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Edição 04 Revista Espaço Acadêmico Julho a Dezembro ... - Serravix

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ISSN 2178-3829


Faculdade Capixaba da Serra - <strong>Serravix</strong><br />

v. 02 n. <strong>04</strong> <strong>Julho</strong> a <strong>Dezembro</strong> de 2011 - Semestral<br />

Diretor Executivo<br />

Tadeu Antônio de Oliveira Penina<br />

Diretora Acadêmica<br />

Eliene Maria Gava Ferrão<br />

Coordenador Financeiro<br />

Fábio Oniz Carloni<br />

Coordenadora Acadêmica<br />

Carina Sabadim Veloso<br />

Coordenadores de Curso<br />

Ciência Política; História<br />

Carina Sabadim Veloso<br />

Letras e Pedagogia<br />

Maria Aparecida Bigossi Lacerda<br />

ESPAÇO ACADÊMICO<br />

Administração; Ciências Contábeis; Matemática e Secretariado Executivo<br />

Géssica Germana Fonseca<br />

Engenharia Civil; Engenharia de Controle e Automação<br />

Christiany Loss Rigo<br />

Serviço Social<br />

Aline Fardin Pandolfi<br />

Bibliotecária<br />

Luciana Henrique Fernandes<br />

Presidente da Comissão Editorial<br />

Eliene Maria Gava Ferrão<br />

Comissão Editorial<br />

Eliene Maria Gava Ferrão<br />

Carina Sabadim Veloso<br />

Oscar Omar Carrasco Delgado<br />

Endereço para correspondência<br />

Coordenação Acadêmica<br />

Avenida Desembargador Mário da Silva Nunes, nº 1000 – Jardim Limoeiro<br />

29164-240 – Serra – ES<br />

e-mail: carinav@serravix.com.br<br />

Capa<br />

Alex Cavalini Pereira<br />

<strong>Espaço</strong> <strong>Acadêmico</strong> / Faculdade Capixaba da Serra / – Serra: (julh/dez. 2011).<br />

Semestral<br />

ISSN 2178-3829<br />

1. Produção científica – Faculdade Capixaba da Serra. II. Título


A R T I G O S<br />

ESPAÇO ACADÊMICO<br />

SUMÁRIO<br />

Avaliar no Processo de Ensino Aprendizagem nas Aulas de Educação Física: Uma<br />

Reflexão..........................................................................................................................06<br />

Adriano de Almeida Santos<br />

Andreia de Almeida Santos<br />

Gisele Lobão Medeiros<br />

Vanessa Gomes de Morais<br />

O Novo Currículo de História das Escolas Estaduais do Estado do Espírito<br />

Santo.........................................................................................................................22<br />

Valdirene Coutinho<br />

Vinicius Teixeira Henriques<br />

A Construção da Noção de <strong>Espaço</strong> Geográfico na Criança por Meio do Uso dos<br />

Mapas em Sala de Aula.................................................................................................35<br />

Anderson Oliveira Gadioli<br />

Ernandes de Oliveira Pereira<br />

Renata Bourguignon Carminati<br />

Selma Lúcia de Assis Pereira<br />

O Perfil do Aluno da EJA e suas Pretensões<br />

Educacionais..........................................................................................................48<br />

Cristiane da Silva Lidorino Dumond<br />

Daniela Coutinho D’Ávila de Almeida<br />

Pâmela Endringer Ribeiro<br />

A Prática da Interdisciplinaridade no Âmbito Escolar.............................................60<br />

Gilcimar do Nascimento Gonçalves<br />

Giselle de Figueiredo Bachi Cheroto<br />

Ilzineli de Aguiar Fazolo<br />

Rita de Cássia Martins<br />

A Questão da Evasão Escolar: Uma Reflexão Situacional no 1º Ano do Ensino<br />

Médio Noturno em Escolas de Ensino Público...........................................................73<br />

Adenilson Mendes dos Santos<br />

Edma Santos Pereira<br />

Roberto Márcio da Silveira<br />

Virgínia Rita dos Santos Silva


Lecionar: Dificuldades Encontradas pelos Docentes Homossexuais........................89<br />

Edineia Cristina Bortolim Altoé Oliveira<br />

Marina Rodrigues Suhett de Rezende<br />

Marlúsia Bortolini D’Ávila<br />

Oscar Omar Carrasco Delgado<br />

O Ensino de História na Educação de Jovens e Adultos: O Professor Mediador do<br />

Processo de Formação Crítica....................................................................................102<br />

Adriano Pereira dos Santos<br />

Edimar Pereira das Neves<br />

Lidiane Andreati<br />

Vitor Correa Lima<br />

O Emprego das Gírias Entre Adolescentes: Estudo de Caso em uma Escola Pública<br />

em Cariacia (ES)...................................................................................................115<br />

Adriana Oliveira Silva Carreiro<br />

Michelle Ferreira Ruela Alves<br />

Viviana Carla Lucas<br />

Violência Escolar.........................................................................................................131<br />

Ana Paula dos Santos<br />

Giovani Souza Salles<br />

ISSN 2178-3829


AVALIAR NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM NAS AULAS DE<br />

EDUCAÇÃO FÍSICA: UMA REFLEXÃO<br />

6<br />

Adriano de Almeida Santos 1<br />

Andreia de Almeida Santos 2<br />

Gisele Lobão Medeiros 3<br />

Vanessa Gomes de Morais 4<br />

RESUMO<br />

Este artigo objetiva o estudo da avaliação no processo de ensino-aprendizagem no<br />

âmbito escolar, entendendo um pouco sobre este universo que envolve os<br />

conhecimentos e metodologias que os professores já utilizaram e ainda utilizam ainda<br />

hoje nas escolas. O objetivo é o de descrever e apresentar ao leitor alguns elementos<br />

para a compreensão do tema abordado, em seu âmbito histórico, também o seu<br />

funcionamento nos dias de hoje, e como os professores tem se utilizado desta<br />

ferramenta para ensinar seus alunos. Sua importância deve-se ao fato de que a avaliação<br />

é um importante instrumento da educação escolar, e busca-se compreendê-la melhor,<br />

afim de, expor aquilo que ela oferece de melhor para a formação do aluno, trazendo<br />

assim por conseqüência o maior aproveitamento possível de conteúdos das disciplinas<br />

escolares.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Avaliação, Ensino-aprendizagem, educação física.<br />

ABSTRACT<br />

This article aims at the study of the evaluation in the teaching-apprenticeship process in<br />

the school extent, understanding a little on this universe that it wraps the knowledges<br />

and methodologies that the teachers already used and they still use still today in the<br />

schools. The objective is it of describing and presenting to a reader some elements for<br />

the understanding of the boarded subject, in your historical extent, also your functioning<br />

on the days of today, and like the teachers it has if used of this tool to teach your<br />

students. Your importance is due to the fact that the evaluation is an important<br />

instrument of the school education, and it is looked to understand it better, similar of, to<br />

expose what she offers of better for the formation of the students, bringing so<br />

consequently the biggest possible use of contents of the school disciplines.<br />

KEY WORDS: Evaluation, Teaching-apprenticeship, physical education.<br />

1 Graduado em Educação Física, Especializado em Educação Infantil. Graduando em Pedagogia pela<br />

Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-Es.<br />

2 Graduada em História, Especializada em Educação de Jovens e Adultos. Graduanda em Pedagogia pela<br />

Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />

3 Graduada em Letras Português/Inglês, Especializada em Educação de Jovens e Adultos. Graduanda em<br />

Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – Serra-ES.<br />

4 Graduada em Letras Português/Espanhol, Especializada em Psicopedagogia. Graduanda em Pedagogia<br />

pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>-ES.


