Edição 04 Revista Espaço Acadêmico Julho a Dezembro ... - Serravix
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ISSN 2178-3829
Faculdade Capixaba da Serra - <strong>Serravix</strong><br />
v. 02 n. <strong>04</strong> <strong>Julho</strong> a <strong>Dezembro</strong> de 2011 - Semestral<br />
Diretor Executivo<br />
Tadeu Antônio de Oliveira Penina<br />
Diretora Acadêmica<br />
Eliene Maria Gava Ferrão<br />
Coordenador Financeiro<br />
Fábio Oniz Carloni<br />
Coordenadora Acadêmica<br />
Carina Sabadim Veloso<br />
Coordenadores de Curso<br />
Ciência Política; História<br />
Carina Sabadim Veloso<br />
Letras e Pedagogia<br />
Maria Aparecida Bigossi Lacerda<br />
ESPAÇO ACADÊMICO<br />
Administração; Ciências Contábeis; Matemática e Secretariado Executivo<br />
Géssica Germana Fonseca<br />
Engenharia Civil; Engenharia de Controle e Automação<br />
Christiany Loss Rigo<br />
Serviço Social<br />
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Bibliotecária<br />
Luciana Henrique Fernandes<br />
Presidente da Comissão Editorial<br />
Eliene Maria Gava Ferrão<br />
Comissão Editorial<br />
Eliene Maria Gava Ferrão<br />
Carina Sabadim Veloso<br />
Oscar Omar Carrasco Delgado<br />
Endereço para correspondência<br />
Coordenação Acadêmica<br />
Avenida Desembargador Mário da Silva Nunes, nº 1000 – Jardim Limoeiro<br />
29164-240 – Serra – ES<br />
e-mail: carinav@serravix.com.br<br />
Capa<br />
Alex Cavalini Pereira<br />
<strong>Espaço</strong> <strong>Acadêmico</strong> / Faculdade Capixaba da Serra / – Serra: (julh/dez. 2011).<br />
Semestral<br />
ISSN 2178-3829<br />
1. Produção científica – Faculdade Capixaba da Serra. II. Título
A R T I G O S<br />
ESPAÇO ACADÊMICO<br />
SUMÁRIO<br />
Avaliar no Processo de Ensino Aprendizagem nas Aulas de Educação Física: Uma<br />
Reflexão..........................................................................................................................06<br />
Adriano de Almeida Santos<br />
Andreia de Almeida Santos<br />
Gisele Lobão Medeiros<br />
Vanessa Gomes de Morais<br />
O Novo Currículo de História das Escolas Estaduais do Estado do Espírito<br />
Santo.........................................................................................................................22<br />
Valdirene Coutinho<br />
Vinicius Teixeira Henriques<br />
A Construção da Noção de <strong>Espaço</strong> Geográfico na Criança por Meio do Uso dos<br />
Mapas em Sala de Aula.................................................................................................35<br />
Anderson Oliveira Gadioli<br />
Ernandes de Oliveira Pereira<br />
Renata Bourguignon Carminati<br />
Selma Lúcia de Assis Pereira<br />
O Perfil do Aluno da EJA e suas Pretensões<br />
Educacionais..........................................................................................................48<br />
Cristiane da Silva Lidorino Dumond<br />
Daniela Coutinho D’Ávila de Almeida<br />
Pâmela Endringer Ribeiro<br />
A Prática da Interdisciplinaridade no Âmbito Escolar.............................................60<br />
Gilcimar do Nascimento Gonçalves<br />
Giselle de Figueiredo Bachi Cheroto<br />
Ilzineli de Aguiar Fazolo<br />
Rita de Cássia Martins<br />
A Questão da Evasão Escolar: Uma Reflexão Situacional no 1º Ano do Ensino<br />
Médio Noturno em Escolas de Ensino Público...........................................................73<br />
Adenilson Mendes dos Santos<br />
Edma Santos Pereira<br />
Roberto Márcio da Silveira<br />
Virgínia Rita dos Santos Silva
Lecionar: Dificuldades Encontradas pelos Docentes Homossexuais........................89<br />
Edineia Cristina Bortolim Altoé Oliveira<br />
Marina Rodrigues Suhett de Rezende<br />
Marlúsia Bortolini D’Ávila<br />
Oscar Omar Carrasco Delgado<br />
O Ensino de História na Educação de Jovens e Adultos: O Professor Mediador do<br />
Processo de Formação Crítica....................................................................................102<br />
Adriano Pereira dos Santos<br />
Edimar Pereira das Neves<br />
Lidiane Andreati<br />
Vitor Correa Lima<br />
O Emprego das Gírias Entre Adolescentes: Estudo de Caso em uma Escola Pública<br />
em Cariacia (ES)...................................................................................................115<br />
Adriana Oliveira Silva Carreiro<br />
Michelle Ferreira Ruela Alves<br />
Viviana Carla Lucas<br />
Violência Escolar.........................................................................................................131<br />
Ana Paula dos Santos<br />
Giovani Souza Salles<br />
ISSN 2178-3829
AVALIAR NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM NAS AULAS DE<br />
EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA REFLEXÃO<br />
6<br />
Adriano de Almeida Santos 1<br />
Andreia de Almeida Santos 2<br />
Gisele Lobão Medeiros 3<br />
Vanessa Gomes de Morais 4<br />
RESUMO<br />
Este artigo objetiva o estudo da avaliação no processo de ensino-aprendizagem no<br />
âmbito escolar, entendendo um pouco sobre este universo que envolve os<br />
conhecimentos e metodologias que os professores já utilizaram e ainda utilizam ainda<br />
hoje nas escolas. O objetivo é o de descrever e apresentar ao leitor alguns elementos<br />
para a compreensão do tema abordado, em seu âmbito histórico, também o seu<br />
funcionamento nos dias de hoje, e como os professores tem se utilizado desta<br />
ferramenta para ensinar seus alunos. Sua importância deve-se ao fato de que a avaliação<br />
é um importante instrumento da educação escolar, e busca-se compreendê-la melhor,<br />
afim de, expor aquilo que ela oferece de melhor para a formação do aluno, trazendo<br />
assim por conseqüência o maior aproveitamento possível de conteúdos das disciplinas<br />
escolares.<br />
PALAVRAS-CHAVE: Avaliação, Ensino-aprendizagem, educação física.<br />
ABSTRACT<br />
This article aims at the study of the evaluation in the teaching-apprenticeship process in<br />
the school extent, understanding a little on this universe that it wraps the knowledges<br />
and methodologies that the teachers already used and they still use still today in the<br />
schools. The objective is it of describing and presenting to a reader some elements for<br />
the understanding of the boarded subject, in your historical extent, also your functioning<br />
on the days of today, and like the teachers it has if used of this tool to teach your<br />
students. Your importance is due to the fact that the evaluation is an important<br />
instrument of the school education, and it is looked to understand it better, similar of, to<br />
expose what she offers of better for the formation of the students, bringing so<br />
consequently the biggest possible use of contents of the school disciplines.<br />
KEY WORDS: Evaluation, Teaching-apprenticeship, physical education.<br />
1 Graduado em Educação Física, Especializado em Educação Infantil. Graduando em Pedagogia pela<br />
Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-Es.<br />
2 Graduada em História, Especializada em Educação de Jovens e Adultos. Graduanda em Pedagogia pela<br />
Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />
3 Graduada em Letras Português/Inglês, Especializada em Educação de Jovens e Adultos. Graduanda em<br />
Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – Serra-ES.<br />
4 Graduada em Letras Português/Espanhol, Especializada em Psicopedagogia. Graduanda em Pedagogia<br />
pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>-ES.
1 INTRODUÇÃO<br />
A avaliação é um tema complexo e que promove discussões acaloradas, que em geral<br />
conduzem os educadores a uma angustiante indagação: como fazer? Todas as<br />
disciplinas do currículo escolar possuem suas formas e métodos de avaliar o<br />
aprendizado dos alunos, mediante os conteúdos que foram trabalhados. Em Educação<br />
Física não é diferente, tendo também como componente curricular seus métodos e<br />
peculiaridades no processo avaliativo.<br />
Pode-se dizer, neste contexto, que a superação do sistema tirano de notas e médias finais<br />
no processo de avaliação escolar, bem como facultar a nota e assumir uma educação em<br />
valores, é o grande desafio para os professores e mestres na atualidade, portanto nosso<br />
objetivo é descrever e apresentar como os educadores percebem e praticam o ato de<br />
avaliar no cotidiano escolar, a fim de investigar e principalmente promover mudanças<br />
significativas na forma de ver, compreender e sentir a avaliação no âmbito escolar.<br />
2 DESENVOLVIMENTO<br />
2.1 ESTÁGIOS DA AVALIAÇÃO<br />
No Contexto escolar, a avaliação tem sido tratada como uma avaliação classificatória,<br />
como nos esclarece Werneck (2001), que ainda hoje na era moderna, não conseguimos<br />
superar o modelo de avaliação como forma de medida de desempenho. Segundo Faria<br />
Júnior (1989), a avaliação em Educação Física ainda está direcionada no sentido de<br />
avaliar o aluno num modelo de classificação e seleção. É nesse sentido que, acreditamos<br />
que a superação do sistema tirano de notas no processo de avaliação escolar, bem como<br />
facultar a nota e assumir uma educação em valores, é o grande desafio para os<br />
professores e mestres na atualidade, pois como nos ilustra Werneck (2001), "estamos no<br />
século XXI e não conseguimos superar a marca da avaliação como medida".<br />
Mesmo com este aspecto classificatório, concordamos com Moreto (2001) quando nos<br />
diz que a avaliação pode se tornar também um momento de aprendizagem, ou seja, um<br />
momento para reflexão e estudo e não um acerto de contas. Estimular o aluno a fazer a<br />
7
auto-avaliação é uma forma de estimulá-los a analisar seus trabalhos, desenvolvendo<br />
seu senso crítico e sua autonomia, assumindo também sua parcela de responsabilidade<br />
no caso de um rendimento insatisfatório.<br />
Segundo Hoffmann (2001), o sentido fundamental da ação avaliativa é o movimento, a<br />
transformação. Nesta fala confirmamos dizendo que o processo avaliativo deve<br />
considerar os objetivos do processo ensino-aprendizagem, ou seja, se os mesmo foram<br />
alcançados; provocando através desse resultado, mudanças comportamentais no aluno,<br />
mudanças essas que inclui atitudes, interesses, modo de pensar e agir, reflexão crítica e<br />
até mesmo adequação social. Assim, em Hoffmann (1998, p. 83) confirmamos que:<br />
Avaliar se configura, portanto, numa atitude eminentemente política e<br />
humana. Só tem sentido, na educação, se for utilizada para proporcionar a<br />
todos conhecer o seu mundo, propiciar prazer e favorecer a auto-descoberta<br />
nos seres humanos. Ela não se justifica, portanto, para punir ou selecionar.<br />
Remetendo-nos ao campo da Educação Física, nos indagamos: Que tipo de prejuízo<br />
pode ser trazido por um modelo de avaliação onde é levado em conta apenas os aspectos<br />
quantitativos ou desempenho físico? Acreditamos que a avaliação deva incluir e trazer o<br />
aluno para dentro do trabalho pedagógico, e não apenas selecionar e excluir aqueles<br />
alunos que tiveram um desempenho menor neste ou naquele teste. Sobre este aspecto,<br />
Pontone (2001) afirma que a avaliação escolar deveria exercer uma função relevante,<br />
uma vez que a escola legitima o êxito e o fracasso baseado nos resultados de suas<br />
avaliações, pois, se a avaliação for realizada desvinculada do processo, pode cometer<br />
injustiças, atribuindo resultados que não condizem aos desempenhos dos alunos,<br />
acentuando as desigualdades sociais.<br />
Acreditamos que o professor deve trabalhar com muito cuidado para que os alunos que<br />
tenham menor desempenho físico ou menos habilidades motoras, não sejam excluídos<br />
das atividades e percam a oportunidade de aprendê-la. Esta realidade pode ser constata<br />
na fala do Coletivo de Autores (1992, p. 99), que assim expõem suas idéias:<br />
Isso pode ser verificado nas vezes em que o professor, durante uma aula, dá<br />
atenção aos considerados ‘mais capazes’ em detrimento dos demais, ou<br />
quando atribui aos alunos a responsabilidade de dividir grupos, equipes,<br />
cabendo isso aos identificados como ‘líderes’ em função de suas<br />
competências e habilidades para a atividade. Verifica-se, ainda, posturas,<br />
8
gestos e manifestações verbais onde o professor, valendo-se de sua<br />
‘autoridade’ implícita ou explícita, classifica os alunos entre os ‘mais’ e<br />
‘menos’ capazes para a realização das atividades.<br />
Hoffmann (1998) defende um modelo de avaliação mediadora e inclusiva. A avaliação,<br />
neste contexto, exige a observação individual de cada aluno, num acompanhamento<br />
permanente do professor e este deve propiciar ao aluno em seu processo de<br />
aprendizagem, reflexões acerca do mundo, tentando propiciar uma formação mais<br />
crítica e participativa. Nestes termos esclarecidos por Hoffman (1998), a Educação<br />
Física tem se preocupado em propiciar a criticidade e a participação?<br />
Respondendo a esta questão, buscamos em Ferreira (2003), que nos deixa claro que<br />
apesar de ser comum a utilização de elementos avaliativos como presença,<br />
pontualidade, participação, uniforme e etc., e constatar-se a realização de avaliações<br />
formais, tais como: testes escritos, apresentação de seminários, entre outros; a ênfase é<br />
dada à assimilação de novos conhecimentos, ou seja, o professor avalia anteriormente os<br />
conhecimentos (ao conteúdo) que o aluno apresenta e depois avalia os conhecimentos<br />
que este assimilou, dando ênfase na qualidade do desenvolvimento e na aprendizagem<br />
ocorrida.<br />
Conforme Diniz e Amaral (2009), no contexto social atual é importante destacar as<br />
necessidades de se buscar formas diferenciadas de ensino, que superem o modelo<br />
tradicional, que exerce papéis e funções problemáticas para a educação democrática que<br />
buscamos. Existe a necessidade de se ampliar o espaço e o conhecimento da Educação<br />
Física escolar e de aprimorarem-se as atuações e formações do corpo docente da área.<br />
Em outras palavras, mais do que reconhecer os problemas que a escola apresenta, existe<br />
a necessidade de se trabalhar em prol da construção de práticas e teorias que<br />
possibilitem mudanças na estrutura tradicional escolar.<br />
Confirmando com Diniz e Amaral (2009); e, Ferreira (2003), os PCNs (BRASIL, 2001)<br />
dizem que a avaliação na Educação Física escolar deve superar os aspectos<br />
biofisiológicos, sugerindo uma avaliação integral do aluno, buscando verificar os<br />
avanços nas dimensões conceituais, atitudinais e procedimentais. É neste sentido e<br />
sentimento que a escola amplia seu espaço, buscando romper com a estrutura tradicional<br />
escolar e implantar inovadoras e democráticas formas de construção do saber e dos<br />
9
elementos que a constituem. Atuando, apesar de apresentar tanto êxitos como fracassos,<br />
não uma mera solução pedagógica e sim como um longo e necessário processo de<br />
resistência de professores, alunos e pais à lógica excludente e seletiva da escola (Freitas,<br />
2003).<br />
Crê-se que não é fácil promover mudanças em um sistema que já é usado há muitos<br />
anos, porém vale lembrar, que a avaliação é processo, e por isso, ainda não está<br />
concluído, e é valido romper com antigos paradigmas que não contribuem com a<br />
legitimação da educação física escolar, com os objetivos da escola e por que não dizer<br />
da sociedade.<br />
2.2 EVOLUÇÃO DO PROCESSO AVALIATIVO ESCOLAR<br />
A história da avaliação remonta de longa data, conforme descreve a professora Lea<br />
Depresbiteris (1999), a avaliação inicia como sinônimo de prova, lembrando que, em<br />
2205 a.C., um imperador chinês examinava seus oficiais a cada três anos, com o<br />
objetivo de promoção ou demissão, principalmente para prover o Estado de homens<br />
capacitados. Na Idade Média, os alunos colocavam moedas no boné do professor,<br />
proporcionalmente à satisfação que tinham com o desempenho do mesmo.<br />
Na década de 40, o termo avaliar era utilizado como sinônimo do termo medir ou<br />
mensurar. Porém, com a evolução da educação essa abordagem educacional que<br />
relacionava avaliação com mensuração, tornou-se mais transparente deixando clara a<br />
limitação do termo mensurar. Pois nem todos os aspectos envolvidos com aprendizagem<br />
podem ser medidos em um ambiente educacional, principalmente aqueles informais<br />
Haydt (2000).<br />
No início dos anos 60 o termo avaliação reapareceu no cenário educacional ganhando<br />
novas dimensões. Este fato ocorreu devido a grupos de estudo organizados nos Estados<br />
Unidos com o propósito de elaborar e avaliar novos programas educacionais. Nessa<br />
época o termo avaliar recebeu o enfoque na área do currículo escolar e somente mais<br />
tarde que veio a enfocar o processo de ensino-aprendizagem Haydt (2000).<br />
10
No decorrer do tempo, principalmente nas décadas de 80 e 90, ocorreram muitos<br />
avanços teóricos e metodológicos no campo da avaliação, como registra Lea<br />
Depresbiteris (1999). Em nossos dias, estamos inserido em uma sociedade em processo<br />
contínuo e acelerado de mudanças, exigindo novos comportamentos dos indivíduos. A<br />
avaliação de aproveitamento estabelece uma importância maior dos aspectos<br />
quantitativos sobre os qualitativos.<br />
Os métodos apresentados nos fazem entender melhor o tipo de processo avaliativo que é<br />
aplicado atualmente. Em comum com a história da avaliação, o modelo aplicado hoje<br />
tem como objetivo verificar se o aluno terá um aproveitamento que lhe garanta uma<br />
promoção de um estágio a outro mais avançado, e utiliza-se de testes e provas para<br />
verificar se o aluno está ou não alcançando os objetivos educacionais propostos pela<br />
escola.<br />
Confiamos que o professor de educação física pode avaliar seus alunos por uma outra<br />
ótica, para isto, o professor deve estar em comunhão com os objetivos do projeto<br />
político pedagógico da escola. Ele pode observar o grau de conhecimento ou habilidade<br />
que o aluno tem sobre determinada atividade, e propor que o aluno execute de acordo<br />
com o que ele professor deseja alcançar. O grande desafio que hoje é colocado para a<br />
avaliação é constituir-se como parte do processo de ensino-aprendizagem, permeando e<br />
auxiliando todo este processo.<br />
Para o desenvolvimento de seu trabalho docente, o educador pode reservar instrumentos<br />
a ele favoráveis, para que, no momento em que necessitar fazer uma reflexão sobre seu<br />
trabalho, possa lançar mão de bons instrumentos e ferramentas dentre estas a avaliação,<br />
para municiá-lo de importantes informações, e assim verificar se a aprendizagem esta de<br />
acordo com os princípios norteadores do projeto político pedagógico.<br />
11
2.3 ENTENDENDO MELHOR A AVALIAÇÃO<br />
A avaliação, para Taylor (1982), um dos primeiros estudiosos do tema diz que, é um<br />
processo que determina em que medida os objetivos educacionais estão sendo<br />
alcançados pelo programa do currículo e do ensino. Como os objetivos educacionais são<br />
essencialmente produzir mudanças nos seres humanos, os objetivos visados são<br />
produzir mudanças no comportamento dos alunos, a avaliação é que vai determinar o<br />
grau que essa mudança está acontecendo realmente no comportamento.<br />
Sendo assim, entendemos que a avaliação tende a ser um reflexo do tipo de sociedade<br />
onde a escola esta inserida, visto que estamos em uma sociedade capitalista, competitiva<br />
em quase todos os sentidos, a avaliação na escola tem refletido a forma classificatória e<br />
excludente de sua sociedade, porém isso não impedi que dentro deste contexto exista os<br />
elementos que possibilitem mudanças. Neste sentido Luckesi (2003, p. 41) afirma que:<br />
Seria um contra-senso que um modelo social e um modelo pedagógico<br />
autoritários tivessem em seu âmago uma prática de avaliação democrática.<br />
Isso não quer dizer que no seio da sociedade conservadora e no contexto de<br />
uma pedagogia autoritária não surjam os elementos contraditórios e<br />
antagônicos que vão possibilitar a sua transformação.<br />
Quando pensamos em um modelo de avaliação que atenda apenas aos interesses sociais,<br />
e onde o aprendizado do aluno não é o mais importante é preocupante. Será que os pais<br />
e professores ensinam seus filhos e alunos a lidar com a frustração de uma nota baixa,<br />
por exemplo, ou será que ainda nesta fase onde acredito que, o ensino deveria servir<br />
para enriquecê-lo de conhecimentos e vivências, é passada toda a pressão e<br />
responsabilidade dele ter boas notas para no futuro ter um bom emprego.<br />
O principal objetivo da avaliação é o diagnóstico, é detectar as dificuldades<br />
da aprendizagem e suas causas, e, quando bem compreendido esse processo<br />
possibilita grandes ganhos à Educação e a aprendizagem do aluno se torna<br />
mais significativa. Na Educação Física a avaliação é, igualmente um<br />
diagnóstico, portanto, deve ter o intuito de detectar possíveis falhas no<br />
processo ensino-aprendizagem (BRATIFISCHE, 2003 p.21).<br />
Como afirma Bratifische (2003) a avaliação é um diagnóstico, na avaliação o professor<br />
utiliza de sua subjetividade, de como ele vê seus alunos, ele demonstra suas concepções<br />
de mundo, sua ética e seu papel na escola. Isso nos demonstra a importância da<br />
12
autonomia na escola, pois a autonomia é necessária para que a escola elabore seu<br />
projeto político pedagógico, e daí a escola trabalha de acordo com suas necessidades e<br />
anseios. Sobre a autonomia, Veiga (1996, p.24) nos relata que:<br />
(...) a ideia de autonomia está ligada à concepção emancipadora da educação.<br />
Para ser autônoma, a escola não pode depender de órgãos centrais e<br />
intermediários que definem a política da qual ela não passa de executora. Ela<br />
concebe seu projeto político-pedagógico e tem autonomia para executá-lo e<br />
avaliá-lo ao assumir uma nova atitude de liderança, no sentido de refletir<br />
sobre as finalidades sociopolíticas e culturais da escola.<br />
Alguns elementos devem ser considerados na construção do projeto políticopedagógico,<br />
para Veiga (2001, p. 11).<br />
• Ser processo participativo de decisões.<br />
• Preocupar-se em instaurar uma forma de organização de trabalho pedagógico de<br />
desvele os conflitos e as contradições.<br />
• Explicitar princípios baseados na autonomia da escola, na solidariedade entre os<br />
agentes educativos e no estímulo à participação de todos no projeto comum e<br />
coletivo.<br />
• Conter opções explícitas na direção de superar problemas no decorrer do<br />
trabalho educativo voltado para uma realidade específica.<br />
• Explicitar o compromisso com a formação do cidadão.<br />
A avaliação é articulada ao projeto político pedagógico, já que, a maneira como a escola<br />
avalia é o reflexo do que se idealiza para os alunos. Na visão do Coletivo de Autores<br />
(1992 p 17):<br />
“(...) a avaliação do processo ensino-aprendizagem está relacionada ao<br />
projeto político pedagógico da escola, está determinada também pelo<br />
processo de trabalho pedagógico, processo inter-relacionado dialeticamente<br />
com tudo o que a escola assume, corporifica, modifica e reproduz e que é<br />
próprio do modo de produção da vida em uma sociedade capitalista,<br />
dependente e periférica.”<br />
Neste contexto, a escola deve repensar as questões de aprendizagem e avaliação como<br />
uma necessidade inerente de transformação da humanidade, bem como dar uma resposta<br />
13
quanto ao perfil de homens que se intenciona formar, de sociedade e mundo que se quer<br />
alcançar, garantindo uma avaliação e aprendizagem significativa. A avaliação da<br />
aprendizagem é um processo complexo e depende dos seus componentes e instrumentos<br />
utilizados para se chegar a uma avaliação. Em termos gerais, avaliação é um processo<br />
de coleta e análise de dados, tendo em vista verifica se os objetivos propostos foram<br />
atingidos.<br />
Por isso, o desejo de uma educação de qualidade leva a questionamentos sobre quais<br />
mudanças são necessárias para melhoria da avaliação, pois ela não deve ter o<br />
papel de apenas atribuir notas, deve também desenvolver no aluno o senso crítico<br />
e sua responsabilidade social para que mais tarde não descubra que a escola pouco<br />
serviu para a sua formação como cidadão. Diante disso, a avaliação é uma<br />
preocupação constante dos professores: a falta de critério no momento da avaliação,<br />
pois o que se nota é que a avaliação é usada para medir e testar o desempenho<br />
dos alunos e não com o objetivo de verificar mudanças comportamentais<br />
ocorridas no aluno em decorrência da aprendizagem; há também a necessidade de<br />
rever-se o que é verdadeiramente avaliar um aluno, para q u e a avaliação não se<br />
torne apenas um respaldo para a aprovação.<br />
Sabe-se que quaisquer mudanças deverão estar fundamentadas por uma reflexão<br />
profunda so bre concepções da avaliação/educação, visto que uma é inerente à outra,<br />
como afirma Hoffmann (2001) que a avaliação é algo essencial para a educação.<br />
Conscientes de que não existe uma verdade absoluta a respeito da avaliação<br />
escolar, e não constitui matéria pronta e acabada, acredita-se que os resultados desses<br />
estudos servirão para análise e reflexão q u e ajudarão a se buscar u ma prática<br />
avaliativa, acreditamos que essa prática é de avaliação libertadora.<br />
2.4 A AVALIAÇÃO NO AMBIENTE ESCOLAR<br />
A avaliação do processo ensino-aprendizagem tem como objetivo verificar o nível de<br />
aprendizagem dos alunos. Para avaliar o professor deve definir os objetos, objetivos,<br />
14
instrumentos, procedimentos, critérios e por fim os resultados são quantificados e<br />
interpretados.<br />
É importante resgatar, a cada avaliação, o indivíduo ou grupo avaliado em relação ao<br />
objetivo para efetuar a melhor escolha dos instrumentos, procedimentos e critérios a<br />
serem utilizados. Essa avaliação leva a uma interpretação mais fidedigna dos dados<br />
obtidos em avaliação.<br />
Avaliar o processo de ensino-aprendizagem dos alunos deve ser mais do que medir ou<br />
mensurar o desempenho dos alunos em determinadas tarefas, o aluno deve ser avaliado<br />
visando seu desenvolvimento como um todo e também o que foi colocado como<br />
proposta no projeto político pedagógico que reflete algumas aspirações da sociedade<br />
onde a escola esta inserida. Além do aspecto objetivo, avaliar deveria se constituir em<br />
um momento de reflexão.<br />
É fundamental ver o aluno como um ser social e político sujeito do seu<br />
próprio desenvolvimento. O professor não precisa mudar suas técnicas, seus<br />
métodos de trabalho; precisa, isso sim, ver o aluno como alguém capaz de<br />
estabelecer uma relação cognitiva e afetiva com o meio circundante,<br />
mantendo uma ação interativa capaz de uma transformação libertadora, que<br />
propicie uma vivência harmoniosa com a realidade pessoal e social que o<br />
envolve (SANT’ÁNNA, 2002, p. 27).<br />
É consenso entre muitos estudiosos da área que não há como excluir o contexto social<br />
do estudante, pois ele influencia no processo avaliativo. O aluno traz consigo um<br />
conhecimento social, construído ao longo da sua vida, que influencia na sua concepção<br />
de mundo e na sua aprendizagem.<br />
Não é correto tomarmos uma decisão sem antes fazer um diagnóstico, e um diagnóstico<br />
sem uma decisão é um processo incompleto. Diagnosticar constitui constatar e<br />
qualificar o objeto da avaliação. Antes de iniciar o processo de avaliação é necessário<br />
constatar o estado do objeto que será avaliado, tendo por base suas propriedades<br />
específicas. Mas, como afirma Sant’Ánna (2002), poucas são aquelas escolas que<br />
informam aos alunos quais os verdadeiros motivos e objetivos dos processos de<br />
avaliação. E quanto a esse fato, a autora coloca um questionamento: “Será que o aluno<br />
reconhece para que serve a avaliação?<br />
15
Afirmamos então que a avaliação escolar é imprescindível, pois serve para orientar e<br />
selecionar, às vezes, para abrir portas para uma colocação profissional, construindo a<br />
imagem de bom ou mau aluno. Nessa tarefa, o professor precisa tomar cuidado; é<br />
preciso superar os preconceitos sociais, evitar o abuso de poder e ter sempre em mente<br />
que o que importa no final, é o desenvolvimento de uma pessoa.<br />
Desse modo, a avaliação que se pensa não pode ser um instrumento de classificação ou<br />
de exclusão social e sim uma ferramenta para professores comprometidos com a<br />
construção coletiva de uma escola de qualidade para todos, devendo ser resultado de<br />
uma discussão honesta e transparente entre todos envolvidos.<br />
No contexto das aulas de Educação Física, a avaliação deve ser uma ação integradora e<br />
deve conceber o conhecimento como apropriação do saber pelo aluno e também pelo<br />
professor, como ação-reflexão-ação em direção a um saber aprimorado, enriquecido,<br />
carregado de significados e de compreensão.<br />
2.5 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA<br />
Compreendemos que avaliar é um procedimento que utiliza durante todo o tempo, os<br />
julgamentos e estimativas sempre necessárias. A avaliação como procedimento de<br />
análise de aprendizagem deve ter como principal objetivo reunir indícios sobre o<br />
processo de ensino-aprendizagem, permitindo desta forma que, os métodos utilizados<br />
possam ser modificados ou não de acordo com os resultados obtidos.<br />
Na Educação Física Escolar utiliza-se uma metodologia de avaliação direta e linear,<br />
entendendo por esta que, o aluno é avaliado todos os dias e a partir de seu ponto de<br />
origem, pois sabe-se que as aptidões físicas são individuais e que determinados alunos<br />
tem uma facilidade para aprender movimentos e gestos esportivos. Para tanto, a<br />
avaliação nas aulas de Educação Física permitem que o método de ensino possa ser<br />
modificado de acordo com o nível da turma, pois cabe ao professor criar situações que<br />
permita um real desenvolvimento de todos, principalmente daqueles que tem mais<br />
dificuldade.<br />
16
Demo (2005) expõe em suas palavras que a avaliação deve orientar o ensino, integradas<br />
ao processo de ensino-aprendizagem, e não simples formas de provas periódicas e que<br />
apenas rotulam determinado aluno.<br />
Percebe-se, neste contexto, que a avaliação é como um processo dividido em etapas,<br />
onde o primeiro ato de avaliar compreende analisar o ponto de partida do aluno, seu<br />
nível motor, suas habilidades e suas dificuldades; e, a partir desta análise, traçar um<br />
método de ensino que contribua para o desenvolvimento de toda a turma, onde a<br />
avaliação passa a ser um processo intrínseco do ensino.<br />
O importante é avaliar para dar a todos a oportunidade de aprender. Só assim<br />
formaremos as pessoas ligadas em seu tempo. Se avaliar é sinônimo de<br />
melhorar, esta melhoria se refere ao aluno, ao currículo, ao professor e, em<br />
definitivo à escola (CAMPOS, 2009, p. 2).<br />
O processo de avaliar, não pode entender o ato de avaliar apenas como um<br />
procedimento, este é mais global devendo ser tratado como tal. Avaliar significa buscar,<br />
e a busca inicia-se em conhecer o alunado, saber seu nível de capacidade e de<br />
habilidades. E, por essa análise, traçar métodos de ensino que irão sim, colaborar para o<br />
desenvolvimento da turma.<br />
Demo (2005) sintetiza que, em qualquer circunstância, avaliações são meio ou<br />
confirmação do trabalho docente, nunca sua razão de ser. Assim, devem ser vistas como<br />
recursos para aprender e ensinar melhor, nunca temidas como sentenças, nem pelos<br />
alunos nem por nós. Portanto, o ato de avaliar não é apenas um procedimento e sim um<br />
processo, que não visa rotular os bons e os ruins, mas sim orientar a prática pedagógica<br />
e permitir uma análise de todo o processo de ensino-aprendizagem.<br />
3 METODOLOGIA<br />
Como foi mencionado anteriormente, aborda-se uma pesquisa bibliográfica de caráter<br />
exploratório e qualitativo dos dados. Exploratório porque avança sobre um terreno<br />
importante mostrando não apenas a complexidade do tema abordado, mas também,<br />
buscamos contribuir para a construção de novos conhecimentos.<br />
17
A pesquisa bibliográfica compreendeu o levantamento de referências sobre o tema<br />
estudado junto a estudiosos e pesquisadores na área da educação. Foram pesquisados<br />
apenas autores nacionais, tratando especificamente da avaliação na disciplina educação<br />
física, a pesquisa tratou da avaliação como um todo, trazendo um pouco de sua história,<br />
sua aplicação no ambiente escolar e um pouco da relação que ela tem com a educação<br />
física escolar. O que foi incluído nesta pesquisa é o resultado de reflexões, e<br />
compreensão acerca do tema proposto. Fundamentamos a análise e conclusão na<br />
compreensão dos dados levantados, analisando as importantes contribuições de<br />
