Investigando o Costão Rochoso Rener é um menino muito curioso ...
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<strong>Investigando</strong> o <strong>Costão</strong> <strong>Rochoso</strong><br />
<strong>Rener</strong> <strong>é</strong> <strong>um</strong> <strong>menino</strong> <strong>muito</strong> <strong>curioso</strong> que adora arg<strong>um</strong>entar suas teorias com seus<br />
colegas e professores. Ele estuda na quinta s<strong>é</strong>rie e adora praia, futebol e jogos de<br />
estrat<strong>é</strong>gia.<br />
No último fim de semana, <strong>Rener</strong> viajou com seus pais para Arraial do Cabo, na<br />
região dos lagos, no Rio de Janeiro.<br />
Ao ir à praia, <strong>Rener</strong> observou que havia <strong>um</strong> homem trabalhando de forma<br />
organizada e sistemática sobre as rochas que delimitam a praia. Imaginou que fosse<br />
alg<strong>um</strong> tipo de pesquisa científica e foi averiguar do que se tratava.<br />
O homem em questão era realmente <strong>um</strong> cientista. Tratava-se do pesquisador e<br />
professor universitário Roger Costa Grande.<br />
Tomado pelo entusiasmo do <strong>menino</strong>, o professor resolveu tirar <strong>um</strong>a folga da<br />
coleta de dados e dar <strong>um</strong>a verdadeira aula sobre <strong>Costão</strong> <strong>Rochoso</strong> para <strong>Rener</strong>.– mas<br />
você sabe o que <strong>é</strong> COSTÃO ROCHOSO ? Vamos tentar concluir de acordo com as<br />
descobertas de <strong>Rener</strong>.<br />
- O que você está pesquisando, professor? – perguntou <strong>Rener</strong>.<br />
- Pode me chamar de Roger, cara. Eu estou investigando as adaptações dos<br />
organismos do costão, ou seja, quais estrat<strong>é</strong>gias eles adotaram para suportar o stress<br />
de se viver nesse ambiente.<br />
- Que stress? Vai dizer que esse mexilhão aqui está estressado? Isso não tem<br />
nexo.- indagou o <strong>menino</strong>.<br />
- Eu me expressei mal, cara. Quando eu falo stress, eu quero dizer das<br />
dificuldades, dos problemas que estes organismos têm que solucionar para colonizar<br />
esse ambiente. Eu vou te explicar.<br />
O professor Costa Grande começou falando sobre a influência da mar<strong>é</strong> no<br />
costão. Ele disse que o nível do mar oscila durante o dia, e que isso <strong>é</strong> utilizado pelos<br />
pesquisadores para dividir o costão rochoso em três partes.<br />
O infra-litoral <strong>é</strong> a parte que está sempre coberta de água, não ficando exposta<br />
nem quando a mar<strong>é</strong> está baixa. O supra-litoral <strong>é</strong> a parte que está sempre exposta ao<br />
ar, não ficando coberta de água nem na mar<strong>é</strong> alta. A região do meio, que em alg<strong>um</strong>as<br />
horas do dia está coberta e em outras, está exposta, se chama meso-litoral.<br />
- Essa <strong>é</strong> a única coisa que eu não gosto em ciências: esse monte de nomezinho<br />
complicado. Em que isso influencia na vida dos seres daqui?- perguntou <strong>Rener</strong>,<br />
demonstrando certa impaciência.<br />
Roger explicou que os organismos do costão correm <strong>muito</strong> risco de perder água<br />
de seus corpos e ficarem ressecados, devido à exposição ao sol. E isso, influencia na<br />
vida e na distribuição desses organismos pelo costão. Os organismos mais adaptados<br />
ao ressecamento vão ocupando as partes superiores, enquanto que os menos<br />
tolerantes à perda d’água, se localizam nas partes mais inferiores do costão.<br />
- Então, essas baratinhas aqui de cima são as mais tolerantes?- perguntou<br />
<strong>Rener</strong>, enquanto escalava <strong>um</strong>a pedra para melhor vê-las.<br />
- É, cara. A baratinha-da-praia e o chapeuzinho-chinês são organismos típicos<br />
do supra-litoral. A baratinha-da-praia, por ser <strong>um</strong> animal que se locomove, procura as<br />
partes mais úmidas para se refrescar ou se abriga nas fendas para se proteger do sol<br />
forte, saindo somente para procurar algas e animais menores que ela para se<br />
Texto produzido por João Paulo Sobral D. Netto – Professor do Setor<br />
Curricular de Ciências Biológicas do Col<strong>é</strong>gio de Aplicação da UFRJ
alimentar. O chapeuzinho-chinês <strong>é</strong> <strong>um</strong> caramujo <strong>muito</strong> pequeno que consegue<br />
sobreviver somente com os respingos das ondas que chegam at<strong>é</strong> eles.<br />
- E lá para baixo, que adaptações os organismos apresentam?<br />
O professor Costa Grande explicou que os organismos do meso-litoral eram<br />
<strong>muito</strong> especiais, pois tinham que superar outras dificuldades al<strong>é</strong>m da perda d’água.<br />
Os organismos dessa região têm que suportar o batimento das ondas, o que<br />
pode quebrar seus corpos ou arrastá-los do costão. Por isso, apresentam <strong>um</strong>a s<strong>é</strong>rie de<br />
