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relatório crítico do projecto de vida ao projecto de cuidados para ...

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Instituto Superior <strong>de</strong> Psicologia Aplicada<br />

DO PROJECTO DE VIDA AO PROJECTO DE CUIDADOS<br />

PARA LARES RESIDENCIAIS:<br />

A DIMENSÃO PSICOLOGICA DO RELACIONAMENTO<br />

Autor<br />

Rui Manuel <strong>de</strong> Matos Neves<br />

Nº <strong>de</strong> aluno<br />

5703<br />

Relatório submeti<strong>do</strong> como requisito parcial <strong>para</strong> obtenção <strong>do</strong> grau <strong>de</strong><br />

Mestre em Psicologia<br />

Especialida<strong>de</strong> em Psicologia Clínica<br />

2009<br />

1


RESUMO<br />

Palavras-chave: Lares, Resi<strong>de</strong>nciais, I<strong>do</strong>sos, Relação, Prestação <strong>de</strong> Cuida<strong>do</strong>s, Projecto <strong>de</strong><br />

<strong>vida</strong>, grupo, famílias.<br />

Procurámos com este trabalho, Do Projecto <strong>de</strong> Vida <strong>ao</strong> Projecto <strong>de</strong> Prestação <strong>de</strong> Cuida<strong>do</strong>s<br />

<strong>para</strong> Lares Resi<strong>de</strong>nciais – A Dimensão Psicológica da Relação, salientar que <strong>ao</strong> la<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

<strong>projecto</strong>s <strong>de</strong> gestão mo<strong>de</strong>rna, <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong> hotelaria, <strong>de</strong> medicina, <strong>de</strong>va estar um<br />

<strong>projecto</strong> cujo mo<strong>de</strong>lo esteja assente e fundamenta<strong>do</strong> nas características e nuances da<br />

qualida<strong>de</strong> das relações que se estabelecem entre os diferentes intervenientes, utentes,<br />

presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, famílias como forma <strong>de</strong> prevenção, intervenção e tratamento <strong>do</strong><br />

nosso objecto que é o resi<strong>de</strong>nte.<br />

Neste senti<strong>do</strong> procuramos ir à raiz da lei e respon<strong>de</strong>r num primeiro capítulo à questão: O<br />

que é um Lar <strong>de</strong> I<strong>do</strong>sos, que tipo <strong>de</strong> população recebe, trabalha e convive no Lar? Para num<br />

segun<strong>do</strong> capitulo re-situar e contextualizar a questão on<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser abordada, ou seja, nas<br />

razões psicológicas: O self <strong>ao</strong> longo da <strong>vida</strong>, as crises <strong>do</strong> Eu e a procura <strong>de</strong> internamento.<br />

Concluímos pela experiências das histórias seja na causa ou consequência da crise que na<br />

base <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> está: está a “incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar só”, “ a ausência <strong>de</strong> relação a<strong>de</strong>quada”,<br />

“o luto e a <strong>de</strong>pressão”, “as angústias e as somatizações”, “a solidão”, “a perda <strong>de</strong> confiança<br />

e auto-estima”, “a alteração pensamento”.<br />

E com base na articulação <strong>de</strong>ste sintomas com a sua compreensão teórica <strong>de</strong> conceitos<br />

simples como maternagem, transferência, contratransferência, tipos <strong>de</strong> angustia, etc.<br />

Construímos um <strong>projecto</strong> <strong>para</strong> a prevenção, intervenção e tratamento através da “ relação” e<br />

que serão <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s com exemplos durante o nosso III capítulo, a construção <strong>do</strong> nosso<br />

<strong>projecto</strong> <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>para</strong> lares resi<strong>de</strong>nciais que é constituí<strong>do</strong> por quatro<br />

sub<strong>projecto</strong>s: 1) Um <strong>projecto</strong> individual; 2) Um <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> Grupo; 3) Um <strong>projecto</strong> <strong>para</strong> a<br />

equipa <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s; 4) Um <strong>projecto</strong> <strong>para</strong> as famílias.<br />

Por fim num IV Capitulo – apresentamos 2 casos práticos <strong>de</strong> duas senhoras que entram<br />

<strong>para</strong> o lar pela mesma razão recuperação a uma fractura <strong>ao</strong> colo-<strong>do</strong>-fémur em que as<br />

características pessoais e familiares acabam ter uma influência prepon<strong>de</strong>rante no sucesso<br />

ou insucesso da recuperação.<br />

INDICE<br />

2


INTRODUÇÃO………………………………………………………………………………1<br />

1-O que é um Lar <strong>de</strong> I<strong>do</strong>sos que tipo <strong>de</strong> População Recebe, trabalha e Convive no<br />

Lar?...........................................................................................................................5<br />

2- O Self <strong>ao</strong> longo da <strong>vida</strong>, Crises <strong>do</strong> Eu e a procura <strong>de</strong> Internamento…………..11<br />

3- Do Projecto <strong>de</strong> <strong>vida</strong> <strong>ao</strong> Projecto <strong>de</strong> Prestação <strong>de</strong> Cuida<strong>do</strong>s <strong>para</strong> Lares Resi<strong>de</strong>nciais<br />

“A Dimensão Psicológica da Relação”………………………………16<br />

3.1 - A operacionalização <strong>do</strong> <strong>projecto</strong> com as questões éticas e a constituição<br />

<strong>de</strong> 4 sub<strong>projecto</strong>s que constituem o <strong>projecto</strong> geral…………16<br />

3.2 - Construção <strong>de</strong> um <strong>projecto</strong> individual……………………………………18<br />

3.3- Construção <strong>de</strong> um <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> grupo…………………………………….22<br />

3.4 – Construção <strong>de</strong> um <strong>projecto</strong> <strong>para</strong> a equipa <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong><br />

cuida<strong>do</strong>s……………………………………………………………………………24<br />

3.5 – Construção <strong>de</strong> um <strong>projecto</strong> <strong>para</strong> as famílias …………………………. 27<br />

4. Casos práticos………………………………………………………………………….29<br />

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………………….36<br />

Listas <strong>de</strong> Tabelas<br />

Tabela 1. As Razões <strong>do</strong> Internamento………………………………………………. …18<br />

Tabela 2. O significa<strong>do</strong> da filosofia da humanitu<strong>de</strong>, no contexto <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

enfermagem à pessoa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e vulnerável………………………………………24<br />

Lista <strong>de</strong> Anexos<br />

Anexo 1 - Direitos, Princípios e Valores <strong>do</strong> Cuidar<br />

Anexo2- As orientações da Declaração <strong>de</strong> Singapura que os Lares <strong>de</strong>vem alvejar:<br />

Anexos 3 - Diagnósticos Diferenciais <strong>para</strong> a <strong>de</strong>pressão, Demência, agitação e Delírio.<br />

Anexo 4 – Trabalho <strong>de</strong> Reminiscências postas em quadra <strong>para</strong> festa <strong>de</strong> Natal<br />

3


INTRODUÇÃO<br />

Após oito anos <strong>de</strong> trabalho a tempo inteiro como Director Técnico num Lar <strong>de</strong> I<strong>do</strong>sos podia<br />

resumir o meu trabalho na sua essência como um árduo esforço e através <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

meios possíveis dar <strong>vida</strong> às pessoas, ou dito <strong>de</strong> outra forma, usar <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os meios <strong>para</strong><br />

que as pessoas em esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> se “agarrem à <strong>vida</strong>”, continuem vivos e<br />

encontrem motivos <strong>para</strong> continuarem a viver e aqueles que estão em esta<strong>do</strong> terminal<br />

permaneçam vivos e com a sua integrida<strong>de</strong> cutânea intacta.<br />

Por isso <strong>de</strong> alguma maneira e <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à configuração <strong>do</strong> contexto e os recursos humanos<br />

disponíveis po<strong>de</strong>ria ser um misto <strong>de</strong> psicólogo, enfermeiro, terapeuta ocupacional, <strong>de</strong><br />

reabilitação, socorrista e ainda nos tempos livres administrativo e relações públicas e muitas<br />

vezes durante o sono acorda<strong>do</strong> <strong>para</strong> intervir numa situação <strong>de</strong> crise ou agudização <strong>de</strong><br />

esta<strong>do</strong> e em ultima instância acompanhar a ambulância <strong>ao</strong> hospital, andar lá pelas<br />

urgências e perceber se o utente fica interna<strong>do</strong> e a pensar como gerir da melhor maneira a<br />

reacção da família.<br />

Para além disso, ainda estou envolvi<strong>do</strong> no processo <strong>de</strong> legalização <strong>para</strong> obtenção <strong>de</strong> Alvará<br />

<strong>do</strong> Lar on<strong>de</strong> me encontro a trabalhar que não foi feito <strong>de</strong> raiz e por isso vai-se adaptan<strong>do</strong><br />

infinitamente <strong>ao</strong>s “diferentes fiscaliza<strong>do</strong>res” das diferentes entida<strong>de</strong>s fiscaliza<strong>do</strong>ras:<br />

Bombeiros, Segurança Social e Câmara Municipal. Pelo que tenho <strong>de</strong> conhecer a maioria<br />

das leis e exigências que regulamentam os Lares.<br />

Mas há uma questão que nunca percebi, e que é: o que exigem mesmo verda<strong>de</strong>iramente<br />

<strong>do</strong>s Lares? Ou o que é um Lar? É a partir <strong>de</strong>sta questão e da resposta contida na raiz rígida<br />

da lei que começamos a abordar este trabalho, no 1º capítulo - O que é um Lar <strong>de</strong> I<strong>do</strong>sos<br />

que tipo <strong>de</strong> população Recebe, trabalha e Convive no Lar.<br />

Investigámos que aliada à Lei surgem manuais recentes publica<strong>do</strong>s pelas entida<strong>de</strong>s<br />

regula<strong>do</strong>ras, on<strong>de</strong> a palavra Lar ten<strong>de</strong> hoje em dia a <strong>de</strong>saparecer e a surgir a <strong>de</strong>nominação<br />

<strong>de</strong> estruturas resi<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong> acolhimento abrin<strong>do</strong> espaço à criação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong><br />

organização e gestão mo<strong>de</strong>rnos constituí<strong>do</strong>s por um <strong>projecto</strong>: <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong> hotelaria,<br />

<strong>de</strong> animação, médico e <strong>para</strong>médico.<br />

É na perspectiva daquilo que a lei fundamenta e não está lá e neste apelo à mo<strong>de</strong>rnização<br />

<strong>do</strong>s espaços on<strong>de</strong> o <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> <strong>de</strong>ve ser parte <strong>do</strong> cumprimento <strong>de</strong> valores éticos e<br />

direitos humanos que procuramos operacionalizar este trabalho, ou seja, dar uma<br />

4


configuração aquilo que não é legislável mas que possivelmente terá o efeito mais<br />

importante <strong>para</strong> to<strong>do</strong>s os intervenientes neste contexto.<br />

Reflectir sobre a importância da relação e <strong>do</strong>s relacionamentos e seus aspectos<br />

terapêuticos que são estabeleci<strong>do</strong>s entre presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, utentes, familiares e as<br />

dinâmicas <strong>de</strong> grupo que se po<strong>de</strong>m estabelecer visan<strong>do</strong> sempre a prevenção, manutenção<br />

ou tratamento <strong>do</strong> utente e o bem-estar <strong>do</strong>s funcionários e familiares. Assim nasce esta i<strong>de</strong>ia<br />

e reflexão que intitulámos:<br />

Do Projecto <strong>de</strong> Vida <strong>ao</strong> Projecto <strong>de</strong> Prestação <strong>de</strong> Cuida<strong>do</strong>s <strong>para</strong> Lares Resi<strong>de</strong>nciais – A<br />

Dimensão Psicológica da Relação.<br />

Este trabalho é sobre importância da dimensão psicológica da relação na construção <strong>do</strong>s<br />

diferentes <strong>projecto</strong>s individuais como resposta às diferentes solicitações <strong>ao</strong> mesmo tempo<br />

que se operacionaliza os princípios éticos como o respeito pela autonomia <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente,<br />

beneficência, não prejudicar e justiça.<br />

Esta forma <strong>de</strong> Abordar o assunto coloca a relação como o aspecto terapêutico mais<br />

invariante a to<strong>do</strong>s os intervenientes pois a população <strong>de</strong> utentes é muito diversificada:<br />

Doentes neurológicos (vitimas e com sequelas <strong>de</strong> AVC, Parkinson, to<strong>do</strong>s o tipo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mências); Doenças Psiquiátricas, Metabólicas, Oncológicas, Traumáticas ou simples<br />

Solidão;<br />

Num segun<strong>do</strong> capítulo procurámos abordar o que leva as pessoas a procurarem um Lar,<br />

como chegam até lá e <strong>ao</strong> reflectirmos sobre esta questão <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> inferimos que na origem<br />

e na consequência da maioria <strong>de</strong> todas as questões, estão questões <strong>do</strong> foro psicológico,<br />

seja a família a procurar o Lar, sejam os hospitais, seja por iniciativa <strong>do</strong> próprio.<br />

Na base <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> está a “incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar só”, “ a ausência <strong>de</strong> relação a<strong>de</strong>quada”, “o<br />

luto e a <strong>de</strong>pressão”, “as angústias e as somatizações”, “a solidão”, “a perda <strong>de</strong> confiança e<br />

auto-estima”, “a alteração pensamento”.<br />

Tentámos Abordar então neste 2º capítulo – O Self <strong>ao</strong> longo da <strong>vida</strong>, as Crises <strong>do</strong> Eu e a<br />

Procura <strong>de</strong> Internamento. O Self vai-se construin<strong>do</strong> e actualizan<strong>do</strong> por <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s<br />

no tempo por momentos <strong>de</strong> crise que mobilizam o Eu a um trabalho <strong>de</strong> crescimento e<br />

reconstrução <strong>do</strong> próprio self nas suas vinculações com o espaço (o corpo) com o tempo (as<br />

se<strong>para</strong>ções) e com o socieda<strong>de</strong> (<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> papeis).<br />

Pensamos que no individuo que está em crise, perante o envelhecimento e que entra num<br />

Lar os principais <strong>de</strong>safios será a reconstrução e actualização <strong>de</strong> certos aspectos <strong>do</strong> Self,<br />

das Relações <strong>de</strong> Dependência com Objecto Cuida<strong>do</strong>res, <strong>de</strong> certos objectos internos<br />

5


“capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer lutos e se<strong>para</strong>ções” e a uma nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> com novos papeis<br />

sociais, ou então, po<strong>de</strong>r “morrer em paz”.<br />

No entanto e <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>r, este <strong>de</strong>verá estar sempre atento <strong>ao</strong> equilíbrio<br />

somatopsiquico/psicossomático <strong>do</strong> sujeito que a qualquer instante se po<strong>de</strong> manifestar por<br />

<strong>de</strong>sequilíbrios comportamentais, somáticos e psíquicos. E adquirir perícias <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>stes<br />

sintomas e perícias <strong>de</strong> relação <strong>para</strong> po<strong>de</strong>r agir <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada a cada uma das<br />

situações.<br />

Estas perícias passam pela compreensão <strong>do</strong>s movimentos transferenciais e<br />

contratransferenciais, i<strong>de</strong>ntificação das angústias e sinais <strong>de</strong> alarme, a função <strong>de</strong><br />

maternagem, a noção <strong>de</strong> investimento, subinvestimento ou sobreinvestimento enconómicos<br />

das relações afectivas, e a noção <strong>de</strong> fantasia inconsciente.<br />

E com base na articulação <strong>do</strong>s conceitos referi<strong>do</strong>s que dizem respeito “à relação” e que<br />

serão <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s com exemplos que durante o nosso 3ª capitulo, a construção <strong>do</strong><br />

nosso <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>para</strong> lares resi<strong>de</strong>nciais que é constituí<strong>do</strong><br />

por quatro sub<strong>projecto</strong>s: 1) Um <strong>projecto</strong> individual; 2) Um <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> Grupo; 3) Um<br />

<strong>projecto</strong> <strong>para</strong> a equipa <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s; 4) Um <strong>projecto</strong> <strong>para</strong> as famílias.<br />

1) Perceber as razões <strong>do</strong> internamento, avaliar a história <strong>do</strong> Self e o equilíbrio<br />

somatopsiquico/psicossomático <strong>do</strong> sujeito em acção, elaborar um <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> /<br />

terapêutico pessoal com intervenções psicológicas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as suas<br />

potencialida<strong>de</strong>s e limites;<br />

2) Fazen<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> <strong>projecto</strong> individual o <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> grupo procura que o individuo<br />

possa ter um papel social <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> lar numa perspectiva socioterapeutica ou apenas<br />

<strong>de</strong> participação <strong>de</strong> acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> grupos com carácter <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,<br />

terapêutico, ocupacional e lúdico;<br />

3) Fazen<strong>do</strong> parte <strong>do</strong> <strong>projecto</strong> individual os presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s terão um papel<br />

importante na participação e execução <strong>de</strong>sse <strong>projecto</strong>, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r a importância da relação <strong>do</strong> cuidar, seja a dar banho, a vestir, a tocar,<br />

a falar mas também po<strong>de</strong>r ter um papel activo na contenção e transformação das<br />

angustias <strong>do</strong>s utentes <strong>para</strong> patamares mais toleráveis;<br />

4) Este <strong>projecto</strong> con<strong>vida</strong> a família a participar na elaboração <strong>do</strong> <strong>projecto</strong> individual, a<br />

intervir nas suas funções <strong>de</strong> transicionalida<strong>de</strong> ou pára-excitações nos momentos <strong>de</strong><br />

crise. Con<strong>vida</strong> a família a participar em acti<strong>vida</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> grupo com os seus familiares.<br />

6


E procura também ter um papel <strong>de</strong> luto preventivo e <strong>de</strong> uma se<strong>para</strong>ção progressiva e<br />

saudável ainda em <strong>vida</strong> <strong>do</strong> seu familiar.<br />

Por fim num 4º Capitulo – apresentamos 2 casos práticos <strong>de</strong> duas senhoras que entram<br />

<strong>para</strong> o lar pela mesma razão recuperação a uma fractura <strong>ao</strong> colo-<strong>do</strong>-fémur em<br />

características pessoais e familiares acabam ter uma influência prepon<strong>de</strong>rante no sucesso<br />

ou insucesso da recuperação.<br />

Este <strong>projecto</strong> é uma i<strong>de</strong>ia e uma reflexão sobre o que po<strong>de</strong> ser um Lar, ten<strong>do</strong> em conta a<br />

importância <strong>do</strong>s intervenientes e aspectos já referi<strong>do</strong>s será difícil concretizá-lo mas após<br />

este anos <strong>de</strong> experiencia só assim faz senti<strong>do</strong>, pois po<strong>de</strong>mos construir castelos e mansões<br />

mas o sofrimento incompreendi<strong>do</strong> que na nossa opinião será o aspecto que mais contribuirá<br />

