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A DIVISAO DO TRABALHO - Unifenas

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A DIVISÃO <strong>DO</strong> <strong>TRABALHO</strong> PARA O DESENVOLVIMENTO ESTRATÉGICO EM ATIVIDADES DE<br />

PRODUÇÃO E OPERAÇÕES DE SERVIÇOS.<br />

Prof. Nixon Diniz Pereira<br />

Mestre em Administração pela Universidad Champagnat - Argentina<br />

Resumo:<br />

O artigo intitulado A Divisão do Trabalho para o desenvolvimento estratégico em atividades de produção e<br />

operações de serviços aborda as circunstâncias em que desenvolveu a alternativa de organização do<br />

trabalho chamada de divisão do trabalho em atividades de produções e operações. Assim, como as suas<br />

aplicações para as estratégias empresarias com avaliação dos benefícios e malefícios que podem decorrer<br />

do seu uso sistemático dentro de horizonte de planejamento estratégico de longo prazo para as pessoas e<br />

as organizações. Constata-se que embora já exista a alguns séculos, muitas empresas contemporâneas<br />

brasileiras adotam a divisão do trabalho em seus planejamentos estratégicos e aplicam os seus princípios<br />

com todas as restrições que possa ter para a saúde humana e para o desempenho organizacional a longo<br />

prazo.<br />

[...] a cooperação fundada na divisão do trabalho adquire sua<br />

forma clássica na manufatura.<br />

Marx (1999, p. 392).<br />

O que é trabalho de um homem num estado rústico de<br />

sociedade, é geralmente o de vários, numa aperfeiçoada.<br />

Adam Smith (1986, p.18)<br />

A Divisão do Trabalho para o desenvolvimento estratégico em atividades de produção e operações<br />

de serviços<br />

Para Charles Darwin (1809-1882) a evolução das espécies deveu-se a partir de um ancestral único em um<br />

processo de seleção natural das espécies 1 . Tal seleção natural inclui os seres humanos com o atributo que<br />

os distinguem dos outros animais, a razão. Então, passaram a transformar os recursos na natureza com as<br />

habilidades que foram desenvolvidas sistematicamente em um processo, também evolutivo, de<br />

organização do trabalho e das instituições sociais nas quais se inseriam. Não somente o trabalho, mas<br />

forma de organizá-los fora determinante para contextualizar o homem no processo de desenvolvimento<br />

contínuo de suas capacidades para elaborar, produzir e reproduzir os objetos úteis as suas necessidades.<br />

A discussão a cerca da divisão do trabalho, se verificada como elemento do pensamento humano, não é<br />

recente. E muito menos do ponto de vista antropológico. Já existem constatações da prática da divisão<br />

social do trabalho de hominídeos e de humanos, já alguns milênios, como constatam os estudos de<br />

pesquisadores. Contudo, foi num passado recente que Adam Smith (1723-1790), tratou a descrição e<br />

discussão desse fenômeno sob a ótica da ciência econômica. Em A Riqueza das Nações considera<br />

inicialmente a propensão do ser humano para a troca de bens e serviços e os talentos individuais como<br />

fatores preponderantes para a análise do fenômeno da divisão do trabalho e suas implicações para o<br />

desenvolvimento capitalista.<br />

"[...} cada animal, individualmente, continua obrigado a ajudar-se e<br />

defender-se sozinho, não dependendo um do outro, não auferindo<br />

vantagem alguma da variedade de talentos com a qual a natureza<br />

distinguiu seus semelhantes. ao contrario, entre os homens, os caracteres<br />

e habilidades mais diferentes são úteis uns aos outros; as produções<br />

diferentes dos respectivos talentos e habilidades, em virtude da capacidade<br />

e propensão geral do intercâmbio, ao escambo e à troca, são como que<br />

somados em um cabedal comum, no qual cada um pode comprar qualquer<br />

parcela da produção dos talentos dos outros, de acordo com suas<br />

necessidades". Adam Smith (1983, P.51).<br />

Embora sua reflexão tenha uma linha de pensamento com bases na economia e sua visão esteja centrada<br />

no aspecto de que "a divisão do trabalho tem origem na propensão da natureza humana à troca" Adam<br />

