17.04.2013 Views

1 Balanço do Conhecimento em Marketing: uma Meta ... - Anpad

1 Balanço do Conhecimento em Marketing: uma Meta ... - Anpad

1 Balanço do Conhecimento em Marketing: uma Meta ... - Anpad

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>Balanço</strong> <strong>do</strong> <strong>Conhecimento</strong> <strong>em</strong> <strong>Marketing</strong>: <strong>uma</strong> <strong>Meta</strong>-Análise <strong>do</strong>s Resulta<strong>do</strong>s Empíricos<br />

<strong>do</strong>s Antecedentes e Conseqüentes da Satisfação e Lealdade<br />

Autoria: Celso Augusto de Matos, Jorge Luiz Henrique<br />

Resumo<br />

Para os pesquisa<strong>do</strong>res que buscam entender os comportamentos de compra e pós-compra de<br />

clientes, a satisfação e a lealdade <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r são t<strong>em</strong>as que despertam grande interesse. A<br />

relação desses constructos com seus antecedentes e conseqüentes t<strong>em</strong> gera<strong>do</strong> um número<br />

razoável de estu<strong>do</strong>s, tanto no exterior quanto no Brasil. O objetivo desse artigo foi estudar as<br />

relações desses constructos por meio de <strong>uma</strong> meta-análise. Foram investiga<strong>do</strong>s, ainda, os<br />

efeitos modera<strong>do</strong>res envolvi<strong>do</strong>s nessas relações, os coeficientes de explicação <strong>do</strong>s constructos<br />

e os índices de ajuste <strong>do</strong>s modelos investiga<strong>do</strong>s. Para tanto, foram analisa<strong>do</strong>s 46 estu<strong>do</strong>s,<br />

obti<strong>do</strong>s nas principais publicações acadêmicas brasileiras (RAC, RAE, RAUSP e READ), nos<br />

principais Congressos da área de <strong>Marketing</strong> (ENANPAD e EMA) e no Portal de Teses e<br />

Dissertações da CAPES. Os resulta<strong>do</strong>s revelaram que o constructo qualidade foi o que<br />

apresentou a correlação mais estável e confiável, como antecedente da satisfação, enquanto os<br />

constructos lealdade e confiança se destacaram como conseqüentes. Quanto aos antecedentes<br />

da lealdade, os constructos valor e comprometimento se mostraram mais significativos. Na<br />

análise <strong>do</strong>s modera<strong>do</strong>res, o tipo de participante (consumi<strong>do</strong>r x estudante) e a categoria<br />

pesquisada (produto x serviço) apresentaram efeitos importantes nas relações.<br />

Introdução<br />

A satisfação <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r é um t<strong>em</strong>a que desperta interesse <strong>em</strong> diversos setores e<br />

áreas <strong>do</strong> conhecimento, especialmente <strong>em</strong> <strong>Marketing</strong> na área <strong>do</strong> Comportamento <strong>do</strong><br />

Consumi<strong>do</strong>r. Várias estruturas teóricas já foram propostas para examinar os antecedentes e<br />

conseqüentes da satisfação de forma a desenvolver medidas para esses constructos. Uma<br />

prova da importância da satisfação foi a a<strong>do</strong>ção, por parte de determina<strong>do</strong>s países, de um<br />

modelo de avaliação geral <strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s, geran<strong>do</strong>, desta forma, um índice nacional<br />

de des<strong>em</strong>penho de suas economias, como o American Customer Satisfaction Index<br />

(FORNELL et al., 1996). A satisfação <strong>do</strong> cliente t<strong>em</strong> efeito positivo no ato de recompra <strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r (MITTAL e KAMAKURA, 2001; LAM et al., 2004). Esse comportamento de<br />

recompra ou intenção de manter e ampliar um relacionamento é chama<strong>do</strong> de lealdade (SINGH<br />

e SIRDESHMUKH, 2000). Pesquisas sobre a satisfação e a lealdade <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r têm<br />

apresenta<strong>do</strong> modera<strong>do</strong>res relevantes para o entendimento <strong>do</strong> comportamento de compra e póscompra<br />

<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. No Brasil, alguns trabalhos <strong>em</strong>píricos investigaram a satisfação e a<br />

lealdade isoladamente e outros buscaram relacionamentos com d<strong>em</strong>ais constructos. Essas<br />

investigações propiciaram resulta<strong>do</strong>s estatísticos significativos, pois possibilitaram determinar<br />

os direcionamentos e as correlações existentes entre constructos estuda<strong>do</strong>s.<br />

No entanto, após um perío<strong>do</strong> longo de trabalhos publica<strong>do</strong>s, não se t<strong>em</strong> ainda <strong>uma</strong><br />

sist<strong>em</strong>atização <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>em</strong>píricos que produza um balanço <strong>do</strong> conhecimento que foi<br />

alcança<strong>do</strong> no Brasil até então sobre o assunto. Com essa finalidade, esse artigo apresenta <strong>uma</strong><br />

meta-análise <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s <strong>em</strong>píricos, a fim de identificar quais constructos estão mais<br />

relaciona<strong>do</strong>s com satisfação e lealdade e também avaliar se os fatores relaciona<strong>do</strong>s ao méto<strong>do</strong><br />

e à medição influenciam (moderam) os resulta<strong>do</strong>s.<br />

A meta-análise é <strong>uma</strong> forma de pesquisa bastante robusta, na medida <strong>em</strong> que permite<br />

ao pesquisa<strong>do</strong>r fazer <strong>uma</strong> “análise das análises” e sintetizar os resulta<strong>do</strong>s existentes (WOLF,<br />

1986). Nesse senti<strong>do</strong>, ela é essencial no processo de busca de generalizações na Teoria de<br />

<strong>Marketing</strong> (FARLEY, LEHMANN e SAWYER, 1995).<br />

1


Inicialmente é apresentada <strong>uma</strong> breve revisão teórica <strong>do</strong>s constructos aborda<strong>do</strong>s na<br />

meta-análise. Por restrições de espaço, os estu<strong>do</strong>s brasileiros não são incluí<strong>do</strong>s no referencial<br />

teórico, mas estão lista<strong>do</strong>s no Quadro 1. A seguir, são explica<strong>do</strong>s os procedimentos para<br />

escolha <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s, b<strong>em</strong> como os procedimentos de análise. Os resulta<strong>do</strong>s principais são,<br />

então, apresenta<strong>do</strong>s, consideran<strong>do</strong> as análises <strong>do</strong>s effect sizes, ou efeitos entre as variáveis.<br />

São apresenta<strong>do</strong>s ainda resulta<strong>do</strong>s que inclu<strong>em</strong> o grau médio de explicação <strong>do</strong>s constructos<br />

investiga<strong>do</strong>s, principalmente da satisfação e da lealdade, e os índices médios de ajuste <strong>do</strong>s<br />

modelos estuda<strong>do</strong>s. Por fim é feita <strong>uma</strong> discussão <strong>do</strong>s principais resulta<strong>do</strong>s.<br />

Satisfação <strong>do</strong> Consumi<strong>do</strong>r<br />

As pesquisas sobre satisfação começaram a receber destaque já na década de 1970<br />

(CHURCHILL e SURPRENANT, 1982). A satisfação <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r é considerada um<br />

julgamento avaliativo de pós-escolha de <strong>uma</strong> ocasião específica de compra (OLIVER, 1980).<br />

O consumi<strong>do</strong>r percebe que após o consumo há um compl<strong>em</strong>ento de <strong>uma</strong> necessidade, de um<br />

desejo ou de um objetivo, e isso pode lhe causar prazer. Desta forma, a satisfação é<br />

considerada com “um sentimento <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r de que o consumo proporciona resulta<strong>do</strong>s<br />

contra um padrão de prazer versus desprazer” (OLIVER, 1999, p.34). Para tanto, os<br />

consumi<strong>do</strong>res requer<strong>em</strong> experiências com o produto para determinar esse grau de satisfação,<br />

pois ela está baseada na experiência atual com o produto ou serviço e também com todas as<br />

experiências passadas (ANDERSON, FORNELL e LEHMANN, 1994).<br />

Lealdade<br />

A lealdade é tratada como o comprometimento que um consumi<strong>do</strong>r t<strong>em</strong> <strong>em</strong> continuar<br />

consumin<strong>do</strong> ou compran<strong>do</strong> <strong>do</strong> mesmo fornece<strong>do</strong>r (OLIVER, 1999). A lealdade é a proporção,<br />

a seqüência e a probabilidade de compras realizadas de um mesmo fornece<strong>do</strong>r (DICK e<br />

BASU, 1994). Os autores relacionaram atributos de lealdade <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r com aspectos<br />

cognitivos (acessibilidade, confiança, centralidade e clareza), afetivos (<strong>em</strong>oção, esta<strong>do</strong> de<br />

humor, afetos primários e satisfação) e conativos (custos de troca, custos não previstos e<br />

expectativas) aborda<strong>do</strong>s na área de psicologia. A lealdade <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r pode ser formada<br />

por quatro fases: a) cognitiva, quan<strong>do</strong> o consumi<strong>do</strong>r prefere <strong>uma</strong> marca <strong>em</strong> relação às d<strong>em</strong>ais<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, ou seja, a lealdade é baseada apenas <strong>em</strong> crenças com relação à marca; b) afetiva,<br />

quan<strong>do</strong> <strong>uma</strong> atitude positiva <strong>em</strong> relação à marca origina-se a partir da satisfação cumulativa<br />

com repetidas situações de compra e uso, refletin<strong>do</strong> a dimensão prazerosa da definição de<br />

satisfação; c) conativa, quan<strong>do</strong> a lealdade é caracterizada pela intenção de comprar; e d)<br />

lealdade-ação, quan<strong>do</strong> as intenções anteriormente adquiridas são transformadas <strong>em</strong> ação,<br />

acompanhadas de um desejo adicional de superar obstáculos que possam impedir o ato de<br />

compra (OLIVER, 1999).<br />

Antecedentes e conseqüentes da Satisfação e da Lealdade<br />

Os constructos satisfação e lealdade <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r são investiga<strong>do</strong>s na disciplina de<br />

marketing <strong>em</strong> relação a outros constructos n<strong>uma</strong> forma direta de antecedentes ou<br />

conseqüentes ou com modera<strong>do</strong>res. A seguir são apresenta<strong>do</strong>s os principais constructos<br />

aborda<strong>do</strong>s nessa literatura.<br />

Expectativa<br />

A expectativa é um el<strong>em</strong>ento de referência pelo qual os consumi<strong>do</strong>res avaliam suas<br />

experiências passadas, recomendações de terceiros e propaganda <strong>do</strong>s fornece<strong>do</strong>res, antes da<br />

compra. As expectativas <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> representam a prévia experiência de consumo com a<br />

oferta da <strong>em</strong>presa, incluin<strong>do</strong> informação não-experencial, disponível através de propaganda,<br />

boca-a-boca e previsão da capacidade <strong>do</strong> fornece<strong>do</strong>r <strong>em</strong> entregar qualidade futura. Assim, o<br />