<strong>para</strong> a mortalida<strong>de</strong> o pior <strong>do</strong>s maus tratos que a socieda<strong>de</strong> incute às pessoas que estão em<br />

crise ou situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>.<br />

7


1- O que é um Lar <strong>de</strong> I<strong>do</strong>sos que tipo <strong>de</strong> População Recebe, trabalha e Convive no<br />

Lar<br />

O que é um Lar <strong>de</strong> I<strong>do</strong>sos?<br />

Segun<strong>do</strong> a Lei que regulamenta os Lares <strong>de</strong> I<strong>do</strong>sos Priva<strong>do</strong>s (Despacho Normativo n.12/98)<br />

refere na sua norma I:<br />

” (…) Consi<strong>de</strong>ra-se lar <strong>para</strong> i<strong>do</strong>sos o estabelecimento em que sejam <strong>de</strong>senvol<strong>vida</strong>s<br />

acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio social a pessoas i<strong>do</strong>sas através <strong>do</strong> alojamento colectivo, <strong>de</strong> utilização<br />

temporária ou permanente, fornecimento <strong>de</strong> alimentação, cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, higiene e<br />

conforto, fomentan<strong>do</strong> o convívio e propician<strong>do</strong> a animação social e ocupação <strong>do</strong>s tempos<br />

livres <strong>do</strong>s utentes.”<br />

Este <strong>de</strong>spacho na sua norma II especifica os objectivos específicos <strong>do</strong>s Lares <strong>para</strong> i<strong>do</strong>sos:<br />

“ a) Proporcionar serviços permanentes e a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s à problemática biopsicossocial das<br />

pessoas i<strong>do</strong>sas;<br />

b) Contribuir <strong>para</strong> a estabilização ou retardamento <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> envelhecimento;<br />

c) Criar condições que permitam preservar e incentivar a relação interfamiliar;<br />

d) Potenciar a integração Social.”<br />

Se verificarmos no recente guia elabora<strong>do</strong> pela segurança social <strong>para</strong> o acolhimento<br />

resi<strong>de</strong>ncial das pessoas mais velhas (2005), a palavra Lar <strong>de</strong>saparece e é substituída por<br />

organização ou estrutura resi<strong>de</strong>ncial, uma organização <strong>de</strong> pessoas <strong>para</strong> pessoas que <strong>de</strong>ve<br />

ter em conta entre variadíssimos pontos os seguintes que salientamos:<br />

Uma orientação (Missão, Valores, Visão, Estratégia e Cultura Ética);<br />

Os direitos, princípios e valores <strong>do</strong> cuidar (anexo 1)<br />

Um <strong>projecto</strong> institucional<br />

Relativamente a este ultimo ponto e <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Gérard Brami (2000), o <strong>projecto</strong><br />

institucional <strong>de</strong>ve compreen<strong>de</strong>r:<br />

A história <strong>do</strong> estabelecimento;<br />

O ambiente geográfico, sanitário e outro;<br />

As gran<strong>de</strong> orientações respeitantes a:<br />

o Acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s a <strong>de</strong>senvolver;<br />

o Tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>stinatários;<br />

o Projecto médico e <strong>para</strong>médico;<br />

8


o Projecto <strong>de</strong> hotelaria;<br />

o Projecto <strong>de</strong> comunicação;<br />

o Projecto <strong>de</strong> animação.<br />

Embora inseri<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um to<strong>do</strong> o <strong>projecto</strong> que vamos elaborar neste trabalho insere-se<br />

então <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um <strong>projecto</strong> <strong>para</strong>médico, on<strong>de</strong> também estão os enfermeiros, terapeutas<br />

ocupacionais, fisioterapeutas e que preten<strong>de</strong> ser um contributo <strong>para</strong> a discussão e<br />

compreensão da importância da dimensão relacional orienta<strong>do</strong>ra, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o indivíduo<br />

entra no lar/estrutura resi<strong>de</strong>ncial até às diferentes possibilida<strong>de</strong>s que se abrem num<br />

contexto tão multidimensional, mas que acreditamos ser uma invariante que atravessa<br />

to<strong>do</strong>s os indivíduos que constituem e contribuem <strong>para</strong> comunida<strong>de</strong> Lar, utentes<br />

(in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong> seu esta<strong>do</strong> físico ou mental), técnicos, colabora<strong>do</strong>res e to<strong>do</strong>s os<br />

presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s e que se for bem i<strong>de</strong>ntificada e direccionada po<strong>de</strong>rá contribuir<br />

<strong>para</strong> um melhor serviço <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta área e contextos.<br />

Reforçan<strong>do</strong> a nossa i<strong>de</strong>ia encontramos no manual já referi<strong>do</strong> (2005) a i<strong>de</strong>ia que “este<br />

<strong>projecto</strong> <strong>de</strong>ve passar por uma discussão alargada com to<strong>do</strong>s os interessa<strong>do</strong>s, incluin<strong>do</strong> os<br />

resi<strong>de</strong>ntes, visan<strong>do</strong> a melhoria da sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>, <strong>do</strong> funcionamento diário da<br />

estrutura resi<strong>de</strong>ncial e a valorização <strong>do</strong>s recursos humanos no exercício das suas funções<br />

quotidianas”.<br />

As estruturas resi<strong>de</strong>nciais <strong>de</strong>vem organizar-se em torno <strong>de</strong> um <strong>projecto</strong> institucional, que<br />

<strong>de</strong>fina as gran<strong>de</strong>s linhas a que <strong>de</strong>ve obe<strong>de</strong>cer to<strong>do</strong> o funcionamento, procuran<strong>do</strong> uma<br />

actuação que tenha em vista a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> <strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes, uma prática<br />

estruturada em princípios éticos <strong>de</strong> respeito pelos direitos das pessoas e pela criação <strong>de</strong><br />

condições <strong>para</strong> a concretização <strong>do</strong>s seus <strong>projecto</strong>s <strong>de</strong> <strong>vida</strong>.<br />

E assim chegamos à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existir um <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> que passamos a citar<br />

“To<strong>do</strong>s os resi<strong>de</strong>ntes têm direito a um <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> que potencie as suas capacida<strong>de</strong>s e<br />

os valorize como indivíduos. O <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>, com objectivos bem <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s e exequíveis,<br />

<strong>de</strong>ve ser elabora<strong>do</strong> pelo resi<strong>de</strong>nte, em conjunto com a estrutura resi<strong>de</strong>ncial e, se o resi<strong>de</strong>nte<br />

assim o <strong>de</strong>sejar, com a família. As pessoas <strong>de</strong>vem ser livres <strong>de</strong> pensar e <strong>de</strong>senvolver novos<br />

<strong>projecto</strong>s <strong>de</strong> <strong>vida</strong> e a instituição <strong>de</strong>ve assumir-se como fundamental garante <strong>de</strong>sse direito.<br />

9


De notar que a <strong>vida</strong> <strong>do</strong> resi<strong>de</strong>nte começou muito antes <strong>de</strong> entrar <strong>para</strong> a estrutura<br />

resi<strong>de</strong>ncial, pelo que o <strong>projecto</strong> que agora se elabora visa dar continuida<strong>de</strong>, mesmo que<br />

com alguns ajustamentos, <strong>ao</strong> que o resi<strong>de</strong>nte perspectivava <strong>para</strong> si antes <strong>do</strong> acolhimento.<br />

As pessoas i<strong>do</strong>sas <strong>de</strong>vem sentir-se úteis e po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>finir objectivos <strong>de</strong> futuro, metas a atingir<br />

e estratégias <strong>para</strong> consegui-los. Entre outros incentivos, <strong>de</strong>ve fomentar-se a participação<br />

<strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes no quotidiano da estrutura resi<strong>de</strong>ncial, exercício útil <strong>para</strong> a dinâmica <strong>do</strong><br />

raciocínio e a manutenção <strong>de</strong> relações afectivas fortes.<br />

No centro da intervenção <strong>de</strong>ve estar, sempre, o próprio resi<strong>de</strong>nte. Por isso, é fulcral<br />

conhecê-lo bem. É útil, <strong>para</strong> que se consiga atingir este objectivo, que uma equipa técnica<br />

multidisciplinar faça uma avaliação inicial da situação da pessoa. Esta avaliação consiste<br />

numa análise profunda que abor<strong>de</strong> aspectos físicos e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, cognitivos,<br />

comportamentais, <strong>de</strong> linguagem, emocionais, sociais, formativos e profissionais,<br />

sempre com respeito pela intimida<strong>de</strong> <strong>do</strong> resi<strong>de</strong>nte.<br />

Há que ter em conta, na elaboração <strong>do</strong> <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>, da<strong>do</strong>s como os aspectos familiares<br />

e o anterior <strong>do</strong>micílio <strong>do</strong> resi<strong>de</strong>nte. É fulcral conhecer o meio em que o resi<strong>de</strong>nte vivia e as<br />

pessoas com quem se relacionava antes <strong>de</strong> entrar <strong>para</strong> a estrutura resi<strong>de</strong>ncial: no fun<strong>do</strong>, o<br />

que era o seu dia-a-dia. Que acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s praticava? Que gostos tem? Que dificulda<strong>de</strong>s e<br />

angustias? E também muito importante, porque veio viver <strong>para</strong> uma estrutura resi<strong>de</strong>ncial?<br />

O <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> <strong>de</strong>ve realçar os pontos fortes da pessoa. Que tem <strong>para</strong> oferecer? Sabe<br />

pintar, fazer versos, costurar, representar? Era carpinteiro, enfermeira, advoga<strong>do</strong>,<br />

cozinheira, electricista, professora, pa<strong>de</strong>iro? Mas há que prestar atenção também <strong>ao</strong>s<br />

momentos menos bons: como é que o resi<strong>de</strong>nte prefere passar os perío<strong>do</strong>s em que está<br />

mais triste? A passear? A ler? A jardinar? A meditar? Em solidão? À conversa com outros?<br />

Que outros? Quem melhor presta suporte emocional a este resi<strong>de</strong>nte? A família? Os<br />

amigos? A religião? O seu animal <strong>de</strong> estimação?<br />

O <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> tem <strong>de</strong> ser vivo dinâmico, isto é, <strong>de</strong>ve estar em permanente reavaliação e<br />

sujeitar-se a revisões periódicas. Em cada momento, temos <strong>de</strong> ter a certeza <strong>de</strong> que se<br />

a<strong>de</strong>qua às necessida<strong>de</strong>s físicas e emocionais <strong>do</strong> resi<strong>de</strong>nte, bem como às suas motivações<br />

e capacida<strong>de</strong>s. É preciso assegurar que o resi<strong>de</strong>nte tem <strong>ao</strong> seu dispor recursos <strong>para</strong> levar a<br />

cabo o seu <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>.”<br />

10


Retirada <strong>do</strong> Manual <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s Lares Cheshire (2006) assente na Declaração <strong>de</strong><br />

Singapura que não retira a palavra lar mas <strong>ao</strong> <strong>de</strong>fini-la inclui na própria <strong>de</strong>finição a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>:<br />

“Um Lar <strong>de</strong>ve ser um Lugar <strong>de</strong> Acolhimento físico e encorajamento espiritual; um lugar on<strong>de</strong><br />

os resi<strong>de</strong>ntes possam adquirir o sentimento <strong>de</strong> pertença e posse, <strong>ao</strong> contribuir <strong>de</strong>ntro das<br />

suas possibilida<strong>de</strong>s <strong>para</strong> o seu funcionamento e <strong>de</strong>senvolvimento; um lugar <strong>de</strong> partilha e <strong>de</strong><br />

ajuda a outros mais necessita<strong>do</strong>s; um lugar on<strong>de</strong> se adquira autoconfiança e se <strong>de</strong>senvolva<br />

a in<strong>de</strong>pendência; um lugar on<strong>de</strong> se incentive o esforço e não a passi<strong>vida</strong><strong>de</strong>”. (Anexo 2)<br />

Embora ambos os manuais se voltem mais <strong>para</strong> a perspectiva <strong>do</strong> <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> mesmo<br />

<strong>de</strong>ntro da comunida<strong>de</strong>, refere sem aprofundar aqueles que se encaminham <strong>para</strong> a morte, a<br />

qual não <strong>de</strong>ve ser vista como uma espera passiva, mas dignificada pelas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

participação, ou acrescentamos, pela estimulação e comunicação estabelecida durante<br />

prestação <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s nas acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>vida</strong> diária dignifican<strong>do</strong> aquela fase da <strong>vida</strong><br />

(lembramo-nos da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Maternagem <strong>de</strong> Winnicott).<br />

Ao longo <strong>do</strong>s anos temos <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> e continuamos a <strong>de</strong>sempenhar o papel que<br />

começa a <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser função ou ter o nome <strong>de</strong> lar, ou estrutura resi<strong>de</strong>ncial <strong>para</strong> ter o nome<br />

<strong>de</strong> unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s continua<strong>do</strong>s que vem assim <strong>de</strong>scrito no Plano Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

2004-2010:<br />

“A Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cuida<strong>do</strong>s Continua<strong>do</strong>s é constituída por todas as entida<strong>de</strong>s públicas, sociais e<br />

privadas, habilitadas à prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a promover, restaurar e<br />

manter a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>, o bem-estar e o conforto <strong>do</strong>s cidadãos necessita<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

mesmos em consequência <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença crónica ou <strong>de</strong>generativa, ou por qualquer outra razão<br />

física ou psicológica susceptível <strong>de</strong> causar a sua limitação funcional ou <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong><br />

outrem, incluin<strong>do</strong> o recurso a to<strong>do</strong>s os meios técnicos e humanos a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s <strong>ao</strong> alivio da<br />

<strong>do</strong>r e <strong>do</strong> sofrimento, a minorar a angustia e a dignificar o perío<strong>do</strong> terminal da <strong>vida</strong>”<br />

Pensamos que as palavras Lar <strong>de</strong> I<strong>do</strong>sos começam a ser substituídas por outras mais<br />

mo<strong>de</strong>rnas seja pelo evoluir da socieda<strong>de</strong>, mas também pelo próprio estigma que a própria<br />

socieda<strong>de</strong> e comunicação social criou em termos <strong>de</strong> representações sociais em relação <strong>ao</strong>s<br />

Lares como uma espécie <strong>de</strong> “locais <strong>de</strong> tortura” ou “velhão”. No inicio na nossa acti<strong>vida</strong><strong>de</strong><br />

acerca <strong>de</strong> oito anos nesta área verificamos esse estigma até nos nossos colegas psicólogos<br />

que trabalhavam noutras áreas.<br />

11


Mas por outro la<strong>do</strong>, <strong>ao</strong> termos acesso a informação bibliográfica por exemplo da linha<br />

francófona da Europa constatávamos que esses países tinham Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Psicogeriatria,<br />

Hospitais Geriátricos (Charazac, P. 2004) e <strong>de</strong>pois constatávamos <strong>ao</strong> acompanhar utentes<br />

<strong>ao</strong> Hospital X que estava “entupi<strong>do</strong>” <strong>de</strong> macas e que na sua gran<strong>de</strong> maioria eram <strong>de</strong><br />

pessoas i<strong>do</strong>sas que estavam horas intermináveis <strong>para</strong> serem assisti<strong>do</strong>s muitos não<br />

resistiam <strong>ao</strong> “stress emocional” e que ainda as respostas <strong>do</strong>s médicos e técnicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

era o estigma “veio <strong>de</strong> um Lar não é?” foram tempos muito difíceis e ainda bem que as<br />

coisas estão a mudar.<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da <strong>de</strong>nominação que se possa dar seja <strong>de</strong> Lar <strong>de</strong> I<strong>do</strong>sos, casa <strong>de</strong><br />

repouso, estrutura organizativa resi<strong>de</strong>ncial, “unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s continua<strong>do</strong>s”, residências<br />

assistidas ou mansões geriátricas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> surgirem lares dizen<strong>do</strong>-se<br />

especializa<strong>do</strong>s em “Psiquiatria”, em “Alzheimer”, mesmo nestes e na maioria <strong>do</strong>s lares ou<br />

estrutura resi<strong>de</strong>nciais existe e possivelmente existirá sempre uma população muito<br />

diversificada quer em termos <strong>de</strong> patologias ou até motivações pelas quais recorrem a um<br />

Lar<br />

Mas pensamos que em meios <strong>de</strong> tanta diversida<strong>de</strong>, existe uma invariante fundamental na<br />

recuperação, no tratamento, na estabilização e na dignificação <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> terminal da <strong>vida</strong><br />

que é – a dimensão relacional.<br />

Des<strong>de</strong> a entrada no Lar à constituição <strong>de</strong> diferentes e possíveis <strong>projecto</strong>s <strong>de</strong> <strong>vida</strong>, até <strong>ao</strong><br />

cuidar como <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> dignificar o esta<strong>do</strong> terminal, a qualida<strong>de</strong> da relação ou o tipo mais<br />

apropria<strong>do</strong> <strong>de</strong> “relacionamento” é o aspecto mais invariante pela sua importância e pela<br />

forma como a própria psicologia enquanto disciplina po<strong>de</strong> contribuir como uma parte<br />

fundamental <strong>de</strong> um <strong>projecto</strong> e po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar as linhas <strong>de</strong> intervenção e objectivos<br />

enquanto filosofia <strong>do</strong> <strong>projecto</strong> e <strong>do</strong> cuidar em relação <strong>ao</strong>s lares resi<strong>de</strong>nciais.<br />

Pensamos mesmo que o papel <strong>do</strong> psicólogo visto nesta perspectiva é imprescindível nos<br />

lares ou estruturas resi<strong>de</strong>nciais porque se morre por relacionamento ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> por parte<br />

das famílias, <strong>do</strong>s funcionários e <strong>de</strong> uns utentes relação <strong>ao</strong>s outros, por incompreensão das<br />

solicitações <strong>do</strong> utente, por atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quadas, por <strong>de</strong>pressão, por incompreensão <strong>do</strong><br />

próprio comportamento, por intolerância às angústias <strong>do</strong>s utentes, por diversas formas <strong>de</strong><br />

“hospitalismo”, e compreen<strong>de</strong>r estas nuances, interpretá-las e pô-las em <strong>projecto</strong> nas suas<br />

formas <strong>de</strong> prevenção, intervenção, tratamento ou formação é da disciplina da psicologia.<br />