Smith (1983, p. 49), é pois perceber uma linha de reflexão que inicia na relação do trabalhador com o seu<br />

ofício 2 em especial as condições que o tornaram um mediador em potencial de parcela do que produz e vai<br />

até as condições que a divisão do trabalho pode proporcionar ao conjunto da indústria de uma região, ou<br />

um país para uma situação de desenvolvimento econômico.<br />

1


Por divisão do trabalho entende-se um processo racional e metódico de fragmentação da atividade humana<br />

de criação ou de transformação de recursos da natureza em bens e/ou serviços. Tal fragmentação,<br />

corresponde ao desmembramento de uma atividade ou trabalho em diversas etapas menores e distintas<br />

com atribuições e denominações específicas que possam ser designadas a indivíduos trabalhadores, que<br />

irão executá-las sem maiores complexidades ou dificuldades.<br />

Com a divisão do trabalho pode-se chegar a partes tão pequenas e simplificadas do trabalho, chamadas de<br />

elementos do trabalho, que a qualquer cidadão possa o ser transmitido, assimilado e executado sem<br />

maiores restrições. Estas e outras vantagens podem ser esperadas da divisão do trabalho, em especial<br />

para as empresas capitalistas que tenham grande influência da mão-de-obra em suas operações. Assim o<br />

aumento da habilidade e da destreza nas operações têm relação direta com a repetitividade das tarefas.<br />

Um processo de especialização continuada é decorrente do aumento do desempenho com relação ao<br />

volume produzido 3 de produtos ou serviços.<br />

A expectativa que se tem com a fragmentação do trabalho é de que as tarefas quando reduzidas no<br />

tamanho e na complexidade se forem designadas a indivíduos, dentro de um processo produtivo, possam<br />

proporcionar melhor desempenho quanto a quantidade produzida. Este aspecto diz respeito à eficiência que<br />

se pode ser conseguida no volume produzido quando a soma do conjunto é maior que a individualidade das<br />

partes. Essa constatação tem ilustração do célebre exemplo de Adam Smith em A Riqueza das Nações.<br />

"Para tomar um exemplo, pois, de uma manufatura pouco significante, mas<br />

uma em que a divisão do trabalho tem sido muito notada: o ofício do<br />

alfineteiro; um operário não educado para esta ocupação (que a divisão do<br />

trabalho transformou numa atividade específica), nem familiarizado com o<br />

uso da maquinaria nela empregada (para cuja invenção essa mesma<br />

divisão do trabalho provavelmente deu ocasião), dificilmente poderia, talvez<br />

com seu máximo empenho, fazer um alfinete por dia, e certamente não<br />

conseguiria fazer vinte. Mas de modo em que este ofício é agora exercido,<br />

não só todo trabalho é uma atividade especial, mas está dividido num<br />

número de ramos, dos quais a maioria pode ser outras tantas indústrias.<br />

Um homem estica o arame, outro o endireita, um terceiro corta-o, um<br />

quarto o aponta, um quinto esmerilha o topo para receber a cabeça; fazer a<br />

cabeça exige duas ou três operações distintas, colocá-la é uma tarefa à<br />

parte; branquear os alfinetes, é outra; é mesmo outra indústria, o colocá-los<br />

no papel, e o importante negócio de fazer um alfinete é, destarte, dividido<br />

em cerca de dezoito operações distintas, que em algumas manufaturas são<br />

todas executadas por mãos distintas, se bem que outras o mesmo homem<br />

às vezes fará duas ou três delas. Vi uma pequena manufatura desta<br />

espécie onde apenas dez homens eram empregados, e onde alguns deles,<br />

consequentemente, executavam duas ou três operações diferentes. Não<br />

obstante sendo eles muitos pobres, e portanto, mal acomodados tão<br />

somente com a maquinaria estritamente necessária, podiam, quando se<br />

esforçavam, produzir, entre eles, cerca de doze libras de alfinetes por dia.<br />

Há numa libra, mais de quatro mil alfinetes de tamanho médio. Estas dez<br />

pessoas, portanto, conseguiam fazer um total de mais de quarenta e oito<br />

mil alfinetes por dia. Cada pessoa, portanto, fazendo uma décima parte de<br />

quarenta e oito mil alfinetes, deve produzir quatro mil e oitocentos alfinetes<br />

por dia. Mas trabalhando todos separados, independentes, e deles não<br />

conseguiria fazer vinte, nem mesmo um alfinete por dia, que, por certo, não<br />

