You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Edição especial para jovens que viv<strong>em</strong> com o vírus<br />
da aids, seus amigos e familiares<br />
JANEIRO/2004<br />
Grupo de adolescentes do<br />
Projeto <strong>Viver</strong> Criança e<br />
Adolescente do GIV<br />
Grupo de Incentivo à Vida<br />
Correspondências à redação:<br />
Caixa Postal 15.088 - Rio de Janeiro (RJ) - Cep 20.031-971 saberviver@uol.com.br<br />
Coordenação, edição, produção e reportag<strong>em</strong>:<br />
Adriana Gomez e Silvia Chalub - <strong>Saber</strong> <strong>Viver</strong> Comunicação<br />
Secretária de redação:<br />
Suzete Ferreira<br />
Consultoria lingüística:<br />
Leonor Werneck<br />
Ilustrações:<br />
Bia Salgueiro<br />
Foto:<br />
Alex Ferro, agência Pedra Viva, alexferro@pedraviva.fot.br<br />
Conselho editorial:<br />
Alexandre Grangeiro, Diretor PNDST Aids<br />
Raldo Bonifácio, Diretor Adjunto<br />
Ricardo Pio Marins, Diretor Adjunto<br />
Denise Doneda, Unidade de Prevenção<br />
Vera Lopes, Unidade de Prevenção<br />
Eliane Izolan, Ascom<br />
Mauro Siqueira, Ascom<br />
Rogério Scapini, UDAT<br />
Cledy Eliana, UDAT<br />
Colaboradores:<br />
Camila Alves Perez (psicóloga)<br />
Carm<strong>em</strong> Silva (pediatra)<br />
Claudio Picazio (psicólogo e sexólogo)<br />
Ingrid Carvalho (advogada)<br />
Maria Leticia Santos Cruz (pediatra e infectologista)<br />
Marinella Della Negra (infectologista)<br />
Terezinha Pinto (pedagoga)<br />
Arte:<br />
A 4 Mãos Comunicação e Design (a4maos@a4maos.com.br)<br />
Impressão:<br />
Ediouro<br />
Tirag<strong>em</strong>:<br />
50.000 ex<strong>em</strong>plares<br />
Agradecimentos especiais:<br />
A todos os jovens que colaboraram dando seus depoimentos para as matérias<br />
Aos profissonais e jovens do Projeto <strong>Viver</strong> Criança e Adolescente do Grupo de Incentivo a Vida (GIV – SP)<br />
A Francisco Rondon Monteiro, Gabriela Chalub Silva Neto e Laura Alves.<br />
Para preservar a identidade dos jovens vivendo com HIV/aids, alguns nomes foram trocados.<br />
SV<br />
<strong>Saber</strong> <strong>Viver</strong> Comunicação
Uma galera que<br />
t<strong>em</strong> força e amor pela<br />
vida<br />
Tomar r<strong>em</strong>édio todo o dia, conviver com o preconceito,<br />
ter medo de morrer, tr<strong>em</strong>er só de pensar <strong>em</strong> namorar<br />
firme. Esses são alguns grilos que tomam conta da<br />
cabeça de qualquer um. Mas, quando esse jov<strong>em</strong> vive<br />
com HIV/aids, tudo isso fica ainda mais enrolado. Para dar uma<br />
força a essa galera, a <strong>Saber</strong> <strong>Viver</strong> montou esta edição especial. Vamos<br />
trocar uma idéia sobre vários assuntos como namoro, alimentação,<br />
esportes, família, escola e tratamento. Vocês vão ficar por<br />
dentro do que a rapaziada v<strong>em</strong> fazendo para se sentir melhor e<br />
tirar de letra o HIV e a aids.<br />
Para conseguir construir este trabalho, a equipe da revista ouviu<br />
jovens que viv<strong>em</strong> com HIV/aids de praticamente todo o Brasil.<br />
Muitos já nasceram com o vírus; outros, pegaram o HIV na juventude.<br />
Foram várias histórias de uma turma que, com muita força<br />
e vontade de viver, t<strong>em</strong> muitos planos para o futuro. Esta revista<br />
foi toda pensada e construída a partir dessas histórias. Todas juntas<br />
formam um incrível quebra-cabeças desse universo criativo e<br />
cheio de energia formado pelos jovens que viv<strong>em</strong> com HIV/aids.<br />
A <strong>Saber</strong> <strong>Viver</strong> Jov<strong>em</strong> foi editada graças ao apoio do Programa<br />
Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, que deu a maior<br />
força para que esta revista chegasse nas suas mãos.<br />
Agora é só aproveitar e curtir o que a gente reservou pra você.<br />
Quer<strong>em</strong>os fazer um agradecimento super-especial a toda a galera<br />
que participou desta edição com um pedacinho de sua história.<br />
T<strong>em</strong>os certeza que todas elas ajudarão muita gente a descobrir<br />
todo o potencial que esses jovens têm a oferecer na construção<br />
de um mundo melhor. Um beijão!<br />
Sumário:<br />
Jovens vivendo com Hiv/aids 4<br />
O que o vírus faz no seu corpo 6<br />
R<strong>em</strong>édios contra a aids 8<br />
Teste: você cuida da sua saúde? 11<br />
Dicas de saúde 12<br />
O local ideal para se tratar 16<br />
Eu quero beijar muito 20<br />
Ter filhos, ou não! 22<br />
Família 26<br />
Amigos 28<br />
Escola 32<br />
Eu tenho os meus direitos 35<br />
Área útil – dicas legais 38<br />
<strong>Saber</strong> <strong>Viver</strong>
4<br />
Sou Jov<strong>em</strong><br />
vivendo<br />
com HIV.<br />
E daí?<br />
"CARAMBA! QUANDO EU DESCOBRI<br />
QUE O QUE EU TINHA ERA AIDS, ACHEI<br />
QUE O MUNDO IA DESABAR. CHOREI<br />
SEM PARAR. MAS, NO FUNDO, EU JÁ<br />
DESCONFIAVA: MÉDICO TODO O MÊS,<br />
REMÉDIOS TODOS OS DIAS. DEPOIS DE<br />
UM TEMPO, ACHEI QUE A ÚNICA<br />
DIFERENÇA ENTRE OS OUTROS E EU É<br />
QUE EU TINHA QUE TOMAR MAIS<br />
CUIDADO COM A MINHA SAÚDE. HOJE,<br />
EU JÁ ACHO UM POUCO DIFERENTE.<br />
NA VERDADE, TODO MUNDO DEVIA SE<br />
CUIDAR PARA NÃO FICAR DOENTE,<br />
TENDO HIV OU NÃO".
Ahistória de Juliana, 16<br />
anos, não deve ser muito<br />
diferente de um monte de<br />
outras histórias de jovens que viv<strong>em</strong><br />
com HIV/aids. Segundo as Nações<br />
Unidas, um jov<strong>em</strong> é infectado pelo<br />
HIV a cada 14 segundos <strong>em</strong> todo<br />
mundo. No Brasil, exist<strong>em</strong> cerca<br />
de 1.680 jovens usando os medicamentos<br />
contra a aids, mas o Ministério<br />
da Saúde acredita que o<br />
número de infectados pode ser<br />
b<strong>em</strong> maior, porque muita gente ainda<br />
não fez o teste. No mundo, são<br />
13 milhões de jovens com aids. É<br />
gente à beça.<br />
Antes de 1996, quando não tinha<br />
r<strong>em</strong>édio nos hospitais e postos<br />
de saúde, a aids era uma doença<br />
s<strong>em</strong> tratamento. Hoje, a história é<br />
outra. E a maior prova disso é essa<br />
rapaziada que está entrando na adolescência<br />
cheia de planos para o fu-<br />
Você se acha<br />
diferente dos<br />
outros jovens?<br />
Eu me acho igual aos outros.<br />
Tenho namorado, amigos, só<br />
tenho que ter mais cuidado<br />
com a minha saúde.<br />
SÔNIA, 15 ANOS,<br />
SÃO PAULO – SP<br />
Quase nada mudou na minha<br />
vida.Não fico pensando nisso<br />
o t<strong>em</strong>po todo.Se você ficar<br />
com isso na cabeça 24 horas<br />
por dia, não vive!"<br />
CARLOS, 16 ANOS,<br />
SÃO PAULO – SP<br />
turo e com muita vontade de viver,<br />
como qualquer jov<strong>em</strong>.<br />
Adolescência<br />
Apesar de não existir uma regra muito<br />
clara para o período da adolescência,<br />
diz<strong>em</strong> que essa fase começa aos 10<br />
anos e vai até os 20 anos (dependendo<br />
da pessoa, pode durar até mais t<strong>em</strong>po).<br />
Nesse período, o corpo cresce<br />
mais rápido e as mudanças aparec<strong>em</strong><br />
logo. O garoto e a garota ficam meio<br />
diferentes. A voz dos garotos fica mais<br />
grossa e aparec<strong>em</strong> pêlos no corpo. Os<br />
seios das meninas começam a crescer<br />
e também surg<strong>em</strong> pêlos no corpo.<br />
Pipocam algumas espinhas pelo rosto.<br />
É uma fase <strong>em</strong> que não somos<br />
mais crianças, mas também não somos<br />
adultos. Precisamos discordar<br />
e questionar para nos tornarmos<br />
nós mesmo. É meio complicado para<br />
os adultos entender<strong>em</strong> isso. Alguns<br />
Eu sou diferente sim,<br />
porque tenho que tomar<br />
r<strong>em</strong>édios todos os dias.<br />
E isso é um saco!<br />
CAIO, 14 ANOS,<br />
RECIFE - PE<br />
Quando descobri que<br />
tinha HIV, aos 11 anos,<br />
eu me achava diferente.<br />
Agora, já percebi que<br />
continuo o mesmo, igual<br />
a qualquer outro garoto.<br />
TOMÁS, 18 ANOS,<br />
PORTO ALEGRE-RS<br />
Não! Eu acho igual. A única<br />
diferença é que eu tenho que<br />
tomar todos os dias os r<strong>em</strong>édios.<br />
Mas eu sei que t<strong>em</strong> vários<br />
adolescentes que têm outras<br />
doenças e tomam r<strong>em</strong>édios todos<br />
os dias, igual a mim!<br />
RODRIGO, 17 ANOS,<br />
BELO HORIZONTE - MG<br />
Não! Mas eu queria ser<br />
como eu era antes, s<strong>em</strong><br />
nenhuma doença! Peguei o<br />
HIV quando tinha 11 meses,<br />
numa transfusão de<br />
sangue. Só eu tenho HIV na<br />
minha casa.<br />
FERNANDO, 16 ANOS,<br />
SALVADOR-BA<br />
chegam a chamar os adolescentes<br />
de "aborrecentes", mas isso não t<strong>em</strong><br />
nada a ver. A adolescência é também<br />
uma época de descobertas e<br />
novidades, o que é muito legal! Essa<br />
fase acontece com todo mundo. Todos<br />
os adultos já foram adolescentes<br />
SV<br />
um dia, não é?!?!<br />
Eu vou morrer logo?<br />
Todo mundo corre o risco de morrer.<br />
Minha avó s<strong>em</strong>pre dizia: para morrer,<br />
basta estar vivo! Anos atrás, qu<strong>em</strong> tinha<br />
aids morria por falta de tratamento. Ela<br />
ainda não t<strong>em</strong> cura mas hoje t<strong>em</strong> tratamento.<br />
Para ficar legal de saúde, o caminho<br />
é tomar os r<strong>em</strong>édios todos os<br />
dias. Isso dá certo. Tanto que um monte<br />
de gente que nasceu com o vírus está<br />
chegando à adolescência.<br />
Eu acho sim, porque o meu<br />
corpo é muito pequeno.<br />
Tenho a impressão que<br />
todo mundo fica me<br />
olhando na rua<br />
por causa disso.<br />
MARIANA, 18 ANOS,<br />
BELO HORIZONTE – MG<br />
Minha vida é normal,<br />
como de qualquer um: vou<br />
pra escola, saio com meus<br />
amigos. Isso tudo rolou<br />
porque, quando eu soube do<br />
HIV, reagi super-b<strong>em</strong>.<br />
TIAGO, 12 ANOS,<br />
RIO DE JANEIRO - RJ<br />
5
6<br />
O que o vírus faz<br />
quando entra no nosso corpo<br />
PARA ACABAR COM QUALQUER DÚVIDA SOBRE A TRANSMISSÃO DO HIV, RE-<br />
SOLVEMOS ABRIR O JOGO E EXPLICAR TUDO TINTIM POR TINTIM. ASSIM,<br />
NINGUÉM VAI FICAR COM GRILOS DE SE RELACIONAR COM AS PESSOAS E AIN-<br />
DA VAI PODER ENSINAR PARA A GALERA DESINFORMADA QUE ESSE PAPO DE<br />
PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO ESTÁ ULTRAPASSADO.<br />
1assim que o HIV entra no nosso<br />
corpo, ele corre atrás das células CD4<br />
porque ele precisa delas para sobreviver<br />
e se multiplicar.As células CD4 (um tipo<br />
de glóbulo branco) são consideradas os<br />
soldados do nosso organismo. Elas<br />
avisam ao nosso corpo quando ele está<br />
sendo invadido por alguma bactéria ou<br />
vírus.<br />
4mas, ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />
<strong>em</strong> que o HIV se reproduz,<br />
outras células CD4 também<br />
estão se reproduzindo no<br />
nosso corpo. Por isso que, às<br />
vezes, d<strong>em</strong>ora um t<strong>em</strong>pão para<br />
a pessoa ficar doente.<br />
Diferença entre<br />
ter HIV e<br />
ter aids<br />
2quando o vírus entra na<br />
célula, ele a transforma <strong>em</strong> uma<br />
fábrica de vírus, alterando a função<br />
dessa célula, que, ao invés de vigiar<br />
o nosso corpo, passa a fabricar<br />
mais HIV.<br />
Estar infectado pelo HIV e ter aids são<br />
coisas diferentes. Se uma pessoa não está<br />
doente, mas descobriu que está infectada pelo<br />
HIV (o vírus que causa a aids), ela não t<strong>em</strong> aids.<br />
Ela é uma pessoa infectada pelo HIV, ou soropositiva.<br />
Se diz que uma pessoa t<strong>em</strong> aids quando aparece algum probl<strong>em</strong>a<br />
de saúde que surgiu por causa das falta de defesa do organismo,<br />
ou quando o seu CD4 está abaixo de 200.<br />
3dessa maneira, o HIV vai<br />
destruindo grande parte de nossas<br />
células CD4, acabando com<br />
as defesas do nosso organismo.<br />
Por causa disso, o nosso corpo<br />
fica mais exposto a ter doenças.<br />
Quando a pessoa adoece, podese<br />
dizer que ela está com aids.<br />
O HIV é transmitido<br />
através de ...<br />
… sangue contaminado, esperma<br />
ou secreção vaginal<br />
contaminados, mãe infectada<br />
pelo HIV para filho através da<br />
gravidez, do parto e amamentação.