O Tipo <strong>de</strong> População<br />

12


Tipo <strong>de</strong> População:<br />

Sujeitos <strong>do</strong> sexo masculino e feminino com ida<strong>de</strong>s compreendidas entre os 45 e os 103<br />

anos.<br />

Patologias encontradas, classificadas e diagnosticadas:<br />

Doenças Neurológicas – Indivíduos vítimas <strong>de</strong> AVC (Aci<strong>de</strong>nte Vascular Cerebral), vários<br />

tipos <strong>de</strong> Demência, Doença <strong>de</strong> Parkinson, Coreia <strong>de</strong> Huntington (auto-imune com<br />

sintomas neurológicos), iatrogenia medicamentosa, outras sem diagnóstico mas<br />

gera<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> com necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> terceiros;<br />

Doenças Psiquiátricas – Depressões crónicas com somatizações ou quadros<br />

psicossomáticos <strong>de</strong> <strong>do</strong>res difusas, Esquizofrenias, Psicoses, Patologias <strong>do</strong> tipo<br />

Bor<strong>de</strong>rline,<br />

Doenças Metabólicas – Diabetes tipo I e II, Anemias Crónicas; Addison; Obesida<strong>de</strong><br />

Doenças Oncológicas – Neoplasias Várias,<br />

Doenças Traumáticas – perdas afectivas, aci<strong>de</strong>ntes, quedas com fractura,<br />

Multipatologias;<br />

Isolamento – solidão<br />

Quem trabalha e Convive no Lar?<br />

INTERVENÇÃO MULTI-DISCIPLINAR<br />

• cozinheira (nutricionista)<br />

• ajudantes <strong>de</strong> lar<br />

• auxiliares <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

• enfermeiro (s)<br />

• medico (s)<br />

• psicólogo (s)<br />

• técnicos <strong>de</strong> reabilitação (fisioterapeuta; motricida<strong>de</strong> humana)<br />

• terapeutas ocupacionais<br />

13


2- O Self <strong>ao</strong> longo da <strong>vida</strong>, Crises <strong>do</strong> Eu e a procura <strong>de</strong> Internamento<br />

A procura <strong>de</strong> Internamento:<br />

Ao longo <strong>de</strong>stes últimos oito anos a procura <strong>de</strong> internamento surge através <strong>de</strong> várias fontes:<br />

Através da Família:<br />

Através <strong>de</strong> Hospitais<br />

Por iniciativa <strong>do</strong> próprio<br />

As Famílias procuram um Lar <strong>para</strong> o seu familiar porque este per<strong>de</strong>u a “capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> estar só” que se manifesta por comportamentos <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s que põem em causa a<br />

própria <strong>vida</strong>:<br />

Quedas no Domicilio; incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cumprir as tomas da medicação e as acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> <strong>vida</strong> diária; alterações <strong>ao</strong> nível da orientação espácio-temporal com confusão mental;<br />

situações <strong>de</strong> negligência <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> <strong>ao</strong> esquecimento, torneiras abertas causan<strong>do</strong><br />

inundações ou queiman<strong>do</strong> comida; comportamentos aberrantes; apatias, anorexias,<br />

<strong>de</strong>pressão, isolamento “a pessoa refugia-se na cama e <strong>de</strong> lá não quer sair”, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

andar <strong>de</strong> se mover; a família sente que não tem capacida<strong>de</strong> técnica e que o apoio <strong>ao</strong><br />

<strong>do</strong>micílio não é suficiente <strong>para</strong> ficaram tranquilos;<br />

O Hospital na altura da alta <strong>de</strong> internamento hospitalar ou “alta” das urgências<br />

“pressiona” através da assistente social a família procurar uma solução/contexto<br />

mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> <strong>para</strong> o seu familiar que adquiriu incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a:<br />

Fracturas com necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção cirúrgica <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a “Quedas” sen<strong>do</strong> a mais<br />

usual “fractura <strong>do</strong> cólo-<strong>do</strong>-fémur; incapacida<strong>de</strong>s físicas, locomoção, linguagem <strong>de</strong>vi<strong>do</strong><br />

Aci<strong>de</strong>nte Vascular Cerebral;<br />

Doenças <strong>do</strong> foro médico que se tornaram crónicas ou agudizaram o seu esta<strong>do</strong>;<br />

Instituições <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Mental procuram estruturas resi<strong>de</strong>nciais quan<strong>do</strong> já não se<br />

justifica a permanência <strong>de</strong>sses indivíduos naquelas instituições por estarem<br />

compensa<strong>do</strong>s mas também não têm a autonomia <strong>de</strong> estar só:<br />

Esquizofrenias/Psicoses ou Patologias “Bor<strong>de</strong>rline” em adultos susceptíveis <strong>de</strong> se<br />

adaptar <strong>ao</strong> contexto, é <strong>de</strong> excluir os violentos por motivos óbvios. Mas alguns indivíduos<br />

acabam por ser uma mais-valia <strong>para</strong> a comunida<strong>de</strong>.<br />

14


Por Iniciativa <strong>do</strong> próprio e aparentemente autónomos, surgem pessoas que optam<br />

pelo lar / estrutura resi<strong>de</strong>ncial chegan<strong>do</strong> alguns a ficar em regime semi-aberto ou<br />

aberto:<br />

Muitas <strong>de</strong>stas pessoas per<strong>de</strong>ram a “confiança <strong>de</strong> estar sós”, outras não querem sentir-se<br />

“far<strong>do</strong>s” <strong>para</strong> as famílias, geralmente acompanhadas <strong>de</strong> sintomas somáticos difusos,<br />

sentem-se <strong>do</strong>entes mas não sabem bem o que têm e vivem em angústia, procuram estar<br />

próximas “<strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s e das atenções <strong>de</strong> alguém”.<br />

Quan<strong>do</strong> fazemos um levantamento das razões que levaram as pessoas a serem<br />

encaminhadas ou a optarem por um Lar / estrutura Resi<strong>de</strong>ncial inferimos que na sua origem<br />

estão questões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental “Incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar só”; “<strong>de</strong>pendência psicológica e<br />

física”; “solidão”; “luto”; “<strong>de</strong>pressão”; “somatizações”; “relação com a família”; “alteração <strong>do</strong><br />

pensamento”; “angustia”; “perda da confiança e auto-estima”, etc.<br />

Ao elaborarmos as histórias <strong>de</strong> <strong>vida</strong> reforçamos esta i<strong>de</strong>ia e constatamos também que um<br />

número consi<strong>de</strong>rável daqueles casos em que as funções estão lesadas como a memória e<br />

outras funções cognitivas na origem <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>stes casos estiveram as perdas: lutos,<br />

<strong>de</strong>socupação, incompreensões em relação <strong>ao</strong>s esta<strong>do</strong>s emocionais, <strong>de</strong>pressões, falta <strong>de</strong><br />

apoio a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> em momentos <strong>crítico</strong>s. Em suma, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a várias circunstâncias o indivíduo<br />

não se conseguiu adaptar a mudanças que surgiram na sua <strong>vida</strong>.<br />

Segun<strong>do</strong> Grinberg, L. & Grinberg, R (1998), surge nalguns indivíduos uma “angústia face à<br />

mudança” <strong>de</strong>terminada, fundamentalmente, por fantasias <strong>de</strong> perda ou aniquilação da sua<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

Estes autores no seu trabalho intitula<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e mudança referem ainda que a<br />

progressiva diferenciação que a criança vai estabelecen<strong>do</strong> entre o seu Self e não Self, a<br />

partir <strong>do</strong> seu nascimento, passa por variadas vicissitu<strong>de</strong>s no <strong>de</strong>curso das suas diferentes<br />

crises evolutivas como as que ocorrem no <strong>de</strong>smame, no conflito edipiano, na latência, na<br />

puberda<strong>de</strong> e na a<strong>do</strong>lescência, na meia-ida<strong>de</strong> e na velhice.<br />

Estas crises, relacionadas não apenas com o vinculo temporal mas também o espacial e o<br />

social, promovem a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elaborar lutos pelas experiencias passadas, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />

inevitável transformação sofrida na qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s vínculos objectais, e pelos aspectos<br />

perdi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> self em cada um <strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s da evolução.<br />

15


A a<strong>de</strong>quada elaboração <strong>de</strong> tais lutos nas fases correspon<strong>de</strong>ntes contribuirá <strong>para</strong> consolidar<br />

no indivíduo o sentimento <strong>de</strong> que é uma entida<strong>de</strong> real diferenciada, com continuida<strong>de</strong> no<br />

tempo e um lugar no espaço, e com a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperar no presente o que apren<strong>de</strong>u<br />

no passa<strong>do</strong>.<br />

Esta noção <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> por um la<strong>do</strong> mas também <strong>de</strong> mudança <strong>ao</strong> longo da <strong>vida</strong><br />

enfatizan<strong>do</strong> os percursos <strong>de</strong> <strong>vida</strong> individuais em que acontecimentos <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s<br />

biologicamente e socialmente mas também associa<strong>do</strong>s à ida<strong>de</strong>, em <strong>de</strong>terminada cultura e<br />

momentos histórico, apresentam impactes <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista psicológico suscitan<strong>do</strong> e/ou<br />

exigin<strong>do</strong> o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> papéis sociais.<br />

Muitos <strong>de</strong>sses acontecimentos assumem características <strong>de</strong> tarefas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, os<br />

quais dizem respeito a tarefas a que o indivíduo tem que correspon<strong>de</strong>r <strong>para</strong> evoluir e<br />

<strong>de</strong>senvolver-se: inicio da marcha, entrada na escola, a puberda<strong>de</strong>, o inicio <strong>de</strong> uma carreira<br />

profissional, o casamento, o nascimento <strong>de</strong> filhos, menopausa, a reforma, etc. (Silva, M.<br />

2005).<br />

A forma como cada indivíduo <strong>ao</strong> longo da <strong>vida</strong> experimentar estas fases/crises e conseguir<br />

resolver os conflitos por elas geradas, mais fortaleci<strong>do</strong> ou enfraqueci<strong>do</strong> vai fican<strong>do</strong> na sua<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação a novas crises existenciais.<br />

Segun<strong>do</strong> Erikson (in Silva, M. 2005) o Ego é concebi<strong>do</strong> como um centro individual <strong>de</strong><br />

experiencia organizada e planeamento sagaz, <strong>de</strong>terminante da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> individual <strong>de</strong> cada<br />

um, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> essa baseada na percepção da própria semelhança e continuida<strong>de</strong> no tempo<br />

e, simultaneamente, na percepção que cada indivíduo tem <strong>de</strong> que os outros também<br />

reconhecem essa semelhança e continuida<strong>de</strong>.<br />

Erikson (in Silva, M. 2005) preconiza oito conflitos <strong>para</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento humano<br />

(confiança básica versus <strong>de</strong>sconfiança básica; autonomia versus vergonha e dú<strong>vida</strong>;<br />

iniciativa versus culpa; aplicação <strong>ao</strong> trabalho versus inferiorida<strong>de</strong>; i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> versus<br />

confusão <strong>de</strong> papéis; intimida<strong>de</strong> versus isolamento; generati<strong>vida</strong><strong>de</strong> versus estagnação;<br />

integrida<strong>de</strong> versus <strong>de</strong>sespero), salientan<strong>do</strong> que o primeiro conflito, confiança básica versus<br />

<strong>de</strong>sconfiança básica representa a pedra angular da personalida<strong>de</strong> saudável, na medida em<br />

que <strong>de</strong>le <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a construção da estima e confiança em si e no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>s outros<br />

significativos, essencial <strong>para</strong> a combati<strong>vida</strong><strong>de</strong> necessária à <strong>vida</strong>.<br />

16


É necessário o indivíduo <strong>ao</strong> longo da <strong>vida</strong> ter capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> se<strong>para</strong>r-se e individualizar-se<br />

(Mahler in Silva 2005).<br />

Da simbiose inicial com o objecto materno cuida<strong>do</strong>r, em absoluta <strong>de</strong>pendência, parte-se<br />

<strong>para</strong> uma progressiva se<strong>para</strong>ção-individuação, que a autora admite constituir-se como fase<br />

no terceiro ano <strong>de</strong> <strong>vida</strong>, estan<strong>do</strong> associada à conquista da locomoção e <strong>ao</strong> alargamento da<br />

<strong>de</strong>scoberta e relacionamento com o mun<strong>do</strong> que esta aquisição vai permitir.<br />

A partir da absoluta <strong>de</strong>pendência, atinge uma nova <strong>de</strong>pendência (relativa) na ida<strong>de</strong> adulta<br />

avançada, <strong>para</strong> se ultimar numa quase simbiose (caracterizada por uma absoluta<br />

<strong>de</strong>pendência), associada a estádios terminais <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença física antece<strong>de</strong>ntes da morte.<br />

Em momentos fulcrais no curso da <strong>vida</strong> são admiti<strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> <strong>de</strong>safio e viragem no que<br />

diz respeito à se<strong>para</strong>ção-individuação, conducentes à saú<strong>de</strong> mental e bem-estar, ou à<br />

patologia e <strong>ao</strong> sofrimento.<br />

Estes momentos situam-se na a<strong>do</strong>lescência, na juventu<strong>de</strong> (tornar-se pai/mãe), na meia-<br />

ida<strong>de</strong> (como reacção à senescência e morte <strong>do</strong>s pais), e <strong>de</strong>pois na velhice, com o confronto<br />

face à proximida<strong>de</strong> da morte.<br />

Estes perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> transição serão vivi<strong>do</strong>s com ansieda<strong>de</strong>, agitação e sofrimento, até<br />

se tornar possível organizar uma nova estrutura <strong>de</strong> <strong>vida</strong>, que possa ser mais<br />

satisfatória <strong>para</strong> o self e <strong>para</strong> a relação com o mun<strong>do</strong> externo.<br />

Para Vaillant a verda<strong>de</strong>ira adaptação é a saú<strong>de</strong> e as suas áreas <strong>de</strong> eleição são as relações<br />

amorosas e o investimento no trabalho: “ O homem normal seria capaz <strong>de</strong> amar, <strong>de</strong><br />

trabalhar e divertir-se”.<br />

Este autor afirma que não são os traumas isola<strong>do</strong>s da infância que mo<strong>de</strong>lam o futuro, mas a<br />

qualida<strong>de</strong> das relações que se mantêm com os outros significativos. A <strong>vida</strong> humana está<br />

cheia <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s e aquilo que mais impera é a mudança. Para enten<strong>de</strong>r a saú<strong>de</strong> e<br />

a patologia, há que analisar os mecanismos adaptativos que são usa<strong>do</strong>s face <strong>ao</strong>s conflitos.<br />

Os indivíduos quan<strong>do</strong> confronta<strong>do</strong>s com conflitos <strong>de</strong>senvolvem estilos inconscientes,<br />

intrapsiquicos, <strong>de</strong> adaptação, que lhes são próprios e que se traduzem em comportamentos<br />

criativos.<br />

17


Este autor admite, pois, uma maturação progressiva <strong>do</strong>s mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa no <strong>de</strong>correr<br />

<strong>do</strong> curso da <strong>vida</strong>.<br />

Desafios específicos no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>ao</strong> longo da velhice<br />

Atingir a velhice significa que foi possível sobreviver e adaptar-se – com mais ou menos<br />

saú<strong>de</strong> mental e consequente maior ou menor bem-estar – a <strong>de</strong>safios específicos <strong>de</strong> outras<br />

fases da <strong>vida</strong>. O processo <strong>de</strong> envelhecimento, <strong>ao</strong> longo da velhice, traz ele próprio <strong>de</strong>safios<br />

adaptativos que lhe são peculiares. Na compreensão multidisciplinar e multidimensional em<br />

que este processo <strong>de</strong>ve ser aborda<strong>do</strong>, tais <strong>de</strong>safios reportam-se a aspectos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m física,<br />

psicológica e social.<br />

Reconstrução <strong>de</strong> um Novo Self ou aspectos <strong>do</strong> Self:<br />

Aceitar as transformações <strong>do</strong> corpo no seu envelhecimento actualizar a sua auto-<br />

imagem diferente da Juventu<strong>de</strong>;<br />

Aceitar perdas da autonomia funcional, física ou instrumental;<br />

Reconstrução das Relações <strong>de</strong> Dependência com Objectos Cuida<strong>do</strong>res:<br />

Aceitar que já foi objecto <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s e objecto cuida<strong>do</strong>r e que vai passan<strong>do</strong> por<br />

diferentes etapas e que volta a ser objecto <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s numa nova fase da <strong>vida</strong>;<br />

Reconstrução <strong>do</strong>s objectos internos – “Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fazer Lutos‟”<br />

Aceitar os limites da <strong>vida</strong> e relativizar a morte, reconstruir a imagem interna <strong>de</strong> quem<br />

morre <strong>de</strong> forma a crescer com o processo, saben<strong>do</strong> se<strong>para</strong>-se individualizar-se e não<br />

entrar em auto-punição;<br />

Reconstrução <strong>de</strong> uma nova I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> Social – “uma nova <strong>vida</strong> ocupacional”<br />

Apesar <strong>de</strong> ter cessa<strong>do</strong> a sua carreira profissional, conseguir <strong>de</strong>senvolver acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s<br />

ocupacionais que lhe dê prazer e estimulo;<br />

18


3- Do Projecto <strong>de</strong> <strong>vida</strong> <strong>ao</strong> Projecto <strong>de</strong> Prestação <strong>de</strong> Cuida<strong>do</strong>s <strong>para</strong> Lares Resi<strong>de</strong>nciais<br />

“A Dimensão Psicológica da Relação”<br />

3.1 - A operacionalização <strong>do</strong> <strong>projecto</strong> com as questões éticas e a constituição <strong>de</strong> 4<br />

sub<strong>projecto</strong>s que constituem o <strong>projecto</strong> geral<br />

Este <strong>projecto</strong> terá em conta to<strong>do</strong>s os intervenientes: Os utentes, os presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />

e as famílias.<br />

É constituí<strong>do</strong> pela “construção <strong>de</strong> um <strong>projecto</strong> individual” que é um <strong>projecto</strong> com<br />

objectivos terapêuticos <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as suas possibilida<strong>de</strong>s e potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada<br />

indivíduo.<br />

É constituí<strong>do</strong> pela “construção <strong>de</strong> um <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> grupo” que engloba todas as<br />

acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> grupo que por si só são terapêuticas mas também por uma socioterapia em<br />

que são atribuí<strong>do</strong>s alguns papéis a certos indivíduos na participação e no melhoramento <strong>do</strong><br />

funcionamento da comunida<strong>de</strong>.<br />

É constituí<strong>do</strong> por um “<strong>projecto</strong> <strong>para</strong> a equipa <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s” que passam a<br />

ter um papel muito importante na participação e na execução <strong>do</strong> “<strong>projecto</strong> individual”;<br />