1 INTRODUÇÃO<br />

A avaliação é um tema complexo e que promove discussões acaloradas, que em geral<br />

conduzem os educadores a uma angustiante indagação: como fazer? Todas as<br />

disciplinas do currículo escolar possuem suas formas e métodos de avaliar o<br />

aprendizado dos alunos, mediante os conteúdos que foram trabalhados. Em Educação<br />

Física não é diferente, tendo também como componente curricular seus métodos e<br />

peculiaridades no processo avaliativo.<br />

Pode-se dizer, neste contexto, que a superação do sistema tirano de notas e médias finais<br />

no processo de avaliação escolar, bem como facultar a nota e assumir uma educação em<br />

valores, é o grande desafio para os professores e mestres na atualidade, portanto nosso<br />

objetivo é descrever e apresentar como os educadores percebem e praticam o ato de<br />

avaliar no cotidiano escolar, a fim de investigar e principalmente promover mudanças<br />

significativas na forma de ver, compreender e sentir a avaliação no âmbito escolar.<br />

2 DESENVOLVIMENTO<br />

2.1 ESTÁGIOS DA AVALIAÇÃO<br />

No Contexto escolar, a avaliação tem sido tratada como uma avaliação classificatória,<br />

como nos esclarece Werneck (2001), que ainda hoje na era moderna, não conseguimos<br />

superar o modelo de avaliação como forma de medida de desempenho. Segundo Faria<br />

Júnior (1989), a avaliação em Educação Física ainda está direcionada no sentido de<br />

avaliar o aluno num modelo de classificação e seleção. É nesse sentido que, acreditamos<br />

que a superação do sistema tirano de notas no processo de avaliação escolar, bem como<br />

facultar a nota e assumir uma educação em valores, é o grande desafio para os<br />

professores e mestres na atualidade, pois como nos ilustra Werneck (2001), "estamos no<br />

século XXI e não conseguimos superar a marca da avaliação como medida".<br />

Mesmo com este aspecto classificatório, concordamos com Moreto (2001) quando nos<br />

diz que a avaliação pode se tornar também um momento de aprendizagem, ou seja, um<br />

momento para reflexão e estudo e não um acerto de contas. Estimular o aluno a fazer a<br />

7


auto-avaliação é uma forma de estimulá-los a analisar seus trabalhos, desenvolvendo<br />

seu senso crítico e sua autonomia, assumindo também sua parcela de responsabilidade<br />

no caso de um rendimento insatisfatório.<br />

Segundo Hoffmann (2001), o sentido fundamental da ação avaliativa é o movimento, a<br />

transformação. Nesta fala confirmamos dizendo que o processo avaliativo deve<br />

considerar os objetivos do processo ensino-aprendizagem, ou seja, se os mesmo foram<br />

alcançados; provocando através desse resultado, mudanças comportamentais no aluno,<br />

mudanças essas que inclui atitudes, interesses, modo de pensar e agir, reflexão crítica e<br />

até mesmo adequação social. Assim, em Hoffmann (1998, p. 83) confirmamos que:<br />

Avaliar se configura, portanto, numa atitude eminentemente política e<br />

humana. Só tem sentido, na educação, se for utilizada para proporcionar a<br />

todos conhecer o seu mundo, propiciar prazer e favorecer a auto-descoberta<br />

nos seres humanos. Ela não se justifica, portanto, para punir ou selecionar.<br />

Remetendo-nos ao campo da Educação Física, nos indagamos: Que tipo de prejuízo<br />

pode ser trazido por um modelo de avaliação onde é levado em conta apenas os aspectos<br />

quantitativos ou desempenho físico? Acreditamos que a avaliação deva incluir e trazer o<br />

aluno para dentro do trabalho pedagógico, e não apenas selecionar e excluir aqueles<br />

alunos que tiveram um desempenho menor neste ou naquele teste. Sobre este aspecto,<br />

Pontone (2001) afirma que a avaliação escolar deveria exercer uma função relevante,<br />

uma vez que a escola legitima o êxito e o fracasso baseado nos resultados de suas<br />

avaliações, pois, se a avaliação for realizada desvinculada do processo, pode cometer<br />

injustiças, atribuindo resultados que não condizem aos desempenhos dos alunos,<br />

acentuando as desigualdades sociais.<br />

Acreditamos que o professor deve trabalhar com muito cuidado para que os alunos que<br />

tenham menor desempenho físico ou menos habilidades motoras, não sejam excluídos<br />

das atividades e percam a oportunidade de aprendê-la. Esta realidade pode ser constata<br />

na fala do Coletivo de Autores (1992, p. 99), que assim expõem suas idéias:<br />

Isso pode ser verificado nas vezes em que o professor, durante uma aula, dá<br />

atenção aos considerados ‘mais capazes’ em detrimento dos demais, ou<br />

quando atribui aos alunos a responsabilidade de dividir grupos, equipes,<br />

cabendo isso aos identificados como ‘líderes’ em função de suas<br />

competências e habilidades para a atividade. Verifica-se, ainda, posturas,<br />

8


gestos e manifestações verbais onde o professor, valendo-se de sua<br />

‘autoridade’ implícita ou explícita, classifica os alunos entre os ‘mais’ e<br />

‘menos’ capazes para a realização das atividades.<br />

Hoffmann (1998) defende um modelo de avaliação mediadora e inclusiva. A avaliação,<br />

neste contexto, exige a observação individual de cada aluno, num acompanhamento<br />

permanente do professor e este deve propiciar ao aluno em seu processo de<br />

aprendizagem, reflexões acerca do mundo, tentando propiciar uma formação mais<br />

crítica e participativa. Nestes termos esclarecidos por Hoffman (1998), a Educação<br />

Física tem se preocupado em propiciar a criticidade e a participação?<br />

Respondendo a esta questão, buscamos em Ferreira (2003), que nos deixa claro que<br />

apesar de ser comum a utilização de elementos avaliativos como presença,<br />

pontualidade, participação, uniforme e etc., e constatar-se a realização de avaliações<br />

formais, tais como: testes escritos, apresentação de seminários, entre outros; a ênfase é<br />

dada à assimilação de novos conhecimentos, ou seja, o professor avalia anteriormente os<br />

conhecimentos (ao conteúdo) que o aluno apresenta e depois avalia os conhecimentos<br />

que este assimilou, dando ênfase na qualidade do desenvolvimento e na aprendizagem<br />

ocorrida.<br />

Conforme Diniz e Amaral (2009), no contexto social atual é importante destacar as<br />

necessidades de se buscar formas diferenciadas de ensino, que superem o modelo<br />

tradicional, que exerce papéis e funções problemáticas para a educação democrática que<br />

buscamos. Existe a necessidade de se ampliar o espaço e o conhecimento da Educação<br />

Física escolar e de aprimorarem-se as atuações e formações do corpo docente da área.<br />

Em outras palavras, mais do que reconhecer os problemas que a escola apresenta, existe<br />

a necessidade de se trabalhar em prol da construção de práticas e teorias que<br />

possibilitem mudanças na estrutura tradicional escolar.<br />

Confirmando com Diniz e Amaral (2009); e, Ferreira (2003), os PCNs (BRASIL, 2001)<br />

dizem que a avaliação na Educação Física escolar deve superar os aspectos<br />

biofisiológicos, sugerindo uma avaliação integral do aluno, buscando verificar os<br />

avanços nas dimensões conceituais, atitudinais e procedimentais. É neste sentido e<br />

sentimento que a escola amplia seu espaço, buscando romper com a estrutura tradicional<br />

escolar e implantar inovadoras e democráticas formas de construção do saber e dos<br />

9


elementos que a constituem. Atuando, apesar de apresentar tanto êxitos como fracassos,<br />

não uma mera solução pedagógica e sim como um longo e necessário processo de<br />

resistência de professores, alunos e pais à lógica excludente e seletiva da escola (Freitas,<br />

2003).<br />

Crê-se que não é fácil promover mudanças em um sistema que já é usado há muitos<br />

anos, porém vale lembrar, que a avaliação é processo, e por isso, ainda não está<br />

concluído, e é valido romper com antigos paradigmas que não contribuem com a<br />

legitimação da educação física escolar, com os objetivos da escola e por que não dizer<br />

da sociedade.<br />

2.2 EVOLUÇÃO DO PROCESSO AVALIATIVO ESCOLAR<br />

A história da avaliação remonta de longa data, conforme descreve a professora Lea<br />

Depresbiteris (1999), a avaliação inicia como sinônimo de prova, lembrando que, em<br />

2205 a.C., um imperador chinês examinava seus oficiais a cada três anos, com o<br />

objetivo de promoção ou demissão, principalmente para prover o Estado de homens<br />

capacitados. Na Idade Média, os alunos colocavam moedas no boné do professor,<br />

proporcionalmente à satisfação que tinham com o desempenho do mesmo.<br />

Na década de 40, o termo avaliar era utilizado como sinônimo do termo medir ou<br />

mensurar. Porém, com a evolução da educação essa abordagem educacional que<br />

relacionava avaliação com mensuração, tornou-se mais transparente deixando clara a<br />

limitação do termo mensurar. Pois nem todos os aspectos envolvidos com aprendizagem<br />

podem ser medidos em um ambiente educacional, principalmente aqueles informais<br />

Haydt (2000).<br />

No início dos anos 60 o termo avaliação reapareceu no cenário educacional ganhando<br />

novas dimensões. Este fato ocorreu devido a grupos de estudo organizados nos Estados<br />

Unidos com o propósito de elaborar e avaliar novos programas educacionais. Nessa<br />

época o termo avaliar recebeu o enfoque na área do currículo escolar e somente mais<br />

tarde que veio a enfocar o processo de ensino-aprendizagem Haydt (2000).<br />

10


No decorrer do tempo, principalmente nas décadas de 80 e 90, ocorreram muitos<br />

avanços teóricos e metodológicos no campo da avaliação, como registra Lea<br />

Depresbiteris (1999). Em nossos dias, estamos inserido em uma sociedade em processo<br />

contínuo e acelerado de mudanças, exigindo novos comportamentos dos indivíduos. A<br />

avaliação de aproveitamento estabelece uma importância maior dos aspectos<br />

quantitativos sobre os qualitativos.<br />

Os métodos apresentados nos fazem entender melhor o tipo de processo avaliativo que é<br />

aplicado atualmente. Em comum com a história da avaliação, o modelo aplicado hoje<br />

tem como objetivo verificar se o aluno terá um aproveitamento que lhe garanta uma<br />

promoção de um estágio a outro mais avançado, e utiliza-se de testes e provas para<br />

verificar se o aluno está ou não alcançando os objetivos educacionais propostos pela<br />

escola.<br />

Confiamos que o professor de educação física pode avaliar seus alunos por uma outra<br />

