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Poltrona 47 – Três... é demais? - Moa Sipriano

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pequena doação ao autor. Toda forma de apoio <strong>é</strong> bem-vinda e sua atitude incentivará a<br />

continuidade deste projeto literário único no Brasil.<br />

* * *<br />

Sobre mim-eu-mesmo: “<strong>Moa</strong> <strong>Sipriano</strong> produz exclusivamente literatura adulta que aborda<br />

todos os meandros do universo gay masculino. Seus artigos realistas, contos polêmicos e<br />

romances homoeróticos remetem à reflexão e promovem momentos excitantes de<br />

surpreendentes descobertas.”<br />

* * *<br />

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<strong>Poltrona</strong> <strong>47</strong> <strong>–</strong> <strong>Três</strong>... <strong>é</strong> <strong>demais</strong>?<br />

<strong>Moa</strong> <strong>Sipriano</strong><br />

2004<br />

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Dor. Angústia. Desejo. Prazer. Um misto de sentimentos. Sensações contraditórias invadem<br />

meus pensamentos. Quero mais. Foi como usar uma droga poderosa, viciante. Não importa. Eu<br />

precisava viver tudo aquilo. E não me arrependo do que fiz. Faria tudo outra vez. Ou talvez não...<br />

não sei. Estou confuso. Preciso dormir.<br />

Os primeiros raios de sol penetram o interior do meu quarto. Estou sozinho em minha cama,<br />

meu reinado absoluto. Respiro fundo. Fecho os olhos. Tento colocar ordem nos últimos neurônios.<br />

Preciso contar-lhe o que ocorreu. Minhas mãos tremem entre as teclas do Powerbook. A digitação<br />

está a passos lentos. Os acontecimentos não esperam a minha falta de rapidez na datilografia<br />

digital. Mas o meu diário eletrônico precisa ser escrito. Talvez amanhã eu já não queira recordar<br />

todos os detalhes. Vamos lá, digo para mim mesmo, coloque tudo para fora. Agora!<br />

Eu estava na praia de Gobsun, a mais bela da ilha de Lovland, fotografando três Subarus<br />

para um catálogo automobilístico. Foram dois dias de trabalho intenso.<br />

Eu e minha equipe, composta de cinco profissionais competentes, <strong>é</strong>ramos manipulados pelos<br />

caprichos da Natureza. Ora eram os ventos que brincavam de cobrir os carros com a areia fina. Ora<br />

eram as nuvens cobrindo a luz do sol, impedindo assim uma boa exposição das futuras fotos. Já em<br />

outros momentos delicados, todos tinham que aguentar o meu “bom humor”. Foram inúmeras as<br />

situações em que minha tromba arrastava-se pelas areias brancas e quentes. Compreendo que sou<br />

excêntrico <strong>demais</strong> na arte de fotografar carros.<br />

Na quinta-feira, último dia de trabalho, eu estava exausto. As últimas imagens saíram por<br />

pura intuição. Lou, meu assistente direto, assumira o controle de tudo. Segui para o pequeno chal<strong>é</strong><br />

que nos fora alugado para aquela produção. Tomei um rápido banho. Sou neurótico quanto à minha<br />

higiene corporal. Peguei as chaves de casa e a inseparável mochila de lona com parte dos meus<br />

pertences.<br />

Atravessei a rua Weiss em direção ao ponto de ônibus mais próximo. De acordo com o<br />

caseiro do chal<strong>é</strong> onde estávamos, dentro de poucos minutos para as oito passaria um ônibus que<br />

me levaria para o outro lado da ilha. Uma das paradas ficava a menos de vinte metros da minha<br />

querida e confortável casa.<br />

O rapaz tinha razão. Quatro minutos para as oito da noite surgiu o capenga veículo prateado.<br />

Entrei, paguei minha passagem ao motorista de cara amarrada e fui sentar na já tradicional<br />

poltrona <strong>47</strong>. Nem prestei muita atenção nas poucas pessoas que estavam no ônibus.<br />

