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Transando com Jesus - Moa Sipriano

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* * *<br />

Sobre mim-eu-mesmo: “<strong>Moa</strong> <strong>Sipriano</strong> produz exclusivamente literatura adulta que aborda<br />

todos os meandros do universo gay masculino. Seus artigos realistas, contos polêmicos e<br />

romances homoeróticos remetem à reflexão e promovem momentos excitantes de<br />

surpreendentes descobertas.”<br />

* * *<br />

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2


<strong>Transando</strong> <strong>com</strong> <strong>Jesus</strong><br />

<strong>Moa</strong> <strong>Sipriano</strong><br />

2003<br />

3


O pastor chegava exatamente às sete da noite. Estacionava o carro em sua vaga exclusiva,<br />

onde dois cones estratégicos na via pública impediam a parada dos carros mortais. O Homem de<br />

Deus deixava o interior do veículo coreano embalado ao som dos cânticos de louvor entoados por<br />

uma bela voz de barítono de um novo talento patrocinado pela sua prestigiada gravadora<br />

evangélica.<br />

O culto de quarta-feira <strong>com</strong>eçava às sete e meia. Alguns irmãos já oravam ajoelhados perante<br />

o púlpito de madeira maciça, encerado à exaustão pelo jovem caseiro que cuidava do salão, onde o<br />

brilho da madeira inspirava as súplicas que seriam entregues a Deus ao final da pregação.<br />

O sorriso radiante de dentes brancos perfeitos do pastor – ao custo de trinta mil lovs –<br />

abrandava o sacrifício daquela gente pobre e humilde que depositava toda sua fé no Servo do<br />

Senhor, o homem rico, culto e poderoso que havia sido “escolhido” por Deus, e que prometia a<br />

cada culto realizado a chance única daquelas almas cansadas terem todos seus apelos atendidos<br />

pelo Santíssimo.<br />

Um pouco antes do início do culto de adoração, <strong>com</strong>o por encanto, centenas de pessoas<br />

surgiam sabe-se lá de onde. Todas ansiosas para presenciar o espetáculo de gestos, palavras e<br />

emoções proporcionados pelo grandiloquente pastor diante das suas ovelhas histéricas; um<br />

povinho embotado na ignorância.<br />

Agora concentrado, sentado em sua cadeira no fundo do “templo”, o pastor acariciava sua<br />

bíblia velha de guerra, retirando um pequeno marca-textos feito de papel e seda do meio de uma<br />

página amarelada qualquer. Assim era aberta as entranhas do espetáculo.<br />

O pastor já havia decorado a bíblia de cabo a rabo. Ele sabia o que proferir no sermão<br />

daquela noite. Nada que fugisse do trivial. Pequenos dramas encenando os mistérios da Salvação.<br />

Um pouco de suspense evocando o sofrimento e o perdão. O grande final era reservado para as<br />

orações lacrimosas, ditas em alto e bom som, onde lágrimas pré-fabricadas inundariam as faces<br />

coradas no instante exato. E o pastor invocaria o nome do seu xará quase que movido pelo<br />

histerismo crônico, para o delírio da plateia ensandecida.<br />

Uma hora e quinze minutos de um espetáculo da melhor qualidade. <strong>Jesus</strong> havia se superado,<br />

mais uma vez! Agora era o momento de colher as glórias de uma atuação impecável. A volta do<br />

sorriso perfeito e o aperto seguro de mãos, man<strong>com</strong>unados <strong>com</strong> um leve tapinha nas costas e um<br />

olhar azul profundo exalando <strong>com</strong>paixão era o suficiente para transmitir serenidade quase que<br />

divina aos irmãos tão necessitados de atenção.<br />

As notas mirradas de lovs eram depositadas em uma cesta de vime que repousava sobre uma<br />

mesa de plástico. Todos empenhadíssimos em prol da reforma do salão, segundo as palavras de<br />

