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A Deriva Continental - Biblioteca da Floresta

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Imagem: NOAA/NGDC -<br />

Serviço de Informação<br />

por satélite<br />

A <strong>Deriva</strong><br />

<strong>Continental</strong><br />

1


Surfando em lava quente<br />

Nunca pense que a terra firme é firme. Os continentes nunca estiveram,<br />

nem estão parados. Movimentam-se imperceptivelmente, numa escala<br />

geoológica de tempo, conta<strong>da</strong> em milhões de anos. O movimento é muito<br />

lento e contínuo. Os continentes são como janga<strong>da</strong>s flutuando num viscoso<br />

mar de lava incandescente.<br />

O<br />

movimento dos continentes é conhecido<br />

como <strong>Deriva</strong> <strong>Continental</strong> e<br />

o mecanismo causal é chamado de<br />

Placas Tectônica.<br />

Nós, no Acre, somos passageiros <strong>da</strong> Placa<br />

<strong>da</strong> América do Sul. Há mais de 60 milhões de<br />

anos, na época <strong>da</strong> extinção dos Dinossauros,<br />

a America do Sul e a África começaram a sua<br />

separação. Antes, não havia Oceano Atlântico<br />

e os rios amazônicos drenavam suas águas<br />

para o Oceano Pacífico. Também não havia<br />

surgido ain<strong>da</strong> a Cordilheira dos Andes.<br />

A América do Sul ficou um continente isolado,<br />

cercado por oceanos, durante milhões de<br />

anos. Não havia surgido o Istmo do Panamá.<br />

America do Sul e América do Norte eram terras<br />

isola<strong>da</strong>s.<br />

Foto: Bryan Laury<br />

Dessa forma, a parte sul do “continente”<br />

desenvolveu características próprias. O tatu,<br />

o tamanduá e as preguiças, são amostras características<br />

de nossa fauna.<br />

O isolamento foi quebrado pela chega<strong>da</strong>s<br />

ocasional de novas formas de vi<strong>da</strong>. Um desses<br />

grupos é representado hoje pelos roedores<br />

“caviomorfos” – a Paca, a Cutia e a Capivara<br />

são os mais conhecidos. Os primeiros<br />

“caviomorfos” chegaram à America do Sul há<br />

mais de 30 milhões de anos.<br />

Posteriormente, há 25 milhões de anos,<br />

teriam chegado os macacos que, como os<br />

roedores, acredita-se são originários <strong>da</strong> África.<br />

Devem ter chegado passivamente, em<br />

balsas de árvores que cruzaram o Atlântico<br />

em formação.<br />

2


As Placas Tectônicas<br />

Tanto os roedores como os macacos se<br />

deram bem na América do Sul. Essa é uma<br />

<strong>da</strong>s razões <strong>da</strong> nossa biodiversi<strong>da</strong>de. No Acre,<br />

podemos encontrar, entre outros, o menor<br />

macaco sul-americano. É o nosso conhecido<br />

leãozinho-<strong>da</strong>-taboca (Cebuella pygmaea).<br />

Essa história é melhor conta<strong>da</strong> pelo trabalho<br />

dos cientistas que estu<strong>da</strong>m os fósseis,<br />

Imagem: Person Education Inc./Benjamin Cummings<br />

os Paleontólogos.<br />

O Acre guar<strong>da</strong> em seus sedimentos grande<br />

parte <strong>da</strong> história geológica e paleontológica<br />

<strong>da</strong> América do Sul. Entre os ancestrais <strong>da</strong>s<br />