Fazia um calor sufocante, fora de <strong>é</strong>poca. Abri não só a minha janela como tamb<strong>é</strong>m as do lado<br />

oposto da minha poltrona. Enquanto estava em p<strong>é</strong>, reparei que havia somente alguns funcionários<br />

<strong>–</strong> devido ao uniforme cinza e azul <strong>–</strong> da própria empresa do Pássaro Prateado, no interior do<br />

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veículo.<br />

Na metade do caminho, em uma das paradas normais, um grupo de quatro pessoas<br />

desembarcou. Permaneceram somente eu, o motorista e mais dois empregados. Um dos rapazes<br />

falava muito alto. Contava as desventuras de sua vida profissional. Dizia improp<strong>é</strong>rios sobre alguns<br />

colegas de trabalho. E, <strong>é</strong> claro, “metia o pau” na diretoria da empresa. Na minha privacidade eu ria<br />

daquela situação. Ria do seu p<strong>é</strong>ssimo português misturado com sua língua materna, o alemão.<br />

Durante a curta viagem, a noite se tornava cada vez mais abafada, densa. Não era possível<br />

ver nada na estrada. Em uma das curvas o ônibus deu um tremendo tranco. Todos nós gritamos de<br />

espanto, cada um com o seu trinado característico. O hábil motorista conseguiu encostar o veículo<br />

na beira da estrada. O primeiro pensamento que me ocorreu foi que naquela hora, naquele trecho<br />

da estrada quase ningu<strong>é</strong>m passaria, ainda mais neste lado da ilha, uma região sem casas de<br />

veraneio ou com<strong>é</strong>rcio... um pedaço praticamente deserto fora da temporada.<br />

A porta foi aberta e os três homens foram verificar o que havia ocorrido. O cansaço impedia<br />

os sentidos de ordenarem meu c<strong>é</strong>rebro a tomar alguma atitude. Levantei-me lentamente e caminhei<br />

para fora do ônibus. Vi os três discutindo fatos mecânicos. Uma portinhola lateral estava aberta na<br />

bunda do possante. O motorista mexia em cabos e velas e fios. O rapaz de voz potente segurava<br />

uma lanterna. Eu fiquei ali, tontificado, acompanhando tudo em silêncio.<br />

Finalmente algu<strong>é</strong>m notou que eu existia. Um dos empregados perguntou se eu tinha um<br />

celular. Fiz um sinal de positivo com a cabeça e sem dizer uma só palavra voltei para dentro do<br />

velho veículo para pegar o aparelho.<br />

De volta à reunião de cúpula, entreguei o diminuto Motorola ao empregado. Ele me<br />

agradeceu com um sorriso e discou rapidamente os números da Central de Apoio. O outro rapaz, o<br />

que possuía um vozeirão, conversava com o motorista. Ambos discutiam o sexo dos anjos<br />

mecânicos. Eu sem entender aquele dialeto de mecânica aprendido em cursos por correspondência,<br />

permaneci em p<strong>é</strong>, recostado na lataria fria do Pássaro de Prata abatido.<br />

“Bom, pelo jeito parece que ficaremos algumas horas esperando o resgate”, disse o rapaz que<br />

estava com o celular, devolvendo-o para mim e novamente me presenteando com um belo sorriso,<br />

que em nada combinava com o seu velho macacão e sua barba acumulada por três dias seguidos.<br />

Após uns vinte minutos de discussões inúteis, finalmente os três homens resolveram aguardar o<br />

resgate passivamente. O rapaz da potente voz tirou a camisa. Sentou-se no chão de areia e ficou<br />

contemplando as estrelas.<br />

Eu contemplava seu corpo. E foi difícil controlar o desejo. O motorista, um homem na faixa<br />

dos sessenta, os cabelos prateados do mesmo tom da pintura do seu objeto de trabalho, percebeu a<br />