O QUE VOCÊ SABE SOBRE A<br />
TRANSMISSÃO PELO HIV<br />
1Se o garoto ou a garota que você<br />
está super a fim não quiser te<br />
beijar porque t<strong>em</strong> medo de ser<br />
contaminado, o que você faz?<br />
a) Entende e vai pra casa chorando,<br />
achando que nunca vai conseguir beijar<br />
ninguém.<br />
b) Se revolta e xinga a figura.<br />
c) Compreende, mas não perde a oportunidade<br />
de ficar com qu<strong>em</strong> você tanto<br />
queria. Então, tenta explicar que através<br />
do beijo não se transmite HIV. A menos<br />
que uma das partes, ou as duas, esteja<br />
com um grande sangramento na gengiva.<br />
Nesse caso, ninguém deve beijar na<br />
boca, sendo HIV positivo ou não.<br />
Se mesmo assim a pessoa não quiser te<br />
beijar, parte pra outra.<br />
2Se você está na escola ou com<br />
um grupo de amigos, cai e se<br />
machuca com sangramento, você<br />
corre o risco de contaminar alguém?<br />
a) Lógico. O meu sangue não pode<br />
encostar <strong>em</strong> ninguém.<br />
b) Sei lá! Quando eu vejo sangue, desmaio<br />
na hora.<br />
c) Não. Ninguém se contamina encostando<br />
a pele íntegra <strong>em</strong> sangue com<br />
HIV. O vírus da aids precisa entrar no<br />
corpo e na corrente sanguínea para<br />
contaminar alguém. A pele serve como<br />
uma camada protetora do organismo.<br />
Mas, para isso, ela precisa estar saudável.<br />
Se houver algum corte ou ferida<br />
aberta, aí sim, dev<strong>em</strong>os ficar alerta.<br />
Se você respondeu a letra A <strong>em</strong> todas ou algumas<br />
perguntas: Você está tendo preconceito com você<br />
mesmo. Não fique achando que o mundo acabou<br />
por causa do HIV. T<strong>em</strong> muita gente que está passando<br />
pelo mesmo probl<strong>em</strong>a e está dando a volta<br />
por cima. Peça ajuda pra algum profissional de<br />
saúde do lugar onde você faz o tratamento. Tire<br />
essas caraminholas da cabeça e curta a vida.<br />
3Uma pessoa pode se contaminar<br />
pelo HIV no vaso sanitário?<br />
a) Acho que sim!<br />
b) No vaso você pode pegar qualquer<br />
coisa.<br />
c) Que viag<strong>em</strong>! Claro que não! É mais<br />
fácil pegar outras doenças num<br />
banheiro sujo do que o vírus da aids. É<br />
só pensar: como o vírus poderia entrar<br />
no corpo através do vaso se a pele funciona<br />
como uma barreira protetora?<br />
Isso é maluquice.<br />
4Se eu fizer sexo, s<strong>em</strong> camisinha,<br />
e tirar o pênis antes de gozar, eu<br />
posso infectar alguém?<br />
a) Acho que ninguém vai querer fazer<br />
sexo comigo<br />
b) Eu tenho nojo dessas coisas!<br />
c) Pode rolar. Antes de a gente gozar,<br />
s<strong>em</strong>pre sai do pênis um pouco de esperma.<br />
Esse esperma também contém<br />
o vírus. Pra dar tudo certo, t<strong>em</strong> que usar<br />
preservativo do início ao final da transa.<br />
5Quando eu vou ao dentista, ele<br />
está s<strong>em</strong>pre de luvas e coloca<br />
todos os aparelhos para esterilizar.<br />
Será que ele faz isso por minha<br />
causa?<br />
a) Lógico!<br />
b) Eu nunca vou ao dentista.<br />
c) Que absurdo! Todos os dentistas<br />
precisam usar luvas e esterilizar os<br />
seus aparelhos. Isso faz parte das normas<br />
de segurança que todos os profis-<br />
Se você respondeu a letra B <strong>em</strong> todas ou algumas<br />
perguntas: Poxa, você t<strong>em</strong> que acordar pra vida.<br />
Ter revolta é normal. Mas, depois de um t<strong>em</strong>po,<br />
ela pode te afastar das pessoas. Leia a resposta<br />
para a letra A que cai como uma luva pra você<br />
também. Se informe mais sobre aids e cuide melhor<br />
de você.<br />
sionais de saúde dev<strong>em</strong> ter. Se eu for a<br />
um dentista e ele não fizer nada disso,<br />
não volto mais lá porque ele não está<br />
atendendo direito.<br />
6Toda a vez que vou à manicure,<br />
ela tira um bife da minha unha e<br />
sangra. Se ela usar o mesmo alicate<br />
<strong>em</strong> outra cliente, o vírus pode passar<br />
para outra pessoa?<br />
a) Eu acho que sim!<br />
b) Odeio ver sangue.<br />
c) Todas as manicures têm que colocar<br />
os alicates na estufa ou lavá-los<br />
com água e sabão assim que mudam<br />
de cliente. Isso é o suficiente para<br />
afastar o risco do HIV. Alicate de<br />
unha, escova de dentes, pinça de<br />
sobrancelha, gilete e batom são<br />
coisas pessoais, não dá pra ficar<br />
<strong>em</strong>prestando pros outros.<br />
7Se sua mãe (ou parente) resolve<br />
separar seus copos e talheres com<br />
medo de você infectar outras pessoas<br />
da casa com o HIV, o que você faz?<br />
d) Fico triste, mas é um direito dela.<br />
e) Quebro todos os pratos e copos da<br />
casa.<br />
f) Tento explicar que não t<strong>em</strong> sentido.<br />
Se através da saliva não existe risco<br />
de passar HIV, por que fazer isso? Se<br />
ela não me ouvir, peço ao meu médico<br />
(ou médica) para conversar com<br />
ela. Isso só pode ser discriminação e<br />
preconceito.<br />
Se você respondeu a letra C <strong>em</strong> todas ou algumas<br />
perguntas: Você está por dentro de tudo e pode<br />
transformar a sua vida, s<strong>em</strong> deixar ninguém te discriminar.<br />
Mas, se precisar, busque ajuda. Comece no<br />
local onde você faz o tratamento. Escolha um profissional<br />
de saúde que você vá com a cara e abra o<br />
jogo. Eles pod<strong>em</strong> ser grandes parceiros até para<br />
informar melhor a sua família e seus amigos.<br />
Respostas<br />
7
8<br />
R<strong>em</strong>édios<br />
anti-aids<br />
na berlinda<br />
1996 FOI UM MARCO NA VIDA DE MUITAS<br />
PESSOAS SOROPOSITIVAS. FOI NESTE ANO<br />
QUE UMA COMBINAÇÃO DE MEDICAMEN-<br />
TOS CONTRA A AIDS PASSOU A SER DIS-<br />
TRIBUÍDA GRATUITAMENTE EM SERVIÇOS<br />
DE SAÚDE DE TODO O BRASIL. FINAL-<br />
MENTE, JÁ ERA POSSÍVEL CONVIVER COM<br />
HIV DE FORMA MAIS TRANQÜILA. HOJE,<br />
QUEM VIVE COM O VÍRUS DA AIDS PODE<br />
TER UMA VIDA PRODUTIVA E FELIZ, E FA-<br />
ZER PLANOS COMO QUALQUER OUTRA PES-<br />
SOA. NO ENTANTO, TEMOS QUE RECO-<br />
NHECER QUE O TRATAMENTO CONTRA A<br />
AIDS NÃO É FÁCIL. SÃO MUITOS MEDICA-<br />
MENTOS POR DIA E AINDA É PRECISO LI-<br />
DAR COM OS EFEITOS COLATERAIS.
Tomar<br />
r<strong>em</strong>édio é<br />
chato...<br />
“É difícil l<strong>em</strong>brar de tomar<br />
os r<strong>em</strong>édios. Fico brincando<br />
e acabo esquecendo. Minha<br />
avó e meu avô têm que me<br />
l<strong>em</strong>brar.”<br />
Maria, 12 anos,<br />
Sorocaba-SP<br />
"Me sinto diferente de outros<br />
adolescentes porque eu<br />
tenho que ir s<strong>em</strong>pre ao<br />
médico, nunca posso esquecer<br />
de tomar meus r<strong>em</strong>édios<br />
e também por causa<br />
dos efeitos colaterais que<br />
me afetam. No início foi<br />
muito difícil, mas eu consegui<br />
me adaptar".<br />
Sandra, 16 anos,<br />
Recife – PE<br />
"T<strong>em</strong> uma coisa que eu não<br />
consigo me adaptar: os<br />
r<strong>em</strong>édios. Alguns são<br />
grandões e difíceis de engolir.<br />
Quando eu estou indo<br />
b<strong>em</strong> no tratamento, não entendo<br />
porque, mas me dá<br />
uma vontade de parar...".<br />
Mariana, 18 anos,<br />
Belo Horizonte – MG<br />
"R<strong>em</strong>édio é muito chato porque<br />
t<strong>em</strong> que tomar na hora<br />
certa e o gosto é ruim. Às vezes<br />
eu saio de casa antes que<br />
minha mãe me chame pra tomar<br />
os comprimidos. Mas t<strong>em</strong><br />
hora que eu tomo numa boa".<br />
Fernando, 16 anos,<br />
Salvador – BA<br />
Meu r<strong>em</strong>édio, meu herói<br />
Na luta contra a aids, os r<strong>em</strong>édios são seus parceiros. Mas<br />
sua força de vontade conta muito.Veja como os anti-retrovirais<br />
proteg<strong>em</strong> sua saúde.<br />
1 Em nosso sangue exist<strong>em</strong><br />
células que são responsáveis<br />
por defender o<br />
organismo do ataque de<br />
vírus e bactérias que<br />
provocam doenças. O HIV,<br />
vírus da aids, quando entra<br />
na corrente sanguínea,<br />
ataca justamente essas<br />
células e nos deixa mais<br />
vulneráveis às doenças.<br />
3 Quando você não toma<br />
ou atrasa uma dose, está<br />
deixando que milhões de<br />
vírus se reproduzam e ataqu<strong>em</strong><br />
suas células. Com o<br />
t<strong>em</strong>po, isso faz com que o<br />
HIV se torne resistente aos<br />
medicamentos que você<br />
está tomando e eles passam<br />
a não fazer mais efeito.<br />
2 Para evitar esse ataque,<br />
é necessário que a pessoa<br />
infectada faça seu tratamento<br />
com, no mínimo, dois<br />
medicamentos anti-retrovirais<br />
diferentes e não deixe<br />
de tomar nenhuma dose.<br />
4 Na corrente sanguínea,<br />
o HIV se reproduz muito<br />
rapidamente e a função dos<br />
medicamentos anti-retrovirais<br />
é conter essa reprodução<br />
e evitar que novas<br />
células sejam infectadas.<br />
5 Se os r<strong>em</strong>édios não fizer<strong>em</strong> mais efeito, a solução será<br />
mudar a medicação, o que pode trazer alguns probl<strong>em</strong>as:<br />
Você terá que se<br />
adaptar a uma nova combinação<br />
de medicamentos<br />
(geralmente com mais<br />
r<strong>em</strong>édios), a novos horários<br />
e a novos efeitos colaterais.<br />
Caso continue a tomar a<br />
medicação de forma errada,<br />
você pode acabar<br />
ficando s<strong>em</strong> opção de<br />
tratamento.<br />
... Mas<br />
vale a<br />
pena!<br />
"Os medicamentos melhoraram<br />
muito minha vida.<br />
Agora não fico mais doente,<br />
engordei e fiquei mais alta.<br />
Também não tenho mais medo<br />
dos doutores. Quando meu<br />
exame de sangue está bom,<br />
adoro vir ao médico".<br />
Marisa, 15 anos,<br />
São Paulo - SP<br />
"Quando comecei a tomar<br />
r<strong>em</strong>édios, fiquei forte e saudável.<br />
Isso é um progresso.<br />
Agora tenho que criar responsabilidade<br />
para l<strong>em</strong>brar deles<br />
sozinha".<br />
Beatriz, 15 anos,<br />
Porto Alegre - RS<br />
"T<strong>em</strong> tarefa que a gente t<strong>em</strong><br />
que cumprir. Assim como eu<br />
tenho que chegar às 8h no<br />
serviço, eu tenho que tomar<br />
minha medicação. O r<strong>em</strong>édio,<br />
para mim, é só uma obrigação<br />
a mais na minha vida".<br />
João, 18 anos,<br />
Ji-Paraná- RO<br />
"Agora, depois que passei a<br />
tomar os r<strong>em</strong>édios direito,<br />
parece que não tenho nada.<br />
É r<strong>em</strong>édio de manhã e à<br />
noite, e só".<br />
Cristina, 14 anos,<br />
São Paulo – SP<br />
9
10<br />
A gente não quer só r<strong>em</strong>édio<br />
Tratamento contra a aids não é só r<strong>em</strong>édio.<br />
Ir às consultas e fazer exames também faz<br />
parte. S<strong>em</strong> falar que levar uma vida saudável<br />
é fundamental.<br />
Os exames de sangue são importantes<br />
para que seu médico saiba se seus r<strong>em</strong>édios<br />
estão funcionando b<strong>em</strong> e como anda a<br />
sua saúde.<br />
Nunca deixe de ir às suas consultas<br />
médicas. Conversando com os médicos, enfermeiros<br />
e psicólogos, você tira suas dúvidas,<br />
eles passam a te conhecer melhor e<br />
pod<strong>em</strong> te ajudar a lidar com as<br />
SV<br />
dificuldades do tratamento.<br />
Efeito colateral<br />
combata esse vilão<br />
Efeito colateral é uma reação<br />
indesejável provocada por<br />
determinado medicamento, que<br />
ocorre <strong>em</strong> seu organismo. Infelizmente,<br />
os anti-retrovirais provocam<br />
diversos efeitos colaterais.<br />
Diarréia, enjôo, distúrbios de<br />
sono, manchas na pele são alguns<br />
deles. O efeito colateral varia<br />
de acordo com o r<strong>em</strong>édio que<br />
você está usando.<br />
Como combater<br />
Muitas coisas pod<strong>em</strong> ser feitas<br />
para controlar ou amenizar os<br />
efeitos colaterais. Uma alimentação<br />
saudável e exercícios físicos<br />
regulares ajudam muito.<br />
Diarréia, vômito e enjôo costumam<br />
diminuir muito se você evitar<br />
comer alimentos gordurosos. A<br />
lipodistrofia (aumento de gorgura<br />
no sangue e redistribuição da<br />
Se liga!<br />
O exame que detecta a<br />
carga viral avalia a quantidade de<br />
HIV que há <strong>em</strong> seu sangue. Quanto<br />
menor a carga viral, melhor.<br />
O exame que detecta o nível de<br />
celulas CD4 mostra a quantidade<br />
dessas células de defesa no sangue.<br />
Quanto mais células CD4 você<br />
tiver, melhor para o seu<br />
sist<strong>em</strong>a imunológico.<br />
gordura do corpo) melhora com a<br />
prática regular de atividade física<br />
aeróbica (correr, nadar, andar de<br />
bicicleta) e da ginástica com pesos.<br />
É bom evitar também os alimentos<br />
gordurosos.<br />
Em alguns casos, o uso de medicamentos<br />
é necessário para<br />
combater os efeitos colaterias dos<br />
anti-retrovirais. Converse com<br />
médico.