ótica, para isto, o professor deve estar em comunhão com os objetivos do projeto<br />

político pedagógico da escola. Ele pode observar o grau de conhecimento ou habilidade<br />

que o aluno tem sobre determinada atividade, e propor que o aluno execute de acordo<br />

com o que ele professor deseja alcançar. O grande desafio que hoje é colocado para a<br />

avaliação é constituir-se como parte do processo de ensino-aprendizagem, permeando e<br />

auxiliando todo este processo.<br />

Para o desenvolvimento de seu trabalho docente, o educador pode reservar instrumentos<br />

a ele favoráveis, para que, no momento em que necessitar fazer uma reflexão sobre seu<br />

trabalho, possa lançar mão de bons instrumentos e ferramentas dentre estas a avaliação,<br />

para municiá-lo de importantes informações, e assim verificar se a aprendizagem esta de<br />

acordo com os princípios norteadores do projeto político pedagógico.<br />

11


2.3 ENTENDENDO MELHOR A AVALIAÇÃO<br />

A avaliação, para Taylor (1982), um dos primeiros estudiosos do tema diz que, é um<br />

processo que determina em que medida os objetivos educacionais estão sendo<br />

alcançados pelo programa do currículo e do ensino. Como os objetivos educacionais são<br />

essencialmente produzir mudanças nos seres humanos, os objetivos visados são<br />

produzir mudanças no comportamento dos alunos, a avaliação é que vai determinar o<br />

grau que essa mudança está acontecendo realmente no comportamento.<br />

Sendo assim, entendemos que a avaliação tende a ser um reflexo do tipo de sociedade<br />

onde a escola esta inserida, visto que estamos em uma sociedade capitalista, competitiva<br />

em quase todos os sentidos, a avaliação na escola tem refletido a forma classificatória e<br />

excludente de sua sociedade, porém isso não impedi que dentro deste contexto exista os<br />

elementos que possibilitem mudanças. Neste sentido Luckesi (2003, p. 41) afirma que:<br />

Seria um contra-senso que um modelo social e um modelo pedagógico<br />

autoritários tivessem em seu âmago uma prática de avaliação democrática.<br />

Isso não quer dizer que no seio da sociedade conservadora e no contexto de<br />

uma pedagogia autoritária não surjam os elementos contraditórios e<br />

antagônicos que vão possibilitar a sua transformação.<br />

Quando pensamos em um modelo de avaliação que atenda apenas aos interesses sociais,<br />

e onde o aprendizado do aluno não é o mais importante é preocupante. Será que os pais<br />

e professores ensinam seus filhos e alunos a lidar com a frustração de uma nota baixa,<br />

por exemplo, ou será que ainda nesta fase onde acredito que, o ensino deveria servir<br />

para enriquecê-lo de conhecimentos e vivências, é passada toda a pressão e<br />

responsabilidade dele ter boas notas para no futuro ter um bom emprego.<br />

O principal objetivo da avaliação é o diagnóstico, é detectar as dificuldades<br />

da aprendizagem e suas causas, e, quando bem compreendido esse processo<br />

possibilita grandes ganhos à Educação e a aprendizagem do aluno se torna<br />

mais significativa. Na Educação Física a avaliação é, igualmente um<br />

diagnóstico, portanto, deve ter o intuito de detectar possíveis falhas no<br />

processo ensino-aprendizagem (BRATIFISCHE, 2003 p.21).<br />

Como afirma Bratifische (2003) a avaliação é um diagnóstico, na avaliação o professor<br />

utiliza de sua subjetividade, de como ele vê seus alunos, ele demonstra suas concepções<br />

de mundo, sua ética e seu papel na escola. Isso nos demonstra a importância da<br />

12


autonomia na escola, pois a autonomia é necessária para que a escola elabore seu<br />

projeto político pedagógico, e daí a escola trabalha de acordo com suas necessidades e<br />

anseios. Sobre a autonomia, Veiga (1996, p.24) nos relata que:<br />

(...) a ideia de autonomia está ligada à concepção emancipadora da educação.<br />

Para ser autônoma, a escola não pode depender de órgãos centrais e<br />

intermediários que definem a política da qual ela não passa de executora. Ela<br />

concebe seu projeto político-pedagógico e tem autonomia para executá-lo e<br />

avaliá-lo ao assumir uma nova atitude de liderança, no sentido de refletir<br />

sobre as finalidades sociopolíticas e culturais da escola.<br />

Alguns elementos devem ser considerados na construção do projeto políticopedagógico,<br />

para Veiga (2001, p. 11).<br />

• Ser processo participativo de decisões.<br />

• Preocupar-se em instaurar uma forma de organização de trabalho pedagógico de<br />

desvele os conflitos e as contradições.<br />

• Explicitar princípios baseados na autonomia da escola, na solidariedade entre os<br />

agentes educativos e no estímulo à participação de todos no projeto comum e<br />

coletivo.<br />

• Conter opções explícitas na direção de superar problemas no decorrer do<br />

trabalho educativo voltado para uma realidade específica.<br />

• Explicitar o compromisso com a formação do cidadão.<br />

A avaliação é articulada ao projeto político pedagógico, já que, a maneira como a escola<br />

avalia é o reflexo do que se idealiza para os alunos. Na visão do Coletivo de Autores<br />

(1992 p 17):<br />

“(...) a avaliação do processo ensino-aprendizagem está relacionada ao<br />

projeto político pedagógico da escola, está determinada também pelo<br />

processo de trabalho pedagógico, processo inter-relacionado dialeticamente<br />

com tudo o que a escola assume, corporifica, modifica e reproduz e que é<br />

próprio do modo de produção da vida em uma sociedade capitalista,<br />

dependente e periférica.”<br />

Neste contexto, a escola deve repensar as questões de aprendizagem e avaliação como<br />

uma necessidade inerente de transformação da humanidade, bem como dar uma resposta<br />

13


quanto ao perfil de homens que se intenciona formar, de sociedade e mundo que se quer<br />

alcançar, garantindo uma avaliação e aprendizagem significativa. A avaliação da<br />

aprendizagem é um processo complexo e depende dos seus componentes e instrumentos<br />

utilizados para se chegar a uma avaliação. Em termos gerais, avaliação é um processo<br />

de coleta e análise de dados, tendo em vista verifica se os objetivos propostos foram<br />

atingidos.<br />

Por isso, o desejo de uma educação de qualidade leva a questionamentos sobre quais<br />

mudanças são necessárias para melhoria da avaliação, pois ela não deve ter o<br />

papel de apenas atribuir notas, deve também desenvolver no aluno o senso crítico<br />

e sua responsabilidade social para que mais tarde não descubra que a escola pouco<br />

serviu para a sua formação como cidadão. Diante disso, a avaliação é uma<br />

preocupação constante dos professores: a falta de critério no momento da avaliação,<br />

pois o que se nota é que a avaliação é usada para medir e testar o desempenho<br />

dos alunos e não com o objetivo de verificar mudanças comportamentais<br />

ocorridas no aluno em decorrência da aprendizagem; há também a necessidade de<br />

rever-se o que é verdadeiramente avaliar um aluno, para q u e a avaliação não se<br />

torne apenas um respaldo para a aprovação.<br />

Sabe-se que quaisquer mudanças deverão estar fundamentadas por uma reflexão<br />

profunda so bre concepções da avaliação/educação, visto que uma é inerente à outra,<br />

como afirma Hoffmann (2001) que a avaliação é algo essencial para a educação.<br />

Conscientes de que não existe uma verdade absoluta a respeito da avaliação<br />

escolar, e não constitui matéria pronta e acabada, acredita-se que os resultados desses<br />

estudos servirão para análise e reflexão q u e ajudarão a se buscar u ma prática<br />

avaliativa, acreditamos que essa prática é de avaliação libertadora.<br />

2.4 A AVALIAÇÃO NO AMBIENTE ESCOLAR<br />

A avaliação do processo ensino-aprendizagem tem como objetivo verificar o nível de<br />

aprendizagem dos alunos. Para avaliar o professor deve definir os objetos, objetivos,<br />