atuais preguiças, podemos citar as preguiçasgigantes.<br />

São parte de um grupo muito diversificado<br />

e bem-sucedido entre os mamíferos<br />

3


Lago Pebas<br />

Rio Amazonas<br />

<strong>da</strong> América do Sul, e seus fósseis são encontrados<br />

no Acre.<br />

Os primeiros registros fósseis de preguiças<br />

são de aproxima<strong>da</strong>mente 50 milhões de anos.<br />

Inicialmente, eram animais pequenos. Com<br />

os passar do tempo, foram crescendo, variando<br />

em tamanho e diversificando em espécies.<br />

A maior de to<strong>da</strong>s as preguiças, com dentes e<br />

garras enormes, pesando algumas tonela<strong>da</strong>s,<br />

viveu no Acre. Era um animal de corpo maciço<br />

e gigantesco.<br />

Outro grupo característico <strong>da</strong> América do<br />

Sul, são os marsupiais. O mais conhecido é o<br />

nosso popular “gambá”, que se a<strong>da</strong>ptou muito<br />

bem nas nossas ci<strong>da</strong>des. O mais terrível<br />

marsupial já encontrado na América do Sul foi<br />

um dente-de-sabre (Thylascomilus), que viveu<br />

aqui durante o final do Mioceno e o Plioceno.<br />

Enquanto os animais e plantas evoluíam<br />

isolados, a placa continental <strong>da</strong> América do<br />

Formação dos Andes<br />

Com a separação <strong>da</strong> América do Sul<br />

<strong>da</strong> África e o deslocamento <strong>da</strong> Placa<br />

Americana para o oeste, ocorreu o<br />

choque com a Placa de Nazca. Como<br />

resultado, temos os soerguimentos<br />

que formaram a Cordilheira dos Andes.<br />

Provavelmente, ocorreu há 11<br />

milhões de anos. Com isto, os sedimentos<br />

resultantes vieram preencher<br />

o vasto Lago Pebas. Foi um processo<br />

de deposição contínua, que formou as<br />

terras do atual Estado do Acre.<br />

Sul continuava seu deslocamento para o Oeste,<br />

ficando ca<strong>da</strong> vez mais distante <strong>da</strong> África e<br />

alargando o Oceano Atlântico. Ao se deslocar<br />

para o Oeste a América do Sul se “chocou”<br />

com a Placa de Nazca, situa<strong>da</strong> no fundo do<br />

Oceano Pacífico. Esse “atrito” foi causando<br />

o surgimento <strong>da</strong> Cordilheira dos Andes, com<br />

sua longa cadeia de vulcões. Os rios amazônicos<br />

começaram a ser represados pelo novo<br />

obstáculo que surgia. Aqui no Acre, com água<br />

acumula<strong>da</strong>, surgiu o grande Lago Pebas, que<br />

perdurou por milhões de anos. Foi um lago que<br />

poderia ser chamado de mar, com uma fauna<br />

especial de animais de água doce e salga<strong>da</strong>.<br />

As arraias que vivem nos rios do Acre, são parentes<br />

<strong>da</strong>s arraias do Oceano Pacífico. Dentes<br />

de tubarões marinhos foram encontrados nos<br />

sedimentos <strong>da</strong> Serra do Moa. Também foram<br />

encontrados no Alto Rio Acre, município de Assis<br />

Brasil.<br />

Entre os jacarés fósseis do Lago Pebas<br />

chama a atenção o gigantesco Purussau-<br />

4


us. Mas havia também o Mourasuchus e outros,<br />

ca<strong>da</strong> um ocupando um nicho ecológico<br />

especial.<br />

Com o passar do tempo, os rios amazônicos<br />

foram encontrando seu caminho para<br />

o Oceano Atlântico e o grande Lago Pebas,<br />

paulatinamente foi desaparcendo. As terras<br />

do Acre faziam parte do “fundo” do Lago Pebas,<br />

local onde estão as “provas fósseis” <strong>da</strong><br />

história natural de nosso passado geológico.<br />

Durante milhões de anos, o atual estado do<br />

Acre, recebeu os sedimentos vindos <strong>da</strong> Cordilheira<br />

dos Andes. Com o esvaziamento do<br />

Lago Pebas, os sedimentos andinos deixaram<br />

de atingir o Acre.<br />

A continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>Deriva</strong> <strong>Continental</strong>, aproximou<br />

a América do Sul <strong>da</strong> América do Norte.<br />

O encontro dessas duas massas de terra,<br />

causou o soerguimento <strong>da</strong> América Central e<br />

o Istmo do Panamá. Isso aconteceu há aproxima<strong>da</strong>mente<br />

2 milhões de anos. O surgimento<br />

dessa ponte terrestre, fruto <strong>da</strong> <strong>Deriva</strong> <strong>Continental</strong>,<br />

uniu a América do Sul à América do<br />

Fotomontagem sobre arte de Karen Carr/ Oklahoma Museum of Natural History.<br />

Norte. O Istmo do Panamá permitiu um extraordinário<br />

intercâmbio faunístico em ambos os<br />

sentidos. Com a união dos dois continentes,<br />

as faunas originais modificaram-se enormemente,<br />

sobretudo na América do Sul.<br />

Novos atores apresentaram-se no palco<br />

<strong>da</strong> luta pela vi<strong>da</strong> na região Amazônica. Essas<br />

