A DIVISAO DO TRABALHO - Unifenas
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A DIVISÃO <strong>DO</strong> <strong>TRABALHO</strong> PARA O DESENVOLVIMENTO ESTRATÉGICO EM ATIVIDADES DE<br />
PRODUÇÃO E OPERAÇÕES DE SERVIÇOS.<br />
Prof. Nixon Diniz Pereira<br />
Mestre em Administração pela Universidad Champagnat - Argentina<br />
Resumo:<br />
O artigo intitulado A Divisão do Trabalho para o desenvolvimento estratégico em atividades de produção e<br />
operações de serviços aborda as circunstâncias em que desenvolveu a alternativa de organização do<br />
trabalho chamada de divisão do trabalho em atividades de produções e operações. Assim, como as suas<br />
aplicações para as estratégias empresarias com avaliação dos benefícios e malefícios que podem decorrer<br />
do seu uso sistemático dentro de horizonte de planejamento estratégico de longo prazo para as pessoas e<br />
as organizações. Constata-se que embora já exista a alguns séculos, muitas empresas contemporâneas<br />
brasileiras adotam a divisão do trabalho em seus planejamentos estratégicos e aplicam os seus princípios<br />
com todas as restrições que possa ter para a saúde humana e para o desempenho organizacional a longo<br />
prazo.<br />
[...] a cooperação fundada na divisão do trabalho adquire sua<br />
forma clássica na manufatura.<br />
Marx (1999, p. 392).<br />
O que é trabalho de um homem num estado rústico de<br />
sociedade, é geralmente o de vários, numa aperfeiçoada.<br />
Adam Smith (1986, p.18)<br />
A Divisão do Trabalho para o desenvolvimento estratégico em atividades de produção e operações<br />
de serviços<br />
Para Charles Darwin (1809-1882) a evolução das espécies deveu-se a partir de um ancestral único em um<br />
processo de seleção natural das espécies 1 . Tal seleção natural inclui os seres humanos com o atributo que<br />
os distinguem dos outros animais, a razão. Então, passaram a transformar os recursos na natureza com as<br />
habilidades que foram desenvolvidas sistematicamente em um processo, também evolutivo, de<br />
organização do trabalho e das instituições sociais nas quais se inseriam. Não somente o trabalho, mas<br />
forma de organizá-los fora determinante para contextualizar o homem no processo de desenvolvimento<br />
contínuo de suas capacidades para elaborar, produzir e reproduzir os objetos úteis as suas necessidades.<br />
A discussão a cerca da divisão do trabalho, se verificada como elemento do pensamento humano, não é<br />
recente. E muito menos do ponto de vista antropológico. Já existem constatações da prática da divisão<br />
social do trabalho de hominídeos e de humanos, já alguns milênios, como constatam os estudos de<br />
pesquisadores. Contudo, foi num passado recente que Adam Smith (1723-1790), tratou a descrição e<br />
discussão desse fenômeno sob a ótica da ciência econômica. Em A Riqueza das Nações considera<br />
inicialmente a propensão do ser humano para a troca de bens e serviços e os talentos individuais como<br />
fatores preponderantes para a análise do fenômeno da divisão do trabalho e suas implicações para o<br />
desenvolvimento capitalista.<br />
"[...} cada animal, individualmente, continua obrigado a ajudar-se e<br />
defender-se sozinho, não dependendo um do outro, não auferindo<br />
vantagem alguma da variedade de talentos com a qual a natureza<br />
distinguiu seus semelhantes. ao contrario, entre os homens, os caracteres<br />
e habilidades mais diferentes são úteis uns aos outros; as produções<br />
diferentes dos respectivos talentos e habilidades, em virtude da capacidade<br />
e propensão geral do intercâmbio, ao escambo e à troca, são como que<br />
somados em um cabedal comum, no qual cada um pode comprar qualquer<br />
parcela da produção dos talentos dos outros, de acordo com suas<br />
necessidades". Adam Smith (1983, P.51).<br />
Embora sua reflexão tenha uma linha de pensamento com bases na economia e sua visão esteja centrada<br />
