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A FOICE E O MARTELO: HISTÓRIA E SIGNIFICADO DO SÍMBOLO ...

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Anais<br />

II Encontro Nacional de Estudos da Imagem 12, 13 e 14 de maio de 2009 • Londrina-PR<br />

praticamente de quatro. Embora a foicinha possa ser utilizada teoricamente por<br />

homens e mulheres, o fato da pessoa ficar agachada para utilizá-la, o que,<br />

inconsciente, demonstra uma atitude de submissão, nos faz pensar que este<br />

instrumento, em um plano mais profundo, representa a mulher. Nos pôsteres<br />

soviéticos, por exemplo, quando o homem segura uma foice, é um outro tipo<br />

específico, com um cabo longo, o gadanho, que possibilita ao homem trabalhar de<br />

pé. Essa foice de cabo longo, o gadanho, também aparece na mão de homens em<br />

algumas caricaturas da grande imprensa do período pré-golpe de 1964 (PATTO SÁ,<br />

2006:50). Já a mulher segura a foicinha, a foice de cabo curto. Ademais, as<br />

associações terra/natureza/fartura com a figura feminina são tradicionais, pois<br />

ambas geram a vida e o alimento. Um rótulo de uma fábrica de massa no período<br />

imperial brasileiro trazia na capa uma mulher com a foicinha e um feixe de trigo<br />

(REZENDE, 2005:47), por exemplo. Também é esperado que a mulher seja<br />

responsável pelos trabalhos que envolvem “lidar com a água, a erva, o verde (como<br />

arrancar as ervas daninhas ou fazer a jardinagem)” (BOURDIE, 2007:41), funções<br />

realizadas com a foicinha.<br />

A expectativa, então, é que o martelo seja utilizado pelo homem e a foicinha<br />

pela mulher, conseqüentemente, representando-os. Hobsbawn chama a atenção para<br />

o fato de que quando os gêneros estão identificados<br />

com alguma atividade, é o homem que representa o trabalho<br />

industrial (...) o homem tem a seu lado uma picareta e uma pá,<br />

enquanto a mulher, carregando uma cesta de cereais e com um<br />

ancinho ao seu lado, representando a natureza ou quando muito a<br />

agricultura. (...) a mesma divisão ocorre na escultura famosa de<br />

Mukhina do trabalhador (homem) e da (mulher) kolkhoz camponesa<br />

no Pavilhão Soviético da Exposição Internacional de Paris em 1937:<br />

ele o martelo, ela a foice. (HOBSBAWN, 1998:130).<br />

Nesse sentido, o entrecruzamento entre o martelo/homem e a<br />

foicinha/mulher poderia representar um ato sexual 3 , a concepção de uma nova vida,<br />

uma Vida Nova, título do jornal supra citado. Já que o próprio martelo é o objeto<br />

que transforma a matéria-prima, daí sua utilização como metáfora da transformação<br />

do mundo (BONNEL, 1997: 84), assim como no ato sexual o homem “transforma” o<br />

corpo da mulher com a gravidez, enquanto o corpo masculino permanece inalterado.<br />

Assim, seguindo a teia de significados, poderíamos afirmar que o homem,<br />

3 Interessante ressaltar que analisando o símbolo nazista, Wilhelm Reich, também aproxima a suástica<br />

do ato sexual e da relação com o trabalho. Reich mostra desenhos de outras suásticas, e vê nelas “a<br />

representação esquemática, mas claramente reconhecível, de duas figuras humanas enlaçadas”,<br />

concluindo que “a suástica é, portanto, originalmente um símbolo sexual.” Acrescenta ainda que<br />

“trabalho e sexualidade eram, originalmente, a mesma coisa.”. REICH, W. Psicologia de Massas do<br />

Fascismo. São Paulo, Martins Fontes, 1988, 2ªed, p. 97. 1315

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