importantes autores que já trataram deste tema.<br />
3.1 CONTRIBUIÇÃO DOS DADOS PARA PESQUISA<br />
Mediante a reflexão teórica apresentada, entendemos que a avaliação é parte importante<br />
do aprendizado. A maneira de concebê-la e a forma de aplicá-la, no entanto,<br />
modificaram-se ao longo do tempo.<br />
Atualmente, podemos assumir a avaliação como um processo que acompanha<br />
permanentemente o ensino que o professor promove e o aprendizado que ocorre com<br />
cada aluno. O propósito da avaliação é detectar pontos fortes e aspectos a serem<br />
superados durante a interação professor-aluno, fornecendo informações relevantes a<br />
todos os envolvidos nesse processo.<br />
Cobrar do aluno um comportamento dentro dos padrões tradicionais pode desestimulálo<br />
de ter iniciativas próprias e de tomar decisões autonomamente, e mesmo de<br />
desenvolver a interação social. Em Educação Física, a perspectiva da avaliação esteve<br />
sempre voltada à verificação de méritos físicos. Porém, hoje, a avaliação é entendida<br />
como integrante de todo o processo educativo e sua função é proporcionar a educadores<br />
e educandos momentos de análise das ações estabelecidas em aula para que ambos<br />
possam retomar posturas com o escopo de concretizar o Projeto de Ensino-<br />
Aprendizagem.<br />
18
No âmbito específico da Educação Física, torna-se clara a necessidade de avaliar a<br />
prática dos profissionais, já que a partir daí poderá ser sistematizada a transformação da<br />
Educação Física nas instituições escolares (TAFFAREL, 2000). Não obstante, Soares,<br />
et al. (1992), coloca que a prática avaliativa em Educação Física tem servido para<br />
selecionar os mais capazes fisicamente, o que traz a consequência pedagógica da<br />
insistência na busca de talentos esportivos e a redução da disciplina aos aspectos<br />
biológicos. A possibilidade de mudança traz a necessidade da conscientização da equipe<br />
escolar em relação à Educação Física e de uma análise crítica a ser empreendida nos<br />
currículos de formação inicial e continuada dos professores de Educação Física.<br />
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Com base na pesquisa bibliográfica percebemos que a avaliação da aprendizagem<br />
escolar se não for utilizada de maneira correta, pode causar o afastamento do aluno não<br />
apenas da disciplina, mas também, da escola. Ficou claro que a avaliação da<br />
aprendizagem escolar contribui para que o processo de ensino-aprendizagem tenha um<br />
suporte junto à escola.<br />
O conhecimento das questões relacionadas à avaliação na escola é necessário, para que<br />
os educadores possam se conscientizar e aprimorar este processo, afim de, oferecer aos<br />
alunos os melhores e mais eficazes métodos para sua formação. Devemos mudar este<br />
conceito de avaliação como forma de aprovar ou reprovar, mas utilizá-la como base no<br />
que deve ser melhorado e buscar onde o aluno tem dificuldade e mudar a estratégia.<br />
A avaliação da aprendizagem é um instrumento de vital importância na formação do<br />
aluno, porém, é necessário tomar o devido cuidado para que este instrumento possa ser<br />
funcional para professores e alunos. A avaliação deve ser inclusiva, integradora, e um<br />
momento de reflexão para saber se o que foi proposto no projeto político pedagógico<br />
está sendo alcançado.<br />
19
5 REFERÊNCIAS<br />
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da educação fundamental. Parâmetros<br />
Curriculares Nacionais – Educação Física. Brasília, MEC: 2001<br />
BRATIFISCHE, S.A. Avaliação em educação física: um desafio. R. da Educação<br />
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(Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,<br />
2003.<br />
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MÉNDEZ, J. M. A. Entrevista. Pátio, Porto Alegre, nº 34, maio/jul. 2005.<br />
20
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Paulo. Papirus, 1996.<br />
WERNECK, H. A nota prende, a sabedoria liberta. 2.ed. Rio de Janeiro: DP&A,<br />
2001.<br />
21
O NOVO CURRÍCULO DE HISTÓRIA DAS ESCOLAS ESTADUAIS DO<br />
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO<br />
Valdirene Coutinho 5<br />
Vinícius Teixeira Henriques 6<br />
RESUMO<br />
Nos últimos anos, o estudo em torno do Currículo Escolar nas diferentes etapas do<br />
ensino, ganhou notoriedade no ES em função das mudanças propostas pela Secretaria<br />
Estadual de Educação. O novo tema vem de encontro com a necessidade de fazer<br />
educação com um olhar para a realidade do aluno, além de buscar alternativas para<br />
unificar os conteúdos de todas as escolas. Frente a essas mudanças, estão centenas de<br />
profissionais das diferentes disciplinas que nem sempre conseguem se adequar aos<br />
novos hábitos. O Novo Currículo das Escolas Públicas do Ensino Fundamental no ES,<br />
aliado as propostas do PCN, tornou-se, desde 2009 as diretrizes norteadoras das ações<br />
pedagógicas do professor.<br />
PALAVRAS-CHAVE: currículo; história; educação;professor<br />
ABSTRACT<br />
In recent years, the study around the school curriculum at different stages of education,<br />
gained notoriety in the ES in relation to changes proposed by the State Education<br />
Department. The new theme comes from meeting the need for education with a look at<br />
the student's reality, and seek alternatives to unify the content of all schools. Given<br />
these changes, are hundreds of professionals from different disciplines that are not<br />
always able to adapt to new habits. The New Curriculum in Public Schools Elementary<br />
School in the ES, together with the proposals of the NCP, has, since 2009 the guidelines<br />
guiding the actions of the teacher teaching.<br />
KEYWORDS: curriculum, history, education, teacher.<br />
5 Formada pela Universidade Federal do Espírito Santo – Curso de Licenciatura em História (2002). Pós<br />
graduada em História pela Faculdade Integrada Jacarepaguá. Graduanda em Pedagogia pela Faculdade<br />
Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />
6 Formado pela Faculdade Salesiana de Vitória – Curso de Licenciatura em Educação Física (2006). Pós<br />
graduado em Educação Especial Inclusiva pela UNICIDADE. Graduando em Pedagogia pela Faculdade<br />
Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />
22
1 INTRODUÇÃO<br />
O presente trabalho busca analisar quais as mudanças ocorridas no ensino de História<br />
após a implantação do novo Currículo Básico da Escola Estadual (CBEE) e as<br />
dificuldades que o professor encontra para sua efetiva implementação em sala de aula.<br />
Proposto em 2009, pela Secretaria de Educação (SEDU) do Governo do Estado do<br />
Espírito Santo , o novo Currículo Básico da Escola Estadual (CBEE) surgiu tendo como<br />
premissa principal a busca de um ajuste dos Parâmetroc Curriculares Nacionais (PCNs)<br />
à realidade regional do Estado, sem no entanto significar um afastamento destas<br />
diretrizes nacionais.<br />
Esta nova realidade trouxe consigo uma dicotomia entre a forma de aplicar a<br />
transmissão do conhecimento nas escolas estaduais, notadamente no Ensino<br />
Fundamental e na disciplina História, na medida em que a proposta do CBEE traduz-se<br />
em um conjunto de ações de transição entre o modelo anteriormente em utilização e<br />
uma nova metodologia, implementadas ao longo do tempo, cujo resultado prático<br />
depende da observação dos critérios e pressupostos apontodas pelo CBEE.<br />
Na prática, os professores, de maneira geral, enfrentaram e continuam enfrentando<br />
diversas dificuldades para a consolidação desta transição, uma vez que as realidades de<br />
cada unidade são muito diferenciadas, assim como o corpo docente é composto por<br />
profissionais cuja formação e especilização contemplam diversas áreas do<br />
conhecimento.<br />
Com base nestas reflexões e tendo em vista a necessidade de se repensar a postura dos<br />
profissionais, é que se propõe o seguinte tema para estudo: a prática docente do<br />
professor de História: um estudo do novo currículo das Escolas Públicas do Estado do<br />
ES no ensino fundamental séries finais.<br />
A atuação de profissionais competentes, críticos, criativos, capazes de informar-se e<br />
partilhar os seus saberes, contribuindo para o êxito de seu trabalho e o sucesso das<br />
23
instituições às quais estão vinculados, tem sido questão de frequentes debates no meio<br />
educacional. A criação e consolidação de um novo Currículo Básico da Escola Estadual<br />
pela Secretaria de Estado da Educação do Governo do Estado do Espírito Santo, em<br />
2009, trouxe uma série de desafios e dificuldadees a serem enfrentadas pelos<br />
professores das diversas disciplinas componentes da grade curricular do Ensino<br />
Fundamental e Médio no Espírito Santo. Desta forma, a problemática que permeará este<br />
estudo é: Quais as dificuldades que o professor encontra para trabalhar de acordo com o<br />
novo currículo?<br />
Nos últimos anos, o estudo em torno do Currículo Escolar nas diferentes etapas do<br />
ensino, ganhou notoriedade no ES em função das mudanças propostas pela Secretaria<br />
Estadual de Educação. O novo tema vem de encontro com a necessidade de fazer<br />
educação com um olhar para a realidade do aluno, além de buscar alternativas para<br />
unificar os conteúdos de todas as escolas.<br />
Frente a essas mudanças, estão centenas de profissionais das diferentes disciplinas que<br />
nem sempre conseguem se adequar aos novos hábitos. O Novo Currículo das Escolas<br />
Públicas do Ensino Fundamental no ES, aliado as propostas do PCN, tornou-se, desde<br />
2009 as diretrizes norteadoras das ações pedagógicas do professor.<br />
Devido à complexidade desta temática, a pesquisa se limita ao estudo do currículo<br />
apenas nas séries finais do ensino fundamental na área de História, onde muitos<br />
profissionais encontram dificuldades devido à falta de formação, material didático<br />
específico, dentre outros.<br />
A pesquisa assume papel relevante na medida em que seus resultados poderão<br />
contribuir, primeiramente, para o aprofundamento do debate entre os professores e<br />
gestores educacionais do ensino fundamental no intuito de tornar a prática docente mais<br />
eficaz, além de contribuir para um aperfeiçoamento das diretrizes do Novo Currículo ao<br />
cotidiano escolar e pensar formas de capacitar o professor para essa nova realidade.<br />
Este projeto de pesquisa é de caráter bibliográfico e de natureza quali-quantitativa,<br />
com pesquisa de campo. O processo a ser desenvolvido, no decurso destas atividades,<br />
terá como método o raciocínio dedutivo, porque se pretende abordar a evolução<br />
24
histórica, bem como analisar quais as competências necessárias ao professor de<br />
História do Ensino Fundamental do Estado do Espírito Santo, em função das<br />
dificuldaes encontradas pelos professores face a implementação do novo Currículo<br />
Básico das Escolas Estaduais. Como fonte será focalizado livros, monografias e<br />
artigos de revistas.<br />
2 DESENVOLVIMENTO<br />
2.1 O ENSINO DE HISTÓRIA: BREVE CONTEXTO HISTÓRICO<br />
A História escolar integra o conjunto de disciplinas que foram sendo constituídas como<br />
saberes fundamentais no processo de escolarização brasileira e passou por mudanças<br />
significativas quanto a métodos, conteúdos e finalidades até chegar à atual configuração<br />
nas propostas curriculares (BITTENCOURT, 2009 p.33). Existia a intenção de se criar<br />
um sentimento coletivo de pertença a uma Nação, cuja origem mítica, confirmava o<br />
porvir brilhante destinado a todos que se engajassem nesse projeto.<br />
Não houve muita diferença no Brasil em relação a esse caminho que estava sendo<br />
seguido. O ensino primário valorizava os feitos dos grandes homens, nos níveis mais<br />
avançados, apresentava-se a História da “civilização”, cujo ápice seria a Europa, da qual<br />
o Brasil recebera a herança dos costumes civilizados e à qual se igualaria, mantendo a<br />
caminhada rumo ao progresso.<br />
Apesar dos inúmeros debates em torno dos métodos de ensino, a ênfase na transmissão<br />
de saberes prontos e acabados acabou se estabelecendo. Perduraria a tradição de<br />
conceber as aulas de História como monólogos do professor – e do livro didático – em<br />
torno de verdades que seria preciso “passarem” aos alunos.<br />
Após a ditadura militar, cresce a idéia de um cidadão mais participante, buscando-se a<br />
partir desse período teorias e discursos e reformulações de currículos com intuito de<br />
formar uma consciência mais critica. A partir daí, revelou-se a problemática ideológica<br />
presente no Ensino de História e incluíram-se novas perspectivas, além das tradicionais<br />
para explicar os fatos. MUNAKATA (2001, p. 280), assim se refere aos conteúdos dos<br />
25
livros didáticos produzidos sob a égide da vertente engajada ou crítica: “Valeram-se de<br />
uma História consolidada, com seus temas, períodos e personagens bem assentados,<br />
mas invertendo-lhes o significado ou reorganizando-os mediante certos conceitos como<br />
modo de produção (...) a História do vencedor com sinais trocados, continua sendo a<br />
História do vencedor”. A idéia de se possibilitar uma leitura histórica do mundo ao<br />
aluno, ainda não se concretiza, observa-se que “ficam os retalhos, mas não se forma a<br />
colcha” (MENANDRO, 2001, p. 49).<br />
A partir da década de 80 as transformações no ensino de História podem ser<br />
identificadas, mediante a análise de várias propostas curriculares elaboradas pelos<br />
Estados e municípios e na década de 90 pelos Parâmetros Curriculares Nacionais,<br />
produzidos pelo poder federal. Nesse contexto, vários estudos e debates sobre o<br />
currículo escolar se tornaram importantes fontes de conhecimento e serviram como<br />
referências para elaboração de pareceres e análises de propostas curriculares.<br />
(BONANINO; MARTINEZ, 2002).<br />
A elaboração destes documentos implicou no confronto de várias tensões na tentativa de<br />
buscar respostas a questões relacionadas à construção de referências nacionais e o modo<br />
de encarar antigos problemas da educação brasileira, e ao mesmo tempo, enfrentar<br />
novos desafios colocados pela conjuntura mundial e pelas novas características da<br />
sociedade.<br />
É importante ressaltar que os PCN`s não se configuram numa proposta curricular<br />
fechada a ser seguida por todos. Eles são referências para:<br />
[...] a renovação e reelaboração da proposta curricular reforçam a<br />
importância de que cada escola formule seu projeto educacional,<br />
compartilhado por toda a equipe, para que a melhoria da qualidade da<br />
educação resulte da co-responsabilidade entre todos os educadores.<br />
(...) Por sua natureza aberta, configuram uma proposta flexível, a ser<br />
concretizada nas decisões regionais e locais sobre currículos e sobre<br />
programas de transformação da realidade educacional (...). Não<br />
configuram, portanto, um modelo curricular homogêneo e impositivo<br />
(PCN’s introdução, p.7, 10).<br />
26
Com essa nova proposta, se torna possível uma formação inicial e continuada de<br />
professores, já que os fundamentos do currículo ficam claros e assim o tipo de formação<br />
que se pretende para o professor se tornam específicos. Sua base se processa através da<br />
orientação da produção de livros e de outros materiais didáticos, o que garante uma<br />
política voltada à melhoria do ensino fundamental.<br />
No que se refere ao ensino de História, segundo OLIVEIRA (2009, p.3):<br />
Os PCN’s tiveram como proposta fundamental a modificação da estrutura<br />
dos conteúdos apresentados, até então como propostas curriculares oficiais. A<br />
idéia básica era transformação dos conteúdos organizados de forma linear em<br />
eixos temáticos. A principal justificativa para essa mudança, segundo os<br />
autores dos PCN’s era superar o ensino da História baseado na cronologia.<br />
Propunha-se também a incorporação de novas perspectivas historiográficas,<br />
como metodologia de ensino (por exemplo, o trabalho com linguagens<br />
culturais – cinema, música e fotografia, entre outras; além do trabalho com<br />
documentos escritos). Essas mudanças passaram a exigir especialmente do<br />
ensino de História uma formação para cidadania, uma formação de sujeitos<br />
críticos e conscientes, capazes de interpretar e transformar a realidade, de<br />
buscar soluções possíveis para os problemas detectados em sua comunidade,<br />
de valorizar o patrimônio sociocultural (próprio e de outros povos) e de<br />
respeitar as diferenças culturais, evitando qualquer tipo de discriminação e<br />
exclusão social.<br />
Apesar das insatisfações ainda presentes, no que tange o ensino, nos últimos dez anos<br />
tem surgido uma variedade de propostas que almejam proporcionar um ensino de<br />
História mais significativo para a geração do mundo tecnológico, com seus ritmos<br />
diversos de apreensão do presente e seu intenso consumismo, o qual desenvolve, no<br />
público escolar, expectativas utilitárias muito acentuadas. Conforme Circe Bittencourt,<br />
[...] as propostas curriculares inserem-se em um momento importante da<br />
história do ensino de História, e cabe analisar com rigor metodológico os<br />
novos rumos projetados pelos currículos para se poder discenir o que<br />
efetivamente esta em processo de mudanças e como atualmente ocorre “a<br />
seleção cultural” do conhecimento considerado essencial para os alunos. Há<br />
propostas de mudanças que precisam ser identificadas, mas devem-se<br />
verificar as “tradições escolares” que permanecem e as reinterpretações dadas<br />
a antigos conteúdos e métodos. (2009, p. 99)<br />
27
2.2 A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL SOBRE O ENSINO DE HISTORIA – O<br />
NOVO CURRÍCULO<br />
Diante de tantos embates, relacionadas ao que deve ser ensinado e como deve ser<br />
ensinado na sala de aula, a Secretaria Estadual de Educação (SEDU) no ano de 2009,<br />
implementou o Novo Currículo Básico das Escolas Estaduais. Tal documento veio com<br />
a proposta de dar maior apoio à prática docente, servindo de subsídios para o<br />
enquadramento do trabalho do professor, unindo os conteúdos de todas as escolas<br />
estaduais. Segundo a SEDU (Guia de Implementação do novo CBEE, 2009, p.5),<br />
Dentre os grandes desafios que temos na educação capixaba, destaca-se a<br />
implementação do novo currículo escolar. Essa importante ação envolve a<br />
garantia do direito de aprender de todos e de cada aluno na Educação Básica.<br />
A educação que pretendemos está comprometida com a construção de uma<br />
cidadania consciente e ativa, que ofereça aos alunos conhecimentos que lhe<br />
possibilitem compreender e posicionar-se frente às transformações da<br />
sociedade, participando da vida produtiva, que possam relacionar-se com a<br />
natureza, produzir e distribuir bens e serviços, convivendo com o mundo<br />
contemporâneo. (2009, p.5)<br />
Essa nova proposta começou a ser trabalhada a partir do ano de 20<strong>04</strong> através de<br />
Seminários e Debates, envolvendo educadores, entre professores consultores,<br />
pedagogos e representantes dos movimentos sociais organizados. Todos os participantes<br />
estavam evolvidos em elaborar e propor alternativas políticas pedagógicas com vistas à<br />
promoção do educando e conseqüentemente, da educação pública.<br />
O novo CBEE foi configurado como instrumento que visava dar uma maior unidade ao<br />
atendimento educacional, com intuito de fortalecer a identidade da rede estadual de<br />
ensino, trazendo consigo uma nova proposta de valorização do que está além da sala de<br />
aula, adotando uma postura teórico-metodológica que valoriza os saberes e as práticas<br />
cotidianas concretas. Percebe-se que as propostas visam por em práticas as idéias de<br />
cotidiano (Alves), currículo real (Oliveira), currículo realizado (Ferraço), e outras que<br />
consideram o cotidiano das escolas como pontos de partida e chegada para se discutir o<br />
currículo 7 .<br />
7<br />
FERRAÇO, CE. O Currículo escolar. In: Política Educacional do Estado Espírito Santo: a educação<br />
é um direito. Vitória: SEEB/SEDU, 20<strong>04</strong>.<br />
28
Essa nova proposta de trabalho começou a ser posta em prática a partir de 2009, onde<br />
cada disciplina foi pensada e organizada de forma a aliar competências, habilidades e<br />
conteúdos de ensino, prevendo o diálogo entre o novo CBEE e o Projeto Político<br />
Pedagógico das escolas. Segundo a SEDU (CBEE, 2009, p.17):<br />
A elaboração deste novo documento curricular reflete um processo de<br />
construção de conhecimento atualizado e contemporâneo, alinhado a um<br />
processo participativo e dialético de construção, que incorporou o saber de<br />
quem a vivência, bingo o papel de ator e também de autor. Uma trilha que<br />
referenciará a gestão pedagógica, portanto, uma trilha experenciada<br />
coletivamente.<br />
No que se relaciona ao ensino de história, o novo CBEE vem valorizar uma história<br />
crítica, integrada ao cotidiano do educando, partindo do principio de que a seleção do<br />
conhecimento escolar não é um ato desinteressado e neutro. Ele é resultado de lutas,<br />
conflitos e negociações, de modo que se torna “culturalmente determinado,<br />
historicamente situado e não pode ser desvinculado da totalidade social” 8 .<br />
Propõe um debate entre o ensino de história praticado e aquele idealizado que privilegie<br />
como eixo a dimensão local e a formação dos sujeitos de direitos, portanto, deverão ser<br />
observados vários aspectos em suas reflexões.<br />
A elaboração da Proposta Curricular para o ensino de história explicitou as<br />
preocupações que pautaram a redação do texto: estabelecer novas posturas com relação<br />
às questões de ensino-aprendizagem, propiciar a produção do conhecimento e ampliar a<br />
concepção de História. O objetivo é orientar professores e alunos na compreensão dos<br />
procedimentos para produção do conhecimento, com a prática da pesquisa, propiciar<br />
condições para o relacionamento ativo e crítico com o saber produzido em cada<br />
realidade e favorecer uma concepção de História na perspectiva da prática social.<br />
Sugere-se, para o desenvolvimento dos conteúdos, o uso das experiências do cotidiano,<br />
a partir de eixos temáticos, que, “partindo do presente, vivenciado, refletido e<br />
sistematizado, busquem a apreensão de outras realidades no tempo e no espaço,<br />
também a partir de um referencial que redimensiona a relação com o passado<br />
histórico”.<br />
8<br />
SILVA, T.T. Documentos de Identidade – uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte:<br />
autêntica, 2000.<br />
29
2.3 A PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO DE HISTÓRIA<br />
O ensino de História – seus métodos, seus objetivos, seus conteúdos – vem sendo<br />
discutido em longa data. A maioria dos estudantes não consegue estabelecer uma<br />
relação do que aprenderam sobre História com a vida prática. Em geral eles enquadram<br />
este componente curricular entre as “disciplinas de memorização” (PRATES, 2006),<br />
como um tedioso encadear de fatos, nomes e datas. Não por acaso, muitos historiadores<br />
constatam que a sociedade contemporânea vive sobe a idéia de um presente contínuo,<br />
sem relação orgânica com o passado (HOBSBAWN, 2002). A concepção da disciplina,<br />
em como se concebe o seu aprendizado e seus objetivos estão relacionados a origem<br />
desta situação múltipla e complexa. STEPHANOU (1998, p. 16) nos dá algumas pistas<br />
disto:<br />
“... a História invariavelmente apresenta-se como algo externo ao aluno, algo<br />
exótico ou como espetáculo, que não lhe diz respeito. Resta aos estudantes,<br />
uma vez que se situam numa posição de não-saber, memorizar, assimilar este<br />
conhecimento acumulado, cujos depositários fiéis são os manuais didáticos e<br />
a autoridade do professor”.<br />
Neste contexto a prática docente no ensino de história encontra imensos desafios para<br />
sua concepção, será preciso entender o conhecimento histórico na perspectiva da<br />
investigação histórica para ter condições de ensinar história. Segundo Schmidt:<br />
Alguns pressupostos influem na “forma do conhecimento”, tais como a<br />
lógica ou os pressupostos epistemológicos a partir das quais determinados<br />
conhecimentos são sistematizados; a lógica da interação, ou o sentido como o<br />
conhecimento se objetiva no conjunto de modo pelos quais alunos e<br />
professores se relacionam e ainda o conteúdo de classe da forma de ensino.<br />
Na lógica da interação, o professor pode ser visto como um sujeito que faz a<br />
mediação entre os alunos e o conhecimento em dois sentidos: de um lado ele<br />
faz uma reelaboração particular do conhecimento que apresenta aos alunos,<br />
de outro, representa a “autoridade” dos conhecimentos escolares. (Schmidt:<br />
2000, p. 05)<br />
Sendo assim, propõe-se uma transposição didática para utilizar-se de um conceito de<br />
Chevallard (1991), mas em uma mediação didática em que os conhecimentos históricos<br />
sofrem transformações do espaço da aula de história a partir da interação entre os<br />
sujeitos, o espaço e o material didático. Deve-se ter consciência de que o ensino e a<br />
aprendizagem de História constituem um espectro enorme de experiência múltiplas e<br />
multifacetadas que se redimensionam dia-a-dia, ano-a-ano em cada singularidade vivida<br />
30
pelos professores. Logo, não perdemos de vista que, “suas múltiplas relações com as<br />
várias dimensões da sociedade, sua posição como instrumento cientifico, político,<br />
cultural, para diferentes grupos, indica a riqueza de possibilidades para o seu estudo e o<br />
quanto ainda há para investigar” (FONSECA, 2003, p. 28).<br />
Nesta perspectiva, o professor de história muitas vezes encontra dificuldades para<br />
efetivar a sua prática pedagógica em sala de aula, seja por despreparo, por falta de<br />
material didático, dentre outros fatores. A concepção do conteúdo está relacionada à<br />
tentativa de fazer o homem um sujeito atuante em seu meio social. O professor parte da<br />
premissa de que o ensino de história deve propiciar um despertar crítico, para que o<br />
aluno possa atuar de maneira consciente em relação ao mundo. Como afirma Gadotti<br />
(2001, p.76),<br />
Esse espaço político-pedagógico é certamente dependente da legislação, das<br />
normas, dos programas de ensino, etc., mas permite uma relativa autonomia.<br />
Nele, o trabalho crítico não consiste apenas em denunciar a seletividade, a<br />
injustiça, mas consiste muito mais em pesquisar e apontar soluções.<br />
Mesmo com essas dificuldades, o professor de História tem tentado despertar no aluno<br />
uma leitura crítica da sociedade, que é responsável por um quadro educacional, tão<br />
deficiente. É necessário ressaltar ainda, uma concepção de ensino de História que<br />
considera o aluno sujeito ativo do próprio conhecimento, o que desconsidera a idéia<br />
tradicional, pela qual o professor é o detentor do conhecimento e responsável apenas em<br />
transmiti-lo ao aluno.<br />
Dessa forma, é preciso identificar as principais características dessa ciência, seus<br />
métodos, suas ramificações e aplicações. Ele deve conhecer a realidade vivida pelos<br />
alunos e ter suas próprias concepções sobre a História, já que a prática em sala de aula,<br />
as escolhas pedagógicas, os objetivos e conteúdos de ensino, além das formas de<br />
avaliação estão muito ligados a essas concepções (BULOS, 2011).<br />
31
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O estudo tem como objetivo central analisar a prática docente no ensino de História<br />
após a implementação do Novo Currículo Básico das Escolas Públicas. É possível<br />
pensar o ensino dessa História dentro de uma perspectiva que considere a historicidade<br />
do homem na construção da História, no âmbito das relações sociais. Isto, por sua vez,<br />
conduz a uma nova concepção de sociedade, de escola que educa para formar cidadãos<br />
críticos, reflexivos e não apenas seres passivos e contemplativos da realidade social em<br />
que vivem, as quais nunca questionam ou analisam criticamente.<br />
Dessa forma, busca-se um ensino de História com um pensar crítico e sistematizado da<br />
realidade social, sendo que na maioria das vezes o professor não trabalha com a<br />
especifidade de um método teórico de ensino para História, embora, no seu fazer<br />
pedagógico em sala de aula, estejam procurando mudanças que estão embasadas na<br />
leitura de muitos teóricos do ensino de História.<br />
A ação pedagógica nas escolas e nas aulas passa por um processo de decisões onde uma<br />
série de razões de ordem diversas fará com que, o docente desenvolva em seu trabalho,<br />
elaborações mais concretas e precisas dos currículos prescritos fora de sua prática. O<br />
professor faz suas próprias escolhas, baseado nesse campo imenso de informações que<br />
compõem o pano de fundo de sua prática. Ele constrói consciente, ou até mesmo<br />
inconscientemente, um território que lhe é próprio.<br />
É preciso acabar com a concepção tradicional de ensinar História, passando a ter uma<br />
postura mais critica em relação ao seu ensino, elimar esta posição histórica com base<br />
nos pressupostos positivistas.<br />
Nesse sentido, a formação de professores para uma inovação curricular, apoiada no<br />
sucesso educativo e na resposta positiva a cada aluno e aluna presente no espaço<br />
escolar, terá de passar pela existência de condições que permitam aos professores<br />
desenvolver uma mentalidade curricular (entendida como consciência do sistema em<br />
que está inserido e do papell, ou papéis que nele desempenham, ou podem vir a<br />
32
desempenhar) e, simultaneamente, assumirem um papel de configuradores do currículo,<br />
ou seja, serem seus co-autores e não meros receptores.<br />
4 REFERÊNCIAS<br />
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33
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Belo Horizonte: autêntica, 2000.<br />
34
A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NA CRIANÇA<br />
POR MEIO DO USO DOS MAPAS EM SALA DE AULA.<br />
RESUMO<br />
35<br />
Anderson Oliveira Gadioli 9<br />
Ernandes de Oliveira Pereira 10<br />
Renata Bouguignon Carminati 11<br />
Selma Lúcia de Assis Pereira 12<br />
Os mapas estão presentes, no cotidiano do ser humano. Servem para muitos propósitos:<br />
para comunicar ideias, localizar lugares e representar o comportamento de vários<br />
fenômenos geográficos. O ato de especializar se esbarra no próprio conceito de espaço,<br />
que é ao mesmo tempo concreto e abstrato. Um espaço que se modifica ao longo do<br />
tempo de acordo com os pensamentos e o modo de ver da sociedade que o ocupa. E o<br />
mapa surge como a materialização deste espaço geográfico, tão mutável e tão<br />
corruptível sob o olhar do seres humanos. Especializá-lo requer o conhecimento dos<br />
sinais da cartografia. Por isso é fundamental que os mapas estejam presentes na vida da<br />
criança desde a sua tenra idade. E para isso é necessário que o professor saia do<br />
comodismo e crie um ambiente favorável ao processo de ensino-aprendizagem, através<br />
da cartografia como linguagem. Só assim será possível promover o desenvolvimento da<br />
criança com mais eficácia.<br />
PALAVRAS-CHAVE: História da cartografia – Piaget – Vygostky – Linguagem –<br />
Aprendizagem – Mapas mentais<br />
ABSTRACT<br />
The maps are present in everyday human being. Serve many purposes: to communicate<br />
ideas, find places and represent the behavior of various geographic phenomena. The act<br />
of spatializing to touch the very concept of space that is both concrete and abstract. A<br />
space that changes over time according to the thoughts and way of seeing society that<br />
occupies it. And the map appears as the embodiment of this geographic area, such as<br />
changeable and corruptible under the gaze of human beings. Spatializes it requires<br />
knowledge of the signs of cartography. Therefore it is essential that the maps are present<br />
in the child's life since his early age. And this requires the teacher to leave the ease and<br />
create an environment conducive to teaching and learning through the maps as<br />
language. Only then can promote the development of the child more effectively.<br />
KEYWORDS: History of Cartography - Piaget - Vygotsky - Language - Learning - Mind<br />
maps<br />
9 Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>-ES; Licenciado em Matemática<br />
pela UFES.<br />
10 Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>-ES; Licenciada em Geografia;<br />
Mestre em Geografia pela UFES.<br />
11 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>-ES; Licenciada em História<br />
pela FAFIC.<br />
12 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>-ES; Licenciada em Língua<br />
Portuguesa pela FAFIC e especialista em Estudos Linguisticos pela Saberes.