no aspecto de que "a divisão do trabalho tem origem na propensão da natureza humana à troca" Adam<br />
Smith (1983, p. 49), é pois perceber uma linha de reflexão que inicia na relação do trabalhador com o seu<br />
ofício 2 em especial as condições que o tornaram um mediador em potencial de parcela do que produz e vai<br />
até as condições que a divisão do trabalho pode proporcionar ao conjunto da indústria de uma região, ou<br />
um país para uma situação de desenvolvimento econômico.<br />
1
Por divisão do trabalho entende-se um processo racional e metódico de fragmentação da atividade humana<br />
de criação ou de transformação de recursos da natureza em bens e/ou serviços. Tal fragmentação,<br />
corresponde ao desmembramento de uma atividade ou trabalho em diversas etapas menores e distintas<br />
com atribuições e denominações específicas que possam ser designadas a indivíduos trabalhadores, que<br />
irão executá-las sem maiores complexidades ou dificuldades.<br />
Com a divisão do trabalho pode-se chegar a partes tão pequenas e simplificadas do trabalho, chamadas de<br />
elementos do trabalho, que a qualquer cidadão possa o ser transmitido, assimilado e executado sem<br />
maiores restrições. Estas e outras vantagens podem ser esperadas da divisão do trabalho, em especial<br />
para as empresas capitalistas que tenham grande influência da mão-de-obra em suas operações. Assim o<br />
aumento da habilidade e da destreza nas operações têm relação direta com a repetitividade das tarefas.<br />
Um processo de especialização continuada é decorrente do aumento do desempenho com relação ao<br />
volume produzido 3 de produtos ou serviços.<br />
A expectativa que se tem com a fragmentação do trabalho é de que as tarefas quando reduzidas no<br />
tamanho e na complexidade se forem designadas a indivíduos, dentro de um processo produtivo, possam<br />
proporcionar melhor desempenho quanto a quantidade produzida. Este aspecto diz respeito à eficiência que<br />
se pode ser conseguida no volume produzido quando a soma do conjunto é maior que a individualidade das<br />
partes. Essa constatação tem ilustração do célebre exemplo de Adam Smith em A Riqueza das Nações.<br />
"Para tomar um exemplo, pois, de uma manufatura pouco significante, mas<br />
uma em que a divisão do trabalho tem sido muito notada: o ofício do<br />
alfineteiro; um operário não educado para esta ocupação (que a divisão do<br />
trabalho transformou numa atividade específica), nem familiarizado com o<br />
uso da maquinaria nela empregada (para cuja invenção essa mesma<br />
divisão do trabalho provavelmente deu ocasião), dificilmente poderia, talvez<br />
com seu máximo empenho, fazer um alfinete por dia, e certamente não<br />
conseguiria fazer vinte. Mas de modo em que este ofício é agora exercido,<br />
não só todo trabalho é uma atividade especial, mas está dividido num<br />
número de ramos, dos quais a maioria pode ser outras tantas indústrias.<br />
Um homem estica o arame, outro o endireita, um terceiro corta-o, um<br />
quarto o aponta, um quinto esmerilha o topo para receber a cabeça; fazer a<br />
cabeça exige duas ou três operações distintas, colocá-la é uma tarefa à<br />
parte; branquear os alfinetes, é outra; é mesmo outra indústria, o colocá-los<br />
no papel, e o importante negócio de fazer um alfinete é, destarte, dividido<br />
em cerca de dezoito operações distintas, que em algumas manufaturas são<br />
todas executadas por mãos distintas, se bem que outras o mesmo homem<br />
às vezes fará duas ou três delas. Vi uma pequena manufatura desta<br />
espécie onde apenas dez homens eram empregados, e onde alguns deles,<br />
consequentemente, executavam duas ou três operações diferentes. Não<br />
obstante sendo eles muitos pobres, e portanto, mal acomodados tão<br />
somente com a maquinaria estritamente necessária, podiam, quando se<br />