14


instrumentos, procedimentos, critérios e por fim os resultados são quantificados e<br />

interpretados.<br />

É importante resgatar, a cada avaliação, o indivíduo ou grupo avaliado em relação ao<br />

objetivo para efetuar a melhor escolha dos instrumentos, procedimentos e critérios a<br />

serem utilizados. Essa avaliação leva a uma interpretação mais fidedigna dos dados<br />

obtidos em avaliação.<br />

Avaliar o processo de ensino-aprendizagem dos alunos deve ser mais do que medir ou<br />

mensurar o desempenho dos alunos em determinadas tarefas, o aluno deve ser avaliado<br />

visando seu desenvolvimento como um todo e também o que foi colocado como<br />

proposta no projeto político pedagógico que reflete algumas aspirações da sociedade<br />

onde a escola esta inserida. Além do aspecto objetivo, avaliar deveria se constituir em<br />

um momento de reflexão.<br />

É fundamental ver o aluno como um ser social e político sujeito do seu<br />

próprio desenvolvimento. O professor não precisa mudar suas técnicas, seus<br />

métodos de trabalho; precisa, isso sim, ver o aluno como alguém capaz de<br />

estabelecer uma relação cognitiva e afetiva com o meio circundante,<br />

mantendo uma ação interativa capaz de uma transformação libertadora, que<br />

propicie uma vivência harmoniosa com a realidade pessoal e social que o<br />

envolve (SANT’ÁNNA, 2002, p. 27).<br />

É consenso entre muitos estudiosos da área que não há como excluir o contexto social<br />

do estudante, pois ele influencia no processo avaliativo. O aluno traz consigo um<br />

conhecimento social, construído ao longo da sua vida, que influencia na sua concepção<br />

de mundo e na sua aprendizagem.<br />

Não é correto tomarmos uma decisão sem antes fazer um diagnóstico, e um diagnóstico<br />

sem uma decisão é um processo incompleto. Diagnosticar constitui constatar e<br />

qualificar o objeto da avaliação. Antes de iniciar o processo de avaliação é necessário<br />

constatar o estado do objeto que será avaliado, tendo por base suas propriedades<br />

específicas. Mas, como afirma Sant’Ánna (2002), poucas são aquelas escolas que<br />

informam aos alunos quais os verdadeiros motivos e objetivos dos processos de<br />

avaliação. E quanto a esse fato, a autora coloca um questionamento: “Será que o aluno<br />

reconhece para que serve a avaliação?<br />

15


Afirmamos então que a avaliação escolar é imprescindível, pois serve para orientar e<br />

selecionar, às vezes, para abrir portas para uma colocação profissional, construindo a<br />

imagem de bom ou mau aluno. Nessa tarefa, o professor precisa tomar cuidado; é<br />

preciso superar os preconceitos sociais, evitar o abuso de poder e ter sempre em mente<br />

que o que importa no final, é o desenvolvimento de uma pessoa.<br />

Desse modo, a avaliação que se pensa não pode ser um instrumento de classificação ou<br />

de exclusão social e sim uma ferramenta para professores comprometidos com a<br />

construção coletiva de uma escola de qualidade para todos, devendo ser resultado de<br />

uma discussão honesta e transparente entre todos envolvidos.<br />

No contexto das aulas de Educação Física, a avaliação deve ser uma ação integradora e<br />

deve conceber o conhecimento como apropriação do saber pelo aluno e também pelo<br />

professor, como ação-reflexão-ação em direção a um saber aprimorado, enriquecido,<br />

carregado de significados e de compreensão.<br />

2.5 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA<br />

Compreendemos que avaliar é um procedimento que utiliza durante todo o tempo, os<br />

julgamentos e estimativas sempre necessárias. A avaliação como procedimento de<br />

análise de aprendizagem deve ter como principal objetivo reunir indícios sobre o<br />

processo de ensino-aprendizagem, permitindo desta forma que, os métodos utilizados<br />

possam ser modificados ou não de acordo com os resultados obtidos.<br />

Na Educação Física Escolar utiliza-se uma metodologia de avaliação direta e linear,<br />

entendendo por esta que, o aluno é avaliado todos os dias e a partir de seu ponto de<br />

origem, pois sabe-se que as aptidões físicas são individuais e que determinados alunos<br />

tem uma facilidade para aprender movimentos e gestos esportivos. Para tanto, a<br />

avaliação nas aulas de Educação Física permitem que o método de ensino possa ser<br />

modificado de acordo com o nível da turma, pois cabe ao professor criar situações que<br />

permita um real desenvolvimento de todos, principalmente daqueles que tem mais<br />

dificuldade.<br />

16


Demo (2005) expõe em suas palavras que a avaliação deve orientar o ensino, integradas<br />

ao processo de ensino-aprendizagem, e não simples formas de provas periódicas e que<br />

apenas rotulam determinado aluno.<br />

Percebe-se, neste contexto, que a avaliação é como um processo dividido em etapas,<br />

onde o primeiro ato de avaliar compreende analisar o ponto de partida do aluno, seu<br />

nível motor, suas habilidades e suas dificuldades; e, a partir desta análise, traçar um<br />

método de ensino que contribua para o desenvolvimento de toda a turma, onde a<br />

avaliação passa a ser um processo intrínseco do ensino.<br />

O importante é avaliar para dar a todos a oportunidade de aprender. Só assim<br />

formaremos as pessoas ligadas em seu tempo. Se avaliar é sinônimo de<br />

melhorar, esta melhoria se refere ao aluno, ao currículo, ao professor e, em<br />

definitivo à escola (CAMPOS, 2009, p. 2).<br />

O processo de avaliar, não pode entender o ato de avaliar apenas como um<br />

procedimento, este é mais global devendo ser tratado como tal. Avaliar significa buscar,<br />

e a busca inicia-se em conhecer o alunado, saber seu nível de capacidade e de<br />

habilidades. E, por essa análise, traçar métodos de ensino que irão sim, colaborar para o<br />

desenvolvimento da turma.<br />

Demo (2005) sintetiza que, em qualquer circunstância, avaliações são meio ou<br />

confirmação do trabalho docente, nunca sua razão de ser. Assim, devem ser vistas como<br />

recursos para aprender e ensinar melhor, nunca temidas como sentenças, nem pelos<br />

alunos nem por nós. Portanto, o ato de avaliar não é apenas um procedimento e sim um<br />

processo, que não visa rotular os bons e os ruins, mas sim orientar a prática pedagógica<br />

e permitir uma análise de todo o processo de ensino-aprendizagem.<br />

3 METODOLOGIA<br />

Como foi mencionado anteriormente, aborda-se uma pesquisa bibliográfica de caráter<br />

exploratório e qualitativo dos dados. Exploratório porque avança sobre um terreno<br />

importante mostrando não apenas a complexidade do tema abordado, mas também,<br />

buscamos contribuir para a construção de novos conhecimentos.<br />

17


A pesquisa bibliográfica compreendeu o levantamento de referências sobre o tema<br />

estudado junto a estudiosos e pesquisadores na área da educação. Foram pesquisados<br />

apenas autores nacionais, tratando especificamente da avaliação na disciplina educação<br />

física, a pesquisa tratou da avaliação como um todo, trazendo um pouco de sua história,<br />

sua aplicação no ambiente escolar e um pouco da relação que ela tem com a educação<br />

física escolar. O que foi incluído nesta pesquisa é o resultado de reflexões, e<br />

compreensão acerca do tema proposto. Fundamentamos a análise e conclusão na<br />

compreensão dos dados levantados, analisando as importantes contribuições de<br />

importantes autores que já trataram deste tema.<br />

3.1 CONTRIBUIÇÃO DOS DADOS PARA PESQUISA<br />

Mediante a reflexão teórica apresentada, entendemos que a avaliação é parte importante<br />

do aprendizado. A maneira de concebê-la e a forma de aplicá-la, no entanto,<br />

modificaram-se ao longo do tempo.<br />

Atualmente, podemos assumir a avaliação como um processo que acompanha<br />

permanentemente o ensino que o professor promove e o aprendizado que ocorre com<br />

cada aluno. O propósito da avaliação é detectar pontos fortes e aspectos a serem<br />

superados durante a interação professor-aluno, fornecendo informações relevantes a<br />

todos os envolvidos nesse processo.<br />

Cobrar do aluno um comportamento dentro dos padrões tradicionais pode desestimulálo<br />

de ter iniciativas próprias e de tomar decisões autonomamente, e mesmo de<br />

desenvolver a interação social. Em Educação Física, a perspectiva da avaliação esteve<br />

sempre voltada à verificação de méritos físicos. Porém, hoje, a avaliação é entendida<br />

como integrante de todo o processo educativo e sua função é proporcionar a educadores<br />

e educandos momentos de análise das ações estabelecidas em aula para que ambos<br />

possam retomar posturas com o escopo de concretizar o Projeto de Ensino-<br />

Aprendizagem.<br />

18


No âmbito específico da Educação Física, torna-se clara a necessidade de avaliar a<br />

prática dos profissionais, já que a partir daí poderá ser sistematizada a transformação da<br />