1 INTRODUÇÃO<br />
1.1 UM POUCO DE HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA<br />
A arte de desenhar o mundo está presente desde os primórdios da humanidade. Há<br />
indícios de pinturas antigas em paredes de cavernas que retratam várias cenas do<br />
cotidiano dos nossos ancestrais. O desenho faz parte da vida humana antes mesmo da<br />
escrita. Sem precisar ir tão longe, é possível perceber, por exemplo, que uma criança,<br />
começa a rabiscar os seus primeiros desenhos, antes de aprender a escrever, mesmo com<br />
uma coordenação motora ainda em desenvolvimento. E o que é um mapa se não, um<br />
desenho.<br />
Muitos historiadores apontam que os mapas mais antigos que se tem notícia,<br />
apareceram, aproximadamente há mais de 4000 mil anos atrás:<br />
São do oriente próximo os indícios cartográficos mais antigos que<br />
conhecemos. Eles foram encontrados com maior frequência no sul da<br />
Mesopotâmia. Uma pintura num vaso de argila de Tepe Gawra, no norte do<br />
Iraque, datada da metade do século IV a.C., é considerada o documento<br />
cartográfico mais antigo. Trata-se de uma paisagem abstrata com cenas de<br />
caça; supõe-se que suas linhas onduladas representem o percurso de um rio<br />
com os seus afluentes. Os testemunhos comprovados mais antigos da<br />
cartografia remontam ao reino acadiano antigo (2350 a.C. – 2150 a.C.), uma<br />
época 500 anos posterior à invenção da escrita cuneiforme. Descobriu-se um<br />
mapa regional, além de sete plantas. (DREYER-EIMBCKE, 1996, p.41)<br />
Mas o que dizer das pinturas rupestres das cavernas, dos desenhos feitos em argila,<br />
madeira e rocha, em casas e templos religiosos que mostram, mesmo que à grosso<br />
modo, cenas de caça e referências de lugares, onde os fatos do cotidiano mais<br />
marcantes ocorreram? Indícios desta natureza podem ter desaparecido, mas é fato, que<br />
a necessidade de se localizar e dominar o espaço, sempre existiu na história e na préhistória<br />
da humanidade, por tanto a origem do mapa se confunde com a origem do<br />
homem no planeta.<br />
Os mapas dos tempos antigos não foram feitos a partir de fotografias aéreas ou de<br />
imagens de satélites. Também não foram impressos em papel. Mas nem por isso, nos<br />
36
padrões dos tempos atuais, deixam de serem considerados mapas, pois a sua essência,<br />
mesmo que registrados a partir de observações diretas, em materiais simples e<br />
desprovidos de todo aparato matemático e tecnológico, continua a mesma. Ou seja,<br />
eram instrumentos de localização e, sobretudo de comunicação. O mapeamento é uma<br />
forma de linguagem, assim como é a escrita e a fala. Uma descoberta arqueológica,<br />
realizada em 1963 a.C. em Çatal Hoyuk, na região centro-ocidental da Turquia,<br />
comprova essa afirmação. Segundo Harvey (2003), é o mapa autêntico mais antigo, pois<br />
foi elaborado a cerca de 6000 anos a.C., refutando a afirmação de Dreyer-Eimbcke.<br />
Nele, é possível observar o traçado das ruas e casas, com o vulcão Hasan Dag em<br />
erupção ao fundo. O sítio arqueológico em que foi encontrado era um santuário, e ele<br />
foi criado como parte de um ritual religioso. Mesmo assim não deixa de ser um mapa,<br />
na sua essência.<br />
Os babilônios e os egípcios, segundo Dreyer-Eimbcke (1996, p. 41), eram agricultores<br />
com laços muito fortes com a terra. Por isso, sua cartografia, mesmo que desprovida de<br />
todo o aparato tecnológico, dos tempos atuais, mostrava as subdivisões dos campos e<br />
das plantas das cidades. A propriedade demarcada era de extrema importância para<br />
esses povos, principalmente no Egito, devido às cheias do rio Nilo. A cada ano exigiam<br />
a redistribuição das terras.<br />
Os mapas também consolidam sua importância como instrumentos de pesquisa<br />
histórica. Sua construção é marcada por ideologias, aspectos culturais, religiosas e<br />
políticas, típicos da época em que foram elaborados. Por exemplo, a cartografia<br />
ocidental da idade média,<br />
[...] se orientava principalmente pelos pressupostos bíblicos. [...] era praticada<br />
sobretudo nas escolas monásticas* [...], nas sedes e nos capítulos<br />
episcopais.[...] Na Bíblia encontram-se informações as mais diversas sobre o<br />
feitio da Terra, que é chamada, normalmente de Orbis Terrarum. (DREYER-<br />
EIMBCKE, 1996, p.46)<br />
Cada sociedade tinha a sua maneira de representar o seu espaço e por isso Harvey<br />
(2003) afirma que o mapa é uma “representação gráfica que facilita a compreensão<br />
espacial de objetos, conceitos, condições, processos e fatos do mundo humano.” Por<br />
isso, os mapas são fontes históricas importantes, para o estudo de diversas sociedades<br />
37
que existiram e que ainda existem no planeta. As novas descobertas tecnológicas e<br />
metodológicas de cada época influenciavam a construção dos mapas. Mesmo os erros<br />
grotescos dos mapas devem ser respeitados, pois podem estar apoiados em intenções<br />
políticas, que tinham a sua lógica em cada época. Destaca-se o período das grandes<br />
navegações do século XIV e XV, pois novas terras eram descobertas pelos aventureiros<br />
que se lançavam ao mar, em busca de uma nova rota comercial com as índias, fora da<br />
rota usual que ocorria no mar mediterrâneo. Acidentais ou não, essas novas descobertas,<br />
revelaram amplas possibilidades econômicas que atendiam a lógica do capitalismo<br />
mercantilista da época. Muitas minas de metais preciosos, terras férteis e madeira,<br />
faziam parte das novas terras. Os mapas que traçavam essas novas rotas se tornaram<br />
preciosidades e eram guardados como segredos de Estado. Protegê-los, não importa<br />
como, era crucial, pois:<br />
Informações exatas sobre as terras recém-descobertas tornavam-se vitais para<br />
o descobridor, que devia manter seus conhecimentos em segredo perante a<br />
concorrência internacional. Não é de admirar, pois que, mapas de regiões<br />
descobertas e conquistadas fossem objetos de venda, roubo, traição e<br />
falsificação consciente.[...] Um grande número de mapas foram escondidos<br />
ou esquecidos, tornando-se vítimas fáceis de deterioração em locais<br />
inadequados e de incêndios. (Dreyer-Eimbcke, 1996, p.220)<br />
É possível que esse fato mencionado por Dreyer-Eimbcke, tenha contribuído para o<br />
atraso da cartografia, enquanto técnica, na época das navegações, apesar das<br />
contribuições de Mercador. Mas esses mapas são elementos importantes para uma<br />
pesquisa histórica, a cerca da lógica social que predominava na época.<br />
No mundo moderno, as distâncias estão cada vez menores, graças aos avanços<br />
tecnológicos no campo dos transportes e das telecomunicações. Num mundo tão<br />
dinâmico, conhecer bem todos os espaços disponíveis do planeta é fundamental para<br />
estabelecer estratégias de ocupação e exploração de recursos de todos os tipos. Dentro<br />
deste contexto, o uso dos mapas adquire posição privilegiada, como o único instrumento<br />
capaz de especializar os fenômenos sociais, econômicos, políticos e culturais,<br />
oferecendo uma base sólida para as tomadas de decisões. Ao se adaptar a essa nova<br />
realidade e ao se apropriar destes avanços, os mapas se consolidam como importantes<br />
instrumentos de comunicação, planejamento e orientação.<br />
38
Diante do que foi exposto, é essencial ensinar o mapa, como uma linguagem de<br />
comunicação e o ensino dos mapas é fundamental para uma aprendizagem significativa.<br />
Mas para isso, é preciso quebrar as amarras que impedem o avanço do ensino do mapa<br />
nas escolas. E muitas são as possibilidades de aprendizagem, que a prática do fazer<br />
mapa proporciona. Mas por comodidade, ou por despreparo por parte dos professores,<br />
isso não tem sido contemplado.<br />
2 DESENVOLVIMENTO<br />
2.1 A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO DO ESPAÇO, AO LONGO DA HISTÓRIA<br />
HUMANA<br />
Antes de se pensar no processo de mapeamento, é fundamental compreender o que é o<br />
espaço e como o seu conceito se desdobra ao longo da história do homem, pois afinal é<br />
ele que será representado. Santos(2002) afirma que o espaço e o tempo, que se<br />
constituem como categorias básicas da ciência moderna, são, na verdade, remodelados<br />
na medida em que as sociedades se redimensionam. Por tanto, pensar no espaço como<br />
uma categoria de análise com um conceito fixo é ignorar as influências das<br />
transformações das sociedades sobre ela. Pensar e definir a noção de espaço requer<br />
contextualização. O espaço não é absoluto em si mesmo. Neste caso a história é um<br />
importante instrumento de compreensão do espaço idealizado pelos povos de cada<br />
época.<br />
Do ponto de vista cartográfico, Santos (2002), destaca que todos os mapas conhecidos,<br />
em todos os momentos da história da humanidade, revelam a leitura de mundo da<br />
sociedade que o construiu. Por tanto, demonstram qual era a noção de espaço que estas<br />
sociedades tinham.<br />
Como exemplo, pode-se destacar os mapas dos períodos feudais, como os do tipo T-O.<br />
Eram desprovidos de qualquer rigor geométrico e matemático e não tinham o objetivo<br />
de indicar lugares e caminhos. Porém serviam como instrumento de comunicação, pois<br />
destacavam com muita clareza uma visão religiosa que se tinha do mundo naquela<br />
39
época. Segundo Santos (2002), reafirmavam a hegemonia do cristianismo e do<br />
catolicismo romano.<br />
A partir do Século XIV, os pintores italianos, e dentre eles Leonardo da Vinci, passaram<br />
a observar a natureza de forma detalhada e tentaram reproduzi-la com tal. Com isso<br />
passaram a representar a aparência ótica de profundidade e movimento e a distribuição<br />
de figuras no espaço. Assim nascia o desenho em perspectiva. A humanidade aí adquiria<br />
a capacidade de ver um mundo tridimensional e percebia que suas representações<br />
gráficas se distanciavam do que era real. Era preciso repensar os métodos de<br />
representações, na pintura, no desenho e também no mapa. Como afirma Santos (2002,<br />
p.46) “a espacialidade sem escala, sem profundidade, sem medidas, dá lugar ao domínio<br />
da processualidade, que exige a consolidação do espaço como substantivo [...]”. O<br />
espaço visto desta forma pode ser mensurado. Ele ainda destaca que “colocar as coisas e<br />
os homens nos seus lugares implicou medir distâncias e, mais que isso, sistematizá-las<br />
como representação possível e necessária para garantir a [...] produção e a reprodução<br />
social” (Santos, 2002, p.46).<br />
A fim de atender os anseios de uma nova ordem mundial que se delineava nos século<br />
XV e XVI, pautada no sistema capitalista que se sobrepunha ao feudalismo, ocorreu<br />
uma revolução geográfica e conseqüentemente uma modificação do tratamento<br />
cartográfico do mundo. As navegações marítimas e a possibilidade de descobrir novas<br />
terras exigiam uma representação do mundo cada vez mais próxima do real. Diante das<br />
dificuldades de representar a esfericidade do mundo em um plano, o uso de técnicas<br />
geométricas de projeção foi amplamente utilizado por cartógrafos como Gerhard<br />
Mercador, nascido em Flandres em 1515 e considerado o pai da cartografia moderna.<br />
As viagens de Colombo e Vasco da Gama se tornariam representações folclóricas, se<br />
não fossem as exigências do mundo mercantilista, que tinha a necessidade de ampliar o<br />
seu território, em busca de novos mercados e recursos, dando sustentação ao capitalismo<br />
da época. Ter mapas mais precisos e que indicassem com tranquilidade a localização de<br />
novas rotas marítimas era imprescindível. A cartografia da era feudal, não servia mais<br />
para o mundo que se construía. O espaço aqui passa a ser visto como algo cada vez mais<br />
40
concreto e crucial para a sobrevivência do capitalismo. Diante disso é possível perceber<br />
como a noção de espaço se redimensiona à medida que a sociedade avança no tempo.<br />
Definir este espaço, ou seja, construir sua definição é uma tarefa árdua como diz Milton<br />
Santos. O espaço, objeto de estudo da Geografia é o espaço social, a morada do homem,<br />
e é por isso que, como diz Santos (2008), as formas e os conteúdos, deste espaço são tão<br />
variados, que a tarefa de criar uma definição para ele é um obstáculo de peso. A<br />
tendência deste espaço geográfico é mudar com o processo histórico. De qualquer<br />
maneira, as definições deste espaço não podem ser imutáveis, fixas e eternas conforme<br />
afirma Milton Santos.<br />
Mas isso não invalida a objetividade do estudo do espaço. Mesmo sofrendo influências<br />
da sociedade, mesmo sendo o espaço, como afirma Milton Santos (2008, p.163) “um<br />
fato Social [...], um fator social e uma instância social”, tudo que se aplica ao espaço<br />
“existe fora da consciência humana, e o ser humano pode percebê-lo por meio dos<br />
sentidos e dos dados que fazem parte da sua experiência do cotidiano.” (Kalesnik, 1971,<br />
apud Santos, 2008, p.161).<br />
O professor deve ter em mente as distorções da noção do espaço que muitos mapas<br />
podem provocar. Estes documentos, respaldados pelo seu rigor matemático e<br />
geométrico, podem perpetuar concepções equivocadas do espaço geográfico. Segundo<br />
Doreen Massey (2008, p.160), os “mapas (mapas atuais do tipo ocidental) dão a<br />
impressão de que o espaço é uma superfície – que é a esfera de uma completa<br />
horizontalidade.” Assim o espaço é condenado a ser um recorte no tempo, estático e<br />
sem vida. Isso é uma visão distorcida do que o espaço é na realidade. Massey (2008,<br />
p.94) acrescenta ainda que “conceber o espaço com um recorte estático através do<br />
tempo, como representação, como um sistema fechado, e assim por diante, são todos os<br />
modos de subjugá-lo.” O espaço é marcado por uma multiplicidade e deve estar<br />
associado ao tempo.<br />
Resta uma questão importante: como perceber e dar significado a este espaço, tão<br />
múltiplo e tão mutável? Que bases epistemológicas o devem ser usadas para<br />
compreender e apreender este espaço?<br />
41
2.2 A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO ESPACIAL, SEGUNDO PIAGET: UMA<br />
SOLUÇÃO LIMITADA.<br />
Piaget escreveu sobre a epistemologia genética do <strong>Espaço</strong>. Tema que é abordado em um<br />
artigo de Lívia de Oliveira, intitulado de “Uma leitura geográfica da epistemologia do<br />
<strong>Espaço</strong> segundo Piaget”. Segundo Oliveira (2007), Piaget parte de três problemas<br />
principais: a natureza da intuição geométrica, as relações entre o espaço físico e o<br />
espaço lógico-matemático e as relações entre as operações espaciais e as operações<br />
lógico-matemáticas.<br />
a) A natureza da Intuição geométrica: Segundo Oliveira (2007), Piaget afirma que “a<br />
imagem mental visual desempenha um papel especial no domínio geométrico, pois ela<br />
contém um caráter espacial. [...] a imagem é[...] um símbolo”. Quando se pergunta aos<br />
indivíduos adultos como é um triângulo, todos imaginam a mesma figura espacial. A<br />
imagem geométrica é um símbolo carregado de significados.<br />
b) As relações entre o espaço físico e o espaço lógico-matemático: Todas as estruturas<br />
espaciais são resultados da experiência física (operatório-dedutiva) e lógicomatemática.<br />
Ou seja, segundo Oliveira (2007) “a experiência física se dá sobre os<br />
próprios objetos” e a abstração física depende da existência dos mesmos, enquanto<br />
que a experiência lógico-matemática se dá a partir da ação sobre objetos físicos. A<br />
abstração lógico-matemática pode transcender a existência do objeto. A percepção do<br />
espaço está vinculada a estas duas formas de experiências, não importando a ordem.<br />
c) As operações entre as operações espaciais e as operações lógico-matemáticas: Há<br />
uma relação muito forte entre essas duas formas de operações, como Oliveira (2007,<br />
p.178), “[...] as operações espaciais são simplesmente operações lógico-matemáticas<br />
aplicadas ao espaço.” Elas, as operações espaciais podem se caracterizar pela escala,<br />
que pode se decompor em partes que podem se reatar de diversas maneiras. Essas<br />
operações são chamadas de infralógias.<br />
A combinação destes três problemas, mencionados acima, resulta na análise espacial, ou<br />
na análise infralógica que é constituída pelas noções de vizinhança, de separação, de<br />
envolvimento e de ordem.<br />
A noção de espaço piagetiano, brevemente analisada no presente artigo, mostra que ela<br />
está associada a um tipo de espaço meramente físico. Piaget ignora o espaço geográfico,<br />
que é o principal objeto de estudo da Geografia. Assim, apoiar-se em Piaget é<br />
estabelecer limitações ao estudo do espaço. É possibilitar que a criança assimile apenas<br />
um espaço concreto, sem compreender as suas relações com os seres humanos. A<br />
Geografia há muito já ultrapassou esta análise simplória sobre o espaço.<br />
42
2.3 VYGOTSKY, UMA PERSPECTIVA TEÓRICA DO MAPA COMO<br />
LINGUAGEM.<br />
Em seu estudo, Vygotsky (2005), considera que o conhecimento assimilado pela<br />
criança, não vem pronto e acabado. Na verdade ele é construído dentro da criança, por<br />
intermédio do meio, da sua história social e pela linguagem. Esta seria a principal<br />
responsável por internalizar os conceitos na criança. Na sua concepção a aprendizagem<br />
e o desenvolvimento são dois fenômenos distintos e independentes e a competência<br />
lingüística, age entre os dois, já que é por meio dela (da linguagem) é que a criança se<br />
desenvolve.<br />
Para Vygotsky (2005), existem dois níveis de desenvolvimento, conforme a Figura 01.<br />
Figura 01. Delimitação da Zona de Desenvolvimento Proximal.<br />
Adaptado pelos autores (VYGOSTKY, 2005).<br />
O primeiro é o desenvolvimento real (A), que corresponde ao conjunto de conhecimento<br />
que a criança tem em seu poder. O Segundo nível é o de desenvolvimento potencial (B),<br />
composto por problemas que a criança consegue resolver com o auxílio de pessoas<br />
experientes. É aí que surge a “zona de desenvolvimento proximal” (C). Esta área é<br />
formada por estruturas que ainda não foram internalizadas pela criança, mas que estão<br />
em processo de maturação, graças à linguagem. Vale ressaltar que o nível de<br />
43
desenvolvimento real corresponde o desenvolvimento mental da criança. Segundo<br />
Vygotsky (2005), duas crianças da mesma idade podem ter níveis de desenvolvimento<br />
mental diferentes, e que estas diferenças são qualitativas, pois dependem do ambiente<br />
que elas vivem.<br />
A aprendizagem é capaz de criar a zona de desenvolvimento proximal e ativa os<br />
processos de desenvolvimento na medida em que a criança interage com o meio,<br />
internalizando valores, regras e conhecimentos do seu contexto cultural.<br />
Enfim, dentro da concepção de Vygotsky (2005), a internalização do conhecimento<br />
acumulado pelos homens ao longo de sua história e disponível no meio social em que a<br />
criança vivencia, ocorre principalmente pela linguagem. Interagindo com as pessoas do<br />
seu meio, a criança assimila seus significados linguísticos e, com eles, o conhecimento<br />
da sua cultura.<br />
Dentro desta perspectiva, os mapas assumem um papel fundamental, como forma de<br />
linguagem, para que a criança compreenda as relações do homem com o meio. Assim<br />
vários tipos de conhecimentos poderão ser trabalhados através da cartografia.<br />
Os mapas, além de serem instrumentos de comunicação, também são mecanismos<br />
facilitadores do processo de ensino-aprendizagem. E o professor deve, sobretudo,<br />
dominar as ferramentas de construção dos mapas. E ter em mente que é necessário criar<br />
mecanismos que possibilitem que a crianças, adotem o desenho, como forma de se<br />
comunicar com o mundo. É preciso permitir que a crianças manipulem e interajam com<br />
os mapas, afim de compreenderem o mundo em sua volta.<br />
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS: AS IMAGENS MENTAIS COMO PONTO DE<br />
PARTIDA PARA UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA<br />
O ser humano, conforme já foi dito, é dotado de uma capacidade mental de perceber os<br />
objetos e sua disposição no espaço. A cartografia, tem a intenção de representar e<br />
materializar esta percepção espacial. E dentro deste contexto, os mapas mentais são<br />
44
excelentes ferramentas de comunicação do indivíduo. Através dele, é possível ver a<br />
materialidade da forma de pensar e perceber o seu espaço. Segundo Archela e Gratão<br />
(20<strong>04</strong>, p.127) “mapas mentais são imagens espaciais que as pessoas têm de lugares<br />
conhecidos, direta ou indiretamente.” Essa relação entre as pessoas e os lugares, pode<br />
ser cultural, política, econômica e social. Esse instrumento revela, segundo Archela e<br />
Gratão, “como o lugar é compreendido e vivido” pelo grupo que ocupa aquele espaço.<br />
Por isso as imagens mentais, são matérias-primas importantes para a cartografia e,<br />
podem ser abordadas com os seguintes objetivos, segundo Andrade (2008): “verificar a<br />
relação entre imagens e mapas, usar imagens como mapas, estudar imagens derivadas<br />
de mapas e estudar como as imagens mentais [...], podem ser utilizadas para estimar<br />
distâncias e direções.”<br />
É um instrumento que no seu estado bruto é carregado de subjetividade, mas que pode<br />
oferecer certa objetividade, quando se estabelece critérios precisos de interpretação<br />
destes mapas mentais. Segundo Archela e Gratão (20<strong>04</strong>, p.129) “os mapas mentais são<br />
desenvolvidos nos indivíduos, segundo as etapas de desenvolvimento mental do<br />
homem.” Quanto à interpretação dos mapas, as autoras sugerem que critérios como a<br />
faixa etária, diferenças sociais, herança biológica, cultural e educação, devem ser<br />
levados em consideração.<br />
O resultado desta forma de apreender o espaço é o mapeamento cognitivo (mental) que<br />
tem uma forte similaridade com a cartografia social, muita usada nas ciências humanas.<br />
Sempre a partir das relações que o mapeador tem do lugar, da paisagem, do território e<br />
do espaço que vivencia cotidianamente. E o professor de Geografia deve estar atento a<br />
essa realidade, deve diagnosticá-la, a princípio, antes de desenvolver um plano de<br />
ensino, para uma eficaz educação cartográfica. Andrade (2008) destaca ainda que<br />
dentro do processo de ensino do mapa, é fundamental “despertar a percepção espacial<br />
das pessoas, possibilitando o entendimento espacial do espaço físico onde habitam [...],<br />
com a necessidade de [...] construir seu próprio documento cartográfico” a partir dos<br />
mapas mentais da criança. É uma tarefa árdua, mas com um resultado final gratificante.<br />
Muito melhor do que apenas pintar ou desenhar o contorno de mapas prontos.<br />
45
Pensando neste despertar da percepção espacial, é importante definir o que é isso.<br />
Segundo Andrade (2008), “é a imediata apreensão da informação sobre o ambiente por<br />
um ou mais sentidos, [...] visão, audição, olfato, tato e paladar.” Mas é importante<br />
lembrar que o meio oferece uma grande diversidade de informações, e a percepção<br />
sensorial consegue captar apenas uma pequena porção da realidade, que varia para cada<br />
povo. Mas mesmo assim é um bom começo para, que o pesquisador e o professor<br />
tenham uma idéia de como as pessoas se relacionam com o meio. Os mapas mentais<br />
podem ser o ponto de partida para o ensino das relações do homem com o meio. Podem<br />
servir de janela para a apreensão de vários conceitos importantes da geografia, como o<br />
espaço geográfico o território, a região, etc.<br />
4 REFERÊNCIAS<br />
ANDRADE, Ericka Delania Verissimo de. A elaboração de documentos<br />
cartográficos sob a ótica do mapeamento participativo. – Recife: O Autor, 2008<br />
ARCHELA, Rosely Sampaio; GRATÃO, Lucia Helena; TROSTDORF, Maria. O lugar<br />
dos mapas mentais na representação do lugar. Geografia. Londrina.Vol13 – nº 01,<br />
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significado de uma categoria. 1.ed. São Paulo:Ed.UNESP, 2002.<br />
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Paulo:Ed. Contexto, 2007. p. 71-92.<br />
VYGOSTKY, LEV SEMENOVITCH. Pensamento e Linguagem. -- 3ª ed. -- São<br />
Paulo:Martins Fontes, 2005.<br />
47
O PERFIL DO ALUNO DA EJA E SUAS PRETENSÕES EDUCACIONAIS<br />
48<br />
Cristiane da Silva Lidorino Drumond 13<br />
Daniela Coutinho D´Ávila de Almeida 14<br />
RESUMO<br />
Pâmela Endringer Ribeiro 15<br />
Este trabalho apresenta reflexões acerca das expectativas dos alunos que frequentam a<br />
modalidade de ensino EJA, por meio de uma pesquisa de campo realizada em uma<br />
escola da rede estadual da Grande Vitória com 55 alunos da primeira e terceira etapa<br />
deste programa. Busca-se mostrar as aspirações e os diversos e contraditórios cenários<br />
de realidades vivenciados por estes jovens e adultos que, por algum motivo, não<br />
acessaram este direito a educação quando mais novos, considerando os reais interesses e<br />
retornos sociais esperados destes e para estes usuários.<br />
Palavras-chave: EJA; Programas Sociais e Aceleração da Aprendizagem.<br />
ABSTRACT<br />
This study presents reflections on the expectations of students who attend the mode of<br />
teaching adult education, through a survey at a school in the metropole of Vitória-ES<br />
(BRA), with 55 students from first and third stage of this program. Seeks to show the<br />
aspirations and the diverse and contradictory scenarios realities experienced by these<br />
young people and adults who, for some reason have not accessed this right to education<br />
when young, considering the real interests and social returns expected from such and<br />
such users.<br />
KEYWORDS: EJA (Young Adult Education); Social Program e Apprenticeship of<br />
Acceleration.<br />
13<br />
Licenciada em Pedagogia; Pós-Graduanda em Didática do Ensino Superior pela Faculdade Capixaba da<br />
Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />
14<br />
Bióloga e Professora do Ensino Fundamental e Médio-SEDU-ES; Pós-Graduanda em Didática do<br />
Ensino Superior pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />
15<br />
Assistente Social da Vara de Execuções de Penas e Medidas Alternativas de Vitória-ES; Pós-<br />
Graduanda em Didática do Ensino Superior pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.
1 INTRODUÇÃO<br />
Este trabalho traz reflexões acerca das expectativas e aspirações de alunos que<br />
frequentam a modalidade de ensino EJA, através da concretização de uma pesquisa de<br />
campo realizada com alunos da primeira e terceira etapa deste programa. O objetivo da<br />
pesquisa foi trazer quem e o que realmente pretende o sujeito que se insere na EJA. Para<br />
tanto, produziu-se um questionário semi-estruturado, sendo este aplicado no mês de<br />
julho de 2011 em uma escola estadual no município de Cariacica/ES.<br />
É sabido, que a Educação de Jovens e Adultos extrapola as questões educacionais,<br />
centram-se aqui também questões políticas, históricas, culturais e principalmente<br />
sociais. Isso porque a educação tem como missão explícita democratizar o<br />
conhecimento, mesmo com todas as suas influências de posicionamento a favor do<br />
neoliberalismo, de manutenção de um Estado elitizado, e como missão mais relevante, e<br />
muitas vezes esquecida, formar cidadãos críticos e conscientes de seus direitos e<br />
deveres, como sujeitos ativos e integrados, assim mais capacitados para atuar e alterar a<br />
realidade social coletiva.<br />
Desde o Brasil colônia, a educação de jovens e adultos já se fazia necessária ao<br />
desenvolvimento social, mostrando-se capaz de transformar sujeitos passivos e<br />
alienados em sujeitos atuantes e críticos. Com a promulgação da Constituição Federal<br />
de 1988, houve avanços significativos que resultaram no Programa EJA, sendo no ano<br />
de 1993, destaque e prioridade do Governo Federal.<br />
Ocorre que mesmo após quase trinta anos de execução deste programa, não se tem<br />
dados suficientes que comprovem o sucesso e/ou fracasso desta modalidade de ensino.<br />
E para suscitar uma discussão acerca deste ensino, a pesquisa revela, em uma menor<br />
parte, o real impacto desta EJA no cotidiano dos alunos e da sociedade. Portanto,<br />
buscou-se mostrar de forma transparente e real, os verdadeiros anseios dos discentes<br />
que procuraram esta forma de aprendizagem.<br />
49
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />
2.1 HISTÓRIA E DEFINIÇÃO DA EJA<br />
A história da EJA está diretamente ligada às modificações políticas, sociais e<br />
econômicas do País. Inicia-se no Brasil colônia, onde os colonizadores ensinavam os<br />
adultos a ler e a escrever para catequizá-los. Com a expulsão dos jesuítas no século<br />
XVIII, esta modalidade de ensino foi extinta, retornando mais tarde, na época do<br />
Império.<br />
Com a revolução de 1930, iniciou-se a consolidação de um sistema de educação no<br />
Brasil. A educação de adultos, pela primeira vez, passa a ser um dever do Estado. Com<br />
a Constituição de 1934 se estabelece a criação de um Plano Nacional de Educação.<br />
Na década de 40 algumas iniciativas políticas e pedagógicas se mostram mais<br />
abrangentes no que tange a educação de jovens e adultos, criando o FNEP (Fundo<br />
Nacional de Ensino Primário), o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas) e o<br />
CEAA (Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos).<br />
Já nas décadas de 40 a 60 várias campanhas, congressos e seminários marcaram a<br />
educação de jovens e adultos, entre eles, o Segundo Congresso Nacional de Educação<br />
de Adultos, em que se discutiu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação elaborada em<br />
1962. Esse período teve grande influência do autor Paulo Freire, que começou a aplicar<br />
seu sistema de educação baseado no diálogo e características socioculturais das classes<br />
populares.<br />
Nota-se que com o golpe militar de 1964 os movimentos de educação ligados à cultura<br />
popular foram reprimidos. Na década de 70, ainda sob a ditadura militar, iniciou o<br />
Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), um projeto cujo objetivo principal<br />
era erradicar o analfabetismo em dez anos. Não apresentando muito sucesso, o<br />
programa passou por diversas alterações em seus objetivos.<br />
Em 1971 o ensino supletivo é implantado no Brasil.<br />
50
Durante o período militar, a educação de adultos adquiriu pela primeira vez na<br />
sua história um estatuto legal, sendo organizada em capítulo exclusivo na Lei<br />
nº 5.692/71, intitulado ensino supletivo. O artigo 24 dessa legislação<br />
estabelecia como função do supletivo suprir a escolarização regular para<br />
adolescentes e adultos que não a tenham conseguido ou concluído na idade<br />
própria. (Vieira, 20<strong>04</strong>, p.40)<br />
O supletivo tinha como objetivo a escolarização de grande número de pessoas para<br />
satisfazer um mercado de trabalho competitivo. Mas para Haddad, 1991 os centros<br />
supletivos não atingiram seus objetivos verdadeiros, pois não receberam apoio político<br />
nem os recursos financeiros suficientes para sua plena realização.<br />
Na década de 80 várias transformações ocorreram na sociedade brasileira com o fim do<br />
governo militar. O MOBRAL foi extinto, sendo substituído pela fundação EDUCAR e a<br />
Constituição de 1988 trouxe avanços, consolidando-se a EJA.<br />
Em janeiro de 2003, o MEC anunciou que a alfabetização de jovens e adultos seria<br />
prioridade do governo federal. Esse programa encontra-se em andamento e não se pode<br />
afirmar se seus objetivos foram alcançados.<br />
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino voltada para<br />
pessoas que por algum motivo, não tiveram acesso ao ensino regular na idade<br />
apropriada. Segundo a LDB art. 37 § 2º “o poder público viabilizará e estimulará o<br />
acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e<br />
complementares entre si.”<br />
Desta forma, para trazer este aluno ao ambiente escolar é importante reconhecer sua<br />
significância como sujeito inserido em uma sociedade capitalista e exclusiva.<br />
Conhecendo sua realidade, como aluno ingresso nesta modalidade de ensino, será mais<br />
fácil, entender e atender as necessidades que os trouxeram para este ambiente,<br />
viabilizando uma educação construtiva e atrativa para um público tão diverso.<br />
51
2.2 EDUCAÇÃO E SOCIEDADE<br />
É indispensável o destaque de que a educação não se delimita a aquele ensinamento<br />
institucionalizado, pelo contrário, ela é inerente à existência humana, sendo<br />
contextualizada a cada momento para atender e acompanhar o desenvolvimento do ser<br />
social, conforme descreve o autor “A educação é um processo histórico de criação do<br />
homem para a sociedade e simultaneamente de modificação da sociedade para<br />
benefício do homem (...)” (Pinto, 2000, p.39).<br />
Reconhecendo que a educação não se apresenta pronta, acabada e finita, compreende-se<br />
a necessidade, mesmo que política, de semear o conhecimento para jovens e adultos<br />
que, por algum motivo, não escolheram a educação institucionalizada para terem mais<br />
possibilidades de interferirem na construção de suas comunidades. Não que esse acesso<br />
seja garantido quando se tem a educação exigida socialmente pelo sistema vigente, mas<br />
contribui para que indivíduos busquem soluções coletivas, permitindo que o processo<br />
educacional reduza os espaços entre interesses individuais e coletivos, afinal ninguém é<br />
tão ignorante que não possa socializar seus valores, costumes, hábitos, etc, ou seja,<br />
transmitir conhecimento de alguma forma.<br />
Pinto (2000, p. 38) descreve que:<br />
A educação é apenas o aspecto prático, ativo, da convivência social. Na<br />
sociedade todos educam a todos permanentemente. Como o indivíduo não<br />
vive isolado, sua educação é contínua. Mais particularmente, considerando-se<br />
apenas a transmissão dos conhecimentos compendiados, a educação também é<br />
permanente, pois o grupo dominante tem todo o interesse em reproduzir-se<br />
nas gerações sucessivas, o que faz transmitindo às novas gerações seu estilo<br />
de vida, seu saber, seus hábitos, seus valores, etc. Não existe sociedade sem<br />
educação, ainda que nas formas mais primitivas possa faltar a educação<br />
formalizada, institucionalizada (que aí é representada pelos ritos sociais). Por<br />
conseqüência, nenhum membro da comunidade é absolutamente<br />
ignorante, do contrário não poderia viver (grifo nosso).<br />
Segundo o autor, a educação é social e permanente em qualquer tempo, pois o que se<br />
conquista através dela é a emancipação do homem, transformando-o em sujeito crítico e<br />
consciente de que é parte do processo de desenvolvimento do meio em que está<br />
inserido.<br />
52
Portanto, vale lembrar que a EJA não funciona apenas como um mero conhecimento<br />
subjetivo, como mostra a pesquisa realizada na cidade de Cariacica/ES. Grande parte<br />
dos usuários está em busca de melhores oportunidades de salários e empregos,<br />
conscientes de que esse é o meio mais eficiente de permanecerem ou acessarem o<br />
mercado de trabalho. Não se pode esquecer também o caráter basilar da educação no<br />
processo de desenvolvimento de empregabilidade, bem como desta última na inclusão<br />
social objetivada. A qualificação profissional se apresenta indispensável à inclusão no<br />
mercado de trabalho, ancorada na escolarização. Desta forma, a transmissão do<br />
conhecimento institucionalizado tem sucesso também quando o aparato material e<br />
intelectual dos profissionais que a transmitem possibilita utilizar métodos compatíveis<br />
com a realidade das pessoas que o procuram. O educador não deve reforçar que o adulto<br />
que ali está não estudou por preguiça ou falta de interesse, mas como um crítico e<br />
dominador da realidade dinâmica, reconhecendo que o adulto analfabeto é produto do<br />
meio social em que vive, e não um mero desviado, anormal. Compreende-se também,<br />
que o aumento do acesso infantil a educação institucionalizada é impulsionada pelos<br />
pais que tiveram oportunidades de recebê-la, mesmo com o “atraso social”.<br />
Desta forma, compreende-se que a educação é um fenômeno existencial, ou seja, quem<br />
vive em sociedade está fadado a se encaixar na forma social vigente, sendo nas relações<br />
econômicas, sociais, culturais, científicas, políticas, etc. ser homem já significa aprender<br />
em qualquer e a qualquer tempo, permanentemente. Se por qualquer motivo não<br />
procurou aprender a ler e a escrever, também foi por que existe a possibilidade de viver<br />
sem esta condição de educando. Portanto, quem viveu e vive sem a presença da<br />
educação formal, é justamente absorvido pela própria sociedade, que até o momento não<br />
cobrou tais ensinamentos, o alimentado e o acolhendo da maneira que se apresenta.<br />
Compreendido parte deste amplo conceito que a educação representa, é de extrema valia<br />
expor que uma de suas funções é reproduzir comportamentos do grupo dominante,<br />
sendo aplicados na educação formalizada e nos hábitos do dia a dia. Transmitindo esses<br />
interesses, mesmo que embutidos no discurso social da importância da educação para<br />
todos, no desenvolvimento do país, da inclusão e redução da desigualdade social, o<br />
poder de dominar não caminha fora deste contexto neoliberal de permanecer no<br />
comando. Afinal, mesmo o discurso sendo social e qualitativo, o interesse<br />
53
governamental prisma em fortalecer a economia, aumentar o número de alfabetizados e<br />
cumprir o dever moral de um País que preza o desenvolvimento.<br />
2.3 DIAGNÓSTICO DAS EXPECTATIVAS DOS ALUNOS DA EJA<br />
Os resultados demonstrados a seguir foram obtidos através da pesquisa de campo<br />
realizada em uma escola da rede estadual de ensino localizada no município de<br />
Cariacica, no período noturno com a modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos).<br />
Foi aplicado um questionário semi-estruturado para 55 alunos da 1ª e 3ª etapa, do qual<br />
se observa:<br />
• A maior parte dos alunos é do sexo feminino e de cor parda, com idade entre 17<br />
e 60 anos, sendo predominante a faixa etária dos 17 aos 40 anos. A média da<br />
renda familiar é de 500 a 2000 reais, o que permite concluir que não apenas<br />
pessoas de baixa renda fazem parte dessa modalidade de ensino.<br />
• Os motivos pelos quais esses alunos pararam de estudar foram à necessidade de<br />
trabalhar, o desinteresse, a falta de estímulos e até a dificuldade de acesso à<br />
escola, como se observa nos gráficos abaixo:<br />
54
Cerca de 75% dos alunos acreditam que a EJA prepara para o nível superior, mostrando<br />
a boa motivação desses alunos como mostram o gráfico a seguir:<br />
O número expressivo de 75% dos alunos considera a EJA importante para adquirir<br />
conhecimento. Os outros 25% variam entre melhorar o emprego e concluir o ensino<br />
médio. Observa-se uma grande diversidade com relação ao motivo pelo quais esses<br />
alunos estão na EJA. Observe os gráficos:<br />
55
Aproximadamente a metade dos alunos (40%), nas duas etapas, estão interessados no<br />
mercado de trabalho, 25% dos alunos da 3ª etapa querem cursar o ensino superior e 20<br />
% o ensino técnico. Já na 1ª etapa o interesse no ensino técnico é um pouco maior do<br />
que no superior, e uma pequena parcela quer se inserido no mercado de trabalho.<br />
Nota-se que na 1ª etapa existem alguns alunos que cursam a EJA por obrigação, algo<br />
que na 3ª etapa não aparece no gráfico. Pode-se concluir que esse dado não é<br />
56
epresentado na 3ª etapa, por que, manter-se na escola por obrigação, é praticamente<br />
insustentável, pois a educação é uma questão de satisfação e responsabilidade individual<br />
e social.<br />
57
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Enfim, diante da realidade social vivenciada hoje pela maioria da população brasileira,<br />
considerando a desigualdade em sua mais ampla concretude, ou seja, dificuldades de<br />
cidadãos, constitucionalmente detentores de deveres e direitos, no acesso aos serviços<br />
públicos desde o nascimento, a EJA se apresenta como uma oportunidade de crescimento<br />
intelectual e ascensão social.<br />
Por esta ótica, a modalidade de ensino EJA funciona perfeitamente ao atender um público,<br />
composto em grande parte, por indivíduos de baixa renda, possibilitando, mesmo que<br />
tardiamente, o acesso e a integração social por meio da Educação. Modalidade esta, que<br />
objetivamente é acessada por pessoas que desejam estar inseridas na sociedade,<br />
principalmente no mercado de trabalho.<br />
Porém, o que se deve destacar é que se trata de mais um direito violado, quando não ofertado<br />
adequadamente, sendo minimizado por uma política “compensatória”. Trata-se de uma<br />
modalidade existente há cerca de 8 (oito) anos, mas que não apresenta dados concretos e<br />
acessíveis de sua efetividade, não tendo um currículo próprio, nem profissionais treinados e<br />
capacitados voltados especialmente ao atendimento deste público.<br />
A pesquisa mostra com clareza o perfil e os desejos dos alunos da EJA, entre eles, o Ensino<br />
Superior, o que se pode concluir que há interesse na educação, mas às vezes, não há<br />
oportunidade de exercê-la.<br />
Por isso, a EJA não deve ser estimulada em detrimento ao ensino regular, pois, perde-se não<br />
apenas o aluno da EJA, mas, possivelmente suas gerações. Assim, o Estado deve ampliar e<br />
qualificar a oferta da Educação na infância, para que desde criança seja informada a real<br />
dependência do ser homem da educação. Mostrando de forma “lúdica” ou não, o reflexo da<br />
mesma no futuro individual e coletivo de cada cidadão, e caso a EJA seja a saída para<br />
oportunizar indivíduos a uma melhor condição de vida, que seja dispensado uma atenção de<br />
qualidade aos educadores e aos educandos deste modelo atual de educação de jovens e<br />
adultos.<br />
58
4 REFERÊNCIAS<br />
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pelo autor. 11.ed. São Paulo: Cortez, 2000.<br />
VIEIRA, Maria Clarisse. Fundamentos históricos, políticos e sociais da educação de<br />
jovens e adultos. V.I: aspectos históricos da educação de jovens e adultos no Brasil.<br />
Universidade de Brasília, Brasília, 20<strong>04</strong>.<br />
59
A PRÁTICA DA INTERDISCIPLINARIDADE NO ÂMBITO ESCOLAR<br />
60<br />
Gilcimar do Nascimento Gonçalves 16<br />
Giselle de Figueiredo Bachir Cheroto Juliat 17<br />
Ilzineli de Aguiar Fazolo 18<br />
Rita de Cássia Martins Barbosa 19<br />
RESUMO<br />
O objetivo, deste artigo, é compreender o trabalho pedagógico na perspectiva interdiciplinar,<br />
apresentando um breve histórico, mais precisamente, uma evolução histórico-crítica sobre os<br />
estudos da interdisciplinaridade, como pode ser aplicada na construção do conhecimento,<br />
como prática escolar e no desenvolvimento e articulação dos conteúdos de cada disciplina.<br />
Como pesquisa bibliográfica pautou-se nas ideias de autores considerados expoentes no tema,<br />
com Japiassú e Fazenda.<br />
Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Prática escolar; Integração.<br />
ABSTRACT<br />
The aim of this paper is to understand the pedagogical work in a interdisciplinary perspective,<br />
presenting a brief history, more precisely, an evolution on the historical-critical studies of<br />
interdisciplinarity, how can be applied in the process of building up knowledge as a school<br />
practice and also to help in the development and articulation of content of each discipline. The<br />
literature research was based on the ideas of authors considered the exponents on the theme<br />
suchas Japiassú and Fazenda.<br />
KEYWORDS: Interdisciplinary, School practice; Integration.<br />
16 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />
17 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />
18 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />
19 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.