esforçavam, produzir, entre eles, cerca de doze libras de alfinetes por dia.<br />
Há numa libra, mais de quatro mil alfinetes de tamanho médio. Estas dez<br />
pessoas, portanto, conseguiam fazer um total de mais de quarenta e oito<br />
mil alfinetes por dia. Cada pessoa, portanto, fazendo uma décima parte de<br />
quarenta e oito mil alfinetes, deve produzir quatro mil e oitocentos alfinetes<br />
por dia. Mas trabalhando todos separados, independentes, e deles não<br />
conseguiria fazer vinte, nem mesmo um alfinete por dia, que, por certo, não<br />
é duzentas e quarenta vezes, nem quatro mil e oitocentas vezes menos do<br />
que atualmente são capazes de perfazer em conseqüência de uma divisão<br />
e combinação adequada de suas diferentes operações". Adam Smith<br />
(1986, p 17).<br />
O passar dos séculos e o exemplo da fábrica de alfinetes de Adam Smith somente pôde ser enriquecido<br />
com outros exemplos e pontos de vista que agregassem valor. Como o exemplo do “funileiro que faz funil”<br />
de Braverman (1987, p 74) que utilizou-o para analisar o que chama de “separação” como característica<br />
em todo processo de trabalho organizado por trabalhadores para ajustar-se às suas próprias necessidades.<br />
"Por exemplo, um funileiro faz um funil: ele desenha o traçado plano na<br />
folha de metal e daí desenvolve o esboço de um funil retificado e o bico<br />
inferior. Corta então peça com aparadores e tesouras; enrola a chapa<br />
2
conforme o modelo e solda ou rebita a junção. Depois enrola a borda<br />
superior, solda as junções, solda um asa de segurar, lava o ácido utilizado<br />
na soldagem e dá o acabamento definitivo. Mas quando ele aplica o mesmo<br />
processo a muitos funis idênticos seu modo de agir modifica-se. Em vez de<br />
desenhar o esboço diretamente no material ele faz um gabarito e o utiliza<br />
para riscar a quantidade total de funis desejados; corta todos eles, um após<br />
outro, enrola-os etc. Neste caso, em vez de fazer um só funil durante uma<br />
hora ou duas, levas horas ou mesmo dias em cada fase do processo,<br />
criando, em cada caso, fixadores, ganchos, dispositivos etc., que não<br />
valeria a pena fazer para um só funil mas que, no caso de grande<br />
quantidade de funis, acelera cada fase a ponte de que o tempo ganho<br />
justifica o tempo investido. Ele descobriu que maiores quantidades serão<br />
produzidas com menos trabalho e maior economia de tempo deste modo<br />
do que acabando cada funil individualmente antes de começar o seguinte".<br />
Braverman (1987, p. 74)<br />
O célebre exemplo da fábrica de alfinetes de Adam Smith e o exemplo do funileiro de Braverman são úteis<br />
para demonstrar a natureza e os efeitos da divisão do trabalho para o contexto da indústria manufatureira<br />
do século XVIII ou de uma atividade tão antiga como é a funilaria. O relevante é a avaliação de que se a<br />
divisão do trabalho pode ser útil a uma abordagem contemporânea de organização das operações em que o<br />
perfil das fábricas tende para unidades automatizadas ou robotizadas. Ou como outros setores, como o<br />
terciário, podem agregar valor da divisão do trabalho em que os serviços têm uma sobreposição em relação<br />
às atividades de operações fabris.<br />
Para tal reflexão segue-se um exemplo da divisão do trabalho em operações de serviços como as de um<br />
consultório odontológico. O dentista autônomo, recém formado, que faça todas as tarefas que a sua<br />
formação possibilite. Com o decorrer do tempo e com um possível aumento da procura pelos seus serviços<br />
verifica o aumento de sua carteira de clientes-pacientes. Então, percebe a necessidade de uma pessoa<br />
para ajudá-lo. O propósito é que se concentre na sua atividade fim, o tratamento odontológico. Um primeiro<br />
passo é a contratação de uma assistente que fique encarregada da limpeza e da higienização do<br />