novas plantas e animais chegados, via Istmo<br />

do Panamá, determinaram mu<strong>da</strong>nças nos<br />

ecossistemas regionais.<br />

A fauna sul-americana passou a ser habita<strong>da</strong><br />

por pre<strong>da</strong>dores até então desconhecidos,<br />

perdendo espaço para concorrentes muito<br />

eficientes e transformando-se com a chega<strong>da</strong><br />

de diversos grupos de carnívoros placentários<br />

(onças, ursos, raposas, cachorros e tigresdentes-de-sabre).<br />

Na mesma on<strong>da</strong> e juntos,<br />

chegaram também os mastodontes, antas,<br />

cavalos, veados, porcos-do mato e os camelídeos.<br />

Desses, com exceção do cavalo, todos<br />

são encontrados como fósseis no Acre.<br />

Os marsupiais <strong>da</strong> América do Sul enfren-<br />

5


taram a competição e a pre<strong>da</strong>ção dos novos<br />

carnívoros, aparentemente mais eficientes.<br />

Também os herbívoros sul-americanos, como<br />

as preguiças terrestres e os toxodontes, enfrentaram<br />

a competição de outros herbívoros<br />

e a pre<strong>da</strong>ção por carnívoros, até então desconhecidos,<br />

em especial os felinos.<br />

De outra parte, os marsupiais, mesmo sofrendo<br />

forte competição, alguns chegaram até<br />

a América do Norte e lá se estabeleceram.<br />

Os macacos ocuparam as florestas <strong>da</strong> América<br />

Central. As preguiças terrestres gigantes<br />

chegaram até o atual Alasca. Os tatus tiveram<br />

sucesso, invadiram a America do Norte e lá se<br />

estabeleceram. O mamífero símbolo do Estado<br />

do Texas é o tatu.<br />

Foto: AVO/USGS - McGinsey<br />

O Istmo do Panamá permitiu também a chega<strong>da</strong><br />

dos Camelídeos. Hoje as lhamas, alpacas,<br />

vicunas e guanacos ocupam as terras frias<br />

dos altos dos Andes, desde o Equador até a<br />

Patagônia. Na época <strong>da</strong>s glaciações, as lhamas<br />

se espalharam pela América do Sul e os seus<br />

fósseis também são encontrados no Acre.<br />

Os animais amazônicos são representados<br />

por grupos originais como os tatus, preguiças<br />

e marsupiais. Outros adentraram o continente<br />

há milhões de anos, como os macacos e os<br />

roedores – pacas, cutias e capivaras. Os felídeos,<br />

canídeos, porcos-do-mato, antas, veados<br />

e outros são recentes na fauna amazônica,<br />

chegaram via Istmo do Panamá.<br />

O estudo mais aprofun<strong>da</strong>do <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças<br />

6


ocorri<strong>da</strong>s nos herbívoros e carnívoros amazônicos<br />

certamente trará novas revelações sobre<br />

as transformações <strong>da</strong> paisagem amazônica<br />

induzi<strong>da</strong>s por mu<strong>da</strong>nças e povoamento <strong>da</strong>s<br />

populações animais e vegetais, e não somente<br />

por razões climáticas, por exemplo.<br />

Sempre foram as mu<strong>da</strong>nças geológicas, as<br />

Fontes de Consulta<br />

flutuações climáticas e oceânicas que determinaram<br />

e modelaram a paisagem e a biosfera<br />

amazônica ao longo de milhões de anos.<br />

De to<strong>da</strong>s as formas, deveremos entender a<br />

força <strong>da</strong> <strong>Deriva</strong> <strong>Continental</strong> para compreender<br />

a totali<strong>da</strong>de do ecossistema amazônico e do<br />

Acre em particular.<br />

TExTo AdAPATAdo Por ALCEu rANzI tendo por base o<br />

livro “Quando o Rio Amazonas corria para o Pacífico” autoria de<br />

Evaristo Eduardo de Miran<strong>da</strong>, EditoraVozes.<br />

Edição Gráfica: Maurício de Lara Galvão<br />

Saiba Mais<br />

Instituto de Geociências <strong>da</strong> USP (http://www.igc.usp.br/<br />

geologia/a_terra.php)<br />

http://www.brasilescola.com/geografia/deriva-continental.htm<br />

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