17.04.2013 Views

1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana

1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana

1823 Sant'Ana do Livramento - Filhos de Santana

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O Gaúcho <strong>de</strong> fronteira<br />

A posse da terra nessa faixa da fronteira sempre foi<br />

muito conturbada. Em 1817 o governo português<br />

incorporou to<strong>do</strong> o atual Uruguay, dan<strong>do</strong>-lhe o nome<br />

<strong>de</strong> Província Cisplatina, o que somente durou até<br />

1828, quan<strong>do</strong> os uruguaios garantiram sua<br />

in<strong>de</strong>pendência. Os conflitos <strong>de</strong> terra na região,<br />

porém, ainda perduraram, embora sem maiores<br />

problemas diplomáticos – tanto que alguns<br />

uruguaios reclamaram <strong>de</strong> uma medição feita em<br />

1856, alegan<strong>do</strong> lhes pertencer uma área <strong>de</strong> 22 mil hectares que estaria em território brasileiro<br />

(local on<strong>de</strong> foi fundada a Vila Thomaz Albornoz em <strong>Livramento</strong>).<br />

O gaúcho <strong>de</strong>scrito ricamente por Charles Darwin, quan<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua viagem <strong>de</strong> três anos ao re<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, esteve longo tempo em Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> no Uruguay. No seu meticuloso diário “Viagem<br />

<strong>de</strong> um Naturalista ao Re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>”, foi traduzi<strong>do</strong> <strong>do</strong> inglês por J. Carvalho no ano <strong>de</strong><br />

1937 <strong>do</strong> diário original <strong>de</strong> 1871. Darwin permaneceu em Mal<strong>do</strong>na<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 10 semanas e<br />

<strong>de</strong>screveu os gaúchos que conhera numa “pulperia” (venda) em 26 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1832 assim:<br />

“Ao anoitecer, numeroso grupo <strong>de</strong> gaúchos vinham beber e fumar. Esses indivíduos possuem<br />

aparência muito notável. São geralmente altos e elegantes, mas tem na fisionomia uma expressão<br />

<strong>de</strong> altivez e <strong>de</strong> dissolução que lhes soa mal. É comum entre eles o uso <strong>de</strong> bigo<strong>de</strong>s e os cabelos<br />

caem-lhes pelas costas em longos cachos negros. O colori<strong>do</strong> vivo <strong>do</strong> vestuário, as gran<strong>de</strong>s esporas<br />

tilintan<strong>do</strong> no salto das botas e a faca na cintura como punhal é frequentemente usada como tal,<br />

dão-lhes a impressão <strong>de</strong> uma raça <strong>de</strong> homens muito diferentes da que podia esperar <strong>do</strong> nome que<br />

levam. Gaúchos quer dizer simplesmente “homens <strong>de</strong> campo”. São <strong>de</strong> uma excessiva <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za.<br />

Nunca levam o copo aos lábios sem esperar que o conviva o tenha feito primeiro. Contu<strong>do</strong>, com a<br />

mesma facilida<strong>de</strong> com que se curvam no seu gracioso cumprimento, parecem dispostos, caso se<br />

lhes apresente a ocasião, a cortar a garganta <strong>do</strong> próximo”.<br />

Para Saint-Hillaire, (pag. 47), gaúcho era garrucho - este termo significava para ele homens<br />

<strong>de</strong> maus costumes que perambulavam pelas fronteiras. Mas segun<strong>do</strong> historia<strong>do</strong>res da<br />

fronteira, o gaúcho "está mais para espanhol que para o português". Situa<strong>do</strong>s nos antigos<br />

Campos Neutrais (que não pertenceriam nem a Portugal e nem à Espanha) estabeleci<strong>do</strong>s pelo<br />

Trata<strong>do</strong> <strong>de</strong> Santo Il<strong>de</strong>fonso <strong>de</strong> 1777. Com um dialeto próprio, na Fronteira Rivera-<strong>Livramento</strong><br />

não se conhece o pássaro joão-<strong>de</strong>-barro por esse nome, mas como ornero e o pardal é gorrión.<br />

Quan<strong>do</strong> se vai a uma loja comprar um ferro elétrico pe<strong>de</strong>-se uma plancha e barbante por piola<br />

e por ai vai. Esta fala da fronteira é tão forte, que as pessoas, mesmo que se policiem, acabam<br />

utilizan<strong>do</strong> termos regionais em sua comunicação habitual.<br />

Aqui na fronteira, além <strong>do</strong>s ro<strong>de</strong>ios e das campereadas <strong>do</strong>s gaúchos, uma autêntica tradição<br />

espanhola é o velho costume que vem se manten<strong>do</strong> no tempo, <strong>de</strong> empinar pan<strong>do</strong>rgas<br />

(papagaios) na sexta-feira santa. As pessoas saem ce<strong>do</strong> <strong>de</strong> casa, com uma pan<strong>do</strong>rga pendurada<br />

<strong>1823</strong> - Carlos Alberto Potoko - 40 -

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!