2


papel preditivo da expectativa sugere um efeito positivo sobre a satisfação geral (FORNELL<br />

et al., 1996). As expectativas são apenas um <strong>do</strong>s el<strong>em</strong>entos de referência pelos quais os<br />

consumi<strong>do</strong>res avaliam suas experiências (OLIVER, 1996). Elas têm associações diretas e<br />

positivas com a avaliação cumulativa, na satisfação <strong>do</strong> cliente e na performance da <strong>em</strong>presa.<br />

A literatura sobre satisfação sugere que os consumi<strong>do</strong>res pod<strong>em</strong> usar diferentes tipos de<br />

expectativas na formação de opiniões a respeito da “performance antecipada” sobre produtos<br />

(CHURCHILL e SURPRENANT, 1982, p.492).<br />

Performance<br />

Pelo fato de refletir a expectativa, a performance pode aumentar a satisfação<br />

(CHURCHILL e SURPRENANT, 1982). Os autores entend<strong>em</strong> que a importância primeira da<br />

performance, na literatura de satisfação, t<strong>em</strong> si<strong>do</strong> como estimação da desconfirmação. A<br />

performance, e não o produto, é mais importante na situação de consumo, pois muitas<br />

transações de consumi<strong>do</strong>res envolv<strong>em</strong> performance e não posses (DEIGHTON, 1992). Tse e<br />

Wilton (1988) afirmam que a performance percebida é suportada teoricamente como<br />

determinante direta da satisfação e insatisfação <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, e que o efeito <strong>do</strong> pós-compra<br />

pode ser expresso como a diferença de <strong>uma</strong> função algébrica entre performance <strong>do</strong> produto e<br />

a comparação inicial, chamada de abordag<strong>em</strong> de desconfirmação.<br />

Desconfirmação<br />

A teoria da desconfirmação é utilizada como apoio na explicação <strong>do</strong> processo de<br />

formação da satisfação nos consumi<strong>do</strong>res, pois envolve expectativas e performance. A<br />

comparação entre a performance e a expectativa origina a desconfirmação, que pode ser<br />

positiva – performance superior à expectativa, neutra – igualdade entre performance e<br />

expectativa, ou negativa – performance inferior à expectativa (OLIVER, 1980). Para Oliver<br />

(1981, p.41), “a satisfação é <strong>uma</strong> resposta <strong>em</strong>ocional complexa que se segue à<br />

desconfirmação de experiências”.<br />

Qualidade<br />

O primeiro determinante da satisfação geral é a qualidade percebida ou performance<br />

(FORNELL et al., 1996). A qualidade, para os autores, é a avaliação feita pelo merca<strong>do</strong><br />

servi<strong>do</strong> de recente experiência de consumo e espera-se que tenha um efeito direto e positivo<br />

na satisfação geral <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r. A qualidade percebida é definida como “o julgamento <strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r sobre a excelência ou superioridade geral <strong>do</strong> produto” (ZEITHAML, 1988, p.3).<br />

Para a autora, exist<strong>em</strong> <strong>do</strong>is tipos de qualidade, a qualidade <strong>do</strong> produto, que consiste na<br />

superioridade técnica ou excelência <strong>do</strong> produto físico e a qualidade <strong>do</strong>s serviços, que é a<br />

associação interativa entre os consumi<strong>do</strong>res e os el<strong>em</strong>entos extrínsecos ao serviço. A<br />

qualidade <strong>do</strong> serviço e a intenção comportamental estão diretamente relacionadas e será a<br />

qualidade que determinará se um consumi<strong>do</strong>r persistirá ou não com o serviço (ZEITHAML,<br />

BERRY e PARASURAMAN, 1996).<br />

Valor<br />

O valor percebi<strong>do</strong> é a avaliação geral feita pelo consumi<strong>do</strong>r da utilidade de um<br />

produto basea<strong>do</strong> <strong>em</strong> percepções <strong>do</strong> que é recebi<strong>do</strong> e <strong>do</strong> que é da<strong>do</strong>, ou seja, um “... tradeoff<br />

entre o que é recebi<strong>do</strong> pelo consumi<strong>do</strong>r <strong>em</strong> troca <strong>do</strong> que é da<strong>do</strong> à <strong>em</strong>presa” (ZEITHAML,<br />

1988, p.14). De forma similar, Fornell et al. (1996) tratam o constructo valor percebi<strong>do</strong> como<br />

o nível de qualidade percebida de um produto <strong>em</strong> relação ao preço pago por ele. Zeithaml<br />

(1988) afirma que valor pode assumir quatro significa<strong>do</strong>s, preço baixo, obtenção <strong>do</strong> que se<br />

quer junto ao produto, qualidade recebida comparada com o preço pago e recebimento <strong>em</strong><br />

relação ao que se paga. Outros autores consideram valor no senti<strong>do</strong> de “valores<br />

3


compartilha<strong>do</strong>s” (Morgan e Hunt, 1994) e defend<strong>em</strong> que <strong>uma</strong> convergência de valores entre o<br />

fornece<strong>do</strong>r e o cliente contribui para um relacionamento mais dura<strong>do</strong>uro. Espera-se, assim,<br />

que o valor tenha <strong>uma</strong> relação positiva com a satisfação e com a lealdade.<br />

Confiança<br />

Confiança é vista como el<strong>em</strong>ento essencial para relacionamentos de sucesso<br />

(MOORMAN, ZALTMAN e DESHPANDE, 1992; MORGAN e HUNT, 1994; GABARINO<br />

e JOHNSON, 1999). Garbarino e Johnson (1999) consideraram que a satisfação referente a<br />

atributos relativos a produtos e/ou serviços interfer<strong>em</strong> tanto na confiança quanto no<br />

comprometimento. Para os autores, a confiança é <strong>uma</strong> variável fundamental <strong>em</strong> modelos<br />

relacionais, pois ela influencia a intenção de compra e lealdade. Logo, a confiança pode ser<br />

tratada como conseqüente da satisfação e antecedente da lealdade. Moorman, Zaltman e<br />

Deshpande (1992) afirmam que confiança é estar disposto a acreditar <strong>em</strong> <strong>uma</strong> troca convicta<br />

com um parceiro. Eles defend<strong>em</strong> que a confiança é o resulta<strong>do</strong> da integridade e da<br />

intencionalidade <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s no processo de trocas. Confiança existe “quan<strong>do</strong> <strong>uma</strong> parte<br />

acredita na integridade e dignidade <strong>do</strong> parceiro”, desta forma ela pode ser tratada como<br />

precursora <strong>do</strong> comprometimento entre esses parceiros (MORGAN e HUNT, 1994, p.23).<br />

Comprometimento<br />

Morgan e Hunt (1994), com base nas teorias desenvolvidas nas trocas sociais e <strong>em</strong><br />

relacionamentos íntimos, defin<strong>em</strong> o constructo comprometimento como central no marketing<br />

de relacionamento e afirmam que o comprometimento é a crença <strong>em</strong> parceiros de troca e que<br />

deve ser garanti<strong>do</strong> o máximo esforço <strong>em</strong> mantê-lo. Desta forma, o constructo<br />

comprometimento exerce um papel fundamental no desenvolvimento de relacionamentos<br />

foca<strong>do</strong>s n<strong>uma</strong> perspectiva de longo prazo. Através de trocas mútuas e cumprimentos de<br />

promessas estabelec<strong>em</strong>-se relações entre consumi<strong>do</strong>res e outros parceiros (GRÖNROOS,<br />

1994). Comprometimento como “um desejo dura<strong>do</strong>uro <strong>em</strong> manter um relacionamento<br />

valioso” (MOORMAM, ZALTMAN e DESHPANDE, 1992, p.316). Garbarino e Johnson<br />

(1999) entend<strong>em</strong> que o comprometimento exerce <strong>uma</strong> influência significativa na intenção de<br />

compra <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, ou seja, um antecedente da lealdade.<br />

Custos de Mudança<br />

Os custos de mudanças são os custos diretos que os consumi<strong>do</strong>res associam aos<br />

processos de mudanças de um prove<strong>do</strong>r para outro (BURNHAM, FRELS e MAHAJAN,<br />

2003). Os custos de mudança pod<strong>em</strong> contribuir, juntamente com os programas de satisfação,<br />

para aumentar a taxa de retenção <strong>do</strong>s clientes (LEE, LEE e FEICK, 2001). Os diferentes tipos<br />

de custos de mudança relaciona<strong>do</strong>s nessa literatura inclu<strong>em</strong>: custos de riscos econômicos,<br />

custos de avaliação, custos de aprendizag<strong>em</strong>, custos de inicialização, custos de benefícios<br />

perdi<strong>do</strong>s, custos monetários perdi<strong>do</strong>s, custos de perda de relacionamento pessoal e custos de<br />

perda de relacionamento com a marca. O custo de mudança atua como antecedente da<br />

lealdade: espera-se que <strong>em</strong> situações de maior custo de mudança, haja maior propensão <strong>do</strong><br />

cliente <strong>em</strong> permanecer com o fornece<strong>do</strong>r. Em <strong>uma</strong> outra abordag<strong>em</strong>, o custo de mudança é<br />

avalia<strong>do</strong> como possível modera<strong>do</strong>r na relação satisfação-lealdade (LAM, et al., 2004).<br />

Boca-a-boca<br />

Refere-se às comunicações interpessoais, pelas quais os consumi<strong>do</strong>res comentam com<br />

seus amigos e parentes sobre as suas experiências de consumo (DICK e BASU, 1994), sen<strong>do</strong><br />

formalmente definida como “comunicações informais direcionadas a outros consumi<strong>do</strong>res<br />

sobre a aquisição, o uso ou características de bens ou serviços específicos ou seus<br />

fornece<strong>do</strong>res” (WESTBROOK, 1987, p. 261). Desde as primeiras pesquisas sobre boca-a-<br />

4


oca, têm-se defendi<strong>do</strong> a sua influência nas escolhas e decisões de compra <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res<br />

(ARNDT, 1967). Söderlund (1998) defende que a comunicação boca-a-boca varia para<br />

diferentes níveis de satisfação, sen<strong>do</strong> que o boca-a-boca negativo resultante de <strong>uma</strong><br />

insatisfação tende a ser maior que o boca-a-boca positivo decorrente da satisfação. Além<br />

disso, há influência também <strong>do</strong> contexto, pois <strong>em</strong> serviços o boca-a-boca pode ter maior<br />

efeito nas decisões <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, dada a sua intangibilidade (GRÖNROOS, 1994).<br />

Méto<strong>do</strong><br />

A fim de sintetizar a relação <strong>do</strong>s constructos satisfação e lealdade com os seus<br />

antecedentes e conseqüentes, foi construí<strong>do</strong> um banco de da<strong>do</strong>s conten<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s de<br />

estu<strong>do</strong>s <strong>em</strong>píricos conduzi<strong>do</strong>s sobre o t<strong>em</strong>a no Brasil. Esses estu<strong>do</strong>s foram obti<strong>do</strong>s por meio<br />

de consultas às principais publicações acadêmicas brasileiras, incluin<strong>do</strong> as revistas RAC, RAE,<br />