É também constituí<strong>do</strong> pela “construção <strong>de</strong> um <strong>projecto</strong> <strong>para</strong> as famílias”<br />

Estes 4 <strong>projecto</strong>s são dinâmicos e interagem entre si constituin<strong>do</strong> um to<strong>do</strong> que tenta<br />

operacionalizar os valores <strong>do</strong> cuidar e a dimensão ética da relação <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong><br />

cuida<strong>do</strong>s (in Charazac, P. 2004):<br />

O principio <strong>do</strong> respeito pela autonomia <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente, que <strong>de</strong>ve ser encara<strong>do</strong> como<br />

uma pessoa responsável, mesmo quan<strong>do</strong> a <strong>do</strong>ença enfraquece as suas<br />

capacida<strong>de</strong>s;<br />

O princípio <strong>do</strong> benefício ou <strong>de</strong> beneficência, segun<strong>do</strong> o qual o presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />

cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong>ve servir o melhor possível os interesses <strong>do</strong> seu <strong>do</strong>ente;<br />

O princípio <strong>de</strong> não prejudicar, isto é <strong>de</strong> não empreen<strong>de</strong>r nada que seja contrário <strong>ao</strong><br />

bem <strong>do</strong> <strong>do</strong>ente. Destes <strong>do</strong>is princípios <strong>de</strong>corre a avaliação risco-beneficio;<br />

O princípio da justiça, que torna obrigatório que se reconheçam as necessida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> outrem sem distinção <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, raça, classe ou religião.<br />

19


Que po<strong>de</strong>rão sempre ajusta<strong>do</strong>s em caso <strong>de</strong> contradição pela resolução <strong>de</strong> questões éticas<br />

em quatro fases:<br />

- Um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> orientação, em que os presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vem distinguir na<br />

situação o que é o âmbito na ética e o que pertence a outro campo <strong>do</strong> conhecimento<br />

(medicina, psicologia, direito e religião). Acrescente-se que convém, em primeiro lugar,<br />

reunir o conjunto <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s clínicos e garantir a sua fiabilida<strong>de</strong>, como mostra o falso<br />

problema da eutanásia quan<strong>do</strong> assenta num diagnóstico mal feito.<br />

- Um perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>liberação, que pesa as forças ou os interesses em jogo (me<strong>do</strong>s<br />

inconsciente, <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> afirmar a nossa força, mas também pressão da família ou conflitos<br />

<strong>de</strong> interesses orçamentais) e os valores em conflito. Ela far-se-á respeitan<strong>do</strong> os parceiros,<br />

se se tratar <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>liberação tomada a vários na busca <strong>de</strong> um consenso.<br />

- O momento da <strong>de</strong>cisão, que estabelece o que está bem e o que não está ou o está<br />

insuficientemente, sem dispor <strong>de</strong> qualquer garantia objectiva, mas apoian<strong>do</strong>-se na intenção<br />

<strong>de</strong> honrar da melhor forma possível os quatro princípios da ética;<br />

- O Perío<strong>do</strong> da Avaliação, que permite apren<strong>de</strong>r alguma coisa com os aspectos aleatórios<br />

da <strong>de</strong>cisão e <strong>do</strong>s seus resulta<strong>do</strong>s, e corrigir aqueles que se revelariam maus ou<br />

insuficientemente bons.<br />

Para além das questões éticas mas talvez ainda <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>stas o dinamismo <strong>de</strong>stes quatro<br />

<strong>projecto</strong>s procura profissionalizar e trabalhar a dimensão relacional que atravessa utentes,<br />

presta<strong>do</strong>res, familiares <strong>para</strong> que as diferentes angústias que aí se vão <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> e<br />

relevan<strong>do</strong> se tornem mais toleráveis <strong>para</strong> to<strong>do</strong>s porque dar senti<strong>do</strong> <strong>ao</strong> contexto é também<br />

dar uma forma, uma configuração, que contém e transforma os fantasmas e angústias<br />

internas.<br />

20


3.2 - CONSTRUÇÃO DE UM PROJECTO INDIVIDUAL<br />

Embora o i<strong>de</strong>al fosse o indivíduo ser avalia<strong>do</strong> e “mentaliza<strong>do</strong>” antes <strong>de</strong> entrar no<br />

Lar/Estrutura Resi<strong>de</strong>ncial, o que na realida<strong>de</strong> acontece é que o seu <strong>projecto</strong> só po<strong>de</strong><br />

começar a ser construí<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> momento em que entra no lar e no <strong>de</strong>senrolar das<br />

primeiras semanas. Então há que avaliar as suas potencialida<strong>de</strong>s e limitações e também a<br />

sua economia e equilíbrio “somatopsiquico”;<br />

Perceber as razões da procura <strong>do</strong> internamento: porque veio <strong>para</strong> o lar, quem o enviou, o<br />

que a família sente em relação <strong>ao</strong> assunto e claro o próprio utente – estas razões dão-nos<br />

indícios das angústias em relação quer à se<strong>para</strong>ção quer as <strong>de</strong>fesas utilizadas <strong>para</strong> abordar<br />

o assunto. Uma parte <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos vêm <strong>para</strong> o lar <strong>ao</strong> engano e os próprios familiares mentem<br />

sobre o real esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu familiar, estes tornam-se negativos e resistentes porque se<br />

sentem traí<strong>do</strong>s pela família (<strong>de</strong>ixemos estas questões <strong>para</strong> o <strong>projecto</strong> <strong>para</strong> as famílias).<br />

Tabela 1. As Razões <strong>do</strong> internamento po<strong>de</strong>m ser <strong>para</strong>:<br />

Recuperar Investigar Residir Morrer<br />

Fractura <strong>do</strong> cólo-<strong>do</strong>-<br />

fémur; AVC (Aci<strong>de</strong>nte<br />

Vascular Cerebral);<br />

Esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>pressivos;<br />

Avaliação:<br />

Esta<strong>do</strong>s<br />

Confusionais;<br />

Alterações súbitas<br />

<strong>de</strong> esta<strong>do</strong>;<br />

Por necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

cuida<strong>do</strong>s; por<br />

incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar<br />

só, por opção <strong>do</strong><br />

próprio;<br />

21<br />

Esta<strong>do</strong>s terminais e<br />

necessiada<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

cuida<strong>do</strong>s paliativos<br />

A avaliação serve <strong>para</strong> nos dar uma perspectiva actual das potencialida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Self e as<br />

dinâmicas internas <strong>do</strong> Eu e <strong>do</strong>s objectos e as capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investir em novos objectos e<br />

neste caso investir no <strong>projecto</strong> enquanto novo objecto, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> assim ficar configura<strong>do</strong>:<br />

História <strong>do</strong> Self – A história Somática (<strong>do</strong>enças e sintomas <strong>do</strong> foro médico e<br />

outros difusos); A história das <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s (lutos, perdas, relações);<br />

História Social e ocupacional (perícias, motivações, interesses)


Começo da Avaliação:<br />

A avaliação começa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro contacto seja telefónico ou visita <strong>ao</strong> local, até <strong>ao</strong><br />

momento <strong>de</strong> entrada, on<strong>de</strong> será feito um levantamento <strong>do</strong>s sintomas somáticos, avaliação<br />

<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> mental com rastreio <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração mental orgânica, e avaliação da economia<br />

somatopsiquica com possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> investir em certas acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s e relações <strong>de</strong> forma a<br />

construir um novo <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>.<br />

Por vezes até chegar a um diagnóstico da perspectiva economia somatopsiquica e por<br />

surgirem dú<strong>vida</strong>s e falta <strong>de</strong> exames temos <strong>de</strong> seguir uma linha <strong>de</strong> investigação médica <strong>de</strong><br />

exames laboratoriais ou complementares, por exemplo um indivíduo que esteve a viver<br />

sozinho durante muito tempo e que teve uma má alimentação po<strong>de</strong> chegar <strong>ao</strong> lar com<br />

sintomas <strong>de</strong>pressivos ou confusionais por anemia, carência <strong>de</strong> folatos ou vitamina B12 (ver<br />

anexos) ou então um agravamento súbito <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>mencial <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a uma infecção<br />

urinária ou respiratória.<br />

Mas esta avaliação é dinâmica e actualizável vai continuar to<strong>do</strong>s os dias <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que entra<br />

<strong>para</strong> o lar porque é neste momento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> em que a dinâmica <strong>do</strong> Eu se vai<br />

revelar, a consistência <strong>do</strong> objecto interno, os tipos <strong>de</strong> angústia e necessida<strong>de</strong>s, a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<strong>para</strong>ção e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investir e confiar nos presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s.<br />

O diagnóstico <strong>de</strong> este equilíbrio somatopsiquico é dinâmico e é muitas vezes instável,<br />

passamos a conhecer o indivíduo em acção com as suas instabilida<strong>de</strong>s somáticas, <strong>de</strong><br />

humor e existenciais perante a consciência <strong>de</strong> uma certa <strong>de</strong>si<strong>de</strong>alização da própria <strong>vida</strong>, da<br />

proximida<strong>de</strong> da morte ou da perda <strong>de</strong> outro utente a que se afeiçoou.<br />

Avaliação à Entrada no Lar e primeiros dias:<br />

Esta fase é muito sensível e po<strong>de</strong> revelar situações altamente angustiantes <strong>para</strong> to<strong>do</strong>s<br />

intervenientes e que no utente se po<strong>de</strong>m revelar em termos comportamentais, somáticas e<br />

psíquicas:<br />

Comportamentais: Agitação “psicomotora”, <strong>de</strong>ambulação, negativismo, agressi<strong>vida</strong><strong>de</strong>,<br />

resistência às tomas das medicações, anorexia, apatia, isolamento, etc. O utente está em<br />

constante perigo <strong>de</strong> “queda” e <strong>de</strong> fracturas e morte iminente;<br />

22


Somáticas: Crises <strong>de</strong> hipertensão arterial, crises diabéticas, taquicardias, vómitos, <strong>do</strong>res<br />

difusas e inespecíficas <strong>do</strong> género <strong>de</strong> crises <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> e pânico, etc. Devi<strong>do</strong> à fragilida<strong>de</strong><br />

<strong>do</strong> funcionamento somatopsiquico ou psicossomático, o indivíduo está em constante perigo<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r fazer um Aci<strong>de</strong>nte Vascular Cerebral ou Enfartes múltiplos, entrar em coma, ter<br />

lesão <strong>de</strong> órgão com <strong>do</strong>ença irreversível e morrer.<br />

Psíquicas: As questões psicológicas na adaptabilida<strong>de</strong> à mudança <strong>de</strong> contexto po<strong>de</strong>rão ter<br />

uma relação com o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração cognitiva e compreensibilida<strong>de</strong> da situação mas<br />

não existe uma relação linear.<br />

Quan<strong>do</strong> somos chama<strong>do</strong>s a “intervir numa crise” <strong>de</strong> agitação com gritos e <strong>de</strong>sestabilização<br />

<strong>do</strong> ambiente chegamos à conclusão que estes sintomas não existem nem foram<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>a<strong>do</strong>s por si só, ten<strong>do</strong> por <strong>de</strong>trás daquilo que parece apenas confusão mental<br />

fortes angustias geralmente ligadas às perdas várias, que põem em causa o próprio objecto<br />

interno, a perda <strong>de</strong> si próprio no tempo e no espaço e a morte psicológica e as<br />

<strong>de</strong>sestabilizações comportamentais ou somáticas referidas.<br />

Da Avaliação às intervenções psicológicas na construção <strong>de</strong> um Projecto Pessoal<br />

O i<strong>de</strong>al seria antes <strong>de</strong> entrar no Lar já saber tu<strong>do</strong> sobre o utente, este já estar mentaliza<strong>do</strong><br />

que vai <strong>para</strong> um lar e que vai <strong>de</strong>senvolver um novo <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>. Mas o que acontece na<br />

prática é que “cada caso é um caso” que po<strong>de</strong> oscilar entre uma simples recuperação a uma<br />

fractura <strong>do</strong> cólo-<strong>do</strong>-fémur até <strong>ao</strong>s cuida<strong>do</strong>s paliativos <strong>de</strong> um <strong>do</strong>ente terminal.<br />

O que acontece na maioria <strong>do</strong>s casos é que ninguém conhece a verda<strong>de</strong>ira dimensão da<br />

história da histórias <strong>do</strong> individuo ou a reacção que um individuo po<strong>de</strong> ter <strong>ao</strong> pós-operatório<br />

<strong>de</strong> uma fractura <strong>do</strong> colo-<strong>do</strong>-fémur e adaptação a um novo contexto <strong>de</strong> <strong>vida</strong> (o caso da<br />

Senhora J e Senhora R).<br />

Tipos <strong>de</strong> Intervenções Psicológicas Individuais<br />

Intervenção psicológica na estabilização <strong>de</strong> quadros <strong>de</strong>menciais com agitação e<br />

confusão mental: Trabalho <strong>de</strong> Equipa por vezes também “intervenção na crise” e em<br />

<strong>para</strong>lelo com medicação e com a prestação <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s o psicólogo <strong>de</strong>verá<br />

estabelecer “uma aliança terapêutica”, é um trabalho muito minucioso e <strong>de</strong> paciência,<br />

tem <strong>de</strong> se perceber o que causa agitação nem sempre é orgânico e estes <strong>do</strong>entes têm<br />

em <strong>de</strong>terminadas fases capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estabelecer relacionamentos <strong>de</strong> confiança e<br />

23


capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a orientar-se no espaço atingin<strong>do</strong> “pontos <strong>de</strong> equilíbrio”;<br />

Apoio psicológico, aconselhamento e acompanhamento em fase <strong>de</strong> adaptação <strong>ao</strong><br />

contexto <strong>de</strong> Lar e durante a recuperação: Por vezes também ” intervenção na crise”<br />

porque implica perdas, lutos, alterações no esquema <strong>de</strong> <strong>vida</strong>, seja pela mudança <strong>do</strong><br />

contexto ou aci<strong>de</strong>nte, um AVC, fractura <strong>do</strong> cólo-<strong>do</strong>-fémur, morte <strong>de</strong> familiar, etc. Se o<br />

indivíduo não for <strong>de</strong><strong>vida</strong>mente acompanha<strong>do</strong> po<strong>de</strong>rá entrar em colapso; É importante<br />

fazer um trabalho psicoterapêutico focaliza<strong>do</strong> nas tarefas <strong>de</strong> adaptação às mudanças;<br />

Passa pela aceitação <strong>do</strong> presente e a<strong>de</strong>são à medicação, às dietas e às acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

grupo e a constituição <strong>de</strong> um <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> ou prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s.<br />

Acompanhamento psicoterapêutico individualiza<strong>do</strong>: Trabalho <strong>de</strong> Luto; Sintomas <strong>de</strong><br />

Ansieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pressão, representação <strong>de</strong> si <strong>de</strong>svalorizada e sentimento <strong>de</strong> inutilida<strong>de</strong>.<br />

“Intervenção na Crise”: agravamentos súbitos <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sorganizações<br />

psicossomáticas, resistência, negativismo, <strong>de</strong>sistência. Trabalho diário e continuo <strong>de</strong><br />

muitas horas e <strong>de</strong> toda a equipa;<br />

Análise Bioenergética: quan<strong>do</strong> o corpo fala por si é uma técnica forte e muito eficaz;<br />

24


3.3- CONSTRUÇÃO DE UM PROJECTO DE GRUPO<br />

A construção <strong>de</strong>ste <strong>projecto</strong> tem por base a dimensão da história Social e ocupacional <strong>do</strong><br />

indivíduo (perícias, motivações, interesses) que po<strong>de</strong>m ser postas <strong>ao</strong> serviço <strong>do</strong> grupo e é<br />

inspirada nos princípios da socioterapia (uma <strong>de</strong>rivada da psicoterapia institucional) que<br />

surgiu acerca <strong>de</strong> 30 anos na escolas geriatricas <strong>de</strong> Bel-Air e que procura <strong>de</strong>signar as acções<br />

com a re<strong>de</strong> relacional <strong>do</strong> sujeito e com a sua capacida<strong>de</strong> <strong>para</strong> se manter na <strong>vida</strong> social ou<br />

nela se integrar (Charazac 2004).<br />

Neste senti<strong>do</strong>, o objectivo <strong>do</strong>s grupos anima<strong>do</strong>s numa unida<strong>de</strong> pelos terapeutas<br />

ocupacionais não é o <strong>de</strong> ocupar os <strong>do</strong>entes, mas sim colocá-los em situações concretas, a<br />

fim <strong>de</strong> recriar no próprio seio da instituição uma <strong>vida</strong> social que os motive a sair da sua<br />

protecção.<br />

Esta i<strong>de</strong>ia vem <strong>ao</strong> encontro da nossa concepção comunitária <strong>de</strong> estrutura resi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

que começamos a trabalhar nesta área, segun<strong>do</strong> Grinberg (1998) a “privação <strong>do</strong> papel”<br />

associa-se frequentemente com o “empobrecimento <strong>do</strong> eu”, se<strong>para</strong><strong>do</strong>s <strong>do</strong> seu papel como<br />

no caso da reforma ou perda <strong>do</strong> emprego, os indivíduos po<strong>de</strong>m sofrer algum tipo <strong>de</strong><br />

break<strong>do</strong>wn mental ou físico, uma regressão grave ou até a morte.<br />

Se tivermos em conta que alguns indivíduos que procuram os Lares apenas por questões <strong>de</strong><br />

solidão (aparentemente) e têm ainda gran<strong>de</strong>s aptidões que po<strong>de</strong>m por <strong>ao</strong> serviço da<br />

comunida<strong>de</strong>, outros embora com algum grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração cognitiva sentem-se úteis a<br />

ajudar, a por a mesas, a <strong>do</strong>brar as roupas. Espontaneamente vê-se indivíduos com mais<br />

capacida<strong>de</strong> físicas a ajudar outros com mais dificulda<strong>de</strong>s.<br />