adaptações para se fixarem na pedra.<br />
E não <strong>é</strong> só isso. Roger tamb<strong>é</strong>m disse que o espaço no costão <strong>é</strong> limitado, o que<br />
leva a <strong>um</strong>a grande competição dos organismos por esse recurso.<br />
- Você pode me dar alguns exemplos, professor?<br />
- Ah, mas <strong>é</strong> claro! Vamos ver na prática como isso funciona. Que tal começar<br />
pelos mexilhões que você disse estarem estressados.<br />
Roger mostrou várias adaptações desses organismos. Os mexilhões possuem o<br />
corpo com <strong>um</strong> formato hidrodinâmico, o que diminui o impacto das ondas sobre eles.<br />
Para se fixarem, possuem <strong>um</strong>a estrutura semelhante a “cabelinhos” que os prendem<br />
firmemente na rocha. Quando a mar<strong>é</strong> abaixa, eles fecham suas conchas, deixando<br />
água ac<strong>um</strong>ulada em seu interior.<br />
- E eles resolveram o problema do espaço, crescendo <strong>um</strong> cima do outro, não <strong>é</strong> ?<br />
- Muito bem observado, meu caro <strong>Rener</strong>. E ainda tem mais. Essa disposição<br />
agregada, todo mundo junto, <strong>um</strong> em cima do outro, tamb<strong>é</strong>m os ajuda a se proteger das<br />
ondas e a ac<strong>um</strong>ular água entre eles.<br />
O <strong>menino</strong> mal teve tempo de se impressionar. Outros organismos chamavam<br />
sua atenção.<br />
- Tem <strong>um</strong> mini- caranguejo dentro daquela casinha. Olha ! Olha!<br />
- Que casinha? A carapaça da craca? – o professor procurava entender do que<br />
se tratava.<br />
- Deve ser. O que <strong>é</strong> craca?<br />
- Então calma, vamos por partes.<br />
Roger explicou que as cracas são organismos que possuem <strong>um</strong>a carapaça que<br />
fica fortemente grudada na pedra por <strong>um</strong>a substância similar a <strong>um</strong> cimento. Essa<br />
carapaça tem <strong>um</strong>a abertura em cima e <strong>um</strong>a tampinha para vedá-la. Quando a mar<strong>é</strong><br />
abaixa, o animal guarda água dentro da carapaça e fecha a tampa.<br />
Quando o animal morre, a carapaça sem a tampa pode continuar fixa na rocha. E<br />
o caranguejo, no caso, aproveitou dela como abrigo, n<strong>um</strong>a relação chamada<br />
inquilinismo.<br />
- Que caranguejo maneiro! O que <strong>é</strong> que ele come ?<br />
- Cara, ele se alimenta dessas algas ali. – o professor apontou para duas algas<br />
da mesma esp<strong>é</strong>cie, sendo que <strong>um</strong>a estava na parte seca e a outra, em <strong>um</strong>a poça de<br />
onda.<br />
- Mas ela sobrevive dentro e fora d’água?<br />
O professor falou se tratar da alface–do-mar, <strong>um</strong>a alga verde que consegue<br />
suportar at<strong>é</strong> 90% de perda d’água.<br />
Entusiasmado com o interesse do <strong>menino</strong>, o professor Roger Costa Grande<br />
resolveu propor <strong>um</strong> desafio.<br />
Texto produzido por João Paulo Sobral D. Netto – Professor do Setor<br />
Curricular de Ciências Biológicas do Col<strong>é</strong>gio de Aplicação da UFRJ
Ele mostrou <strong>um</strong>a s<strong>é</strong>rie de buracos redondos escavados na rocha como se fosse<br />
<strong>um</strong> queijo suíço. Alguns estavam vazios e outros tinham ouriços-do-mar dentro. E<br />
perguntou:<br />
- Me diga, pequeno cientista, qual a relação desses buracos e os ouriços?<br />
Depois de <strong>muito</strong> observar e pensar, <strong>Rener</strong> respondeu que os ouriços-do-mar<br />
aproveitavam aqueles buracos para morar, pois ali se ac<strong>um</strong>ulava água e ainda era<br />
protegido do bater das ondas.<br />
- É bem por aí mesmo, cara. Só tem <strong>um</strong> pequeno detalhe. Esses buracos são<br />
feitos pelos próprios ouriços ao se alimentarem.<br />
- Eles comem pedra!!!!!<br />
- Não, eles se alimentam raspando algas que ficam incrustadas na rocha.<br />
- Que incrível! E os organismos lá do infra-litoral, são tão legais assim? Vamos lá<br />
ver?<br />
Roger ficou com o coração na mão. Afinal, a mar<strong>é</strong> estava alta e ele não havia<br />
trazido material de mergulho e coleta para o infra-litoral.<br />
O professor não quis decepcionar o garoto. Chamou os pais do <strong>menino</strong> e marcou<br />
<strong>um</strong> novo encontro entre eles.<br />
- Da próxima vez nos iremos ver várias algas diferentes, anêmonas, lesma-domar,<br />
estrela-do-mar, pepino-do-mar e peixes como o baiacu, o badejo e a maria-datoca.<br />
- Então está combinado. Enquanto isso vou investigando sobre esses<br />
organismos nos livros de ciências. Pode preparar mais desafios, por que eu vou<br />
responder a todos!<br />
Texto produzido por João Paulo Sobral D. Netto – Professor do Setor<br />
Curricular de Ciências Biológicas do Col<strong>é</strong>gio de Aplicação da UFRJ