RAUSP, READ, os Anais <strong>do</strong> ENANPAD no perío<strong>do</strong> 1995-2005 e os Anais <strong>do</strong> Encontro de<br />

<strong>Marketing</strong> (EMA/ 2004). As revistas foram pesquisadas tanto na versão impressa quanto na<br />

eletrônica. Os autores fizeram ainda pesquisas no Portal de Teses e Dissertações da CAPES<br />

(www.capes.gov.br).<br />

Dos Anais ENANPAD/EMA, foram obti<strong>do</strong>s 41 estu<strong>do</strong>s, <strong>do</strong>s quais 2 artigos foram<br />

excluí<strong>do</strong>s porque os autores não apresentaram os resulta<strong>do</strong>s de forma completa e outros 2<br />

artigos foram excluí<strong>do</strong>s porque os autores tiveram acesso à tese que originou os da<strong>do</strong>s. Das<br />

revistas foram obti<strong>do</strong>s 7 artigos, sen<strong>do</strong> que 5 destes já tinham si<strong>do</strong> publica<strong>do</strong>s no ENANPAD,<br />

com os mesmos da<strong>do</strong>s e resulta<strong>do</strong>s e foram excluí<strong>do</strong>s. Um conjunto de 3 teses e 4 dissertações<br />

foram incluídas. Dessa forma, a base de da<strong>do</strong>s final constou de 46 estu<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> 39 artigos e<br />

7 teses/dissertações. Esse resulta<strong>do</strong> é s<strong>em</strong>elhante ao obti<strong>do</strong> por Szymanski e Henard (2001),<br />

que conseguiram 44 artigos e 6 teses.<br />

Após a obtenção desses estu<strong>do</strong>s, o próximo passo foi a tabulação <strong>do</strong>s seus resulta<strong>do</strong>s<br />

principais, incluin<strong>do</strong> o ano de publicação, o tamanho da amostra pesquisada, o tipo de<br />

respondente (consumi<strong>do</strong>res x estudantes), o foco da pesquisa (produto ou serviço), o tipo de<br />

coleta (survey x experimento), a confiabilidade das medidas (Alfa de Cronbach x<br />

confiabilidade composta), o coeficiente padroniza<strong>do</strong> da relação entre duas variáveis (beta), o<br />

teste t com sua respectiva significância, a correlação entre os constructos pesquisa<strong>do</strong>s, o<br />

coeficiente de explicação <strong>do</strong>s constructos e por fim os índices de ajuste.<br />

Desse conjunto total de medidas, duas foram escolhidas para representar o grau de<br />

associação entre os constructos: o coeficiente de correlação de Pearson e o coeficiente de<br />

regressão (beta padroniza<strong>do</strong>). Porém, por restrições de espaço, somente as análises referentes<br />

à correlação serão apresentadas.<br />

O coeficiente de correlação é freqüent<strong>em</strong>ente usa<strong>do</strong> nas pesquisas <strong>em</strong> marketing que<br />

avaliam os constructos satisfação e lealdade. Além disso, é a medida que permite ser derivada<br />

de outras, conforme fórmula disponível <strong>em</strong> Wolf (1986, p.35). Por ex<strong>em</strong>plo, se o autor<br />

fornece o valor t da relação entre duas variáveis e o respectivo grau de liberdade, é possível<br />

estimar o valor da correlação. Dos estu<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s, 14 forneceram o valor da correlação entre<br />

os constructos, 25 estu<strong>do</strong>s tiveram a correlação estimada e 7 estu<strong>do</strong>s não permitiram a<br />

estimativa <strong>em</strong> função de não possuír<strong>em</strong> os da<strong>do</strong>s necessários. Esses últimos não foram<br />

excluí<strong>do</strong>s por possuír<strong>em</strong> outra estatística de interesse, como o coeficiente de regressão.<br />

Quan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s de pesquisa a ser<strong>em</strong> submeti<strong>do</strong>s a <strong>uma</strong> meta-análise envolv<strong>em</strong><br />

relações bivariadas nas quais ambas as variáveis são contínuas, a correlação métrica (Pearson)<br />

é a medida mais direta e apropriada para se avaliar o grau de associação, ou tamanho <strong>do</strong> efeito<br />

(effect size) entre duas variáveis/constructos (LIPSEY; WILSON, 2001). A principal<br />

vantag<strong>em</strong> dessa medida é que ela já é um índice padroniza<strong>do</strong> e, assim, útil como estatística <strong>do</strong><br />

grau de associação entre variáveis, mesmo quan<strong>do</strong> estas foram operacionalizadas de mo<strong>do</strong><br />

5


diferente nos estu<strong>do</strong>s incluí<strong>do</strong>s na meta-análise. Essa padronização permite a variação de –1 a<br />

+1, independente das escalas utilizadas pelas diversas pesquisas.<br />

O coeficiente de regressão (beta) representa a relação entre duas variáveis, de mo<strong>do</strong><br />

similar ao coeficiente de correlação. A diferença é que o coeficiente de regressão pressupõe<br />

<strong>uma</strong> direção de influência. Essa medida foi também incluída no banco de da<strong>do</strong>s da metaanálise<br />

principalmente porque alguns <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s modelavam <strong>uma</strong> relação <strong>em</strong> um<br />

senti<strong>do</strong> enquanto outros estimavam a mesma relação no senti<strong>do</strong> oposto (ex. a relação entre<br />

comprometimento e confiança).<br />

No Quadro 1 são apresentadas as referências <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s que foram incluí<strong>do</strong>s na metaanálise.<br />

No geral, essas pesquisas investigaram os seguintes constructos: satisfação, lealdade,<br />

expectativa, performance, desconfirmação, equidade, qualidade, valor, confiança<br />

comprometimento, custo de mudança e boca-a-boca.<br />

Do conjunto de 46 estu<strong>do</strong>s incluí<strong>do</strong>s na meta-análise, foram coleta<strong>do</strong>s: um total de 96<br />

Alfas de Cronbach, 110 valores de confiabilidade composta, 217 coeficientes de regressão<br />

padroniza<strong>do</strong>s, 190 valores de teste t com 196 valores de significância, 216 correlações, 86<br />

coeficientes de explicação e 142 índices de ajuste de modelo. Os autores tabularam os da<strong>do</strong>s,<br />

resolven<strong>do</strong> <strong>em</strong> conjunto as divergências sobre a inclusão/exclusão <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s e os esqu<strong>em</strong>as<br />

de codificação.<br />

Quadro 1 – Estu<strong>do</strong>s incluí<strong>do</strong>s na <strong>Meta</strong>-Análise<br />

Autores/Orig<strong>em</strong>/Ano Autores/Orig<strong>em</strong>/Ano Autores/Orig<strong>em</strong>/Ano<br />

Enanpad, 2005<br />

Almeida e Botelho<br />

Frederico e Robic<br />

Gastal e Luce<br />

Gosling, Diniz e Matos<br />

Leite, Elias e Sundermann<br />

Macha<strong>do</strong> et al.<br />

Moura<br />

Santos e Fernandes<br />

Zancan e Pra<strong>do</strong><br />

Enanpad, 2004<br />

Anjos Neto e Moura<br />

Perin et al.<br />

Peters Filho<br />

Ema, 2004<br />

Andrade<br />

Cunha, Marchetti e Pra<strong>do</strong><br />

Espartel, Rossi e Müller Neto<br />

Fernandes e Santos<br />

Gusso, Marchetti e Pra<strong>do</strong><br />

Pra<strong>do</strong> e Santos<br />

Santos e Fernandes<br />

Enanpad, 2003<br />

D'Angelo, Espinoza e Liberali Neto<br />

Gonçalves Filho, Guerra e Moura<br />

Kockanny, Marchetti e Pra<strong>do</strong><br />

Liberali Neto e Neujahr<br />

Pra<strong>do</strong> e Santos<br />

Enanpad, 2002<br />

Brei e Rossi<br />

Gosling e Gonçalves<br />

Larán, Hoffmann e Almeida<br />

Pra<strong>do</strong><br />

Rosa e Kamakura<br />

Veiga, Gonçalves e Moura<br />

Enanpad, 2001<br />

Mückenberger<br />

Vecchi e Luce<br />

Enanpad, 2000<br />

Viana, Cunha Júnior e Slongo<br />

Zuñiga e Urdan<br />

Enanpad, 1999<br />

Farias e Santos<br />

NOTA – (*) Artigos publica<strong>do</strong>s nos Anais <strong>do</strong> ENANPAD.<br />

Enanpad, 1998<br />

Pra<strong>do</strong> e Farias<br />

Teses<br />

Cohen, Eric, 2004<br />

Gosling, Marlusa, 2004<br />

Santos, Cristiane Pizutti, 2001<br />

Dissertações<br />

Godinho, Luiz Antônio, 2004<br />

Di<strong>do</strong>net, Karla Copetti, 2004<br />

Porto, Cristina, 2004<br />

Moraes, Marcelo Amaral, 2002<br />

Revistas<br />

Brei e Rossi (RAC, 2005) *<br />

Moura e Gonçalves (RAE, 2005) *<br />

Slongo e Müssnich (RAC, 2005)<br />

Larán, Almeida e Hoffmann (RAUSP,<br />

2004) *<br />

Larán e Espinoza (RAC 2004)<br />

Urdan e Zúñiga (RAE, 2001) *<br />

Urdan e Rodríguez (RAC, 1999) *<br />

Resulta<strong>do</strong>s<br />

A análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s é apresentada <strong>em</strong> três etapas. Em um primeiro momento são<br />

apresentadas as estatísticas <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s, com <strong>uma</strong> análise das correlações entre os<br />

constructos pesquisa<strong>do</strong>s. A seguir, é apresentada <strong>uma</strong> análise <strong>do</strong>s efeitos modera<strong>do</strong>res, tais<br />

como tipo de estu<strong>do</strong> (survey ou experimento), tipo de respondente (estudante ou consumi<strong>do</strong>r)<br />

e objeto de estu<strong>do</strong> (produto ou serviço). Por fim, são apresenta<strong>do</strong>s os resulta<strong>do</strong>s referentes aos<br />

coeficientes de explicação <strong>do</strong>s constructos e os índices de ajuste médios <strong>do</strong>s modelos.<br />

6


Análises das Correlações<br />

Na Tabela 1 são apresentadas as informações principais sobre as relações pesquisadas.<br />

A primeira coluna mostra as relações obtidas na literatura. A segunda apresenta o número de<br />

estu<strong>do</strong>s aborda<strong>do</strong>s nas respectivas relações e a terceira mostra o número de observações.<br />

S<strong>em</strong>pre que o estu<strong>do</strong> apresentava resulta<strong>do</strong>s de mais de <strong>uma</strong> amostra, ele entrava com mais de<br />

um caso no banco de da<strong>do</strong>s, porém era conta<strong>do</strong> como um estu<strong>do</strong> com duas ou mais<br />

observações. Assim, o número de estu<strong>do</strong>s indica o número de publicações s<strong>em</strong> repetição e o<br />

número de observações é o número total de linhas <strong>do</strong> banco de da<strong>do</strong>s, contan<strong>do</strong> as repetições.<br />