Você se cuida b<strong>em</strong>?<br />
CUIDADOSO, DISPERSO, RELAXADO, NEURÓTICO. EM QUAL<br />
DESSES PERFIS VOCÊ SE ENCAIXA? TESTE VOCÊ MESMO E<br />
CONFIRA A SUA PONTUAÇÃO.<br />
Você vai a uma festa e come muita porcaria. No dia seguinte,<br />
1seus amigos te chamam para ir a uma lanchonete, você:<br />
a) Não dispensa n<strong>em</strong> a maionese que fica grudada no guardanapo e come tudo<br />
que t<strong>em</strong> direito, s<strong>em</strong> pensar no amanhã.<br />
b) Pega leve por causa do dia anterior, escolhendo um lanche<br />
menos gorduroso e um suco.<br />
CONFIRA A SUA PONTUAÇÃO<br />
c) Não vai porque acha um absurdo sair dois dias seguidos para<br />
comer coisas pouco saudáveis.<br />
Quando percebe que a barriga<br />
2 está crescendo, você:<br />
a) Não se preocupa muito porque detesta se exercitar.<br />
b) Pergunta ao seu médico qual a melhor atividade física para se<br />
fazer, levando <strong>em</strong> consideração o que você gosta.<br />
c) Se matricula <strong>em</strong> uma acad<strong>em</strong>ia de ginástica e começa a malhar<br />
alucinadamente.<br />
Na hora de tomar os r<strong>em</strong>édios<br />
3 contra a aids, você:<br />
a) Sai de fininho, porque não agüenta mais essa história.<br />
b) Não fica feliz com a idéia, mas sabe que eles vão ajudar você a<br />
controlar a infecção pelo HIV. Por isso, toma.<br />
c) Não perde uma dose. Fica desesperado só de pensar <strong>em</strong> não<br />
conseguir engolir os comprimidos.<br />
Quando sai para<br />
4 paquerar, você:<br />
a) Nunca leva camisinha, porque acha que não vai precisar.<br />
b) S<strong>em</strong>pre está com uma camisinha. Se rolar, está seguro ou segura.<br />
c) Não leva a camisinha porque dá arrepio só de pensar <strong>em</strong> transar com alguém.<br />
Se você respondeu alguma ou todas<br />
A: Você precisa se ligar. Está disperso e<br />
relaxado com a sua saúde. Não deixe de lado<br />
cuidados básicos que você precisa ter com sua<br />
vida. Se você não se cuidar, qu<strong>em</strong> fará isso<br />
por você?<br />
Se você respondeu alguma ou todas<br />
B: Você está de parabéns: já sabe se cuidar e<br />
t<strong>em</strong> cuidado com a sua saúde. Continue assim<br />
e vá <strong>em</strong> frente.<br />
Se você respondeu alguma ou todas<br />
C: Tudo b<strong>em</strong>, você se cuida. Mas não precisa<br />
ter tanta neurose com medo de dar tudo errado.<br />
Continue cuidando da sua saúde, mas fique<br />
mais tranqüilo, s<strong>em</strong> estresse.<br />
No dia das consultas com<br />
5 seu médico, você:<br />
a) Fica de saco cheio e s<strong>em</strong>pre arranja uma desculpa para não ir ou sair logo da frente do médico.<br />
b) Acha que é uma oportunidade de tirar dúvidas e trocar umas idéias sobre a sua saúde.<br />
c) Faz uma listag<strong>em</strong> com várias perguntas e, quando esquece alguma, enlouquece.<br />
11
12<br />
SAÚDE<br />
É assim que se fala<br />
VAMOS COMBINAR UMA COISA: AO INVÉS<br />
DE FICAR PENSANDO EM DOENÇA, QUE TAL<br />
DAR UMA FORÇA PARA A SAÚDE? SEGUIR<br />
UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E PRATICAR<br />
ATIVIDADE FÍSICA JÁ É<br />
UM BOM COMEÇO. ISSO<br />
VALE PARA TODO MUN-<br />
DO, SOROPOSITIVOS OU<br />
SORONEGATIVOS.<br />
Mexa-se!<br />
Qu<strong>em</strong> pratica exercício físico sabe o b<strong>em</strong> que<br />
ele faz. A atividade física deixa o seu corpo funcionando<br />
a todo o vapor e você se sente mais<br />
bonito e feliz. O fato de ser soropositivo não o<br />
impede de praticar atividade física. Pelo contrário,<br />
exercitar-se pode trazer inúmeras vantagens.<br />
Além de fortalecer seu corpo e deixálo<br />
menos exposto às doenças, os exercícios<br />
físicos ajudam a combater alguns efeitos colaterais<br />
dos medicamentos contra a aids.<br />
Atividade ideal<br />
Exercitar-se ao ar livre e <strong>em</strong> grupo é mais<br />
saudável e uma excelente forma para fazer<br />
amigos. Andar, correr, nadar, pedalar, dançar,<br />
jogar bola. Tudo isso é muito bom! T<strong>em</strong> gente<br />
que prefere malhar numa acad<strong>em</strong>ia. Não importa.<br />
O ideal é que você se exercite com regularidade.<br />
A melhor atividade é aquela que te<br />
dá prazer.
Qual o limite<br />
Marinella Della Negra, médica infectologista<br />
do hospital Emílio<br />
Ribas, de São Paulo, explica que<br />
fazer atividade física exageradamente<br />
não é bom para<br />
ninguém. "Manter o corpo <strong>em</strong><br />
movimento é ótimo para a saúde,<br />
mas t<strong>em</strong> que ter bom senso. Se<br />
está se sentindo indisposto, é melhor<br />
descansar", diz a médica.<br />
Aqueles que até agora nunca se<br />
exercitaram precisam começar<br />
aos poucos. O ideal é procurar a<br />
orientação de um professor, principalmente<br />
para qu<strong>em</strong> quer malhar<br />
com pesos. Não é necessário di-<br />
SV<br />
zer que é soropositivo.<br />
CONVERSANDO SOBRE DROGAS<br />
Ouso de drogas s<strong>em</strong>pre traz<br />
algum efeito sobre a saúde.<br />
Desde aquelas que se compram<br />
no bar da esquina – como o cigarro<br />
e o álcool – até aquelas que são<br />
adquiridas ilegalmente, todas as drogas<br />
pod<strong>em</strong> causar algum dano à saúde.<br />
Comec<strong>em</strong>os então pelo cigarro.<br />
Câncer de pulmão e doenças do<br />
coração são apenas alguns dos males<br />
que ele traz para qu<strong>em</strong> fuma. Já o álcool<br />
e outras drogas (como cocaína,<br />
por ex<strong>em</strong>plo) atacam o fígado. Qu<strong>em</strong><br />
toma muitos medicamentos já t<strong>em</strong> o<br />
fígado sobrecarregado e vai prejudicar<br />
ainda mais o funcionamento desse<br />
Segundo a médica Marinella, essa atitude é muito<br />
comum entre os familiares, que super-proteg<strong>em</strong> as<br />
meninas e meninos soropositivos.<br />
Nesses casos, a dica é pedir a seu médico para conversar<br />
com seu responsável sobre os benefícios dos exercícios<br />
físicos.<br />
órgão ingerindo álcool e drogas.<br />
O corpo como um todo reage ao<br />
uso de drogas.Às vezes pod<strong>em</strong>os chegar<br />
a perder o controle da situação e entrar<br />
numa grande furada ao invés de encontrar<br />
prazer. Quando estamos sob efeito<br />
de alguma droga pod<strong>em</strong>os ter nossas<br />
<strong>em</strong>oções mais afloradas, algumas vezes<br />
ficando mais briguentos e <strong>em</strong> outras<br />
extr<strong>em</strong>amente tranqüilos. A reação é<br />
diferente de uma pessoa para outra.<br />
Portanto,se você gosta de se reunir<br />
de vez <strong>em</strong> quando com os amigos para<br />
beber uma cerveja, não se preocupe. É<br />
só não exagerar e deixar seu radar do<br />
bom senso ligado. A médica Marinella<br />
Della Negra aconselha: "Beba com<br />
moderação e não esqueça de tomar os<br />
medicamentos.O efeito dos anti-retrovirais<br />
não é prejudicado pelo álcool. Se<br />
sentir isolado e entrar <strong>em</strong> depressão é<br />
pior".Vale l<strong>em</strong>brar que "esquecer" de<br />
usar a camisinha com a desculpa de que<br />
estava doidão, também não está com<br />
nada.<br />
Se a droga estiver atrapalhando sua<br />
vida e você estiver com dificuldade de<br />
se livrar dela ou controlar seu uso,peça<br />
ajuda.No local onde você faz tratamento,<br />
os profissionais poderão lhe apoiar<br />
ou indicar onde buscar o apoio que<br />
você precisa.<br />
13
SAÚDE<br />
Cuide da sua<br />
alimentação<br />
Qu<strong>em</strong> não gosta de comer<br />
umas besteiras<br />
por aí? Sanduíche cheio<br />
de maionese e ketchup, salgadinhos,<br />
batata frita, refrigerante e<br />
mais balas, chicletes... enfim,<br />
a variedade é enorme. Já parou<br />
para pensar como seu organismo<br />
vai ter que trabalhar para<br />
digerir tudo isso? Não é nada<br />
fácil para ele, coitado! Que tal<br />
dar uma ajudinha? Manter uma<br />
alimentação saudável, além de<br />
fazer b<strong>em</strong> para a saúde, ajuda<br />
a combater efeitos colaterais<br />
dos medicamentos anti-retrovirais.<br />
E t<strong>em</strong> mais: quando você<br />
come alimentos nutritivos no<br />
seu dia-a-dia, uma escapadinha,<br />
de vez <strong>em</strong> quando, na lanchonete<br />
da esquina não vai fazer<br />
tanto mal assim.<br />
Uma alimentação saudável<br />
requer de 4 a 6 refeições<br />
diárias. Um café da manhã reforçado<br />
(com leite, pão, queijo e<br />
frutas), o almoço e o jantar são<br />
as principais refeições. Entre<br />
elas faça pequenos lanches: um<br />
bolo ou um suco, por ex<strong>em</strong>plo.<br />
O importante é comer alimentos<br />
variados capazes de suprir<br />
suas necessidades diárias de<br />
nutrientes. SV
Veja se você está no caminho certo.<br />
Escolha um desse pratos e confira<br />
Macarrão + salsicha +<br />
gelatina<br />
Péssima escolha. Macarrão até<br />
que é bom porque t<strong>em</strong> carboidrato,<br />
que dá energia. Mas, se você<br />
não faz exercícios e come muito<br />
carboidrato, vai engordar e aumentar<br />
suas taxas de gordura no<br />
sangue. Já a salsicha é gordura<br />
pura e muita química. Faltam<br />
legumes, verduras e frutas. A gelatina<br />
também não é uma boa escolha,<br />
pois t<strong>em</strong> muito açúcar e<br />
corante.<br />
Dicas de Saúde<br />
>> Beba água. Manter o corpo hidratado é muito importante.A<br />
água é um alimento e ajuda o organismo a eliminar<br />
substâncias nocivas, evita a formação de pedra nos rins e<br />
prisão de ventre. Qu<strong>em</strong> pratica esportes deve tomar<br />
bebidas isotônicas ou água de coco, que repõ<strong>em</strong> os sais<br />
minerais perdidos no suor.<br />
>> Pão, macarrão, arroz e batata são alguns dos alimentos<br />
responsáveis por fornecer energia ao organismo.<br />
Dev<strong>em</strong> estar presentes na alimentação do esportista, mas<br />
qu<strong>em</strong> é sedentário e está acima do peso ideal deve consumi-los<br />
com moderação. E não misturá-los.<br />
Hamburger + batata frita<br />
+ refrigerante<br />
Deve ser uma exceção na sua<br />
alimentação. Essa refeição<br />
t<strong>em</strong> muita gordura e é pobre<br />
<strong>em</strong> nutrientes. Mas você pode<br />
melhorá-la um pouco se beber<br />
um suco de fruta rico <strong>em</strong> vitamina<br />
C (ex: laranja, abacaxi,<br />
acerola, limão) ao invés de refrigerante.<br />
Arroz + feijão + carne<br />
+ alface + cenoura + banana<br />
Ótima combinação. O arroz e o<br />
feijão se completam e são super<br />
nutritivos. Carne vermelha é rica<br />
<strong>em</strong> ferro, mas a digestão é um<br />
pouco difícil. Por isso é melhor<br />
comê-la no almoço. Coma também<br />
peixe e frango, que são de fácil<br />
digestão. Evite as partes gordurosas<br />
da carne e a pele do<br />
frango e do peixe. Legumes, verduras<br />
e frutas não pod<strong>em</strong> faltar<br />
no seu dia-a-dia.<br />
>> Frutas, legumes e verduras são ricos <strong>em</strong> vitaminas,<br />
minerais e têm muita fibra, que ajuda na digestão.<br />
>> Leite, queijo e iogurte fortalec<strong>em</strong> os ossos.<br />
>> Carnes, ovos, aves e peixes são ricos <strong>em</strong> proteínas e<br />
auxiliam na formação de novas células.<br />
>> Feijão, ervilha e lentilha possu<strong>em</strong> ferro, proteínas e<br />
vitaminas. Não deixe de comê-los.<br />
>> Açúcar, doces e alimentos gordurosos dev<strong>em</strong> ser<br />
comidos com moderação, pois aumentam o colesterol e<br />
têm muitas calorias.<br />
15
16<br />
Não tá satisfeito?<br />
TRANSFORME O LUGAR ONDE VOCÊ FAZ TRATAMENTO<br />
EM UM ESPAÇO MAIS JOVEM!!!!<br />
Não t<strong>em</strong> jeito! Posto de saúde,<br />
hospital e consultas médicas<br />
já faz<strong>em</strong> parte da vida de<br />
todo mundo que t<strong>em</strong> HIV. A galera<br />
que nasceu com o vírus já tira de letra<br />
as idas ao médico. A turma que pegou<br />
o vírus na adolescência, ainda está se<br />
acostumando com essa rotina.<br />
Mas o probl<strong>em</strong>a rola quando a<br />
galera fica de saco cheio de ser tratado<br />
no setor de pediatria, junto<br />
com as crianças, mas também não<br />
fica numa boa no ambulatório de<br />
adulto. E aí, o que fazer? Na verdade,<br />
essa é a hora de tentar fazer<br />
alguma coisa.<br />
Fale o que está te incomodando<br />
O primeiro passo é falar o que está<br />
te incomodando para o profissional<br />
de saúde com qu<strong>em</strong> você t<strong>em</strong> mais<br />
afinidade. Ninguém vai poder adivinhar<br />
o que passa pela tua cabeça.<br />
Tá certo que t<strong>em</strong> hospitais que não<br />
dão muito espaço para os<br />
jovens e alguns locais não pod<strong>em</strong><br />
fazer grandes coisas por falta de dinheiro.<br />
Mas a criatividade é tudo. E<br />
nesse ponto, todos os jovens sab<strong>em</strong><br />
que pod<strong>em</strong> ajudar. Um bom passo é<br />
identificar a pessoa do posto que é<br />
sua parceira. Pode ser um médico,<br />
uma psicóloga, uma assistente social.<br />
Abra o jogo com eles. Diga o<br />
que está te incomodando. Dê sugestões.<br />
Uma boa dica é pedir que
eles reserv<strong>em</strong> um dia de atendimento só<br />
para os jovens. Assim, fica mais fácil encontrar<br />
um grupo no hospital e fazer<br />
boas amizades.<br />
Trocar idéia com a galera<br />
Outra dica é a formação de grupos de<br />
jovens. Imagine só: um espaço onde<br />
você pudesse ter contato com outros<br />
jovens que passam pelo mesmo sufoco<br />
e têm quase as mesmas dúvidas. Seria<br />
um alívio poder falar, claramente, de todos<br />
os grilos que rolam sobre namoro,<br />
amizade, discriminação, preconceito,<br />
ufa!! Pra isso, não precisa de grana. Precisa<br />
só de boa vontade do local onde<br />
você se trata. E cá pra nós: na maioria<br />
desses lugares t<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre alguém que<br />
está disposto a escutar os outros. Se<br />
eles não quiser<strong>em</strong> formar um grupo,<br />
reúna a galera e forme a sua tribo!<br />
Legal<br />
• Os médicos são<br />
bacanas<br />
• T<strong>em</strong> ajuda psicológica<br />
• T<strong>em</strong> tratamento para viver<br />
com saúde<br />
• Alguns profissionais são<br />
amigos pacas!<br />
• T<strong>em</strong> carinho e atenção<br />
O Jov<strong>em</strong> e o serviço de saúde<br />
Depois disso, quando todo mundo estiver<br />
b<strong>em</strong> entrosado, é mais fácil surgir<strong>em</strong><br />
idéias legais para vocês ajudar<strong>em</strong><br />
a tornar o posto ou hospital um espaço<br />
mais jov<strong>em</strong>. Talvez dê até pra rolar umas<br />
revistinhas, um rádio tocando músicas<br />
maneiras, uma cadeira mais legal pra<br />
sentar e até (êba!!!!!) um lanchinho. SV<br />
UM ESPAÇO RESERVADO<br />
PARA OS JOVENS<br />
Exist<strong>em</strong> vários locais espalhados pelo Brasil<br />
que têm um atendimento especial para<br />
jovens. Um deles é o Hospital Grafreé e<br />
Guinle, no Rio de Janeiro, onde acontece o<br />
Projeto Convhivendo. Os jovens e crianças<br />
possu<strong>em</strong> uma sala onde faz<strong>em</strong> reuniões.Além<br />
disso, t<strong>em</strong> lanche e festas <strong>em</strong> datas especiais.<br />
Vários garotos e garotas já se tornaram<br />
grandes amigos. Os jovens participam ativamente<br />
do projeto, ajudando na organização e<br />
dando sugestões s<strong>em</strong>pre.<br />
Chato<br />
• O atendimento é muito d<strong>em</strong>orado<br />
• Só me mandam tomar r<strong>em</strong>édio<br />
• Não t<strong>em</strong> um local só pra gente<br />
• T<strong>em</strong> profissionais que não têm saco<br />
para atender a gente<br />
• Não encontro outros jovens<br />
• É um lugar de criança<br />
• Os profissionais de saúde não conversam<br />
com a minha família<br />
"É um saco ficar esperando<br />
tanto pelas consultas s<strong>em</strong><br />
fazer nada".<br />
Carlos, 16 anos,<br />
Rio de Janeiro - RJ<br />
Podia ter um lanchinho, uma<br />
música pra gente ouvir e até<br />
umas revistinhas. Isso seria<br />
b<strong>em</strong> legal!".<br />
Leandro, 14 anos,<br />
Porto Alegre RS<br />
"O hospital poderia fazer<br />
umas palestras e debates<br />
com jovens que têm o<br />
HIV. Assim a gente poderia<br />
conhecer a galera"<br />
Janaina, 19 anos,<br />
São Paulo - SP<br />
"Ter um lugar de<br />
atendimento que só<br />
tivesse a gente."<br />
Carla, 17 anos,<br />
Belo Horizonte - MG.<br />
"Queria que os profissionais<br />
viess<strong>em</strong> me aconselhar. Conversar<br />
comigo s<strong>em</strong> mentiras".<br />
Fernando, 15 anos,<br />
Belém – PA<br />
"Queria que o pessoal do<br />
serviço (de saúde) tivesse<br />
mais contato com as pessoas<br />
da minha escola. Seria muito<br />
legal se eles dess<strong>em</strong> uma<br />
palestra lá."<br />
Maria, 17 anos,<br />
Salvador – BA.<br />
um jov<strong>em</strong> tratado na pediatria… …no ambulatório com os adultos no atendimento para adolescentes<br />
O que está faltando… 17
Quando<br />
estou a fim de<br />
alguém, corro atrás!<br />
foto:Adriana Gomez<br />
Nome: Mariana Barbosa Teobaldo<br />
Idade: 18 anos<br />
Vive com HIV há 18 anos<br />
Onde mora: Belo Horizonte - MG<br />
Série na escola: Pré-vestibular<br />
Profissão que escolheu: Engenharia<br />
eletrônica<br />
Mariana t<strong>em</strong> um brilho muito especial<br />
no olhar. Uma força só dela<br />
que não combina muito com o seu<br />
corpo miúdo e frágil, mas se encaixa<br />
perfeitamente com os seus<br />
planos para o futuro. Ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que quer ser uma<br />
"grande engenheira elétrica", t<strong>em</strong><br />
corag<strong>em</strong> suficiente para assumir que<br />
não consegue tomar os r<strong>em</strong>édios contra<br />
a aids direito: "O gosto é horrível e<br />
tenho dificuldade de engolir". Por causa<br />
disso, Mariana fica muito doente com<br />
freqüência. Quando ela conversou com<br />
a <strong>Saber</strong> <strong>Viver</strong> Jov<strong>em</strong>, estava com pneumonia,<br />
mas fez questão de contar um<br />
pouquinho de sua história. Mariana é assim,<br />
guerreira. Torc<strong>em</strong>os para que ela<br />
mude a sua relação com os r<strong>em</strong>édios<br />
anti-aids. Afinal, com tantos planos pela<br />
frente, é fundamental estar<br />
forte. Um beijão,<br />
Mariana, de toda a<br />
equipe da <strong>Saber</strong><br />
<strong>Viver</strong> Jov<strong>em</strong>.
