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“Isso Não é um Cachimbo”: - Estudos do Consumo

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que elucidam seu contexto h<strong>um</strong>ano e social. Dito isso e partin<strong>do</strong><br />

fundamentalmente de da<strong>do</strong>s empíricos, preten<strong>do</strong> mostrar como a<br />

inteligibilidade da experiência <strong>do</strong> uso de crack <strong>é</strong> inseparável da reflexão acerca<br />

desses cachimbos. Busco tamb<strong>é</strong>m e sinteticamente, na sequência, explicitar o<br />

processo que culminou no meu interesse pelos cachimbos e alguns “da<strong>do</strong>s”<br />

que permitiram adensar a observação, visl<strong>um</strong>bran<strong>do</strong> <strong>um</strong> potencial analítico<br />

(ainda em fase de elaboração).<br />

O trabalho destes Programas de Redução de Danos consiste,<br />

basicamente, em ir at<strong>é</strong> os locais de cons<strong>um</strong>o de drogas e levar informações de<br />

saúde para os usuários. Tais locais podem ser de <strong>do</strong>is tipos: os “mocós”, que<br />

na linguagem nativa servem para indicar os becos, as casas aban<strong>do</strong>nadas,<br />

linhas de trem, regiões específicas de bairros perif<strong>é</strong>ricos e galpões<br />

desocupa<strong>do</strong>s que garantem aos cons<strong>um</strong>i<strong>do</strong>res de drogas como o crack <strong>um</strong>a<br />

certa privacidade e radicalidade da experiência e, no caso de São Paulo, a<br />

grande quantidade de pessoas cons<strong>um</strong>in<strong>do</strong> crack publicamente torna a região<br />

que recebeu o nome de cracolândia alvo das políticas de segurança, de saúde,<br />

assistenciais e urbanísticas. Duas territorialidades, <strong>um</strong>a mais pública, outra<br />

mais privada, têm implicações bastante significativas no cons<strong>um</strong>o e na relação<br />

com os cachimbos.<br />

Em muitas dessas visitas levávamos cerca de duas, três horas para<br />

chegar ao local e, ao fim, só encontrávamos “mocós” vazios. A dificuldade de<br />

acessar esses lugares muitas vezes exigiu <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r – e <strong>do</strong>s redutores –<br />

<strong>um</strong>a habilidade de andar por trilhas, pedras, alguns relevos e subir em<br />

construções aban<strong>do</strong>nadas que não tinham <strong>um</strong>a “porta” de entrada rente ao<br />

chão. “Paisagem” semelhante já chamara a atenção de Richard Sennet que,<br />

em seu belo ensaio sobre Carne e Pedra, ou melhor, sobre cidade e corpo,<br />

dedicou <strong>um</strong>a especial atenção à “desdentada Rivington Street (em Nova York),<br />

cujas construções aban<strong>do</strong>nadas servem de esconderijo aos vicia<strong>do</strong>s, que ali<br />

praticam sua roleta-russa. Ocasionalmente, jovens assistentes sociais são<br />

vistos erran<strong>do</strong> pelo local, baten<strong>do</strong> nas portas trancadas ou nos batentes das<br />

janelas, oferecen<strong>do</strong> seringas descartáveis de graça” (Sennet, 2008:359) 4 .<br />

4 Sennet, Richard. Carne e Pedra: o corpo e a cidade na civilização ocidental. Rio de Janeiro,<br />

BestBolso, 2008.

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