Educação Física nas instituições escolares (TAFFAREL, 2000). Não obstante, Soares,<br />

et al. (1992), coloca que a prática avaliativa em Educação Física tem servido para<br />

selecionar os mais capazes fisicamente, o que traz a consequência pedagógica da<br />

insistência na busca de talentos esportivos e a redução da disciplina aos aspectos<br />

biológicos. A possibilidade de mudança traz a necessidade da conscientização da equipe<br />

escolar em relação à Educação Física e de uma análise crítica a ser empreendida nos<br />

currículos de formação inicial e continuada dos professores de Educação Física.<br />

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Com base na pesquisa bibliográfica percebemos que a avaliação da aprendizagem<br />

escolar se não for utilizada de maneira correta, pode causar o afastamento do aluno não<br />

apenas da disciplina, mas também, da escola. Ficou claro que a avaliação da<br />

aprendizagem escolar contribui para que o processo de ensino-aprendizagem tenha um<br />

suporte junto à escola.<br />

O conhecimento das questões relacionadas à avaliação na escola é necessário, para que<br />

os educadores possam se conscientizar e aprimorar este processo, afim de, oferecer aos<br />

alunos os melhores e mais eficazes métodos para sua formação. Devemos mudar este<br />

conceito de avaliação como forma de aprovar ou reprovar, mas utilizá-la como base no<br />

que deve ser melhorado e buscar onde o aluno tem dificuldade e mudar a estratégia.<br />

A avaliação da aprendizagem é um instrumento de vital importância na formação do<br />

aluno, porém, é necessário tomar o devido cuidado para que este instrumento possa ser<br />

funcional para professores e alunos. A avaliação deve ser inclusiva, integradora, e um<br />

momento de reflexão para saber se o que foi proposto no projeto político pedagógico<br />

está sendo alcançado.<br />

19


5 REFERÊNCIAS<br />

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da educação fundamental. Parâmetros<br />

Curriculares Nacionais – Educação Física. Brasília, MEC: 2001<br />

BRATIFISCHE, S.A. Avaliação em educação física: um desafio. R. da Educação<br />

Física, UEM Maringá, v. 14, n. 2, p. 21-31, 2. sem. 2003.<br />

CAMPOS, N.A.F. Avaliação. Palavra do Educador, 2009. Disponível em: <<br />

http://www.institutosantamaria.com.br/portal/documentos/nilva.pdf>. Acesso em: 10<br />

nov. 2009.<br />

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo:<br />

Cortez, 1992.<br />

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DINIZ, J.; AMARAL, S.C.F. A avaliação na educação física escolar: uma comparação<br />

entre as escolas tradicional e ciclada. Movimento, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 241-258,<br />

jan./mar. 2009.<br />

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às pesquisas sobre avaliação em educação física. In: Relatório Final do II Simpósio<br />

Paulista de Educação Física, Abril 1988, Rio Claro, UNESP, 1989, Mimeo.<br />

FERREIRA, M. G. Limites e possibilidades da educação física no contexto da escola<br />

cidadã: Um estudo em escolas da rede municipal de Porto Alegre (RS). 212f. Tese<br />

(Doutorado em Educação) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,<br />

2003.<br />

FREITAS, L. C. Ciclos, seriação e avaliação: confronto de lógicas. São Paulo:<br />

Moderna, 2003.<br />

HAYDT, R.C. Avaliação do processo ensino-aprendizagem. 6.ed. São Paulo: Ática,<br />

2000.<br />

HOFFMANN, J. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à<br />

universidade. 12.ed. Porto Alegre: Mediação, 1998.<br />

HOFFMANN, J. Avaliação – mito e desafio: uma perspectiva construtivista. 30.ed.<br />

Porto Alegre: Mediação, 2001.<br />

LUCKESI, C. Cipriano. Avaliação da aprendizagem escolar : estudos e proposições<br />

/ Cipriano Carlos Luckesi. – 15.ed. – São Paulo : Cortez, 2003.<br />

MÉNDEZ, J. M. A. Entrevista. Pátio, Porto Alegre, nº 34, maio/jul. 2005.<br />

20


MENDES, E.H. et al. Metamorfoses na avaliação em educação física: da formação<br />

inicial à prática pedagógica escolar. Movimento, Porto Alegre, v.13, n. 01, p.13-37,<br />

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MORETO, V.P. Prova um momento privilegiado de estudo não um acerto de<br />

contas. 5.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.<br />

PONTONE, R. Avaliação e desigualdades escolares. <strong>Revista</strong> Presença Pedagógica,<br />

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SANT’ANNA, I.M. Por que avaliar? Como avaliar?: critérios e instrumentos. 8.ed.<br />

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SAVIANI, D. Educação, do senso comum à consciência filosófica. Campinas, SP:<br />

Autores Associados, 2000.<br />

SOARES, C. L. et al. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez,<br />

1992.<br />

TAFFAREL, C. N. Z., et al. Avaliar com os pés no chão da escola: a experiência da<br />

Educação Física. In: CARVALHO, M.H. da C. (Org.). Avaliar com os pés no chão da<br />

escola: reconstruindo a prática pedagógica no ensino fundamental. Recife: Universitária<br />

da UFPE, 2000.<br />

TAYLOR, R.W.M.A.; GOLDBERG, C.P.S. Avaliação de programas educacionais.<br />

vicissitudes, controvérsias, desafios. São Paulo: EPV, 1982.<br />

VEIGA, I.P.A. Projeto político-pedagógico da escola, uma construção possível. São<br />

Paulo. Papirus, 1996.<br />

WERNECK, H. A nota prende, a sabedoria liberta. 2.ed. Rio de Janeiro: DP&A,<br />

2001.<br />

21


O NOVO CURRÍCULO DE HISTÓRIA DAS ESCOLAS ESTADUAIS DO<br />

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO<br />

Valdirene Coutinho 5<br />

Vinícius Teixeira Henriques 6<br />

RESUMO<br />

Nos últimos anos, o estudo em torno do Currículo Escolar nas diferentes etapas do<br />

ensino, ganhou notoriedade no ES em função das mudanças propostas pela Secretaria<br />

Estadual de Educação. O novo tema vem de encontro com a necessidade de fazer<br />

educação com um olhar para a realidade do aluno, além de buscar alternativas para<br />

unificar os conteúdos de todas as escolas. Frente a essas mudanças, estão centenas de<br />

profissionais das diferentes disciplinas que nem sempre conseguem se adequar aos<br />

novos hábitos. O Novo Currículo das Escolas Públicas do Ensino Fundamental no ES,<br />

aliado as propostas do PCN, tornou-se, desde 2009 as diretrizes norteadoras das ações<br />

pedagógicas do professor.<br />

PALAVRAS-CHAVE: currículo; história; educação;professor<br />

ABSTRACT<br />

In recent years, the study around the school curriculum at different stages of education,<br />

gained notoriety in the ES in relation to changes proposed by the State Education<br />

Department. The new theme comes from meeting the need for education with a look at<br />

the student's reality, and seek alternatives to unify the content of all schools. Given<br />

these changes, are hundreds of professionals from different disciplines that are not<br />

always able to adapt to new habits. The New Curriculum in Public Schools Elementary<br />

School in the ES, together with the proposals of the NCP, has, since 2009 the guidelines<br />

guiding the actions of the teacher teaching.<br />

KEYWORDS: curriculum, history, education, teacher.<br />

5 Formada pela Universidade Federal do Espírito Santo – Curso de Licenciatura em História (2002). Pós<br />

graduada em História pela Faculdade Integrada Jacarepaguá. Graduanda em Pedagogia pela Faculdade<br />

Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />

6 Formado pela Faculdade Salesiana de Vitória – Curso de Licenciatura em Educação Física (2006). Pós<br />

graduado em Educação Especial Inclusiva pela UNICIDADE. Graduando em Pedagogia pela Faculdade<br />

Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />

22


1 INTRODUÇÃO<br />

O presente trabalho busca analisar quais as mudanças ocorridas no ensino de História<br />

após a implantação do novo Currículo Básico da Escola Estadual (CBEE) e as<br />

dificuldades que o professor encontra para sua efetiva implementação em sala de aula.<br />

Proposto em 2009, pela Secretaria de Educação (SEDU) do Governo do Estado do<br />

Espírito Santo , o novo Currículo Básico da Escola Estadual (CBEE) surgiu tendo como<br />

premissa principal a busca de um ajuste dos Parâmetroc Curriculares Nacionais (PCNs)<br />

à realidade regional do Estado, sem no entanto significar um afastamento destas<br />

diretrizes nacionais.<br />

Esta nova realidade trouxe consigo uma dicotomia entre a forma de aplicar a<br />

transmissão do conhecimento nas escolas estaduais, notadamente no Ensino<br />

Fundamental e na disciplina História, na medida em que a proposta do CBEE traduz-se<br />

em um conjunto de ações de transição entre o modelo anteriormente em utilização e<br />

uma nova metodologia, implementadas ao longo do tempo, cujo resultado prático<br />

depende da observação dos critérios e pressupostos apontodas pelo CBEE.<br />

Na prática, os professores, de maneira geral, enfrentaram e continuam enfrentando<br />

diversas dificuldades para a consolidação desta transição, uma vez que as realidades de<br />

cada unidade são muito diferenciadas, assim como o corpo docente é composto por<br />

profissionais cuja formação e especilização contemplam diversas áreas do<br />

conhecimento.<br />

Com base nestas reflexões e tendo em vista a necessidade de se repensar a postura dos<br />

profissionais, é que se propõe o seguinte tema para estudo: a prática docente do<br />

professor de História: um estudo do novo currículo das Escolas Públicas do Estado do<br />