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minha excitação.<br />

“Vamos entrar. É mais seguro dentro do ônibus”, ele disse, sem convencer ningu<strong>é</strong>m. Seus<br />

olhos dissecavam meu corpo. Percebi que algo estava para acontecer.<br />

“Vou ficar aqui mais um pouco”, disse o rapaz sem camisa. “Vocês são loucos em<br />

permanecer dentro dessa estufa ambulante!”<br />

Entrei e imediatamente fui para a “cozinha”. Permaneci sentado e quieto. O motorista e o<br />

rapaz do belo sorriso conversavam em tom muito baixo, quase um sussurro. Aquela reação de<br />

cumplicidade entre os dois estava me deixando fora de órbita. O volume cresceu entre minhas<br />

pernas e baixos pensamentos rodopiavam em minha mente. Eu não tirava os olhos daquele<br />

motorista. Ele retribuía o olhar, agora de maneira intensa. Ele me desejava, eu tinha certeza disso.<br />

O tempo foi passando. Nenhuma alma sequer atravessara o nosso caminho naquela estrada<br />

escura. Meu corpo transbordava suor. Um suor diferente. Gotas de desejo. Eu queria sexo.<br />

Imaginava Voz Potente lá fora sem camisa. Imaginava Motorista e seu olhar penetrando todos os<br />

orifícios do meu corpo. Mas eu não imaginava que em poucos segundos eu viveria uma<br />

experiência nunca fantasiada nos meus delírios mais profundos.<br />

Ele veio em minha direção. Começamos a conversar. Perguntou o que eu fazia, que região eu<br />

morava da ilha; se eu era solteiro ou casado. A cada cinco palavras expelidas pela sua boca, meus<br />

olhos desviavam a atenção daquela boca carnuda, moldurada por um bigode perfeitamente<br />

aparado, e apontavam para o seu sexo, que ele fazia questão de manipular por cima da calça azul<br />

anil do seu uniforme. Notando meu desejo agora incontrolável, ele se aproximou, quase que<br />

encostando o membro rígido em meu rosto.<br />

“Pegue”, ele disse. Olhei para o vão no corredor. O outro rapaz estava sentado bem à frente,<br />

o olhar fixo em nossa direção. E tamb<strong>é</strong>m manipulava seu sexo, que estava fora do macacão. Vi os<br />

poucos pelos do seu peito em contraste com a fartura na parte baixa do seu corpo.<br />

“Pegue”, repetiu o motorista. “Eu sei que você gosta. Vamos, abra o zíper. Tire-o para fora”.<br />

Ele segurou minha cabeça e com os dentes abri lentamente a porta do paraíso. Prontamente minha<br />

boca sugou aquele membro pulsante. O homem do cabelo prateado gemia e apertava minha cabeça<br />

de encontro ao seu corpo compacto. O suor escorria pelo meu rosto. O ar fugia dos meus pulmões.<br />

Eu estava sufocado de tanto prazer e medo.<br />

“Pare”, ele disse, quase que num grito sufocado. “Não quero terminar na sua boca.”<br />

O rapaz de sorriso perfeito já estava ao nosso lado. “Faça o serviço no meu amigo aqui”,<br />

disse num sussurro o velho homem. Obedeci e novamente meus lábios encontraram um novo<br />

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membro mais do que rígido, implorando atenção e cuidados. Enquanto eu “fazia o serviço”<br />

naquele empregado, as mãos habilidosas do motorista tocavam em meu sexo. E sua boca carnuda<br />

beijava a floresta negra em meu peito.<br />

“Fique de quatro, quero enrabar você”. Agora Sorriso Perfeito me conduzia para sentir<br />

outros prazeres. Obedecendo cegamente, meu corpo posicionou-se à espera da penetração.<br />

“Ora, ora, estamos em festa?”, a potente voz rasgava o interior do veículo. “Vamos comer o<br />

viado!”, ele disse, esfregando as mãos e aguardando a sua hora de participar da “farra”, enquanto<br />

colocava a camisa suja de graxa. Motorista segurou seu braço. “Olhe o respeito, meu caro. Só<br />

estamos aproveitando o momento. Ningu<strong>é</strong>m aqui <strong>é</strong> o que você disse”, notei o medo estampado na<br />

face do rapaz. “Estamos combinados?”, a mão pesada segurava com mais força o pulso de Voz<br />