é duzentas e quarenta vezes, nem quatro mil e oitocentas vezes menos do<br />

que atualmente são capazes de perfazer em conseqüência de uma divisão<br />

e combinação adequada de suas diferentes operações". Adam Smith<br />

(1986, p 17).<br />

O passar dos séculos e o exemplo da fábrica de alfinetes de Adam Smith somente pôde ser enriquecido<br />

com outros exemplos e pontos de vista que agregassem valor. Como o exemplo do “funileiro que faz funil”<br />

de Braverman (1987, p 74) que utilizou-o para analisar o que chama de “separação” como característica<br />

em todo processo de trabalho organizado por trabalhadores para ajustar-se às suas próprias necessidades.<br />

"Por exemplo, um funileiro faz um funil: ele desenha o traçado plano na<br />

folha de metal e daí desenvolve o esboço de um funil retificado e o bico<br />

inferior. Corta então peça com aparadores e tesouras; enrola a chapa<br />

2


conforme o modelo e solda ou rebita a junção. Depois enrola a borda<br />

superior, solda as junções, solda um asa de segurar, lava o ácido utilizado<br />

na soldagem e dá o acabamento definitivo. Mas quando ele aplica o mesmo<br />

processo a muitos funis idênticos seu modo de agir modifica-se. Em vez de<br />

desenhar o esboço diretamente no material ele faz um gabarito e o utiliza<br />

para riscar a quantidade total de funis desejados; corta todos eles, um após<br />

outro, enrola-os etc. Neste caso, em vez de fazer um só funil durante uma<br />

hora ou duas, levas horas ou mesmo dias em cada fase do processo,<br />

criando, em cada caso, fixadores, ganchos, dispositivos etc., que não<br />

valeria a pena fazer para um só funil mas que, no caso de grande<br />

quantidade de funis, acelera cada fase a ponte de que o tempo ganho<br />

justifica o tempo investido. Ele descobriu que maiores quantidades serão<br />

produzidas com menos trabalho e maior economia de tempo deste modo<br />

do que acabando cada funil individualmente antes de começar o seguinte".<br />

Braverman (1987, p. 74)<br />

O célebre exemplo da fábrica de alfinetes de Adam Smith e o exemplo do funileiro de Braverman são úteis<br />

para demonstrar a natureza e os efeitos da divisão do trabalho para o contexto da indústria manufatureira<br />

do século XVIII ou de uma atividade tão antiga como é a funilaria. O relevante é a avaliação de que se a<br />

divisão do trabalho pode ser útil a uma abordagem contemporânea de organização das operações em que o<br />

perfil das fábricas tende para unidades automatizadas ou robotizadas. Ou como outros setores, como o<br />

terciário, podem agregar valor da divisão do trabalho em que os serviços têm uma sobreposição em relação<br />

às atividades de operações fabris.<br />

Para tal reflexão segue-se um exemplo da divisão do trabalho em operações de serviços como as de um<br />

consultório odontológico. O dentista autônomo, recém formado, que faça todas as tarefas que a sua<br />

formação possibilite. Com o decorrer do tempo e com um possível aumento da procura pelos seus serviços<br />

verifica o aumento de sua carteira de clientes-pacientes. Então, percebe a necessidade de uma pessoa<br />

para ajudá-lo. O propósito é que se concentre na sua atividade fim, o tratamento odontológico. Um primeiro<br />

passo é a contratação de uma assistente que fique encarregada da limpeza e da higienização do<br />

consultório, da manipulação do material, da preparação do instrumental e na assistência clínica nos<br />

momentos de atendimento aos pacientes que requerem maiores cuidados. Então, o tempo passa, e a<br />

demanda por seus serviços continua aumentando até um ponto em que verifica que dividir as atividades de<br />

seu consultório com outro funcionário é necessário. A partir daí, passa a designar a responsabilidade da<br />

agenda para uma funcionária com as funções mais específicas de ajudá-lo na recepção de novos<br />

pacientes, atender o público, agendar serviços e receber os honorários; uma secretária. Em determinado<br />

momento verifica que a procura por seus serviços aumenta não somente no volume como também na<br />

variedade. Um aumento da variação da demanda por serviços pode obrigá-lo a recorrer a ajuda de outros<br />

profissionais. Como contratar um endodontista que especializou-se no tratamento de canal, um ortodontista<br />