ES no ensino fundamental séries finais.<br />

A atuação de profissionais competentes, críticos, criativos, capazes de informar-se e<br />

partilhar os seus saberes, contribuindo para o êxito de seu trabalho e o sucesso das<br />

23


instituições às quais estão vinculados, tem sido questão de frequentes debates no meio<br />

educacional. A criação e consolidação de um novo Currículo Básico da Escola Estadual<br />

pela Secretaria de Estado da Educação do Governo do Estado do Espírito Santo, em<br />

2009, trouxe uma série de desafios e dificuldadees a serem enfrentadas pelos<br />

professores das diversas disciplinas componentes da grade curricular do Ensino<br />

Fundamental e Médio no Espírito Santo. Desta forma, a problemática que permeará este<br />

estudo é: Quais as dificuldades que o professor encontra para trabalhar de acordo com o<br />

novo currículo?<br />

Nos últimos anos, o estudo em torno do Currículo Escolar nas diferentes etapas do<br />

ensino, ganhou notoriedade no ES em função das mudanças propostas pela Secretaria<br />

Estadual de Educação. O novo tema vem de encontro com a necessidade de fazer<br />

educação com um olhar para a realidade do aluno, além de buscar alternativas para<br />

unificar os conteúdos de todas as escolas.<br />

Frente a essas mudanças, estão centenas de profissionais das diferentes disciplinas que<br />

nem sempre conseguem se adequar aos novos hábitos. O Novo Currículo das Escolas<br />

Públicas do Ensino Fundamental no ES, aliado as propostas do PCN, tornou-se, desde<br />

2009 as diretrizes norteadoras das ações pedagógicas do professor.<br />

Devido à complexidade desta temática, a pesquisa se limita ao estudo do currículo<br />

apenas nas séries finais do ensino fundamental na área de História, onde muitos<br />

profissionais encontram dificuldades devido à falta de formação, material didático<br />

específico, dentre outros.<br />

A pesquisa assume papel relevante na medida em que seus resultados poderão<br />

contribuir, primeiramente, para o aprofundamento do debate entre os professores e<br />

gestores educacionais do ensino fundamental no intuito de tornar a prática docente mais<br />

eficaz, além de contribuir para um aperfeiçoamento das diretrizes do Novo Currículo ao<br />

cotidiano escolar e pensar formas de capacitar o professor para essa nova realidade.<br />

Este projeto de pesquisa é de caráter bibliográfico e de natureza quali-quantitativa,<br />

com pesquisa de campo. O processo a ser desenvolvido, no decurso destas atividades,<br />

terá como método o raciocínio dedutivo, porque se pretende abordar a evolução<br />

24


histórica, bem como analisar quais as competências necessárias ao professor de<br />

História do Ensino Fundamental do Estado do Espírito Santo, em função das<br />

dificuldaes encontradas pelos professores face a implementação do novo Currículo<br />

Básico das Escolas Estaduais. Como fonte será focalizado livros, monografias e<br />

artigos de revistas.<br />

2 DESENVOLVIMENTO<br />

2.1 O ENSINO DE HISTÓRIA: BREVE CONTEXTO HISTÓRICO<br />

A História escolar integra o conjunto de disciplinas que foram sendo constituídas como<br />

saberes fundamentais no processo de escolarização brasileira e passou por mudanças<br />

significativas quanto a métodos, conteúdos e finalidades até chegar à atual configuração<br />

nas propostas curriculares (BITTENCOURT, 2009 p.33). Existia a intenção de se criar<br />

um sentimento coletivo de pertença a uma Nação, cuja origem mítica, confirmava o<br />

porvir brilhante destinado a todos que se engajassem nesse projeto.<br />

Não houve muita diferença no Brasil em relação a esse caminho que estava sendo<br />

seguido. O ensino primário valorizava os feitos dos grandes homens, nos níveis mais<br />

avançados, apresentava-se a História da “civilização”, cujo ápice seria a Europa, da qual<br />

o Brasil recebera a herança dos costumes civilizados e à qual se igualaria, mantendo a<br />

caminhada rumo ao progresso.<br />

Apesar dos inúmeros debates em torno dos métodos de ensino, a ênfase na transmissão<br />

de saberes prontos e acabados acabou se estabelecendo. Perduraria a tradição de<br />

conceber as aulas de História como monólogos do professor – e do livro didático – em<br />

torno de verdades que seria preciso “passarem” aos alunos.<br />

Após a ditadura militar, cresce a idéia de um cidadão mais participante, buscando-se a<br />

partir desse período teorias e discursos e reformulações de currículos com intuito de<br />

formar uma consciência mais critica. A partir daí, revelou-se a problemática ideológica<br />

presente no Ensino de História e incluíram-se novas perspectivas, além das tradicionais<br />

para explicar os fatos. MUNAKATA (2001, p. 280), assim se refere aos conteúdos dos<br />

25


livros didáticos produzidos sob a égide da vertente engajada ou crítica: “Valeram-se de<br />

uma História consolidada, com seus temas, períodos e personagens bem assentados,<br />

mas invertendo-lhes o significado ou reorganizando-os mediante certos conceitos como<br />

modo de produção (...) a História do vencedor com sinais trocados, continua sendo a<br />

História do vencedor”. A idéia de se possibilitar uma leitura histórica do mundo ao<br />

aluno, ainda não se concretiza, observa-se que “ficam os retalhos, mas não se forma a<br />

colcha” (MENANDRO, 2001, p. 49).<br />

A partir da década de 80 as transformações no ensino de História podem ser<br />

identificadas, mediante a análise de várias propostas curriculares elaboradas pelos<br />

Estados e municípios e na década de 90 pelos Parâmetros Curriculares Nacionais,<br />

produzidos pelo poder federal. Nesse contexto, vários estudos e debates sobre o<br />

currículo escolar se tornaram importantes fontes de conhecimento e serviram como<br />

referências para elaboração de pareceres e análises de propostas curriculares.<br />

(BONANINO; MARTINEZ, 2002).<br />

A elaboração destes documentos implicou no confronto de várias tensões na tentativa de<br />

buscar respostas a questões relacionadas à construção de referências nacionais e o modo<br />

de encarar antigos problemas da educação brasileira, e ao mesmo tempo, enfrentar<br />

novos desafios colocados pela conjuntura mundial e pelas novas características da<br />

sociedade.<br />

É importante ressaltar que os PCN`s não se configuram numa proposta curricular<br />

fechada a ser seguida por todos. Eles são referências para:<br />

[...] a renovação e reelaboração da proposta curricular reforçam a<br />

importância de que cada escola formule seu projeto educacional,<br />

compartilhado por toda a equipe, para que a melhoria da qualidade da<br />

educação resulte da co-responsabilidade entre todos os educadores.<br />

(...) Por sua natureza aberta, configuram uma proposta flexível, a ser<br />

concretizada nas decisões regionais e locais sobre currículos e sobre<br />

programas de transformação da realidade educacional (...). Não<br />

configuram, portanto, um modelo curricular homogêneo e impositivo<br />

(PCN’s introdução, p.7, 10).<br />

26


Com essa nova proposta, se torna possível uma formação inicial e continuada de<br />

professores, já que os fundamentos do currículo ficam claros e assim o tipo de formação<br />

que se pretende para o professor se tornam específicos. Sua base se processa através da<br />

orientação da produção de livros e de outros materiais didáticos, o que garante uma<br />

política voltada à melhoria do ensino fundamental.<br />

No que se refere ao ensino de História, segundo OLIVEIRA (2009, p.3):<br />

Os PCN’s tiveram como proposta fundamental a modificação da estrutura<br />

dos conteúdos apresentados, até então como propostas curriculares oficiais. A<br />

idéia básica era transformação dos conteúdos organizados de forma linear em<br />

eixos temáticos. A principal justificativa para essa mudança, segundo os<br />

autores dos PCN’s era superar o ensino da História baseado na cronologia.<br />

Propunha-se também a incorporação de novas perspectivas historiográficas,<br />

como metodologia de ensino (por exemplo, o trabalho com linguagens<br />

culturais – cinema, música e fotografia, entre outras; além do trabalho com<br />

documentos escritos). Essas mudanças passaram a exigir especialmente do<br />

ensino de História uma formação para cidadania, uma formação de sujeitos<br />

críticos e conscientes, capazes de interpretar e transformar a realidade, de<br />

buscar soluções possíveis para os problemas detectados em sua comunidade,<br />

de valorizar o patrimônio sociocultural (próprio e de outros povos) e de<br />

respeitar as diferenças culturais, evitando qualquer tipo de discriminação e<br />

exclusão social.<br />

Apesar das insatisfações ainda presentes, no que tange o ensino, nos últimos dez anos<br />

tem surgido uma variedade de propostas que almejam proporcionar um ensino de<br />