Temos <strong>de</strong> salientar que os lares também são procura<strong>do</strong>s por indivíduos que apesar <strong>de</strong> não<br />

serem consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos ten<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 50/60 anos sucumbiram às crises da meia-ida<strong>de</strong><br />

talvez pelo seu historial <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental <strong>ao</strong> longo da <strong>vida</strong> ter <strong>de</strong>ixa<strong>do</strong> as suas marcas, estes<br />

indivíduos ce<strong>do</strong> começam a <strong>de</strong>sistir da <strong>vida</strong> e são trazi<strong>do</strong>s pelos familiares ou<br />

encaminha<strong>do</strong>s pelos hospitais psiquiátricos por não se justificar lá a sua presença.<br />

Geralmente indivíduos com <strong>de</strong>pressões profundas e <strong>de</strong>sistência da <strong>vida</strong>, mas com<br />

tratamento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> (e adaptáveis <strong>ao</strong> contexto) começam a renascer no seio <strong>do</strong> próprio Lar<br />

e são uma mais-valia <strong>para</strong> toda a comunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolvem um “papel” <strong>de</strong>ntro da<br />

comunida<strong>de</strong>, adquirem um <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>, sublimam a <strong>de</strong>pressão pela “generosida<strong>de</strong> e<br />

25


altruísmo” vão formulan<strong>do</strong> objectivos.<br />

Para além das acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>vida</strong> diária e rotinas <strong>de</strong> tarefas <strong>do</strong> Lar, outras socioterapias e<br />

terapias <strong>de</strong> grupo que temos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> e que farão parte <strong>de</strong>ste <strong>projecto</strong>:<br />

Revisão <strong>de</strong> <strong>vida</strong> e Trabalho das Reminiscências (exemplos <strong>de</strong> trabalhos feitos em<br />

grupo colocar as autobiografias em forma <strong>de</strong> quadra e recitadas na festa <strong>do</strong> natal por um<br />

<strong>do</strong>s utentes)<br />

Dinâmicas <strong>de</strong> grupo <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> competências pessoais e sociais (adaptadas<br />

<strong>ao</strong> contexto): Estas acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s são estimula<strong>do</strong>ras das capacida<strong>de</strong>s cognitivas<br />

nomeadamente e principalmente a memória por isso são preventivas e promovem o<br />

conhecimento <strong>do</strong> grupo e o conhecimento <strong>do</strong> próprio em grupo <strong>de</strong> uma forma lúdica por<br />

isso divertida. São imensas as possibilida<strong>de</strong>s e temos <strong>ao</strong> longo <strong>de</strong>stes anos consegui<strong>do</strong><br />

bons resulta<strong>do</strong>s <strong>ao</strong> nível da participação e feedback;<br />

Terapias corporais: Gerontomotricida<strong>de</strong>, Psicomotricida<strong>de</strong>, Fisioterapia <strong>de</strong><br />

Recuperação e Manutenção; Bioenergética.<br />

Terapias Expressivas: Artes Plásticas, Arte terapia, Musicoterapias; Ateliês criativos<br />

varia<strong>do</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pintura à culinária com confecção <strong>de</strong> bolos, trabalho manuais <strong>para</strong><br />

oferecer à família e expor à comunida<strong>de</strong>;<br />

Ocupação <strong>do</strong>s tempos livres com Acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Animação recreativas e culturais<br />

viradas <strong>para</strong> o presente: Comemorar as festi<strong>vida</strong><strong>de</strong>s (Carnaval; Páscoa; Natal, São<br />

Martinho, São João, etc.), Artes plásticas – construin<strong>do</strong> os próprias mascaras; e<br />

lembranças referente à comemoração <strong>para</strong> oferecer <strong>ao</strong>s familiares; Debates temáticos<br />

(sobre a importância da cada uma das comemorações); Jogos Populares, Passeios e<br />

intercâmbio entre Lares durante as datas festivas;<br />

Dinâmicas <strong>de</strong> Grupos Mistas e exploratórias: po<strong>de</strong> começar por ser uma estimulação<br />

cognitiva principalmente da memória po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> tornar-se mais dinâmica com <strong>de</strong>bates <strong>de</strong><br />

temas mais existenciais (a <strong>vida</strong>, a morte, sexualida<strong>de</strong>, valores morais; emoções /<br />

sentimentos; felicida<strong>de</strong>, tristeza, etc.), é pouco estruturada e é o grupo que encaminha<br />

os temas ou o la<strong>do</strong> mais dinâmico ou cognitivo;<br />

26


3.4 - PROJECTO PARA A EQUIPA DE PRESTAÇÃO DE CUIDADOS<br />

“Um presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s é um profissional que cuida <strong>de</strong> uma pessoa (ou <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong><br />

pessoas) com preocupações ou problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>para</strong> ajudar a melhorar ou a manter a<br />

saú<strong>de</strong>, ou <strong>para</strong> acompanhar essa pessoa até à morte. Um profissional que não <strong>de</strong>ve, em<br />

caso algum, <strong>de</strong>struir a saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa pessoa.” (Gineste, Y. Pellissier, J. (2008).<br />

Quan<strong>do</strong> começámos a fazer o levantamento bibliográfico <strong>para</strong> este <strong>projecto</strong> <strong>de</strong>parámo-nos<br />

com um movimento filosófico <strong>do</strong> cuidar que tem a sua expressão no trabalho “La<br />

Métho<strong>do</strong>logie <strong>de</strong>s soins Gineste-Marescotti” e que vem assim resumi<strong>do</strong> num artigo<br />

português <strong>de</strong>signa<strong>do</strong><br />

Tabela 2 “ o significa<strong>do</strong> da filosofia da humanitu<strong>de</strong>, no contexto <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

enfermagem à pessoa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e vulnerável”:<br />

27


Este movimento inspira-nos <strong>para</strong> este <strong>projecto</strong> <strong>para</strong> presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, que é uma<br />

parte fundamental e dinamiza<strong>do</strong>ra quer <strong>do</strong>s princípios <strong>de</strong> ética e valores <strong>do</strong> cuidar como <strong>do</strong><br />

<strong>projecto</strong> individual, <strong>do</strong> <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> grupo e <strong>projecto</strong> das famílias.<br />

Os presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s são os que estão mais tempo estão com os utentes e os que<br />

mais entram na intimida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s utentes: Dão banho, vestem-nos, dão-lhes <strong>de</strong> comida <strong>ao</strong>s<br />

que precisam <strong>de</strong>stes tipos <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s. E relacionam-se com to<strong>do</strong>s os outros durante o dia.<br />

Pelo que <strong>de</strong>verá haver um sentimento e senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> em to<strong>do</strong>s os turnos.<br />

Neste senti<strong>do</strong> não há dú<strong>vida</strong> que o cuidar é relacional <strong>do</strong> toque à palavra po<strong>de</strong>-se renascer<br />

ou morrer. Charazac (2004) refere que a <strong>de</strong>terminada fase da <strong>de</strong>pendência psicológica <strong>do</strong><br />

indivíduo o cuida<strong>do</strong>r passa a ser o objecto em pessoa, ou seja, através da sua função <strong>de</strong><br />

maternagem é capaz <strong>de</strong> cuidar, conter e transformar as angústias <strong>de</strong> quem é cuida<strong>do</strong> e está<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> outros.<br />

Mas esta questão ainda é mais ampla, o presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s como ser humano que é,<br />

não consegue fugir a elementos transferênciais e contratransferenciais da relação com os<br />

utentes, cujo objecto por vezes é ambíguo, o envelhecimento seja normal ou patológico, os<br />

esta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>pressivos, a <strong>de</strong>mência, a morte, etc.<br />

Aqui também temos <strong>de</strong> estar atentos <strong>ao</strong> sofrimento <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s que<br />

também se po<strong>de</strong>rão manifestar a três níveis: mental, comportamental e somático. Ou como<br />

se começa a vulgarizar estarmos atentos <strong>ao</strong>s sinais <strong>de</strong> BURNOUT. (Delbrouck, M. 2006).<br />

Temos <strong>de</strong> fazer aqui um pequeno aparte, quan<strong>do</strong> começamos a investigar estas questões<br />

encontramos por exemplo os Grupos Balint que na sua origem foram cria<strong>do</strong>s <strong>para</strong> os<br />

médicos melhorarem as suas capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamento com os <strong>do</strong>entes. O próprio<br />

trabalho referente à filosofia da Humanitu<strong>de</strong> é direcciona<strong>do</strong> <strong>para</strong> Enfermeiros. Quer os<br />

médicos, quer os enfermeiros têm objecto <strong>de</strong> profissão <strong>de</strong>limita<strong>do</strong>s.<br />

Será possível fazer um trabalho <strong>de</strong>stes direcciona<strong>do</strong> <strong>para</strong> Ajudantes <strong>de</strong> Lar, não seria bem<br />

mais útil e interessante englobá-los nos cursos <strong>de</strong> Ajudante <strong>de</strong> Geriatria? Outra questão é a<br />

questão <strong>do</strong> perfil, que perfil <strong>de</strong>verá ter o presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s? É possível formar perfis a<br />

mulheres com 50 anos? E se dissesse que cerca <strong>de</strong> 80% das pessoas que procuram<br />

emprego como ajudante <strong>de</strong> Lar, tem perturbações graves <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>, cleptomania,<br />

indiferença afectiva. Salvem-nos os 20% <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>dicadas e cheias afecto <strong>para</strong> dar e<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r e crescer.<br />

28


É importante haver uma política <strong>de</strong> recursos humanos <strong>para</strong> os lares.<br />

Da parte <strong>de</strong>ste <strong>projecto</strong>, gostaríamos <strong>de</strong> contribuir com espaços <strong>para</strong> a equipa e o apoio<br />

individual quan<strong>do</strong> necessário:<br />

Grupos <strong>de</strong> compreensão e aquisição <strong>de</strong> competências <strong>de</strong> relacionamento:<br />

Estes grupos serão antes <strong>de</strong> mais grupos <strong>de</strong> verbalização que acreditamos ser um meio<br />

indica<strong>do</strong> <strong>de</strong> escoamento <strong>de</strong> algumas ansieda<strong>de</strong>s ou angustias que este tipo <strong>de</strong> trabalha<strong>do</strong><br />

por vezes po<strong>de</strong>rá levar os presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s a sentir. Mas também é um espaço que<br />

permite <strong>de</strong>limitar o que é interno e o que é externo.<br />

O primeiro “Continente” <strong>de</strong>sses “Conteú<strong>do</strong>s” (Bion in ) é a compreensão <strong>do</strong>s objectivos <strong>do</strong><br />

<strong>projecto</strong> individual “caso-a-caso” que passa por conhecer as angustias que lhe estão<br />

inerentes e que possibilida<strong>de</strong>s temos <strong>de</strong> lidar com elas compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> que po<strong>de</strong>m ter<br />

algum impacto em nós, mas essa é uma questão profissional que obe<strong>de</strong>ce a valores<br />

fundamentais <strong>do</strong> cuidar.<br />

Equilibrio Somatopsiquico (a “estabilida<strong>de</strong>” <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da satisfação <strong>de</strong> certos factores<br />

físicos objectivo e subjectivos que varia <strong>de</strong> caso em caso e que se manifestam em<br />

termos psicológicos, comportamentais ou somáticos);<br />

Os <strong>de</strong>sequilíbrios e as Angustias (apren<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>cifrar e agir em caso <strong>de</strong> angustia <strong>de</strong><br />

perda <strong>de</strong> objecto, <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no, <strong>de</strong> castração);<br />

Funções <strong>de</strong> Maternagem (também funções <strong>de</strong> contenção das angustias como proteger,<br />

cuidar, olhar, falar, tocar, acalmar, mas também funções <strong>de</strong> saber se<strong>para</strong>r);<br />

Questões transferências e contratransferenciais <strong>do</strong> cuidar;<br />

Questões éticas: A contenção e o utente em resistência;<br />

Estas questões numa linguagem comum, acessível e objectiva complementadas caso<br />

necessários com dinâmicas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento pessoal (perícias <strong>de</strong> comunicação,<br />

confiança, etc.) po<strong>de</strong>rão ser uma motivação suplementar <strong>para</strong> o investimento no <strong>projecto</strong><br />

geral e os presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s sentirem-se uma parte fundamental da execução <strong>de</strong><br />

to<strong>do</strong>s os <strong>projecto</strong>s.<br />

29


3.5 - PROJECTO PARA AS FAMILIAS<br />

Embora o nosso <strong>projecto</strong> seja essencialmente direcciona<strong>do</strong> <strong>para</strong> o utente e presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong><br />

cuida<strong>do</strong>s e o investimento que isso acarreta faz com que certas solicitações <strong>do</strong>s familiares,<br />

às vezes, pareçam “intrusivas” <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a conflitualida<strong>de</strong>s familiares pré-existentes que<br />

funcionam como sintomas repetitivos <strong>de</strong> um passa<strong>do</strong> que se actualiza, é praticamente<br />

impossível <strong>ao</strong> Lar fazer terapias familiares.<br />

No entanto este ano abrimos alguns espaços socioterapeuticos a alguns familiares<br />

nomeadamente na participação das dinâmicas <strong>de</strong> grupo sobre as histórias <strong>de</strong> <strong>vida</strong> na<br />

elaboração em “quadra” <strong>para</strong> a festa <strong>de</strong> natal (ver anexo.). E espontaneamente surgiram<br />

pontos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação em relação a alguns temas, a filha <strong>de</strong> um <strong>do</strong>ente <strong>de</strong>mencia<strong>do</strong> contou<br />

a história <strong>do</strong> pai e <strong>de</strong> uma forma espontânea criaram-se laços e intimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma forma<br />

agradável e construtiva.<br />

Trazer as famílias <strong>para</strong> certas acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s po<strong>de</strong> ter um efeito positivo no investimento <strong>de</strong><br />

ambos no <strong>projecto</strong> individual. Mas o mais importante quan<strong>do</strong> a pessoa entra <strong>para</strong> o Lar é<br />

i<strong>de</strong>ntificar que pessoas na família com os quais o utente tem uma ligação afectiva forte e<br />

prepon<strong>de</strong>rância positiva na sua estabilida<strong>de</strong> e saber qual a sua disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

participação no <strong>projecto</strong>, o exemplo da neta da senhora R como:<br />

Função <strong>de</strong> trasicionalida<strong>de</strong> e pára-excitações:<br />

Fui chama<strong>do</strong> <strong>ao</strong> Lar <strong>de</strong> Madrugada por situação <strong>de</strong> crise da Senhora R na sua primeira<br />

noite, gritos <strong>de</strong> acordar o Lar inteiro e incapacida<strong>de</strong> das presta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s conter a<br />

situação. Ao chegar <strong>ao</strong> Lar a Senhora R reconheceu-me mas não reconhecia o que ali fazia,<br />

porque estava a sua protecção <strong>de</strong> incontinência no chão e que teria si<strong>do</strong> a agredida pela<br />

presta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s e que queria e exigia a presença da família, falamos durante hora e<br />

meia e consegui acalmar, falan<strong>do</strong> da questão <strong>do</strong> ambiente novo, das questões da vergonha<br />

e humilhação da incontinência, da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reformulação <strong>de</strong> uma “nova fase da <strong>vida</strong>”<br />

não menos dignificante e comprometi-me a contactar a família <strong>de</strong> manhã.<br />

No dia seguinte a mesma crise a seguir <strong>ao</strong> almoço e muita <strong>de</strong>sorientação em to<strong>do</strong>s os<br />

presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s. Conversei com a senhora R cerca <strong>de</strong> 2 horas sobre os mesmos<br />

temas. Alertei a to<strong>do</strong>s os presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s que se tratava <strong>de</strong> uma adaptação e que a<br />

situação estava a criar uma forte Angustia <strong>de</strong> Se<strong>para</strong>ção, <strong>de</strong> Receio <strong>de</strong> Aban<strong>do</strong>no, pon<strong>do</strong><br />

em causa a permanência <strong>do</strong> objecto interno já que mais tar<strong>de</strong> fez um crise confusional<br />

30


espacio-temporal mas reconheceu que teria um problema e pediu ajuda <strong>de</strong> uma forma<br />

meiga. Nesta fase mobilizei a neta <strong>para</strong> quan<strong>do</strong> esta tinha situações <strong>de</strong> crise e orientei a<br />

direcção <strong>do</strong> discurso <strong>para</strong> os receios <strong>de</strong> se<strong>para</strong>ção, angustia perante a mudança. Esta Neta<br />

chegou a colaborar no banho, no regressar <strong>para</strong> a cama. Pouco a pouco a Senhora R<br />

apesar <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>primida ganhou confiança no ambiente é uma pessoa meiga, participa<br />

nas acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s e solicitou-me <strong>para</strong> ter um papel e participação nas tarefas diárias<br />

(socioterapia) e teve durante a tar<strong>de</strong> a <strong>de</strong>scascar legumes <strong>para</strong> a sopa. Passa<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong><br />

<strong>de</strong> crise vamos agora elaborar um <strong>projecto</strong> individual <strong>para</strong> a Senhora R.<br />

Trabalho <strong>de</strong> Luto: Este trabalho começa a ser feito quase <strong>de</strong> uma forma natural quan<strong>do</strong><br />

os i<strong>do</strong>sos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> avançada dão entrada no Lar e surgem expressões nos próprios ou<br />

familiares como “com esta ida<strong>de</strong> já não se espera muito” ou “com tanta <strong>do</strong>ença não sei<br />

como ainda está vivo” são motes <strong>para</strong> se abordar o assunto. Mais complica<strong>do</strong> são as<br />

situações <strong>de</strong> morte súbita ou situações on<strong>de</strong> impera a <strong>de</strong>sconfiança e a negação. Deve-<br />

se tentar abordar o assunto logo <strong>de</strong> inicio. Parece por vezes necessário e saudável<br />

começar a fazer luto em <strong>vida</strong> ainda e <strong>de</strong>spedir-se com sentimento <strong>de</strong> gratidão que negar<br />

e projectar;<br />

31


4. CASOS PRÁTICOS<br />

A Senhora J – Recuperação <strong>de</strong> fractura <strong>ao</strong> cólo-<strong>do</strong>-fémur – um caso <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença <strong>de</strong><br />

Parkinson com multi-patologias associadas. Possibilida<strong>de</strong>s e impossibilida<strong>de</strong>s<br />

A senhora J entrou no Lar trazida pela ambulância vinda <strong>do</strong> hospital on<strong>de</strong> teria si<strong>do</strong><br />

submetida a uma intervenção cirúrgica <strong>ao</strong> colo-<strong>do</strong>-fémur com implementação <strong>de</strong> prótese.<br />

Durante os primeiros contactos a família terá referi<strong>do</strong> que a senhora até a data da queda era<br />

completamente autónoma e vivia sozinha mas que <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> <strong>ao</strong> seu quadro clínico <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença<br />