Potente.<br />

“Abra as pernas”, disse o meu Sorriso Perfeito. Ele baixou minha calça de agasalho. Senti<br />

sua saliva lubrificar meu ânus. Percebi que Motorista, agora um verdadeiro comandante, colocava<br />

um preservativo no membro do colega. Voz Potente permanecia em silêncio, visivelmente<br />

extasiado com tal cena. Senti Sorriso Perfeito todo dentro de mim. Ele não poupou meu corpo,<br />

penetrando-me de uma só vez. Vi estrelas no interior do ônibus. Não vi o tempo passar. E nem uma<br />

única alma a trafegar pela velha estrada.<br />

Sou um cara de sorte!<br />

Sorriso Perfeito entrava e saía num perfeito sincronismo. Seus movimentos demonstravam<br />

muita prática na arte do sexo. Minhas pernas estavam ficando sem ossos. Meus instintos perderam-<br />

se na estrada. Eu só sentia prazer. O prazer de ser penetrado. O prazer de ser observado. O prazer<br />

de ser um objeto. O prazer de ser desejado.<br />

“Coloque minha vara na sua boca”, disse Motorista, o comandante da situação. Nem esbocei<br />

reação, pois quando percebi minha boca já sentia novamente o gosto daquele membro perfeito. Em<br />

sincronia, meu corpo controlava os movimentos. Prazer na frente e atrás. Boca e ânus ocupados<br />

com os sentidos do sexo. E Voz Potente continuava em silêncio, apreciando o filme erótico que<br />

passava bem diante do seu olhar azul opaco.<br />

Sorriso Perfeito apertava minhas nádegas. Os movimentos tornaram-se mais rápidos e<br />

intensos. Senti suas unhas machucarem minhas costas quando o seu gozo jorrou para dentro do<br />

meu corpo. Eu não podia gritar de prazer, pois minha boca ora mordia, ora engolia ou sufocava-se<br />

com o outro membro a dar fortes estocadas em minha garganta que deixou de ser virgem.<br />

Na diferença dos segundos, enquanto Sorriso Perfeito ofegava e descansava seu corpo em<br />

cima do meu, nossos suores se misturando num doce elixir, Motorista <strong>–</strong> o agora senhor-<br />

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comandante <strong>–</strong> urrava de prazer. Tirou violentamente o membro rígido da minha boca macia,<br />

esfolada. Vi seu líquido quente escorrendo pelo couro vermelho da poltrona do seu lado esquerdo.<br />

“Puta que o pariu”, ele gritava, sua respiração ofegante enchia o recinto de sons sensuais.<br />

“Que boca. Caralho. Que boca!”, Motorista sentou-se numa outra poltrona. Sorriso Perfeito saiu do<br />

meu corpo. Tirou o látex cheio da sua essência, deu um nó na ponta e jogou o preservativo no meio<br />

da estrada.<br />

“Pô, cara. Não tinha outro lugar pra você jogar essa porra?”, disse Voz Potente. Um duplo<br />

olhar dos homens que acabavam de saciar seus instintos fez com que ele voltasse à sua posição<br />

inferior. Sorriso Perfeito fechou o macacão e foi descansar o espírito satisfeito numa das primeiras<br />

poltronas vazias.<br />

Motorista limpou o sexo com um lenço. Enxugou a mão e o rosto com o mesmo tecido. Eu<br />

estava arrumando meu agasalho, quando o homem do bigode prateado disse: “Ainda não acabou,<br />

rapaz. Venha at<strong>é</strong> aqui”, ele segurou em meu braço e puxou-me em sua direção. Meu corpo caiu<br />

sentado em seu colo e sua boca procurou a minha. E senti pela primeira vez o gosto de um<br />