A quarta e a quinta mostram o intervalo de variação para a correlação. Por ex<strong>em</strong>plo, a<br />

correlação entre os constructos satisfação e lealdade (sat-leal) apresentou um mínimo de 0,12<br />

e máximo de 0,97.<br />

A sexta coluna indica a soma das amostras <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s que contribuíram para a<br />

respectiva relação. Por esse motivo, a amostra acumulada é diferente para cada relação, já que<br />

cada relação advém de um número específico de estu<strong>do</strong>s. Por ex<strong>em</strong>plo, na relação sat-leal, as<br />

23 observações produziram <strong>uma</strong> amostra acumulada de 8.515 respondentes.<br />

A sétima é a média simples, calculada pela soma <strong>do</strong>s valores da correlação e divisão<br />

pelo número de observações. No caso de sat-leal, a correlação média foi de 0,58.<br />

Na oitava coluna, é apresentada a média simples ponderada pelo tamanho da amostra,<br />

ten<strong>do</strong> como pressuposto o fato de que correlações obtidas de amostras maiores estão mais<br />

próximas da média da população, conforme especifica o teor<strong>em</strong>a <strong>do</strong> limite central (HUNTER<br />

e SCHMIDT, 2004). Nos casos <strong>em</strong> que a relação pesquisada se baseava <strong>em</strong> apenas um estu<strong>do</strong>,<br />

a média ponderada é a própria média simples. Na relação sat-leal o valor foi de 0,54.<br />

Na nona coluna, é apresentada a correlação ponderada pelo tamanho de amostra e pela<br />

confiabilidade das escalas usadas <strong>em</strong> cada um <strong>do</strong>s constructos <strong>do</strong> respectivo par 1 . O<br />

pressuposto é que correlações estimadas a partir de escalas com maior confiabilidade se<br />

aproximam mais da verdadeira média populacional (HUNTER e SCHMIDT, 2004). Na<br />

relação sat-leal o valor foi de 0,55. Esse procedimento foi o mesmo a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> por Szymanski e<br />

Henard (2001). Esta é a medida de effect size que será usada para as análises subseqüentes 2 .<br />

Na décima coluna, é apresentada a significância estimada da correlação média<br />

ponderada pela confiabilidade. Para tanto, foi usada a fórmula 3 que converte a estatística r<br />

para um valor t, que pode ser avalia<strong>do</strong> <strong>em</strong> termos de significância, da<strong>do</strong> um grau de liberdade<br />

(gl). O gl escolhi<strong>do</strong> variou para cada relação porque foi calcula<strong>do</strong> um gl acumula<strong>do</strong> para cada<br />

relação e a seguir dividiu-se esse gl pelo número de observações. Por ex<strong>em</strong>plo, no caso de satleal,<br />

os 23 estu<strong>do</strong>s considera<strong>do</strong>s apresentaram um gl total de 5.543 e um gl médio de 236,65,<br />

que foi usa<strong>do</strong> para o cálculo da significância 4 . Esse procedimento foi mais conserva<strong>do</strong>r que<br />

utilizar o tamanho médio da amostra, visto que neste segun<strong>do</strong> caso os valores calcula<strong>do</strong>s de t<br />

eram maiores e, assim, mais propensos à significância.<br />

Nas colunas seguintes, 11ª e 12ª , é mostra<strong>do</strong> o intervalo de confiança para o effect size.<br />

O objetivo desse intervalo é mostrar qual a variação da média de correlação nos estu<strong>do</strong>s<br />

aborda<strong>do</strong>s. Além disso, ele permite estabelecer <strong>uma</strong> referência, com a qual pod<strong>em</strong> ser<br />

compara<strong>do</strong>s os resulta<strong>do</strong>s de estu<strong>do</strong>s futuros.<br />

Finalmente, as duas últimas colunas mostram o que se chama na literatura de metaanálise<br />

de viés de disponibilidade (availability bias ou fail safe number). Essa estatística é<br />

<strong>uma</strong> estimativa <strong>do</strong> número de estu<strong>do</strong>s com efeito nulo e não publica<strong>do</strong>s, necessários para<br />

reduzir o efeito acumula<strong>do</strong> pelos outros estu<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s ao ponto de insignificância da<br />

relação. Em outras palavras, quantos estu<strong>do</strong>s com correlação não significativa seriam<br />

necessários para reduzir o effect size obti<strong>do</strong> para o nível de não significância. Quanto maior o<br />

fail safe number, maior é a confiança de que a relação investigada não é nula.<br />

Para o cálculo <strong>do</strong> fail safe number, foi usada a fórmula disponibilizada por Lipsey e<br />

Wilson, 2001): k0 = k (ES médiok/ES médioc-1), onde k0 é o número de effect sizes nulos<br />

7


necessários para reduzir o effect size médio (ES médiok) ao nível crítico (ES médioc) e k é o<br />

número de observações a partir das quais foi calcula<strong>do</strong> o effect size médio.<br />

Tabela 1 – Informação das Correlações<br />

(1ª ) (2ª) (3ª) (4ª) (5ª) (6ª) (7ª) (8ª) (9ª) (10ª) (11ª) (12ª) (13ª) (14ª)<br />

Relações<br />

Es-<br />

tu-<br />

<strong>do</strong>s<br />

Ob-<br />

ser-<br />

va-<br />

ções<br />

Min Max<br />

n<br />

acum.<br />

Média<br />

simples<br />

Média<br />

pond<br />

amostra<br />

Média<br />

pond<br />

confiab<br />

(effect<br />

size)<br />

Sig.<br />

ICi<br />

(95%)<br />

ICs<br />

(95%)<br />

fail safe fail safe<br />

number number<br />

ESc=<br />

0,2<br />

ESc=<br />

estima<strong>do</strong><br />

qual-sat 13 14 0,27 0,98 4604 0,57 0,52 0,60 0,00 0,50 0,70 28 94<br />

valor-sat 11 15 0,03 0,98 5403 0,46 0,38 0,36 0,00 0,21 0,51 12 52<br />

expct-sat 3 3 0,02 0,34 1404 0,19 0,15 0,16 0,01 -0,14 0,46 - -<br />

desc-sat 2 2 0,29 0,60 326 0,45 0,49 0,50 0,00 -0,79 1,79 - -<br />

cust-sat 2 2 0,59 0,72 515 0,65 0,66 0,66 0,00 0,05 1,27 - -<br />

perf-sat 1 1 0,82 0,82 204 0,82 0,82 0,82 0,00 - - - -<br />

equi-sat 1 1 0,51 0,51 400 0,51 0,51 - a 0,19 - - - -<br />

sat-leal 20 23 0,12 0,97 8515 0,58 0,54 0,55 0,00 0,46 0,64 40 76<br />

sat-conf 13 16 0,06 0,99 4939 0,69 0,64 0,63 0,00 0,50 0,77 35 66<br />

sat-compr 6 7 0,02 0,76 2859 0,38 0,29 0,28 0,00 -0,02 0,58 3 27<br />

sat-wom 3 4 0,20 0,52 1850 0,38 0,39 0,41 0,00 0,16 0,65 4 32<br />

conf-leal 15 21 0,00 0,95 6611 0,45 0,43 0,44 0,00 0,31 0,56 25 59<br />

valor-leal 15 22 0,11 0,97 6600 0,47 0,51 0,52 0,00 0,40 0,64 35 72<br />

qual-leal 11 12 0,00 0,74 3547 0,41 0,35 0,37 0,00 0,20 0,55 10 26<br />

compr-leal 5 5 0,17 0,86 2563 0,62 0,55 0,60 0,00 0,28 0,92 10 27<br />

cust-leal 3 3 0,12 0,55 1150 0,29 0,25 0,23 0,00 -0,14 0,61 - -<br />

equi-leal 1 1 0,50 0,50 400 0,50 0,50 - a 0,20 - - - -<br />

qual-valor 9 10 0,36 0,99 3535 0,57 0,56 0,66 0,00 0,54 0,78 23 87<br />

qual-conf 8 8 0,24 0,78 2482 0,64 0,56 0,55 0,00 0,37 0,74 14 30<br />

qual-compr 3 3 0,08 0,64 1411 0,44 0,34 0,35 0,00 -0,32 1,02 - -<br />

qual-cust 1 1 0,43 0,43 252 0,43 0,43 0,43 0,23 - - - -<br />

expct-qual 2 2 0,34 0,75 1200 0,55 0,57 0,64 0,00 -1,01 2,29 - -<br />

expct-val 2 2 0,02 0,18 1200 0,10 0,11 0,14 0,01 -0,50 0,77 - -<br />

expct-desc 1 1 -0,05 -0,05 204 -0,05 -0,05 -0,05 0,29 - - - -<br />

expct-perf 1 1 0,43 0,43 204 0,43 0,43 0,43 0,00 - - - -<br />

cust-conf 2 2 0,44 0,55 515 0,50 0,50 0,51 0,00 0,05 0,96 - -<br />

cust-comp 2 3 0,02 0,62 1319 0,22 0,14 0,15 0,00 -0,45 0,75 - -<br />

cust-valor 1 1 0,61 0,61 263 0,61 0,61 0,61 0,00 - - - -<br />

conf-valor 9 14 0,34 0,94 4331 0,57 0,59 0,60 0,00 0,51 0,68 28 39<br />

conf-compr 8 9 0,02 0,98 3448 0,48 0,39 0,38 0,00 0,10 0,66 8 43<br />

conf-wom 1 1 0,46 0,46 405 0,46 0,46 0,46 0,00 - - - -<br />

valor-comp 1 1 0,48 0,48 263 0,48 0,48 0,48 0,00 - - - -<br />

valor-wom 1 1 0,14 0,14 405 0,14 0,14 0,14 0,00 - - - -<br />

compr-wom 2 3 0,01 0,06 1728 0,03 0,03 0,03 0,09 -0,03 0,09 - -<br />

perf-desc 1 1 0,55 0,55 204 0,55 0,55 0,55 0,00 - - - -<br />

NOTAS – qual: qualidade; sat: satisfação; compr: comprometimento; conf: confiança; leal: lealdade; wom: bocaa-boca;<br />

cust: custo de mudança; ICi: intervalo de confiança inferior; ICs: intervalo de confiança superior; (“-”):<br />

não se aplica; ESc; effect size crítico; ( a ) o único estu<strong>do</strong> existente não forneceu o valor da confiabilidade.<br />

No entanto, não existe consenso na literatura sobre qual valor usar para effect size<br />

crítico (ES médioc). Por ex<strong>em</strong>plo, Wolf (1986, p.39) sugere o valor de 0,20, já que esse é<br />

considera<strong>do</strong> um nível baixo de effect size. Por esse motivo, o fail safe foi calcula<strong>do</strong> pelos<br />

autores de duas formas: (i) consideran<strong>do</strong> o effect size crítico (ES médioc) de 0,20 para todas as<br />

relações e (ii) estiman<strong>do</strong> <strong>uma</strong> correlação crítica para cada relação 5 . Esta estatística não é<br />