<strong>de</strong> Parkinson <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 15 anos terá caí<strong>do</strong> e assim fractura<strong>do</strong> o colo-<strong>do</strong>-femur e que viria<br />

<strong>para</strong> o Lar fazer recuperação.<br />

No entanto a filha da D.J terá solicita<strong>do</strong> que <strong>ao</strong> comunicarmos com a D.J referíssemos que<br />

ela estaria numa clínica <strong>para</strong> fazer recuperação. Esta situação comporta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo <strong>do</strong>is<br />

equívocos por um la<strong>do</strong> criação <strong>de</strong> uma ilusão e por outro o subverter e manipular as regras<br />

<strong>do</strong> nosso trabalho.<br />

Á entrada no Lar, verificamos que a D.J <strong>para</strong> além <strong>de</strong> Parkinson, era diabética, tinha HTA,<br />

tinha um historial vasto <strong>de</strong> infecções urinárias e respiratórias, insuficiência renal e estava<br />

entubada com sonda naso-gástrica mas que tinha recomendação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sentubação e<br />

<strong>de</strong>salgaliação.<br />

A relação com a filha era muito instável e <strong>de</strong> agressão mutua e com ameaças <strong>de</strong> morte<br />

(suicídio passivo) por parte da D.J que quereria ir <strong>para</strong> uma casa da al<strong>de</strong>ia e lá ir morrer. A<br />

D.J durante um perío<strong>do</strong> mostrou ainda alguma vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> recuperação até que as<br />

<strong>de</strong>silusões relativas <strong>ao</strong>s seus objectivos a levaram a <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> comer, recusa das tomas das<br />

medicações e a ter novas infecções quer respiratórias, quer urinárias ten<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser<br />

novamente hospitalizada.<br />

Este vaivém repetiu-se por três, quatro vezes, e refira-se também que uma das vezes que<br />

piorou foi nitidamente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ir <strong>ao</strong> notário por a sua casa em nome <strong>do</strong> neto. Mas senhora<br />

chegava <strong>ao</strong> hospital e entrava numa espécie <strong>de</strong> “nova negociação com a filha” que lhe<br />

levava e lhe dava as comidas, bolos e sumos que a senhora J <strong>de</strong>sejava.<br />

Após uma conversa com a Senhora J. pedi uma reunião com a família <strong>para</strong> partilhar com<br />

eles os <strong>de</strong>sejos que a utente me tinha partilha<strong>do</strong> em relação a um possível <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>,<br />

32


ou seja, abrir espaço <strong>ao</strong> investimento e a todas as trocas e compromissos da parte <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s<br />

que isso implica.<br />

Devo salientar que o inicio da reunião foi logo um ataque à organização, situação à qual<br />

respon<strong>de</strong>mos na tentativa <strong>de</strong> centrar a questão num compromisso <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s. Mas<br />

<strong>de</strong>sta reunião on<strong>de</strong> <strong>de</strong>batemos os aspectos comportamentais da utente como a recusa<br />

alimentar e recusa da toma <strong>do</strong>s medicamentos (vomitava tu<strong>do</strong> o que comia e quan<strong>do</strong><br />

pensava em comer antes <strong>de</strong> comer já estava com vómitos), introduziu-se o tema que já<br />

tinha <strong>de</strong>bati<strong>do</strong> com a utente “a morte <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> e o luto não elabora<strong>do</strong>”, e os aspectos <strong>do</strong>s<br />

<strong>de</strong>sejos não respeita<strong>do</strong>s.<br />

Nesta reunião familiar pu<strong>de</strong> verificar a técnica que o genro utilizava <strong>para</strong> a persuadir a tomar<br />

as medicações e a comer, ou seja, só comia <strong>de</strong>terminadas comidas.<br />

Projecto <strong>de</strong> <strong>vida</strong> <strong>para</strong> a senhora J<br />

Doente parkinsónico e multipatologias <strong>do</strong> foro médico com complicações pós-<br />

operatórias: as possibilida<strong>de</strong>s e impossibilida<strong>de</strong>s.<br />

Após a análise <strong>de</strong> toda a situação elaborámos um <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> estabilização somatopsiquica<br />

da Senhora J com os seguintes ingredientes:<br />

Intervenção na Crise <strong>para</strong> estabilização somatopsiquica:<br />

1. Negociação terapêutica<br />

2. Psicoterapia na acção<br />

3. Orientação à prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />

4. Socioterapia<br />

1. Negociação Terapêutica<br />

Em conjunto com Senhora J, i<strong>de</strong>ntificamos na sua história o luto não elabora<strong>do</strong> com cerca<br />

<strong>de</strong> 3 anos, reformulamos a alimentação e abrimos um espaço à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

realizar os seus <strong>de</strong>sejos mas <strong>de</strong> uma forma realista e passo-a-passo. O primeiro passo seria<br />

o da toma das medicações (no caso <strong>de</strong> Parkinson tinha tomas <strong>de</strong> <strong>do</strong>pamina até 5 vezes <strong>ao</strong><br />

dia) e da alimentação <strong>de</strong> forma a ganhar forças e atingir um ponto <strong>de</strong> estabilização. Na troca<br />

<strong>do</strong> seu esforço comia praticamente e diferente da ementa <strong>do</strong> Lar as comidas que lhe<br />

apetecesse acompanhadas <strong>de</strong> sumos uma espécie <strong>de</strong> realização <strong>do</strong>s <strong>de</strong>sejos.<br />

33


2. Psicoterapia na acção<br />

Eu próprio dava as refeições a esta senhora estudava to<strong>do</strong>s os pormenores como as tomas<br />

<strong>do</strong>s medicamentos só funcionavam com o sumo, falávamos da sua <strong>de</strong>pressão que seria a<br />

causa da anorexia e vómitos realçávamos a força que teve durante a <strong>vida</strong> a enfrentar e<br />

ultrapassar as dificulda<strong>de</strong>s. Ao inicio só <strong>de</strong> ver a medicação tinha vómitos, pouco a pouco o<br />

pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> controlo <strong>do</strong> vómito começou a funcionar. Era uma relação com toque, carícias.<br />

Estas refeições iam <strong>de</strong> 1 a 2 horas. Mas na verda<strong>de</strong> começaram a surtir efeito, pouco a<br />

pouco a senhora J começou a comer pela sua mão e iniciava a conversa: “ a <strong>de</strong>pressão é<br />

uma <strong>do</strong>ença grave…”<br />

3. Orientação à prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />

Este terceiro aspecto ou fase é fulcral <strong>para</strong> a continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> tratamento que é orientar<br />

to<strong>do</strong>s os presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>para</strong> a mesma filosofia <strong>de</strong> intervenção que é o<br />

investimento no <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> (fase <strong>de</strong> estabilização) da Senhora J. Este investimento<br />

implica algumas transferências e contratrasferencias é necessário ter funções <strong>de</strong><br />

maternagem, tolerância à frustração, enten<strong>de</strong>r o que é solicita<strong>do</strong>, transformar as angustias<br />

mais intoleráveis em novas perspectivas. Algumas funcionárias (presta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s)<br />

conseguiram seguir e compreen<strong>de</strong>r a filosofia outras nem por isso – esta é uma questão<br />

muito <strong>de</strong>licada que tem a ver com o perfil <strong>de</strong> ser presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s.<br />

4. Socioterapia<br />

Ao abordarmos a história <strong>de</strong> <strong>vida</strong> da senhora J na sua dimensão Social e ocupacional<br />

(perícias, motivações, interesses), constatamos a apetência, gosto e realização que esta<br />

senhora tinha pela confecção <strong>de</strong> <strong>do</strong>ces e salga<strong>do</strong>s, como estávamos a chegar próximo <strong>do</strong><br />

Natal esta senhora dirigiu uma mesa em que to<strong>do</strong>s os utentes partici<strong>para</strong>m na confecção <strong>de</strong><br />

bôlas e bolos <strong>para</strong> o natal. É um momento in<strong>de</strong>scritível um grupo completamente varia<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

pessoas on<strong>de</strong> os com <strong>de</strong>mência também participavam, a cortar boca<strong>do</strong> <strong>de</strong> carne o fiambre,<br />

a pre<strong>para</strong>r a massa <strong>para</strong> fazer uma bôla. Esta acti<strong>vida</strong><strong>de</strong> tinha um duplo senti<strong>do</strong> que era a<br />

realização <strong>de</strong> uma perícia ou competência, <strong>ao</strong> mesmo tempo que se sentia realizada por ter<br />

um papel no grupo e ainda quan<strong>do</strong> tinhas as crises em relação à comida, apetite <strong>para</strong> bôlas,<br />

croquetes, pasteis, empadas a senhora tinha sempre.<br />

34


Está Estabilizada e agora?<br />

Foi com gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>silusão minha que me apercebi que o esta<strong>do</strong> da senhora se tinha<br />

agrava<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> volta<strong>do</strong> as infecções após a notícia que a filha lhe terá transmiti<strong>do</strong> que iria<br />

mudar <strong>de</strong> lar <strong>para</strong> estar mais próxima <strong>de</strong>la. Estas mudanças repentinas são fatais <strong>para</strong> a<br />

maioria <strong>do</strong>s utentes, mas esperamos que a intenção <strong>de</strong> “reinvestimento” <strong>de</strong>sta filha aju<strong>de</strong> a<br />

senhora J a realizar as suas intenções <strong>de</strong> um dia regressar e ir morrer à sua terra. A<br />

questão das famílias e o papel das famílias também é <strong>de</strong>licada pois é difícil um Lar po<strong>de</strong>r<br />

trabalhar as dinâmicas familiares, mas pensamos que a família <strong>de</strong>ve ter um papel activo e<br />

participar no <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> <strong>do</strong> seu familiar.<br />

35


A Senhora M, Recuperação da Operação <strong>ao</strong> Cólo-<strong>do</strong>-Fémur. Um caso <strong>de</strong> somatizações<br />

inespecíficas com fun<strong>do</strong> <strong>de</strong>pressivo. O Sucesso da Recuperação<br />

Excerto <strong>de</strong> um <strong>relatório</strong> <strong>para</strong> tribunal pedi<strong>do</strong> pela família pois apesar <strong>de</strong> a perna da senhora<br />

ter si<strong>do</strong> partida por um condutor <strong>de</strong> carinhos <strong>de</strong> compras que violentamente partiu o cólo-<strong>do</strong>-<br />

fémur da senhora M num Hipermerca<strong>do</strong> conheci<strong>do</strong> encaminharam a situação <strong>para</strong> tribunal<br />

queren<strong>do</strong> solicitar na altura a culpa à própria senhora.<br />

A senhora M, 74 anos, observada pela primeira vez em contexto <strong>de</strong> internamento em<br />

Lar Resi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong> I<strong>do</strong>sos com valência <strong>de</strong> apoio psicológico e reabilitação psicossocial no<br />

qual permaneceu durante <strong>do</strong>is meses, com o objectivo <strong>de</strong> consolidar recuperação <strong>de</strong><br />

fractura <strong>ao</strong> colo <strong>do</strong> fémur, investigação <strong>de</strong> tremores inespecíficos segui<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>smaios,<br />

insónias, perda total na confiança <strong>de</strong> si, das suas capacida<strong>de</strong>s e da sua autonomia.<br />

Ao início da data referida, a senhora M, apresentava-se emagrecida, sempre com roupas<br />

escuras revela<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> luto, porta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> uma ansieda<strong>de</strong> generalizada e crenças i<strong>de</strong>ativas<br />

persecutórias relativas a alguns aci<strong>de</strong>ntes que lhe tinham surgi<strong>do</strong> nos últimos tempos em<br />

relação <strong>ao</strong>s quais <strong>de</strong>senvolveu me<strong>do</strong>, <strong>de</strong>scrença, intencionalida<strong>de</strong> e perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> confusão.<br />

Refere estes acontecimentos a morte <strong>do</strong> esposo, “terem-lhe parti<strong>do</strong> a perna<br />

intencionalmente”, e a medicação que estaria na origem da trombocitopénia (numero<br />

reduzi<strong>do</strong> <strong>de</strong> plaquetas sanguíneas) e confusão mental.<br />

Durante as primeiras avaliações e apesar <strong>do</strong> discurso <strong>de</strong> Maria Rita Men<strong>de</strong>s ter uma<br />

tonalida<strong>de</strong> negativa, mostrou-se coerente, bastante gramatical e fluente, com excelente<br />

capacida<strong>de</strong> cognitiva revelada pelo MMS (Mini- Mental State) on<strong>de</strong> obteve nota máxima<br />

(30/30) e que permite o rastreio e <strong>de</strong>spiste <strong>de</strong> <strong>de</strong>mência:<br />

Orientada no tempo e no espaço (pontuação máxima 10/10);<br />

Memória <strong>de</strong> Retenção, curto prazo e evocação intactas (6/6);<br />

Atenção e Cálculo intactos (5/5);<br />

Linguagem, nomeação, compreensão, construção gramatical intactas (8/8);<br />

Habilida<strong>de</strong> construtiva correcta (1/1);<br />

36


Foi ainda avaliada pela técnica projectiva <strong>de</strong> Rorschach e TAT, <strong>para</strong> <strong>de</strong>spiste <strong>de</strong><br />

psicopatologia não orgânica que pu<strong>de</strong>sse revelar alucinações, confusão entre realida<strong>de</strong> e<br />

fantasia, tais como, psicose, esquizofrenia, patologias <strong>de</strong> tipo narcísicas e <strong>de</strong>terioração<br />

mental.<br />

No entanto, a maioria <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s das respostas tanto no Rorschach e confirmadas pelo<br />

TAT, foram bem enquadradas, revelan<strong>do</strong> mesmo um número bem normativo <strong>de</strong> banalida<strong>de</strong>s<br />

que revelam boa integração e socialização, uma boa distinção entre fantasia e realida<strong>de</strong>,<br />

apesar <strong>de</strong> algumas respostas revela<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> somática (conteú<strong>do</strong>s <strong>de</strong> anatomia),<br />

no entanto sempre numa dinâmica Neurótica diferencia<strong>do</strong>ra entre fantasia e realida<strong>de</strong>.<br />

Seguiu-se ainda e em colaboração com o clínico assistente <strong>do</strong> lar, uma linha <strong>de</strong><br />

investigação médica objectiva <strong>para</strong> <strong>de</strong>spiste <strong>de</strong> lesão <strong>de</strong> órgão na base <strong>de</strong> possível<br />

sintomatologia <strong>de</strong> <strong>de</strong>terioração ou alteração mental, foram feitos vários conjuntos <strong>de</strong> análise<br />

metabólicas (analises <strong>de</strong> sangue e urina) e neurológicas como TAC crânio encefálico,<br />

exames esses completamente normais.<br />

Durante o internamento, teve acompanhamento psicológico regular (psicoterapia), integrou<br />

várias acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> estimulação cognitivo-emocional, na perspectiva da reabilitação física<br />

e psicossocial.<br />

Durante este perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 2 meses, as crises <strong>de</strong> tremores e <strong>de</strong>smaios diminuíram, verificou-<br />

se uma melhoria <strong>ao</strong> nível da auto-estima com bom <strong>de</strong>sempenho nas acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s, plena<br />

autonomia nas acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>vida</strong> diária, <strong>ao</strong> ponto <strong>de</strong> lavar a sua própria roupa, maior<br />

confiança no andar, ten<strong>do</strong> experimenta<strong>do</strong> alguns passeios fora lar fazen<strong>do</strong> as suas compras<br />

num regime <strong>de</strong> experimentação bem sucedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> maior autonomia.<br />

Neste ponto, acor<strong>do</strong>u-se entre as partes que, Maria Rita Men<strong>de</strong>s e apesar <strong>de</strong> ainda<br />

manifestar algum grau <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> generalizada <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> <strong>ao</strong> me<strong>do</strong> <strong>de</strong> voltar a ter algum<br />

37


aci<strong>de</strong>nte e probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> voltar a ser institucionalizada, estaria pronta <strong>para</strong> <strong>de</strong> uma<br />

forma experimental tentar voltar a viver sozinha na sua casa.<br />

Acor<strong>do</strong>u-se ainda, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> continuar a trabalhar a melhoria da sua auto-estima,<br />

confiança nas suas capacida<strong>de</strong>s e reconquista <strong>de</strong> autonomia, que seria acompanhada em<br />

ambulatório em sessões quinzenais <strong>de</strong> apoio psicológico num processo lento <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a todas<br />

a condicionantes da própria ida<strong>de</strong>. Acompanhamento que continua a verificar-se até à data<br />

da elaboração <strong>de</strong>ste <strong>relatório</strong> com resulta<strong>do</strong>s positivos, pois continua a viver sozinha, com<br />

mais esperança continuan<strong>do</strong> a ter um <strong>projecto</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong>.<br />

É <strong>de</strong> salientar que o que <strong>de</strong>fine este caso <strong>para</strong> além <strong>do</strong>s recursos internos <strong>do</strong> sujeito e o<br />

trabalho psicológico que tem si<strong>do</strong> feito até hoje com muito sucesso, é o apoio e a relação<br />

familiar.<br />

38


Referências Bibliográficas<br />

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<strong>de</strong> Boas Práticas: Um guia <strong>de</strong> acolhimento resi<strong>de</strong>ncial das pessoas mais velhas <strong>para</strong><br />

dirigentes, profissionais, resi<strong>de</strong>ntes e familiares, Instituto da segurança Social, I. P. Lisboa.<br />

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Direitos, Princípios e Valores <strong>do</strong> Cuidar<br />