que habilitou-se no tratamento e correção de alinhamento dentário, e um odontopediátrico que dedicou-se<br />

particularmente ao tratamento e prevenção bocal das crianças. Estas entre tantas outras especialidades da<br />

odontologia poderiam ser oferecidas conforme fossem a procuradas. Isso demandaria também um<br />

consultório que tivesse uma estrutura e organização administrativa, um espaço físico e uma organização<br />

para o trabalho, uma gestão de seu recursos humanos. Um complexo maior com departamentos<br />

especializados em outras áreas como o diagnóstico, exames e tratamento, também poderiam ser<br />

oferecidos. Provavelmente elevando o status do consultório para o de clínica odontológica e num futuro até<br />

Hospital odontológico.<br />

Em toda atividade de produção ou operação de serviços, como a do exemplo citado, verificam-se algumas<br />

características comuns que levam profissionais autônomos ou empresas a um processo de divisão do<br />

trabalho. O primeiro deles é o aumento sistemático da demanda pelo produto ou serviço oferecido. Daí a<br />

necessidade premente de uma instituição física como alternativa para a organização do trabalho que<br />

responda rapidamente ao aumento da procura pelos serviços. O segundo é a necessidade do<br />

desenvolvimento das instituições e que é típico das sociedades e nações capitalistas que estão<br />

desenvolvidos ou em processo de desenvolvimento 4 . A estrutura funcional, o uso de máquinas,<br />

equipamentos, as tecnologias e as edificações maiores demandam uma organização para o trabalho que<br />

atenda à racionalização destes recursos. Por último, a necessidade do generalista cede espaço ao<br />

especialista.<br />

Por outro lado, a divisão do trabalho em caso de serviços como o atendimento ao cliente em consultórios<br />

odontológicos pode ser de serviços tão especializados que demandam profissionais com habilidades<br />

dedicadas a cada área e que acabam transformando-se em um universo de aquele universo de pesquisas,<br />

estudos tão abrangentes quanto a clínica geral. Assim, a valoração do serviço tem relação direta com as<br />

3


habilidades que o profissional tem para atender as necessidades do cliente, a chamada customização.<br />

Para tanto, a sua decisão de dedicar-se a uma área específica não significa necessariamente uma<br />

limitação, vício ou fixação de tarefas rotineiras.<br />

Uma simples observação é suficiente para constatar que o exemplo da divisão do trabalho em serviços<br />

como o caso do consultório odontológico não representa um limite de fragmentação de tarefas e de<br />

especialização como na indústria por não se tratar da força de trabalho, como se fosse uma extensão, um<br />

componente de máquinas e equipamentos. No caso da indústria a preocupação com a produtividade é<br />

evidenciada. Como já foi observado por Marx (1980, p. 395), "o acréscimo de produtividade se deve então<br />

ao dispêndio crescente da forca de trabalho num dado espaço de tempo".<br />

A análise das condições de existência da divisão do trabalho leva as conclusões de que suas origens estão<br />

no artesanato e é derivada de uma evolução das condições de organização do trabalho. Uma delas de<br />

ofícios independentes que tornaram-se tão especializados que passaram a dedicar a produção para a<br />

confecção de um único produto. Outra daqueles ofícios que passaram fragmentar as tarefas e dedicá-las a<br />

trabalhadores específicos. Um processo de evolução que tem origens bem antigas já constatadas em<br />

atividades manufatureiras 5 desde a Grécia antiga. O seu foi uso impulsionado pelas condições de<br />

desenvolvimento econômico da Inglaterra no seu período de revolução industrial. Já existiam desde o<br />

século XVIII Instituições naquele país que promoviam a oferta de inventos como a Sociedade de Invento às<br />