Você se acha diferente<br />
das outras meninas<br />
adolescentes?<br />
Eu me acho sim, porque o meu corpo<br />
é muito pequeno. T<strong>em</strong> outras meninas<br />
que são pequenas, mas, por<br />
eu ser doente, fica aquele constrangimento.<br />
Eu penso que está todo<br />
mundo olhando para mim na rua.<br />
Qual é a maior dificuldade<br />
que você t<strong>em</strong> para conviver<br />
com o vírus da aids?<br />
Tomar r<strong>em</strong>édio. Gente, eu não consigo<br />
tomar aqueles r<strong>em</strong>édios!<br />
Parece que t<strong>em</strong> uma força negativa<br />
falando “não toma não, pra quê?”. O<br />
gosto é horrível! Às vezes, eu tenho<br />
dificuldade de engolir porque eles<br />
são muito grandões.<br />
Você fala s<strong>em</strong>pre para o<br />
seu médico quando não<br />
toma os medicamentos?<br />
Eu não falo s<strong>em</strong>pre, não.<br />
Você gosta de namorar?<br />
Eu gosto de paquerar. Quando estou<br />
a fim de alguém, eu corro atrás. Se<br />
ele não tiver a fim de mim, pelo<br />
menos eu fico logo sabendo e não<br />
me iludo. Eu já tive um namorado<br />
firme. Durou uns dois meses. Eu<br />
sou muito pontual e gosto de tudo<br />
muito certinho. Não gosto de qu<strong>em</strong><br />
faz hora com a minha cara. Marca<br />
e não vai. Eu fico uma fera!<br />
Você acha que o HIV<br />
atrapalha os seus<br />
namoros?<br />
Não. Eu não vou querer passar o<br />
que eu tenho para outra pessoa.<br />
Quando eu tiver uma relação sexual,<br />
eu vou querer me proteger e prote-<br />
ger o meu parceiro. Se eu tiver um<br />
probl<strong>em</strong>a na boca, eu não vou querer<br />
beijar ninguém. Eu sou cuidadosa<br />
com o outro.<br />
E na escola, você já foi<br />
discriminada por causa<br />
do HIV?<br />
Já. Foi na 3ª série. Minha tia achou<br />
que poderia contar para minha professora.<br />
Mas ela me discriminou na<br />
aula. Falou que eu tinha que sentar no<br />
fundo da sala porque eu não poderia<br />
respirar o mesmo ar que os outros<br />
alunos. Minha tia teve que ir à escola.<br />
Saiu nos jornais e na revista esta<br />
discriminação que eu sofri.<br />
Você ficou com raiva?<br />
Essa reação da professora me<br />
deixou muito triste. Arrasada! Eu<br />
gostava de sentar na primeira<br />
carteira. Eu era muito pequena, não<br />
enxergava direito e tinha que ficar<br />
<strong>em</strong> pé no fundo da sala de aula.<br />
Você sabia que tinha o HIV<br />
na época?<br />
Eu não sabia, mas desconfiava.<br />
Cresci junto com os meus primos,<br />
mas só eu tinha que tomar r<strong>em</strong>édios.<br />
Depois desse probl<strong>em</strong>a na escola,<br />
a psicóloga me procurou para<br />
contar.<br />
Quais são os seus planos<br />
para o futuro?<br />
Quero ser uma grande engenheira<br />
elétrica. Não quero casar, porque<br />
hom<strong>em</strong> dá muito trabalho. É melhor<br />
ficar só nas paqueras. Quero fazer<br />
muitas viagens, porque eu gosto de<br />
sair. Pretendo adotar uma criança.<br />
Não quero ter filhos. Sei que eu<br />
poderia tentar, que as chances da<br />
criança ser soropositiva são peque-<br />
nas, mas prefiro adotar.<br />
Você t<strong>em</strong> muitos amigos?<br />
Tenho muitos amigos com HIV e<br />
s<strong>em</strong> HIV. Ter amigos é muito importante.<br />
O que você gostaria de<br />
dizer para os outros<br />
adolescentes que viv<strong>em</strong><br />
com HIV igual a você?<br />
Nós não somos diferentes dos outros.<br />
A gente pode fazer tudo que<br />
os outros faz<strong>em</strong>, só dev<strong>em</strong>os ter alguns<br />
cuidados porque a nossa<br />
saúde é mais sensível. Se alguém<br />
colocar uma pedra <strong>em</strong> seu caminho,<br />
não a chute. Abaixe e a apanhe,<br />
porque assim você não corre o risco<br />
de encontrá-la na frente novamente.<br />
SV<br />
foto:Adriana Gomez<br />
19
20<br />
Eu quero beijar<br />
muito!!!<br />
Beijar, abraçar,<br />
se enroscar, agarrar<br />
e ...transar!<br />
Será que eu posso?<br />
SE VOCÊ FEZ O TESTE DA PÁGINA 7, JÁ SABE QUE A SALIVA NÃO TRANS-<br />
MITE O HIV. ENTÃO, PODE BEIJAR SEM MEDO, ATÉ CANSAR! BEIJO, ALÉM<br />
DE SER UMA DELÍCIA, SÓ FAZ BEM. ABRAÇOS E AMASSOS, ENTÃO? TO-<br />
TALMENTE LIBERADOS! QUANTO A TRANSAR... LEIA ANTES COM ATENÇÃO<br />
ESSA MATÉRIA E BOM PROVEITO!<br />
Não é porque você é soropositivo<br />
que vai ter que viver sua juventude<br />
de maneira diferente das<br />
outras pessoas. Na adolescência tá<br />
todo mundo querendo namorar e com<br />
você acontece o mesmo, não é? Mas,<br />
quando a cabeça está cheia de caraminholas,<br />
as coisas se complicam um<br />
pouco. Vamos, então, começar a descomplicar?<br />
Contar ou não contar, eis a questão<br />
“Contar que eu tenho o HIV? Que sufoco!”.<br />
Qu<strong>em</strong> disse que t<strong>em</strong> que contar? Você só<br />
conta se quiser. Com responsabilidade e al-<br />
guns cuidados, você vai poder deitar e rolar<br />
à vontade com qu<strong>em</strong> estiver a fim.<br />
Sandra mora <strong>em</strong> Recife e, aos 16<br />
anos, ainda não sentiu necessidade de<br />
contar para a pessoa que namora que é<br />
soropositiva. "Mas acho que esse é um<br />
probl<strong>em</strong>a que eu vou ter que enfrentar<br />
um dia, quando tiver mais convivência<br />
com alguém ou quando for morar junto.<br />
Aí vou ter que contar", diz ela. Já Moacir,<br />
16 anos, de Salvador, já decidiu: "Não<br />
conto para minha namorada. Não é por<br />
medo dela terminar, é medo de ela fazer<br />
fofoca", diz ele, que ressalta: "Só transo<br />
de camisinha".
Eu quero contar que eu tenho o HIV<br />
É normal querer dividir com o parceiro ou parceira<br />
coisas íntimas. Falar dos seus desejos, das suas alegrias<br />
e tristezas e contar segredos. Mas dá um medo<br />
danado da reação do outro, não é?<br />
Diana, 14 anos, queria muito contar para o menino<br />
que gosta que ela é soropositiva, porém... "Eu me preparei<br />
toda para contar, mas na hora congelei", diz ela.<br />
Para superar o medo, Renata, 16 anos, t<strong>em</strong> uma dica:<br />
"É melhor ir sondando primeiro para ver a reação. Fiz<br />
algumas perguntas para o meu namorado do tipo:<br />
‘Você namoraria uma garota com HIV?’ Quando por<br />
fim contei que eu era soropositiva, ele não se importou".<br />
Contei e me dei mal<br />
Infelizmente, isso pode acontecer. A história de Rosa<br />
é um ex<strong>em</strong>plo disso. Ela t<strong>em</strong> 17 anos e mora <strong>em</strong><br />
São Paulo. "Tive um namorado que não sabia que eu<br />
estava infectada pelo vírus HIV. Depois que a gente<br />
brigou, eu acabei contando. Ele fez um escândalo,<br />
disse que eu tinha que ter contado antes. Parecia<br />
até que tinha ficado com nojo de mim. Eu nunca mais<br />
olhei na cara dele".<br />
Infelizmente, muita gente é completamente desinformada<br />
sobre as formas de contágio do HIV. Para superar<br />
isso, só com muita informação. Quer uma sugestão?<br />
Dê essa revista para qu<strong>em</strong> você namora dar uma<br />
lida. N<strong>em</strong> precisa dizer que é sua, diga que pegou por<br />
acaso. Qu<strong>em</strong> sabe essa pessoa entende que todo<br />
mundo que um dia transou s<strong>em</strong> camisinha corre o<br />
risco de se infectar pelo vírus da aids? Qu<strong>em</strong> sabe<br />
ela aprende que a aids hoje, apesar de não ter cura,<br />
t<strong>em</strong> tratamento? Qu<strong>em</strong> sabe ela deixa de ser precon-<br />
SV<br />
ceituosa?<br />
Namore s<strong>em</strong> medo:<br />
>> Beijo de língua, daqueles b<strong>em</strong> molhados, não passa aids. Se houver alguma ferida na<br />
boca, é melhor deixar o beijo para outra hora. E não se esqueça de fazer uma visita<br />
ao dentista.<br />
>> Brincadeiras sexuais, como um masturbar o outro, um beijar o<br />
corpo do outro, são uma maneira gostosa de dar e receber carinho.<br />
Juntos, vocês pod<strong>em</strong> descobrir outras formas de prazer,<br />
além da penetração, que não oferec<strong>em</strong> perigo de<br />
infecção pelo HIV.<br />
>> Fazer sexo oral usando a camisinha como barreira<br />
entre a boca e o órgão genital não passa aids.<br />
>> Se você transar usando camisinha desde o início<br />
até o fim da penetração, tudo b<strong>em</strong>. Não vale colocar<br />
a camisinha só na hora da ejaculação, n<strong>em</strong> transar<br />
s<strong>em</strong> camisinha e tirar o pênis na hora de gozar. Essas<br />
duas práticas pod<strong>em</strong> passar o HIV.
22<br />
Espante<br />
o grilo<br />
Ter dúvidas sobre sexo é super comum, ainda mais quando se está<br />
começando a vida sexual. Por isso, convidamos o psicólogo e sexólogo Cláudio<br />
Picazio para responder aquelas perguntas difíceis que ninguém sabe<br />
para qu<strong>em</strong> perguntar.<br />
1. 2.<br />
Todas as minhas amigas já transaram.<br />
Eu tenho 21 anos e ainda sou virg<strong>em</strong>. Não<br />
consigo pensar muito <strong>em</strong> sexo. Por que será?<br />
Por algum motivo, você deve ter 'congelado' da sua<br />
vida a questão sexual. Não fazer sexo não é probl<strong>em</strong>a,<br />
desde que seja por opção, não por uma sensação<br />
de incapacidade. Muitas pessoas sent<strong>em</strong> essa mesma<br />
dificuldade e geralmente ela está associada à dificuldade<br />
de criar um vínculo, ou por um enorme medo<br />
de punição só de da família camisinha<br />
ou da religião, ou por causa da<br />
infecção pelo HIV/aids. Pense sobre isso. Uma dica:<br />
converse com o psicólogo do local onde você faz o<br />
tratamento. Ele poderá te dar uma força.<br />
Transar,<br />
Transar,<br />
só de camisinha<br />
inha<br />
Este conselho vale para todo mundo. Hoje,<br />
qu<strong>em</strong> não transa de camisinha tá totalmente por<br />
fora. João mora <strong>em</strong> Rondônia, t<strong>em</strong> 18 anos, e sabe<br />
muito b<strong>em</strong> disso: "A camisinha é certa para<br />
qualquer pessoa usar. Já se tornou normal.<br />
S<strong>em</strong>pre transei com camisinha. No<br />
começo procurei aprender como se deve<br />
usar e por quê".<br />
Sandra, nas conversas com suas amigas, nota<br />
que tá todo mundo pensando da mesma forma.<br />
"Tenha ou não HIV, é preciso usar camisinha.<br />
E não é só por causa da aids, é para prevenir<br />
a gravidez também. T<strong>em</strong> que usar e<br />
pronto. Não t<strong>em</strong> que dar explicação", diz ela.<br />
O uso da camisinha evita, além da aids, outras<br />
doenças sexualmente transmissíveis, como a sífilis<br />
Acho que estou me masturbando<br />
d<strong>em</strong>ais. Eu gosto, mas tenho medo de ter<br />
algum probl<strong>em</strong>a.<br />
Masturbação não faz mal a ninguém. O que determina<br />
se é d<strong>em</strong>ais ou de menos é o fato de uma pessoa se<br />
acomodar com a masturbação e não buscar mais um<br />
parceiro ou parceira, "trocá-los" pela masturbação.<br />
Outro fator importante que pode determinar um<br />
excesso é se a pessoa deixa de fazer atividades, como<br />
trabalhar, estudar etc... para ficar se masturbando!<br />
De resto, boa pratica!<br />
e a gonorréia. Além disso, ao transar com camisinha,<br />
você se protege de uma nova infecção do<br />
HIV. S<strong>em</strong> falar que o sexo seguro previne uma<br />
gravidez fora de hora.<br />
Vale l<strong>em</strong>brar que a camisinha<br />
é uma responsabilidade<br />
do menino e da menina.<br />
Menina que anda com<br />
camisinha na bolsa é<br />
moderna, esperta<br />
e segura de<br />
si. Menina que<br />
usa camisinha<br />
f<strong>em</strong>inina então,<br />
n<strong>em</strong> se fala!
