Boletim Informativo Vassouras e companhia - Junta de Freguesia de ...
Boletim Informativo Vassouras e companhia - Junta de Freguesia de ...
Boletim Informativo Vassouras e companhia - Junta de Freguesia de ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Junta</strong> <strong>de</strong> <strong>Freguesia</strong> <strong>de</strong> São José<br />
O novo Capitólio –<br />
mais um “elefante branco”?<br />
Hoje, ao fim <strong>de</strong> algum tempo, volto<br />
a escrever. E <strong>de</strong>sta vez sobre algo que<br />
me <strong>de</strong>ixa furioso: estou fartinho <strong>de</strong> ver<br />
o Parque Mayer <strong>de</strong> rastos e com todos<br />
a valerem-se <strong>de</strong>le para algo.<br />
Para quem não sabe, o Cine-Teatro<br />
Capitólio é uma obra <strong>de</strong> Cristino da<br />
Silva que data <strong>de</strong> 1929 (telas finais) e<br />
tem como seu primeiro baptismo o<br />
nome <strong>de</strong> EL DOURADO, <strong>de</strong>rivado às<br />
suas linhas arrojadas e às suas laterais<br />
basculantes em vidro, que com a<br />
luz emanada do seu interior lhe dava<br />
uma aura dourada... El Dourado era,<br />
como o seu próprio nome indicava,<br />
uma utopia que <strong>de</strong>pressa Cristino da<br />
Silva percebeu. Não tinha viabilida<strong>de</strong><br />
económica (já em 1929) e em meados<br />
dos anos 30, com a chegada do<br />
cinema sonoro, <strong>de</strong>pressa se chegou<br />
à conclusão que era urgente alterar<br />
alguns aspectos do então El Dourado.<br />
O patrocínio da obra (sim porque<br />
nem nesta altura o Estado entrou<br />
com algum) obrigava a que o monumento<br />
<strong>de</strong> betão armado tivesse um<br />
nome português. Foi então que se<br />
passou a chamar CAPITÓLIO, já com<br />
um <strong>de</strong>senho mais teatro <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong><br />
ser uma sala para café/cervejaria para<br />
concertos <strong>de</strong> charleston ou bailes <strong>de</strong><br />
fim <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>. Foi também acrescentada<br />
uma cobertura para que o então<br />
Jardim-Cinema pu<strong>de</strong>sse funcionar<br />
mais do que dois ou três meses por<br />
ano. Já que com as modificações era<br />
então possível ter dois espectáculos<br />
ao mesmo tempo.<br />
Com a chegada <strong>de</strong>stas modificações,<br />
a sala passou a ter 1200 lugares<br />
sentados e mais 600 no terraço café/<br />
concerto. Isto até ao seu provisório<br />
encerramento em 1992, on<strong>de</strong> ficou<br />
como sala <strong>de</strong> ensaios da Orquestra<br />
Metropolitana <strong>de</strong> Lisboa, pois <strong>de</strong>vido<br />
à sua acústica era um bom espaço<br />
para se ensaiar.<br />
Des<strong>de</strong> sempre que ouvi falar em<br />
obras no Parque Mayer e sempre tentei<br />
apreciar os projectos <strong>de</strong> uma forma<br />
construtiva e positiva. O projecto<br />
do concurso para o Parque Mayer não<br />
me parece mau, partindo do princípio<br />
que qualquer coisa é melhor do que o<br />
que lá está agora! O mesmo não posso<br />
dizer do projecto para recuperar o ainda<br />
<strong>de</strong> seu nome CAPITÓLIO.<br />
A sua transformação para o recuperar<br />
à traça original vai ser a morte do<br />
espaço que não se consegue viabilizar<br />
<strong>de</strong>sta forma. (O OUTRO SENHOR PER-<br />
CEBEU LOGO ISSO).<br />
Que me interessa ter uma plateia<br />
<strong>de</strong> 500 ou 600 lugares que se mexe<br />
para a esquerda ou para a direita se<br />
os espectáculos que lá posso apresentar<br />
logo à partida são limitados.<br />
Limitados, porque salas sem fosso <strong>de</strong><br />
orquestra com teias mais pequenas<br />
que o palco e ro<strong>de</strong>adas <strong>de</strong> vidro tipo<br />
estufa são limitadas. Se posso pôr<br />
uma orquestra não vou po<strong>de</strong>r dar um<br />
concerto <strong>de</strong> rock; se posso pôr poesia<br />
já não posso fazer uma comédia<br />
e não é por só haver um palco mas<br />
sim porque tecnicamente assim não<br />
é possível. Além disso, com 450/500<br />
lugares não é possível haver preços<br />
baixos nos bilhetes; logo aí, só as “elites”<br />
é que têm direito à cultura?<br />
Lisboa não tem uma só sala com<br />
1200 lugares (tirando o Tivoli que é<br />
privado); tem salas com 380 lugares<br />
(Villaret) e passa para o Coliseu com<br />
cerca <strong>de</strong> 3000.<br />
O CAPITÓLIO assim, com 1200 lugares,<br />
daria para trazer espectáculos<br />
<strong>de</strong> fora, montagens internas, operetas,<br />
óperas, comédias, revistas, concertos;<br />
daria para tudo. Quando digo<br />
assim é claro numa forma metafórica,<br />
pois eu sei que o espaço precisa<br />
<strong>de</strong> obras <strong>de</strong> requalificação, mas não<br />
<strong>de</strong> uma sentença <strong>de</strong> morte; ou vai o<br />
Estado assumir a programação? Não<br />
EDItORIAl<br />
me parece, pois os teatros nacionais<br />
ou municipais só costumam passar<br />
aquilo que ninguém – o público em<br />
geral – quer ver.<br />
Qual é o produtor privado que vai<br />
agarrar num espaço assim? Vai a CML<br />
agarrar mais este buraco?<br />
Em suma, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>stas obras o<br />
CAPITÓLIO vai ser rebaptizado <strong>de</strong> Raul<br />
Solnado (homenagem muito justa é<br />
certo! MERECE!). Mas para quem não<br />
sabe, o Raul era um homem <strong>de</strong> êxitos<br />
<strong>de</strong> bilheteira: “Há Petróleo no Beato”,<br />
“A tocar é que a gente se enten<strong>de</strong>” ou<br />
o “Super-Silva”, que esteve APENAS<br />
dois anos e meio em cartaz <strong>de</strong> Terça a<br />
Domingo com passagem pela Europa,<br />
América e Brasil dando um salto ainda<br />
à Venezuela... Se merece um teatro<br />
com o seu nome? De certeza! Mas um<br />
que não será este, e assim nestes contornos.<br />
Lisboa vai ter mais um ELEFANTE<br />
BRANCO com cinema dois ou três meses<br />
por ano se a programação da sala<br />
<strong>de</strong> bailaricos o permitir...<br />
Não se consegue perceber o que<br />
quer este executivo do nobre espaço<br />
lisboeta. Continuar assim? Ban<strong>de</strong>ira<br />
eleitoral para mais umas eleições?<br />
Apetece-me dizer o que esteve escrito<br />
nas pare<strong>de</strong>s da barragem do Alqueva<br />
durante mais <strong>de</strong> 30 anos... Parque<br />
Mayer? Construam-me...<br />
Vasco Morgado<br />
< 3 >