1 INTRODUÇÃO<br />
A abordagem do tema a prática da interdisciplinaridade no âmbito escolar exige inicialmente<br />
uma discussão acerca dos conceitos relativos a interdisciplinaridade, de desclarecimentos<br />
quanto a distinção entre interdisciplinaridade científica e interdisciplinaridade escolar e<br />
posteriormente debruçar sobre a prática interdisciplinar na escola. Assim, neste estudo<br />
pretende-se compreender o trabalho pedagógico na perspectiva interdiciplinar, apresentando<br />
um breve histórico, mais precisamente, uma evolução histórico-crítica sobre os estudos da<br />
interdisciplinaridade, como pode ser aplicada na construção do conhecimento, como prática<br />
escolar e no desenvolvimento e articulação dos conteúdos de cada disciplina.<br />
Os documentos oficiais da educação, especificamente os Parâmetros Curriculares Nacionais –<br />
PCNs , também tratam do termo interdisciplinaridade, o que impõe uma observação deste<br />
documento na discussão sobre a prática pedagógica interdisciplinar, além dos demais<br />
documentos, tais como: a lei de diretrizes e base da educação nacional – LDB, Lei Nº<br />
9394/96, promulgada em 20 de dezembro de 1996, as resoluções que definem e explicitam as<br />
diretrizes e as especificidades de cada etapa da educação básica, que serão pontuads<br />
posteriormente, destacando as interfaces entre o ensino e a aprendizagem e sua relação com a<br />
interdiciplinaridade.<br />
Observando ser relevante, na atualidade, que professores e professoras, pedagogos e<br />
pedagogas, os denominados profissionais da educação, cuja finalidade do trabalho é o<br />
processo de ensino e aprendizagem, lerem, analisarem, refletirem e discutirem o que é<br />
interdisciplinaridade e como tornar a prática pedagógica uma prática interdisciplinar no<br />
interior da escola, esta é justificativa deste estudo, traduzido na busca de resultados de uma<br />
pesquisa bibliográfica, resultado da análise e interpretação das ideias dos autores selecionados<br />
para a produção deste artigo, como Ivani Fazenda, Japiassu, Lenoir, Pombo , Nogueira,<br />
dentre outros.<br />
61
2 DESENVOLVIMENTO<br />
2.1 BREVE TRAJETÓRIA HISTÓRICA E POLÍTICA SOBRE<br />
INERDISCIPLINARIDADE.<br />
Ivani Fazenda em seu 13º livro, “Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa” de 1994,<br />
repete o que já dissera em outras publicações “a interdisciplinaridade se consolida na busca,<br />
de uma busca que é sempre pergunta, ou melhor pesquisa” (p.9). É com esse espírito que<br />
inicia-se este artigo: uma busca para compreender, apreender e quiçá fazer, uma prática<br />
pedagógica interdisciplinar na escola.<br />
As pesquisas apontam que Japiassú e Fazenda são os autores responsáveis pelas primeiras<br />
pistas sobre a interdisciplinaridade no Brasil e apontam dois acontecimentos que contribuíram<br />
como marcos significativos para a estruturação da Interdisciplinaridade.<br />
Em 1970, foi publicado um documento pelo Centro Pesquisa e Inovação do Ensino – CERI,<br />
que analisava as atividades interdisciplinares de estudos e pesquisa das universidades,<br />
propondo algumas definições para Interdisciplinaridade, além de noções e concepções sobre<br />
disciplina, multidisciplinaridade 2018 e pluridisciplinaridade 21 . 19<br />
Também em 1970, foi realizado um Seminário pela Organização de Cooperação e<br />
Desenvolvimento Econômico – OCDE em parceria com Ministério da Educação Francês<br />
sobre Interdisciplinaridade nas Universidades, do qual participaram alguns especialistas de<br />
renome internacional, dentre eles o nosso conhecido Jean Piaget. Neste seminário os autores<br />
discutiram na tentativa de definir Interdisciplinaridade e noções a fim.<br />
Foi a partir de 1976, que as concepções sobre interdisciplinaridade, decorrentes do Congresso<br />
de Nice, na França em 1969, são veiculados aqui no Brasil, trazidas por Japiassú e Fazenda.<br />
Vale ressaltar que o eixo temático de trabalhado por Japiassú é epistemológico 22 , 20 e o de<br />
Fazenda, pedagógico 23 . 21 Para estes dois autores a interdisciplinaridade é apontada como saída<br />
20<br />
Sistema de um só nível e de objetivos múltiplos, mas, sem cooperação.<br />
21<br />
Justaposição de diversas disciplinas, agrupadas de modo a fazer aparecer as relações existentes entre elas,<br />
onde há cooperação, mas, não há coordenação..<br />
22 Diz respeito ao conhecimento – teoria do conhecimento.<br />
23 Diz respeito a educação – ensino e aprendizagem.<br />
62
para o problema da disciplinaridade, tendo como ser superada pelo exercício de uma prática<br />
interdisciplinar.<br />
Fazenda (1994) traça uma evolução, uma tentativa de organização didática do movimento da<br />
interdisciplinaridade em três momentos distintos, a partir da década de 70. Na década de 70,<br />
seria a década da estruturação básica do conceito de interdisciplinaridade, A década seguinte<br />
(1980), a busca, a tentativa de explicitar uma metodologia para a interdisciplinaridade e 1990,<br />
a construção de uma teoria da interdisciplinaridade.<br />
2.2 CONCEITUAÇÕES BÁSICAS<br />
2.2.1 INTERDISCIPLINARIDADE<br />
Lenoir (1998) com base nos estudos de Germain (1991) e Petrie (1992) afirma que o conceito<br />
de interdisciplinaridade tem sentido em um contexto disciplinar, numa relação com outras<br />
disciplinas, pressupondo a necessidade de interação, e mais ainda a interdisciplinaridade que<br />
“pressupõe a existência de ao menos duas disciplinas como referência e a presença de uma<br />
ação recíproca” (GERMAIN, 1991 apud LENOIR, 1998, p.46). Nesse contexto é possível<br />
inferir que a atividade ou a prática interdisciplinar necessita da perspectiva disciplinar,<br />
entendida aqui como matérias escolares.<br />
É em Japiassú (1976), que encontramos sustentação e argumentação para a perspectiva<br />
disciplinar e interdisciplinar indicada acima, pois segundo o mesmo a interdisciplinaridade<br />
necessita da intercomunicação entre as disciplinas, permitindo uma transformação e uma<br />
interlocução entre elas, realizada pelo diálogo compreensível, e não apenas a troca de<br />
informações entre disciplinares, o que não constitui um método interdisciplinar.<br />
Faz-se mister destacar a polêmica em relação ao termo interdisciplinaridade, por sua<br />
variedade no significado e concepção e em alguns casos até mesmo da sua compreensão. O<br />
entender do termo interdisciplinaridade ainda é motivo de debate, como já afirmou Fazenda<br />
(1994), ao traçar a trajetória da evolução em aproximadamente três décadas: sua<br />
conceituação, sua metodologia e sua estruturação enquanto teoria, o que se pode afirmar,<br />
portanto ter uma variedade de definições para o termo, em face de pontos de vista, da vivência<br />
e da experiência educacional, por exemplo.<br />
63
Para Japiassu (1976, p.74): “A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das<br />
trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um<br />
mesmo projeto de pesquisa”. Enquanto para Pombo (2008, p. 60):<br />
É a relação interna entre a disciplina "mãe" e a disciplina "aplicada". O termo<br />
interdisciplinaridade na educação já não oferece problema, pois, ao tratar do mesmo<br />
objeto de ciência, uma ciência da educação complementa outra. É uma forma nova<br />
de pensar. Piaget já sustentava que a interdisciplinaridade seria uma forma de se<br />
chegar à transdisciplinaridade 24 , 22 etapa que não ficaria na interação e reciprocidade<br />
entre as ciências, mas alcançaria um estágio onde não haveria mais fronteiras entre<br />
as disciplinas.<br />
Porquanto, mesmo não se tendo uma conceituação única e exata do termo<br />
interdisciplinaridade, considerando os distintos enfoques já citados acima e mesmo não sendo<br />
possível sua generalização quanto à concepção da interdisciplinaridade, é fato que Fazenda<br />
(1998), Japiassu (1976), Pombo (2008) e Piaget (apud POMBO, 2008) consideram para a<br />
interdisciplinaridade, a exigência da relação de sentidos e significados na busca do<br />
conhecimento, onde o processo de ensino e aprendizagem se dê numa percepção dos saberes<br />
em conjunto, na interação das disciplinas traduzida nas relações que se faz ou que se pretende.<br />
2.2.2 INTERDISCIPLINARIDADE CIENTÍFICA E INTERDISCIPLINARIDADE ESCOLAR<br />
Como o termo interdisciplinaridade é derivado do vocábulo disciplina, é importante entender<br />
a diferenciação das disciplinas escolares das disciplinas científicas, mesmo considerando que<br />
ambas compartilham de uma lógica científica, como também a concepção de disciplina. A<br />
disciplina vem a ser um conjunto específico de conhecimentos com características próprias<br />
sobre o plano do ensino, da formação dos mecanismos, dos métodos e das matérias.<br />
Lenoir (1998) destaca que “a interdisciplinaridade escolar trata das matérias escolares e não<br />
de disciplinas científicas. Mesmo se as matérias escolares tomam certos empréstimos às<br />
disciplinas científicas, não constituem cópias de maneia alguma [...]” (p.47).<br />
24 Etapa superior de integração. Trata-se de um sistema global sem barreiras sólidas entre as<br />
disciplinas.<br />
64
Nessa perspectiva, e que se busca distinguir os conceitos de Interdisciplinaridade científica e<br />
interdisciplinaridade escolar, e retornamos a autora para esclarecer que “como não se deve<br />
confundir disciplina científica e disciplina escolar, a interdisciplinaridade escolar deve ser<br />
nitidamente diferenciada da interdisciplinaridade científica” (ibid, p.51), características<br />
destacads claramente e objetivamente, a saber: a nterdisciplinaridade científica tem como<br />
finalidade a produção de novos conhecimentos e a resposta às necessidades sociais,<br />
enquanto a interdisciplinaridade escolar, a difusão do conhecimento, favorecendo a<br />
integração de aprendizagens e conhecimentos, além da formação de atores sociais. A<br />
primeira tem como moldes de aplicação a pesquisa e o conhecimento como sistema de<br />
referência, e a segunda implica a noção de ensino, de formação e o sujeito, o aprendiz o<br />
seu sistema de referência em relação ao conhecimento.<br />
2.3 OS DOCUMENTOS OFICIAIS E A INTERDISCIPLINARIDADE<br />
Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs se constituem em referencial para a Educação<br />
Básica, especificamente para o Ensino Fundamental e Ensino Médio e tem como referência<br />
nortear o trabalho pedagógico dos professores. Sua disponibilização iniciou-se em 1997 para<br />
o primeiro ciclo do Ensino Fundamental (1ª a 4ª série), em 1998 para o segundo ciclo (5ª a 8ª<br />
série) e em 1999, para o Ensino Médio.<br />
Os documentos – PCNs do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, indicam a<br />
Interdisciplinaridade como opção e orientação de trabalho pedagógico quando direcionam que<br />
o professor faça a relação entre diferentes campos do conhecimento, ao planejar e executar<br />
suas aulas, conforme disposto:<br />
A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de<br />
conhecimento produzido por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação<br />
e a influência entre eles questiona a visão compartimentada (disciplinar) da<br />
realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constitui.<br />
Refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas (BRASIL, 1997, p.31).<br />
Nesse sentido, a Interdisciplinaridade traduz-se em instrumento capaz de possibilitar a relação<br />
entre as disciplinas, entre os campos de conhecimentos com vistas a produzir saberes para<br />
responder às demandas escolares e sociais.<br />
65
Nos PCNs do Ensino Médio que se encontram os esclarecimentos sobre o fazer do professor,<br />
sua prática escolar interdisciplinar ou para àquele professor que interessa pela<br />
interdisciplinaridade na prática escolar, estes propõem objetivamente:<br />
a interdisciplinaridade não tem a pretensão de criar novas disciplinas ou saberes,<br />
mas de utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema<br />
concreto ou compreender um determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista<br />
(Ibid, 1999, p.21).<br />
Outros documentos oficiais tratam da interdisciplinaridade, como por exemplo, As Diretrizes<br />
Curriculares Nacionais para a Educação Básica - Resolução Nº. 4, de 13 de julho de 2010, que<br />
entre outras disposições, determina no Artigo 13, parágrafo terceiro, inciso III:<br />
Escolha da abordagem didático-pedagógica disciplinar, pluridisciplinar,<br />
interdisciplinar ou transdisciplinar pela escola, que oriente o projeto políticopedagógico<br />
e resulte de pacto estabelecido entre os profissionais da escola,<br />
conselhos escolares e comunidade, subsidiando a organização da matriz curricular,<br />
a definição de eixos temáticos a constituição de redes de aprendizagem (Ibid, 2010,<br />
p. 5);<br />
Tal dispositivo legal deixa explicitado claramente a importância das ligações, da<br />
complementaridade, das convergências e das interconexões entre os diversos saberes e fazeres<br />
que compõem o currículo da educação nacional, reafirmado na concepção dos componentes<br />
curriculares da educação básica que [...] são organizados pelos sistemas educativos, em forma<br />
de áreas de conhecimento, [...], eixos temáticos, preservando-se a especificidade dos<br />
diferentes campos do conhecimento [...] (ibid, p.6).<br />
Mais ainda, bem próximo à prática escolar, o processo de avaliação da educação empreendida<br />
pelo Governo Federal, o Exame Nacional do Ensino Medio – ENEM, referência para as<br />
escolas e universidades, possui como base de seus itens/questões a interdisciplinaridade, o<br />
saber integrado.<br />
Nessa visão, a interdisciplinaridade ganha espaço e firma-se como concepção da ação<br />
pedagógica dos profissionais da educação, com possibilidades de garantir a construção de um<br />
conhecimento global, rompendo com as fronteiras das disciplinas.<br />
66
2. 4 A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR NA ESCOLA<br />
Pesquisas demonstram que a interdisciplinaridade é atualmente vista como um elemento<br />
valioso dentro do processo de ensino e aprendizagem em quase todos os níveis de ensino. Os<br />
profissionais da educação, pedagogos, coordenadores e professores traduzem seus interesses<br />
em fazer educação na perspectiva interdisciplinar.<br />
De acordo com o pensamento de Fazenda (1993) a interdisciplinaridade começa a ser<br />
considerada por vários estudiosos como a solução para que se restabeleça uma nova ordem na<br />
educação-ensino no Brasil e por significar uma atitude de reciprocidade e mutualidade. É<br />
assim que mesma argumenta em defesa da interdisciplinaridade:<br />
É um esforço de superar a fragmentação do conhecimento, tornar este relacionado<br />
com a realidade e os problemas da vida moderna. Muitos esforços tem sido feitos<br />
neste sentido na educação. Na ciência, por sua vez, os esforços estão na busca de<br />
respostas, impossíveis com os conhecimentos fragmentados de uma única área<br />
especializada (FAZENDA, 2005, p. 60).<br />
A argumentação de Fazenda em prol da interdisciplinaridade aguça a perspectiva de uma<br />
prática interdisciplinar no âmbito escolar, já constado inicialmente nos documentos oficiais,<br />
desde a legislação que direciona o ensino, como nos PCNs. Profissionais da educação<br />
discutem desde a década de 80, sobre a necessidade de romper com a fragmentação do<br />
processo de ensino e aprendizagem, com a desarticulação do processo de construção do<br />
conhecimento que é justificado pela compreensão da importância da interação e<br />
transformação recíprocas entre as diferentes áreas do saber.<br />
A propósito da prática interdisciplinaridade no ambiente escolar, foco do presente estudo<br />
bibliográfico, o professor Nildo Ribeiro Nogueira, em seu livro “Interdisciplinaridade<br />
Aplicada” (1998), discute a Pseudo-Interdisciplinaridade praticada no ambiente escolar.<br />
Afirma o autor, que por ser encarada por alguns professores “como a panacéia da educação,<br />
como modismo [...]” (p.29), e modismo por outros, a interdisciplinaridade na prática, é<br />
desacreditada, é negada conforme comentários registrados no texto “[...] os alunos não<br />
conseguem nem conjugar o verbo To be, como vou conseguir trabalhar o meio ambiente em<br />
Inglês?”, por exemplo. (p.30). Porém, argumenta em favor dos professores, quando analisa<br />
67
que os mesmos professores não fazem uma prática interdisciplinar na escola, por ter que<br />
completar os conteúdos destinados àquela série, durante o ano ou semestre letivo.<br />
Por outro lado, afirma Nogueira (1998) que outros aspectos interferem na consecução de um<br />
projeto interdisciplinar na escola, tais como a insegurança – a falta de compreensão da<br />
proposta interdisciplinar; a flexibilização quanto à orientação do trabalho do professor, em<br />
relação aos conteúdos – autonomia do trabalho pedagógico e a “carga de trabalho” (grifo<br />
nosso) que o professor acredita ter que disponibilizar para a elaboração de exercícios,<br />
questões e atividades relativas ao tema de estudo, do projeto interdisciplinar.<br />
Por tais aspectos, considera o autor, a prática interdisciplinar não se concretiza, o professor<br />
não assume uma postura interdisciplinar e seu fazer pedagógico permanece compartimentado,<br />
fragmentado e até descontextualizado da realidade do educando, o que implica ser a prática<br />
pedagogia interdisciplinar apenas desejo e “sonho do coordenador pedagógico, do diretor e de<br />
alguns poucos professores que conseguem enxergar além das paredes da sala de aula”<br />
(NOGUEIRA, 1998, p.31).<br />
2.4.1 INTERDISCIPLINARIDADE: UMA QUESTÃO DE ATITUDE<br />
É sabido que o professor, um dos responsáveis pelo processo de ensino-aprendizagem na sala<br />
de aula, e por tal, é importante ter um reflexão acerca da postura interdisciplinar que vá além<br />
do discurso e concretize de fato na prática do cotidiano escolar, sendo corroborado pelo<br />
pensamento de Fazenda (1993), quando destaca que a interdisciplinaridade começa a ser<br />
considerada por vários estudiosos como a solução para que se restabeleça uma nova ordem na<br />
educação.<br />
Fazenda (1993), ainda reflete que a interdisciplinaridade é uma atitude de abertura, sem<br />
preconceitos e que considera importante todo tipo de conhecimento, anulando assim o<br />
conhecimento individual frente ao saber universal. É uma atitude coerente, fundamentada na<br />
opinião particular e que pede uma postura única, engajada e comprometida frente aos fatos da<br />
realidade educacional e pedagógica. Sobre a atitude interdisciplinar, segundo o olhar de<br />
Fazenda (apud NOGUEIRA, 1998, p. 31), tem-se:<br />
68
[...] uma atitude diante de alternativas para conhecer mais e melhor, atitude de<br />
espera ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que<br />
impele ao diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou<br />
consigo mesmo – atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude<br />
de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio<br />
– desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho - atitude de<br />
envolvimento e comprometimento com os e com as pessoas neles envolvidos,<br />
atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível,<br />
atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro,<br />
enfim de vida.<br />
Ter tal atitude implica em romper com alguns paradigmas “postos” na prática escolar,<br />
acreditar de fato que cada aluno é capaz de construir conhecimentos e que os pares sejam<br />
capazes de se despir da áurea de único sabedor do conhecimento. Essa análise é<br />
compartilhada por Fazenda (1993) ao considerar que a prática escolar pautada efetivamente<br />
na interdisciplinaridade se daria pelo desenvolvimento da sensibilidade, do diálogo com seus<br />
pares, da formação continuada sobre o fazer pedagógico.<br />
Faz-se necessário, a partir do exposto acima, ressaltar a importância da interdisciplinaridade,<br />
considerando que a mesma supõe existir um eixo integrador com as disciplinas de um<br />
currículo, onde os alunos aprendam a olhar o mesmo objeto sob perspectivas diferentes.<br />
Uma outra importância da interdisciplinaridade é possibilitar a construção de uma escola<br />
democrática e participativa, contribuindo para a formação do sujeito crítico e social.<br />
Considerando as reflexões exposta acerca da interdisciplinaridade, a prática escolar<br />
interdisciplinar realizar-se-ia como uma maneira diferente de ver e sentir o conhecimento, de<br />
ver e sentir o mundo, de entendê-los, de considerar as diversas e múltiplas implicações que se<br />
realizam, ao analisar um acontecimento, ao construir e reconstruir o conhecimento, o saber.<br />
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Face ao exposto no decorrer deste estudo, é possível inferir como conclusão deste artigo,<br />
porém não como conclusão da pesquisa sobre prática da interdisciplinaridade no âmbito<br />
escolar, que a interdisciplinaridade é um tema complexo e que interfere diretamente e<br />
indiretamente no fazer docente dos professores e das professoras que atuam em sala de aula.<br />
69
Este estudo teve por objetivo o entendimento do trabalho pedagógico na perspectiva<br />
interdiciplinar, refletir sobre a evolução histórico-crítica do conceito de interdisciplinaridade e<br />
como aplicar esta prática na construção do conhecimento e no desenvolvimento dos<br />
conteúdos, o que foi alcançar, de forma satisfatória.<br />
A elaboração desta pesquisa realizou-se à luz dos teóricos que dissertam sobre o tema, através<br />
de uma pesquisa bibliográfica, propiciando a reflexão do entendimento do vocábulo<br />
interdisciplinaridade, sua concepção e aplicação na prática escolar. Como referência, o<br />
conceito de interdisciplinaridade fica entendido como uma corrente de pensamento que se<br />
traduz na ação comunicativa entre os saberes, os conhecimentos das disciplinas e a<br />
interlocução dos sujeitos – atores do processo ensino e aprendizagem.<br />
Isto porque, dos conceitos analisados, prepostos por Japiassú (1976), Fazenda (1998),<br />
Germain (1991) e Petrie (1992), todos eles expressam uma compreensão da necessidade da<br />
interação entre alunos e professores e com o objeto do conhecimento dos diversos<br />
componentes curriculares.<br />
Observa-se na analise dos conceitos da interdisciplinaridade não se altera. Porém, infere-se no<br />
decorrer do estudo, que as práticas de sala de aula, consideradas interdisciplinares são<br />
exercidas mais por iniciativas individuais e/ou por equipes de professores do que práticas da<br />
escola como um todo, isto é, como resultado da filosofia estabelecida no projeto políticopedagógico<br />
da escola, retomando aqui, o já explicitado anteriormente, com a finalidade de<br />
ratificar:<br />
A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os<br />
especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um mesmo<br />
projeto de pesquisa como é o caso do Projeto Pedagógico da Escola (PPP),<br />
considerado como fio condutor de nossas ações educativas e compromisso<br />
profissional (JAPIASSÚ, 1976, p. 26).<br />
Por tal, a interdisciplinaridade assume uma importância na educação e na prática escolar,<br />
mesmo sendo considerada um desafio, ou como disse Fazenda (1988), em Nogueira (1998,<br />
p.31), “desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho”, atrelado a dúvidas e<br />
interrogações sobre o que fazer e como fazer.<br />
70
Consequentemente o trabalho pautado numa proposta interdisciplinar não poderia ser<br />
considerado adequado ou inadequado, apenas mais um desafio como a quebra de paradigmas<br />
que ao longo da história da educação foi presença marcante. Os problemas e as dificuldades<br />
que se delineiam no desenvolvimento de uma prática escolar interdisciplinar seriam os<br />
motivos de impulsioná-la, e não a execução de um trabalho árduo de ministrar os conteúdos<br />
fragmentados e descontextualizados. Pois como registrado por Nogueira (1998, p.31)<br />
“ministrando 100% de um determinado conteúdo não se garantirão os estímulos, as ações, as<br />
vivências, a interação social e todos os demais fatores essenciais à construção do<br />
conhecimento”.<br />
E, finalmente, embora a prática escolar interdisciplinar apresenta altos e baixos destacado pela<br />
comunidade escolar, há um entendimento que esta prática possui em seu bojo uma filosofia do<br />
coletivo, do conjunto, de trocas considerado salutar para o processo de ensino e<br />
aprendizagem, sendo necessário encarar uma mudança na educação, romper paradigmas e<br />
como a educação propõe, aos professores e professoras uma atitude de reflexão, que<br />
certamente será um dos caminhos para a Interdisciplinaridade, ou uma prática interdisciplinar<br />
no contexto escolar.<br />
4 REFERÊNCIAS<br />
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental-MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais<br />
de 5ª a 8ª séries: história, vol. 06. Brasília: MEC/SEF, 1998c. Disponível em:<br />
http://www.mec.gov.br. Acesso em 7/10/2011.<br />
_______. Secretaria de Educação Média e Tecnológica-MEC. Parâmetros Curriculares<br />
Nacionais de Ensino Médio: bases legais. Brasília: MEC/SEMT, 1999a. Disponível em:<br />
http://www.mec.gov.br. Acesso em 10/10/2011.<br />
_______. Secretaria de Educação Fundamental-MEC. Parâmetros urriculares Nacionais de<br />
1ª a 4ª séries: ciências naturais, vol. <strong>04</strong>. Brasília: MEC/SEF, 1997a. Disponível em:<br />
http://www.mec.gov.br. Acesso em 5/10/2011.<br />
________ . Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares para a Educação<br />
Básica – Resolução nº 4/2010. Brasília: MEC, 2010. Disponível em: http://www.mec.gov.br.<br />
Acesso em 5/10/2011.<br />
FAZENDA, Ivani Catarina A. A integração da interdisciplinaridade. 4. ed. São Paulo:<br />
Scipione, 1993.<br />
71
_______________.(Org.). Didática e interdisciplinaridade. 6. ed. São Paulo: Papirus, 1998.<br />
________________. Discutindo sobre a interdisciplinaridade. 5. ed. São Paulo: Scipione,<br />
2005.<br />
JAPIASSÚ, Heitor. Interdisciplinaridade: a patologia do saber. 2. ed. Rio de Janeiro:<br />
Imago, 1976.<br />
LENOIR, Yves. Didática e interdisciplinaridade: uma complementaridade necessária e<br />
incontornável. In: __________. Didática e interdisciplinaridade. 6. ed. São Paulo: Papirus,<br />
1998.<br />
NOGUEIRA, Nildo Ribeiro. Interdisciplinaridade aplicada. 2. ed. São Paulo: Érica, 1998.<br />
POMBO, Gabriel. Integração e interdisciplinaridade: Uma ação pedagógica. 3. ed. Rio de<br />
Janeiro: Forense, 2008.<br />
72
A QUESTÃO DA EVASÃO ESCOLAR: UMA REFLEXÃO SITUACIONAL NO 1º<br />
ANO DO ENSINO MÉDIO NOTURNO EM ESCOLAS DE ENSINO PÚBLICO<br />
RESUMO<br />
Adenilson Mendes dos Santos 25<br />
Edma Santos Pereira 26<br />
Roberto Márcio da Silveira 27<br />
Virgínia Rita dos Santos Silva 28<br />
O presente artigo tem como objetivo refletir a realidade no contexto social sobre a evasão<br />
escolar no 1° ano do Ensino Médio no turno noturno de escolas de ensino público. Neste<br />
estudo pretende-se trazer à tona a preocupação que deve ser de toda a sociedade: a<br />
identificação de formas de prevenção à evasão; meios de resgatar o jovem para o ambiente<br />
escolar. Para debater as causas de abandono escolar no 1º ano do ensino médio noturno,<br />
tomamos como fonte de pesquisa as escolas públicas estaduais: “Clóvis Borges Miguel”,<br />
“Belmiro Teixeira Pimenta”, “Dom João Batista da Motta e Albuquerque” e “Francisco<br />
Nascimento”, localizadas no município de Serra. Para obtenção dos dados teóricos, o estudo<br />
foi conduzido pela pesquisa bibliográfica, pesquisa-ação e de campo com os alunos das<br />
escolas envolvidas. Foram coletados dados de 58 (cinqüenta e oito) alunos que representam a<br />
série em estudo com perfil indicativo a evasão – freqüência irregular, retorno aos estudos após<br />
períodos de abandono escolar, distorção idade x série - com o propósito investigativo que<br />
apontam os prováveis motivos que levam à evasão escolar. Diante dos resultados apurados<br />
observou-se que o alto índice de evasão do ensino noturno deve-se a problemas familiares,<br />
culturais, sociais e financeiros. Reconhece-se que essa responsabilidade precisa ser ampliada<br />
para um coletivo - governo, alunos, professores, sociedade - onde cada um possa assumir seu<br />
papel na busca de políticas que possibilitem caminhos que reduzam a evasão escolar,<br />
principalmente, no 1º ano do ensino médio noturno onde a situação é alarmante. A má<br />
qualidade do ensino noturno é um agravante para a evasão. Como ministrar aulas agradáveis,<br />
dinâmicas que atendam às necessidades dos alunos após dois turnos de trabalho? Como estar<br />
atento às explicações de conteúdos, muitas vezes irrelevantes, após um dia árduo? Denota-se<br />
25 Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES. Licenciado em História<br />
pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Colatina. Especialista em Formação Sócioeconômica do Brasil<br />
pelo UNIVERSO. Mestre em História Social das Relações Políticas pela UFES. Coordenador da EEFM<br />
Francisco Nascimento. Professor da rede pública Estadual de Ensino.<br />
26 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES. Licenciada em Letras pela<br />
Faculdade Cesat . Especialista em Língua Portuguesa pela Cesat. Professora de Língua Portuguesa na EEEFM<br />
“Francisco Nascimento.<br />
27Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES. Licenciado em Geografia<br />
pela Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Colatina. Especialista em Geografia do Brasil pela FIJ.<br />
Professor da rede pública Estadual de Ensino.<br />
28 Graduanda Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>-ES. Graduada em Letras e Pedagogia pela<br />
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Colatina. Especialista em Planejamento Educacional pela<br />
Universidade Salgado Filho. Gestora da EEFM Francisco Nascimento. Aluna do Curso de Especialização à<br />
Distância em Gestão Escolar da UFES.<br />
73
que o terceiro turno possa ser prejudicado, ou seja, tanto o professor como o aluno. Para um<br />
diagnóstico que indique causa e solução com maior objetividade, faz-se necessário que a<br />
abordagem contemple tanto as perspectivas do “professor” quanto o lado “aluno”.<br />
PALAVRAS-CHAVE: Escola; Evasão; Gestão Escolar; Ensino Médio.<br />
ABSTRACT<br />
The present article has as objective reflects the reality in the social context on the school<br />
escape in the 1° year of the Teaching Medium nocturne of schools of public teaching. To lift<br />
the causes of that problem, a bibliographical research was accomplished and of field. In the<br />
field research data of 58 were collected (fifty eight) students that represent the series in study<br />
with the purpose investigative that the probable reasons that take to the school escape appear.<br />
Before the select results it was observed that the high index of escape of the night teaching is<br />