8


apresentada nos casos <strong>em</strong> que o número de observações ficou inferior a 4 (WERWATH,<br />

2003). No ex<strong>em</strong>plo da relação sat-leal, os valores encontra<strong>do</strong>s foram 40 (usan<strong>do</strong> ES<br />

médioc=0,20) e 76 (usan<strong>do</strong> ES médioc estima<strong>do</strong>= 0,127).<br />

Antecedentes de Satisfação. Observa-se que o grau de relacionamento (effect size)<br />

entre satisfação e seus antecedentes é relativamente alto, já que a maioria apresenta valores<br />

acima de 0,50. Segun<strong>do</strong> Lipsey e Wilson (2001), valores abaixo de 0,10 são considera<strong>do</strong>s<br />

baixos, entre 0,11 e 0,39 médios e acima de 0,40 são considera<strong>do</strong>s altos. As relações expct-sat<br />

e valor-sat tiveram effect-sizes médios e as d<strong>em</strong>ais relações effect-sizes altos. O constructo que<br />

apresentou relação mais forte com satisfação foi a performance (ES médio = 0,82). Entretanto,<br />

os da<strong>do</strong>s desta relação se baseiam <strong>em</strong> apenas um estu<strong>do</strong> e, assim, os resulta<strong>do</strong>s dev<strong>em</strong> ser<br />

vistos com cautela. O intervalo de confiança não pode ser calcula<strong>do</strong> <strong>em</strong> situações como esta,<br />

<strong>em</strong> que houve apenas <strong>uma</strong> observação. A relação expect-sat foi a que apresentou effect-size<br />

menor (ES médio = 0,16). A meta-análise conduzida por Szymanski e Henard (2001) avaliou<br />

a mesma relação e chegou a um valor médio de 0,27. Nota-se que a relação qual-sat<br />

apresentou effect-size alto (0,60), com o segun<strong>do</strong> maior número de observações (14).<br />

Analisan<strong>do</strong> os antecedentes de satisfação a partir <strong>do</strong> intervalo de confiança (IC),<br />

percebe-se que a relação qual-sat possui o intervalo mais compacto (0,50-0,70), segui<strong>do</strong> da<br />

relação valor-sat (0,21-0,51), o que pode estar relaciona<strong>do</strong> ao maior número de observações<br />

nessas relações, 14 e 15, respectivamente.<br />

O fail safe number mostra que seriam necessários 28 estu<strong>do</strong>s com effect size fraco<br />

(0,20) entre qualidade e satisfação a fim de que a relação entre os <strong>do</strong>is se tornasse não<br />

significativa. Ou, usan<strong>do</strong> um effect size crítico estima<strong>do</strong> (0,078, ver nota 4), esse valor<br />

aumenta para 94 estu<strong>do</strong>s. Na relação valor-sat, os valores de fail safe number foram de 12 e<br />

52. Nos casos <strong>em</strong> que o effect size é basea<strong>do</strong> <strong>em</strong> um número pequeno de estu<strong>do</strong>s, o fail safe<br />

number se torna baixo. Nos casos <strong>em</strong> que ele é menor que o nível crítico de effect size, o fail<br />

safe number se torna negativo. Nesses casos, o mais prudente é ler esse resulta<strong>do</strong> como “não<br />

se aplica”.<br />

Conseqüentes de satisfação. O valor médio <strong>do</strong> effect size é maior para a relação satconf<br />

(ES médio = 0,63; IC: 0,50-0,77). Como segun<strong>do</strong> conseqüente mais importante da<br />

satisfação v<strong>em</strong> a lealdade (ES médio = 0,55; IC: 0,46-0,64). Em seguida v<strong>em</strong> o boca-a-boca<br />

(ES médio = 0,41; IC: 0,16-0,65) e o comprometimento (ES médio = 0,28; IC: -0,02-0,58).<br />

O fail safe number mostra que seriam necessários 40 estu<strong>do</strong>s com effect size fraco<br />

(0,20) entre sat-leal a fim de que a relação entre os <strong>do</strong>is se tornasse não significativa. Ou,<br />

usan<strong>do</strong> um effect size crítico estima<strong>do</strong> (0,127, ver nota 4), esse valor aumenta para 76 estu<strong>do</strong>s.<br />

Antecedentes da Lealdade. Dos antecedentes da lealdade, aquele que possui maior<br />

relação é o comprometimento (ES médio = 0,60; IC: 0,28-0,92). A seguir vêm o valor, (ES<br />

médio = 0,52; IC: 0,40-0,64), a confiança (ES médio =0,44; IC: 0,31-0,56), a qualidade ES<br />

médio = 0,37; IC: 0,20-0,55) e o custo de mudança (ES médio = 0,23; IC: -0,14-0,61). O fail<br />

safe number foi maior nos constructos valor e confiança, sen<strong>do</strong> de 72 e 59, respectivamente<br />

(consideran<strong>do</strong> os effect sizes críticos estima<strong>do</strong>s, 0,122 e 0,115).<br />

D<strong>em</strong>ais relações. Destacam-se as relações: qual-valor (ES médio =0,66; IC: 0,54-78;<br />

fail-safe =87), conf-valor (ES médio =0,60; IC: 0,51-68; fail-safe = 39) e conf-compr (ES<br />

médio =0,38; IC: 0,10-0,66; fail-safe = 43).<br />

Síntese das Correlações. A Tabela 2 apresenta as correlações ponderadas pela amostra<br />

e pela confiabilidade (effect-size), sintetizan<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s na Tabela 1.<br />

9


Tabela 2 – Matriz de Correlação Resumida <strong>do</strong>s Estu<strong>do</strong>s Analisa<strong>do</strong>s<br />

Cust Boca-a-<br />

Qualidade Satisfação Comprom Confiança Valor Lealdade mud. boca<br />

Qualidade 1,00<br />

Satisfação 0,60 1,00<br />

Comprometimento 0,35 0,28 1,00<br />

Confiança 0,55 0,63 0,38 1,00<br />

Valor 0,66 0,36 0,48 0,60 1,00<br />

Lealdade 0,37 0,55 0,60 0,44 0,52 1,00<br />

Custo mudança 0,43 0,66 0,15 0,51 0,61 0,23 1,00<br />

Boca-a-boca - 0,41 0,03 0,46 0,14 - - 1,00<br />

Análise <strong>do</strong>s Efeitos Modera<strong>do</strong>res<br />

A meta-análise permite não só a avaliação das magnitudes <strong>do</strong>s effect-sizes, como<br />

apresenta<strong>do</strong>s anteriormente, mas também se fatores como tipo de pesquisa, méto<strong>do</strong> de análise,<br />

méto<strong>do</strong> de coleta e outros pod<strong>em</strong> influenciar os resulta<strong>do</strong>s. Nesta seção, são apresentadas<br />

essas análises de possíveis efeitos modera<strong>do</strong>res. Foram considera<strong>do</strong>s como fatores: tipo de<br />

participantes (consumi<strong>do</strong>res ou estudantes), a forma da correlação (estimada ou fornecida), a<br />

categoria pesquisada (produtos ou serviços), o tipo de análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s (Equações Estruturais<br />

– SEM ou regressão), a forma de coleta <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s (survey ou experimento), a abordag<strong>em</strong> dada<br />

para o constructo valor (percebi<strong>do</strong> ou compartilha<strong>do</strong>). Como variáveis de controle<br />

(covariáveis), foram consideradas o tamanho da amostra e a confiabilidade <strong>do</strong>s constructos<br />

envolvi<strong>do</strong>s na relação analisada.<br />

Os testes de efeito modera<strong>do</strong>r foram analisa<strong>do</strong>s por meio de regressões, nas quais a<br />

correlação sob estu<strong>do</strong> era a variável dependente e os fatores as variáveis independentes,<br />

codificadas como dummy. Os resulta<strong>do</strong>s são apresenta<strong>do</strong>s na Tabela 3. Foram consideradas as<br />

relações que apresentaram acima de 14 observações, de forma similar a Szymanski e Henard<br />

(2001), que usaram 15 observações como número mínimo. As relações sat-conf (16<br />

observações) e conf-valor (14 observações) não apresentaram nenhum fator modera<strong>do</strong>r<br />

significativo e, por isso, não constam na Tabela 3.<br />

Na relação qual-sat, percebe-se que a categoria pesquisada apresentou efeito<br />

significativo (β=0,59, sig.=0,034), indican<strong>do</strong> que a média da correlação qual-sat foi menor<br />

nos estu<strong>do</strong>s que tiveram ‘serviços’ como a categoria analisada. A análise compara 13 estu<strong>do</strong>s<br />

que pesquisaram serviços com 1 estu<strong>do</strong> que investigou produto.<br />

Na relação valor-sat, a única variável significativa foi a ‘forma da correlação’ (β=-0,54,<br />

sig.=0,014), cujo beta negativo indica que nos casos <strong>em</strong> que a correlação de valor-sat foi<br />

estimada pela fórmula (ver nota 2), o valor médio da correlação foi menor. Esse resulta<strong>do</strong><br />

mostra que a fórmula é conserva<strong>do</strong>ra, já que tende a produzir valores menores. Nesse caso,<br />

foram compara<strong>do</strong>s 13 casos de correlação estimada com 2 de correlação fornecida.<br />

Na relação sat-leal, <strong>do</strong>is fatores apresentaram significância, a categoria pesquisada e o<br />

tipo de análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s. No primeiro, verificou-se que a média da correlação sat-leal foi<br />

maior nos estu<strong>do</strong>s utilizan<strong>do</strong> produto que aqueles que pesquisaram serviços (β=0,37,<br />

sig.=0,014). Esse resulta<strong>do</strong> foi coerente com o que foi encontra<strong>do</strong> na relação qual-sat. Foram<br />

compara<strong>do</strong>s 20 estu<strong>do</strong>s de serviços com 3 de produtos. No segun<strong>do</strong> fator, tipo de análise, a<br />

correlação média de sat-leal foi menor nos estu<strong>do</strong>s que utilizaram regressão múltipla (β=-<br />

0,60, sig.=0,001) <strong>em</strong> relação aos que usaram Equações Estruturais-SEM. Nesse caso, foram<br />

compara<strong>do</strong>s 18 estu<strong>do</strong>s que usaram SEM com 3 que usaram regressões.<br />

A relação conf-leal sofreu influência de <strong>do</strong>is fatores, o tipo de participante e a forma de<br />

apresentação da correlação. No primeiro caso, a média da correlação conf-leal foi menor nos<br />

estu<strong>do</strong>s que pesquisaram estudantes <strong>em</strong> relação aos que pesquisaram consumi<strong>do</strong>res (β=-0,43,<br />

