A FOICE E O MARTELO: HISTÓRIA E SIGNIFICADO DO SÍMBOLO ...

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Anais II Encontro Nacional de Estudos da Imagem 12, 13 e 14 de maio de 2009 • Londrina-PR representado pelo martelo, permanece em pé e é ativo pois transforma a matériaprima ferro, o mundo e o corpo da mulher. O movimento repetitivo do martelo também pode ser comparado à repetição dos movimentos do ato sexual. Já a mulher, representada pela foicinha, deve estar de quatro e sob a liderança do homem, além de ser transformada passivamente por ele, com a gravidez, gerando a vida, assim como a natureza. A posição sexual (homem/em pé e a mulher/de quatro) seria justamente a que ambos estariam ao utilizar a foicinha e o martelo. Como afirma Bourdie, a dualidade entre os sexos é pensada em séries de oposições “ativo/passivo, móvel/imóvel” sendo o ato sexual pensado como a “mó do moinho, com sua parte superior, móvel, e sua parte inferior, imóvel, fixada a terra” (BOURDIE, 2007:27). Essa análise de caráter libidinoso desse símbolo comunista pode ser reforçada pela idéia de que a energia investida no gestual tradicional de trabalho possui um componente fálico. Como aponta Baudrillard: “toda uma simbólica fálica se desdobra no gesto e no esforço através dos esquemas de penetração, de resistência, de modelagem, de atrito etc”. O mesmo autor destaca que os “objetos e utensílios tradicionais, por mobilizarem o corpo inteiro no esforço e na realização, retém alguma coisa do investimento libidinal profundo da troca sexual”.(BAUDRILLARD, 1973:61). Nesse sentido, o da junção da foicinha e do martelo como ato sexual, o sol ao fundo do logotipo adquire o sentido do novo, do renascer de um novo dia, da fonte de energia para uma nova vida pois ele está “dando a luz”– justamente a expressão utilizada para descrever o nascimento de uma criança. Assim, esse desenho divulgado pela imprensa comunista tem um caráter simbólico profundo: poderíamos dizer que o “bebê” era o novo mundo/homem que se originaria da Revolução Russa. O círculo que margeia a tradicional imagem da foicinha e o martelo pode ser pensado como uma representação do globo, ou ainda como um túnel por onde vemos o futuro radiante no horizonte com o advento da Revolução Russa. A idéia do círculo como representação do globo pode ganhar força pois efetivamente o círculo “desapareceu” em algumas representações posteriores publicadas na URSS, dando lugar a um globo centrado na representação da URSS e com a mesma foicinha e o martelo no meio, como aparece em vários edifícios e em documentos. Já no jornal A Nação de 31 de maio de 1927 aparece uma representação do globo plana, com a URSS no centro e no alto do campo visual, local usualmente ocupado pela Europa, afirmando a mensagem de potência em ascensão que desaloja os impérios decadentes do lugar privilegiado que ocupavam. Muito poderia ser 1316
Anais II Encontro Nacional de Estudos da Imagem 12, 13 e 14 de maio de 2009 • Londrina-PR analisado sobre esse desenho e essa representação cartográfica, mas vamos nos centrar nos personagens. Por um lado, os representantes dos imperialistas em geral estão em movimento, são agressivos, mas são menores, enquanto aqueles que estão sob o solo da URSS são maiores, mostrando a superioridade da URSS, mas estão em uma posição de guarda, mais estáticos, a espera de proteger o território de um ataque. As próprias armas utilizadas estão em braços abaixados e, enquanto uma é uma espingarda, a outra é a foicinha e o martelo, portanto um símbolo da ideologia comunista e não propriamente uma arma de batalha ou instrumento de trabalho, adquirindo um significado diverso do entrelaçamento da foicinha e do martelo com o sol sob o fundo, como havíamos analisado. A Nação. Rio de Janeiro, 31 de maio de 1927 1317
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