due to problems family, cultural, social and financial. It is recognized that that responsibility<br />
needs to be enlarged for a bus - I govern, students, teachers, society - where each one can<br />
assume your role mainly in the search of politics that you/they make possible roads that<br />
reduce the school escape, in the 1st year of the night medium teaching where the situation is<br />
alarming. The bad quality of the night teaching is an added difficulty for the escape. How to<br />
supply pleasant classes, dynamics that assist to the students' needs after two work shifts? How<br />
to be attentive to the explanations of contents, a lot of times insignificant, after an arduous<br />
day? By the way, that the third shift is prejudiced so much for the teacher as for the student.<br />
For a diagnosis that indicates cause and solution with larger objectivity, it is done necessary<br />
that the approach contemplates the side "teacher" so much as the side "School administration”<br />
“student".<br />
KEY WORDS: School; Escape; School administration; Medium Teaching.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
Esta temática surgiu da angústia vivenciada no cotidiano das escolas envolvidas nas quais se<br />
observou que o fenômeno da evasão é comum e preocupante. A evasão escolar não é um<br />
problema restrito apenas a algumas unidades escolares, mas uma questão nacional que vem<br />
ocupando relevante papel nas discussões e pesquisas educacionais no cenário brasileiro.<br />
Os estudos, de maneira geral, mostram o fracasso escolar a partir de duas abordagens<br />
diferentes: a primeira, que busca explicações a partir dos fatores externos à escola, através de<br />
autores como Cortez (2007) e Bueno (1993); e a segunda, a partir de fatores internos<br />
conforme abordagem de Campos (20<strong>04</strong>). Dentre os fatores externos relacionados à questão do<br />
fracasso escolar são apontados o trabalho, as desigualdades sociais e a família. E dentre os<br />
74
fatores internos são apontados a própria escola, a linguagem e o professor. Portanto, refletindo<br />
sobre essa realidade no contexto social, parte-se do pressuposto de situar a problemática da<br />
evasão escolar no 1° ano do Ensino Médio noturno de escolas de ensino público.<br />
Como método de pesquisa fez-se uso de dados teóricos e o estudo foi conduzido pela pesquisa<br />
bibliográfica e de campo. A bibliográfica caracteriza-se pelo uso de livros, periódicos,<br />
revistas, jornais, internet. Na pesquisa de campo foi utilizada para a obtenção dos dados<br />
necessários ao estudo, a observação simples e a entrevista por meio de questionários<br />
estruturados. As entrevistas realizadas tiveram o propósito de caracterizar os alunos e o intuito<br />
de investigar os motivos que levam esses alunos, em especial os das escolas estudadas, à<br />
evasão temporária ou definitiva, para possíveis interferências. A seleção da amostra foi<br />
composta por 58 (cinqüenta e oito) alunos por representarem à série em estudo.<br />
2 DESENVOLVIMENTO<br />
2.1 OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS SOBRE A EVASÃO ESCOLAR<br />
A evasão escolar está dentre os temas que historicamente fazem parte dos debates e reflexões<br />
no âmbito da educação pública brasileira e que infelizmente, ainda ocupa até os dias atuais,<br />
espaço de relevância no cenário das políticas públicas e da educação em particular.<br />
Segundo Vieira (2002) em face disto, as discussões acerca da evasão escolar, têm tomado<br />
como ponto central de debate o papel tanto da família quanto da escola em relação à vida<br />
escolar do aluno. De acordo com Paro (2001) a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)<br />
no que se refere à educação dispõe que é de responsabilidade da família e do Estado, em<br />
orientar o indivíduo em seu percurso educacional (art.2º), na busca de se evitar/diminuir a<br />
evasão.<br />
Entende-se por aluno evadido aquele que deixou os estudos por qualquer motivo;<br />
independente do motivo da saída que pode ter ocorrido por abandono, por transferência<br />
interna, por desistência ou jubilamento (BUENO, 1993). De acordo com a UNESCO (20<strong>04</strong>),<br />
citado por Gaioso (2005), repetência e evasão são fenômenos que, em muitos casos, estão<br />
interligados e ocasionam o abandono dos estudos.<br />
75
De acordo com as informações da Folha On Line (2008) no Brasil, a questão que envolve a<br />
evasão, aumenta a cada ano; acrescenta que o MEC revela que o crescimento de abandono na<br />
escola é maior no Ensino Médio. “A taxa de evasão, que em 1997 estava em 5,2%, aumentou<br />
para 8,3% em 2001” (FOLHA ON LINE, 2008, p.03).<br />
Mesmo com o crescimento da evasão observado pelo MEC, foi notado que muitos estudantes<br />
que abandonam a escola acabam retornando. Na rede pública, 19,5% dos alunos que estão<br />
matriculados hoje já haviam abandonado os estudos pelo menos uma vez; denota-se que no<br />
período noturno a proporção chega a 35% (FOLHA ON LINE, 2008).<br />
A repetência é um problema que existe há muito tempo, segundo informações de Castilho e<br />
Castro (2007) que em 20<strong>04</strong>, um universo de 9,1 milhões de alunos matriculados no ensino<br />
médio noturno em todo o Brasil, reprovou 30%, ou seja, 2,7 milhões. Ressalta os autores que<br />
há uma conseqüência ainda pior: a evasão; e acrescentam que:<br />
No fim de 2003, só 946 mil alunos concluíram o ensino médio noturno no Brasil.<br />
Apenas 385 mil, cerca de 40%, tinham entre 17 e 19 anos, na faixa etária ideal. A<br />
explicação: entre 1,2 milhão de estudantes que abandonaram o ensino médio em<br />
2003, nada menos que 835 mil (70%) eram do noturno (CASTILHO; CASTRO,<br />
2007, p. 05).<br />
Acrescenta o autor que é comum observar que os alunos permaneçam fora da escola,<br />
conversando sem preocupação com a aula, na busca de um motivo para não freqüentar a aula;<br />
diante dessa questão:<br />
Não podemos culpar professores ou alunos pela evasão, pois como já disse é um<br />
problema muito complexo. Mas um bom começo é a mudança de postura no ensino<br />
noturno do aluno, dando a devida prioridade que o ensino merece e do professor,<br />
mudando sua postura como educador que deseja muito mais do que somente alunos<br />
que passem de ano (CORTEZ, 2007, p. 03).<br />
No que tange o professor nessa questão, acrescenta-se que o mesmo também é um trabalhador<br />
durante o dia, como também pode ser àquele que pode estar atuando em outra profissão<br />
(CORTEZ, 2007). Diante de um aluno com possível perspectiva de evasão, é importante a<br />
necessidade do diagnóstico do professor, através do diálogo com esse aluno e com outros cuja<br />
freqüência nas aulas é elevada. Em situações nas quais se observa um aluno com faltas<br />
elevadas, é imprescindível comunicar ao(a) diretor(a) para medidas preventivas; uma outra<br />
forma é tornar as aulas mais atrativas e dinâmicas.<br />
76
2.2 A SUPERAÇÃO DO FRACASSO DO ALUNO NO ENSINO MÉDIO NOTURNO<br />
A educação de alunos do ensino médio, principalmente em horários noturnos, geralmente<br />
caracteriza-se por derivar de iniciativas do estado, visto que sua substância e centralidade<br />
estão no atendimento às camadas populares (CAMPOS, 20<strong>04</strong>). A necessidade de avanços na<br />
educação do ensino médio noturno deve estar voltada para os interesses populares tanto no<br />
sentido de ampliação da cobertura das populações ainda marginalizadas da escolarização,<br />
quanto no de qualificação do processo ensino aprendizagem. Motivo este decorrente, tanto do<br />
interesse da classe trabalhadora quanto da empregadora, ou seja: educação geral para todos.<br />
Tendo em vista que diante das modificações aceleradas no sistema produtivo, como o avanço<br />
tecnológico, os novos materiais e a informatização, acabam exigindo um novo tipo de<br />
"treinamento" dos trabalhadores; por isso, que eles necessitarão a cada dia, de mais<br />
flexibilidade no comportamento produtivo, para obter maior capacidade de aprender e se<br />
comunicar, conquistando espaço para a obtenção de uma visão autocrítica dos conhecimentos.<br />
Nas condições sociais em que se vive uma política nacional de educação só poderá obter<br />
algum sucesso se estiver vinculada a um projeto econômico que supere as causas sociais que<br />
produzem e mantém o analfabetismo e a baixa escolaridade. Uma política educacional dessa<br />
natureza, capaz de mobilizar recursos e energias de toda a sociedade, só poderá acontecer<br />
mediante um amplo processo de discussão e participação.<br />
O principal motivo da evasão escolar noturna está ligado ao fator trabalho. A maioria dos<br />
alunos dos cursos noturnos são trabalhadores durante o dia, ou seja, são alunos-trabalhadores.<br />
Estes chegam à escola noturna sem banho e sem jantar, saem de suas casas muito cedo;<br />
trabalham oito horas e fazem quatro horas de aula diariamente. Considerando o fato de termos<br />
nas escolas, alunos trabalhadores, como diz Arroyo(1986), “são trabalhadores que estudam”,<br />
esse não é o ponto de partida para entender porque se dá o fracasso na escola pública,<br />
principalmente noturna, mas, é o ponto de partida para que se encontre uma possível,<br />
adequada e necessária solução para este tipo de aluno.<br />
Um estudante trabalhador busca na escola “algo que lhe interesse”, ou seja, quer também<br />
formação e informação que auxiliem no dia-a-dia na luta pela sobrevivência. Se por acaso, a<br />
escola não lhe oferecer o que ele busca, com certeza será impelido a abandoná-la. É muito<br />
77
mais que instrução; o que esses alunos buscam nas escolas noturnas: buscam igualdade de<br />
oportunidades e formas de não exclusão.<br />
Na educação em horários noturnos existe uma diversidade de sujeitos, práticas de exclusão e<br />
inclusão das identidades em sala de aula. De acordo com Campos (20<strong>04</strong>, p. 18): “[...]<br />
apresentam as iniciativas de educação de jovens ao longo da história e fazem uma reflexão<br />
sobre as particularidades que marcam esse público”. O mesmo autor acima citado mostra que:<br />
“[...] mesmo considerando todas as iniciativas, o Estado tem deixado lacunas, sobretudo em<br />
relação ao financiamento dessa modalidade de ensino” (CAMPOS, 20<strong>04</strong>, p.165). Portanto, as<br />
questões levantadas sobre a educação em horários noturnos indicam a necessidade de o<br />
projeto pedagógico levar em conta as singularidades dos/as alunos/as, sobretudo, no que se<br />
refere à raça, gênero e geração e principalmente a inclusão (CAMPOS, 20<strong>04</strong>).<br />
2.3 NECESSIDADE DE UMA NOVA PROPOSTA PEDAGÓGICA<br />
A proposta da nova pedagogia é que somente um ensino de boa qualidade, no qual o professor<br />
interessado e bem formado maneje o conteúdo de ensino levando em conta as especificidades<br />
dos alunos, tanto no que se refere às características da faixa etária quanto às suas experiências<br />
culturais, poderá garantir a eficiência da escola. A escola deverá adequar-se aos seus alunos e<br />
não os alunos a ela, porém é necessário que o Estado se responsabilize por meio das<br />
Universidades em formar professores graduados em educação de alunos com necessidade de<br />
estudos em horários noturnos.<br />
Cada vez mais estão surgindo propostas centradas nos educandos, na sua condição de jovens e<br />
adultos trabalhadores, orientadas pela confiança na capacidade das pessoas que freqüentam as<br />
aulas. O que realmente provoca a aprendizagem nas pessoas é o fato de acreditarmos nela, em<br />
sua capacidade de percepção e aprendizagem. O compromisso da escola com os jovens é o de<br />
lhes proporcionar educação para que possam participar política e produtivamente no mundo<br />
das relações sociais concretas, utilizando-se do comportamento ético e do compromisso<br />
político, conquistando autonomia tanto intelectual quanto moral.<br />
As escolas, por meio dos seus projetos político-pedagógicos devem possibilitar aos estudantes<br />
de cursos de ensino médio noturno ao longo da vida escolar, condições de aprenderem<br />
permanentemente; refletirem criticamente; participarem do trabalho e da vida coletiva; terem<br />
78
esponsabilidade individual e social, construindo soluções originais com agilidade e rapidez a<br />
partir da utilização metodologicamente adequada dos conhecimentos adquiridos, científicos<br />
ou tecnológicos.<br />
Os segmentos da escola pública, em particular o ensino noturno, necessitam ser revistos:<br />
currículo, infra-estrutura, corpo docente, alunos, pois não são ações isoladas ou grupo de<br />
pessoas com boa vontade que conseguirão realizar todas as modificações que esta escola<br />
necessita. É preciso a reestruturação da legislação que rege o ensino médio, é urgente que as<br />
escolas conheçam melhor os profissionais que nelas atuam, oferecendo-lhes melhores<br />
possibilidades de trabalho. Os órgãos administrativos devem repensar as situações de trabalho<br />
e salário dos profissionais da educação, para que os mesmos possam enxergar seus alunos de<br />
forma diversificada e com isso auxiliá-los na construção significativa de conhecimentos,<br />
proporcionando, promoção, permanência e não evasão e repetência.<br />
Em síntese, a compreensão de que a história individual faz parte da história de um<br />
determinado grupo social, e as diferentes histórias de diferentes grupos sociais realizam a<br />
história de uma nação, de um povo. É fundamental que o aluno tenha consciência que ele é<br />
parte integrante da história da nação. Os alunos que integram horários noturnos têm uma idéia<br />
de que a educação básica é construída baseada na escola que freqüentaram no passado, um<br />
modelo bem tradicional, recitação em coro do alfabeto, pontos copiados do quadro de giz<br />
tendo como base uma disciplina rígida.<br />
Cabe ao educador reverter esse quadro, mostrando que uma verdadeira aprendizagem depende<br />
muito mais dos interesses dos alunos do que da própria atividade mecânica e memorizada. A<br />
imagem que os educandos têm da escola, tem muito a ver com a imagem que têm de si<br />
mesmos dentro dela. Experiências passadas de fracasso e exclusão normalmente produzem no<br />
aluno uma auto-imagem negativa. Nos mais velhos essa baixa auto-estima se traduz em<br />
timidez, insegurança, bloqueios. Nos mais jovens é comum que a baixa auto-estima se<br />
expresse pela indisciplina e auto-afirmação negativa, se não pode ser reconhecido pelas<br />
qualidades, será reconhecido pelos defeitos.<br />
Na reflexão pedagógica de Freire (20<strong>04</strong>) a elaboração de programas de educação de alunos<br />
com horários noturnos, deve ter uma especial relevância e consideração no que diz respeito à<br />
dimensão social, ética e política. O ideário da educação diferenciada destaca o valor educativo<br />
79
do diálogo e da participação, a consideração do educando como sujeito portador de saberes,<br />
que devem ser reconhecidos.<br />
2.4 GRÁFICOS DOS RESULTADOS<br />
Na pesquisa realizada com os 58 alunos do 1° ano do Ensino Médio noturno das escolas de<br />
ensino público envolvidas, com relação ao sexo, observa-se o seguinte::<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
78,6%<br />
O Gráfico 2 ilustra o estado civil do aluno.<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
F M<br />
35,7%<br />
Gráfico 1. Sexo<br />
21,4%<br />
64,3%<br />
Casado(a) Solteiro(a)<br />
Gráfico 2. Estado civil<br />
O Gráfico seguinte apresenta o resultado se o aluno possui filhos ou não, e quantos.<br />
80
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
57,1%<br />
O Gráfico 4 refere-se à idade do aluno.<br />
40%<br />
35%<br />
30%<br />
25%<br />
20%<br />
15%<br />
10%<br />
5%<br />
0,0%<br />
7,1%<br />
35,8%<br />
1 filho 2 filhos 4 filhos Não tem filhos<br />
Gráfico 3. Quantidade de filho(s)<br />
35,7%<br />
7,0% 7,0%<br />
14,5%<br />
35,8%<br />
0%<br />
14 - 16 anos 17 - 18 anos 19 - 20 anos 21 - 25 anos 25 - 35 anos<br />
Gráfico 4. Idade<br />
O Gráfico 5 ilustra o resultado sobre a situação dos pais dos alunos.<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
mãe<br />
falecida<br />
14,3% 14,3%<br />
7,0%<br />
21,5%<br />
42,9%<br />
outra pai falecido são vivos separados<br />
Gráfico 5. Situação da família<br />
O Gráfico 6 ilustra o resultado apurado quanto à situação financeira do aluno.<br />
81
Gráfico 6. Situação financeira do aluno<br />
O Gráfico 7 ilustra o resultado apurado quanto aos motivos da evasão do aluno.<br />
Gráfico 7. Motivo da evasão<br />
O Gráfico 8 refere-se ao motivo que levou o aluno a matricular-se em horário noturno.<br />
50%<br />
45%<br />
40%<br />
35%<br />
30%<br />
25%<br />
20%<br />
15%<br />
10%<br />
5%<br />
0%<br />
50%<br />
35,70%<br />
7%<br />
Trabalho Filho Mais tempo<br />
para estudar<br />
7%<br />
Falta de<br />
vaga no<br />
diurno<br />
Gráfico 8. Motivo do estudo em horário noturno<br />
O Gráfico seguinte refere-se ao motivo que levou o aluno a obter rendimento baixo.<br />
82
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
62,0%<br />
9,0% 9,0%<br />
Trabalho Saúde Problemas<br />
familiares<br />
20,0%<br />
Falta de<br />
interesse<br />
Gráfico 9. Motivos do rendimento baixo<br />
2.5 REFLEXÃO ACERCA DOS RESULTADOS OBSERVADOS NOS GRÁFICOS<br />
Conforme resultado apurado observa-se que, 78,6% dos alunos pesquisados são mulheres e<br />
21,4% são homens. A maioria, ou seja, 64,3% dos alunos pesquisados são solteiros e 35,7%<br />
são casados. Um fator que tem tirado muitas jovens da escola é a gravidez na adolescência;<br />
em geral são estudantes que estão cursando o ensino médio e até mesmo o fundamental,<br />
abandonam a escola para cuidar de seus filhos. Algumas têm vontade de continuar seus<br />
estudos, mas não têm com quem deixar seus filhos, pois não possuem condições financeiras<br />
para pagar uma babá e não contam com o apoio da família. Observou-se ainda que, 35,8% dos<br />
alunos pesquisados possuem idade entre 25 e 35 anos; 35,7% entre 14 e 16 anos; 14,5% deles<br />
possuem idade compreendida entre 21 e 25 anos; 7% deles entre 17 e 18 anos e 7% entre 19 e<br />
20 anos; 57,1% dos alunos pesquisados possuem um filho, 35,8% não possuem filhos e 7,1%<br />
possuem quatro filhos.<br />
Verifica-se que a defasagem idade x série acaba por provocar a falta de estímulo no aluno que<br />
por motivo de repetência ou por ter abandonado a escola por alguns anos, quando esse retorna<br />
a escola, se vê no meio de jovens e sente-se perdido, deslocado e acaba se convencendo que o<br />
seu tempo de estudante já passou. Verifica-se ao mesmo tempo em que, a evasão também está<br />
presente nos alunos que não apresentam esta defasagem. Observa-se que 42,9% dos alunos<br />
pesquisados registraram que os pais encontram-se separados; 21,5% estão vivos e casados;<br />
14,3% a mãe é falecida; 14,3% apresentam outra situação e 7% possuem o pai falecido.<br />
Percebeu-se por meio do questionário e da entrevista informal que a desestrutura familiar é<br />
um agravante para a evasão escolar. Os alunos pesquisados registraram que com a separação<br />
ou falecimento dos pais, se viram obrigados a mudarem de cidade, perderam o interesse pela<br />
escola ou passaram a sustentar a si próprios quando não se tornaram “arrimo de família,”<br />
83
tendo que desistir da escola, matriculando-se no ano seguinte ou anos depois recomeçando o<br />
ciclo vicioso.<br />
Dos alunos pesquisados 57,2% registram que não possuem trabalho formal, ou seja, declaram<br />
rotatividade nos empregos, contratos de estágios e ou atividades desenvolvidas de forma<br />
autônoma, assim como tarefas domésticas, 28,8% dos alunos pesquisados declaram estar no<br />
trabalho formal, 7% dos alunos não trabalha trabalham para o seu próprio sustento e 7% é<br />
sustentado pela família. Para 78,6% dos alunos pesquisados eles afastam-se da escola por falta<br />
de tempo para estudar, e para 21,4% por cansaço físico. Por estar no trabalho grande parte do<br />
dia, o aluno chega à escola cansado, sem nenhuma motivação para concentrar-se nos estudos,<br />
e ao chegar a casa o tempo fica ainda mais curto, principalmente por ter que acordar cedo para<br />
mais um dia de trabalho.<br />
Percebe-se que 50% dos alunos fizeram a opção por horário noturno devido ao trabalho;<br />
35,7% por causa dos filhos. 7% deles para ter mais tempo para se dedicar ao estudo e 7%<br />
deles alegaram que foi por falta de vaga no horário diurno. Como a maioria dos estudantes<br />
pertence ao sexo feminino, isso leva a correlacionar que a aluna que é mãe, passa parte de seu<br />
tempo cuidando do filho(a). E àqueles que trabalham não tem outro horário para os estudos.<br />
Para 62% dos alunos alegaram que o motivo do rendimento baixo é o trabalho; 20% deles por<br />
falta de interesse; 9% por motivo de saúde e 9% alegaram que é por causa de problemas<br />
familiares. Os dados mostram que a maioria aponta o fator trabalho como o maior motivo do<br />
rendimento baixo; por alegar que acaba não podendo dedicar pelo menos uma parte do tempo<br />
aos estudos.<br />
O problema da evasão escolar no período noturno é algo complexo, e está relacionado a<br />
questões sociais, culturais, econômicas que impedem a permanência do aluno na escola.<br />
Acredita-se que para combater a evasão escolar é preciso atentar-se para alguns fatores: ações<br />
imediatas na busca de resgatar o aluno “evadido”, reestruturação interna da escola com a<br />
implantação de projetos pedagógicos, elaboração de um currículo que atenda as expectativas<br />
dos alunos, com inovação de práticas, dentro de uma didática renovada e motivadora que<br />
possa elevar a auto-estima dos estudantes dando sentido significativo aos seus valores sóciocultural<br />
e histórico no quais os indivíduos estão inseridos.<br />
84
A metodologia empregada deve perpassar não somente a seleção de conteúdos, mas deve ser<br />
precedida pela justificativa da escolha desses conteúdos. Deve permitir o preparo para a sua<br />
utilização em sala de aula. Deve ser ainda considerada a avaliação contínua dos<br />
procedimentos utilizados, tais como: técnicas, recursos, interações, atividades em classe, extra<br />
classe, pois estas, por sua vez, prolongam a aula do professor. Outro fator importante a ser<br />
levado em consideração é o registro do que ocorre para que estes momentos pedagógicos não<br />
sejam apenas fatos isolados, mas elos de uma corrente que possibilitarão a construção<br />
contínua do conhecimento.<br />
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A evasão no ensino médio noturno é um problema crônico, sendo muitas vezes passivamente<br />
assimilada e tolerada por escolas e sistemas de ensino, que chegam ao cúmulo de admitirem a<br />
matricula de um número mais elevado de alunos por turma do que o adequado já contando<br />
com a desistência de muitos ao longo do ano letivo. Grande parte dos alunos do período<br />
noturno fica com o seu rendimento/estudo comprometido, pois assistem às aulas após uma<br />
longa jornada de trabalho, por isso não conseguem chegar pontualmente ao início da aula e<br />
não ficam até o fim da mesma. Existe uma correlação entre a evasão e as múltiplas<br />
repetências do aluno, principalmente no ensino médio noturno. Outra questão relevante<br />
refere-se à defasagem entre série e idade, o que acaba por fazer com que o aluno se sinta<br />
inadaptado à escola.<br />
Outro fator causador da evasão é a pobreza, eis que na busca por melhorias nas condições de<br />
vida, muitos jovens ingressam precocemente no mercado de trabalho, afastando-se da escola;<br />
muitos alunos que tentam conciliar o horário escolar com as atividades profissionais acabam<br />
por se sobrecarregar com grandes responsabilidades. A maioria dos alunos do ensino médio<br />
noturno, que se encontra nessa situação, trabalha em período integral e reserva o horário<br />
noturno para os estudos.<br />
Acredita-se que, para que ocorra efetiva melhora nas condições do processo educativo do<br />
aluno noturno, é necessário o apoio da sociedade e da escola, esta oferecendo assistência de<br />
psicólogos, assistentes sociais, novas metodologias, a fim de atuar com a dificuldade de<br />
aprendizado, e aquela, por sua vez, assumindo responsabilidades sociais que tragam melhorias<br />
na qualidade de vida do aluno como cidadão.<br />
85
É necessário lembrar que o ensino noturno, com seus alunos e professores, estão inseridos<br />
num contexto em que os comprometimentos pelos possíveis fracassos fogem da<br />
responsabilidade única e exclusiva do professor. É preciso que as necessidades e as<br />
expectativas dos estudantes dos cursos noturnos sejam atendidas. Este é o desafio do<br />
profissional da educação que atua hoje nestes cursos. Acredita-se, também, que a<br />
mobilização da comunidade fortalece o vínculo escola-família, que é um caminho de<br />
possibilidades no combate ao abandono escolar.<br />
Esse também é o desafio das autoridades responsáveis pelo ensino no país; pois é de<br />
responsabilidade das autoridades competentes estabelecerem políticas públicas para uma<br />
conseqüente melhoria nas condições de trabalho dos professores. A falta de valorização<br />
profissional acarreta uma sobrecarga aos professores que, para manter o mínimo de seu<br />
sustento, dependem de uma jornada de trabalho em grande escala. O ensino noturno nos<br />
apresenta um paradoxo crônico e histórico. Se de um lado ele atende uma clientela marcada<br />
pela longa jornada de trabalho ao longo do dia, por outro ele é possuidor de um grupo de<br />
estudantes sedentos por conhecimento e tomado por certo pragmatismo do mercado de<br />
trabalho.<br />
A escola pública para muitos alunos não tem sentido, devido à qualidade inferior do ensino,<br />
sentem-se excluídos da sociedade sem perspectivas de vida futura. Enquanto o ensino público<br />
se mantiver atrasado sem nenhuma condição inovadora para competir com o mundo social,<br />
será difícil reverter este quadro de evasão escolar. Não podemos responsabilizar professores<br />
ou alunos pela evasão, pois, como já dissemos, trata-se de um problema muito complexo.<br />
Ao poder público, por meio de seus órgãos competentes, cabe a implantação de políticas que<br />
alterem o quadro da pobreza, o que obriga muitos estudantes a ingressarem no mercado de<br />
trabalho precocemente, abandonando seus estudos. Necessário se faz, também, a mudança de<br />
postura no ensino noturno do aluno, dando a devida prioridade que o ensino merece. Em<br />
relação ao professor, é importante que este adote uma mudança de postura como educador,<br />
desejoso de preparar cada cidadão socialmente, dentro de todos os aspectos morais e<br />
intelectuais, não se preocupando somente com que os alunos alcancem aprovação.<br />
86
Para que se realize um processo ensino-aprendizagem eficaz, é necessário que este esteja<br />
atrelado ao desenvolvimento de uma prática pedagógica inclusiva, imbuída de aulas atrativas,<br />
inclusivas e bem articuladas, além de práticas que incentivem os alunos a freqüentarem o<br />
ambiente escolar. Tratando-se em especial do aluno noturno, vale salientar que este precisa de<br />
condições para que construa seu conhecimento com aplicabilidade para sua vida, o que traz<br />
mais incentivo ao aluno, para que siga a seqüência de sua vida acadêmico-profissional.<br />
O problema da evasão escolar deve ser enfrentado de duas formas diferentes: a primeira é<br />
buscando os alunos evadidos, a fim de que este ingresse novamente na vida escolar; a segunda<br />
é reestruturando a gestão interna da escola para que se torne mais atrativa e menos maçante ao<br />
aluno. Devemos enfrentar a evasão escolar e não nos omitir perante um problema de difícil<br />
solução. Estamos distantes de resolver esta questão, entretanto já temos um bom caminho<br />
trilhado, ou seja, estamos admitindo a existência do problema e discutindo soluções para o<br />
mesmo. Temos que desenvolver na escola um ambiente em que os alunos se sintam bem, para<br />
que se tornem amantes dela.<br />
4 REFERÊNCIAS<br />
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e repetência. 2007. Disponível em<br />
. Acesso em<br />
15 de março, 2010.<br />
88
LECIONAR: DIFICULDADES ENCONTRADAS PELOS DOCENTES<br />
HOMOSSEXUAIS<br />
89<br />
Edinéia Cristina Bortolim Altoé Oliveira 29<br />
Marina Rodrigues Suhett de Rezende 30<br />
Marlúsia Bortolini D' Ávila 31<br />
Omar Carrasco Delgado 32<br />
RESUMO<br />
Este trabalho discute a relação lecionar x professores homossexuais x comunidades escolar. O<br />
conflito é uma parte natural de nossas vidas. A maioria das teorias interacionistas em<br />
filosofia, psicologia e educação estão alicerçadas no pressuposto de que nos constituímos e<br />
somos constituídos a partir da relação direta ou mediados com o outro. Nessa relação nos<br />
deparamos com as diferenças e semelhanças que nos obrigam a comparar, descobrir,<br />
ressignificar, compreender, agir, buscar alternativas e refletir sobre nós mesmos e sobre os<br />
demais. O conflito torna-se, portanto, a matéria prima para nossa constituição psíquica,<br />
cognitiva, afetiva, ideológica e social. Resolver satisfatoriamente os conflitos exige a<br />
contemplação de outros pontos de vista diferentes e, muitas vezes, opostos aos nossos. Nesse<br />
sentido uma formação que visa à construção de valores de democracia e cidadania não pode<br />
ignorar os conflitos pessoais e sociais vividos por seus atores, mas deve, sim, conceder um<br />
lugar relevante às relações interpessoais.<br />
PALAVRAS-CHAVE: Homossexuais. Comunidade Escolar. Discriminação.<br />
ABSTRACT<br />
This lecture discusses the relationship x x gay community school teachers. Conflict<br />
is a natural part of our lives. Most interactionist theories in philosophy, psychology and<br />
education are grounded in the assumption that constitute and are constituted from the direct or<br />
mediated relationship with the other. In this respect we face the differences<br />
and similarities that require us to compare, discover new meaning, understanding and<br />
acting, look for alternatives and reflect on ourselves and on others. The conflict becomes,<br />
therefore, the raw material for our psychic constitution, cognitive, emotional, ideological and<br />
social. Satisfactorily resolve the conflict requires the contemplation of other points of view<br />
and often opposite to ours. In this regard a training that aims to build values of democracy and<br />
citizenship can not ignore the personal and social conflicts experienced by the actors, but<br />
rather should give an important place to interpersonal relations.<br />
KEYWORD: Gays. Community School. Discrimination.<br />
29 Graduanda do curso de Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES.<br />
30 Graduanda do curso de Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra –ES.<br />
31 Graduanda do curso de Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra - <strong>Serravix</strong>; Serra-ES.<br />
