uso do Apolux as informações<br />

devem ser ain<strong>da</strong> mais precisas devido a complexi<strong>da</strong>de deste.<br />

Pode-se concluir que para esta pesquisa a elaboração <strong>da</strong>s maquetes eletrônicas<br />

mostrou-se de valiosa e fun<strong>da</strong>mental importância já que alguns aspectos<br />

arquitetônicos só foram notados e absorvidos após a confecção destas. A utilização de<br />

um programa diferente do empregado na Casa de Vidro (Architectural 2004) e na Casa<br />

<strong>da</strong>s Canoas (Auto Cad) foi enriquecedora, pois assim foi possível fazer uma<br />

comparação entre ambos.<br />

Os mapas colhidos apresentavam levantamento viário e a projeção <strong>da</strong>s<br />

residências, porém não mostra a divisão de lotes, o que dificulta compreendermos a<br />

área total onde a casa está implanta<strong>da</strong>.<br />

Já é possível destacar as características modernistas que auxiliam na ocupação<br />

de encostas. Os pilotis preservam as condições naturais do terreno acidentado<br />

contribuindo para evitar as instalibizações. O estudo de novas tecnologias como o uso<br />

do concreto possibilitou paredes curvas que se integram à forma <strong>da</strong> natureza. A<br />

liberação <strong>da</strong> planta com novas estruturas permite maior liber<strong>da</strong>de formal na concepção<br />

<strong>da</strong>s paredes e ve<strong>da</strong>ções, e como visto nos modelos estu<strong>da</strong>dos, torna-se possível o uso<br />

abun<strong>da</strong>nte de transparência que valorizam e integram a paisagem ao construído.<br />

Algumas soluções com novos materiais vêm surgindo entre os projetistas. É o<br />

exemplo <strong>da</strong> residência de Marcos Acayaba, que utiliza estrutura metálica que sustenta<br />

a casa em apenas um apoio. Este pode ser um possível objeto <strong>da</strong> continuação desta<br />

pesquisa, como alternativa para o estudo <strong>da</strong> ocupação <strong>da</strong>s encostas dos morros de<br />

Florianópolis, classifica<strong>da</strong>s como Área de Preservação com Uso Limitado - APL.<br />

28


6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:<br />

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Residencial para a Ocupação de Encostas Em Florianópolis-SC. Relatório Final de<br />

Ativi<strong>da</strong>des de Pesquisa do PIBIC 2003/2004. Florianópolis. Universi<strong>da</strong>de Federal de<br />

Santa Catarina. 2004.<br />

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1986.<br />

AFONSO, S. – URBANIZACAO DE ENCOSTAS: CRISES E POSSIBILIDADES. O MORRO<br />

DA CRUZ COMO UM REFERENCIAL DE PROJETO DE ARQUITETURA DA PAISAGEM.<br />

São Paulo. FAUUSP. Tese de Doutorado. 1999.<br />

AFONSO, <strong>Sonia</strong>. Urbanização de encostas. A ocupação do morro <strong>da</strong> cruz.<br />

Florianópolis. SC. Trabalho programado 2. Estudo geotécnico. Curso de pósgraduação<br />

em arquitetura e urbanismo. Área de concentração estruturas<br />

ambientais urbanas. Nível de mestrado. São Paulo. FAUUSP, 1992.<br />

BARDI, Lina Bo; FERRAZ, Marcelo Carvalho. CASA DE VIDRO. Lisboa: Blau. 1999.<br />

BATISTELA, A. & AFONSO, S. – METODOS E FERRAMENTAS PARA O PROJETO<br />

INFORMATIZADO DE ARQUITETURA DA PAISAGEM DE ENCOSTAS. Relatório Final<br />

de Ativi<strong>da</strong>des de Pesquisa do PIBIC 2000/2001. Florianópolis. Universi<strong>da</strong>de Federal<br />

de Santa Catarina. 2001.<br />

BEAUD, Michel. ARTE DA TESE: COMO PREPARAR E REDIGIR UMA TESE DE<br />

MESTRADO, UMA MONOGRAFIA OU QUALQUER OUTRO TRABALHO<br />

UNIVERSITÁRIO. Tradução: Glória de Carvalho Lins. Rio de Janeiro. Bertrand<br />

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BRUAND, Y. – ARQUITETURA CONTEMPORANEA NO BRASIL. São Paulo. Ed.<br />

Perspectiva, 1981.<br />

CHING, F. – ARQUITECTURA: FORMA ESPACIO Y ORDEN. México D.F. – G. Gili, S.A. –<br />

1984.<br />

DUBOIS, Marc. CASA DAS CANOAS. PROCURANDO A SENSIBILIDADE DE MORAR.<br />

Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq003/arq003_03.asp.<br />

Acesso em: 24/04/2004.<br />

ECO, Umberto. COMO SE FAZ UMA TESE. São Paulo. Perspectiva, 2001.<br />

FARAH, Flávio. HABITAÇÃO DE ENCOSTAS. São Paulo. IPT, 2003.<br />

FERRAZ, Marcelo Carvalho. LINA BO BARDI. São Paulo. Instituto Lina Bo e P. M. Bardi<br />

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FREITAS, Maurício. AUTODESK ARCHITECTURAL 2004 – MÓDULO I BÁSICO /<br />

INTERMEDIÁRIO. Florianópolis. SoftCAD, 2004.<br />

29


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Tecnologies, November 1996. First Edition<br />

NIEMEYER, Oscar. MEU SÓSIA E EU. Rio de Janeiro. Revan, 1992.<br />

NIEMEYER, Oscar. A FORMA NA ARQUITETURA. Rio de Janeiro. Avenir, 1978.<br />

PAUSE, Michael; CLARK, Roger H.. ARQUITECTURA: TEMAS DE COMPOSICIÓN.<br />

México, G. Gili, 1987.<br />

PEVSNER, Nikolaus. OS PIONEIROS DO DESENHO MODERNO: DE WILLIAM MORRIS E<br />

WALTER GROPIUS. São Paulo. Martins Fontes, 1980.<br />

PUPPI, Lionello. A ARQUITETURA DE OSCAR NIEMEYER. Rio e Janeiro. Revan, 1988.<br />

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XAVIER, Alberto; LEMOS, Carlos; CORONA, Eduardo. ARQUITETURA MODERNA<br />

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DE JANEIRO. São Paulo. Rioarte / Fun<strong>da</strong>ção Vilanova Artigas / Pini, 1991.<br />

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