10


sig.=0,065), ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s 16 estu<strong>do</strong>s pesquisan<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>res com 5 de<br />

estudantes. A correlação conf-leal foi influenciada também pela forma de apresentação da<br />

correlação, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> menor no caso <strong>em</strong> que era estimada (β=-0,45, sig.=0,055). Nota-se<br />

novamente que a correlação estimada se mostrou mais conserva<strong>do</strong>ra, por ser menor. Foram<br />

compara<strong>do</strong>s 8 estu<strong>do</strong>s de correlação fornecida com 13 de correlação estimada.<br />

Tabela 3 – Regressões das Relações nas Variáveis Modera<strong>do</strong>ras<br />

Variável Modera<strong>do</strong>ra<br />

Participantes (0: consumi<strong>do</strong>r x 1: estudante)<br />

qual-sat<br />

Relações analisadas<br />

valor-sat sat-leal conf-leal valor-leal<br />

Beta NA a 0,07 -0,06 -0,43* -0,44**<br />

Nº obs.: consumi<strong>do</strong>res, estudantes<br />

Correlação (0: fornecida x 1: calculada)<br />

14,0 9,5 18,5 16,5 16,6<br />

Beta -0,35 -0,54** -0,07 -0,45* -0,37**<br />

Nº obs.: fornecida, calculada<br />

Categoria (0: serviços x 1: produtos)<br />

4,10 2,13 6,17 8,13 8,14<br />

Beta 0,59** 0,26 0,37** -0,01 0,13<br />

Nº obs. serviços, produtos<br />

Análise (0: SEM x 1: regressão)<br />

13,1 13,2 20,3 16,5 17,5<br />

Beta 0,23 NA a -0,60*** 0,09 -0,10<br />

Nº obs. SEM, regressão<br />

Coleta (0: survey x 1: experimento)<br />

12,1 15,0 18,3 19,1 19,1<br />

Beta NA a NA a 0,07 NA a 0,01<br />

Nº obs.: survey, experimento<br />

Valor (0: percebi<strong>do</strong>; 1: compartilha<strong>do</strong>.)<br />

14,0 15,0 22,1 21,0 21,1<br />

Beta NA b 0,24 NA b NA b -0,77***<br />

Nº obs.: percebi<strong>do</strong>, compartilha<strong>do</strong> NA b 14,1 NA b NA b 16,6<br />

Amostra -0,31 -0,54** -0,37** -0,06 0,12<br />

Confiabilidade X c 0,24 -0,24 -0,14 -0,20 0,01<br />

Confiabilidade Y d -0,02 -0,15 0,35** 0,29 0,26<br />

R 2 ajusta<strong>do</strong> (gl) 0,59 (11) 0,74 (13) 0,72 (20) 0,26 (19) 0,70 (19)<br />

Sig. 0,09 0,02 0,01 0,14 0,01<br />

Max VIF 1,27 1,67 1,54 1,61 2,23<br />

NOTAS – * sig. a 0,10; ** sig. a 0,05; *** sig. a 0,01; NA a : não se aplica; NA b não entrou na regressão;<br />

( c ) confiabilidade <strong>do</strong> primeiro constructo da relação; ( d ) confiabilidade <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> constructo.<br />

Da mesma forma que na relação anterior, a relação valor-leal apresentou significância<br />

nos fatores tipo de participante e forma de apresentação da correlação. A correlação média de<br />

valor-leal foi menor nos estu<strong>do</strong>s que utilizaram estudantes (β=-0,44, sig.=0,022), com 16<br />

estu<strong>do</strong>s de consumi<strong>do</strong>res e 6 de estudantes, e menor nos casos que tiveram a correlação<br />

estimada (β=-0,37, sig.=0,026), com 8 estu<strong>do</strong>s apresentan<strong>do</strong> a correlação e 14 ten<strong>do</strong> a<br />

correlação estimada. Outro fator que apresentou efeito modera<strong>do</strong>r significativo, nessa relação,<br />

foi a abordag<strong>em</strong> dada para o constructo valor. Nos casos <strong>em</strong> que foi usada a teoria de valor<br />

percebi<strong>do</strong> como base, a média da correlação valor-leal foi maior, compara<strong>do</strong> aos estu<strong>do</strong>s que<br />

a<strong>do</strong>taram a teoria de valor compartilha<strong>do</strong> (β=-0,77, sig.=0,001).<br />

Das covariáveis incluídas nas regressões, a amostra se mostrou significativa nas<br />

relações valor-sat (β=-0,54, sig.=0,02) e sat-leal (β=-0,37, sig.=0,017). Em todas essas<br />

relações, o valor negativo de beta mostra que quanto maior foi o tamanho da amostra menor<br />

foi a correlação. Outra covariável que apresentou significância foi a confiabilidade <strong>do</strong><br />

segun<strong>do</strong> constructo (confiabilidade Y) na relação sat-leal (β=0,35, sig.=0,023), cujo valor<br />

positivo de beta mostra que quanto maior a confiabilidade de lealdade, maior é a correlação<br />

entre satisfação e lealdade.<br />

De forma geral, as regressões apresentaram bons indica<strong>do</strong>res de ajuste, com exceção da<br />

relação conf-leal, (R 2 ajust.=0,26, sig.=0,14). Em to<strong>do</strong>s os casos, as estatísticas de<br />

colinearidade foram satisfatórias (VIF máximo inferior a 10 <strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os casos).<br />

11


Coeficientes de Explicação <strong>do</strong>s constructos e Índices de Ajuste<br />

A meta-análise permitiu ainda verificar o grau de explicação médio que os constructos<br />

têm alcança<strong>do</strong> nos estu<strong>do</strong>s sobre o assunto, controlan<strong>do</strong> os efeitos <strong>do</strong> tamanho de amostra e<br />

da confiabilidade das escalas. As estatísticas referentes ao coeficiente de explicação são<br />

apresentadas na Tabela 4. Percebe-se que o constructo lealdade apresentou R 2 médio = 0,62<br />

(IC: 0,56-0,67), com maior freqüência de observações (28), resultante de 25 estu<strong>do</strong>s. Em<br />

seguida veio o constructo satisfação (R 2 médio = 0,70; IC: 0,59-0,80), com 17 observações<br />

resultante de 16 estu<strong>do</strong>s.<br />

Tabela 4 - Informação <strong>do</strong>s Coeficientes de Explicação (R 2 ) <strong>do</strong>s Constructos<br />

Constru-<br />

ctos<br />

Estu-<br />

<strong>do</strong>s<br />

Obser-<br />

vações<br />

Min Max<br />

n<br />

acumu-<br />

la<strong>do</strong><br />

Média<br />

simples<br />

Média<br />

pond<br />

amostra<br />

Média<br />

Pond<br />

confiab<br />

ICi<br />

95%<br />

Valor 10 11 0,05 1,00 3809 0,52 0,59 0,61 0,47 0,75<br />

Qualidade 4 5 0,02 0,81 2442 0,58 0,63 0,50 0,16 0,83<br />

Satisfação 16 17 0,30 0,92 5476 0,61 0,69 0,70 0,59 0,80<br />

Lealdade 25 28 0,21 0,91 8315 0,59 0,61 0,62 0,56 0,67<br />

Boca-a-boca 4 5 0,56 0,97 2255 0,73 0,74 0,75 0,59 0,90<br />

Comprometimento 5 6 0,08 0,77 2763 0,52 0,50 0,50 0,17 0,82<br />

Custo de mudança 1 1 0,19 0,19 252 0,19 0,19 0,19 NA NA<br />

Confiança 12 13 0,45 0,82 3836 0,64 0,66 0,67 0,60 0,73<br />

NOTAS – ICi: intervalo de confiança inferior; ICs: intervalo de confiança superior. O intervalo de confiança<br />

foi calcula<strong>do</strong> para a média final, ponderada pela amostra e pela confiabilidade. NA: não se aplica.<br />

Os principais índices de ajuste reporta<strong>do</strong>s nos estu<strong>do</strong>s analisa<strong>do</strong>s são apresenta<strong>do</strong>s na<br />

Tabela 5. Consideran<strong>do</strong> a média ponderada pela amostra, observa-se que o GFI e o AGFI<br />

estão abaixo <strong>do</strong> mínimo ideal de 0,90 (HAIR et al., 1998). O mesmo acontece com o intervalo<br />

de confiança deles. O CFI também atingiu <strong>uma</strong> média similar (0,869; IC: 0,832-0,906). Por<br />

outro la<strong>do</strong>, o RMSEA apresenta média abaixo <strong>do</strong> valor mínimo de 0,08 proposto na literatura<br />

(HAIR et al., 1998), <strong>em</strong>bora seu intervalo de confiança superior atinja um patamar superior<br />

(0,093). Esses resulta<strong>do</strong>s mostram que os modelos testa<strong>do</strong>s na literatura analisada apresentam<br />

um bom nível de ajuste.<br />

Tabela 5 - Informação <strong>do</strong>s Principais Índices de Ajuste <strong>do</strong>s Constructos<br />

Constructos<br />

Estu-<br />

<strong>do</strong>s<br />

Obser-<br />

vações<br />

Valor<br />

mínimo<br />

Valor<br />

máximo<br />

n<br />

acumu-<br />

la<strong>do</strong><br />

Média<br />

simples<br />

Média<br />

Pond<br />

amostra<br />

ICi<br />

95%<br />

ICs<br />

95%<br />

GFI 26 32 0,530 0,993 11343 0,868 0,861 0,825 0,897<br />

AGFI 21 24 0,258 0,971 8708 0,786 0,806 0,754 0,857<br />

CFI 32 41 0,350 0,998 13877 0,907 0,869 0,832 0,906<br />

RMSEA 33 45 0,000 0,219 15109 0,079 0,077 0,062 0,093<br />

NOTAS – ICi: intervalo de confiança inferior; ICs: intervalo de confiança superior. O intervalo de<br />

confiança foi calcula<strong>do</strong> para a média final, ponderada pela amostra. GFI: goodness-of-fit index; AGFI:<br />

adjusted goodness-of-fit index; CFI: comparative fit index; RMSEA: root-mean-square error of<br />

approximation.<br />

Conclusões e Considerações Finais<br />

Com o objetivo de fazer um balanço <strong>do</strong> conhecimento produzi<strong>do</strong> no Brasil sobre os<br />

constructos satisfação e lealdade, <strong>uma</strong> sist<strong>em</strong>atização <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>em</strong>píricos é apresentada<br />

por meio da meta-análise. Embora já se tenha discuti<strong>do</strong> no Brasil a importância da metaanálise<br />

para o <strong>Marketing</strong> (PEREIRA, 2004), este artigo é o resulta<strong>do</strong> da aplicação da técnica<br />

de fato, sen<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> se t<strong>em</strong> conhecimento, o primeiro artigo usan<strong>do</strong> a meta-análise nos<br />

estu<strong>do</strong>s brasileiros de <strong>Marketing</strong>.<br />

ICs<br />

95%<br />

12


Os principais resulta<strong>do</strong>s sobre os antecedentes e conseqüentes da satisfação e lealdade<br />

apontam para a qualidade como importante antecedente da satisfação, pois apresentou <strong>uma</strong><br />

correlação estável e confiável, além de um alto valor de fail safe. Dessa forma, se a qualidade,<br />

seja <strong>do</strong> produto ou <strong>do</strong> serviço, aumenta, a satisfação <strong>do</strong> respondente também aumenta. Essa<br />

relação, com um fail safe number de alto valor, mostra que seriam necessários vários<br />

trabalhos com relação não significativa e que não foram publica<strong>do</strong>s para tornar a correlação<br />

média não significativa. Em termos de conseqüentes da satisfação, a lealdade e a confiança se<br />

destacaram. A lealdade com um maior número de trabalhos publica<strong>do</strong>s e maior amostra<br />

acumulada aparece com a correlação mais estável e confiável, d<strong>em</strong>onstran<strong>do</strong> que seriam<br />

necessários, aproximadamente, 76 trabalhos não publica<strong>do</strong>s com relação não significativa<br />

para trazer a correlação média para um nível não significativo. Como antecedente da lealdade,<br />

o constructo valor se mostrou significativo, com um intervalo de confiança mais estável,<br />

enquanto o comprometimento apresentou a maior correlação, <strong>em</strong> acor<strong>do</strong> com o trabalho de<br />