4


incentivo do pastor.<br />

Mas o que a maioria dos irmãos não sabia era que boa parte daquele dinheiro suado seria<br />

investida naquela mesma noite, a poucos metros dali, numa casinha simples e discreta escondida<br />

numa das praias esquecidas de Lovland, onde o santo que não era santo costumava frequentar <strong>com</strong><br />

assiduidade antes de voltar para sua casa luxuosa num condomínio fechado ao sul de Downie, cair<br />

nos braços dos seus dois filhos pequenos, tomar um segundo banho, e dormir contrariado ao lado<br />

da bispa esposa frígida.<br />

* * *<br />

Quinze minutos de sexo naquela noite valiam trezentos lovs. O pastor chegaria a qualquer<br />

momento. As palavras não eram mais necessárias. Porém Dürks sentiu necessidade de <strong>com</strong>emorar<br />

aquela noite fria de um agosto <strong>com</strong>um e corrente. Há dez anos o pastor mantinha um caso <strong>com</strong><br />

Dürks, hoje um rapaz de 24 anos, dono de um belo corpo esculpido ao som do axé baiano, mas<br />

sem conteúdo algum na cabeça “solineuzada”.<br />

Poucos minutos eram suficientes para o descarrego do velho homem. <strong>Jesus</strong> sempre abria as<br />

portas <strong>com</strong> a própria chave. <strong>Jesus</strong> sempre retirava metodicamente peça por peça de suas roupas de<br />

caimento perfeito, colocando-as delicadamente em um único cabide posicionado atrás da porta do<br />

único quarto.<br />

<strong>Jesus</strong>, trajando apenas a cueca branca, olhava para aquele corpo moreno e liso posicionado<br />

“de quatro”, <strong>com</strong> as pernas bem abertas sobre o colchão de molas, pronto para ser penetrado <strong>com</strong><br />

selvageria nada divina.<br />

<strong>Jesus</strong> “entrava <strong>com</strong> tudo” naquele corpo que rebolava e gemia e gritava falsamente de prazer,<br />

tudo para satisfazer o homem santo que não era santo. Atos repetidos à exaustão por tanto tempo,<br />

onde os sentimentos estavam sepultados e somente o velho corpo viciado ainda precisava<br />

desesperadamente consumir aquela carne fresca, quente, sensual, submissa.<br />

Dürks rebolava. <strong>Jesus</strong> gritava. Ambos oravam o “pai-nosso”, entre gemidos e sussurros.<br />

Assim era o prazer do casal enrustido, suando o corpo e ferindo a alma entre quatro paredes fétidas<br />

que imploravam por uma demão de tinta fresca.<br />

“O senhor <strong>Jesus</strong> é o meu Pastor e nunca me abandonará!”, gritava Dürks, manipulando seu<br />

sexo até jorrar seus pecados sobre o lençol de tecido barato.<br />

O pastor <strong>Jesus</strong> mordia as costas do seu amante, e entre uma oração e uma súplica de perdão<br />

ao Pai, também depositava sua essência hipócrita dentro do corpo sarado do amante bailarino.<br />

5


Banho tomado, cabelos alinhados, perfume reposto, o pastor <strong>Jesus</strong> tirava algumas notas<br />

amarrotadas da carteira – fruto do esforço dos irmãos –, e deixava o montante sobre a cama<br />

bagunçada do casal.<br />

“Parabéns para nós, parabéns para nós...”, cantava, desafinado, o amante vindo da cozinha<br />

minúscula, segurando uma travessa onde repousava um pequeno bolo caseiro de chocolate.<br />

Apesar da pressa, <strong>Jesus</strong> aceitou um pedaço da sua sobremesa favorita, para não fazer desfeita<br />

ao seu caro objeto de prazer. O pastor a<strong>com</strong>panhava assustado as horas no excêntrico relógio de<br />

pulso coberto de ouro. Tudo era controlado. Para tudo havia um rígido horário a ser cumprido.<br />

“O dinheiro dos irmãos sustenta o nosso prazer”, disse Dürks, enquanto limpava a boca do<br />

seu homem, que feito criança se deliciava <strong>com</strong> os restos de uma fatia fina de bolo.<br />

“Amém, Senhor, Aleluia!”, gritou <strong>Jesus</strong>, olhando para um céu imaginário, pondo-se de pé<br />

logo em seguida pronto para voltar ao seu lar perfeito, inventar mais uma desculpa esfarrapada à<br />

esposa falsamente queixosa e dormir o sono tranquilo daqueles que sustentam o báculo da<br />

Hipocrisia.<br />

FIM<br />

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