História mais significativo para a geração do mundo tecnológico, com seus ritmos<br />

diversos de apreensão do presente e seu intenso consumismo, o qual desenvolve, no<br />

público escolar, expectativas utilitárias muito acentuadas. Conforme Circe Bittencourt,<br />

[...] as propostas curriculares inserem-se em um momento importante da<br />

história do ensino de História, e cabe analisar com rigor metodológico os<br />

novos rumos projetados pelos currículos para se poder discenir o que<br />

efetivamente esta em processo de mudanças e como atualmente ocorre “a<br />

seleção cultural” do conhecimento considerado essencial para os alunos. Há<br />

propostas de mudanças que precisam ser identificadas, mas devem-se<br />

verificar as “tradições escolares” que permanecem e as reinterpretações dadas<br />

a antigos conteúdos e métodos. (2009, p. 99)<br />

27


2.2 A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL SOBRE O ENSINO DE HISTORIA – O<br />

NOVO CURRÍCULO<br />

Diante de tantos embates, relacionadas ao que deve ser ensinado e como deve ser<br />

ensinado na sala de aula, a Secretaria Estadual de Educação (SEDU) no ano de 2009,<br />

implementou o Novo Currículo Básico das Escolas Estaduais. Tal documento veio com<br />

a proposta de dar maior apoio à prática docente, servindo de subsídios para o<br />

enquadramento do trabalho do professor, unindo os conteúdos de todas as escolas<br />

estaduais. Segundo a SEDU (Guia de Implementação do novo CBEE, 2009, p.5),<br />

Dentre os grandes desafios que temos na educação capixaba, destaca-se a<br />

implementação do novo currículo escolar. Essa importante ação envolve a<br />

garantia do direito de aprender de todos e de cada aluno na Educação Básica.<br />

A educação que pretendemos está comprometida com a construção de uma<br />

cidadania consciente e ativa, que ofereça aos alunos conhecimentos que lhe<br />

possibilitem compreender e posicionar-se frente às transformações da<br />

sociedade, participando da vida produtiva, que possam relacionar-se com a<br />

natureza, produzir e distribuir bens e serviços, convivendo com o mundo<br />

contemporâneo. (2009, p.5)<br />

Essa nova proposta começou a ser trabalhada a partir do ano de 20<strong>04</strong> através de<br />

Seminários e Debates, envolvendo educadores, entre professores consultores,<br />

pedagogos e representantes dos movimentos sociais organizados. Todos os participantes<br />

estavam evolvidos em elaborar e propor alternativas políticas pedagógicas com vistas à<br />

promoção do educando e conseqüentemente, da educação pública.<br />

O novo CBEE foi configurado como instrumento que visava dar uma maior unidade ao<br />

atendimento educacional, com intuito de fortalecer a identidade da rede estadual de<br />

ensino, trazendo consigo uma nova proposta de valorização do que está além da sala de<br />

aula, adotando uma postura teórico-metodológica que valoriza os saberes e as práticas<br />

cotidianas concretas. Percebe-se que as propostas visam por em práticas as idéias de<br />

cotidiano (Alves), currículo real (Oliveira), currículo realizado (Ferraço), e outras que<br />

consideram o cotidiano das escolas como pontos de partida e chegada para se discutir o<br />

currículo 7 .<br />

7<br />

FERRAÇO, CE. O Currículo escolar. In: Política Educacional do Estado Espírito Santo: a educação<br />

é um direito. Vitória: SEEB/SEDU, 20<strong>04</strong>.<br />

28


Essa nova proposta de trabalho começou a ser posta em prática a partir de 2009, onde<br />

cada disciplina foi pensada e organizada de forma a aliar competências, habilidades e<br />

conteúdos de ensino, prevendo o diálogo entre o novo CBEE e o Projeto Político<br />

Pedagógico das escolas. Segundo a SEDU (CBEE, 2009, p.17):<br />

A elaboração deste novo documento curricular reflete um processo de<br />

construção de conhecimento atualizado e contemporâneo, alinhado a um<br />

processo participativo e dialético de construção, que incorporou o saber de<br />

quem a vivência, bingo o papel de ator e também de autor. Uma trilha que<br />

referenciará a gestão pedagógica, portanto, uma trilha experenciada<br />

coletivamente.<br />

No que se relaciona ao ensino de história, o novo CBEE vem valorizar uma história<br />

crítica, integrada ao cotidiano do educando, partindo do principio de que a seleção do<br />

conhecimento escolar não é um ato desinteressado e neutro. Ele é resultado de lutas,<br />

conflitos e negociações, de modo que se torna “culturalmente determinado,<br />

historicamente situado e não pode ser desvinculado da totalidade social” 8 .<br />

Propõe um debate entre o ensino de história praticado e aquele idealizado que privilegie<br />

como eixo a dimensão local e a formação dos sujeitos de direitos, portanto, deverão ser<br />

observados vários aspectos em suas reflexões.<br />

A elaboração da Proposta Curricular para o ensino de história explicitou as<br />

preocupações que pautaram a redação do texto: estabelecer novas posturas com relação<br />

às questões de ensino-aprendizagem, propiciar a produção do conhecimento e ampliar a<br />

concepção de História. O objetivo é orientar professores e alunos na compreensão dos<br />

procedimentos para produção do conhecimento, com a prática da pesquisa, propiciar<br />

condições para o relacionamento ativo e crítico com o saber produzido em cada<br />

realidade e favorecer uma concepção de História na perspectiva da prática social.<br />

Sugere-se, para o desenvolvimento dos conteúdos, o uso das experiências do cotidiano,<br />

a partir de eixos temáticos, que, “partindo do presente, vivenciado, refletido e<br />

sistematizado, busquem a apreensão de outras realidades no tempo e no espaço,<br />

também a partir de um referencial que redimensiona a relação com o passado<br />

histórico”.<br />

8<br />

SILVA, T.T. Documentos de Identidade – uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte:<br />

autêntica, 2000.<br />

29


2.3 A PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO DE HISTÓRIA<br />

O ensino de História – seus métodos, seus objetivos, seus conteúdos – vem sendo<br />

discutido em longa data. A maioria dos estudantes não consegue estabelecer uma<br />

relação do que aprenderam sobre História com a vida prática. Em geral eles enquadram<br />

este componente curricular entre as “disciplinas de memorização” (PRATES, 2006),<br />

como um tedioso encadear de fatos, nomes e datas. Não por acaso, muitos historiadores<br />

constatam que a sociedade contemporânea vive sobe a idéia de um presente contínuo,<br />

sem relação orgânica com o passado (HOBSBAWN, 2002). A concepção da disciplina,<br />

em como se concebe o seu aprendizado e seus objetivos estão relacionados a origem<br />

desta situação múltipla e complexa. STEPHANOU (1998, p. 16) nos dá algumas pistas<br />

disto:<br />

“... a História invariavelmente apresenta-se como algo externo ao aluno, algo<br />

exótico ou como espetáculo, que não lhe diz respeito. Resta aos estudantes,<br />

uma vez que se situam numa posição de não-saber, memorizar, assimilar este<br />

conhecimento acumulado, cujos depositários fiéis são os manuais didáticos e<br />

a autoridade do professor”.<br />

Neste contexto a prática docente no ensino de história encontra imensos desafios para<br />

sua concepção, será preciso entender o conhecimento histórico na perspectiva da<br />

investigação histórica para ter condições de ensinar história. Segundo Schmidt:<br />

Alguns pressupostos influem na “forma do conhecimento”, tais como a<br />

lógica ou os pressupostos epistemológicos a partir das quais determinados<br />

conhecimentos são sistematizados; a lógica da interação, ou o sentido como o<br />

conhecimento se objetiva no conjunto de modo pelos quais alunos e<br />

professores se relacionam e ainda o conteúdo de classe da forma de ensino.<br />

Na lógica da interação, o professor pode ser visto como um sujeito que faz a<br />

mediação entre os alunos e o conhecimento em dois sentidos: de um lado ele<br />

faz uma reelaboração particular do conhecimento que apresenta aos alunos,<br />

de outro, representa a “autoridade” dos conhecimentos escolares. (Schmidt:<br />

2000, p. 05)<br />

Sendo assim, propõe-se uma transposição didática para utilizar-se de um conceito de<br />

Chevallard (1991), mas em uma mediação didática em que os conhecimentos históricos<br />

sofrem transformações do espaço da aula de história a partir da interação entre os<br />

sujeitos, o espaço e o material didático. Deve-se ter consciência de que o ensino e a<br />

aprendizagem de História constituem um espectro enorme de experiência múltiplas e<br />

multifacetadas que se redimensionam dia-a-dia, ano-a-ano em cada singularidade vivida<br />

