a descrição da atividade intencional da consciência na obra ...
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A <strong>descrição</strong> <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de <strong>intencio<strong>na</strong>l</strong> <strong>da</strong> <strong>consciência</strong><br />
Para apresentar a interlocução entre Brentano e Descartes, a<strong>na</strong>lisaremos o Esboço<br />
Psicognóstico, texto resultante do curso ministrado <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong>de de Vie<strong>na</strong> em setembro<br />
de 1901 24 e publicado como anexo 4 <strong>da</strong> Deskriptive Psichologie. Neste trabalho, Brentano<br />
explicitou claramente o ponto de convergência entre a análise cartesia<strong>na</strong> <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />
psíquicas e sua <strong>descrição</strong> <strong>da</strong>s partes <strong>da</strong> <strong>consciência</strong> orienta<strong>da</strong> pela sua análise <strong>da</strong> relação<br />
entre as partes e o todo <strong>da</strong> <strong>consciência</strong>. Brentano considerou que a análise cartesia<strong>na</strong><br />
descreveu corretamente o correlato de todo ato psíquico, encontrado por meio <strong>da</strong> distinção<br />
que explicita as partes de correlatos intencio<strong>na</strong>is. Por isso, ele aproximou sua definição de<br />
correlato do ato psíquico à definição de Descartes.<br />
O elemento fun<strong>da</strong>mental para a <strong>descrição</strong> <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des psíquicas foi a relação<br />
<strong>intencio<strong>na</strong>l</strong> entre ato e correlato <strong>da</strong> <strong>consciência</strong>. Por esse motivo, segundo a interpretação<br />
de Brentano já mencio<strong>na</strong><strong>da</strong> 25 , o valor <strong>da</strong> análise cartesia<strong>na</strong> estava no fato de ser a primeira<br />
a apresentar uma divisão <strong>da</strong>s classes constituintes <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des psíquicas, determi<strong>na</strong><strong>da</strong><br />
por aquilo que o seu critério para análise <strong>da</strong>s partes descrevia como partes <strong>da</strong> <strong>consciência</strong><br />
constituintes dos pares de correlatos intencio<strong>na</strong>is. Vejamos pontualmente a exposição<br />
brentania<strong>na</strong> sobre a primeira classe de fenômenos psíquicos.<br />
Brentano inicia sua análise identificando sua noção de representação (como ato de<br />
representar) à noção cartesia<strong>na</strong> de ideae por meio <strong>da</strong>s seguintes palavras.<br />
A primeira classe é a <strong>da</strong>s representações no sentido mais amplo <strong>da</strong><br />
palavra (as ideae de Descartes). Compreende tanto as representações<br />
intuitivas concretas, por exemplo, aquelas ofereci<strong>da</strong>s pelos sentidos,<br />
como os conceitos mais distantes <strong>da</strong> intuição (grifo nosso). 26<br />
Para justificar a identificação <strong>da</strong> classe <strong>da</strong>s representações com as ideae de<br />
Descartes, Brentano valeu-se dos seguintes argumentos encontrados <strong>na</strong> terceira meditação.<br />
Entre meus pensamentos, alguns são como imagens <strong>da</strong>s coisas, e só<br />
àqueles convém propriamente o nome de idéia: como no momento em<br />
que eu represento um homem ou uma quimera, ou o céu, ou um anjo, ou<br />
mesmo Deus. (...) Agora, no que concerne às idéias, se as considerarmos<br />
somente nelas mesmas e não as relacio<strong>na</strong>mos a alguma outra coisa, elas<br />
24 As referências apresenta<strong>da</strong>s pelo editor Chisholm são as seguintes.”PSYCHOGNOSTIC SKETCH<br />
Outline of a psychognosy, begun on 4 September 1901 and finished on 7 September 1901. From the<br />
Nachlass. Registered as Ps 86“.<br />
25 Cf. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 17..<br />
26 „Die erste Grundklasse ist die der Vorstellungen im weitesten Sinne des Wortes (Descartes' ideae). Sie<br />
umfaßt die konkret anschaulichen Vorstellungen, wie sie uns z. B. die Sinne bieten, ebenso wie die<br />
u<strong>na</strong>nschaulichsten Begriffe“. Brentano, Franz. Vom Ursprung Sittlicher Erkenntnis, p. 17.<br />
183 Kínesis, Vol. IV, n° 07, Julho 2012, p. 174-187