32 Orientador do curso de Pedagogia da Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES.
1 INTRODUÇÃO<br />
Nos anos 60, teve início um processo de aprofundamento das mudanças sociais com<br />
relação ao comportamento e à sexualidade. Ainda hoje se vive um momento de<br />
transição, de transformação dos paradigmas de comportamento sexual e afetivo da nossa<br />
sociedade.<br />
Como em todo momento de mudanças, a realidade de hoje guarda várias contradições.<br />
Ao mesmo em que se vê e convive-se cada dia mais com uma diversidade sexual cada<br />
vez mais rica e menos rotulada, se mantêm e até se reforçam atitudes preconceituosas,<br />
discriminatórias e violentas de pessoas, grupos e instituições conservadoras.<br />
Esse embate entre o novo e o conservador, entre a conquista dos direitos e a repressão<br />
dos preconceitos se dá em todo o corpo social, em diferentes lugares e momentos. Na<br />
família, no círculo de amigos, na comunidade, no trabalho e, é claro, na escola.<br />
Quando se fala de uma escola inclusiva, que acolha a todos, quem está incluído nesse<br />
“todos”? Estão incluídos aí certamente os homossexuais, ou não? Mas quando se fala<br />
em inclusão, o que exatamente isso significa? Incluir um aluno cadeirante, incluir<br />
alunos com necessidades educativas especiais e porque então, quando o assunto se trata<br />
de incluir e/ou aceitar um docente homossexual, muitos dizem simplesmente que a<br />
escola tem as suas normas. Nesse sentido, Mantoan (2003, p. 46) afirma que: “Uma das<br />
maiores barreiras à inclusão é nossa preguiça, nossa falta de compromisso e<br />
coerência, ou nossa falta de desafios”.<br />
A educação deve ser trabalhada como meio de reconhecimento e afirmação dos direitos<br />
humanos e da diversidade existente entre as pessoas. É a partir da educação que é<br />
possível incluir essa imensa parcela da população brasileira no desenvolvimento,<br />
garantindo-lhe o pleno exercício da cidadania.<br />
Em primeiro lugar é preciso ter claro que a escola inclusiva não é um presente, uma boa<br />
ação, mas a conquista gradativa de um direito. Portanto, não há dúvidas de que<br />
homossexuais têm sim direito a trabalhar numa escola, seja ela pública ou particular,<br />
90
que os acolha e respeite. Agora, isso não significa que para ter acesso ao trabalho,<br />
devam abrir mão de suas identidades.<br />
Em grande parte das vezes, a “aceitação” dos docentes homossexuais é condicionada<br />
desde que não pareçam, ou seja, uma vez que não incomodem os olhos dos outros.<br />
Obrigá-los a modificar o seu jeito íntimo de ser, de falar, de se fazer bonito para poder<br />
trabalhar, é condicionar um direito que é incondicional. É desrespeito. É discriminação.<br />
É homofobia. É crime.<br />
Conforme lição de Borrillo sobre a homofobia (apud SOUZA et al., 2003, p. 3): “é uma<br />
manifestação arbitrária que consiste em designar o outro como contrário, inferior ou<br />
anormal. Sua diferença irredutível o coloca em outro lugar fora do universo comum<br />
dos humanos”.<br />
É preciso reforçar que a afirmação da igualdade de todos os seres humanos não quer<br />
dizer igualdade física, cultural, intelectual ou psicológica. Cada pessoa tem sua<br />
individualidade, personalidade e modo próprio de ver e sentir as coisas. Tais situações<br />
demonstram que ainda há muito a ser feito para promover o respeito à diversidade para<br />
a conquista de uma sociedade mais justa e solidária.<br />
Os objetivos deste artigo foram refletir sobre as vivencias educacionais com o tema, a<br />
relação dos educandos homossexuais com os alunos, questões que surgem no decorrer<br />
desse processo educacional: expectativas, motivações, receios, preocupações, alegrias e<br />
surpresas e a dificuldade de se relacionar com a comunidade escolar.<br />
Buscando atingir os objetivos propostos, utilizou-se como forma de pesquisa a<br />
bibliográfica, que de acordo com Gil (2001), investiga o problema a partir do referencial<br />
teórico existentes em livros e outras publicações, sendo necessária a qualquer<br />
modalidade de trabalho técnico e é também a primeira etapa de qualquer tipo de<br />
pesquisa. Sendo assim este estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica com a<br />
finalidade de estudar materiais já elaborado, analisado e publicado de diversas formas,<br />
investigando o problema do referencial teórico.<br />
91
2 DESENVOLVIEMNTO<br />
2.1 BREVES NOTAS HISTÓRICAS E POSSÍVEIS CAUSAS DA<br />
HOMOSSEXUALIDADE<br />
É irrefutável que nos povos primitivos, selvagens e nas civilizações mais antigas, como<br />
a romana, egípcia e assíria a homossexualidade sempre esteve presente, tanto que<br />
chegou a relacionar-se com a religião e a carreira militar. Conforme Rios (2001, p. 31)<br />
“a homossexualidade existe desde que o mundo é mundo”.<br />
A prática de atos homossexuais está inserida no contexto da história da própria<br />
humanidade, tendo em vista sua aceitação, embora com algumas restrições, na<br />
Antiguidade Clássica. Sua maior feição foi entre os gregos, que lhe atribuíam<br />
predicados como a intelectualidade, a estética corporal e a ética comportamental, sendo<br />
considerada mais nobre que a relação heterossexual e a prática recomendável por sua<br />
utilidade.<br />
“A Idade Média registra o florescimento da homossexualidade em mosteiros e<br />
acampamentos militares, sabendo-se que na Renascença, artistas como Miguel Ângelo<br />
e Francis Bacon cultivavam a homossexualidade” (BRITO 2000, p. 47).<br />
Conforme a doutrina cristã, a homossexualidade representa um pecado, é vista como um<br />
desvio dos padrões éticos de conduta, além de ser considerada um comportamento<br />
ultrajante nas sociedades pautadas na moral e nos bons costumes, merecedora apenas de<br />
repúdio e sarcasmo social.<br />
Aponta Spencer (1999, p. 11):<br />
Do ponto de vista psicológico e médico, a homossexualidade configura a<br />
atração erótica por indivíduos do mesmo sexo, uma perversão sexual que<br />
atinge os dois eixos, sendo considerado homossexual quem pratica atos<br />
libidinosos com indivíduos do mesmo sexo ou exibe fantasias eróticas a<br />
respeito.<br />
A homossexualidade é encarada na área da Psicologia como um distúrbio de identidade<br />
e não como uma doença. Também não é hereditária nem é uma opção consciente ou<br />
92
deliberada. Trata-se assim de um fato que não poderia ensejar qualquer reprovabilidade<br />
social ou jurídica, porque é algo involuntário.<br />
No campo científico a homossexualidade também mudou o conceito. No ano de 1985,<br />
deixou de constar no artigo 302 do Código Internacional das Doenças (CID), como uma<br />
doença mental e passou ao capítulo Dos Sintomas Decorrentes de Circunstâncias<br />
Psicossocias.<br />
Não há consenso acerca das razões que determinam a orientação sexual dos<br />
indivíduos. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostra a existência<br />
de causas genéticas no desenvolvimento do homossexualismo. Desta forma,<br />
não se pode taxar o homossexualismo como um desvio de conduta ou uma<br />
escolha pessoal (DIAS, 2001, p. 43).<br />
Não sendo uma opção livre, mas fruto de um determinismo psicológico, não pode ser<br />
objeto de reprovação ou marginalização social. Deve-se destacar que o<br />
homossexualismo não viola qualquer norma jurídica, nem é capaz, por si só, de afetar a<br />
vida de terceiros.<br />
2.2 AS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA<br />
A interpretação constitucional não é um exercício abstrato de busca de verdades<br />
universais. Nessa linha cabe declinar o que preceitua Farias (1996, p. 56):<br />
A homossexualidade é um fato da vida; as relações homoafetivas são fatos<br />
lícitos e relativos à esfera privada de cada um; o intérprete constitucional<br />
deve ser movido por argumentos de razão pública e não por concepções<br />
particulares, sejam religiosas, políticas ou morais; o papel do Estado e do<br />
Direito é o de acolher e não o de rejeitar aqueles que são vítimas de<br />
preconceitos e intolerância.<br />
A Constituição Federal pátria vigente afirma a existência de um Estado Democrático de<br />
Direito, preservando assim os próprios princípios de liberdade e da igualdade.<br />
Superados os preconceitos que afetam as uniões homoafetivas, aplicam-se os princípios<br />
constitucionais da dignidade da pessoa humana, da igualdade, além da analogia e dos<br />
princípios gerais do direito.<br />
Como prevê o Ordenamento Jurídico Brasileiro, em seu artigo 1°, inciso III da<br />
Constituição Federal/88, a dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental,<br />
93
sendo assim, inerente a toda pessoa humana, sem distinção de origem, raça, sexo, cor e<br />
credo (BRASIL, 1988).<br />
Este princípio está interligado a duas garantias fundamentais, também previstas pela<br />
Constituição (art. 5°, caput), o da liberdade e igualdade. Assim, conforme Rosenvald<br />
(2005, p. 3), “o ser humano é digno de respeito pela eminência de ser livre”. Do<br />
mesmo modo, dispôs a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 1°:<br />
“Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão<br />
e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”<br />
(ONU, 1948).<br />
Posto que, todo ser humano nasce livre e sendo a dignidade pressuposto fundamental da<br />
liberdade e igualdade, constata-se que não existe pessoa sem dignidade, haja vista esta<br />
ser é um atributo natural que advém da essência de cada ser humano.<br />
Assim, Hironaka (apud ROSENVALD, 2005, p. 10) remete ao belo pensamento do<br />
francês Bernard Edelman, sobre a dignidade como essência da humanidade:<br />
Se a liberdade é a essência dos direitos do homem, a dignidade é a essência<br />
da humanidade. Ela se apresenta como a reunião simbólica de todos os<br />
homens que eles têm de comum, isto é, sua qualidade de ser humano.<br />
Dessa forma, torna-se imperioso ressaltar que nenhuma pessoa pode renunciar à<br />
dignidade, posto que a condição de sua existência é a vida. A própria palavra dignidade<br />
em seu significado gramatical quer dizer respeito, sendo que a palavra vida traduz<br />
existência humana, origem, fundamento, estando-se, entretanto, diante de um princípio<br />
que presa o respeito à existência humana. É certo que para a dignidade ser exercida de<br />
forma eficaz, caberá ao Estado propiciar condições necessárias para que uma<br />
coletividade se desenvolva.<br />
Todo ser humano deve ter a sua dignidade protegida pela tutela do Estado,<br />
tendo em vista que esta é o pressuposto de sua existência. Portanto, cabe<br />
também ao Estado proporcionar a todos os seres humanos chances iguais,<br />
para que todos na formação de uma sociedade possam atingir seus fins<br />
culturais, econômicos e sociais (PEREIRA, 2000, p. 93).<br />
94
É a dignidade que faz do homem um ser acima das coisas, dotado de consciência<br />
racional e moral. Sendo assim, o Estado não pode ser colocado no mesmo plano que o<br />
indivíduo, nem limitá-lo aos mesmos direitos e obrigações, como prescreve Bastos<br />
(1999, p. 276): “o dever resulta da necessidade de dar-se significação prática ao<br />
exercício de um outro direito”. Nesse sentido, o Estado existe em função das pessoas e<br />
não as pessoas em função do Estado.<br />
Assim, Pereira (2000, p. 97) retrata o valor do homem quanto à dignidade como pessoa<br />
ao expressar: “quando uma coisa tem um preço, podemos substituí-la por qualquer<br />
outra como equivalente; mas o homem, superior à coisa, está acima de todo preço,<br />
portanto não permite equivalente, pois ele tem dignidade”.<br />
Nesse sentido, não existe nada que possa superar o valor do homem como ser humano,<br />
nem ser sacrificado em nome de uma coletividade ou ser colocado em posição de<br />
desigualdade diante dos demais ou desvalorizado como pessoa e elevado à condição de<br />
coisa, sendo que todo ser humano é único.<br />
Sendo a dignidade humana princípio fundamental, disciplinada pela Carta Magna, é<br />
correto afirmar que a mesma é norma jurídica de eficácia plena, servindo assim, como<br />
lei geral para os direitos fundamentais. E, se assim não o fizer, viola-se norma<br />
constitucional que elegeu a dignidade da pessoa humana como princípio fundamental<br />
para preservação dos indivíduos como ser único dotado de direitos e obrigações.<br />
2.3 EDUCADORES HOMOSSEXUAIS E A QUESTÃO DA HOMOFOBIA<br />
A discriminação contra os homossexuais geralmente se inicia no lar, reduto<br />
culturalmente ligado ao acolhimento e à ideia de refúgio dos problemas do dia a dia.<br />
Paralelamente a essa vivência no lar, a escola muitas vezes reflete e reproduz<br />
preconceitos. A diferenciação entre coisas de meninos e coisas de meninas passa da<br />
esfera do privado à do público, e qualquer transgressão a essa ordem provoca uma<br />
reação coletiva, em geral negativa.<br />
95
De acordo com Costa (1994, p. 4-5):<br />
A sexualidade é o aspecto mais conflituoso, controverso e desconhecido do<br />
ser humano. A nossa cultura lida mal com esse importante aspecto da vida e,<br />
para agravar, cria modelos estanques nos quais pretendem encaixar e<br />
classificar as pessoas. Esses moldes, muitos dos quais baseados apenas no<br />
preconceito e na falta de informação, não nos permitem que sejamos<br />
exatamente aquilo que somos ou que poderíamos ser.<br />
Desta forma surge um questionamento: um/a educador/a homossexual pode criar<br />
problemas para a escola? Provavelmente sim, não pela sua sexualidade, mas pelas<br />
reações preconceituosas que podem surgir a partir da orientação sexual declarada ou<br />
prejulgada desse/a educador/a. Porém, o mais importante é lembrar que não é o<br />
professor gay ou professora lésbica a causa das situações de conflito. O preconceito de<br />
alguns responsáveis, alunos/as ou colegas é, de fato, a verdadeira fonte dos problemas.<br />
Suplicy (1986, p. 266) sai em defesa dos homossexuais ao expressar: “a orientação<br />
sexual é a expressão sexual de cada indivíduo por um membro de outro sexo, do mesmo<br />
sexo, ou por ambos os sexos. Não se sabe se a orientação sexual é determinada pelo<br />
social, por fatores biológicos ou ambos”.<br />
Muitas pessoas vão dizer que não existe nenhum problema em ter na escola um<br />
educador/a homossexual, desde que ele/a se comporte. Mas o que significa esse<br />
comportamento? Comportar significa ser, mas não parecer homossexual. Significa que<br />
esse profissional, para ser aceito/ e respeitado/a, tem que abrir mão de ser, agir e falar<br />
do seu jeito para se adaptar a uma determinada norma de comportamento de gênero.<br />
Significa que ele ou ela tem que vestir uma máscara, interpretar um papel dentro da<br />
escola que não levante nenhum indício de sua identidade sexual.<br />
Porém, deve-se deixar claro que profissionalismo não significa falar groso ou fino,<br />
vestir essa ou aquela cor. Profissionalismo tem a ver com ética, compromisso com o<br />
trabalho, dedicação, capacidade, respeito. Educadores têm que ser julgados como<br />
educadores, não como gays, lésbicas, heterossexuais, ou o que seja. E dizer que a<br />
identidade sexual do profissional não importa, não significa dizer que ele/a tem de<br />
apagá-la, escondê-la ou negá-la como se fosse algo errado. O que importa é dizer que<br />
todas as identidades sexuais serão respeitadas, sejam quais forem.<br />
96
Criou-se o preconceito contra os homossexuais a partir do século XVIII, com a cultura<br />
da sexualidade. A estigmatização dos homossexuais seria, assim, resultado do processo<br />
de classificação das sexualidades, o que tornou o sexo um meio poderoso de categorizar<br />
as pessoas (BADINTER, 1993).<br />
Sendo assim, o preconceito contra gays cumpre o papel psicológico essencial de deixar<br />
claro quem é heterossexual e quem é homossexual. O preconceito contra homossexuais<br />
é chamado de homofobia. Para Mott (1997, p. 9):<br />
A homofobia define-se como uma ideologia anti-homossexual, aversão à<br />
homossexualidade, ódio dirigido a homossexuais. [...] de todas as minorias<br />
sociais, os homossexuais são as maiores vítimas do preconceito, mais<br />
rejeitados do que os negros, judeus e mulheres.<br />
Segundo o autor, os crimes praticados contra homossexuais são, na maioria das vezes,<br />
classificados como crimes de ódio e devem ser referidos como crimes homofóbicos, por<br />
terem como principal motivação o fato de o agressor não aceitar orientação sexual da<br />
vítima.<br />
Os crimes homofóbicos e todas as demais expressões de preconceito e discriminação,<br />
motivadas pela homossexualidade alheia, constituem manifestações de violência e<br />
desrespeito aos direitos humanos e à igualdade de cidadania, sem falar que podem<br />
representar o primeiro passo de ações homofóbicas mais agressivas que poderão<br />
redundar no extermínio do indivíduo homossexual.<br />
Mais importante que descobrir as causas da violência contra homossexuais, travestis e<br />
transgêneros é ter em mente que qualquer sociedade que pretenda ostentar o título de<br />
democrática, plural e justa, deve combater qualquer forma de violência fundada na<br />
irracionalidade de querer uniformizar e impor uma única maneira de amar, de<br />
manifestar o amor e os desejos eróticos. É inadmissível que o Estado laico compactue<br />
em escolas e outros órgãos com a institucionalização, ainda que sutil, de violências<br />
infundadas contra minorias, sejam elas raciais, étnicas, religiosas ou sexuais.<br />
97
O processo de desconstrução da homofobia só será possível quando houver rupturas<br />
com o naturalizado, mediante a tolerância e a aceitação das diferenças encontradas nos<br />
indivíduos e a luta do movimento homossexual em busca de cidadania e respeito.<br />
2.4 A QUESTÃO DO GÊNERO<br />
Mesmo antes de nascerem os pais criam expectativas relacionadas ao sexo da criança<br />
que serão vestidas com a cor “ideal”, brincarão com os jogos e brinquedos<br />
“apropriados” e deverão se comportar segundo os padrões estabelecidos pela sociedade.<br />
É desta forma que nossas crianças aprendem e reproduz como devem desempenhar os<br />
papéis que lhes são atribuídos, demonstrando assim, o quanto já absorveram das<br />
expectativas dos adultos.<br />
Bozon (20<strong>04</strong>, p. 59) afirma que:<br />
A diferenciação psicossexual tem lugar independentemente dos aspectos<br />
genéticos, hormonais, genitais e morfológicos. A identidade sexual é tudo<br />
aquilo que distingue os sexos, ou seja, atitudes, ocupações, vestimentas,<br />
adornos, gestos, expressões emocionais, erotismo e comportamento sexual.<br />
Isto significa dizer que essas características de comportamento são<br />
determinadas pela própria cultura em cada sociedade ou grupo social.<br />
Deste modo, vários estereótipos são transmitidos pela educação das crianças. Uma<br />
primeira providência formada é a separação dos universos masculino e feminino, ou<br />
seja, mesmo as crianças estudando ou brincando juntas, quase sempre são lembradas<br />
das suas diferenças. Nesse sentido, Rosa (2003, p. 19) alerta que “ser homem, ser<br />
mulher, ou, simplesmente ser diferente não significa ser melhor ou pior do que ninguém<br />
e sim ter capacidade e características próprias que nos fazem seres únicos e especiais”.<br />
Considerando que o gênero é uma categoria social que influencia a maneira de as<br />
pessoas se relacionarem com o mundo e com os outros, acredita-se que uma das piores<br />
formas de manifestação de preconceitos e discriminação contra os homossexuais é a<br />
violência de gênero, presente em nossa cultura e naturalizada em suas múltiplas formas<br />
de manifestação. Pode-se estar ao seu lado sem vê-los, pode-se negar sua existência,<br />
aceitá-los ou lutar contra eles.<br />
98
Daí a importância de projetos de intervenção social e educativa que deem visibilidade a<br />
tal realidade e promovam a tomada de consciência das implicações éticas e sociais que<br />
esse tipo de violência traz para o convívio democrático. Assim, nos vemos com o<br />
desafio da erradicação da discriminação sexista, e na busca de garantir espaços<br />
privilegiados para superá-lo.<br />
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Não há como negar que a sexualidade seja contraditória, complexa e socialmente<br />
construída, da mesma forma, não se pode também negar que todas as elaborações<br />
humanas possam ser refeitas. Portanto, pensar na discussão das sexualidades, sobretudo<br />
no contexto escolar, sob uma perspectiva reflexiva e inovadora da maneira como os<br />
corpos sexuados são estruturados e definidos culturalmente é um caminho polêmico,<br />
difícil, mas, não impossível.<br />
Educação é uma questão de direitos humanos e as escolas precisam modificar seu<br />
funcionamento para incluir todos, e as características de uma escola de qualidade,<br />
decorrem do paradigma da inclusão, onde se enfatiza o processo de adequação da escola<br />
às necessidades dos alunos para que possam estudar aprender, crescer e exercer<br />
plenamente a sua cidadania. Para tanto as escolas precisam eliminar atitudes<br />
preconceituosas, adequar seus programas, prepararem os alunos e famílias e capacitar<br />
continuamente todos os profissionais que atuam na escola.<br />
Acabar com a homofobia depende da mudança de valores, tanto da sociedade quanto da<br />
educação, da vivência de um novo paradigma que não se faz por decretos ou por<br />
simples recomendações técnicas. Dependem, também, da participação coletiva,<br />
envolvimento e comprometimento de todas as pessoas.<br />
A adoção de uma postura pedagógica crítica neste sentido nos parece relevante e<br />
urgente, pois a escola é uma das instituições sociais que também deve se comprometer<br />
com a promoção da diversidade humana, incluindo aí o direito à igualdade e o respeito<br />
às diferenças.<br />
99
4 REFERÊNCIAS<br />
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100
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SUPLICY, Marta. Conversando sobre sexo. Petrópolis: Vozes, 1986.<br />
101
O ENSINO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:<br />
O PROFESSOR MEDIADOR DO PROCESSO DE FORMAÇÃO CRÍTICA<br />
Adriano Pereira dos Santos 33<br />
Edimar Pereira das Neves 34<br />
Lidiane Andreati 35<br />
Vitor Correa Lima 36<br />
RESUMO<br />
Este artigo é o resultado de leituras acerca dos problemas observados no processo<br />
educacional e do contexto social em que as nossas escolas se encontram. Por isso, é<br />
necessário observar diversos aspectos, desde a escola com toda sua estrutura, o papel do<br />
professor e os conteúdos selecionados, a participação dos alunos e da comunidade<br />
escolar. Para desenvolvimento da temática, apresentaremos dois aspectos importantes:<br />
primeiro mostrar como a realidade social influencia no processo ensino-aprendizagem; e<br />
segundo, observar como o ensino de História somado à participação do professor,<br />
proporciona aos alunos uma melhor compreensão da sua realidade.<br />
PALAVRAS-CHAVE: Ensino de História; Realidade social; formação crítica.<br />
ABSTRACT<br />
This article is the result of reading about the problems observed in the educational<br />
process and social context in which our schools are. Tried to look at various aspects,<br />
from the school with its structure, the role of the teacher and selected content, student<br />
participation and school community. To develop the theme, we present two important<br />
aspects: first show how social reality influences the teaching-learning process, and<br />
second, to observe how the teaching of history coupled with the participation of the<br />
teacher gives students a better understanding of their reality.<br />
KEYWORDS: History teaching; Social Reality; critical training.<br />
33 Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Professor de<br />
Filosofia e Ensino Religioso da rede pública Estadual do Espírito Santo.<br />
34 Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Professor de<br />
História da rede pública Estadual do Espírito Santo.<br />
35 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Professora de<br />
Geografia da rede pública Estadual do Espírito Santo.<br />
36 Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Professor de<br />
História da rede pública Estadual do Espírito Santo e Coordenador da rede Municipal de Cariacica.<br />
102
1 INTRODUÇÃO<br />
São diversas as maneiras em que a realidade social influencia na vida cotidiana dos<br />
alunos. Viver numa comunidade carente, sem perspectivas de trabalho, sem infraestrutura<br />
básica e próximos da violência e das drogas, onde muitos correm riscos de<br />
matar ou morrer. São homens e mulheres, jovens e adultos procurando seus espaços no<br />
mundo do trabalho, fugindo da exclusão social, tentando garantir o pão de cada dia para<br />
si e para sua família.<br />
Em alguns momentos percebe-se uma insatisfação com a realidade em que vive. Porém,<br />
seus comportamentos evidenciam suas relações e preocupações com a sua própria<br />
realidade, pois não questionam e nem querem questioná-la, simplesmente repetem o que<br />
se fala, de que esse mundo não tem mais jeito, não tem solução, ou quando questionam,<br />
não são capazes de mudar suas atitudes, não se transformam em prática. Porém, de<br />
acordo Paulo Freire “[...] enquanto se sentirem assim, pensarem assim e agirem assim,<br />
reforçam o poder do sistema. Se tornam coniventes da ordem desumanizante” (Freire,<br />
20<strong>04</strong>, p. 83).<br />
É possível compreender o porquê de suas insatisfações não gerarem mudanças, pois a<br />
realidade em que vivem é que lhes dá sua sobrevivência. Transformar esse cotidiano<br />
seria, talvez, aumentar as dificuldades de viverem, pois mudam apenas o seu contexto,<br />
mas o sistema desumanizante, mais amplo, continua e mudá-lo, seria acabar com alguns<br />
de seus meios de vida, como por exemplo, o tráfico de drogas, que garante a<br />
sobrevivência de muitas pessoas ou outras formas de viver. Essa realidade, somada a<br />
falta de estrutura familiar, é levada para a sala de aula, e muitos fazem dentro da escola<br />
aquilo que fazem em suas casas ou na sua comunidade e outros ainda procuram, na<br />
escola, uma possibilidade de camuflar seus problemas.<br />
Ao observar o contexto da maioria das escolas, percebe-se a forma como esses alunos<br />
vivem e levam para a sala de aula aquilo que vivem no seu dia a dia, sobretudo os<br />
adolescentes e os jovens, em seu jeito de falar e agir, sem importar-se com o ambiente<br />
onde estão e nem com as pessoas que ali se encontram. Para eles é normal falar o que<br />
quiserem e o que pensam, mesmo em sala de aula.<br />
103
É essa realidade que a escola precisa enfrentar e são esses alunos que ela tem por<br />
necessidade transformá-los em cidadãos críticos e ativos na transformação social. Sendo<br />
assim, para Freire, (20<strong>04</strong> p. 63) “[...] não é possível à escola, se, na verdade, engajada<br />
na formação de educandos [...] alhear-se das condições sociais, culturais, econômicas<br />
de seus alunos, de suas famílias, de seus vizinhos”.<br />
Portanto, o papel do professor, torna-se de suma importância, nesse processo. Ele é<br />
capaz traduzir as necessidades dos alunos e relacioná-las com os conteúdos a serem<br />
estudados. A seleção dos conteúdos e forma como trabalhá-los possibilitam aos alunos<br />
uma visão mais ampla do contexto em que estão inseridos. E, sobretudo, o professor de<br />
história, pois tem a possibilidade levar ao conhecimento dos alunos os acontecimentos<br />
de épocas históricas diferentes, apresentando suas permanências e transformações.<br />
Neste caso, o professor por meio do conteúdo tem o poder de orientar para o processo<br />
de formação crítica diante da realidade em que os alunos estão inseridos, porque o<br />
estudo da história permite fazer a interação passado e presente. Sobretudo, com os<br />
alunos da EJA, que levam para a sala de aula uma experiência de vida somada aos<br />
conhecimentos do conteúdo de história.<br />
Uma sociedade de oportunidades igualitárias só é percebida por meio de uma análise da<br />
realidade contextualizada, e que não se deve aceitar o que se apresentam, sem uma<br />
reflexão em total conformidade com o que se mostra imutável. É preciso que haja uma<br />
visão e um posicionamento de que algo urgente precisa ser feito em prol de uma<br />
sociedade mais justa. A escola deve propiciar essa reflexão aos alunos levando-os a<br />
compreender e perceber que as relações humanas e suas formas de organização social<br />
geram desigualdades e também movimentos por uma forma de vida mais igualitária,<br />
dependendo das características de cada grupo social.<br />
Ao assumir o papel de educador integrado ao saber contextualizado este tem a<br />
responsabilidade de considerar o saber da própria experiência dos alunos e ao<br />
desenvolver sua docência deve perceber e considerar a realidade do educando como<br />
ponto de partida da prática pedagógica a ser adotada. A partir desse diagnóstico, o<br />
1<strong>04</strong>
educador pode assumir dois posicionamentos que irão conduzir seus trabalhos: educar<br />
para reproduzir ou educar para transformar.<br />
O papel norteador da possibilidade da transformação advém de uma autotransformação<br />
que ocorre com o processo de conscientização. Nesta prática pedagógica, aos conteúdos<br />
sistemáticos integrados, deve-se adotar, também, um posicionamento crítico e reflexivo<br />
o que possibilitará mais igualdade de oportunidades dos indivíduos dominados em<br />
ralação aos dominantes.<br />
Sendo assim, um educador cuja prática pedagógica possibilita a transformação da<br />
sociedade vigente parte do pressuposto de sua conscientização e autotransformação para<br />
desenvolver nos seus educandos uma autonomia para as tomadas de decisões. Seu papel<br />
histórico, social e cultural na construção de uma sociedade mais justa está ligado à<br />
aceitabilidade ou mudança do momento presente para a construção do futuro.<br />
O que hoje é presente, amanhã será história, e a História é construída dia-a-dia. Cabe<br />
então aos educadores a construção da História com a participação de sujeitos agentes,<br />
conscientes e transformadores. Mudar é difícil, mas não impossível. É necessário e<br />
urgente (Freire, 20<strong>04</strong>).<br />
2 DESENVOLVIMENTO<br />
2.1 O PAPEL DO ENSINO DE HISTÓRIA E DO PROFESSOR DE HISTÓRIA<br />
Como a realidade está inserida num tempo histórico, entende-se que não é possível<br />
ensinar história sem estar aberto para as problemáticas em que se encontram os alunos.<br />
E nesse contexto, a disciplina de História tem um papel importante, pois é capaz de<br />
aproximar os alunos às transformações ocorridas ao longo dos tempos e relacioná-las<br />
com a realidade atual, para poder conhecê-la melhor e organizarem-se para transformála<br />
em todos os seus aspectos, quer sejam individuais ou coletivos. Sendo assim,<br />
105<br />
[...] é na escola que formulamos grande parte das respostas e das perguntas<br />
necessárias à compreensão de nossas vidas, de nossa sociedade e de nosso<br />
cotidiano; é o espaço no qual podemos adquirir a idéia do tempo histórico e
106<br />
da transformação que a humanidade produziu [...] (Bock; Furtado; Teixeira,<br />
1999, p. 270).<br />
A escola, sobretudo o ensino de história, são partes fundamentais na formação e<br />
construção de um pensamento crítico e atualizado diante da realidade de vida dos alunos<br />
e o meio social onde estão inseridos determina sua compreensão de mundo. Porque,<br />
Há uma relação particular entre atividade e ação. O motivo da atividade,<br />
sendo substituída, pode passar para o objeto (o alvo) da ação, com o resultado<br />
de que a ação é transformada em atividade. Este é um ponto<br />
excepcionalmente importante. Esta é a maneira pela qual surgem todas as<br />
atividades e novas relações com a realidade. Esse processo é precisamente a<br />
base psicológica concreta sobre a qual ocorrem mudanças na atividade<br />
principal e, consequentemente, as transições de um estágio do<br />
desenvolvimento para o outro. (VYGOTSKY; LURIA; LEONTIEV, 2001, p.<br />
69).<br />
Para viabilizar essa relação da ação com a realidade, conforme Bittencourt houve<br />
atualmente uma inovação nos objetivos do ensino de História onde a ênfase passa para a<br />
compreensão do sujeito histórico contribuindo para a formação de um cidadão crítico e<br />
para a construção de uma sociedade democrática e igualitária. Outra contribuição<br />
necessária do ensino de História para a formação dos cidadãos, é fazê-los “[...] entender<br />
que a cidadania não se constitui em direitos concedidos pelo poder instituído, mas tem<br />
sido obtida em lutas constantes e em suas diversas dimensões” (BITTENCOURT, 2002,<br />
p. 20).<br />
Segundo Giroux (1992), o professor de História deve estar presente nesse contexto<br />
apresentando-se como um intelectual crítico e transformador para estar junto com os<br />
alunos desenvolvendo uma reflexão crítica e profunda para mudarem suas atitudes<br />
diante da realidade de injustiças em seus arredores. Os alunos devem ser voz ativa no<br />
processo de aprendizagem, pois trazem para a escola suas experiências sociais e<br />
culturais, suas esperanças e sonhos. E, no entanto, a reflexão crítica não deve apenas<br />
mostrar a necessidade da mudança, mas apresentar, também, possibilidades para que os<br />
alunos tornem-se agentes para atuar como cidadãos transformadores diante da ideologia<br />
da sociedade dominante.<br />
É esse sujeito ativo, cidadão crítico, que o ensino de história deve, acima de tudo,<br />
formar. Não apenas para ser crítico, mas que possa atuar na transformação da sua
ealidade. O ensino de História e a prática do professor proporcionam aos alunos uma<br />
melhor compreensão da sua realidade, possibilitando-os não serem apenas mais um<br />
componente na sociedade, mas sim, tornarem-se formadores e transformadores desta<br />
sociedade na qual são e estão inseridos. De acordo com Libâneo (1994, p. 47) “As<br />
características mais importantes da atividade profissional do professor é a mediação<br />
entre o aluno e a sociedade, entre as condições de origem do aluno e sua destinação<br />
social na sociedade [...]”.<br />
Se o educador não perceber a realidade do educando e não ver essa realidade/mundo<br />
com os olhos dos mesmos, não é possível captar a necessidade dos alunos e nem mesmo<br />
apresentar formas que possibilitem as transformações (Freire, 20<strong>04</strong>). As mudanças se<br />
processam com a interação entre alunos e professor e vice-versa. “Não há um sem os<br />
outros, mas ambos estão em permanente interação” (Freire, 1998, p. 37).<br />
Entretanto, para Freire, a realidade social existente em cada comunidade, não surgiu<br />
naturalmente, mas foi por meio da construção humana, desta mesma forma, a sua<br />
transformação só poderá ser produto da ação do ser humano, isto é, através da sua<br />
‘práxis’ que é ação e reflexão da ação, levando à conscientização e transformação<br />
dentro de sua comunidade (Freire, 1998). Sendo assim, “[...] transformar a realidade<br />
opressora é tarefa histórica, é tarefa do homem” (Freire, 1998, p. 37). Essa<br />
transformação não se dá apenas individualmente, mas de forma coletiva, comunitária e<br />
consciente.<br />
A escola, no entanto, deve ser um espaço para a aquisição dessa consciência e para a<br />
socialização da mesma na condução do processo transformador. O projeto pedagógico<br />
escolar deve levar ao processo de conscientização e libertação. Pois, para Moraes (1997,<br />
p. 43) “[...] O trabalho pedagógico em sala de aula, se não tiver isso em mira, é<br />
opressivo, a-político e a-crítico”.<br />
A escola é o local da aquisição de conhecimento e deve ser também, nela o<br />
processamento da socialização desse conhecimento adquirido em projetos de mudanças.<br />
Cabe aí, o papel importante do professor/educador, que tem a possibilidade de visualizar<br />
a realidade e apresentar aos educandos meios possíveis para que as mudanças se<br />
107
processem. E as mudanças surgem, a partir do momento, em que o professor entender<br />
que sua função não é apenas transmitir o conteúdo e conhecimento, mas possibilitar que<br />
o aluno faça sua própria produção ou construção de conhecimentos (Freire, 20<strong>04</strong>).<br />
Mesmo diante do jogo da vida, em que a maioria dos estudantes enfrenta no seu dia-adia,<br />
querer uma vida melhor, segundo Freire, ainda, é o sonho de cada indivíduo e o que<br />
lhe falta muitas vezes é motivação, é autoestima e sem dúvidas, a condição de vida em<br />
que vive a maioria dos estudantes, lhes condiciona e direciona a sua compreensão e<br />
entendimento de mundo e de sua própria realidade, sua aprendizagem e as formas de<br />
responder aos desafios que a vida lhes proporciona (Freire, 20<strong>04</strong>,). A escola deve ser o<br />
local em que essa motivação seja trabalhada. E o professor é nada mais que, um<br />
incentivador, um motivador, e<br />
108<br />
[...] A motivação é, portanto, o processo que mobiliza o organismo para a<br />
ação, a partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a necessidade e o<br />
objeto de satisfação. Isso significa que, na base da motivação, está sempre<br />
um organismo que apresenta uma necessidade, um desejo, uma intenção, um<br />
interesse, uma vontade ou uma predisposição para agir [...] (Bock; Furtado;<br />
Teixeira, 1999, p. 121).<br />
A escola com suas disciplinas e com os seus professores deve oferecer um<br />
conhecimento baseado no cotidiano dos seus alunos. Os professores, mais do que<br />
conhecer os conteúdos e os seus alunos, devem conhecer, também, a realidade em que<br />
os mesmos estão inseridos, para a partir daí, poder se organizar e elaborar o<br />
planejamento de suas aulas. Com base nesta temática Antônio Leal preconiza que,<br />
[...] para ser professor é necessário participar do planejamento do curso, da<br />
organização e das discussões da escola como um todo. Acho ainda que o<br />
professor deve conhecer a comunidade e procurar ligações [...] com<br />
elementos que produzam cultura no local [...] (LEAL, 1991, p. 33).<br />
Desta forma, é necessário, o professor entendr que ele é um agente social ativo com<br />
possibilidades de intervir na realidade e por sua vez, é também, mediador na formação<br />
de novos agentes atuantes na sociedade (Moraes, 1997). É o papel pedagógico<br />
desenvolvido dentro da sala de aula direcionado para a atuação fora dela.<br />
Sendo assim, a escola, não deve abrir, apenas, as portas para as comunidades realizarem<br />
eventos, festas, etc.. Mas, também, junto com a comunidade planejar um calendário de
atividades que envolva não só alunos e pais para resolverem os problemas internos, mas<br />
toda a comunidade que faze parte do contexto da escola. É necessário ter um objetivo<br />
maior, que vai além das estruturas da escola, que é a conscientização das pessoas que<br />
fazem parte da comunidade onde ela está inserida. Para isso, a escola precisa de<br />
organização e de um projeto político pedagógico elaborado.<br />
109<br />
“Um projeto pedagógico de nível tem que partir do diagnóstico da realidade<br />
da comunidade e da escola, das condições de aprendizagem dos alunos e<br />
alunas, da problematização constante das práticas pedagógicas e opções<br />
metodológicas adotadas, da compreensão por parte dos educadores estarem<br />
em contínuo processo de formação, da clareza das finalidades da escola, das<br />
metas a serem atingidas [...] envolvendo, comprometendo-se e<br />
comprometendo a todos na busca de conscientização dos anseios coletivos”<br />
(SANTOS, 20<strong>04</strong>, p. 7).<br />
A instituição escolar não deve ser apenas o espaço para realizar essas atividades, mas<br />
deve ir ao encontro dessa realidade e atuar junto com as associações de moradores, dos<br />
conselhos comunitários, igrejas e outras instituições engajadas no bem-estar social, para<br />
proporcionar a participação dos pais, dos alunos e da comunidade em: palestras de<br />
formação e conscientização (questões ecológicas, lixo, saneamento básico etc.), cursos<br />
diversos como: pintura, informática, artesanato com material reciclável e fomentar a<br />
criação de cooperativas, associações etc. Tudo isso, visa melhorar a condição de vida da<br />
comunidade, que para Libâneo (1994, p. 36) “[...] a escola não pode ignorar que as<br />
desigualdades sociais são um real obstáculo ao desenvolvimento humano e, por isso,<br />
mesmo, precisa aliar sua transmissão de conhecimentos às lutas sociais pela<br />
transformação do quadro social vigente”.<br />
A escola deve estar integrada na elaboração e na realização dessas atividades, pois uma<br />
vez que ela atua na comunidade, não apenas como instituição de educação formal e<br />
curricular, todos terão uma nova visão sobre o seu papel e o resultado poderá vir na<br />
transformação do comportamento em sala de aula e também no comportamento das<br />
pessoas que ali não estudam. Pois passarão vê-la como uma aliada no processo de<br />
compreensão e superação dos desafios. A escola deve levar até a comunidade uma<br />
compreensão melhor da realidade, pois através das aulas de História podem-se<br />
apresentar as transformações ocorridas ao longo dos tempos e as que acontecem<br />
também hoje, frutos das ações dos homens atuais.