Artes e Manufaturas.<br />

"Na década de 1760, os inventores receberam o incentivo explícito da<br />

oferta de dois prêmios pela Sociedade de Incentivo às artes e Manufaturas<br />

[...]. O objetivo era superar o atraso da capacidade de fiação, que não<br />

correspondia às necessidades dos tecelões e às encomendas dos<br />

mercadores, principalmente na estação em que o fiandeiros se acham no<br />

trabalho de colheita, sendo dificílimo (para os manufatores) conseguir um<br />

número suficiente de braços para manter empregados os seus tecelões".<br />

Dobb (1987, p.272).<br />

Esse incentivo a novos inventos criaram também condições de melhoria aos novos usuários. É como a<br />

internet nos dias de hoje e a massa de usuários que estão habilitados a utilizarem e usufruírem pelo<br />

mundo. De uma forma ou de outra não existiriam se não fossem os usuários-inventores que estivesse à<br />

frente de seus inventos. Na indústria ocorreu o mesmo, grandes inventos influenciaram toda um geração,<br />

como foram os casos da máquina a vapor, as máquinas fiadeiras, o processo de Cort na metalurgia, o<br />

telégrafo e o telefone e outros.<br />

"Segundo historiadores, houve pelo menos duas revoluções industriais: a<br />

primeira começou pouco antes dos últimos trinta anos do século XVIII,<br />

caracterizada por novas tecnologias como a máquina a vapor, a fiadeira, o<br />

processo Cort em metalurgia e, de forma mais geral, a substituição das<br />

ferramentas manuais pelas máquinas; a segunda, aproximadamente cem<br />

anos depois, destacou-se pelo desenvolvimento da eletricidade, do motor<br />

de combustão interna, de produtos químicos com base científica, da<br />

fundição eficiente de aço e pelo início das tecnologias de comunicação,<br />

com a difusão do telégrafo e a invenção do telefone". Castells (1999, p. 70)<br />

"Para uma invenção vitoriosa não basta a simples solução de um problema<br />

em princípio [...] não podemos esquecer de que as qualidades e<br />

experiências para a síntese e a aplicação vitoriosas são muitas vezes as de<br />

um organizador industrial, e não as de um técnico de laboratório". Dobb<br />

(1987, p.271)<br />

"Embora Wyatt e Paul planejassem e construíssem ambos uma máquina<br />

de fiar, não foi senão 35 anos mais tarde que surgiu uma máquina<br />

semelhante, nos mesmos moldes, destinada a ter um futuro econômico. E<br />

isso provavelmente se deveu ao fato de que Arkwright possuía o senso<br />

comercial prático que os homens de antes careciam".Dobb (1987, p.271)<br />

Do ponto de vista das condições do trabalho foram as piores possíveis as verificadas na Inglaterra do seu<br />

período de Revolução Industrial. O primeiro fenômeno verificado foi a migração da massa trabalhadora do<br />

campo para as industriais. Situação que levou o trabalhador vindo do campo para uma situação de total<br />

alienação. Preponderantemente no campo é que se verificava a multifuncionalidade, pois "várias ocupações<br />

4


só podem ser exercidas nas cidades [...]. Os trabalhadores do campo quase sempre são obrigados a<br />

executar eles mesmos todos os diversos tipos de trabalho que têm afinidade tão grande entre si, a ponto de<br />

poderem lidar com o mesmo tipo de materiais. Um carpinteiro do campo faz todo tipo de trabalho em<br />

madeira, e um ferreiro do campo faz qualquer tio de serviço com ferro". Smith (1983, P. 53). Assim, o<br />

espírito generalista multifuncional do trabalhador do campo ainda resistiu contra a indústria inglesa com<br />

algumas “trincheiras” como a do tipo de trabalho organizado nas cidades chamado a “domicílio”.<br />

"Está provado que, onde era possível, os operários abandonavam a fabrica<br />

e iam, em massa, para outros empregos. A tecelagem a domicilio era uma<br />

das raras soluções substitutivas - e talvez a única importante - do trabalho<br />

em fabrica, para aqueles que não tinham oficio. E, apesar do baixíssimo<br />

nível dos salários, mais ou menos duzentos e cinqüenta mil tecelões de<br />

algodão, a domicilio, existiam ainda no começo do século XIX. Mas, pelo<br />

fato de tornarem-se as fabricas as destinatárias quase exclusivas dos<br />

inventores, as técnicas artesanais foram ficando cada vez menos<br />

competitivas. [...] na Inglaterra, pelo meio do século. A tecelagem foi, por<br />

assim dizer, o ultimo guardião da industria a domicilio. quando se bloqueou<br />

esse caminho, a liberdade do operário em recusar a fabrica nada mais era<br />

do que a liberdade de morrer de fome". Gorz (1980, p. 70).<br />

Para a Indústria inglesa e o auge da sua revolução existia uma necessidade premente de disponibilidade de<br />