Ter ou não ter filhos<br />
A escolha é sua<br />
HOJE, GRAÇAS AO AVANÇO DA CIÊNCIA, AS PESSOAS QUE VIVEM COM<br />
HIV/AIDS TÊM A POSSIBILIDADE DE PLANEJAR UMA GRAVIDEZ SEGURA. JÁ<br />
AS QUE NÃO QUEREM TER FILHOS TÊM À DISPOSIÇÃO MÉTODOS QUE, AS-<br />
SOCIADOS À CAMISINHA, AUMENTAM A PROTEÇÃO CONTRA UMA<br />
GRAVIDEZ INDESEJADA.<br />
Ouso da camisinha é fundamental durante<br />
as relações sexuais não só porque protege<br />
da infecção pelo HIV. Se a pessoa<br />
é soropositiva, ela a protege de uma nova infecção<br />
do HIV, o que pode acarretar aumento da<br />
carga viral e resistência a medicamentos, e de<br />
outras doenças sexualmente transmissíveis.<br />
Quando você não usa a camisinha está arriscando<br />
sua vida e a do parceiro/a.<br />
Para evitar a gravidez, a camisinha pode ser<br />
usada junto com outros métodos. O uso de hormônios<br />
(pílula ou injeção) associado ao uso da<br />
camisinha aumenta a proteção contra a<br />
gravidez. Porém, é preciso consultar seu médico,<br />
pois alguns anti-retrovirais têm sua ação<br />
diminuída com o uso de hormônios. O diafragma<br />
também pode ser usado <strong>em</strong> associação à<br />
camisinha para evitar a gravidez. Já a contracepção<br />
de <strong>em</strong>ergência (chamada de pílula do<br />
dia seguinte) só deve ser usada, como o próprio<br />
nome diz, <strong>em</strong> situações de <strong>em</strong>ergência, como,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, quando a camisinha estourar.<br />
Ser acompanhada por um ginecologista é<br />
muito importante <strong>em</strong> todos os casos.<br />
Quero<br />
terfilhos<br />
Lucia, 16 anos, é soropositiva e sonha <strong>em</strong><br />
casar e ter um casal de filhos. "Será que eu<br />
posso? Se meu marido for soronegativo,<br />
como vou engravidar s<strong>em</strong> contaminá-lo?"<br />
Pode ficar tranqüila, Lucia, você pode sim ter filhos.<br />
Mas para isso alguns cuidados dev<strong>em</strong> ser tomados.<br />
Para garantir que seu filho não seja infectado<br />
pelo HIV, durante a gravidez e o parto, você deverá<br />
ter um acompanhamento médico adequado e tomar<br />
as medicações indicadas para que sua carga viral permaneça<br />
baixa. Para engravidar s<strong>em</strong> contaminar seu<br />
parceiro, o ideal é fazer uma ins<strong>em</strong>inação artificial.<br />
Quando o hom<strong>em</strong> é soropositivo, seu sêm<strong>em</strong> terá<br />
que sofrer uma "lavag<strong>em</strong>" antes de ser ins<strong>em</strong>inado<br />
artificialmente na mulher. Isso garante que ele não<br />
vai infectá-la com o HIV, caso ela seja soronegativa.<br />
Caso o hom<strong>em</strong> e a mulher sejam soropositivos,<br />
os cuidados dev<strong>em</strong> ser os mesmos. Todos esses procedimentos<br />
são feitos <strong>em</strong> clínicas especializadas.<br />
23
24<br />
Amaioria dos jovens soropositivos<br />
sofre com o preconceito<br />
e a discriminação.<br />
Exist<strong>em</strong> outros jovens que também<br />
Quando se sabe que uma<br />
pessoa é homossexual?<br />
Carla, 17 anos.<br />
Uma pessoa sabe que é homossexual<br />
quando sente desejos por alguém<br />
do mesmo sexo. Esses desejos pod<strong>em</strong><br />
ser afetivos ou também sexuais.<br />
Gosto muito de um amigo<br />
meu. Tenho vontade de<br />
abraçar ele. Isso é coisa de<br />
veado?<br />
Mauro, 15 anos.<br />
O que acontece com você é super<br />
comum entre os homens. Somente<br />
a vontade de abraçar o seu<br />
amigo não faz de você um homossexual.<br />
Para ser homossexual,<br />
são discriminados injustamente: os<br />
jovens homossexuais. Para transformarmos<br />
o nosso país <strong>em</strong> um lugar<br />
mais justo para se viver, é fundamental<br />
que a gente comece a<br />
transformar a nossa forma de olhar<br />
para o outro. Preconceito e<br />
discriminação não estão com nada!<br />
Eles estão s<strong>em</strong>pre ligados à falta<br />
de informação.<br />
Um ex<strong>em</strong>plo comum desta falta<br />
de informação é associar HIV ou<br />
aids a pessoas homossexuais. Segundo<br />
o psicólogo e sexólogo Cláudio<br />
Picazio, isso acontece porque os<br />
primeiros casos da epid<strong>em</strong>ia foram<br />
registrados <strong>em</strong> gays. "Com isso,<br />
uma parcela da sociedade, que é<br />
preconceituosa, aproveitou para condenar<br />
essa população, acreditando<br />
(e espalhando isso por ai!) que a aids<br />
seria uma praga contra eles. Mas<br />
esse preconceito custou caro. Muitas<br />
pessoas heterossexuais se contaminaram<br />
porque acreditaram nessa<br />
mentira e muitos não se<br />
proteg<strong>em</strong> adequadamente, usando<br />
o preservativo nas relações sexuais,<br />
por ex<strong>em</strong>plo, porque ainda acreditam<br />
nessa mentira!", explica Cláudio.<br />
Esclarecendo dúvidas sobre<br />
Homossexualidade<br />
Cláudio Picazio, que é uma fera no assunto, responde algumas dúvidas<br />
envolvendo o t<strong>em</strong>a:<br />
você deveria sentir também<br />
atração física, tipo vontade de tocar<br />
o corpo, beijar e até fazer<br />
sexo. É comum entre mulheres<br />
d<strong>em</strong>onstração de carinho e afeto<br />
e isso não as transforma <strong>em</strong> homossexuais.<br />
Tenho um amigo que é gay.<br />
Se eu continuar amigo dele,<br />
vou ser também?<br />
Piero, 15 anos.<br />
Se ele gosta de homens para relacionamentos<br />
mais íntimos, você só<br />
será igual a ele se também tiver o<br />
mesmo desejo. Homossexualidade<br />
não contamina, assim como a heterossexualidade<br />
também não. Con-<br />
tinuar sendo amigo dele pode te transformar<br />
numa pessoa mais capacitada<br />
para lidar com as diferenças. Essa<br />
característica é fundamental para conseguirmos<br />
construir um mundo mais<br />
SV<br />
justo para todos.<br />
Tire suas dúvidas<br />
sobre sexualidade<br />
Se você tiver outras dúvidas<br />
sobre sexualidade, mande um<br />
e-mail para Cláudio Picazio.<br />
Ele terá o maior prazer <strong>em</strong><br />
trocar uma idéia contigo:<br />
cmsp@uol.com.br
“ O HIV<br />
”<br />
ANTÔNIO É ENFERMEIRO E<br />
JÁ ATENDEU VÁRIOS PA-<br />
CIENTES COM AIDS. FOI UM<br />
SUSTO MUITO GRANDE<br />
QUANDO ELE SE VIU INFEC-<br />
TADO PELO O HIV. "PASSEI<br />
PARA O OUTRO LADO", DIZ.<br />
SUPERADO O CHOQUE, AN-<br />
TÔNIO AGORA SÓ QUER<br />
SABER DE CURTIR OS MI-<br />
MOS DE SUA MÃE E RE-<br />
ALIZAR SEUS ANTIGOS<br />
PLANOS. E ACHA QUE A<br />
MELHOR COISA QUE LHE<br />
ACONTECEU FOI SABER QUE<br />
TINHA O HIV SEM ESTAR<br />
DOENTE.<br />
me deu ânimo para correr<br />
atrás dos meus sonhos<br />
Nome: Antônio da Silva<br />
Ribeiro<br />
Idade: 24 anos<br />
Profissão: Enfermeiro<br />
Onde mora: Rio de<br />
Janeiro – RJ<br />
T<strong>em</strong> o HIV há um ano<br />
Como foi para você descobrir<br />
que era soropositivo?<br />
Em 2002 fiz o exame para o HIV e<br />
deu negativo. Por sugestão de uma<br />
colega resolvi repetir o exame ano<br />
passado. Quando peguei o resultado<br />
positivo fiquei com muito medo do que<br />
poderia acontecer. Tive receio, principalmente,<br />
da reação da minha mãe,<br />
da minha irmã e do meu namorado.<br />
Fui retardando o momento de contar<br />
para eles e isso ia me deixando cada<br />
vez mais deprimido.<br />
E o que aconteceu quando<br />
você contou?<br />
Fiz uma carta imensa para meu<br />
namorado contando e terminei nossa<br />
relação de seis anos porque eu não<br />
quis ficar naquela paranóia de qu<strong>em</strong><br />
passou o HIV para qu<strong>em</strong>, qu<strong>em</strong> traiu<br />
qu<strong>em</strong>. Ele ainda não quis fazer o exame<br />
para ver se t<strong>em</strong> o vírus.<br />
Qual foi a reação da sua<br />
mãe quando soube?<br />
Minha mãe foi forte, disse que a aids<br />
t<strong>em</strong> tratamento e que vai estar s<strong>em</strong>pre<br />
ao meu lado. Depois que me separei,<br />
voltei a morar com ela. Estou<br />
tendo agora uma mãe que nunca tinha<br />
tido. Antes do HIV a gente n<strong>em</strong><br />
se dava muito b<strong>em</strong>. Agora ela cuida<br />
o t<strong>em</strong>po todo de mim: se preocupa<br />
com a minha alimentação, não me<br />
deixa sair s<strong>em</strong> um casaco, quer ver<br />
todos os meus exames. Eu adoro.<br />
Como você está se sentindo<br />
agora <strong>em</strong> relação à aids?<br />
Acho que a melhor coisa que me<br />
aconteceu foi ter descoberto que tenho<br />
o HIV s<strong>em</strong> ter aids. Isso me dá<br />
muitas chances de tratamento. T<strong>em</strong><br />
gente que descobre quase à beira da<br />
morte. É muito pior. Mas a possibilidade<br />
de ficar doente me preocupa.<br />
O HIV mudou sua forma de<br />
encarar a vida?<br />
S<strong>em</strong>pre tive planos de sair do Rio,<br />
ser enfermeiro <strong>em</strong> comunidades carentes,<br />
cuidar de índios na Amazônia.<br />
O HIV me deu ânimo para correr<br />
atrás das coisas que eu quero e não<br />
SV<br />
ficar só sonhando.<br />
25
26<br />
Ela pega no meu pé, ela não me entende, mas...<br />
Tá comigo para o que der e vier!<br />
Essa é a minha Família<br />
SABE AQUELA FAMÍLIA QUE APARECE EM COMERCIAL DE TELEVISÃO? PAI, MÃE,<br />
FILHO E FILHA, TODOS SEMPRE LINDOS E FELIZES! SE SUA FAMÍLIA NÃO SE<br />
PARECE NADA COM ISSO, FIQUE TRANQÜILO, VOCÊ NÃO É EXCEÇÃO. NA VIDA<br />
REAL A HISTÓRIA É BEM DIFERENTE.<br />
Areal é que, hoje <strong>em</strong> dia,<br />
exist<strong>em</strong> famílias de formas<br />
b<strong>em</strong> variadas. T<strong>em</strong> muita<br />
gente que vive só com a mãe ou só<br />
com o pai. Às vezes também com o<br />
padrasto ou madrasta. Muitos viv<strong>em</strong><br />
com os avós, com os tios. Alguns<br />
viv<strong>em</strong> junto dos irmãos de sangue,<br />
outros viv<strong>em</strong> com os irmãos<br />
de coração. Dê uma olhada à sua<br />
volta. Saca aquelas pessoas que estão<br />
s<strong>em</strong>pre por perto, que conviv<strong>em</strong><br />
com você no seu dia-a-dia? Pois, é!<br />
Essa é a sua família!<br />
Agora, cá entre nós, você acredita<br />
mesmo <strong>em</strong> família s<strong>em</strong>pre feliz?<br />
A convivência quando é muito próxima,<br />
seja entre amigos ou entre familiares,<br />
é s<strong>em</strong>pre um pouco (às<br />
vezes muito) complicada.<br />
Conversando a gente se entende<br />
Se toda convivência já t<strong>em</strong> seu lado<br />
complicado, imagine quando o HIV<br />
faz parte da família! A verdade é que<br />
a aids é um t<strong>em</strong>a complexo. Quase<br />
ninguém gosta de tocar nele com<br />
medo de trazer à tona sentimentos<br />
difíceis de lidar. No entanto, se a<br />
aids virar um assunto proibido dentro<br />
da família, a situação pode ficar<br />
insustentável. "O probl<strong>em</strong>a começa<br />
com a dificuldade que os familiares<br />
têm <strong>em</strong> falar para a criança<br />
soropositiva que ela t<strong>em</strong> o HIV", diz<br />
a psicóloga do Centro de Referência<br />
e Treinamento <strong>em</strong> DST/Aids de São<br />
Paulo, Camila Alves Perez. "Essa<br />
criança passou anos indo ao hospital<br />
e tomando r<strong>em</strong>édios s<strong>em</strong> saber<br />
exatamente o porquê. Fica imaginando<br />
coisas e sofrendo <strong>em</strong> silêncio.<br />
Quando enfim alguém resolve<br />
contar, ela já é um adolescente que<br />
no fundo já sabia da verdade", diz.<br />
Para Sandra, que t<strong>em</strong> 16 anos e<br />
vive <strong>em</strong> Recife, ninguém nunca contou<br />
sobre o HIV, apesar de ela ter o
vírus desde o nascimento. "Descobri<br />
que tinha o HIV porque escutava algumas<br />
conversas quando era<br />
menor e fui juntando as peças. Nunca<br />
tocamos nesse assunto <strong>em</strong><br />
família. Só durante as brigas a gente<br />