Marlboro vencido em meus lábios.<br />

Voz Potente admirava, maravilhado, tudo ao seu redor. Notei que acariciava timidamente o<br />

sexo. Notei que havia o desejo íntimo de “participar” daquele momento, mas ele não sabia o que<br />

fazer. Motorista leu meus pensamentos. “Vamos rapaz, quero ver você ‘dar um trato’ em nosso<br />

amigo tímido aqui”, ordenou o velho fumante.<br />

“Não, eu tô fora. Prefiro ficar só olhando a sacanagem de vocês”, disse Voz Potente,<br />

tentando nos convencer de sua falsa indignação. Mas suas palavras não refletiam seu desejo.<br />

Troquei um olhar com o meu Motorista. Vi em seu olhar a aprovação dos meus atos futuros.<br />

Não perdi tempo. Aproximei meu corpo de Voz Potente. Peguei em suas mãos, que estavam<br />

úmidas e frias. Com extrema ternura e delicadeza, comecei a chupar os dedos da mão direita. Voz<br />

Potente perdeu a ação. Minha língua percorria cada dedo, cada vão. Engoli em movimentos<br />

delicados seu dedo indicador. Percebi que aquilo me abria o terreno. Sem perder tempo, procurei o<br />

sexo de Voz Potente com uma das mãos. Agora seu membro estava pronto para o prazer. Deixei de<br />

chupar os dedos. Procurei um abraço que foi prontamente retribuído. Senti as costas largas e lisas<br />

se arrepiarem com a passagem das minhas mãos viris.<br />

Retraí um pouco meu corpo. Afastei-me de Voz Potente. Trocamos um olhar. Desviei minha<br />

atenção para Motorista. Ele umedecia os lábios com a língua quente. Entendi o recado. Voltei a<br />

atenção para Voz Potente e procurei sua boca. Relutante, ele fugia das minhas investidas.<br />

“Não vou beijar a porra da sua boc...”. Não o deixei terminar a frase. Eu era mais forte do<br />

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que ele. E não só fisicamente. Fiz valer minha vontade. Lábios cerrados, Voz Potente percebeu que<br />

não sairia dali sem sentir o beijo de um macho. O beijo de um homem experiente. Ele entregou os<br />

pontos. Nossas línguas se tocaram. Foi um beijo longo, quente, profundo. Voz Potente descobria o<br />

prazer de uma boca masculina. E entregou-se a esse prazer com muito prazer. Ele queria mais.<br />

Retirei meus lábios dos seus. Trocamos outro olhar. E juntos observamos Motorista tocando em si<br />

mesmo.<br />

“Continuem, não parem vocês dois”, o velho comandante exigia em gritos sufocados.<br />

Sentado confortavelmente na poltrona revestida de couro, ele socava uma deliciosa punheta<br />

enquanto observava dois machos entrelaçados.<br />

Voltei a atenção ao meu segundo objeto de desejo. Minha boca agora procurava seus<br />

mamilos. Mordi e beijei e lambi cada um inúmeras vezes. Voz Potente urrava de prazer. Era<br />

evidente a sua primeira vez. E os seus gritos aumentavam o meu desejo de possuí-lo cada vez<br />

mais.<br />

Sem palavras, minha língua percorria sua barriga. E num só movimento, pus abaixo a calça<br />

de elástico na cintura. Procurei e encontrei seu sexo tímido. E novamente “fiz o serviço”.<br />

Voz Potente ofegava e quase não conseguia inspirar o ar abafado do interior do velho ônibus.<br />

Sorriso Perfeito dormia a sono solto nas poltronas dianteiras. Motorista continuava a manipular o<br />

seu membro para cima e para baixo, extasiado com o show que estávamos lhe proporcionando.<br />

“Fode o cu dele. Fode o cu dele com a língua!”, gritou Motorista, adivinhando aquilo que me<br />

cega de prazer numa relação de sexo com outro homem. Virei o corpo de Voz Potente. Ele havia se<br />

entregado aos meus cuidados. E não houve qualquer resistência de sua parte. Abri suas pernas.<br />