consultório, da manipulação do material, da preparação do instrumental e na assistência clínica nos<br />
momentos de atendimento aos pacientes que requerem maiores cuidados. Então, o tempo passa, e a<br />
demanda por seus serviços continua aumentando até um ponto em que verifica que dividir as atividades de<br />
seu consultório com outro funcionário é necessário. A partir daí, passa a designar a responsabilidade da<br />
agenda para uma funcionária com as funções mais específicas de ajudá-lo na recepção de novos<br />
pacientes, atender o público, agendar serviços e receber os honorários; uma secretária. Em determinado<br />
momento verifica que a procura por seus serviços aumenta não somente no volume como também na<br />
variedade. Um aumento da variação da demanda por serviços pode obrigá-lo a recorrer a ajuda de outros<br />
profissionais. Como contratar um endodontista que especializou-se no tratamento de canal, um ortodontista<br />
que habilitou-se no tratamento e correção de alinhamento dentário, e um odontopediátrico que dedicou-se<br />
particularmente ao tratamento e prevenção bocal das crianças. Estas entre tantas outras especialidades da<br />
odontologia poderiam ser oferecidas conforme fossem a procuradas. Isso demandaria também um<br />
consultório que tivesse uma estrutura e organização administrativa, um espaço físico e uma organização<br />
para o trabalho, uma gestão de seu recursos humanos. Um complexo maior com departamentos<br />
especializados em outras áreas como o diagnóstico, exames e tratamento, também poderiam ser<br />
oferecidos. Provavelmente elevando o status do consultório para o de clínica odontológica e num futuro até<br />
Hospital odontológico.<br />
Em toda atividade de produção ou operação de serviços, como a do exemplo citado, verificam-se algumas<br />
características comuns que levam profissionais autônomos ou empresas a um processo de divisão do<br />
trabalho. O primeiro deles é o aumento sistemático da demanda pelo produto ou serviço oferecido. Daí a<br />
necessidade premente de uma instituição física como alternativa para a organização do trabalho que<br />
responda rapidamente ao aumento da procura pelos serviços. O segundo é a necessidade do<br />
desenvolvimento das instituições e que é típico das sociedades e nações capitalistas que estão<br />
desenvolvidos ou em processo de desenvolvimento 4 . A estrutura funcional, o uso de máquinas,<br />
equipamentos, as tecnologias e as edificações maiores demandam uma organização para o trabalho que<br />
atenda à racionalização destes recursos. Por último, a necessidade do generalista cede espaço ao<br />
especialista.<br />
Por outro lado, a divisão do trabalho em caso de serviços como o atendimento ao cliente em consultórios<br />
odontológicos pode ser de serviços tão especializados que demandam profissionais com habilidades<br />
dedicadas a cada área e que acabam transformando-se em um universo de aquele universo de pesquisas,<br />
estudos tão abrangentes quanto a clínica geral. Assim, a valoração do serviço tem relação direta com as<br />
3
habilidades que o profissional tem para atender as necessidades do cliente, a chamada customização.<br />
Para tanto, a sua decisão de dedicar-se a uma área específica não significa necessariamente uma<br />
limitação, vício ou fixação de tarefas rotineiras.<br />
Uma simples observação é suficiente para constatar que o exemplo da divisão do trabalho em serviços<br />
como o caso do consultório odontológico não representa um limite de fragmentação de tarefas e de<br />
especialização como na indústria por não se tratar da força de trabalho, como se fosse uma extensão, um<br />
componente de máquinas e equipamentos. No caso da indústria a preocupação com a produtividade é<br />
evidenciada. Como já foi observado por Marx (1980, p. 395), "o acréscimo de produtividade se deve então<br />