A escola e todo o seu contexto fazem parte dessa realidade. A instituição escolar não<br />
pode estar separada do cotidiano de seus alunos e nem tampouco deve estar a serviço<br />
das teorias das classes dominantes. Ela deve ser um espaço de produção cultural e servir<br />
de possibilidade para construir a ação dos estudantes.<br />
110<br />
[...] É na linguagem, e através dela, que os indivíduos, em contextos<br />
históricos específicos, moldam seus valores em determinadas formas e<br />
práticas [...] A escola é uma das esferas públicas básicas, onde, pela<br />
influência da autoridade, da resistência e do diálogo, a linguagem é capaz de<br />
construir a maneira como vários indivíduos e grupos codificam e, assim,<br />
lêem o mundo [...] (Giroux, 1992, p. 84-5).<br />
A escola não deve ser apenas o espaço da aquisição ou exposição do conhecimento,<br />
mas, sobretudo, preparar seus alunos para serem cidadãos. Sendo assim, “[...] a escola,<br />
em hipótese nenhuma, pode isentar-se da sua mais importante função: social, política e<br />
cultural [...]” (Guimarães, 2003, p. 9). Dessa forma, portanto, a escola desenvolve<br />
condições para apresentar de forma clara e objetiva os meios viáveis para que os alunos<br />
desenvolvam ou ampliem suas visões de mundo e através dela, sejam protagonistas da<br />
transformação do meio social em que estão inseridos, porque “por seu envolvimento na<br />
vida social e de trabalho, a preparação de uma pessoa [...] estão historicamente longe<br />
de ser sempre os mesmos” (VYGOTSKY; LURIA; LEONTIEV, 2001, p. 65).<br />
2.2 A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE HISTÓRIA NA EJA<br />
Buscando compreender a importância do ensino de história na educação escolar,<br />
percebemos que não é possível estudar a história de forma fragmentada e distanciando<br />
os períodos históricos da realidade atual. É indispensável para o estudo da história, em<br />
qualquer etapa de escolaridade, sobretudo na EJA, a interação passado e presente.<br />
Porque “os instrumentos que o homem usa para dominar seu ambiente e seu próprio<br />
comportamento [...] foram inventados e aperfeiçoados ao longo da história social do<br />
homem” (VYGOTSKY; LURIA; LEONTIEV, 2001, p. 26). Por isso, há um anseio pela<br />
compreensão do presente, mas na busca de encontrar uma origem para as questões da<br />
atualidade.
Como na EJA os alunos, em sua maioria, tem uma vasta experiência de vida e<br />
profissional o debate acerca da história e atualidade se torna fundamental para o<br />
processo de ensino e aprendizagem. Ao trabalhar conteúdos da pré-história, por<br />
exemplo, com o nomadismo, o sedentarismo, o surgimento da agricultura, do comércio,<br />
das cidades, dos reis (políticos), das religiões, entre tantas outras criações do homem<br />
pré-histórico com invenções técnicas que foram aperfeiçoando ao longo da história, que<br />
leva professor e alunos fazendo uso dessas temáticas, percorrerem os períodos<br />
históricos, possibilitando a compreensão e percepção das transformações e<br />
permanências dos acontecimentos ou fatos que marcaram e marcam a vida do ser<br />
humano.<br />
Os alunos da EJA têm uma compreensão muito mais ampla desses acontecimentos e<br />
uma facilidade para fazer a interação do passado com o presente. É inevitável esse<br />
debate. Mas o professor torna-se peça importante nesse processo e passa por ele a<br />
seleção dos conteúdos e a forma como apresentá-los é que determina ou possibilita esse<br />
processo.<br />
Trabalhar com turmas da EJA do Ensino Médio percebe-se que os alunos provocam o<br />
debate passado/presente e leva o professor a mudar sua forma de trabalhar. É constante<br />
ouvir dos alunos que quando o professor aproxima o passado com o presente, estudar<br />
história fica mais interessante.<br />
Para entender melhor a ensino de história na EJA, foi feito um levantamento com os<br />
alunos, no final do ano letivo de 2010, com uma turma de 2ª etapa do ensino médio, em<br />
que os mesmos responderam a quatro questões pertinentes ao ensino de história na sala<br />
de aula e levando em consideração suas experiências de vida e seus conhecimentos da<br />
história. Como segue abaixo:<br />
1) O que você acha da matéria de história () bom; ( ) ruim; ( ) regular e ótimo ( ).<br />
Dos 13 alunos que responderam as questões 5 responderam bom; 7 ótimo e 1 ruim.<br />
Entende-se que o resultado obtido foi importante, pois no inicio do ano letivo a maioria<br />
dos alunos questionava quanto à importância do ensino de história. Percebe-se que<br />
111
houve uma mudança de comportamento em relação à história como componente<br />
curricular.<br />
2) O estudo da história te ajuda a compreender melhor a realidade atual? ( ) sim; ( ) não.<br />
Justifique.<br />
Todos os alunos responderam que sim e as justificativas foram diversas. Algumas foram<br />
selecionadas e reproduzidas na integra 37 . O aluno Leandro respondeu que “o estudo da<br />
história nos ajuda a compreender a formação da sociedade, não só em nosso país, mas<br />
em todo o mundo e, em suas origens é possível encontrar costumes que preservamos até<br />
hoje”. Já o aluno Sérgio, entende que estudar história “ajuda a compreender a realidade<br />
do mundo de hoje... Resgatar o passado e dando continuidade do presente”. A aluna<br />
Layana argumenta que a história traz “a cultura dos antepassados...”. O aluno Bruno<br />
responde que o estudo da história “são realidades que podemos aprender para os dias de<br />
hoje”. Para o aluno Paulo Sérgio o ensino de história contribui “para que nós<br />
entendemos como funcionou o mundo até hoje”.<br />
3) Em sua opinião, qual a importância do estudo da história?<br />
Para a aluna Madalena a importância da história é que “conhecemos nossas origens”.<br />
Para Mariana é “pra nós sabermos como eram as coisas antigamente e como foi<br />
aprimorando”. Para o aluno Jadison “é saber como nossos antepassados viviam, e isso<br />
ajuda a refletir mais a vida”. Já para Leandro “a história ajuda o ser humano a<br />
compreender a si mesmo e, desse modo, o ajuda a evoluir”.<br />
4) Qual a importância da história para a sua vida?<br />
Para a aluna Marlene a história ajuda a “dar mais valor a vida profissional, familiar no<br />
conhecimento e poder passar para meus filhos. É dar mais valor a vida, olhando-se para<br />
trás”. Já para o aluno é “para ter conhecimentos gerais e entender melhor a vida”. Para o<br />
aluno Jadison é que “a história do passado estudamos hoje, nossa história, hoje,<br />
estudarão no futuro. A história, o fato é que faz parte de nossa vida”. Para o aluno<br />
Lourival a história é inerente ao ser humano. “na minha vida, a história tem um papel<br />
muito importante, pois como leitor e aspirante a escritor, ela atravessa meu caminho<br />
37<br />
Os nomes dos alunos são fictícios para manter a ética na pesquisa, uma vez que não dispomos de<br />
autorização dos mesmos.<br />
112
várias vezes e sua influência é muito enriquecedora. Hoje percebo que nada é por acaso,<br />
que tudo tem um motivo e um início. Estudar história é buscar a compreensão sobre nós<br />
mesmo e a vida”.<br />
Esses depoimentos deixam claro, que a história tem uma importância muito grande na<br />
vida do ser humano. Dependendo do foco do professor ou da forma como se trabalha o<br />
conteúdo pode-se abafar a criatividade e a liberdade de pensamento e conhecimento<br />
critico que aluno tem da história do passado e presente. Sabendo que o professor deve<br />
sempre ser o mediador desse processo, senão surgem as críticas, as observações e para<br />
que isso não fique fragmentado ou desajustado diante da realidade histórica o professor<br />
precisa intervir, orientar, conduzir para os procedimentos do conhecimento da história<br />
que passa pela análise e compreensão e com o auxilio do professor é necessário que se<br />
torne capaz de elaborar sua síntese.<br />
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
A elaboração deste artigo possibilitou entender que ensinar exige compreensão e<br />
apreensão da realidade para poder transformá-la ou construí-la proporcionando ao<br />
educando a construção de sua própria formação crítica e juntos buscar uma nova<br />
realidade onde cada um possa alcançar seus objetivos, sonhos e ideais.<br />
Possibilitou, também, fazer uma reflexão sobre o papel da educação, sobretudo do<br />
Ensino de História, na formação de um cidadão crítico. Porém, essa educação só será<br />
alcançada quando a instituição escolar com toda a sua organização administrativa e<br />
docente estiver integrada com a realidade social da comunidade escolar. Caso contrário,<br />
será sempre reprodutora do sistema vigente. Para ser transformadora é necessário um<br />
projeto que valorize não somente a participação dos alunos, mas de toda a comunidade.<br />
Todo esse processo fez entender que ser educador não é tarefa fácil. Exige<br />
compromisso, planejamento e muita disposição para poder não apenas transmitir<br />
conhecimentos, mas participar da vida da comunidade onde escola está inserida.<br />
Analisar a realidade social dos alunos é um desafio, mas extremamente importante, não<br />
113
somente para a formação profissional, mas para que trabalho do professor atinja seus<br />
objetivos que é formar cidadãos críticos para atuarem como transformadores da<br />
realidade em que vivem. Percebe-se, portanto, que ser professor vai muito mais além do<br />
que simplesmente dar aulas.<br />
4 REFERÊNCIAS<br />
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ed. São Paulo: Paz e Terra, 20<strong>04</strong>.<br />
GIROUX, Henry. Escola Crítica e Política Cultural. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1992.<br />
_____________. Os Professores como Intelectuais: rumo a uma pedagogia da<br />
aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.<br />
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sociedade pós-moderna. Jornal Mundo Jovem. Porto Alegre. Ano XLI, nº 334,<br />
Mar/2003.<br />
LEAL, Antônio. Fala Maria Favela: uma experiência criativa em alfabetização. 11 ed.<br />
São Paulo: Ática, 1991.<br />
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.<br />
MORAES, Regis de (org). Sala de Aula: Que espaço é esse? Campinas, SP: Papirus,<br />
1997.<br />
SANTOS, Edmerson dos. Projeto Pedagógico: moda, exigência ou consciência? Jornal<br />
Mundo Jovem. Porto Alegre. Ano XLII, nº 345, Abr/20<strong>04</strong>.<br />
VYGOTSKY, Lev Semenovich; LURIA, Alexander Romanovich; LEONTIEV, Alex<br />
N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2001.<br />
114
O EMPREGO DAS GÍRIAS ENTRE ADOLESCENTES: ESTUDO DE CASO<br />
EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM CARIACICA (ES)<br />
115<br />
Adriana Oliveira Silva Carreiro 38<br />
Michelle Ferreira Ruela Alves 39<br />
Viviana Carla Lucas 40<br />
RESUMO<br />
Este artigo busca descrever aspectos gerais sobre o emprego das gírias por adolescentes<br />
da faixa etária de 12 anos de uma escola pública estadual do município de Cariacica, no<br />
Espírito Santo. Para tanto, recorreu-se a um procedimento de análise qualitativa a partir<br />
da avaliação de dados quantitativos, mas levando-se em consideração um princípio<br />
universal de que todos os adolescentes da faixa etária em questão tendem a empregar<br />
gírias em suas atividades conversacionais. A abordagem privilegiada foi acerca da gíria<br />
como uma variante linguística que, em muitos contextos, não é bem assimilada,<br />
chegando a ser recriminada por alguns grupos. Os resultados obtidos apontam para um<br />
uso muito espontâneo do vocabulário gírio e, simultaneamente, para o emprego<br />
consciente dessa variante, o que pode evidenciar a busca por uma identidade linguística<br />
por meio das gírias. O presente trabalho segue, assim, com uma introdução, a proposta<br />
metodológica, o referencial teórico, análises e discussões sobre os dados e algumas<br />
considerações finais.<br />
PALAVRAS-CHAVE: gíria; adolescentes; variação linguística; linguagem.<br />
ABSTRACT<br />
This article attempts to describe general aspects on the use of slangs by teenagers aged<br />
from 12 years old to a state school in the city of Cariacica, in Espírito Santo. To this<br />
end, we used a qualitative analysis procedure based on the evaluation of quantitative<br />
data, but taking into account a universal principle that all adolescents in the age group in<br />
question tend to use slangs in their conversational activities. The preferred approach<br />
was about as a variant of the slang language that in many contexts, it is hard to swallow,<br />
coming to be blamed for some groups. The results indicate a very spontaneous use of<br />
slangs and simultaneously the conscious employment of this variant, which can<br />
highlight the search for an identity through language slang. This paper therefore follows<br />
with an introduction, the proposed methodology, the theoretical framework, analysis<br />
and discussion of the data and some final remarks.<br />
KEY WORDS: slang; teenagers; linguistic variation; language.<br />
38 Graduanda do curso de Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Licenciada<br />
em Letras-Português/Inglês pelo SABERES. Especialista em Literatura pela UNIUBE. Especialista em<br />
EJA – Educação de Jovens e Adultos pela Instituto Superior de Educação e Cultura Ulysses Boyd.<br />
39 Graduanda do curso de Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Licenciada<br />
em Letras-Português pelo Centro de Ensino Superior de Vitória. Especialista em Gestão e Educação<br />
Ambiental pela FAESA.<br />
40 Graduanda do curso de Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Licenciada<br />
em Matemática pela Universidade Federal do Espírito Santo.
1 INTRODUÇÃO<br />
Neste estudo, serão abordados alguns aspectos linguísticos e sociais em relação a uma<br />
modalidade de linguagem que é comumente utilizada por adolescentes e jovens: as<br />
gírias.<br />
Considerada por muito tempo como “linguagem dos malandros”, a gíria era, até algum<br />
tempo, uma variante linguística alvo de preconceitos de ordem social, ficando à margem<br />
das variantes mais prestigiadas. Com a emergência dos meios de comunicação, essa<br />
imagem, até então negativa, vai sendo reconstruída, e pode-se considerar, sem<br />
generalizações, que hoje, o uso das gírias é comum em todos os níveis sociais.<br />
Para Preti (2010), a expansão do vocabulário gírio na sociedade contemporânea<br />
brasileira, em especial nos contextos urbanos, permite-nos afirmar que não se trata mais<br />
de uma marca dos falantes jovens, mas de uma presença constante na conversação, por<br />
vezes até mesmo em falantes de outras faixas etárias ou em situações formais.<br />
Sabe-se que a comunidade de falantes constituída por adolescentes e jovens continua<br />
sendo a principal responsável pela difusão e inserção social dessa modalidade. Ainda<br />
que se considere que a gíria tem sido objeto de adesão por indivíduos e grupos dos mais<br />
diversos níveis – seja faixa etária, classe social, grau de escolaridade, religião –, não é<br />
viável crer na inexistência de preconceito linguístico.<br />
De acordo com Silva & Moura (2000), percebe-se que uma das dificuldades da vida<br />
social é a aceitação da diferença, uma vez que todos os preconceitos aparecem quando<br />
uma especificidade em relação à realidade intergrupos entra em evidência. A raiz do<br />
preconceito está na rejeição da alteridade ou na consideração das diferenças como<br />
patologia, erro, vício etc. O uso das gírias por jovens e adolescentes sempre foi visto<br />
como algo polêmico. Por trás do preconceito em relação à gíria, há sempre um conflito<br />
entre grupos sociais conservadores e inovadores.<br />
Esta pesquisa tem como objetivo investigar os vários tipos de gírias que são utilizados<br />
por adolescentes na faixa etária de doze anos numa escola pública no município de<br />
116
Cariacica/ES. Busca-se, com esse estudo, explicações para os motivos que levam os<br />
adolescentes a empregarem gírias em suas atividades interacionais. Outro foco de<br />
interesse é verificar se os adolescentes dessa faixa etária fazem o uso da gíria em sua<br />
interação com adultos, e se, nesse diálogo, há dificuldades de interpretação, gerando,<br />
assim, desvios de comunicação ou mesmo preconceito.<br />
Para alcançar os objetivos delineados, propõem-se alguns procedimentos básicos, a<br />
saber:<br />
117<br />
§ Entrevistas, por meio de questionário, aos adolescentes com faixa etária média<br />
de 12 anos, a fim de construir um quadro percentual;<br />
§ Investigação acerca do significado das gírias mais difundidas, pois acreditamos<br />
que, conhecendo esse vocabulário, é possível partir do conhecimento que os<br />
alunos possuem para desenvolver uma relação dialógica mais clara entre os<br />
sujeitos envolvidos na interação;<br />
§ Análise quantitativa e qualitativa dos dados;<br />
§ Avaliação da análise a partir dos resultados.<br />
Após esta introdução, este trabalho conta ainda com uma segunda seção, na qual<br />
discutiremos sobre o processo de levantamento dos dados, bem como uma terceira<br />
parte, em que são apresentadas as análises e discussão sobre os dados. Por fim, serão<br />
feitas algumas considerações finais acerca dos resultados encontrados.<br />
2 METODOLOGIA PARA ENTREVISTAS E FOCO DA PESQUISA<br />
Para atingir o objetivo proposto nesta pesquisa, foram utilizados, como procedimentos<br />
metodológicos, uma estrutura de entrevistas padronizadas, seguindo a orientação de<br />
Lakatos e Marconi (2001, p. 197), para quem essa modalidade de entrevistas “é aquela<br />
em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido”. Os autores<br />
explicam que “ela se realiza de acordo com um formulário elaborado e é efetuada de<br />
preferência com pessoas selecionadas de acordo com um plano”. Assim, foram
envolvidos 59 alunos da 6ª série de uma escola pública estadual de Cariacica, no<br />
Espírito Santo.<br />
Embora seja possível estabelecer um quadro quantitativo a partir dos resultados,<br />
buscaremos priorizar uma análise qualitativa, ainda que este não seja o procedimento<br />
mais adequado para um estudo de caso como este, uma vez que os dados recolhidos são,<br />
via de regra, insuficientes para a obtenção de resultados amplamente objetivos.<br />
Por outro lado, é viável focalizar uma pesquisa qualitativa com dados aparentemente<br />
superficiais se partirmos do princípio da uniformidade, dada a tendência natural e<br />
universal dos adolescentes a estabelecerem suas relações sociais pela linguagem<br />
utilizando gírias – principalmente, mas não somente, nos centros urbanos.<br />
3 DESENVOLVIMENTO<br />
A pesquisa será sustentada por um quadro teórico composto por autores renomados no<br />
campo de estudos da linguagem. Assim, serão aqui retomados os trabalhos de Preti<br />
(2000; 2003; 2010) e Ribeiro (online), sobretudo no que diz respeito ao objeto de<br />
discussão – a gíria; Travaglia (2003), tratando do tema geral da interação; e Silva &<br />
Moura (2000), com suas considerações sobre preconceito linguístico. Vale esclarecer<br />
que, no decorrer da pesquisa, outros autores poderão ser convocados a elencar a<br />
bibliografia.<br />
De acordo com Ribeiro (2005), as gírias trazem um novo significado às formas já<br />
existentes ou que tenham sido alteradas nesse sistema linguístico comum. O objetivo da<br />
gíria é não se fazer entender por quem não faz parte de um determinado grupo social,<br />
logo ela pretende manter a identidade e a consciência deste grupo social.<br />
Segundo Preti (2000:11), em toda a nossa vida em sociedade existe um problema de<br />
intercâmbio e diálogo que se realiza pela língua. Dessa maneira, percebe-se que a<br />
diferença de idade muitas vezes traz conflitos entre os falantes, pois adultos e<br />
adolescentes não compreendem um ao outro.<br />
118
Ao considerar que o locutor adulto, ao longo dos anos e de suas experiências, amplia o<br />
seu vocabulário, possivelmente possuirá um repertório que possa tornar-se mais formal,<br />
de acordo com as exigências da norma culta, nas relações sociais que estabelece. Esse<br />
vocabulário mais apurado não permite uma aproximação com os adolescentes que, por<br />
sua vez, utilizam um vocabulário não formal. Portanto, ao considerar as faixas etárias<br />
diferentes, o vocabulário utilizado pelos adolescentes é entendido no contexto social,<br />
frente às exigências cultas como gírio, popular ou informal.<br />
Percebe-se uma hierarquização dos diversos vocábulos, inferiorizando a linguagem<br />
popular construída em diversos contextos diariamente. Ao transpor essas considerações<br />
para o cotidiano escolar, focalizando a relação dialógica e reflexiva entre professor e<br />
aluno, Silveira (1997:43-4), mostra como essa hierarquização acontece na escola.<br />
De acordo com o autor, o professor, representante dessa classe dominante através de sua<br />
linguagem, expressa crenças, valores e representações da realidade valorizada na escola.<br />
Representante da classe popular, o aluno não compartilha destas crenças, valores e<br />
representações da realidade. Além disso, sua linguagem, suas proposições e<br />
expectativas são diferentes das do professor. De acordo com Silveira (1997), fica<br />
evidente a existência de um fosso entre o diálogo de professores e alunos, e a<br />
necessidade de que vença essas barreiras, respeitando o direito de cada um de expressar<br />
seus sentimentos. Nesse sentido, no tipo de linguagem utilizada por ambos, deve haver<br />
sintonia, ou seja, professor e aluno devem construir uma linguagem de maneira<br />
colaborativa. Assim, o professor deve apontar para o aluno a linguagem utilizada pela<br />
sociedade, e o aluno, ao mesmo tempo, deve ter o direito de mostrar um pouco do que<br />
faz parte do seu mundo, sem ser discriminado.<br />
Dessa forma, observamos que uma das grandes dificuldades no meio social tem sido a<br />
aceitação das diferenças existentes em relação às pessoas, uma vez que os preconceitos<br />
são considerados como uma especificidade quanto à realidade de cada grupo ou como<br />
elemento superior a todos os outros (Silva & Moura, 2000:23). Nesse caso, tudo o que<br />
venha a ser diferente é visto como algo inexistente, isto é, como algo inferior, errado e<br />
feio.<br />
119
Ainda de acordo com Silva & Moura (2000:27),<br />
120<br />
[...] a variação é inerente às línguas, porque as sociedades são divididas em<br />
grupos: há os mais jovens e os mais velhos, os que habitam uma região ou<br />
outra, os que têm esta ou aquela profissão, os que são de uma ou outra classe<br />
social e assim por diante. O uso de determinada variedade linguística serve<br />
para marcar a inclusão num desses grupos, dá uma identidade para seus<br />
membros.<br />
Para os autores, a língua é um fenômeno sócio-cultural, em que existe uma extensa<br />
variedade de raças e culturas, que se misturam transmitindo seus valores e tradições, e a<br />
língua que falamos reflete essa diversidade. Dessa forma, os indivíduos,<br />
independentemente de sua região ou classe social, utilizam a linguagem própria de cada<br />
grupo, o que possibilita um relacionamento entre eles.<br />
Entendemos que a gíria dá um significado novo a formas que já existem ou até mesmo<br />
que tenham sido alteradas nesse sistema linguístico comum. O objetivo do uso das<br />
gírias pelos grupos de adolescentes é de não se fazer entender por quem não pertence a<br />
um determinado grupo. Diante disso, a gíria tem a intenção de manter a identidade de<br />
um determinado grupo social, ou seja, a criação de termos e expressões pode servir de<br />
intenção de não se fazer entender por outros grupos que não sejam pertencentes ao seu<br />
grupo, o que levaria a buscar meios de imposição de sua expressão linguística.<br />
Conforme Celso Cunha (20<strong>04</strong>:244),<br />
Em todos os grupos de seres humanos organizados, desde o início em que<br />
eles adquirem a consciência de sua unidade, os que não pertencem àquele<br />
grupo, ou seja, os não iniciados passam a ser chamados de profanos. E, é a<br />
partir daí que decorre o antagonismo entre a ação uniformizadora da<br />
sociedade geral, onde busca estagnar a língua, pela resistência da inércia<br />
coletiva de toda invenção linguística, e a ação dos grupos particulares<br />
tentando diferenciá-la, principalmente quando se trata de um grupo mais ou<br />
menos fechado e independente.<br />
Portanto, entendemos que os grupos se dividem cada um em busca de defender os seus<br />
interesses, existem aqueles que defendem a linguagem culta, colocando-a como a<br />
correta e aqueles que defendem a linguagem que foi criada de forma independente.
Esses grupos, por sua vez, se fecham não admitindo trocas de experiências e nessa<br />
defesa tem ocorrido a dificuldade de relacionamentos, em que na sua maioria o<br />
adolescente se sente rejeitado e excluído dos meios sociais em que o preconceito invade<br />
todo o contexto, devido às gírias não serem aceitas pela sociedade.<br />
Ribeiro (2005) aponta referenciais de alguns estudos sobre gíria: para Mounim,<br />
(1993:40), a gíria, num sentido linguisticamente, mais técnico, representa<br />
exclusivamente uma forma de língua na qual o léxico específico está ligado a um grupo<br />
social, ou porque o grupo tem uma vida fechada (a gíria politécnica), ou porque ele<br />
elaborou uma língua secreta que protege (a gíria dos malfeitores, a gíria dos<br />
mercadores, comerciantes).<br />
Cardona (1991:159) expõe que a gíria é uma variedade linguística compartilhada por<br />
um grupo restrito (por idade ou por ocupação), que é falada para excluir da<br />
comunicação as pessoas estranhas e para reforçar o sentimento de identidade dos que<br />
pertencem ao grupo. Travaglia (2003:45) a define como forma própria de utilização da<br />
língua por um grupo social o qual se identifica por esse uso da língua e se protege do<br />
entendimento por outros grupos, pode também ser considerada como uma forma de<br />
dialeto social.<br />
De acordo com Ribeiro (2005) e Coutinho (1976), a gíria é derivada de contribuições<br />
variadas da língua comum, nela podem ser incorporados arcaísmos, neologismos,<br />
aspectos estilísticos, mudanças sintáticas e outros recursos que, a princípio, teriam como<br />
objetivo torná-la uma linguagem totalmente irreconhecível fora do grupo de uso.<br />
Ribeiro (2005) aponta que:<br />
121<br />
[...] assim, se seguirmos a tendência de considerar a linguagem especial dos<br />
adolescentes um modo de comunicação que se destina somente aos iniciados,<br />
que estão a par de seus significados simbólicos, ela será tomada como gíria.<br />
A esse respeito, é interessante observar o fato de muitas revistas se<br />
especializarem em assuntos que envolvem os gostos e interesses dos<br />
adolescentes, formando um público especial, que entende os termos usados.<br />
Sob este prisma, somente este público iniciado entenderia, a princípio tal<br />
linguagem. Apesar disso, embora inicialmente restrita a um pequeno grupo,<br />
muitas vezes ela passa a fazer parte da língua cotidiana. Por isso, é natural a<br />
oscilação entre considerar ou não a “língua do adolescente” um caso de gíria,<br />
pelo menos no que tange às definições técnicas desse termo. Como a gíria
122<br />
está em contato com a língua comum, muitas de suas leis são iguais às da<br />
língua comum, com diferenças apenas no léxico.<br />
Além disso, conforme Ribeiro (2005) deve-se considerar que as pessoas estão sempre<br />
mudando de um grupo para o outro e que em cada grupo existe uma forma de<br />
linguagem. Ao chegar ao novo grupo, elas vão adquirindo a nova forma de se<br />
comunicar.<br />
Com os adolescentes não é diferente, pelo fato de estarem num momento de<br />
descobertas, eles estão sempre mudando de grupo e variando sua linguagem. E a<br />
linguagem utilizada pelos adolescentes é destinada apenas àqueles que fazem parte do<br />
seu grupo e esse tipo de linguagem é classificada como gíria, quando somente os<br />
adolescentes que fazem parte do grupo poderiam entender o seu significado.<br />
4 REFLETINDO SOBRE OS DADOS<br />
Ao serem questionados sobre os motivos pelos quais utilizam as gírias em sua<br />
comunicação, alguns dos entrevistados evidenciam a importância social do vocabulário<br />
gírio. Veja-se pelas respostas abaixo reproduzidas:<br />
1) “é um modo de adolescentes”<br />
2) “eu não consigo falar uma coisa sem gírias”<br />
3) “é uma forma de afinidade com as amigas mais íntimas”<br />
4) “é um costume de alguns adolescentes”<br />
5) “entre colegas, nós gostamos” / “assim são os tempos modernos”<br />
6) “nós adolescentes não gostamos de falar tudo certinho”<br />
Tais afirmações atestam que a gíria é, entre outros aspectos, um fator de inclusão e de<br />
exclusão social. De inclusão, se considerarmos que ela aproxima falantes de um mesmo<br />
grupo social, funcionando como mecanismo de defesa desse grupo. De exclusão, se<br />
pensarmos que pode ser motivo de preconceito, ou seja, pode gerar rejeição nas<br />
situações de diálogo.