solta alguma coisa", conta Sandra.<br />
Segundo a psicóloga, quando a<br />
família aceita a aids com mais<br />
naturalidade e se abre para o diálogo,<br />
a relação familiar se torna muito<br />
melhor.<br />
“Já posso me virar sozinho!”<br />
Será?<br />
Com ou s<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as, ter a<br />
família por perto é importante. Ainda<br />
mais quando se t<strong>em</strong> um vírus<br />
que deixa a pessoa mais sensível a<br />
doenças e obrigada a seguir um<br />
tratamento tão complexo quanto o<br />
anti-aids. Vamos admitir: proteção,<br />
às vezes, cai b<strong>em</strong>. E para isso não<br />
t<strong>em</strong> idade. Rosa, 17 anos, de São<br />
Paulo, sente falta do t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que<br />
sua mãe tomava conta dela. "Gosto<br />
de ter liberdade, mas queria que<br />
minha mãe ligasse mais para mim.<br />
Vou ao médico sozinha e vivo esquecendo<br />
dos r<strong>em</strong>édios. Sinto falta dela<br />
ficar <strong>em</strong> cima", diz.<br />
Por outro lado, quando a proteção<br />
é exagerada, ninguém agüenta!<br />
Mas, dê um desconto. No fundo,<br />
seus familiares só quer<strong>em</strong> evitar<br />
que você prejudique sua saúde. O<br />
jeito é você ir mostrando aos poucos<br />
que não é mais aquele ser frágil e<br />
que pode tomar conta sozinho do<br />
seu tratamento. Com Sandra aconteceu<br />
assim. "Quando era mais<br />
nova, minha mãe me controlava<br />
muito e quase não me deixava sair",<br />
diz ela. "Aos poucos ela foi me<br />
liberando e eu agora sou bastante<br />
responsável. Hoje, saio com minhas<br />
amigas à noite, viajo, e não esqueço<br />
de tomar r<strong>em</strong>édios. Mas de vez <strong>em</strong><br />
quando minha mãe ainda liga para<br />
me l<strong>em</strong>brar", conta ela.<br />
Segundo a psicóloga Camila<br />
Perez, é importante que os pais incentiv<strong>em</strong><br />
seus filhos a se tornar<strong>em</strong><br />
independentes. "Alguns adolescentes<br />
soropositivos são exagerada-<br />
mente protegidos pela família, o que<br />
os torna muito imaturos", diz a<br />
psicóloga. "A família precisa deixar<br />
os jovens crescer<strong>em</strong>. Ela deve estar<br />
atenta para perceber que t<strong>em</strong><br />
coisas que eles já pod<strong>em</strong> fazer sozinhos<br />
e ficar de olho nas situações<br />
<strong>em</strong> que eles ainda precisam de<br />
apoio, como a hora de tomar os<br />
r<strong>em</strong>édios". E nunca é d<strong>em</strong>ais l<strong>em</strong>brar:<br />
um pouco de carinho não faz<br />
SV<br />
mal a ninguém.<br />
RECADO PARA A FAMÍLIA<br />
Quando a família lida b<strong>em</strong> com a aids, o adolescente<br />
também encara essa questão com mais tranqüilidade<br />
e cuida melhor do seu tratamento.<br />
O segredo da família sobre o assunto passa para<br />
o adolescente a noção de que a aids é uma doença<br />
que envergonha e essa atitude só serve para aumentar<br />
a desinformação e fortalecer o preconceito.<br />
Não existe um momento ideal para contar à<br />
criança que ela é soropositiva. Responder de<br />
forma simples as perguntas que aparec<strong>em</strong> é a<br />
melhor atitude.<br />
O adolescente precisa ir, aos poucos, ganhando<br />
autonomia para se tornar um adulto responsável.<br />
Apesar de não gostar de d<strong>em</strong>onstrar, o adolescente<br />
ainda precisa de atenção, carinho e ajuda. Com sensibilidade,<br />
é possível distinguir <strong>em</strong> que pontos ele precisa<br />
de apoio e <strong>em</strong> quais ele já pode se virar sozinho.<br />
Quando a família está com probl<strong>em</strong>as para lidar com as<br />
difíceis questões da aids e da adolescência, nada<br />
melhor do que buscar ajuda com o profissional de<br />
saúde de sua confiança.<br />
27
A importância de uma verdadeira<br />
AMIZADE<br />
28<br />
UMA DAS COISAS MAIS IMPOR-<br />
TANTES NA VIDA DE QUALQUER<br />
JOVEM SÃO AS AMIZADES. TER<br />
UM AMIGO OU AMIGA, QUE SEJA<br />
UM VERDADEIRO PARCEIRO, É<br />
MUITO LEGAL. TER COM QUEM<br />
CONTAR NA HORA DAS PAQUE-<br />
RAS, DOS PROBLEMAS E PARA<br />
CURTIR A VIDA. MAS TODO MUN-<br />
DO PENSA QUE A PRINCIPAL RE-<br />
GRA PARA CONSTRUIR UMA BOA<br />
AMIZADE É SER SINCERO.<br />
Quanto mais verdadeira for<br />
a relação, mais forte ela<br />
pode se transformar. Pois<br />
é, mas, quando chega essa hora,<br />
a coisa fica mais complicada. Afinal,<br />
desde pequenos, a maioria<br />
dos jovens infectados pelo HIV<br />
s<strong>em</strong>pre escutou <strong>em</strong> casa que aids<br />
é um assunto proibido, que não se<br />
podia falar sobre isso com qualquer<br />
um. Além disso, rola aquela<br />
dúvida: se eu contar para o meu<br />
amigo será que ele vai me discriminar<br />
por causa do HIV? Imaginar<br />
que aquela pessoa que você tanto<br />
gosta pode virar as costas e deixar<br />
você falando sozinho é uma barra.<br />
Mas, nessas horas, é bom l<strong>em</strong>brar<br />
que qualquer um já se decepcionou<br />
com amigos um dia. Você<br />
pode ter se preparado, mas existe<br />
o risco de dar tudo errado também.<br />
Que tal perceber, antes de<br />
contar, se esse amigo vai conseguir<br />
encarar o assunto numa<br />
boa? Se você sentir que ele ainda<br />
está muito resistente a falar sobre<br />
aids, não conte nada. Mas, também,<br />
não deixe de ser amigo dele.<br />
Amigos, todo mundo quer ter.<br />
Mas não exist<strong>em</strong> regras para<br />
construir uma verdadeira relação<br />
de amizade. Cada pessoa é diferente<br />
uma da outra. E nesse mundo<br />
recheado de gente diferente,<br />
com certeza, você poderá encontrar<br />
amigos b<strong>em</strong> bacanas (e b<strong>em</strong><br />
diferentes, é claro!).<br />
Gisele, 12 anos, resolveu contar<br />
para a "sua melhor amiga" da<br />
escola que estava infectada pelo<br />
HIV. Ela tomou esta atitude para
tornar a amizade mais verdadeira.<br />
Na hora, tudo b<strong>em</strong>, s<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as.<br />
Mas, no dia seguinte, a amiga<br />
resolveu gritar, no meio do pátio,<br />
que Gisele era soropositiva. "Na<br />
hora, eu fiquei arrasada. As pessoas<br />
que estavam por perto<br />
começaram a comentar. Nunca<br />
mais olhei pra cara dela".<br />
A decepção que Gisele sentiu é<br />
muito comum, mas exist<strong>em</strong> histórias<br />
b<strong>em</strong> diferentes. É o caso de Cristina,<br />
16 anos. Ela resolveu abrir o jogo<br />
com uma amiga da escola. Mas,<br />
antes, resolveu tomar algumas<br />
providências. Primeiro, perguntou a<br />
ela como trataria uma amiga infectada<br />
pelo HIV. "Com respeito e carinho",<br />
respondeu a amiga. Depois,<br />
tudo ficou mais fácil. Hoje, Cristina já<br />
conseguiu se abrir com outras três<br />
meninas da escola. "Um dia, eu passei<br />
mal durante a aula. Uma delas<br />
correu na diretora para pedir ajuda.<br />
Um detalhe: nenhuma professora<br />
ou diretora sabe de nada. Eu conto<br />
mesmo é com as minhas ver-<br />
SV<br />
dadeiras amigas".<br />
Uma amizade de verdade<br />
Eduardo e Aluízio são amigos há quase três anos. Se conheceram <strong>em</strong><br />
uma reunião do grupo Pela Vidda Rio e não se desgrudaram mais.<br />
Aluízio, que é soronegativo, t<strong>em</strong> um cuidado todo especial com o<br />
amigo, que t<strong>em</strong> sérios probl<strong>em</strong>as de visão. Sabe a hora exata dos<br />
r<strong>em</strong>édios e dá altas broncas quando Magu (apelido de Eduardo, l<strong>em</strong>brando<br />
o personag<strong>em</strong> de desenho Mister Magoo, que é quase cego)<br />
esquece de tomar alguma dose. Ah, o apelido Magu foi idéia do<br />
Aluízio, tudo com muito astral e bom humor, que é a marca registrada<br />
desta grande amizade.<br />
Cada amigo<br />
de um jeito<br />
Amigos pod<strong>em</strong> ser b<strong>em</strong> diferentes, e ficar rodeado<br />
deles torna a vida muito mais divertida e leve. Cada<br />
amigo t<strong>em</strong> uma função na vida da gente. Confira os<br />
ex<strong>em</strong>plos:<br />
Os amigos da escola:<br />
É aquela turma ideal para trocar umas<br />
idéias no recreio e para fazer trabalho<br />
<strong>em</strong> grupo. Pode até rolar uma saída<br />
nos finais de s<strong>em</strong>ana. Pode acontecer<br />
também de alguma amizade ficar<br />
mais forte, porque todo jov<strong>em</strong> passa<br />
muito t<strong>em</strong>po dentro da escola.<br />
Os amigos vizinhos:<br />
Andar de bicicleta, jogar bola, brincar.<br />
Essas são apenas algumas coisas que<br />
são b<strong>em</strong> legais para se fazer com um<br />
amigo ou uma turma do bairro.<br />
Os amigos adultos:<br />
Qu<strong>em</strong> disse que adulto não pode ser<br />
um grande amigo? Olhe pro lado e<br />
comece a perceber que t<strong>em</strong><br />
gente legal com mais de 25<br />
anos. Ele pode estar no local onde<br />
você faz seu tratamento, na família,<br />
<strong>em</strong> algum grupo. Esse amigo pode<br />
passar experiências de vida b<strong>em</strong><br />
legais.<br />
Os amigos do hospital:<br />
Com essa turma, você pode ajudar<br />
muito e ser muito ajudado. Na hora<br />
do r<strong>em</strong>édio, na hora da dor de barriga,<br />
mas também nas paqueras e na<br />
troca de informações, esse grupo de<br />
amigos pode ser um bom apoio.<br />
S<strong>em</strong> contar que, com eles, não rola<br />
a paranóia de ser rejeitado por<br />
causa do HIV.
30<br />
Uma boa amizade vale a pena<br />
SE VOCÊ RESOLVER CONTAR<br />
sobre o HIV para algum amigo<br />
ou amiga e sentir dificuldade<br />
<strong>em</strong> falar, procure<br />
ajuda. Converse com<br />
algum profissional<br />
do local onde você<br />
faz o tratamento. Eles<br />
pod<strong>em</strong> te dar umas<br />
boas dicas e te preparar para<br />
alguma decepção, caso a outra<br />
pessoa desista da amizade.<br />
A INFORMAÇÃO É TUDO: É<br />
importante que você prepare o<br />
seu amigo (ou amiga) antes de<br />
contar. Muita gente não t<strong>em</strong><br />
informação sobre aids e acaba<br />
Dicas para qu<strong>em</strong> resolveu abrir o<br />
jogo com o amigo<br />
discriminando por desconhecimento.<br />
Não desista de seu<br />
amigo se ele apresentar alguma<br />
resistência de cara. Em alguns<br />
casos, vale a pena passar informações<br />
e mostrar que, através<br />
das relações sociais, não se<br />
transmite o HIV. Uma boa<br />
amizade s<strong>em</strong>pre vale a pena<br />
Se você resolveu abrir o jogo com algum amigo, ou amiga, mas está com medo da reação<br />
dele, se ligue nas dicas que a psicóloga Camila Alves Peres, do Centro de Referência e<br />
Treinamento <strong>em</strong> DST/aids de São Paulo, reservou pra você. Ela é fera no assunto porque<br />
atende jovens há um t<strong>em</strong>pão.<br />
1º Passo<br />
Avalie, friamente, o grau<br />
de amizade que você t<strong>em</strong> com<br />
a pessoa. Por ex<strong>em</strong>plo, já foi na<br />
casa dela? Conhece a família?<br />
Eles gostam de você?<br />
São pessoas bacanas?<br />
Ela já te contou algum<br />
segredo? 2º Passo<br />
Experimente contar<br />
algum segredo s<strong>em</strong> muita<br />
importância para a amiga<br />
(ou amigo) e espere. Veja<br />
se ela ou ele consegue<br />
guardar segredo.<br />
3º Passo<br />
Teste o conhecimento dessa<br />
pessoa sobre aids. Faça umas<br />
perguntas e veja como ela responde.<br />
Siga a dica da Cristina (que está no<br />
início da matéria). Pergunte como ele ou<br />
ela trataria um amigo com HIV ou aids.<br />
Aproveite para passar umas informações<br />
sobre a epid<strong>em</strong>ia. Que tal<br />
passar a revista <strong>Saber</strong> <strong>Viver</strong><br />
Jov<strong>em</strong> para ele ou ela<br />
ler?