Agachei-me. Senti o cheiro de graxa nos tecidos que estavam logo abaixo de mim. Senti o cheiro<br />

de suor na peça íntima depois de um dia inteiro de trabalho. Nada disso me incomodava. Mordi<br />

suas nádegas com certa força. Voz Potente engoliu um grito seco. Minha boca procurava seu ponto<br />

central. E saciei todas as nossas vontades com minha língua a penetrar aquele macho arredio.<br />

Enlouqueci. Saí de mim. A razão evaporou-se por alguns instantes. Quando ela retornou, já<br />

não podia fazer mais nada. O meu sexo estava dentro dele. Eu cavalgava naquele homem com toda<br />

a força do meu ser.<br />

“Mais, filho da puta, quero mais”, Voz Potente mordia o couro da poltrona. “Não pare. Isso <strong>é</strong><br />

muito bom!”, havíamos perdido a noção da realidade. Entregamos nossos corpos aos braços da<br />

Luxúria. Sexo sem proteção. Medo com razão. Conflitos em minha consciência. E meu corpo não<br />

obedecia as ordens da alma. Continuei. Como um animal selvagem. Rasgara a dignidade de Voz<br />

Potente. Ele queria. Eu continuava. Explodi num gozo demorado. Deixei a marca dos meus dentes<br />

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cravada nas costas de Voz Potente. Ele chorava. De satisfação.<br />

Retirei meu sexo ainda rígido do seu corpo. Ele voltou-se para mim e pude notar em seu<br />

olhar um “muito obrigado pelo prazer”. Voz Potente procurou a minha boca. Outro longo beijo foi<br />

trocado. Saliva misturada com suor. Corações em ritmo acelerado.<br />

“Quero terminar na sua boca”, sussurrou Voz Potente em meu ouvido. Motorista somente<br />

nos observava, diminuindo os movimentos em seu sexo vigoroso. Ele sabia que o show ia<br />

continuar.<br />

Voz Potente deitou-se entre duas poltronas. Sorriso Perfeito acordara e sonolento veio<br />

cambaleando em nossa direção. Ajoelhei-me e pus-me a chupar com prazer e satisfação àquele que<br />

há poucos minutos eu havia deflorado. Ele tinha minha essência dentro do seu corpo. Eu queria<br />

sentir o sabor da sua essência a escorrer pela minha garganta. Direitos iguais. Questão de cega<br />

honra.<br />

Motorista se levantou, ficando ao lado de Sorriso Perfeito. Um tocava o sexo do outro. Teve<br />

início uma troca de punhetas. Agora eu comandava a festa. Todos estavam sincronizados com o<br />

meu ritmo. Voz Potente delirava. Motorista e Sorriso Perfeito pareciam estar em outro plano. Os<br />

olhos fechados e as mãos a tocarem os sexos em perfeita harmonia.<br />

“Eu vou gozar. Eu vou gozar. Caralho!”, urrou Voz Potente. E o seu leite invadiu minha<br />

boca, descendo imediatamente para o meu íntimo, sem nenhuma gota a ser desperdiçada.<br />

O membro perdia lentamente a sua rigidez. Pousei minha cabeça em uma de suas coxas<br />

macias. Os pelos finos produziam cócegas em minhas narinas. Víamos Motorista e Sorriso Perfeito<br />

aumentarem seus movimentos. Uma chuva quente jorrou em meu rosto e nas coxas de Voz<br />

Potente.<br />

* * *<br />

O resgate chegou quarenta minutos após o t<strong>é</strong>rmino da nossa festa particular. Quando<br />

surgiram as luzes amarelas e vermelhas do guincho mecânico, estávamos sentados no chão de<br />

areia, na frente do Pássaro de Prata abatido, jogando uma partida de truco, à luz baixa da forte<br />

lanterna, que havia sido colocada num arbusto próximo ao acostamento. O sonho havia acabado.<br />

Éramos quatro homens convivendo com serenidade o nosso destino. Nem lembrávamos mais do<br />

incidente com o velho ônibus.<br />

Não foi possível consertar o grande Pássaro de Prata com os recursos disponíveis. O resgate<br />

chamou um carro de apoio, que chegou surpreendentemente rápido at<strong>é</strong> onde estávamos. O piá que<br />