uma massa de trabalhadores que proporcionassem o impulso do volume de produção que as fábricas<br />

exigiam. As capacidades de máquinas e equipamentos não teriam significado se não fosse a capacidade<br />

física dos trabalhadores ingleses. A aplicação da tecnologia da época tinha uma dependência direta de<br />

braços e pernas dos operários. O significado disso é que seu processo de mecanização tinha uma<br />

concepção de desenvolvimento de recursos que atendesse somente aumento do volume de produção que<br />

poderia ser conseguido com o uso de máquinas conjugado com o esforço do trabalho humano. Nesta época<br />

a demanda por energia para trabalho era tão importante quanto a energia necessária para as máquinas a<br />

vapor ou a carvão. Se mensurada verifica-se o quanto foi impressionante a demanda por energia humana<br />

necessária para sustentar a indústria britânica do século XIX.<br />

“Em 1870 o Reino Unido usava 100 milhões de toneladas de carvão, que<br />

equivaliam a 800 milhões de calorias de energia, o suficiente para alimentar<br />

um população de 850 milhões de homens adultos por um ano (a população<br />

real era então de cerca de 31 milhões). A capacidade das locomotivas a<br />

vapor da Grã-Bretanha em 1870 era de cerca de 4 milhões de cavalos de<br />

força, equivalentes à energia que podia ser gerada por 40 milhões de<br />

homens; mas esses homens todos teriam comido cerca de 320 milhões de<br />

alqueires de trigo por ano – mais de três vezes a produção anual de todo o<br />

Reino Unido em 1867-71”. O uso de fontes inanimadas de energia permitiu<br />

ao homem industrial superar os limites biológicos e criar aumentos<br />

espetaculares de produção e riqueza, sem sucumbir ao peso de um<br />

população em rápido crescimento”. Kennedy (1989, p. 147),<br />

Tal situação deve ser contextualizada para a conjuntura em que expandia a Indústria inglesa e postos de<br />

trabalhos que concentravam a maioria dos trabalhadores. Existem tarefas fragmentadas em operações que<br />

não exigem tanto esforço, contudo não deixam de ter suas implicações positivas e negativas do ponto de<br />

vista do que se espera de sua divisão.Tem que se levar em conta também que mesmo operações que<br />

tenham pouco esforço físico pode não ser menos desgastantes e monótonas. O exemplo é que pode ser<br />

observado em uma fábrica de balas onde a tarefa da operária, operadora de qualidade, era simplesmente<br />

ficar todo seu turno de trabalho, oito 8 horas por dia, olhando para uma esteira que passavam milhares de<br />

balas prontas por horas e eventualmente retirando aqueles que parecessem fora do formato padrão. Ou, a<br />

tarefa observada em uma fábrica de tecidos em que o funcionário, hoje chamado de colaborador, prestavase<br />

para ficar todo o seu turno olhando milhares de metros de tecidos passarem em sua frente e<br />

eventualmente parando o processo se constatado visualmente algum defeito. Assim, o impacto destas<br />

tarefa para a vida pessoal do trabalhador, como o desgaste, a monotonia, o stress, devam ser considerados<br />

como influentes na sua produtividade.<br />

Embora possa parecer um recurso ultrapassado, a divisão do trabalho é uma alternativa utilizada por muitas<br />

empresas ainda nos dias de hoje, principalmente, por aquelas que estão começando ou têm influência<br />

direta da mão-de-obra ou daquelas que estão em desenvolvimento. As expectativas de vantagens auferidas<br />

por empresas que utilizam a divisão do trabalho são os benefícios proporcionados por ela, podendo-se<br />

considerar o mais importante deles a facilidade que se tem para dominar uma técnica e eventualmente<br />

5


transmiti-la ao nível de tarefas menores e especificas. Distribuindo todo o trabalho em partes, com certeza,<br />

é mais fácil instruir e executar. Além dessas, espera-se outras vantagens da divisão do trabalho. A<br />

assimilação de uma tarefa é bem mais rápida para quem aprende, o uso de recursos mecânicos é facilitado<br />

pelo domínio daquelas operações que são muito simples e repetitivas. Fica inequívoco que as operações<br />

que não agregam valor ficam mais fáceis de serem identificadas e retiradas do processo. A racionalidade<br />

que se dá a esta forma de organização do trabalho proporcionou uma verdadeira revolução não somente<br />

nos meios de produção como também influenciou definitivamente os países desenvolvidos na sua<br />

constituição social, política e cultural.<br />

Referencial<br />

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Ribeiro. 4a. reimpressão. Rio de Janeiro: Contraponto, São Paulo: Editora UNESP, 2003.<br />