Anexos 1<br />

Os princípios e valores em que assenta o cuidar <strong>do</strong> outro em acolhimento resi<strong>de</strong>ncial têm a<br />

sua génese nos direitos fundamentais que <strong>de</strong>vem ser promovi<strong>do</strong>s e garanti<strong>do</strong>s a to<strong>do</strong>s os<br />

resi<strong>de</strong>ntes, famílias, colabora<strong>do</strong>res, dirigentes, especialistas e to<strong>do</strong>s os restantes com quem<br />

a organização se relacione. De entre os princípios e valores <strong>do</strong> cuidar relevam<br />

especialmente:<br />

Dignida<strong>de</strong><br />

A dignida<strong>de</strong> da pessoa humana pelo simples facto <strong>de</strong> ser pessoa é fundamento <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os<br />

valores e princípios que constituem substrato <strong>do</strong>s direitos que lhe são reconheci<strong>do</strong>s. São <strong>de</strong><br />

evitar pelos colabora<strong>do</strong>res da estrutura resi<strong>de</strong>ncial - e por to<strong>do</strong>s os resi<strong>de</strong>ntes - expressões<br />

que diminuam uma pessoa. Nunca se <strong>de</strong>ve, por exemplo, falar <strong>de</strong> alguém na sua presença<br />

como se ele ou ela não estivesse ali.<br />

Respeito<br />

Quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>monstramos respeito por uma pessoa, estamos a transmitir-lhe apreço por aquilo<br />

que é. Significa também que a temos em consi<strong>de</strong>ração naquilo que fazemos com ela e <strong>para</strong><br />

ela. O respeito tem que estar presente em toda a <strong>vida</strong> quotidiana <strong>de</strong> uma estrutura<br />

resi<strong>de</strong>ncial.<br />

Uma forma importante <strong>de</strong> respeitar o outro é ter em conta a sua <strong>vida</strong> passada. O resi<strong>de</strong>nte<br />

não corta laços com o passa<strong>do</strong> <strong>ao</strong> ingressar na estrutura resi<strong>de</strong>ncial. Assim, ele <strong>de</strong>ve, por<br />

exemplo, po<strong>de</strong>r fazer-se acompanhar <strong>do</strong>s seus objectos pessoais, recordações e, caso haja<br />

condições, mobiliário e animais <strong>de</strong> estimação.<br />

Individualida<strong>de</strong><br />

Cada pessoa tem características biológicas e experiências <strong>de</strong> <strong>vida</strong> que <strong>de</strong>finem a sua<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a distinguem <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais. Embora possamos ter muitas características comuns,<br />

encontramos diferentes gostos, crenças, opiniões e atitu<strong>de</strong>s mesmo <strong>de</strong>ntro da mesma<br />

família.<br />

Quan<strong>do</strong> trabalhamos numa estrutura resi<strong>de</strong>ncial, reconhecer e respeitar a diferença é uma<br />

forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar que valorizamos as pessoas com quem nos relacionamos.<br />

Reconhecer a individualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> resi<strong>de</strong>nte passa por coisas aparentemente tão comuns<br />

como perguntar-lhe como é que quer ser trata<strong>do</strong>. Pelo nome? Nome e apeli<strong>do</strong>? Título<br />

académico? Por “tu” ou por “você”? Ao agir segun<strong>do</strong> este princípio contribuímos <strong>para</strong> um<br />

relacionamento que preserve a dignida<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s e <strong>de</strong> cada pessoa em particular.<br />

Autonomia<br />

O respeito pela individualida<strong>de</strong> implica, necessariamente, o respeito e a promoção da<br />

autonomia <strong>do</strong> resi<strong>de</strong>nte. A estrutura resi<strong>de</strong>ncial não é um local on<strong>de</strong> a pessoa aguarda pela<br />

morte, mas sim a sua casa, on<strong>de</strong> vive uma fase importante da sua existência.<br />

A direcção e os colabora<strong>do</strong>res da estrutura resi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong>vem encorajar o resi<strong>de</strong>nte a ser<br />

responsável por si próprio e a executar ele mesmo todas as tarefas que <strong>de</strong>seje e <strong>de</strong> que<br />

seja capaz. Ninguém se <strong>de</strong>ve substituir <strong>ao</strong> resi<strong>de</strong>nte nessas tarefas sob o argumento <strong>de</strong><br />

maior funcionalida<strong>de</strong> ou rapi<strong>de</strong>z. A estrutura resi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong>ve ter condições que promovam a<br />

autonomia e facilitem a mobilida<strong>de</strong>, nomeadamente a nível <strong>do</strong> espaço físico e mobiliário, e<br />

da humanida<strong>de</strong> com que se prestam pequenas ajudas, capazes <strong>de</strong> ajudar a manter o autocuida<strong>do</strong>,<br />

a auto-estima e a promover a autonomia.<br />

40


Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher<br />

É muito importante <strong>para</strong> o bem-estar emocional e físico <strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes terem oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> fazer escolhas e <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões. Se assim não for, limita-se a autonomia violan<strong>do</strong>-se,<br />

o princípio <strong>do</strong> respeito pela pessoa <strong>do</strong> resi<strong>de</strong>nte e sua auto<strong>de</strong>terminação.<br />

Devemos encorajar os resi<strong>de</strong>ntes a <strong>de</strong>cidirem, tanto quanto possível, o que querem comer e<br />

quan<strong>do</strong>, o que fazer <strong>ao</strong> longo <strong>do</strong> dia, o que querem vestir, a hora a que se querem <strong>de</strong>itar ou<br />

levantar.<br />

Privacida<strong>de</strong> e intimida<strong>de</strong><br />

A consi<strong>de</strong>ração pela pessoa implica o respeito pela sua privacida<strong>de</strong> e intimida<strong>de</strong>.<br />

Correspon<strong>de</strong>m a necessida<strong>de</strong>s profundas <strong>de</strong> todas as pessoas e não diminuem com a<br />

ida<strong>de</strong>. Dai que <strong>de</strong>ve haver a maior preocupação e <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za em tu<strong>do</strong> o que se pren<strong>de</strong> com<br />

a privacida<strong>de</strong> e intimida<strong>de</strong> das pessoas mais velhas.<br />

Merece especial atenção a sua garantia em todas as intervenções que respeitem à higiene<br />

íntima, às relações com os outros, à correspondência, às chamadas telefónicas e a to<strong>do</strong>s os<br />

problemas e questões pessoais e familiares.<br />

Confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong><br />

O resi<strong>de</strong>nte tem direito <strong>ao</strong> respeito pela confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os elementos da sua<br />

<strong>vida</strong> relativos à sua privacida<strong>de</strong> e intimida<strong>de</strong>.<br />

To<strong>do</strong>s os elementos da estrutura resi<strong>de</strong>ncial - directores, colabora<strong>do</strong>res, resi<strong>de</strong>ntes,<br />

familiares ou amigos - <strong>de</strong>vem respeitar essa confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong>, não divulgan<strong>do</strong> nunca<br />

informações sobre a <strong>vida</strong> íntima e privada <strong>do</strong> resi<strong>de</strong>nte. O cumprimento <strong>do</strong> <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />

confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong> é também elemento fundamental nas relações entre todas as pessoas<br />

implicadas na intervenção da estrutura resi<strong>de</strong>ncial.<br />

Igualda<strong>de</strong><br />

Ninguém po<strong>de</strong> ser privilegia<strong>do</strong> ou prejudica<strong>do</strong> em função da ida<strong>de</strong>, <strong>do</strong> seu sexo, religião,<br />

orientação sexual, cor da pele, opinião política, situação económica, situação social ou<br />

condição <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Todas as pessoas têm as preferências, afinida<strong>de</strong>s, simpatias e<br />

antipatias, ou i<strong>de</strong>ias pré-concebidas, mas elas não po<strong>de</strong>m interferir com a prestação <strong>de</strong><br />

cuida<strong>do</strong>s.<br />

Temos <strong>de</strong> ter em conta que os nossos preconceitos manifestam-se na atitu<strong>de</strong> que temos em<br />

relação <strong>ao</strong>s <strong>de</strong>mais e afectam, inevitavelmente, o nosso <strong>de</strong>sempenho humano e<br />

profissional. Há que vencer esses preconceitos e respeitar o princípio da não discriminação.<br />

Participação<br />

Os resi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>vem po<strong>de</strong>r participar na <strong>vida</strong> da estrutura resi<strong>de</strong>ncial. Deve existir um livro<br />

<strong>de</strong> sugestões e a direcção <strong>de</strong>ve tomar a iniciativa <strong>de</strong> chamá-los a dar o seu parecer sobre o<br />

regulamento interno, nomeadamente através <strong>de</strong> um conselho <strong>de</strong> resi<strong>de</strong>ntes.<br />

Decisões que afectem a comunida<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>ncial não <strong>de</strong>vem ser tomadas, nem<br />

implementadas sem serem antes tornadas públicas e explicadas <strong>ao</strong>s resi<strong>de</strong>ntes, que <strong>de</strong>vem<br />

po<strong>de</strong>r exprimir-se sobre elas e apresentar sugestões.<br />

O plano <strong>de</strong> acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s também <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>bati<strong>do</strong> com os resi<strong>de</strong>ntes, que têm uma palavra<br />

a dizer sobre a escolha <strong>do</strong>s passeios, os <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> férias e outras acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s.<br />

To<strong>do</strong>s estes valores e princípios <strong>de</strong>vem ter expressão na concretização <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong>s<br />

resi<strong>de</strong>ntes.<br />

41


A opção <strong>de</strong> viver numa estrutura resi<strong>de</strong>ncial não retira à pessoa a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exercício<br />

<strong>do</strong>s seus direitos. A fragilida<strong>de</strong> que frequentemente motiva a opção pelo acolhimento<br />

resi<strong>de</strong>ncial não <strong>de</strong>ve diminuir o resi<strong>de</strong>nte, antes alertar-nos <strong>para</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lhe<br />

assegurar o seu exercício.<br />

Direito à integrida<strong>de</strong> e <strong>ao</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da sua personalida<strong>de</strong> - não é admissível<br />

qualquer acto que ofenda este direito fundamental.<br />

Direito à liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão - O que um ser humano é passa também por aquilo que<br />

pensa, sente e <strong>de</strong>seja. Ter opinião própria sobre qualquer assunto e po<strong>de</strong>r exprimi-la é um<br />

direito inalienável <strong>de</strong> qualquer ser humano. A liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão significa que o<br />

resi<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong> manifestar as suas i<strong>de</strong>ias, gostos e opções sem recear quaisquer<br />

represálias. Por sua vez, implica <strong>para</strong> o resi<strong>de</strong>nte o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> respeitar integralmente a<br />

expressão <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista contrários <strong>ao</strong>s seus.<br />

Direito à liberda<strong>de</strong> religiosa - Cada resi<strong>de</strong>nte tem direito a professar a religião que<br />

enten<strong>de</strong>r - ou nenhuma - e em caso algum <strong>de</strong>ve ser obriga<strong>do</strong> a participar em cerimónias ou<br />

rituais religiosos contra a sua vonta<strong>de</strong>.<br />

Direito a uma <strong>vida</strong> afectiva, sexual e social - Nenhuma <strong>de</strong>stas dimensões, <strong>de</strong> manifesta<br />

relevância <strong>para</strong> a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>vida</strong> <strong>de</strong> todas as pessoas, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>srespeitada. A<br />

estrutura resi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong>ve criar condições <strong>para</strong> que o resi<strong>de</strong>nte possa vivê-las <strong>de</strong> forma<br />

natural e saudável.<br />

Para a concretização <strong>de</strong>stes Direitos a estrutura resi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong>ve ser exigente no<br />

cumprimento das suas obrigações <strong>para</strong> com o resi<strong>de</strong>nte, toman<strong>do</strong> nomeadamente em<br />

conta:<br />

Respeito pela autonomia da pessoa na gestão <strong>do</strong> seu património não permitin<strong>do</strong> que,<br />

seja quem for, se lhe substitua sem que lhe sejam conferi<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>res legais.<br />

Cabe <strong>ao</strong> resi<strong>de</strong>nte, sempre que tenha capacida<strong>de</strong>, ou <strong>ao</strong> seu representante legal, a gestão<br />

<strong>do</strong> seu património, não po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> jamais ser-lhe retira<strong>do</strong>s - ou reti<strong>do</strong>s sem o seu<br />

consentimento - os seus pertences, a sua pensão ou quaisquer outros valores.<br />

O dinheiro <strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes não <strong>de</strong>ve ser coloca<strong>do</strong> em contas bancárias <strong>de</strong> colabora<strong>do</strong>res ou<br />

dirigentes da organização. Não se <strong>de</strong>ve pactuar com actos <strong>de</strong> gestão <strong>do</strong> património<br />

pratica<strong>do</strong>s por familiares <strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes ou outras pessoas, sem terem <strong>para</strong> tanto po<strong>de</strong>res<br />

legais resultantes, nomeadamente <strong>de</strong> procuração ou <strong>de</strong>cisão judicial.<br />

Devem ser garanti<strong>do</strong>s <strong>ao</strong> resi<strong>de</strong>nte os cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> que necessita, <strong>de</strong> forma<br />

competente, humana e atempada. O resi<strong>de</strong>nte tem direito a que lhe sejam assegura<strong>do</strong>s,<br />

por colabora<strong>do</strong>res qualifica<strong>do</strong>s, os serviços que contratou, nomeadamente:<br />

Alojamento limpo e acolhe<strong>do</strong>r, refeições <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>vida</strong>mente confeccionadas; boas<br />

condições <strong>de</strong> higiene pessoal, acompanhamento médico, <strong>de</strong> enfermagem e reabilitação,<br />

acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s recreativas e culturais.<br />

As orientações da Declaração <strong>de</strong> Singapura que os Lares <strong>de</strong>vem alvejar:<br />

1. „um lugar <strong>de</strong> acolhimento’: não há limites quanto <strong>ao</strong> tamanho ou tipo <strong>de</strong> edifício<br />

<strong>para</strong> este fim.<br />

2. „um lugar <strong>de</strong> encorajamento espiritual’: num Lar, as pessoas <strong>de</strong>vem ser<br />

encorajadas a <strong>de</strong>senvolver os seus recursos interiores, a sentirem-se bem consigo próprias,<br />

on<strong>de</strong> possam <strong>de</strong>scobrir habilida<strong>de</strong>s e talentos, <strong>ao</strong> mesmo tempo tornarem-se capazes <strong>de</strong><br />

42


lidar com as suas limitações e fraquezas. Quan<strong>do</strong> esse for o <strong>de</strong>sejo da pessoa, o Lar <strong>de</strong>ve<br />

também facilitar a aproximação com Deus e, <strong>para</strong> os que estejam em fase terminal, <strong>de</strong>ve<br />

ser-lhes proporcionada a pre<strong>para</strong>ção <strong>para</strong> a morte e o relembrar das suas <strong>vida</strong>s com a<br />

maior dignida<strong>de</strong>.<br />

3. „um senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> pertença e posse’: é igualmente importante que a pessoa tenha o<br />

sentimento <strong>de</strong> pertença em relação <strong>ao</strong> Lar. „Pertença‟ significa fazer parte <strong>de</strong>, enquanto<br />

„posse’ indica também ser <strong>de</strong>tentor <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>. Ouvimos com frequência as pessoas<br />

referirem-se <strong>ao</strong> Lar como sen<strong>do</strong> a casa <strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes. No entanto, à pergunta on<strong>de</strong> é a sua<br />

casa, muitos respon<strong>de</strong>rão ser on<strong>de</strong> a família mora. E se lhes perguntarmos on<strong>de</strong> gostariam<br />

mais <strong>de</strong> morar, alguns prefeririam voltar <strong>para</strong> as famílias, <strong>para</strong> um outro Lar ou residência<br />

a<strong>de</strong>quada à sua situação, mas próximo da mesma. De on<strong>de</strong> se conclui que, se pu<strong>de</strong>ssem<br />

escolher, muitos <strong>do</strong>s que vivem nos Lares escolheriam viver noutro lugar qualquer. Por isso<br />

é que se torna difícil quan<strong>do</strong> se tenta incutir nos resi<strong>de</strong>ntes este sentimento <strong>de</strong> pertença e<br />

<strong>de</strong> posse.<br />

Um <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> favorecer tais sentimentos passa pelo encorajamento e a abertura a que<br />

os resi<strong>de</strong>ntes tomem parte activa, tanto quanto o <strong>de</strong>sejarem, em to<strong>do</strong>s os assuntos <strong>do</strong> Lar.<br />

Por exemplo, um <strong>do</strong>s aspectos que nos faz sentir em casa é o estarmos ro<strong>de</strong>a<strong>do</strong>s daquilo<br />

que é nosso, <strong>do</strong>s objectos e das recordações que fazem senti<strong>do</strong> apenas <strong>para</strong> nós próprios,<br />

pela <strong>de</strong>coração <strong>ao</strong> nosso gosto e escolhida por nós. Assim, <strong>de</strong>vemos esperar que sejam os<br />

resi<strong>de</strong>ntes a <strong>de</strong>corar e a mobilar os seus quartos <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as suas preferências.<br />

Depois, achar normal que, segun<strong>do</strong> a personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada pessoa, a um quarto limpo e<br />

arruma<strong>do</strong>, com as cores todas a condizer se siga outro <strong>de</strong>sarruma<strong>do</strong> e <strong>de</strong>cora<strong>do</strong> com um<br />

gosto completamente diferente. Para além disso, há ainda o envolvimento na <strong>de</strong>coração <strong>do</strong>s<br />

espaços comuns.<br />

E há também o papel que cada um po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar na sua comunida<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> a<br />

<strong>de</strong>cisão mais séria à mais ligeira, a pessoa <strong>de</strong>ve sentir-se livre <strong>de</strong> participar na <strong>vida</strong> <strong>do</strong> meio<br />

on<strong>de</strong> vive.<br />

‘Posse’ pressupõe a entrega <strong>de</strong> dinheiro <strong>para</strong> o pagamento <strong>de</strong> quaisquer bens ou serviços,<br />

o que <strong>de</strong> facto acontece nos Lares, da<strong>do</strong> que os resi<strong>de</strong>ntes pagam as <strong>de</strong>spesas da sua<br />

estadia. To<strong>do</strong>s os resi<strong>de</strong>ntes pagam uma percentagem da sua pensão social e os que têm a<br />

sorte <strong>de</strong> estar emprega<strong>do</strong>s darão uma contribuição mais elevada. Sem a contribuição<br />

financeira <strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes, seria certo que os Lares enfrentariam maiores dificulda<strong>de</strong>s na sua<br />

gestão. Logo, o seu acto <strong>de</strong> pagamento confere-lhes o sentimento <strong>de</strong> possessão.<br />

4. „contribuin<strong>do</strong>, <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong> e <strong>de</strong>ntro das suas possibilida<strong>de</strong>s, <strong>para</strong> o seu<br />

funcionamento e <strong>de</strong>senvolvimento‟: mencionámos já como é que o envolvimento <strong>do</strong>s<br />

resi<strong>de</strong>ntes nas <strong>de</strong>cisões e a sua contribuição financeira lhes proporcionará o sentimento <strong>de</strong><br />

ser o proprietário da sua casa.<br />

Mas os resi<strong>de</strong>ntes po<strong>de</strong>m também <strong>de</strong>sempenhar certas acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s <strong>do</strong> dia-a-dia <strong>do</strong> Lar,<br />

contribuin<strong>do</strong> assim <strong>para</strong> o seu bom funcionamento. Nalguns Lares há resi<strong>de</strong>ntes a trabalhar<br />

nos serviços administrativos, outros dão „uma mãozinha‟ nas tarefas <strong>do</strong>mésticas ou ajudam<br />

a supervisionar os mapas <strong>do</strong>s horários <strong>do</strong> pessoal. Outros ainda, ocupam-se em aten<strong>de</strong>r a<br />