ao dispêndio crescente da forca de trabalho num dado espaço de tempo".<br />
A análise das condições de existência da divisão do trabalho leva as conclusões de que suas origens estão<br />
no artesanato e é derivada de uma evolução das condições de organização do trabalho. Uma delas de<br />
ofícios independentes que tornaram-se tão especializados que passaram a dedicar a produção para a<br />
confecção de um único produto. Outra daqueles ofícios que passaram fragmentar as tarefas e dedicá-las a<br />
trabalhadores específicos. Um processo de evolução que tem origens bem antigas já constatadas em<br />
atividades manufatureiras 5 desde a Grécia antiga. O seu foi uso impulsionado pelas condições de<br />
desenvolvimento econômico da Inglaterra no seu período de revolução industrial. Já existiam desde o<br />
século XVIII Instituições naquele país que promoviam a oferta de inventos como a Sociedade de Invento às<br />
Artes e Manufaturas.<br />
"Na década de 1760, os inventores receberam o incentivo explícito da<br />
oferta de dois prêmios pela Sociedade de Incentivo às artes e Manufaturas<br />
[...]. O objetivo era superar o atraso da capacidade de fiação, que não<br />
correspondia às necessidades dos tecelões e às encomendas dos<br />
mercadores, principalmente na estação em que o fiandeiros se acham no<br />
trabalho de colheita, sendo dificílimo (para os manufatores) conseguir um<br />
número suficiente de braços para manter empregados os seus tecelões".<br />
Dobb (1987, p.272).<br />
Esse incentivo a novos inventos criaram também condições de melhoria aos novos usuários. É como a<br />
internet nos dias de hoje e a massa de usuários que estão habilitados a utilizarem e usufruírem pelo<br />
mundo. De uma forma ou de outra não existiriam se não fossem os usuários-inventores que estivesse à<br />
frente de seus inventos. Na indústria ocorreu o mesmo, grandes inventos influenciaram toda um geração,<br />
como foram os casos da máquina a vapor, as máquinas fiadeiras, o processo de Cort na metalurgia, o<br />
telégrafo e o telefone e outros.<br />
"Segundo historiadores, houve pelo menos duas revoluções industriais: a<br />
primeira começou pouco antes dos últimos trinta anos do século XVIII,<br />
caracterizada por novas tecnologias como a máquina a vapor, a fiadeira, o<br />
processo Cort em metalurgia e, de forma mais geral, a substituição das<br />
ferramentas manuais pelas máquinas; a segunda, aproximadamente cem<br />
anos depois, destacou-se pelo desenvolvimento da eletricidade, do motor<br />
de combustão interna, de produtos químicos com base científica, da<br />
fundição eficiente de aço e pelo início das tecnologias de comunicação,<br />
com a difusão do telégrafo e a invenção do telefone". Castells (1999, p. 70)<br />
"Para uma invenção vitoriosa não basta a simples solução de um problema<br />
em princípio [...] não podemos esquecer de que as qualidades e<br />
experiências para a síntese e a aplicação vitoriosas são muitas vezes as de<br />
um organizador industrial, e não as de um técnico de laboratório". Dobb<br />
(1987, p.271)<br />
"Embora Wyatt e Paul planejassem e construíssem ambos uma máquina<br />
de fiar, não foi senão 35 anos mais tarde que surgiu uma máquina<br />
semelhante, nos mesmos moldes, destinada a ter um futuro econômico. E<br />
isso provavelmente se deveu ao fato de que Arkwright possuía o senso<br />
comercial prático que os homens de antes careciam".Dobb (1987, p.271)<br />
Do ponto de vista das condições do trabalho foram as piores possíveis as verificadas na Inglaterra do seu<br />
período de Revolução Industrial. O primeiro fenômeno verificado foi a migração da massa trabalhadora do<br />
campo para as industriais. Situação que levou o trabalhador vindo do campo para uma situação de total<br />
alienação. Preponderantemente no campo é que se verificava a multifuncionalidade, pois "várias ocupações<br />
4
