19.04.2013 Views

Poltrona 47 – Três... é demais? - Moa Sipriano

Poltrona 47 – Três... é demais? - Moa Sipriano

Poltrona 47 – Três... é demais? - Moa Sipriano

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Dor. Angústia. Desejo. Prazer. Um misto de sentimentos. Sensações contraditórias invadem<br />

meus pensamentos. Quero mais. Foi como usar uma droga poderosa, viciante. Não importa. Eu<br />

precisava viver tudo aquilo. E não me arrependo do que fiz. Faria tudo outra vez. Ou talvez não...<br />

não sei. Estou confuso. Preciso dormir.<br />

Os primeiros raios de sol penetram o interior do meu quarto. Estou sozinho em minha cama,<br />

meu reinado absoluto. Respiro fundo. Fecho os olhos. Tento colocar ordem nos últimos neurônios.<br />

Preciso contar-lhe o que ocorreu. Minhas mãos tremem entre as teclas do Powerbook. A digitação<br />

está a passos lentos. Os acontecimentos não esperam a minha falta de rapidez na datilografia<br />

digital. Mas o meu diário eletrônico precisa ser escrito. Talvez amanhã eu já não queira recordar<br />

todos os detalhes. Vamos lá, digo para mim mesmo, coloque tudo para fora. Agora!<br />

Eu estava na praia de Gobsun, a mais bela da ilha de Lovland, fotografando três Subarus<br />

para um catálogo automobilístico. Foram dois dias de trabalho intenso.<br />

Eu e minha equipe, composta de cinco profissionais competentes, <strong>é</strong>ramos manipulados pelos<br />

caprichos da Natureza. Ora eram os ventos que brincavam de cobrir os carros com a areia fina. Ora<br />

eram as nuvens cobrindo a luz do sol, impedindo assim uma boa exposição das futuras fotos. Já em<br />

outros momentos delicados, todos tinham que aguentar o meu “bom humor”. Foram inúmeras as<br />

situações em que minha tromba arrastava-se pelas areias brancas e quentes. Compreendo que sou<br />

excêntrico <strong>demais</strong> na arte de fotografar carros.<br />

Na quinta-feira, último dia de trabalho, eu estava exausto. As últimas imagens saíram por<br />

pura intuição. Lou, meu assistente direto, assumira o controle de tudo. Segui para o pequeno chal<strong>é</strong><br />

que nos fora alugado para aquela produção. Tomei um rápido banho. Sou neurótico quanto à minha<br />

higiene corporal. Peguei as chaves de casa e a inseparável mochila de lona com parte dos meus<br />

pertences.<br />

Atravessei a rua Weiss em direção ao ponto de ônibus mais próximo. De acordo com o<br />

caseiro do chal<strong>é</strong> onde estávamos, dentro de poucos minutos para as oito passaria um ônibus que<br />

me levaria para o outro lado da ilha. Uma das paradas ficava a menos de vinte metros da minha<br />

querida e confortável casa.<br />

O rapaz tinha razão. Quatro minutos para as oito da noite surgiu o capenga veículo prateado.<br />

Entrei, paguei minha passagem ao motorista de cara amarrada e fui sentar na já tradicional<br />

poltrona <strong>47</strong>. Nem prestei muita atenção nas poucas pessoas que estavam no ônibus.<br />

Fazia um calor sufocante, fora de <strong>é</strong>poca. Abri não só a minha janela como tamb<strong>é</strong>m as do lado<br />

oposto da minha poltrona. Enquanto estava em p<strong>é</strong>, reparei que havia somente alguns funcionários<br />

<strong>–</strong> devido ao uniforme cinza e azul <strong>–</strong> da própria empresa do Pássaro Prateado, no interior do<br />

4

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!