Garbarino e Johnson (1999). No entanto, é importante l<strong>em</strong>brar que o construto satisfação foi o<br />

antecedente mais importante da lealdade, pois apresentou o maior valor de fail safe (76).<br />

Uma das diferenças identificadas entre o presente estu<strong>do</strong> e a investigação de Szymanski<br />

e Henard (2001), trabalho mais cita<strong>do</strong> no Journal of the Acad<strong>em</strong>y of <strong>Marketing</strong> Science<br />

(http://jam.sagepub.com/reports/mfc1.dtl), foi o tipo de relação. Observa-se no trabalho norteamericano<br />

que os constructos expectativa, desconfirmação, performance, afeto e eqüidade<br />

foram bastante investiga<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>, até 1998, caso que não ocorreu no<br />

Brasil, até o perío<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>. Poucos trabalhos <strong>em</strong>píricos foram realiza<strong>do</strong>s com esses<br />

constructos. Enquanto Szymanski e Henard (2001) obtiveram, por ex<strong>em</strong>plo, 30 estu<strong>do</strong>s entre<br />

desconfirmação-satisfação, no Brasil foram 2 estu<strong>do</strong>s. Esses autores identificaram que, como<br />

antecedente da satisfação, a relação eqüidade-satisfação teve a maior correlação (0,50), com 5<br />

estu<strong>do</strong>s, enquanto no Brasil teve um único estu<strong>do</strong>, que encontrou correlação s<strong>em</strong>elhante<br />

(0,51). A igualdade identificada entre os <strong>do</strong>is estu<strong>do</strong>s foi quanto ao conseqüente da satisfação,<br />

a intenção de recompra, tratada aqui como lealdade. Com 20 estu<strong>do</strong>s e 23 correlações, foi<br />

encontra<strong>do</strong>, nos estu<strong>do</strong>s brasileiros, <strong>uma</strong> correlação s<strong>em</strong>elhante à encontrada por Szymanski e<br />

Henard (2001), que analisaram 9 estu<strong>do</strong>s e 17 correlações. Na meta-análise norte-americana, a<br />

correlação satisfação-lealdade foi de 0,53 e no Brasil foi de 0,55. Isso significa que,<br />

independente <strong>do</strong> ambiente <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, o cliente satisfeito t<strong>em</strong> alta propensão à lealdade<br />

(OLIVER, 1999).<br />

Resulta<strong>do</strong>s importantes foram encontra<strong>do</strong>s também na análise <strong>do</strong>s efeitos modera<strong>do</strong>res.<br />

Quanto ao tipo de participante da pesquisa (consumi<strong>do</strong>res x estudantes) observou-se que ele<br />

influencia os resulta<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s. Esse fator afetou a relação confiança-lealdade e valorlealdade,<br />

sen<strong>do</strong> que, <strong>em</strong> ambos os casos, a correlação foi menor no grupo de estudantes. Esse<br />

resulta<strong>do</strong> é coerente com os estu<strong>do</strong>s das relações confiança-lealdade e valor-lealdade<br />

(MORGAN e HUNT, 1994), segun<strong>do</strong> os quais são necessários laços mais fortes entre clientes<br />

e <strong>em</strong>presas a fim de haver maior propensão à lealdade. Quanto ao fator modera<strong>do</strong>r tipo de<br />

correlação (fornecida ou estimada), os resulta<strong>do</strong>s mostraram que os valores tenderam a ser<br />

menores quan<strong>do</strong> a correlação foi estimada. Como n<strong>em</strong> to<strong>do</strong>s os estu<strong>do</strong>s forneceram as<br />

correlações originais, foi necessário estimá-las. Os autores se preocuparam <strong>em</strong> avaliar se essa<br />

prática não estaria estiman<strong>do</strong> correlações maiores que as originais. Com o resulta<strong>do</strong> obti<strong>do</strong><br />

nas análises, ficou comprova<strong>do</strong> que a decisão tomada quanto à estimativa foi <strong>uma</strong> solução<br />

conserva<strong>do</strong>ra. Para Wolf (1986), essa prática de estimar as correlações é comum ao se fazer<br />

meta-análises. Quanto a outro fator modera<strong>do</strong>r, a categoria pesquisada (produtos x serviços),<br />

verificou-se que nos trabalhos de produtos as correlações entre qualidade-satisfação e<br />

satisfação-lealdade foram maiores. Essa situação é contrária à encontrada na meta-análise de<br />

Szymanski e Henard (2001), na qual a correlação satisfação-intenção de recompra foi menor<br />

para produtos. Enquanto os autores norte-americanos compararam 4 estu<strong>do</strong>s da categoria<br />

13


produtos com 5 da categoria serviços, a meta-análise aqui apresentada comparou a relação<br />

satisfação-lealdade com 5 trabalhos que usaram produto contra 17 com serviços. Pode-se<br />

argumentar que <strong>em</strong> serviços há <strong>uma</strong> maior complexidade para o consumi<strong>do</strong>r avaliar a sua<br />

propensão à lealdade e mesmo avaliar o seu grau de satisfação e de qualidade percebida, além<br />

de que há maior insegurança quanto a esses padrões nas experiências seguintes de consumo.<br />

Testou-se, ainda, o efeito modera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> constructo valor (percebi<strong>do</strong> x compartilha<strong>do</strong>).<br />

A abordag<strong>em</strong> teórica dada para o constructo valor nos estu<strong>do</strong>s mostrou-se influencia<strong>do</strong>ra da<br />

relação valor-lealdade. Quan<strong>do</strong> o constructo valor foi considera<strong>do</strong> como “valor percebi<strong>do</strong>”<br />

(relação entre benefícios e custos, Zeithaml, 1988), a relação valor-lealdade foi mais forte <strong>do</strong><br />

que quan<strong>do</strong> comparada ao valor compartilha<strong>do</strong> (MORGAN e HUNT, 1994). Isso mostra que<br />

a relação entre benefícios e custos é <strong>uma</strong> forte preditora na formação da lealdade.<br />

Na análise <strong>do</strong>s efeitos modera<strong>do</strong>res, <strong>do</strong>is casos se mostraram de difícil interpretação. O<br />

uso de SEM ou regressão influenciou apenas a relação satisfação-lealdade, com <strong>uma</strong><br />

correlação menor nos estu<strong>do</strong>s de regressão. Esse resulta<strong>do</strong> não permite afirmar que a técnica<br />

de Equações Estruturais fornece resulta<strong>do</strong>s superiores aos da técnica de Regressão. A variável<br />

de controle amostra apareceu significativa apenas nas relações valor-satisfação e satisfaçãolealdade,<br />

indican<strong>do</strong> que quanto maior foi a amostra menores foram as correlações.<br />

Observou-se, ainda, que os constructos satisfação e lealdade possu<strong>em</strong> um alto<br />

coeficiente de explicação (70 e 62%, respectivamente), o que mostra um grande poder de<br />

explicação <strong>do</strong>s modelos utiliza<strong>do</strong>s, com boa previsão da variável dependente. Quanto aos<br />

índices de ajuste desses modelos, verificou-se que estão próximos <strong>do</strong> recomenda<strong>do</strong> na<br />

literatura (HAIR, et al., 1998) e que os intervalos de confiança para esses índices comportam<br />

os resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s por Brei e Liberali (2004) ao estudar<strong>em</strong> o uso de SEM nos estu<strong>do</strong>s<br />

brasileiros de <strong>Marketing</strong>. Porém, a interpretação desses <strong>do</strong>is resulta<strong>do</strong>s, grau de explicação e<br />

índices de ajuste, deve ser feita com cautela. Isso porque cada modelo investigou relações<br />

diferentes. Essa limitação é referida na literatura de meta-análise de que se “mistura laranjas e<br />

maças” (LIPSEY e WILSON, 2001, p.8). Ressalta-se, entretanto, que ela não afeta a análise<br />

<strong>do</strong>s effect sizes, já que esses consideram as variáveis/constructos de forma específica.<br />

Uma das maiores dificuldades <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> foi a montag<strong>em</strong> <strong>do</strong> banco de da<strong>do</strong>s, devi<strong>do</strong> à<br />

ausência de informações importantes, tais como a correlação entre as variáveis e a<br />

confiabilidade das escalas, nos estu<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s na área de <strong>Marketing</strong> no Brasil.<br />

Recomenda-se a exigência por parte <strong>do</strong>s avalia<strong>do</strong>res de revistas e congressos de que os artigos<br />

com pesquisas quantitativas contenham as informações necessárias (ex. matriz de correlação e<br />

confiabilidade das escalas), a fim de que novos estu<strong>do</strong>s usan<strong>do</strong> meta-análise sejam viáveis.<br />

Por fim, os resulta<strong>do</strong>s identifica<strong>do</strong>s nesse estu<strong>do</strong> pod<strong>em</strong> servir como parâmetros para<br />

estimativas de trabalhos futuros sobre o t<strong>em</strong>a satisfação e lealdade. Os resulta<strong>do</strong>s que for<strong>em</strong><br />

obti<strong>do</strong>s <strong>em</strong> novas pesquisas poderão ser compara<strong>do</strong>s com esse padrão, a fim de avaliar se a<br />

correlação encontrada está dentro <strong>do</strong> intervalo de confiança alcança<strong>do</strong> até agora nos estu<strong>do</strong>s<br />

sobre esse t<strong>em</strong>a no Brasil.<br />

Notas<br />

1 Foi usada a confiabilidade composta ou, se ausente, o Alfa de Cronbach. Caso nenhum deles fosse forneci<strong>do</strong>,<br />

foi utilizada a média da confiabilidade composta, ponderada pela amostra, da respectiva relação.<br />