só podem ser exercidas nas cidades [...]. Os trabalhadores do campo quase sempre são obrigados a<br />
executar eles mesmos todos os diversos tipos de trabalho que têm afinidade tão grande entre si, a ponto de<br />
poderem lidar com o mesmo tipo de materiais. Um carpinteiro do campo faz todo tipo de trabalho em<br />
madeira, e um ferreiro do campo faz qualquer tio de serviço com ferro". Smith (1983, P. 53). Assim, o<br />
espírito generalista multifuncional do trabalhador do campo ainda resistiu contra a indústria inglesa com<br />
algumas “trincheiras” como a do tipo de trabalho organizado nas cidades chamado a “domicílio”.<br />
"Está provado que, onde era possível, os operários abandonavam a fabrica<br />
e iam, em massa, para outros empregos. A tecelagem a domicilio era uma<br />
das raras soluções substitutivas - e talvez a única importante - do trabalho<br />
em fabrica, para aqueles que não tinham oficio. E, apesar do baixíssimo<br />
nível dos salários, mais ou menos duzentos e cinqüenta mil tecelões de<br />
algodão, a domicilio, existiam ainda no começo do século XIX. Mas, pelo<br />
fato de tornarem-se as fabricas as destinatárias quase exclusivas dos<br />
inventores, as técnicas artesanais foram ficando cada vez menos<br />
competitivas. [...] na Inglaterra, pelo meio do século. A tecelagem foi, por<br />
assim dizer, o ultimo guardião da industria a domicilio. quando se bloqueou<br />
esse caminho, a liberdade do operário em recusar a fabrica nada mais era<br />
do que a liberdade de morrer de fome". Gorz (1980, p. 70).<br />
Para a Indústria inglesa e o auge da sua revolução existia uma necessidade premente de disponibilidade de<br />
uma massa de trabalhadores que proporcionassem o impulso do volume de produção que as fábricas<br />
exigiam. As capacidades de máquinas e equipamentos não teriam significado se não fosse a capacidade<br />
física dos trabalhadores ingleses. A aplicação da tecnologia da época tinha uma dependência direta de<br />
braços e pernas dos operários. O significado disso é que seu processo de mecanização tinha uma<br />
concepção de desenvolvimento de recursos que atendesse somente aumento do volume de produção que<br />
poderia ser conseguido com o uso de máquinas conjugado com o esforço do trabalho humano. Nesta época<br />
a demanda por energia para trabalho era tão importante quanto a energia necessária para as máquinas a<br />
vapor ou a carvão. Se mensurada verifica-se o quanto foi impressionante a demanda por energia humana<br />
necessária para sustentar a indústria britânica do século XIX.<br />
“Em 1870 o Reino Unido usava 100 milhões de toneladas de carvão, que<br />
equivaliam a 800 milhões de calorias de energia, o suficiente para alimentar<br />
um população de 850 milhões de homens adultos por um ano (a população<br />
real era então de cerca de 31 milhões). A capacidade das locomotivas a<br />
vapor da Grã-Bretanha em 1870 era de cerca de 4 milhões de cavalos de<br />
força, equivalentes à energia que podia ser gerada por 40 milhões de<br />
homens; mas esses homens todos teriam comido cerca de 320 milhões de<br />
alqueires de trigo por ano – mais de três vezes a produção anual de todo o<br />
Reino Unido em 1867-71”. O uso de fontes inanimadas de energia permitiu<br />
ao homem industrial superar os limites biológicos e criar aumentos<br />
espetaculares de produção e riqueza, sem sucumbir ao peso de um<br />
população em rápido crescimento”. Kennedy (1989, p. 147),<br />
Tal situação deve ser contextualizada para a conjuntura em que expandia a Indústria inglesa e postos de<br />
trabalhos que concentravam a maioria dos trabalhadores. Existem tarefas fragmentadas em operações que<br />
não exigem tanto esforço, contudo não deixam de ter suas implicações positivas e negativas do ponto de<br />
vista do que se espera de sua divisão.Tem que se levar em conta também que mesmo operações que<br />