Você t<strong>em</strong> que viver<br />
intensamente!!!!<br />
Nome: Roziane Ferreira Gomes Araújo<br />
Idade: 26 anos<br />
Descobriu o HIV quando tinha 18<br />
anos<br />
Mora <strong>em</strong> Boa Vista (Roraima)<br />
O que faz: Participa da Rede de<br />
Pessoas Vivendo com HIV/aids de Roraima<br />
Profissão que escolheu: Assistente<br />
social ou Psicóloga<br />
Onde faz o tratamento: Hospital<br />
Coronel Mota<br />
Roziane segurou uma barra<br />
pesada. Quando tinha 18<br />
anos, descobriu que estava infectada<br />
pelo HIV e achou que<br />
fosse morrer logo. Grávida,<br />
não recebeu orientação dos<br />
profissionais de saúde e passava<br />
noites chorando, desesperada.<br />
Hoje, com 26 anos,<br />
Roziane mudou a sua vida.<br />
Tornou-se uma defensora dos<br />
direitos dos soropositivos que<br />
viv<strong>em</strong> no norte do país. Com<br />
um sorriso meigo e doce, ela<br />
vive feliz ao lado da filha de 7<br />
anos e diz ter certeza que vai<br />
vê-la completar 20 anos.<br />
Quando eu tinha 18 anos, descobri<br />
que estava infectada pelo<br />
vírus HIV. Foi difícil. Senti aquela<br />
sensação de morte, porque<br />
naquela época, quando não existiam<br />
os r<strong>em</strong>édios, qu<strong>em</strong> descobria<br />
que estava com HIV pensava<br />
que iria morrer logo.<br />
Engravidei depois de saber que<br />
era soropositiva. Na época,<br />
fiquei desesperada porque não<br />
sabia se eu podia ter um filho.<br />
Sentia muita falta de informação<br />
no local onde eu me tratava <strong>em</strong><br />
Roraima. Não existia esse acompanhamento<br />
que é oferecido hoje<br />
<strong>em</strong> dia. Eu sentia muito medo do<br />
que poderia acontecer na hora<br />
do parto. Passava dias no quarto,<br />
chorando, sozinha.<br />
Hoje, eu me sinto mais preparada<br />
e mais conformada. Aprendi<br />
muito e ganhei uma filha maravilhosa,<br />
que t<strong>em</strong> 7 anos e é<br />
soronegativa. Estou casada com<br />
o pai dela, que é soropositivo, até<br />
hoje. Faz<strong>em</strong>os parte da Rede Nacional<br />
de Pessoas Vivendo com<br />
HIV/aids de Roraima.<br />
Muita coisa mudou, mas ainda<br />
falta humanização para o atendimento<br />
ao jov<strong>em</strong>. Todo mundo vê<br />
o tratamento contra a aids a partir<br />
do r<strong>em</strong>édio. Os profissionais<br />
de saúde s<strong>em</strong>pre falam: t<strong>em</strong> que<br />
tomar os r<strong>em</strong>édios. Eles são im-<br />
portantes, mas não são tudo.<br />
Eles (os profissionais de saúde)<br />
não perceb<strong>em</strong> que o que mais<br />
incomoda é o preconceito e a discriminação.<br />
Todo jov<strong>em</strong> t<strong>em</strong> que ter uma<br />
pessoa que o ouça, que o acompanhe<br />
e que o oriente. O jov<strong>em</strong><br />
está com todo o gás para curtir<br />
a vida. De repente, se deparar<br />
com uma situação como essa é<br />
barra! É importante ter uma pessoa<br />
que mostre para ele que é<br />
possível viver e superar as dificuldades.<br />
Quando a minha filha nasceu,<br />
eu não queria que ela se apegasse<br />
a mim. Tentei me afastar<br />
dela, mas quanto mais eu me<br />
afastava, mas ela me queria.<br />
Hoje, ela é uma das coisas mais<br />
importantes pra mim. Tenho<br />
certeza que vou vê-la completar<br />
20 anos.<br />
Os jovens que descobriram o<br />
HIV recent<strong>em</strong>ente têm uma<br />
vantag<strong>em</strong> que eu não tive: eles<br />
têm muitos ex<strong>em</strong>plos visíveis. Eu<br />
sou um deles. Passei por muita<br />
coisa e estou aqui.<br />
A galera de hoje deve viver a vida<br />
normalmente, cuidando muito<br />
b<strong>em</strong> da saúde. T<strong>em</strong> que viver,<br />
amar, batalhar pelos seus sonhos<br />
SV<br />
e viver intensamente.<br />
31
Escola<br />
preconceito<br />
s<strong>em</strong><br />
A ESCOLA É UM LOCAL DE APRENDIZADO E DE FAZER AMIGOS, ONDE PASSAMOS<br />
GRANDE PARTE DA NOSSA VIDA. SENDO ASSIM, TODO MUNDO DEVERIA SE SEN-<br />
TIR BEM NA ESCOLA, CERTO? POIS É...SERIA ÓTIMO QUE ISSO FOSSE SEMPRE<br />
VERDADE MAS, INFELIZMENTE, NÃO É.<br />
Muitas crianças e jovens<br />
soropositivos já passaram por<br />
situações constrangedoras na<br />
escola, devido à ignorância e o preconceito<br />
de seus colegas, de seus professores<br />
e diretores.<br />
Qu<strong>em</strong> já sentiu na pele a dor de<br />
ser excluído do convívio com os colegas<br />
ou de ser apontado de forma<br />
agressiva no pátio do colégio sabe<br />
b<strong>em</strong> o que é isso. Parece estranho<br />
e s<strong>em</strong> sentido. Num lugar<br />
que t<strong>em</strong> como meta educar<br />
para o exercício da cidadania,<br />
como pod<strong>em</strong> existir pessoas<br />
tão ignorantes e preconceituosas?<br />
Fora ignorância,<br />
xô preconceito!<br />
As pessoas, de uma forma geral,<br />
sab<strong>em</strong> muito pouco sobre<br />
aids. Desconhec<strong>em</strong> as formas<br />
de transmissão do HIV. Algumas<br />
acham, inclusive, que beber no<br />
mesmo copo ou beijar e abraçar<br />
pode passar aids. Isso é simplesmente<br />
ignorância sobre o assunto. Elas<br />
precisam de informações corretas e<br />
atualizadas para perceber que viver com<br />
HIV/aids não é nenhum bicho de sete<br />
cabeças.<br />
O preconceito t<strong>em</strong> muito a ver com a<br />
falta de informação. As pessoas são preconceituosas<br />
porque pensam que conhec<strong>em</strong><br />
um assunto que na realidade não<br />
conhec<strong>em</strong>. A imag<strong>em</strong> que a aids tinha<br />
no início da epid<strong>em</strong>ia – de que era uma<br />
doença mortal, que só atingia pessoas<br />
com muitos parceiros sexuais (principalmente<br />
os homossexuais) e os que usam<br />
drogas injetáveis – é, ainda hoje, a noção<br />
que a maioria das pessoas t<strong>em</strong> sobre a<br />
doença, apesar de muita coisa ter mudado<br />
nos últimos anos. Hoje, se sabe que<br />
o HIV pode infectar qualquer pessoa que<br />
faça sexo s<strong>em</strong> proteção. E que, se a aids<br />
ainda não t<strong>em</strong> cura, t<strong>em</strong> tratamento, e<br />
uma pessoa soropositiva pode ter uma<br />
vida produtiva e feliz. No entanto, talvez<br />
ainda d<strong>em</strong>ore alguns anos para todo<br />
mundo perceber essas mudanças.<br />
Informação é solução<br />
A melhor forma de combater a ignorância<br />
sobre a aids e o preconceito que
Boa notícia<br />
Minha vida na escola ...<br />
"Há um ano a diretora da minha escola quis colocar um cartaz<br />
no pátio dizendo a todos que eu tinha o HIV. Fui conversar com<br />
ela com um gravador escondido e gravei sua voz dizendo que ia<br />
fazer isso. Minha patroa me ajudou a achar uma advogada e entramos<br />
na justiça. Depois disso, a direção da escola foi toda mudada".<br />
João, 18 anos, Ji-Paraná – RO<br />
"Na escola, meus colegas diziam que não queriam ficar perto de<br />
mim porque eu tinha aids. Eu reclamava com a diretora e ela não<br />
fazia nada. Até que eu a ameacei dizendo que ia denunciar a escola.<br />
Fiquei três meses s<strong>em</strong> ir às aulas e só voltei depois que<br />
ela falou com os alunos e tudo melhorou. Um dia, s<strong>em</strong> ela ver,<br />
uns meninos me chamaram de aidética. Ela me mudou de sala,<br />
mas nada adiantou. Resolvi mudar de escola".<br />
Alice, 16 anos, Belo Horizonte - MG<br />
atinge os que são soropositivos é<br />
O Ministério da Educação v<strong>em</strong> elaboran- divulgar continuamente infordo,<br />
com o apoio do Ministério da Saúde, mações sobre o assunto. Procure<br />
diretrizes a ser<strong>em</strong> seguidas por escolas<br />
seus professores ou a direção da<br />
de todo o país com o objetivo de acabar<br />
com a discriminação aos que viv<strong>em</strong> com escola <strong>em</strong> busca de ajuda. Vocês<br />
HIV/aids. Muitas ações já são feitas nesse pod<strong>em</strong> entrar <strong>em</strong> contato com<br />
sentido, envolvendo secretarias de saú-<br />
organizações não-governamende,<br />
secretarias de educação e organizações<br />
não-governamentais de diversos estais que oferec<strong>em</strong> palestras,<br />
tados e municípios do Brasil.<br />
oficinas e peças de teatro sobre<br />
aids <strong>em</strong> escolas e solicitar<br />
uma visita. Assim vocês estarão contribuindo para o fim da discriminação<br />
às pessoas que viv<strong>em</strong> com HIV/aids (Veja a listag<strong>em</strong><br />
de instituições que oferec<strong>em</strong> este serviço no final da revista).<br />
Se precisar, procure ajuda da Justiça<br />
A Constituição Federal proíbe qualquer forma de discriminação<br />
inclusive dentro da escola. Caso perceba preconceito e incompreensão<br />
por parte dos diretores ou professores, o melhor a fazer<br />
é procurar a Justiça. Você ou seu responsável pod<strong>em</strong> entrar<br />
com uma ação contra a escola. Procure um advogado que atenda<br />
<strong>em</strong> ONGs/aids e explique o seu probl<strong>em</strong>a. Ele certamente<br />
SV<br />
poderá ajudá-lo.<br />
"Na minha escola todos sab<strong>em</strong> que eu tenho o HIV porque eu contei<br />
para um amigo, que contou para outro, que contou para outro<br />
até que todo mundo ficou sabendo. Por causa disso acharam<br />
que eu era drogada e prostituta. A situação ficou insuportável, até<br />
que eu, minha médica e minha psicóloga fomos à escola fazer umas<br />
palestras. Eu contei que contraí aids na barriga da minha mãe,<br />
elas explicaram como a aids pega e como não pega, falamos de<br />
preconceito etc. Mas o boato continuou, com gente falando mal<br />
de mim pelos cantos. Mudei do turno da manhã para o da noite<br />
e as coisas melhoraram um pouco. Até que eu comecei a namorar<br />
um menino da turma. A professora, que sabia, falou para todos<br />
os meninos tomar<strong>em</strong> cuidado comigo, porque eu tinha o HIV e era<br />
falsa. Depois disso, não fui mais à escola. Quero ter uma prova<br />
do que a professora falou para poder entrar com uma ação na<br />
Justiça contra ela por danos morais. Pedi aos meus colegas para<br />
me ajudar<strong>em</strong> como test<strong>em</strong>unhas, mas eles estão com medo".<br />
Rosana, 17 anos, São Paulo - SP<br />
33
34<br />
‘‘Na minha casa<br />
t<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre muita brincadeira"<br />
JOÃO PAULO VIVE COM SEUS 21<br />
IRMÃOS EM UMA LINDA CASA<br />
COM QUINTAL NO RIO DE<br />
JANEIRO. A CASA DE APOIO DA<br />
SOCIEDADE VIVA CAZUZA OFE-<br />
RECE A CRIANÇAS E ADOLES-<br />
CENTES SOROPOSITIVOS E CA-<br />
RENTES A OPORTUNIDADE DE<br />
TER UM LAR CHEIO DE AFETO,<br />
EDUCAÇÃO E MUITA BAGUNÇA.<br />
JOÃO PAULO CONTA NESTA EN-<br />
TREVISTA QUAIS SÃO AS VANTA-<br />
GENS E DESVANTAGENS DE VI-<br />
VER EM UMA FAMÍLIA TÃO<br />
GRANDE.<br />
Nome: João Paulo<br />
Idade: 13 anos<br />
Estudo: Está na 6ª série<br />
Onde mora: Na casa de apoio<br />
da Sociedade Viva Cazuza no<br />
Rio de Janeiro – RJ<br />
Vive com HIV desde que<br />
nasceu<br />
Conte um pouco do seu dia-a-dia<br />
na casa Viva Cazuza.<br />
De manhã vou para a escola e à<br />
tarde faço as lições de casa. Nos finais<br />
de s<strong>em</strong>ana, nós geralmente vamos<br />
a shows, ao cin<strong>em</strong>a, a parques<br />
e museus. Mas não é s<strong>em</strong>pre.<br />
Que tal ter 21 irmãos?<br />
Por um lado é bom. T<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre<br />
muita brincadeira. Eu me dou b<strong>em</strong><br />
com todo mundo, principalmente<br />
com três meninos que considero<br />
meus melhores amigos. As meninas<br />
são meio bagunceiras, e eu<br />
adoro perturbar os menores. De<br />
vez <strong>em</strong> quando sai alguma briga,<br />
mas é normal.<br />
O lado ruim é que, às vezes, qu<strong>em</strong><br />
faz as coisas direito e na hora certa<br />
acaba sendo prejudicado por<br />
qu<strong>em</strong> não faz.<br />
Como assim?<br />
T<strong>em</strong> uma regra de só ligar a televisão<br />
depois que todo mundo<br />
tomar banho. T<strong>em</strong> gente que fica<br />
enrolando e aí ninguém pode ver<br />
televisão.<br />
Você se dá b<strong>em</strong> com os adultos<br />
da casa?<br />
Gosto de todos os funcionários<br />
daqui, principalmente os mais antigos.<br />
Sei que posso contar com<br />
eles para tudo. Quando tenho algum<br />
probl<strong>em</strong>a, peço ajuda e conselhos.<br />
A única coisa ruim é que<br />
eu queria ter mais liberdade.<br />
Do que você sente falta?<br />
Gostaria de poder sair mais para<br />
rua. De jogar futebol ou ir ao cin<strong>em</strong>a<br />
com meus colegas da escola,<br />
por ex<strong>em</strong>plo.<br />
Você já pensou <strong>em</strong> sair daqui?<br />
Às vezes, quando eu me chateio<br />
com alguma coisa. Mas aí eu<br />
paro para pensar e sei que não<br />
quero ir <strong>em</strong>bora. Vivo aqui desde<br />
os cinco anos e já me acostumei.<br />
Eu adoro quando o meu pai v<strong>em</strong><br />
me visitar, mas prefiro ficar aqui.<br />
Quais são seus planos para o futuro?<br />
Quero ser advogado porque acho<br />
que levo jeito. S<strong>em</strong>pre que t<strong>em</strong><br />
uma confusão com os meninos<br />
aqui na casa, sou eu qu<strong>em</strong> defende<br />
o pessoal e dou idéia do que<br />
falar para os funcionários. SV
ECA...<br />
Eu tenho os<br />
meus direitos!!!<br />
POR MAIS QUE ESSE PAPO DE LEI SEJA CHATO, TIPO COISA DE ADULTO, A GENTE SABE, NO FUNDO, QUE<br />
AS LEIS SÃO FUNDAMENTAIS NA VIDA DE TODO MUNDO. JÁ IMAGINOU UM JOGO SEM REGRAS? E UM<br />
TRÂNSITO SEM PLACAS? TUDO SERIA UMA GRANDE CONFUSÃO. SE A GENTE VIVE EM GRUPO, É IMPOR-<br />
TANTE RESPEITAR E SER RESPEITADO.<br />
Existe uma lei que foi criada <strong>em</strong><br />
12 de outubro de 1990 para<br />
proteger a galera com menos<br />
de 18 anos. É o Estatuto da Criança<br />
e do Adolescente, o ECA. É fundamental<br />
que você fique por dentro<br />
do ECA e possa se unir com outros<br />
jovens para que todos esses direitos<br />
POR DENTRO DO ECA<br />
"liberdade, ao respeito<br />
e à dignidade como pessoas<br />
humanas <strong>em</strong><br />
processo de desenvolvimento<br />
e como<br />
sujeitos de direitos<br />
civis, humanos e sociais<br />
garantidos na<br />
Constituição e nas<br />
leis".<br />
"educação, visando ao<br />
pleno desenvolvimento<br />
de sua pessoa, preparo<br />
para o exercício da<br />
não fiqu<strong>em</strong> apenas no papel. O ideal<br />