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dirigia um velho Ford deixou cada um de nós em suas respectivas residências. Descobri que<br />

Motorista morava próximo de minha casa. Uma distância pouco maior que oitocentos metros<br />

separavam nossas residências. Fui o último a ser “despachado”. Agradeci ao jovem pela carona<br />

quando o seu carro estacionou bem em frente ao meu cuidado jardim.<br />

“Vocês ficaram mais de três horas naquele fim de mundo apenas jogando cartas?”, disse o<br />

mirrado rapaz com aparente espanto. “Eu detesto jogo de cartas.”<br />

Sua voz fina demonstrava falta de maturidade. Sorri com delicadeza e abri a porta do Corcel<br />

II todo enferrujado. “Sim, jogamos as cartas da vida”, respondi, ainda com o sorriso automático<br />

nos lábios.<br />

Confuso, o jovem acenou-me um “boa noite”. Vi o carro perder-se na escuridão. Entrei. Fui<br />

direto para o chuveiro. A água escalpelante escorria pelo meu corpo. Joguei litros de sabonete<br />

líquido com essência de erva-doce em uma das mãos. Ensaboei todo o corpo. O cheiro da limpeza<br />

purificava minha alma.<br />

Batidas na porta. Enrolado numa toalha branca, o corpo ainda umedecido e morno, fui<br />

atender a visita inesperada. Tive um sobressalto ao certificar-me quem era o inusitado visitante.<br />

“Posso entrar?”, ele disse. Meus olhos surpresos deram a devida permissão. Fechei a porta.<br />

Deixei cair a toalha. Senti seu abraço. O cheiro de Marlboro rec<strong>é</strong>m tragado invadiu minhas<br />

narinas. Sua boca procurou a minha.<br />

“Como você encontrou minha casa?”, perguntei atônito. Ele despiu-se, espalhando a gravata<br />

cinza, a camisa branca e a calça azul do seu uniforme pelo chão da sala. Não havia resposta. Não<br />

era necessário usar a razão naquele momento. Os seus olhos novamente dissecavam meu corpo,<br />

que agora estava fresco, limpo, com maior desejo de reviver os prazeres rec<strong>é</strong>m conquistados. Notei<br />

novamente o mesmo olhar. Idêntico ao do primeiro encontro. Ele me desejava não para mais<br />

alguns minutos apenas... ele me desejava para sempre, eu tinha certeza disso.<br />

“Pegue”, ele ordenou. Não obedeci de imediato. Segurei sua mão pesada e o levei para o<br />

chuveiro. Novos jatos de água fumegante envolviam corpos em delírio. Com as mãos repletas de<br />

erva, cuidei do seu corpo com carinho. A espuma deslizava em seu peito; escorria pela sua barriga<br />

sem barriga, caindo em suaves camadas pelo piso molhado.<br />

“Chupe”, ordenei. Motorista sorriu e tomou meu sexo em suas mãos, acariciando-o<br />

lentamente. Ajoelhou-se no piso molhado. Sua boca macia rivalizava em temperatura com o jato<br />

de água que descia pelo chuveiro. Fechei os olhos. Deixei meu corpo viajar. Eu estava em boas<br />

mãos.<br />

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“Pare”, eu disse. “Não quero terminar na sua boca”, agora era a minha vez de dar as ordens.<br />

Motorista sorriu. Fechei o chuveiro. Retiramos o excesso de água de nossos corpos. Fomos<br />

para o meu quarto. Nos entregamos aos prazeres com a complacência da Luxúria.<br />

Misturamos nossos corpos pelo resto da madrugada. Eu desejei aquele homem. E meu desejo<br />

foi prontamente atendido. Mais do que eu esperava.<br />

Tudo começou na poltrona <strong>47</strong>. Mais uma vez. E eu sabia que não seria a última.<br />

FIM<br />

____________________<br />

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moasipriano.com/colabore.htm. Agradeço, de antemão, o seu apoio cultural.<br />

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