43


porta ou o telefone, lavar a loiça, limpar as mesas das refeições, ajudar outros a comer, etc.<br />

Provavelmente haveria muitas acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s físicas passíveis <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>sempenhadas pelos<br />

resi<strong>de</strong>ntes se lhes fosse dada oportunida<strong>de</strong> e que talvez levariam a cabo se estivessem nas<br />

suas casas.<br />

Nem to<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>rão ajudar fisicamente mas, to<strong>do</strong>s po<strong>de</strong>m dar um contributo verda<strong>de</strong>iro <strong>para</strong><br />

criar um ambiente positivo a nível emocional, intelectual e espiritual. As suas i<strong>de</strong>ias são<br />

sempre úteis <strong>para</strong> a Direcção avaliar os vários aspectos, quer a selecção <strong>de</strong> novos<br />

resi<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong> novo pessoal ou no trabalho <strong>do</strong>s diferentes técnicos.<br />

Os resi<strong>de</strong>ntes po<strong>de</strong>m também <strong>de</strong>sempenhar um papel activo nas iniciativas <strong>para</strong> angariação<br />

<strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s, tais como celebrações ou festas <strong>de</strong> qualquer tipo. Embora nem eles nem o<br />

pessoal sejam solicita<strong>do</strong>s a organizar estes eventos por sua própria iniciativa, ninguém<br />

po<strong>de</strong>rá ter mais interesse na estabilida<strong>de</strong> financeira <strong>do</strong> Lar <strong>do</strong> que os que nele vivem e, por<br />

isso, farão o melhor possível <strong>para</strong> que o Lar angarie anualmente o suficiente <strong>para</strong> a sua<br />

manutenção. É hábito solicitar a presença <strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes somente como forma emotiva <strong>de</strong><br />

atrair a generosida<strong>de</strong> das pessoas. Este tipo <strong>de</strong> procedimento po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>smoralizante <strong>para</strong><br />

muitos resi<strong>de</strong>ntes que se sentirão como „pedintes‟.<br />

Contu<strong>do</strong>, a participação <strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes no dia a dia <strong>do</strong> Lar, seja em acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

angariação <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>s, seja no planeamento <strong>de</strong> novas medidas <strong>de</strong> gestão, <strong>de</strong>ve constituir<br />

uma opção individual.<br />

É <strong>de</strong>ver <strong>do</strong> Lar manter tanto os resi<strong>de</strong>ntes como o pessoal sempre a par da verda<strong>de</strong>ira<br />

realida<strong>de</strong> financeira <strong>do</strong> Lar <strong>de</strong> uma forma transparente, embora nem todas as pessoas<br />

estejam aptas a perceber assuntos <strong>de</strong> contabilida<strong>de</strong>. No entanto, to<strong>do</strong>s somos capazes <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r os princípios básicos quan<strong>do</strong> expostos em termos claros e simples. A fim <strong>de</strong><br />

mostrar respeito pelas pessoas que vivem e trabalham nos Lares, é necessário exercer uma<br />

política <strong>de</strong> transparência da situação financeira real.<br />

Os resi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>vem estar totalmente envolvi<strong>do</strong>s no planeamento <strong>de</strong> novas medidas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, quer se trate <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> políticas ou <strong>de</strong> funcionamento <strong>do</strong> Lar.<br />

Quaisquer mudanças, planeadas ou introduzidas, acabarão sempre por ter efeitos nas <strong>vida</strong>s<br />

<strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes. To<strong>do</strong>s os Lares <strong>de</strong>vem fazer um Balanço Anual <strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s <strong>para</strong><br />

avaliação <strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s durante esse perío<strong>do</strong> e como um meio <strong>de</strong> planeamento<br />

<strong>para</strong> o perío<strong>do</strong> seguinte. Sen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s participantes <strong>de</strong>ssa Revisão, resi<strong>de</strong>ntes, pessoal e<br />

Direcção, fica assegura<strong>do</strong> que os planos <strong>para</strong> o futuro irão <strong>ao</strong> encontro das necessida<strong>de</strong>s e<br />

aspirações <strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes.<br />

5. „um lugar <strong>de</strong> partilha e <strong>de</strong> ajuda a outros mais <strong>de</strong>sfavoreci<strong>do</strong>s‟: os Lares têm um<br />

certo número <strong>de</strong> facilida<strong>de</strong>s possíveis <strong>de</strong> serem, por vezes, partilhadas pela população local<br />

mais necessitada. Cada vez mais os Lares dispõem <strong>de</strong> alguns lugares vagos <strong>para</strong> admitir<br />

temporariamente pessoas <strong>de</strong>ficientes que vivem com as famílias, <strong>para</strong> perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scanso ou férias, o que po<strong>de</strong> ser um gran<strong>de</strong> alívio, quer <strong>para</strong> os que os ajudam, quer <strong>para</strong><br />

os próprios. Do mesmo mo<strong>do</strong>, os resi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>viam ter a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dispor <strong>de</strong> um<br />

lugar <strong>para</strong> férias noutro Lar quan<strong>do</strong> precisam <strong>de</strong> uma pausa na <strong>vida</strong> <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os dias, o que<br />

44


é difícil <strong>de</strong> concretizar <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> <strong>ao</strong> escasso número <strong>de</strong> Lares <strong>para</strong> pessoas com <strong>de</strong>ficiência<br />

motora.<br />

Alguns Lares também oferecem Apoio Domiciliário a pessoas <strong>de</strong>ficientes que resi<strong>de</strong>m na<br />

sua zona constituin<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, um enorme <strong>de</strong>scanso <strong>para</strong> as pessoas <strong>de</strong> quem<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m e <strong>para</strong> si próprios.<br />

O Lar po<strong>de</strong> ainda, com o acor<strong>do</strong> <strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes, abrir as suas portas a outras organizações,<br />

clubes ou associações <strong>para</strong> os seus encontros ou acti<strong>vida</strong><strong>de</strong>s. Estas disponibilida<strong>de</strong>s vão<br />

atrair mais pessoas, facilitar a integração <strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>ntes na comunida<strong>de</strong>, favorecen<strong>do</strong> ainda<br />

um melhor acolhimento ou ajuda financeira da mesma.<br />

6. „um lugar on<strong>de</strong> adquirir confiança’: certas atitu<strong>de</strong>s <strong>para</strong> com as pessoas<br />

<strong>de</strong>ficientes têm-lhes atribuí<strong>do</strong> uma imagem negativa. As pessoas <strong>de</strong>ficientes têm si<strong>do</strong>,<br />

durante muitos anos, meros recipientes da nossa bonda<strong>de</strong>, da nossa carida<strong>de</strong> e da nossa<br />

pieda<strong>de</strong>. O facto <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rem <strong>de</strong> mais „serviços especiais‟ <strong>para</strong> além <strong>do</strong>s<br />

normalmente presta<strong>do</strong>s pela socieda<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> causar-lhes um sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>svalorização.<br />

Muitas pessoas que a meio da <strong>vida</strong> se vêm confrontadas com uma <strong>de</strong>ficiência ou uma<br />

limitação repentinas, po<strong>de</strong>m passar a consi<strong>de</strong>rar-se uns seres inúteis e um far<strong>do</strong> <strong>para</strong> as<br />

suas famílias e amigos.<br />

A prática correcta <strong>de</strong> um Lar resi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong>ve ter por objectivo proporcionar a cada pessoa o<br />

apoio e o encorajamento necessários <strong>para</strong> que ela possa reconquistar a autoconfiança e o<br />

sentimento <strong>do</strong> seu valor individual.<br />

7. „on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolva a sua in<strong>de</strong>pendência e interesses‟: a educação que geralmente<br />

recebemos <strong>do</strong>s nossos pais e nas escolas vai no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> nos pre<strong>para</strong>r <strong>para</strong> a ida<strong>de</strong><br />

adulta, <strong>para</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tomar <strong>de</strong>cisões e <strong>de</strong> fazer escolhas pessoais. Muitos <strong>do</strong>s<br />

jovens que viveram a maior parte das suas <strong>vida</strong>s sob os cuida<strong>do</strong>s resi<strong>de</strong>nciais ficaram<br />

priva<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sta oportunida<strong>de</strong>. A alguns nunca lhes foi dada a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> correr riscos e<br />

<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r com os seus próprios erros. O Lar <strong>de</strong>ve então dar <strong>ao</strong>s resi<strong>de</strong>ntes os meios <strong>de</strong><br />

maximizarem quer a in<strong>de</strong>pendência física quer a in<strong>de</strong>pendência emocional.<br />

To<strong>do</strong>s nós temos alguns talentos e habilida<strong>de</strong>s. Algumas pessoas têm a sorte <strong>de</strong> os<br />

<strong>de</strong>scobrir e pô-los em prática. Outras nunca chegam a <strong>de</strong>scobrir as suas potencialida<strong>de</strong>s.<br />

Muitas pessoas <strong>de</strong>ficientes nunca chegam a po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>scobrir e <strong>de</strong>senvolver os seus <strong>do</strong>ns.<br />

Para estas, a única oportunida<strong>de</strong> que alguma vez tiveram foi a <strong>de</strong> trabalhar no artesanato<br />

tradicional. Se <strong>para</strong> alguns, este tipo <strong>de</strong> trabalho po<strong>de</strong> ser satisfatório, <strong>para</strong> outros será<br />

enfa<strong>do</strong>nho e frustrante.<br />

Os que adquiriram a <strong>de</strong>ficiência mais tar<strong>de</strong>, esses terão já <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> as suas<br />

capacida<strong>de</strong>s, interesses e hobbies. O Lar <strong>de</strong>ve encorajá-los a progredir, se possível com a<br />

ajuda <strong>de</strong> uma técnica habilitada na área.<br />

8. „um lugar on<strong>de</strong> se incentive o esforço e não a passi<strong>vida</strong><strong>de</strong>‟: a <strong>vida</strong> é sempre<br />

mais interessante quan<strong>do</strong> temos objectivos a atingir, seja no plano pessoal ou profissional.<br />

Um objectivo aponta-nos sempre um caminho. Quan<strong>do</strong> tentamos atingir uma meta sentimos<br />

45


que esse <strong>de</strong>safio enriquece as nossas <strong>vida</strong>s e nos dá um senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> realização. Ao sermos<br />

bem sucedi<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>senvolvemos sentimentos <strong>de</strong> autoconfiança, sentimo-nos valoriza<strong>do</strong>s e<br />

mais fortaleci<strong>do</strong>s <strong>para</strong> quan<strong>do</strong> falhamos. Por mais mo<strong>de</strong>stos que sejam os nossos<br />

sucessos, com eles apren<strong>de</strong>mos a reconhecer melhor os nossos recursos e a levantar-nos<br />

quan<strong>do</strong> nos enganamos.<br />

Sem objectivos, sem metas, sem ambições, o nosso futuro não tem qualquer significa<strong>do</strong>.<br />

Sem um propósito <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> serão mínimas as razões <strong>para</strong> nos levantar <strong>de</strong> manhã e<br />

questionamos o porquê das nossas <strong>vida</strong>s. A apatia e o <strong>de</strong>sinteresse po<strong>de</strong>m tomar conta <strong>de</strong><br />

nós e tornar-se habitual numa pessoa que entre <strong>para</strong> um Lar.<br />

Assim, um <strong>do</strong>s objectivos <strong>do</strong> Lar <strong>de</strong>ve ser o <strong>de</strong> trabalhar com os indivíduos, incentivan<strong>do</strong> o<br />

<strong>de</strong>spertar <strong>de</strong> objectivos, apoiá-los caso necessitem, festejan<strong>do</strong> os sucessos e mostran<strong>do</strong><br />

empatia nos fracassos, encorajá-los na <strong>de</strong>scoberta das suas capacida<strong>de</strong>s, na busca <strong>do</strong>s<br />

seus interesses e na força necessária <strong>para</strong> recomeçar.<br />

Mesmo quan<strong>do</strong> muito <strong>do</strong>entes, há pessoas que preferem continuar activas em vez <strong>de</strong> se<br />

retirarem e esperar pela morte. Também este comportamento <strong>de</strong>ve ser respeita<strong>do</strong>.<br />

Anexos 3 – Diagnósticos Diferenciais <strong>para</strong> a <strong>de</strong>pressão, Demência, agitação e Delírio.<br />

46


ANEXOS 4 – Exemplos <strong>de</strong> Trabalho <strong>de</strong> Reminiscências postas em quadra <strong>para</strong> festa<br />

<strong>de</strong> Natal<br />

D. I<br />

Há uma senhora no Lar,<br />

que sempre nos faz lembrar<br />

pelo seu nobre papel e simpatia fiel<br />

e até tem o mesmo nome<br />

da Rainha Santa Isabel.<br />

Pelo seu Lin<strong>do</strong> Sorriso<br />

51


e gran<strong>de</strong> exemplo <strong>de</strong> amor,<br />

suponho que até é prima<br />

<strong>de</strong> um bom embaixa<strong>do</strong>r.<br />

Mesmo sen<strong>do</strong> transgressor<br />

às or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> um dita<strong>do</strong>r,<br />

mas por ter carácter nobre<br />

salvou o povo Israelita<br />

com a bênção <strong>do</strong> senhor<br />

(Aristi<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Sousa Men<strong>de</strong>s).<br />

D. E<br />

A D. E está sempre,<br />

pronta <strong>para</strong> ajudar<br />

ela é polivalente,<br />

mesmo com <strong>do</strong>r no seu <strong>de</strong>nte,<br />

não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> trabalhar.<br />

Tem valor reconheci<strong>do</strong>,<br />

uma i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>spachada,<br />

52


mas é jovem <strong>de</strong> espírito,<br />

por isso é acarinhada.<br />

A D. E é da Amora,<br />

e Trabalhou na Cortiça,<br />

mas fazia seus borda<strong>do</strong>s<br />

que até faziam cobiça.<br />

D. JO<br />

É a D. Joa<br />

a que nasceu em Valada,<br />

foi modista <strong>de</strong> senhora e homem,<br />

e não se viu atrapalhada.<br />

Natal é to<strong>do</strong>s os dias,<br />

<strong>para</strong> quem quer nascer <strong>de</strong> novo,<br />

a Joaquina da bôla não <strong>de</strong>siste,<br />

e assim mostra a sua força <strong>ao</strong> povo.<br />

53


MA<br />

A D. Ma Fez Liceu<br />

e também apren<strong>de</strong>u história,<br />

trabalhou na SETNAVE<br />

e instruía as memórias.<br />

Aconselhou prisioneiros,<br />

fazia parte da JOC,<br />

colheu frutos <strong>do</strong> trabalho<br />

e encontrou um aluno<br />

que na <strong>vida</strong> teve sorte “Ça Vá”<br />

54


D. HE<br />

A D. He<br />

teve um dilema em namoro,<br />

casou mas enviuvou<br />

mas casou segunda vez<br />

com o primeiro namoro.<br />

Apesar <strong>do</strong> seu dilema,<br />

foi feliz no casamento,<br />

mas outra vez está viúva,<br />

porque a <strong>vida</strong> assim o quis,<br />

agora vive entre nós e vive feliz.<br />

55


D.AR<br />

Filha <strong>de</strong> comerciantes <strong>de</strong> cortiça,<br />

Da área <strong>de</strong> Abrantes - Bem posta,<br />

Irmã mais nova <strong>de</strong> três filhas,<br />

e <strong>de</strong> um irmão petiz,<br />

com quem brincava e era Feliz.<br />

Gostava <strong>de</strong> ser professora,<br />

Mas fez colchas <strong>de</strong> renda,<br />

Casou <strong>ao</strong>s 18 anos e foi feliz<br />

E teve um filho por prenda.<br />

Que a visita no Lar<br />

E sua esposa o acompanha<br />

56


Que com to<strong>do</strong>s os cuida<strong>do</strong>s,<br />

E satisfação tamanha.<br />

EZ<br />

Esta aqui nesta sala,<br />

Um utente que é simpático e inteligente,<br />

É o amigo Ez<br />

que ajuda toda a gente;<br />

O vazio que nós sentimos,<br />

Provoca gran<strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>,<br />

Mas só Jesus satisfaz,<br />

Com o Evangelho da amiza<strong>de</strong>.<br />

57


POETA DESCONHECIDO “O Forno”<br />

Já alguma vez pensou<br />

Quan<strong>do</strong> à mesa se sentou<br />

Que o pão que alguém amassou<br />

E que <strong>de</strong>pois fabricou<br />

Que por um forno passou?<br />

Depois você mastigou<br />

Com prazer e satisfação.<br />

Pois Amigo,<br />

Esse pão<br />

Cozi<strong>do</strong> por mim ou não<br />

Quer <strong>de</strong> milho quer <strong>de</strong> trigo<br />

58


Torradinho ou mal cozi<strong>do</strong><br />

Segun<strong>do</strong> os gostos <strong>do</strong> cliente<br />

Eu cozo <strong>para</strong> toda a gente<br />

Quer seja rico ou pobre<br />

Mesmo <strong>para</strong> o mais nobre<br />

Para mim não há distinções.<br />

Por isso daqui vos peço<br />

Mesmo <strong>ao</strong>s que não conheço<br />

Que meditem e pensem nisto<br />

Que este humil<strong>de</strong> forninho<br />

Muito negro e pobrezinho<br />

Para vocês também Existo.<br />

POETA DESCONHECIDO “As Cavacas”<br />

Depois <strong>de</strong> tanto pensar<br />

No que <strong>de</strong>viam levar<br />

Para comer lá no ar<br />

Durante a gran<strong>de</strong> aventura<br />

Gago Coutinho pensou<br />

Falar com Sacadura<br />

E pedir sua opinião.<br />

A resposta veio segura<br />

E aprovada por aclamação<br />

Vamos levar cavacas<br />

Dessas cozidas em Latas<br />

Lá na vila <strong>de</strong> Mação.<br />

59<br />

A<strong>de</strong>lino Rodrigues


Foi assim que as belas fofinhas<br />

Por serem leves e <strong>do</strong>cinhas<br />

Para sempre ficaram na história<br />

Alimentan<strong>do</strong> os Heróis<br />

Que <strong>ao</strong> Brasil foram <strong>de</strong>pois<br />

On<strong>de</strong> alcançaram a glória.<br />

60<br />

A<strong>de</strong>lino Rodrigues.

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