é que eles façam parte da vida de<br />
todas as pessoas.<br />
A informação é o primeiro passo.<br />
Imagine só: você é discriminado<br />
por alguém que não conhece as<br />
leis. Mas como você também não<br />
as conhece, acaba engolindo sapo.<br />
Toda a criança e adolescente t<strong>em</strong> direito a:<br />
cidadania e qualificação<br />
para o trabalho,<br />
assegurando-lhes: I -<br />
igualdade de condições<br />
para o acesso e permanência<br />
na escola; II<br />
- direito de ser<br />
respeitado por seus<br />
educadores; III - direito<br />
de contestar<br />
critérios avaliativos,<br />
podendo recorrer às<br />
instâncias escolares<br />
superiores; VI - direito<br />
de organização e<br />
participação <strong>em</strong> entidades<br />
estudantis; V -<br />
acesso à escola pública<br />
e gratuita próxima de<br />
sua residência".<br />
E t<strong>em</strong> mais<br />
"É dever da família, da<br />
comunidade, da<br />
sociedade <strong>em</strong> geral e do<br />
poder público assegurar,<br />
com absoluta prioridade,<br />
a efetivação dos<br />
direitos referentes à<br />
vida, à saúde, à alimen-<br />
Quando você sabe dos seus direitos<br />
e deveres, as coisas começam a<br />
mudar de figura.<br />
Você pode (e deve) ajudar na<br />
construção de uma sociedade mais<br />
justa, com direitos, deveres e obrigações<br />
para todos (inclusive para os<br />
SV<br />
jovens).<br />
tação, à educação, ao<br />
esporte, ao lazer, à<br />
profissionalização, à<br />
cultura, à dignidade, ao<br />
respeito, à liberdade e à<br />
convivência familiar e<br />
comunitária".<br />
"É assegurado atendimento<br />
médico à criança<br />
e ao adolescente,<br />
através do Sist<strong>em</strong>a<br />
Único de Saúde, garantindo<br />
o acesso universal<br />
e igualitário às<br />
35
36<br />
Você precisa saber<br />
A ADVOGADA INGRID CARVALHO, DO GRUPO PELA VIDDA DO RIO DE<br />
JANEIRO, RESPONDE PRA VOCÊ ALGUMAS DÚVIDAS RELACIONADAS<br />
AOS DIREITOS DOS JOVENS SOROPOSITIVOS.<br />
Quando eu tenho uma<br />
relação com uma pessoa<br />
soronegativa, sou<br />
obrigado a contar sobre<br />
o HIV?<br />
Você não é obrigado a contar<br />
para ninguém que é<br />
soropositivo. Mas t<strong>em</strong> que<br />
usar o preservativo e<br />
tomar todos os cuidados<br />
para não expor o seu parceiro<br />
ou parceira à infecção<br />
pelo HIV. Se você<br />
sabe que t<strong>em</strong> o vírus e que<br />
ele é transmitido através<br />
do sexo s<strong>em</strong> proteção e,<br />
mesmo assim, não usa o<br />
preservativo, pode estar<br />
cometendo um crime e<br />
ser punido por isso.<br />
Algum profissional de<br />
saúde pode revelar para<br />
outra pessoa que eu<br />
tenho aids?<br />
Não. Ele t<strong>em</strong> o dever de<br />
manter <strong>em</strong> segredo as<br />
informações que recebe<br />
de seus pacientes. Mas<br />
existe uma exceção:<br />
quando o paciente está<br />
pondo <strong>em</strong> risco a vida de<br />
outra pessoa e, mesmo<br />
assim, se recusa a contar<br />
que é soropositivo.<br />
Por ex<strong>em</strong>plo, transar<br />
s<strong>em</strong> camisinha. Mas o<br />
médico só poderá fazer<br />
isso, após ter alertado o<br />
seu paciente, por diversas<br />
vezes, sobre os<br />
riscos que seu parceiro<br />
(a) está correndo fazendo<br />
sexo s<strong>em</strong> proteção.<br />
O médico não pode<br />
procurar o parceiro (a)<br />
s<strong>em</strong> antes comunicar ao<br />
seu paciente.<br />
Na escola, a diretora<br />
pode me expulsar porque<br />
eu tenho HIV?<br />
Não. A Constituição Federal<br />
é clara: o ensino t<strong>em</strong><br />
que ser dado com igualdade<br />
de condições para<br />
acesso e permanência na<br />
escola, além de proibir<br />
qualquer forma de preconceito<br />
e discriminação.<br />
Também é proibido exigir<br />
que qualquer criança ou<br />
jov<strong>em</strong> faça algum teste<br />
anti-aids antes de ser<br />
matriculado.<br />
Eu posso ser d<strong>em</strong>itido<br />
por ser portador do HIV?<br />
Não. Isso é discriminação.<br />
Você poderá ser d<strong>em</strong>itido<br />
por outras razões, mas<br />
nunca por causa do HIV.<br />
Se isso acontecer, procure<br />
um advogado e entre<br />
com uma ação judicial.<br />
Você poderá receber uma<br />
indenização por danos<br />
morais ou ser readmitido<br />
no trabalho. É bom l<strong>em</strong>brar<br />
que pessoas com<br />
HIV não têm estabilidade<br />
no trabalho.<br />
Quando eu for procurar<br />
um <strong>em</strong>prego, o lugar<br />
pode pedir exame de<br />
HIV?<br />
Teste anti-HIV só é obrigado<br />
<strong>em</strong> casos de doação<br />
de sangue, órgãos e esperma.<br />
Se eu estiver trabalhando,<br />
eu sou obrigado a<br />
contar pro meu patrão<br />
sobre o HIV?<br />
Não. Você t<strong>em</strong> direito à privacidade<br />
e não está fazendo<br />
nada de errado. Se você<br />
ficar doente, t<strong>em</strong> direito ao<br />
auxílio-doença e, mesmo<br />
nesses casos, não precisa<br />
contar para o chefe sobre<br />
o HIV. O médico que o encaminhar<br />
para o auxílio-<br />
doença t<strong>em</strong> obrigação de<br />
manter segredo absoluto,<br />
inclusive para a <strong>em</strong>presa<br />
que você trabalha.<br />
Existe alguma profissão<br />
que eu não possa escolher<br />
porque eu sou<br />
soropositivo?<br />
Nunca pod<strong>em</strong>os esquecer<br />
que o convívio social<br />
não transmite HIV. Logo,<br />
qualquer pessoa com o<br />
vírus pode escolher qualquer<br />
tipo de trabalho<br />
que desejar. Porém, é<br />
necessário ter bom-senso.<br />
Cuidado com algumas<br />
profissões que pod<strong>em</strong><br />
prejudicar a sua<br />
saúde ou a saúde de outra<br />
pessoa. Por ex<strong>em</strong>plo,<br />
na área da saúde,<br />
recomenda-se que o<br />
profissional soropositivo<br />
não faça nenhuma atividade<br />
que traga riscos<br />
de transferência de seu<br />
sangue para outros, como<br />
por ex<strong>em</strong>plo, alguns<br />
tipos de cirurgia que envolv<strong>em</strong><br />
manipulação cega<br />
de instrumentos cortantes<br />
nas cavidades do<br />
SV<br />
paciente.
‘‘Não fico o t<strong>em</strong>po<br />
JOÃO ENCARA A AIDS NUMA<br />
BOA. INFECTADO PELO HIV<br />
ATRAVÉS DE UMA TRANS-<br />
FUSÃO DE SANGUE QUANDO<br />
TINHA 7 ANOS, SÓ DESCOBRIU<br />
QUE ERA SOROPOSITIVO AOS<br />
12. A PARTIR DAÍ PASSOU A<br />
QUERER SABER TUDO SOBRE<br />
O HIV. BEM INFORMADO, ELE<br />
EVITA TRANSMITIR O VÍRUS<br />
PARA SUAS NAMORADAS,<br />
CONVERSA SOBRE O ASSUN-<br />
TO COM SEUS AMIGOS E NEM<br />
SE ABALA COM O PRECON-<br />
CEITO.<br />
Nome: João<br />
Idade: 18 anos<br />
Onde mora: Ji-Paraná,<br />
Rondônia<br />
Estudo: Está no 2º<br />
ano do nível médio<br />
Trabalho: Artista<br />
gráfico<br />
Vive com HIV há 11<br />
anos<br />
todo pensando <strong>em</strong> aids"<br />
Como você leva sua vida sendo um<br />
jov<strong>em</strong> vivendo com HIV/aids?<br />
Eu encaro a aids de forma tranqüila,<br />
como se fosse mais uma barreira.<br />
Todo mundo t<strong>em</strong> barreiras na vida. Eu<br />
levo uma vida praticamente normal.<br />
Como você encara o preconceito?<br />
Não sinto preconceito. A <strong>em</strong>presa<br />
na qual trabalho sabe que tenho o<br />
HIV e eu me dou super b<strong>em</strong> com as<br />
pessoas. Na escola tive probl<strong>em</strong>as<br />
com a diretora, mas eu a processei<br />
alegando preconceito e a direção foi<br />
mudada. Agora todo mundo na escola<br />
me respeita. Converso com meus<br />
amigos sobre aids numa boa e não<br />
me sinto excluído. Meu pai gosta de<br />
arrumar confusão quando alguém<br />
preconceituoso tenta me ofender.<br />
Mas eu acho que no fundo o que<br />
essa pessoa t<strong>em</strong> é falta de informação<br />
sobre a aids.<br />
E na hora de arrumar namorada é<br />
fácil?<br />
Agora eu estou namorando firme e<br />
minha namorada é virg<strong>em</strong>. Mas<br />
antes tinha muita menina dando <strong>em</strong><br />
cima de mim. Para algumas<br />
namoradas, eu contei que era<br />
soropositivo; para outras, não. S<strong>em</strong><br />
probl<strong>em</strong>as. Eu s<strong>em</strong>pre transei com<br />
camisinha. Não quero infectar<br />
ninguém.<br />
Você se cuida?<br />
Procuro tomar os r<strong>em</strong>édios direito,<br />
vou ao hospital quando é<br />
necessário. Me sinto privilegiado<br />
por estar b<strong>em</strong>, ter meus pais, ter<br />
minha casa. Mas vivo cansado e<br />
durmo pouco. Meu trabalho exige<br />
d<strong>em</strong>ais de mim e a escola também.<br />
Tenho medo de ter probl<strong>em</strong>as de<br />
saúde no futuro.<br />
Quais são seus planos para o futuro?<br />
Quero me formar, ser engenheiro<br />
e me casar. Isso está praticamente<br />
certo que vou conseguir. É só eu<br />
continuar lutando como estou.<br />
Quero também ter filhos.<br />
Você é bastante seguro <strong>em</strong> relação<br />
à aids. A que você atribui<br />
isso?<br />
Quando soube que era soropositivo<br />
senti necessidade de saber tudo<br />
sobre o que eu tinha. Li muito sobre<br />
o assunto. Hoje, se alguém chegar<br />
com um preconceito bobo de que<br />
beijo na boca transmite aids, tenho<br />
a possibilidade de provar que não,<br />
devido à informação que tenho. Informação<br />
é s<strong>em</strong>pre bom.<br />
Por outro lado, não fico o t<strong>em</strong>po<br />
todo pensando <strong>em</strong> aids. Tenho<br />
outras coisas para me ocupar<br />
SV<br />
também.<br />
37
38<br />
Área Útil<br />
Livros<br />
legais<br />
Depois daquela<br />
viag<strong>em</strong><br />
Valéria Polizzi<br />
Editora Ática<br />
Enquanto estamos crescendo<br />
Valéria Polizzi<br />
Editora Ática<br />
Ops! Aprendendo a viver, com aids<br />
Bernardo Dania<br />
Editora Autêntica<br />
Rock in Positivo. Um adolescente<br />
que decidiu viver com aids<br />
Cazu Barroz<br />
Editora JWM (à venda pelo e-mail<br />
cazu_barroz@yahoo.com.br)<br />
Pela internet<br />
ADOLESITE<br />
Site específico para adolescentes do<br />
Programa Nacional de Aids.<br />
Ministério da Saúde<br />
www.adolesite.aids.gov.br<br />
Ryan White<br />
Site de um menino americano que foi<br />
criticado, proibido de freqüentar a escola,<br />
discriminado e banido de sua<br />
cidade.Ao mesmo t<strong>em</strong>po, chamou a<br />
atenção do mundo <strong>em</strong> uma época <strong>em</strong><br />
que o preconceito era a única maneira<br />
pela qual se lidava com a aids.<br />
http://ryanwhite.cjb.net/<br />
ESTAÇÃO DA CRIANÇA<br />
Espaço recreativo onde as crianças<br />
pod<strong>em</strong> brincar, explorar e experimentar,<br />
estimulando sua capacidade de<br />
concentração e atenção e desenvolvendo<br />
a inteligência e criatividade.<br />
www.estacaodacrianca.com.br<br />
RECANTO MUNDO JOVEM<br />
Programa de atendimento de jovens<br />
dependentes de drogas e álcool, <strong>em</strong><br />
regime de internação social.<br />
www.mundojov<strong>em</strong>.org.br<br />
Alguns grupos<br />
de adolescentes<br />
<strong>em</strong> ONGs<br />
RIO DE JANEIRO<br />
Grupo Pela Vidda<br />
Projeto Encontro Marcado.<br />
Reuniões com jovens soropositivos<br />
e soronegativos<br />
Toda 5ª feira, às 18 horas<br />
Tel: (21) 2518-3993<br />
Av. Rio Branco, 135/709 – Centro<br />
Rio de Janeiro-RJ Cep: 20040-006<br />
BAHIA<br />
Gapa/Bahia<br />
Projeto Brinquetoca<br />
Lugar destinado para brincar. Atende<br />
crianças de 03 a 12 anos HIV+, ou<br />
filhos de portadores do vírus hiv/aids<br />
Funciona de 2ª a 6ª das 08h30 às<br />
12h30 e das 14h às 18h. Para participar<br />
é necessário ligar com antecedência.Tel:<br />
(71) 328-7270<br />
Rua Comendador Gomes Costa,<br />
39 – Barris - Salvador-BA<br />
Cep: 40070-120<br />
São Paulo<br />
GIV – Grupo de Incentivo à Vida<br />
Projeto <strong>Viver</strong> Criança e Adolescente<br />
Espaço de reflexão e informação<br />
através de jogos, brincadeiras,<br />
passeios, etc.<br />
Encontros aos sábados, às 14 horas.<br />
Ligar para saber as datas.<br />
Tel: (11) 5084-0255<br />
Rua Capitão Cavalcanti, 145 – Vila<br />
Mariana - São Paulo-SP<br />
Cep: 04017-000<br />
Telefones<br />
úteis<br />
Disque adolescentes<br />
Tel: (11) 3819 2022<br />
das 11 às 14 horas<br />
São Paulo – SP.<br />
Ministério da Saúde<br />
0800-611997 – Ligação gratuita<br />
Todo o Brasil<br />
Tele Aids – Centro Corsini<br />
0800 111213 – Ligação gratuita<br />
De 2ª a 6ª feiras das 8h às 18h.<br />
Todo o Brasil.<br />
Ongs que promov<strong>em</strong> palestras,<br />
dinâmicas e oficinas sobre<br />
HIV/Aids <strong>em</strong> Escolas<br />
BAHIA<br />
Federação de Bandeirantes do<br />
Brasil<br />
Tel: (71) 247-6906<br />
Rua Recife, 142 - Jardim Brasil<br />
Barra Avenida<br />
Salvador-BA<br />
Cep: 40.140-360<br />
CEARÁ<br />
Gapa-CE<br />
Tel: (85) 253-4159<br />
Rua Castro e Silva, 121/sala 305<br />
Fortaleza-CE<br />
Cep: 60.030-010<br />
DISTRITO FEDERAL<br />
Gapa-DF<br />
Tel: (61) 326-7000<br />
SCLN 404, bloco b, loja 50<br />
Asa Norte - Brasília-DF<br />
Cep: 70.845-520<br />
PARÁ<br />
Federação de Bandeirantes do<br />
Brasil<br />
Tel: (91) 229-4790<br />
Av. Senador L<strong>em</strong>os, 421<br />
Umarizal - Belém-PA<br />
Cep: 66.050-000<br />
PERNAMBUCO<br />
Federação de Bandeirantes do<br />
Brasil<br />
Tel: (81) 3241-8989<br />
Av. Rosa e Silva, 670/603<br />
Aflitos - Recife-PE<br />
Cep: 52.020-220<br />
SÃO PAULO<br />
Associação de Apoio à Criança<br />
HIV Positivo<br />
Projeto Reviver<br />
Tel: (11) 6692-1112<br />
Rua Toledo Barbosa, 964.<br />
Belenzinho – São Paulo – SP<br />
Cep: 03.061-000<br />
APTA - Associação para<br />
Prevenção e Tratamento da<br />
Aids<br />
Tel: (11) 3266-3345<br />
Alameda Ribeirão Preto, 28<br />
Conjunto 21 R – São Paulo-SP<br />
Cep: 01.331-001<br />
RIO DE JANEIRO<br />
Grupo Pela Vidda Rio<br />
Tel.: (21) 2518-3993<br />
Av. Rio Branco, 135/sala 709<br />
Centro - Rio de Janeiro - RJ<br />
Cep: 20.040-006<br />
RIO GRANDE DO SUL<br />
RNP+ núcleo Porto Alegre<br />
Tel: (51) 3227-3777<br />
Rua Lopo Gonçalves, 626<br />
Cidade Baixa - Porto Alegre – RS<br />
Cep: 90.050-350<br />
RORAIMA<br />
RNP- núcleo Boa Vista<br />
Tel: (95) 626-8155<br />
Rua Manoel Felipe, 309<br />
Buritis - Boa Vista – RR<br />
Cep: 69.309-070<br />
SANTA CATARINA<br />
Germinar – Centro de<br />
Desenvolvimento Humano<br />
Tel: (47) 349-3415<br />
Rua Felipe Schmitt, 174/sobreloja<br />
Centro – Itajaí-SC<br />
Cep: 88.301-010