No caso em questão, essa situação de preconceito é vivenciada no contexto familiar: dos<br />
59 adolescentes entrevistados, 33 (aproximadamente 55%) afirmam ser mal<br />
compreendidos e recriminados pelos pais quando empregam gírias em suas falas<br />
espontâneas.<br />
A esse respeito, vale mencionar o trabalho de Stella (2003), que realizou uma pesquisa<br />
na antiga Casa de Detenção de São Paulo, a qual revelou que certas gírias se constituem<br />
como um código de interação muito específico entre os presos, e são, muitas vezes<br />
desconhecidas pelos guardas. No entanto, de acordo com um dos entrevistados da<br />
pesquisa de Stella, fora do ambiente prisional existe um grande receio para o uso de tal<br />
linguajar, uma vez que ele é carregado de um sentido excludente na sociedade na qual<br />
deseja reintegrar-se.<br />
Dessa forma, é evidente que existem restrições de uso do vocabulário gírio, seja pelo<br />
receio de uma possível situação de preconceito, seja por uma questão de adequação<br />
linguística a determinadas situações de comunicação em que o uso da gíria não se<br />
enquadra. Observe-se a tabela abaixo, que retrata o percentual relativo a locais onde os<br />
entrevistados mais empregam gírias:<br />
Locais<br />
Quantidade<br />
(de um total de 59)<br />
Em casa 20 33,9<br />
Na escola 39 66,1<br />
Na igreja 05 8,5<br />
Em festas 28 47,4<br />
Em qualquer lugar, exceto em casa 20 33,9<br />
Outros 18 30,5<br />
%<br />
123
Os dados revelam resultados que nos levam a tirar algumas conclusões:<br />
O uso de gírias é mais restrito em situações (locais) em que há exigência de um<br />
vocabulário menos informal, como em casa e, principalmente, na igreja.<br />
O baixo índice do emprego das gírias em casa deve-se, possivelmente, à relativa<br />
recriminação de que essa linguagem é vítima, como já mostramos anteriormente.<br />
No âmbito religioso, em geral, o emprego de um vocabulário mais sério e formal, como<br />
uma característica da linguagem eclesiástica, deve inibir consideravelmente o emprego<br />
de vocabulário gírio.<br />
O uso de gírias é mais evidente nos ambientes escolares e em festas.<br />
Acerca deste último ponto, cabe levantar alguns fatores que podem ser os grandes<br />
motivadores para o emprego espontâneo de um linguajar mais específico e próprio dos<br />
entrevistados. Tais fatores são:<br />
124<br />
§ A distância dos pais, tidos como inibidores (recriminadores) das gírias.<br />
§ A construção de relacionamentos, desencadeada pelo desejo de pertença ou de<br />
inclusão social.<br />
É necessário destacar ainda um fator essencial para a implementação e consequente<br />
difusão de novas gírias: a língua permite esses usos, tanto que são naturalmente<br />
compreendidas entre falantes que adotam a variante gíria. Portanto, se a língua permite<br />
o uso de variedades “não-padrão”, como é o caso das gírias, o preconceito é que deve<br />
ser considerado “erro”, uma vez que o vocabulário gírio atende as exigências<br />
comunicativas de seus usuários. Bagno (2007:37) afirma que:<br />
Não tem sentido falar de variação linguística como um “problema”. Vira e<br />
mexe recebo mensagens de pessoas que perguntam como tratar em sala de<br />
aula o “problema da variação”. Podemos começar respondendo que “o<br />
problema está em achar que a variedade linguística é um “problema” que<br />
pode ser solucionado. O verdadeiro problema é considerar que existe uma<br />
língua perfeita, correta, bem-acabada e fixada em bases sólidas, e que todas<br />
as inúmeras manifestações orais e escritas que se distanciem dessa língua
125<br />
ideal são como ervas daninhas que precisam ser arrancadas do jardim para<br />
que as flores continuem lindas e coloridas!<br />
Outro momento essencial das entrevistas é o de levantamento do vocabulário, isto é, de<br />
gírias mais utilizadas pelos entrevistados. Os dados coletados estão dispostos na tabela<br />
abaixo de acordo com cada ato de linguagem, seja este um cumprimento, ao falar sobre<br />
alguém ou outras expressões:<br />
Quais as gírias que você mais usa?<br />
Cumprimento/<br />
Pergunta<br />
Outras expressões Outras expressões Ao falar sobre alguém<br />
Qual é? Ninguém merece Já é Mané<br />
Colé? Tipo assim... Já era X9<br />
Colé veio? Aí cara Sinistro Dragão<br />
Colé mano? Porcaria Irado Canhão<br />
Colé neguinho? Na moral Vacilão Gatinho/a<br />
Pô Na providência Ta tirando onda? Miragem<br />
Pô veio Valeu! Buzu Filé<br />
Ta ligado?! Moro!? É nóis Zé mane<br />
Qual é cara Se liga! Falo Tdb<br />
Fala aí malandro Sai fora! Saca só Papa anjo<br />
Qual é brother? Maneiro! Selinho Bolado/a<br />
Qual é brode? Saco! Palha Cabeção<br />
Qual é brol? Caramba! Cinco minutinhos Meu chegado<br />
Qual é coroa? Que doido! Droga Sangue bom<br />
Fala aê maluco! parada Mil grau Sagas<br />
Pode crê! Fala sério!? Legal Fêi<br />
Caraca Maneiro Doido<br />
Galera Ta vacilando! Tosco<br />
Cara Passar o rodo Viajante<br />
Passar o cerol Vazar Sonso<br />
Tô zerando Caiu a ficha! bicho
Ta ligado! Ganso esquerim<br />
Sai dessa cachaça! Caiu a ficha! bagulho<br />
Coca-cola barraqueira Mico<br />
Maior favelada Selinho Ficar em off<br />
Tô no sal Balada Coca-cola é fanta.<br />
Neste ponto, observou-se que os alunos entrevistados usam as gírias com seus grupos e,<br />
em sua maioria, expressam seus sentimentos de forma até organizada. Cada gíria tem o<br />
seu papel especial de entendimento entre o locutor e o receptor e ambos entendem a<br />
mensagem proposta em cada gíria.<br />
Então, partindo dessa linha de raciocínio, resolveu-se elaborar um quadro, no qual<br />
apresentamos a organização de linguagem entre eles. Esse grupo tem uma linguagem<br />
própria, utilizada para cumprimentar as pessoas de seu grupo ou de outros grupos.<br />
Destacamos, por exemplo, “qual é?”, “colé mano”; “pô véio”; “fala aí malandro” etc.<br />
Também utilizam as gírias para falar sobre alguém, usando-as no sentido de elogiar<br />
(“gatinho”, “filé”, “TDB” que significa “tudo de bom”, “sangue bom” etc.); ou de<br />
depreciar (“mané”, “papa anjo”, “bolado” no sentido de “doido”, “sonso”, “viajante”<br />
etc.).<br />
Um dos fatores de variação analisados neste estudo foi o gênero sexual. Sobre quais<br />
gírias são mais usadas por meninos e quais pelas meninas, 11 admitiram não existir<br />
diferença entre as gírias utilizadas por meninos e meninas. Entretanto, 29 dos alunos<br />
entrevistados apontaram que as meninas utilizam gírias leves e os meninos gírias<br />
pesadas e palavrões, e que os meninos usam as gírias no sentido depreciativo ou até<br />
mesmo como forma de xingamentos; enquanto as meninas as utilizam como<br />
cumprimento, elogio, no sentido de paquera, ou seja, de forma mais inteligente na visão<br />
delas.<br />
Partindo para o fim das discussões propostas, um importante questionamento que não<br />
poderia deixar de ser feito foi sobre o efeito das instituições midiáticas para os usuários<br />
de gírias. Veja-se a tabela abaixo e posteriores considerações:<br />
126
Você acha que a televisão influencia para que aconteça<br />
um uso maior das gírias?<br />
Nº de<br />
entrevistados<br />
Sim 23 58%<br />
Não 14 35%<br />
Às vezes 02 05%<br />
Não repara 01 08%<br />
Nesta questão, confirmou-se que 58% dos entrevistados acreditam que a televisão<br />
influencia para que aconteça um uso maior das gírias, 35% disseram que a televisão não<br />
influencia o uso deste tipo de linguagem e 5% que às vezes ocorre influência da<br />
televisão quanto ao uso de gírias. Apenas 8% dos entrevistados disseram que não<br />
reparam a influência que a televisão possa ter em relação ao uso de gírias por parte dos<br />
adolescentes. Nesse caso, constatou-se que a maioria dos entrevistados concorda que a<br />
televisão tem contribuído para um maior uso de gírias na linguagem dos adolescentes.<br />
Através deste questionário foi possível concluir que os adolescentes, em sua maioria,<br />
não têm se preocupado com o que os outros pensam em relação ao uso das gírias que<br />
são utilizadas em sua linguagem, e que as respostas dadas por eles passavam segurança,<br />
mesmo eles percebendo que, em muitas vezes, são discriminados por pessoas não<br />
pertencentes aos seus grupos como família, professores e adultos em geral.<br />
As respostas facilitaram nosso entendimento dos motivos que os levam a fazerem das<br />
gírias a sua linguagem própria de comunicação, e por que elas aparecem como um meio<br />
de se expressar de forma descontraída e, muitas vezes, marcante, uma vez que essa<br />
forma de linguagem é característica de falantes da faixa etária analisada.<br />
Ao iniciar o estudo sobre as gírias utilizadas pelos adolescentes na faixa etária de doze<br />
anos, tomando como direção a análise dos vários tipos de gírias e seus respectivos<br />
significados e a variação linguística, alguns fatores eram previstos no que se diz respeito<br />
ao comportamento dos adolescentes e o uso da linguagem que eles utilizam.<br />
%<br />
127
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Com a aplicação da entrevista, foi possível constatar que apesar de o assunto ser o<br />
mesmo para os adolescentes, cada um expressava seus sentimentos através das respostas<br />
sem nenhum constrangimento pelo fato de o assunto ser visto por muitos como algo<br />
polêmico.<br />
Notou-se que eles gostaram do assunto, tanto na pesquisa que fizeram quanto nas<br />
atividades que foram trabalhadas com eles em sala de aula. Por meio das respostas que<br />
eles deram na entrevista, foi possível conhecer melhor as gírias e seus respectivos<br />
significados.<br />
A partir da metodologia, dos objetivos alcançados e das atividades que foram realizadas<br />
com esses adolescentes, ficou claro que eles sabem justificar o uso das gírias e seus<br />
significados, assim como também diferenciá-lo da linguagem culta, e que, em alguns<br />
momentos, eles se mostram muito organizados em relação ao uso das gírias, ou seja,<br />
cada gíria tem o seu papel e função no jogo interacional que eles mantêm.<br />
Diante disso, não se pode afirmar que o tipo de linguagem utilizada pelos adolescentes<br />
dessa faixa etária, ou até mesmo de outras, é inadequado ou que somente a norma culta<br />
é aceitável e correta, uma vez que esse tipo de linguagem tem se expandido não somente<br />
aos grupos de adolescentes, mas também a outros grupos. Para isso, é importante que<br />
ambos os grupos respeitem as características do outro.<br />
Através desta pesquisa, percebeu-se que, em algumas situações, as gírias trazem um<br />
significado aceitável e até mesmo divertido. Porém, não quer dizer que ela deva<br />
dominar todo o espaço da linguagem na sociedade, mas que existe um equilíbrio e troca<br />
de vocabulário entre os grupos de adolescentes e aqueles que defendam a língua culta<br />
para que haja um melhor entendimento entre ambos.<br />
Nessa perspectiva, é importante ressaltar que os adolescentes estão cientes de que a<br />
linguagem utilizada por eles sofre preconceitos, vindo muitas vezes da sociedade que é<br />
bastante conservadora. Entretanto, eles também estão na busca de defender esse tipo de<br />
128
linguagem, conquistando o seu espaço para que também possam ser reconhecidos e<br />
respeitados como seres sociais e usuários competentes da língua.<br />
Dessa maneira, assim como os adolescentes estão passando por processo de mudança, a<br />
língua também utilizada não só por eles, mas pela comunidade de falantes que dela se<br />
utilizam para seus propósitos comunicacionais, varia de grupo para grupo e de pessoa<br />
para pessoa. Qualquer diferença no uso da língua está relacionada à nossa sociedade e à<br />
cultura na qual se encontra inserida, tornando a linguagem mais variada.<br />
Portanto, sempre haverá grupos diferentes e, por assim serem, sofrem variações<br />
linguísticas que estão sujeitas a serem ou não aceitas pela sociedade. O importante é que<br />
os grupos de defesa saibam respeitar e ao mesmo tempo procurem conhecer melhor o<br />
tipo de linguagem de cada um e até mesmo que façam trocas de vocabulário para evitar<br />
conflitos. Uma vez que a língua utilizada por todos está sempre sofrendo modificações,<br />
é fundamental saber usá-la independentemente do grupo a que pertence, pois ela um<br />
bem público da comunidade de falantes.<br />
Se a língua permite variações, façamos uso dela de acordo com nossas necessidades,<br />
mas sempre respeitando os diferentes espaços sociais. Assim, usar gírias numa roda de<br />
amigos, tudo bem. Mas em uma entrevista de emprego, veja.<br />
6 REFERÊNCIAS<br />
BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação<br />
linguística. São Paulo, Parábola Editorial, 2007 [1961].<br />
CARDONA, Giorgio Raimundo. Diccionario de linguística. Barcelona: Ariel, 1991.<br />
CUNHA, Celso Ferreira da. Em torno dos conceitos da gíria e calão: sob a pele das<br />
palavras. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Academia Brasileira de Letras, 20<strong>04</strong>.<br />
PRETI, Dino. Inclusão e exclusão social pela linguagem: a gíria de grupo. In: BENTES, A.<br />
C.; LEITE, M. Q. (orgs.). Linguística de texto e análise da conversação: panorama das<br />
pesquisas no Brasil. São Paulo: Cortez, 2010.<br />
______. Léxico na língua oral e escrita. Projetos paralelos. NURC\SP. Ed. Humanitas,<br />
pp. 48-49, 2003.<br />
129
______. Sociolinguística: os níveis da fala. São Paulo: Edusp, 2000.<br />
RIBEIRO, Simone Nejaim. A língua do adolescente: linguagem especial ou gíria? In<br />
Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. Disponível em<br />
acesso em 14/<strong>04</strong>/06.<br />
SILVA, Fábio Lopes & MOURA, Heronides Maurílio de Melo. O direito à fala: a<br />
questão do preconceito linguístico. Florianópolis/SC: Insular, 2000.<br />
SILVEIRA, Elizabeth. O aluno entende o que se diz na escola. São Paulo: Ed. Dunya,<br />
1997.<br />
STELLA, Lea Poiano. Tá tudo dominado: a gíria das prisões. Dissertação (Mestrado)<br />
– Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2003.<br />
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de<br />
gramática. São Paulo: Cortez, 2003.<br />
130
VIOLÊNCIA ESCOLAR<br />
RESUMO<br />
131<br />
Ana Paula dos Santos 41<br />
Giovani Souza Salles 42<br />
Diante do crescente aumento da violência no ambiente escolar nas últimas décadas, este<br />
artigo tem como objetivo estudar os motivos dessas mudanças, a influência da dinâmica<br />
da sociedade contemporânea e as práticas escolares como molas propulsoras da<br />
violência nesse contexto, trazendo suas várias formas dentro dos muros das escolas.<br />
Para uma compreensão crítica da situação, o artigo além das pesquisas de seus autores<br />
está baseado nos estudos de vários escritores, estudiosos da evolução da sociedade, seus<br />
costumes e práticas sociais. Através da história da sociedade, destaca a influência do<br />
capitalismo na formação do cidadão. O artigo ainda, procura dar ênfase ao Bullying que<br />
hoje se tornou um dos problemas mais freqüentes nas escolas, destacando o papel da<br />
comunidade escolar no combate a esse mal.<br />
PALAVRAS-CHAVE: Violência – escola – aumento - práticas escolares<br />
ABSTRACT<br />
Due to the increase in violence within the school environment during the last decade,<br />
this article studies the reasons for such behavior, the influence of the contemporary<br />
society and classroom practices as precursors for such violence in its many different<br />
types. To enable a critical analysis of the situation this article is based on its author’s<br />
researches as well as other studies performed on the issues of society evolution, its<br />
habits and social practices. Throughout history of society it highlights the influence of<br />
capitalism in the formation of a citizen. Moreover, the article emphasizes Bullying as it<br />
has become one the most frequent problem in schools and the role of the school in<br />
avoiding such practice.<br />
KEYWORDS: Violence - school - increase - practical pertaining to school<br />
41 Pós-Graduanda do Curso de Psicopedagogia Institucional da Faculdade Capixaba da<br />
Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES.<br />
42 Pós-Graduando do Curso de Psicopedagogia Institucional da Faculdade Capixaba da<br />
Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.
1 INTRODUÇÃO<br />
O objetivo de abordar a temática proposta no artigo é compreender a problemática da<br />
violência em seus aspectos pontuais no ambiente escolar, ao conceituar a palavra<br />
“violência” e expandi-la para o universo escolar, destacando os tipos de violência dentro<br />
e fora das escolas e, em especial o Bullying. Além de fazer um retrato da violência e<br />
das suas conseqüências no cotidiano, destaca-se o papel do educador inserido nesse<br />
contexto, como um agente essencial na compreensão, reflexão, diálogo e solução das<br />
questões.<br />
Toda a argumentação do texto estrutura-se numa abordagem qualitativa e com um<br />
caráter etnográfico, pautada nos estudos realizados por pesquisadores e diversas fontes<br />
de pesquisas, entre elas: artigos em periódicos, livros, working papers, teses e<br />
entrevistas, para dar sustentação a este artigo. Pois, ao tratarmos de um assunto de<br />
importância e influência dentro e fora das escolas, não poderíamos fazer relatos isolados<br />
de pequenos campos, mas uma abordagem ampla e adequada com reflexo social.<br />
Com as mudanças nos meios sociais, drasticamente as escolas estão sendo atingidas,<br />
com isso, muitos estudiosos descrevem esse assunto em seus livros e pesquisas, a fim de<br />
diagnosticar e orientar a comunidade escolar sobre estes fatos. Além dos materiais<br />
escritos, a mídia repercuti o assunto em grande proporção, sendo essa de grande<br />
relevância para a estruturação deste texto.<br />
Ao destacar os reflexos da sociedade nos ambientes escolares, o artigo aborda às<br />
variáveis já identificadas em pesquisas como associadas à manifestação da violência<br />
escolar, como: porte da cidade, tamanho do estabelecimento, desigualdade social, etc.<br />
Esta panorâmica permite observar, além do crescimento constante nos índices de<br />
violência escolar, a sua disseminação, e também, o agravamento do problema, em<br />
virtude das formas de manifestação que se tornam cada vez mais explícitas e pessoais.<br />
132
2 DESENVOLVIMENTO<br />
2.1 A VIOLÊNCIA<br />
Antes de conceituar a violência é necessário tratarmos do fator histórico dela na<br />
sociedade. A violência sempre existiu nos grupos sociais, independente do tamanho<br />
desse grupo. Vários fatores históricos respaldam essa afirmativa. Freud afirma que, “o<br />
homem tem uma predisposição inata para a violência, nasce e cresce em um ambiente<br />
violento, porque também a sociedade é violenta”.<br />
Sendo nossa sociedade capitalista, buscou-se em Karl Marx explicações para a violência<br />
social. De acordo com Marx (1973, p.18), “O capital não tem pátria, vai onde encontra<br />
boas colocações. Se a exploração burguesa se converteu, necessariamente, pelo fato do<br />
desenvolvimento econômico, em exploração internacional; se não conhece raças nem<br />
fronteiras, exercendo-se indiferentemente onde quer que haja que roubar, ao mesmo<br />
tempo em que a intervenção governamental se declara em seu favor, em frente ao<br />
cosmopolitismo financeiro, da internacional amarela, o internacionalismo operário se<br />
levanta, correspondendo ao verdadeiro antagonismo dos interesses que estão em jogo”.<br />
A ação do capitalismo na sociedade deflagrou uma divisão de classes de forma desigual,<br />
criando uma classe operária que dispunha de poucos recursos para sua sobrevivência. A<br />
partir do crescimento de uma população de baixa renda, onde sua força de trabalho<br />
passou a ter valor de moeda, a disputa no mercado tornou-se acirrada e,<br />
consequentemente, a escassez de postos de trabalho, criou uma classe marginalizada,<br />
capaz de atitudes extremas para atender suas necessidades. Uma mola geradora da<br />
violência social. Conforme cita Libâneo: “A vida contemporânea afeta as práticas de<br />
convivência humana, as pessoas estão mais isoladas e mais egoístas, há muito mais<br />
violência, as crianças estão mais impacientes e mais dispersivas na sala de aula”.*<br />
Para Marx, o que distingue o ser humano dos outros animais, é o fato que ele, em algum<br />
momento da história, começa a produzir os seus meios de existência. O que o ser<br />
humano é coincide com “o que” e “como” ele produz, então é a vida concreta e real que<br />
133
determina a consciência. Assim, “O que os indivíduos são, portanto, depende das<br />
condições materiais de sua produção” (MARX; ENGELS, 1999, p. 28).<br />
A partir desse breve relato do contexto social, é possível conceituar a violência, sendo<br />
que esta requer interpretações diversas e abarque o maior número de condicionantes<br />
para ter-se uma visão holística do cenário estabelecido em nosso entorno e não se deixar<br />
cair na banalização. Abramovay (2006, p.54), afirma: “ao mesmo tempo em que a<br />
violência, hoje, se torna espetacular, notícia, diversos atos se entranham pelo cotidiano,<br />
tomando a forma ora de conflito, ora de altercações que se acercam do fatal e que<br />
provocam dor, mas que se naturalizam em comportamentos e práticas sociais que<br />
muitas vezes passam despercebidos. Nem sempre a violência se fundamenta em crimes<br />
e delitos, mas ela permeia nosso cotidiano, nossas mentes e almas na forma de um<br />
sentimento de insegurança. Ou seja, não necessariamente se fazem necessárias provas,<br />
corpos para configurar algo como violência e neste momento é quando nos violentamos,<br />
alterando gostos, hábitos e prazeres, práticas culturais, ou seja, nos disciplinando por<br />
medos”.<br />
Observando outra conceituação conforme cita Abramovay (2006) apud (Michaud,1989,<br />
10 e 11). Esse escreve:<br />
134<br />
Há violência quando, em uma situação de interação, um ou vários atores<br />
agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma<br />
ou mais pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, em suas<br />
posses ou em suas participações simbólicas e culturais.<br />
No contexto desta temática, abre-se espaço para as várias violências que são crescentes<br />
no nosso cotidiano e com isso, fechando-se o espaço do diálogo, do entendimento, de<br />
reconhecer o outro, do olhar atento aos mais fracos e a proteção destes, e porque não um<br />
olhar de compaixão.<br />
As manifestações de violência confrontam-se com os valores anteriormente adquiridos<br />
nos lares e até mesmo com os professores, pois quando utilizasse de atos violentos os<br />
agressores exercem sobre os outros a força, estampando o falso poder e com isso,<br />
negam a dignidade humana.
A violência escolar, apesar de crescente, há pouco tempo começou a fazer parte dos<br />
levantamentos estatísticos, conforme escreve no artigo: “Um breve balanço da pesquisa<br />
sobre violência escolar no Brasil”. De acordo com Sposito (2001), “o único<br />
levantamento nacional que abordou o tema da violência escolar, publicado em 1998,<br />
traz um retrato bastante sugestivo, embora tenha sido decorrente de uma investigação<br />
realizada apenas com professores. Identificam-se três tipos de situações mais<br />
freqüentes: as depredações, furtos ou roubos que atingem o patrimônio, as agressões<br />
físicas entre os alunos e as agressões de alunos contra os professores.<br />
Conforme a Lei Federal nº 9.394/96 (LDB), art. 2o: “a educação ... tem por finalidade o<br />
pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua<br />
qualificação para o trabalho.”<br />
2.2 TIPOS DE VIOLÊNCIA E O LINK ESCOLA<br />
A violência que as crianças e os adolescentes exercem, é antes de tudo, a que seu meio<br />
exerce sobre eles. A criança reflete na escola as frustrações do seu dia-a- dia. É neste<br />
contexto que destacamos os tipos de violência praticados dentro da escola.<br />
Violência contra o patrimônio - é a violência praticada contra a parte física da escola. "<br />
É contra a própria construção que se voltam os pré-adolescentes e os adolescentes,<br />
obrigados que são a passar neste local oito ou nove horas por dia." COLOMBIER et<br />
al.(1989)<br />
Violência doméstica - é a violência praticada por familiares ou pessoas ligadas<br />
diretamente ao convívio diário do adolescente.<br />
Violência simbólica - Segundo Bourdier e Passeron (1982), todo poder de violência<br />
simbólica, isto é, todo poder que chega a impor significações e a impô-las como<br />
legítimas, dissimulando as relações de força que estão na base de sua força é o que<br />
compõe o arcabouço para que a sociedade em toda suas instâncias imponha algum tipo<br />
de força legitimada sobre aqueles que estão nos seguimentos mais fracos. No que tange<br />
135
a escola, esta é também o campo de reprodução dessa sociedade. É na escola que a<br />
violência simbólica exerce sua ação sobre o aluno quando o anula da capacidade de<br />
pensar e o torna um ser capaz somente de reproduzir. A violência simbólica é a mais<br />
difícil de ser percebida porque é exercida pela sociedade quando esta não é capaz de<br />
encaminhar seus jovens ao mercado de trabalho, quando não lhes oferece oportunidades<br />
para o desenvolvimento da criatividade e de atividades de lazer; quando as escolas<br />
impõem conteúdos destituídos de interesse e de significado para a vida dos alunos; ou<br />
quando os professores se recusam a proporcionar explicações suficientes, abandonando<br />
os estudantes à sua própria sorte, desvalorizando-os com palavras e atitudes de<br />
desmerecimento. (ABRAMOVAY ; RUA , 2002, p.335) “...a violência simbólica<br />
também pode ser contra o professor quando este é agredido em seu trabalho pela<br />
indiferença e desinteresse do aluno.”<br />
Violência física - Brigar, bater, matar, estuprar, roubar, assaltar, tiroteio, espancar,<br />
pancadaria, andar armado e até participar de atividades em gangues.<br />
Compreende-se através da descrição dos diversos tipos de violências que o universo<br />
escolar precisa preparar-se e amparar-se de toda a comunidade escolar, pois não é<br />
possivel um trabalho sem o envolvimento de pais, professores e alunos, sendo preciso<br />
que a escola possibilite em seu contexto relações sociais significativas e transforme seu<br />
espaço, em um espaço de construção de identidades coletivas, em busca do bem<br />
comum.<br />
2.3 BULLYING<br />
Conforme revista Nova Escola in matéria: Gestão Escolar “O que é bullying” (2009).<br />
Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou<br />
físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais<br />
colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão,<br />
brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania,<br />
opressão, intimidação, humilhação e maltrato.<br />
136
Bullying corresponde a um conjunto de atitudes de violência física e/ou psicológica que<br />
ocorrem nas instituições de ensino. É um tipo de agressão intencional, que ridiculariza,<br />
humilha e intimida suas vítimas.<br />
Os profissionais da educação envolvidos nos diversos tipos de ambientes escolares<br />
precisam preparar-se para detectarem os possíveis problemas e saberem lidar com as<br />
situações que podem ser geradas.<br />
A escola como instituição deve ter ampla abertura para que todos tenham acesso<br />
conforme LDB, receba todas as pessoas com os seus problemas. “A escola como<br />
instituição provedora da educação formal, com objetivo de adquirir conhecimentos<br />
científicos e formando a capacidade de pensar criticamente os problemas e desafios<br />
postos pela realidade” (Libâneo, 1990).<br />
No estado de São Paulo, foi criado um Núcleo de pesquisa sobre Bullying na FMU<br />
(Faculdades Metropolitanas Unidas), com o intuito de analisar e levantar dados sobre<br />
a situação vivenciada dentro das escolas, a partir dos estudos, durante o primeiro<br />
semestre, foi lançada a “Cartilha Bullying”. A Cartilha Bullying começou a ser<br />
distribuída gratuitamente nas escolas públicas e privadas do Estado de São Paulo e aos<br />
demais interessados. Como outras realizações ocorridas em diversas áreas de prestação<br />
de serviços à comunidade, essa iniciativa é uma colaboração para auxiliar a sociedade a<br />
superar este grave problema.<br />
Hoje, em nosso estado, várias escolas têm debatido com seus professores, pais e alunos<br />
sobre a temática; montando projetos de prevenção para evitar tais atos. A doutora em<br />
educação e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Cleonara<br />
Schwartz, acredita que a violência na escola é reflexo da sociedade. “Uma analise que<br />
eu faço como professora é que essa violência não é algo gratuito. Acompanha o<br />
movimento da sociedade. A violência aumentou de diferentes tipos e o problema já<br />
transcende os limites da escola, é um problema social. De geração de renda, de<br />
desigualdade, além disso, entra a questão do tráfico que se aproveita disso e faz um<br />
outro tipo de trabalho que vai subsidiar as carências da população de baixa renda”,<br />
falou.<br />
137
A professora também acredita que o Estado possui muitas famílias em situação de risco,<br />
o que favorece esse tipo de ocorrência. “Há um grande contingente de famílias no nosso<br />
Estado que recebe bolsa família, isso significa que temos um grande número de jovens<br />
em situação de risco social. Daí esse problema chega até a escola. Antes de entrarem na<br />
escola eles têm uma vida e trazem tudo para dentro da escola, esse problema da<br />
desigualdade, tudo que tem sido preenchido pelo tráfico, pela bandidagem. Não dá para<br />
falar que o fato da criança entrar armada na escola é problema da escola e sim social”,<br />
afirmou.<br />
2.4 O PAPEL DO EDUCADOR<br />
Para ensinar, além de ser conhecedor dos conteúdos curriculares, o educador precisa ser<br />
um grande conhecedor dos valores morais e éticos, a fim de influenciar positivamente<br />
na formação moral de seus alunos.<br />
O papel do educador nessa transformação é fundamental, pois a construção de limites, a<br />
formação continuada dos professores sobre a questão da indisciplina e a criação de um<br />
ambiente que promova acolhimento em sala de aula, estão entre as ações prioritárias<br />
para construir escolas positivas. Tendo apoio do governo, garantindo verbas para a<br />
educação, melhorando a qualidade do ensino e promovendo políticas públicas sociais<br />
para diminuir as desigualdades sociais.<br />
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
Pode-se concluir através desse artigo que o educador diante de tantos desafios que o<br />
permeia no ato de ensinar, não está paralisado diante deste fenômeno social, buscando<br />
refletir, debater, formar opinião nos espaços sociais. Devemos buscar proposições que<br />
nos levam a refletir e buscar junto aos pares e a toda comunidade, soluções para levar a<br />
cultura de paz para dentro dos muros da escola e para fora dela, pois a escola tem a<br />
138
capacidade de não só passar conhecimentos científicos, mas formar pessoas com<br />
capacidade de pensar criticamente os problemas e desafios postos pela realidade social.<br />
O poder público não deve se omitir, garantindo mais verbas para a educação,<br />
melhorando a qualidade e ao mesmo tempo promovendo políticas públicas sociais e de<br />
renda para diminuir as desigualdades sociais, dando mais expectativas para o jovem<br />
para o mesmo não ingressar no mundo das drogas e outros caminhos perniciosos.<br />
4 REFERÊNCIAS<br />
ABRAMOVAY, Miriam; et alli. Cotidiano das escolas: entre violências – Brasília:<br />
UNESCO, Observatório de Violência, Ministério da Educação, 2005. 4<strong>04</strong> p. ISBN: 85-<br />
7652-057-5.<br />
ABRAMOVAY, Miriam; RUA, Maria das Graças - Violência nas escolas. Ed.Unesco,<br />
doações institucionais.<br />
ABRAMOVAY, Miriam ; et alli - Gangues , galeras, chegados e rappers. RJ, Ed.<br />
Garamond , 1999.<br />
BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A Reprodução, Rio de Janeiro,<br />
Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1982<br />
BRASIL. Lei N° 9394/96 de 20 de <strong>Dezembro</strong> de 1996. Estabelece as Diretrizes e<br />
Bases da Educação Nacional. Brasília: Senado Federal, 1996.<br />
COLOMBIER,Claire; MANGEL,Gilbert; PERDRIAULT,Marguerite. A violência na<br />
escola. São Paulo, Ed.Summus,1989.<br />
FREUD, Anna (1987). Infância normal e patológica (determinantes do<br />
desenvolvimento). 4ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara.<br />
LIBÂNEO, José Carlos. Perspectiva de uma Pedagogia emancipadora face às<br />
transformações do mundo contemporâneo. Pensar a Prática, 1:1-21, jan./jun.1998.<br />
Entrevista concedida a Nogueira David<br />
______. Democratização da Escola Pública: a pedagogia crítico-social dos<br />
conteúdos. São Paulo: Loyola, 1990.<br />
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. 11. ed. São Paulo: Hicitec, 1999<br />
MARX, Karl. O Capital - edição resumida. Ed. Ediouro, RJ, 1973.<br />
WEBGRAFIA<br />
MELLO, Victor. Banalização da violência faz crescer número de crimes nas escolas<br />
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