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Nathanael C. Caixeiro. 3a. ed. Rio de Janeiro: LAIXEIRO. 3A. ed. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e<br />

Científicos Editora S.A., 1987.<br />

<strong>DO</strong>BB, Maurice. A evolução do capitalismo. Título original: Studies in the development of capitalism.<br />

Tradução de Manuel do Rego Braga. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1987.<br />

DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. Título original: De la division du travail social. Tradução de<br />

Eduardo Brandão. 2a. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.<br />

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1500 a 2000. Título original The rise and fall of the great powers. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de<br />

Janeiro: Campus, 1989.<br />

LANDES, D. The unbound Prometheus: technological change and industrial development in western Europe<br />

from 1750 to the present. Cambridge, 1969 apud KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes<br />

potências: transformação econômica e conflito militar de 1500 a 2000. Título original The rise and fall of the<br />

great powers. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Campus, 1989.<br />

LIMA, Maria Elizabeth Antunes. O significado do trabalho humano: mito e ilusões do homem moderno. Belo<br />

Horizonte: FACE-UFMG, 1986. Dissertação de mestrado - cód. 331-L732s-1986-T. ver formato de<br />

referencial de dissertação.<br />

MARX, Karl. O capital: critica da economia política. Livro Primeiro - o processo de produção do capital. Vol I.<br />

Titulo original alemão Das Kapital: Kritik der politischen Okonomie Buck I: Des Produktions-prozess des<br />

Kapital. Tradução de Reginaldo Sant'anna. 17a, ed. - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.<br />

MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Título original Das capital - kritik der politischen<br />

ökonomie. Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. 2a. ed. - São Paulo: Nova Cultural, 1985.<br />

MARX, Karl ... [et al.]. Critica da divisão do trabalho: textos. Escolhidos e apresentados por André Gorz.<br />

Tradução de Estela dos Santos Abreu. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora, 1980.<br />

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Cultural, 1983.<br />

SMITH, Adam. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. Titulo original An<br />

Inquiry into the nature and causes of the wealth of nations. Tradução de Norberto de Paula Lima. 6ª. ed. Rio<br />

de Janeiro: Ediouro Publicações S.A., 1986.<br />

6


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Stages of Economic Growth: a non-communist Manifesto. Tradução de Octavio Alves Velho e Sergio Goes<br />

de Paula. 5a ed. - Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1974.<br />

1 "Darwin observou com propriedade que a concorrência entre dois organismos e tanto mais viva quanto mais eles são<br />

análogos. Tendo as mesmas necessidades e perseguindo os mesmos objetivos, encontram-se por toda parte em<br />

rivalidade". Emile Durkheim (1999, p. 263).<br />

2 Para Adam Smith, o processo de divisão sistemático do trabalho decorre de uma propensão natural dos seres humanos<br />

se relacionarem e organizarem para atos de troca de bens e serviços produzidos através esforço racional de suas<br />

capacidades físicas e de intelecto. "É necessária se bem que muito lenta e gradual consequência de uma certa propensão<br />

da natureza humana que não tem em vista uma utilidade tão extensa: a tendência para comerciar, barganhar e trocar<br />

uma coisa por outra". (Adam Smith, 1986, p.22)<br />

3 Hoje atribui-se o termo “Curva de Aprendizagem” à capacidade humana de aumentar a produtividade de seu trabalho<br />

com o aumento sistemático de repetições de tarefas.<br />

4 Não coincidentemente as condições de desenvolvimento econômico por que passou a Inglaterra no início do século<br />

XIX e a percepção de Adam Smith sobre a revolução industrial o levaram a criar o termo divisão do trabalho para<br />

descrever este fenômeno de organização do trabalho mais adequado, na época, para o aumento da capacidade de<br />

produção das empresas inglesas.<br />

5 Neste caso o termo manufatura aplica-se àquelas atividades em que a influência da mão-de-obra seja predominante (o<br />

trabalho manual), quer seja nas antigas oficinas, quer seja na empresas industriais.<br />

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