2 Preferiu-se não fazer a transformação <strong>do</strong>s valores originais de correlação na estatística Z de Fisher, pois<br />

segun<strong>do</strong> Hunter e Schmidt (2004, p.56,83) o viés que essa estatística introduz é maior que aquele existente nos<br />

valores de r . Optou-se por trabalhar com o valor original da correlação pondera<strong>do</strong> pelo tamanho da amostra e<br />

pela confiabilidade das escalas como sen<strong>do</strong> o effect size, visto ser<strong>em</strong> esses os principais fatores que poderiam<br />

gerar diferenças das correlações entre os estu<strong>do</strong>s.<br />

3 As fórmulas a seguir permit<strong>em</strong> converter o valor de t para o valor de r e vice-versa (Wolf, 1986, p.35).<br />

14


=<br />

t<br />

2<br />

t<br />

2<br />

+ df<br />

⇒ t =<br />

r<br />

1− r<br />

df<br />

4 Dessa forma, o teste da significância da correlação sat-leal (r= 0,548) se deu com base nos seguintes passos:<br />

a) transformação <strong>do</strong> valor de r para o valor t segun<strong>do</strong> a fórmula acima.<br />

t =<br />

r<br />

1−<br />

r<br />

df<br />

2<br />

⇒<br />

0,<br />

548<br />

1−<br />

0,<br />

548<br />

236,<br />

65<br />

2<br />

2<br />

⇒ 10,<br />

06<br />

b) cálculo da significância <strong>do</strong> valor de t consideran<strong>do</strong> o gl médio: na planilha de cálculo foi feito =distt<br />

(10,06;236,65;1), indican<strong>do</strong> respectivamente o valor de t, o gl e o teste unicaudal. O valor da<br />

significância obti<strong>do</strong> foi de 0,000.<br />

5<br />

A correlação crítica foi calculada a partir <strong>do</strong> seguinte questionamento: da<strong>do</strong> o gl médio de cada relação, qual o<br />

valor crítico de t associa<strong>do</strong>, consideran<strong>do</strong> um nível de sig. de 0,05? Calcula<strong>do</strong> esse t crítico, bastaria transformalo<br />

para r seguin<strong>do</strong> a fórmula (nota 3) e usar esse r como ES médioc. Ex<strong>em</strong>plo <strong>do</strong>s cálculos, consideran<strong>do</strong> a<br />

relação satisfação-lealdade:<br />

⎛ ES<br />

k ⎞ ⎛ 0,<br />

55 ⎞<br />

a) k 0 = k<br />

⎜ −1<br />

⎟ = 23⎜<br />

−1⎟<br />

= 40<br />

⎝ ES<br />

c ⎠ ⎝ 0,<br />

20 ⎠<br />

⎛ ES<br />

k ⎞ ⎛ 0,<br />

55 ⎞<br />

b) k 0 = k<br />

⎜ −1<br />

⎟ = 23⎜<br />

−1⎟<br />

= 76<br />

⎝ ES<br />

c ⎠ ⎝ 0,<br />

127 ⎠<br />

Note que no segun<strong>do</strong> caso foi calcula<strong>do</strong> o t crítico como =INVT(0,05;236,65) = 1,97 e que corresponde a r=<br />

0,127. Esse segun<strong>do</strong> caso resultava <strong>em</strong> valores maiores s<strong>em</strong>pre que a correlação crítica estimada ficasse abaixo<br />

de 0,20.<br />

Referências Bibliográficas<br />

ANDERSON, E.; FORNELL, C.; LEHMANN, D. Customer satisfaction, market share, and<br />

profitability: Finding from Sweden. Journal of <strong>Marketing</strong>, v.58, n.3, p.53-66, jul.1994.<br />

ARNDT, J. The role of product related conversations in the diffusion of a new product.<br />

Journal of <strong>Marketing</strong> Research, v.4, n.3, p.291-295, 1967.<br />

BURNHAM, T. A.; FRELS, J. K.; MAHAJAN, V. Consumer Switching Costs: A Typology,<br />

Antecedents, and Consequences. Journal of the Acad<strong>em</strong>y of <strong>Marketing</strong> Science, v.31, n.2,<br />

p.109-126, Spring 2003.<br />

BREI, V.A.; LIBERALI, G. O Uso de Modelag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Equações Estruturais na Área de<br />

<strong>Marketing</strong> no Brasil. In: ENCONTRO DE MARKETING – EMA, 1. Anais... Porto Alegre,<br />

RS: 2004.<br />

CHURCHILL, G. A.; SURPRENANT, C. An investigation into the determinants of customer<br />

satisfaction. Journal of <strong>Marketing</strong>, v.19, n.4, p.491-504, nov.1982.<br />

DEIGHTON, J. The consumption of performance. Journal of Consumer Research, v.19, n.3<br />

p.362-372, dez.1992.<br />

DICK, A.; BASU, K. Customer Loyalty: Toward an Integrated Conceptual Framework.<br />

Journal of the Acad<strong>em</strong>y of <strong>Marketing</strong> Science, v.22, n.2 , p.99-113, Spring 1994.<br />

FARLEY, J.U.; LEHMANN, D.R.; SAWYER, A. Empirical <strong>Marketing</strong> Generalization Using<br />

<strong>Meta</strong>-Analysis. <strong>Marketing</strong> Science, v.14, n.3, 1995.<br />

FORNELL, C.; JOHSON, M.D.; ANDERSON, E.W.; CHA, J.; BRYANT, B.E. The<br />

American Customer Satisfaction Index: Nature, purpose, and findings. Journal of<br />

<strong>Marketing</strong>, Chicago, v.60, n.4, p.7-12, out. 1996.<br />

GARBARINO, E.; JOHNSON, M. The Different Roles of Satisfaction, Trust and<br />

Commitment in Customer Relationships. Journal of <strong>Marketing</strong>, v.63, n.2, p.70-87, 1999.<br />

GRÖNROOS, C. From marketing mix to relationship marketing: Towards a paradigm shift in<br />

marketing. Periodical Manag<strong>em</strong>ent Decision, v.32, n.2, p.4-18, 1994.<br />

15


HAIR Jr, J.F.; ANDERSON, R.E.; TATHAM, W.B; BLACK, W.C. Multivariate data<br />

analysis. 5.ed. Upper Saddle River : Prentice Hall, 1998.<br />

HUNTER, J.E.; SCHMIDT, F.L. Methods of <strong>Meta</strong>-Analysis: Correcting Error and Bias in<br />

Research Findings. 2.ed. Beverly Hills, CA: Sage, 2004.<br />

LAM, S.Y.; SHANKAR, V.; ERRAMILLI, M.K.; MURTHY, B. Customer Value,<br />

Satisfaction, Loyalty, and Switching Costs: An Ilustration From a Business-to-Business<br />

Service Context. Journal of the Acad<strong>em</strong>y of <strong>Marketing</strong> Science, v.32, n.3, p.293-311,<br />

2004.<br />

LEE, J.; LEE, J.; FEICK, L. The impact of switching costs on the customer satisfactionloyalty<br />

link: mobile phone service in France. The Journal of Services <strong>Marketing</strong>, v.15, n.1,<br />

p.35-48, 2001.<br />

LIPSEY, M.W.; WILSON, D.B. Practical <strong>Meta</strong>-Analysis. Beverly Hills, CA: Sage, 2001.<br />

MITTAL, V.; KAMAKURA A. W. Satisfaction, Repurchase Intent, Repurchase Behavior<br />

Investigatin the Moderating Effect of Customer Characteristics. Journal of <strong>Marketing</strong><br />

Research, v.38, p.131-142, fev.2001.<br />

MOORMAN, C.; ZALTMAN, G.; DESHPANDÉ, R. Relationships Between Providers and<br />

Users of Market Research: The Dynamics of Trust Within and Between Organizations.<br />

Journal of <strong>Marketing</strong> Research, v.29, n.3, p.314-28, ago. 1992.<br />

MORGAN, R.; HUNT, S. The Commitment-Trust Theory of Relationship <strong>Marketing</strong>.<br />

Journal of <strong>Marketing</strong>, v.58, n.3, p.20-38, jul. 1994.<br />

OLIVER, R. L. A cognitive model of the antecedents and consequences of satisfaction<br />

decisions. Journal of <strong>Marketing</strong> Research, v.17, n.4, p.460-469, nov. 1980.<br />

_____, Measur<strong>em</strong>ent and evaluation of satisfaction processes in retailing settings. Journal of<br />

Retailing, v.57, n.3, p.25-48, Fall 1981.<br />

_____, Whence Consumer Loyalty? Journal of <strong>Marketing</strong>, v.63, n.especial, p.33-44, 1999.<br />

PEREIRA, R.C.F. Exploran<strong>do</strong> Conceitos e Perspectivas da <strong>Meta</strong>-Análise <strong>em</strong> <strong>Marketing</strong>. In:<br />

ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM<br />

ADMINISTRAÇÃO – ENANPAD, 28. Anais... Curitiba, PR: 2004.<br />

SINGH, J.; SIRDESHMUKH, D. Agency and Trust Mechanisms in Consumer Satisfaction<br />

and Loyalty Judg<strong>em</strong>ents. Journal Acad<strong>em</strong>y of <strong>Marketing</strong> Science, v.28, n.1, p.150-168,<br />

Winter, 2000.<br />

SÖDERLUND, M. Customer Satisfaction and its Consequences on Customer Behavior<br />

Revisited. International Journal of Service Industry Manag<strong>em</strong>., v.9, n.2, p.169-88, 1998.<br />

SZYMANSKI, D.M.; HENARD, D.H. Customer Satisfaction: A <strong>Meta</strong>-Analysis of the<br />

Empirical Evidence. Journal of the Acad<strong>em</strong>y of <strong>Marketing</strong> Science, v.29, n.1, p.16-35,<br />

2001.<br />

TSE, D. K.; WILTON, P. C. Models of consumer satisfaction formation: an extension.<br />

Journal of <strong>Marketing</strong> Research, v.25, n.2, p.204-312, maio 1988.<br />

WERWATH, M.W. Antecedents to Organizational Innovation, Balancing Centripetal<br />

and Centrifugal Forces in a lifecycle Model: A <strong>Meta</strong>-analysis. 2003. 101 p. Dissertation<br />

(Ph.D.) - Benedictine University, Chicago, USA.<br />

WESTBROOK, R.A. Product/Consumption Based Affective Responses and Postpurchase<br />

Processes. Journal of <strong>Marketing</strong> Research, v.24, n.3, p.258-270, 1987.<br />

WOLF, F.M. <strong>Meta</strong>-Analysis: Quantitative methods for research synthesis. Beverly Hills, CA:<br />

Sage, 1986.<br />

ZEITHAML, V. A.; BERRY, L.; PARASURAMAN, The Behavioral Consequences of<br />

Service Quality. Journal of <strong>Marketing</strong>, v.60, n.2, p.31-46, abr. 1996.<br />

ZEITHAML, V. Consumer Perceptions of Price, Quality, and Value: a means-end model and<br />

synthesis of evidence. Journal of <strong>Marketing</strong>, v.52, n.3, p.2-22, jul.1988.<br />

16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!