tenham pouco esforço físico pode não ser menos desgastantes e monótonas. O exemplo é que pode ser<br />
observado em uma fábrica de balas onde a tarefa da operária, operadora de qualidade, era simplesmente<br />
ficar todo seu turno de trabalho, oito 8 horas por dia, olhando para uma esteira que passavam milhares de<br />
balas prontas por horas e eventualmente retirando aqueles que parecessem fora do formato padrão. Ou, a<br />
tarefa observada em uma fábrica de tecidos em que o funcionário, hoje chamado de colaborador, prestavase<br />
para ficar todo o seu turno olhando milhares de metros de tecidos passarem em sua frente e<br />
eventualmente parando o processo se constatado visualmente algum defeito. Assim, o impacto destas<br />
tarefa para a vida pessoal do trabalhador, como o desgaste, a monotonia, o stress, devam ser considerados<br />
como influentes na sua produtividade.<br />
Embora possa parecer um recurso ultrapassado, a divisão do trabalho é uma alternativa utilizada por muitas<br />
empresas ainda nos dias de hoje, principalmente, por aquelas que estão começando ou têm influência<br />
direta da mão-de-obra ou daquelas que estão em desenvolvimento. As expectativas de vantagens auferidas<br />
por empresas que utilizam a divisão do trabalho são os benefícios proporcionados por ela, podendo-se<br />
considerar o mais importante deles a facilidade que se tem para dominar uma técnica e eventualmente<br />
5
transmiti-la ao nível de tarefas menores e especificas. Distribuindo todo o trabalho em partes, com certeza,<br />
é mais fácil instruir e executar. Além dessas, espera-se outras vantagens da divisão do trabalho. A<br />
assimilação de uma tarefa é bem mais rápida para quem aprende, o uso de recursos mecânicos é facilitado<br />
pelo domínio daquelas operações que são muito simples e repetitivas. Fica inequívoco que as operações<br />
que não agregam valor ficam mais fáceis de serem identificadas e retiradas do processo. A racionalidade<br />
que se dá a esta forma de organização do trabalho proporcionou uma verdadeira revolução não somente<br />
nos meios de produção como também influenciou definitivamente os países desenvolvidos na sua<br />
constituição social, política e cultural.<br />
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1 "Darwin observou com propriedade que a concorrência entre dois organismos e tanto mais viva quanto mais eles são<br />
análogos. Tendo as mesmas necessidades e perseguindo os mesmos objetivos, encontram-se por toda parte em<br />
rivalidade". Emile Durkheim (1999, p. 263).<br />
2 Para Adam Smith, o processo de divisão sistemático do trabalho decorre de uma propensão natural dos seres humanos<br />
se relacionarem e organizarem para atos de troca de bens e serviços produzidos através esforço racional de suas<br />
capacidades físicas e de intelecto. "É necessária se bem que muito lenta e gradual consequência de uma certa propensão<br />
da natureza humana que não tem em vista uma utilidade tão extensa: a tendência para comerciar, barganhar e trocar<br />
uma coisa por outra". (Adam Smith, 1986, p.22)<br />
3 Hoje atribui-se o termo “Curva de Aprendizagem” à capacidade humana de aumentar a produtividade de seu trabalho<br />
com o aumento sistemático de repetições de tarefas.<br />
4 Não coincidentemente as condições de desenvolvimento econômico por que passou a Inglaterra no início do século<br />
XIX e a percepção de Adam Smith sobre a revolução industrial o levaram a criar o termo divisão do trabalho para<br />
descrever este fenômeno de organização do trabalho mais adequado, na época, para o aumento da capacidade de<br />
produção das empresas inglesas.<br />
5 Neste caso o termo manufatura aplica-se àquelas atividades em que a influência da mão-de-obra seja predominante (o<br />
trabalho manual), quer seja nas antigas oficinas, quer seja na empresas industriais.<br />
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