30


pelos professores. Logo, não perdemos de vista que, “suas múltiplas relações com as<br />

várias dimensões da sociedade, sua posição como instrumento cientifico, político,<br />

cultural, para diferentes grupos, indica a riqueza de possibilidades para o seu estudo e o<br />

quanto ainda há para investigar” (FONSECA, 2003, p. 28).<br />

Nesta perspectiva, o professor de história muitas vezes encontra dificuldades para<br />

efetivar a sua prática pedagógica em sala de aula, seja por despreparo, por falta de<br />

material didático, dentre outros fatores. A concepção do conteúdo está relacionada à<br />

tentativa de fazer o homem um sujeito atuante em seu meio social. O professor parte da<br />

premissa de que o ensino de história deve propiciar um despertar crítico, para que o<br />

aluno possa atuar de maneira consciente em relação ao mundo. Como afirma Gadotti<br />

(2001, p.76),<br />

Esse espaço político-pedagógico é certamente dependente da legislação, das<br />

normas, dos programas de ensino, etc., mas permite uma relativa autonomia.<br />

Nele, o trabalho crítico não consiste apenas em denunciar a seletividade, a<br />

injustiça, mas consiste muito mais em pesquisar e apontar soluções.<br />

Mesmo com essas dificuldades, o professor de História tem tentado despertar no aluno<br />

uma leitura crítica da sociedade, que é responsável por um quadro educacional, tão<br />

deficiente. É necessário ressaltar ainda, uma concepção de ensino de História que<br />

considera o aluno sujeito ativo do próprio conhecimento, o que desconsidera a idéia<br />

tradicional, pela qual o professor é o detentor do conhecimento e responsável apenas em<br />

transmiti-lo ao aluno.<br />

Dessa forma, é preciso identificar as principais características dessa ciência, seus<br />

métodos, suas ramificações e aplicações. Ele deve conhecer a realidade vivida pelos<br />

alunos e ter suas próprias concepções sobre a História, já que a prática em sala de aula,<br />

as escolhas pedagógicas, os objetivos e conteúdos de ensino, além das formas de<br />

avaliação estão muito ligados a essas concepções (BULOS, 2011).<br />

31


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O estudo tem como objetivo central analisar a prática docente no ensino de História<br />

após a implementação do Novo Currículo Básico das Escolas Públicas. É possível<br />

pensar o ensino dessa História dentro de uma perspectiva que considere a historicidade<br />

do homem na construção da História, no âmbito das relações sociais. Isto, por sua vez,<br />

conduz a uma nova concepção de sociedade, de escola que educa para formar cidadãos<br />

críticos, reflexivos e não apenas seres passivos e contemplativos da realidade social em<br />

que vivem, as quais nunca questionam ou analisam criticamente.<br />

Dessa forma, busca-se um ensino de História com um pensar crítico e sistematizado da<br />

realidade social, sendo que na maioria das vezes o professor não trabalha com a<br />

especifidade de um método teórico de ensino para História, embora, no seu fazer<br />

pedagógico em sala de aula, estejam procurando mudanças que estão embasadas na<br />

leitura de muitos teóricos do ensino de História.<br />

A ação pedagógica nas escolas e nas aulas passa por um processo de decisões onde uma<br />

série de razões de ordem diversas fará com que, o docente desenvolva em seu trabalho,<br />

elaborações mais concretas e precisas dos currículos prescritos fora de sua prática. O<br />

professor faz suas próprias escolhas, baseado nesse campo imenso de informações que<br />

compõem o pano de fundo de sua prática. Ele constrói consciente, ou até mesmo<br />

inconscientemente, um território que lhe é próprio.<br />

É preciso acabar com a concepção tradicional de ensinar História, passando a ter uma<br />

postura mais critica em relação ao seu ensino, elimar esta posição histórica com base<br />

nos pressupostos positivistas.<br />

Nesse sentido, a formação de professores para uma inovação curricular, apoiada no<br />

sucesso educativo e na resposta positiva a cada aluno e aluna presente no espaço<br />

escolar, terá de passar pela existência de condições que permitam aos professores<br />

desenvolver uma mentalidade curricular (entendida como consciência do sistema em<br />

que está inserido e do papell, ou papéis que nele desempenham, ou podem vir a<br />

32


desempenhar) e, simultaneamente, assumirem um papel de configuradores do currículo,<br />

ou seja, serem seus co-autores e não meros receptores.<br />

4 REFERÊNCIAS<br />

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programas de 1931. <strong>Revista</strong> brasileira de História. São Paulo. V.13, n°26/26.<br />

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n°26/26. Set.92/ago.93<br />

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2009.<br />

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Nacionais para o Ensino Fundamental: a participação das instâncias políticas do estado.<br />

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apontamentos para repensar a formação de professores, bacharéis ou profissionais da<br />

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implementação. Secretaria da Educação. – Vitória: SEDU, 2009. 72 p.; 26 cm.<br />

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FERRAÇO, CE (org.). Cotidiano escolar,formação de professor(as) e currículo. São<br />

Paulo, 2008<br />

33


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SILVA, T.T. Documentos de Identidade – uma introdução às teorias do currículo.<br />

Belo Horizonte: autêntica, 2000.<br />

34


A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO NA CRIANÇA<br />

POR MEIO DO USO DOS MAPAS EM SALA DE AULA.<br />

RESUMO<br />

35<br />

Anderson Oliveira Gadioli 9<br />

Ernandes de Oliveira Pereira 10<br />

Renata Bouguignon Carminati 11<br />

Selma Lúcia de Assis Pereira 12<br />

Os mapas estão presentes, no cotidiano do ser humano. Servem para muitos propósitos:<br />

para comunicar ideias, localizar lugares e representar o comportamento de vários<br />

fenômenos geográficos. O ato de especializar se esbarra no próprio conceito de espaço,<br />

que é ao mesmo tempo concreto e abstrato. Um espaço que se modifica ao longo do<br />

tempo de acordo com os pensamentos e o modo de ver da sociedade que o ocupa. E o<br />

mapa surge como a materialização deste espaço geográfico, tão mutável e tão<br />

corruptível sob o olhar do seres humanos. Especializá-lo requer o conhecimento dos<br />

sinais da cartografia. Por isso é fundamental que os mapas estejam presentes na vida da<br />

criança desde a sua tenra idade. E para isso é necessário que o professor saia do<br />

comodismo e crie um ambiente favorável ao processo de ensino-aprendizagem, através<br />

da cartografia como linguagem. Só assim será possível promover o desenvolvimento da<br />

criança com mais eficácia.<br />

PALAVRAS-CHAVE: História da cartografia – Piaget – Vygostky – Linguagem –<br />

Aprendizagem – Mapas mentais<br />

ABSTRACT<br />

The maps are present in everyday human being. Serve many purposes: to communicate<br />

ideas, find places and represent the behavior of various geographic phenomena. The act<br />

of spatializing to touch the very concept of space that is both concrete and abstract. A<br />

space that changes over time according to the thoughts and way of seeing society that<br />

occupies it. And the map appears as the embodiment of this geographic area, such as<br />

changeable and corruptible under the gaze of human beings. Spatializes it requires<br />

knowledge of the signs of cartography. Therefore it is essential that the maps are present<br />

in the child's life since his early age. And this requires the teacher to leave the ease and<br />

create an environment conducive to teaching and learning through the maps as<br />

language. Only then can promote the development of the child more effectively.<br />

KEYWORDS: History of Cartography - Piaget - Vygotsky - Language - Learning - Mind<br />

maps<br />

9 Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>-ES; Licenciado em Matemática<br />

pela UFES.<br />

10 Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>-ES; Licenciada em Geografia;<br />

Mestre em Geografia pela UFES.<br />

11 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>-ES; Licenciada em História<br />

pela FAFIC.<br />

12 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>-ES; Licenciada em Língua<br />

Portuguesa pela FAFIC e especialista em Estudos Linguisticos pela Saberes.


1 INTRODUÇÃO<br />

1.1 UM POUCO DE HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA<br />

A arte de desenhar o mundo está presente desde os primórdios da humanidade. Há<br />

indícios de pinturas antigas em paredes de cavernas que retratam várias cenas do<br />

cotidiano dos nossos ancestrais. O desenho faz parte da vida humana antes mesmo da<br />

escrita. Sem precisar ir tão longe, é possível perceber, por exemplo, que uma criança,<br />

começa a rabiscar os seus primeiros desenhos, antes de aprender a escrever, mesmo com<br />

uma coordenação motora ainda em desenvolvimento. E o que é um mapa se não, um<br />

desenho.<br />

Muitos historiadores apontam que os mapas mais antigos que se tem notícia,<br />

apareceram, aproximadamente há mais de 4000 mil anos atrás:<br />

São do oriente próximo os indícios cartográficos mais antigos que<br />

conhecemos. Eles foram encontrados com maior frequência no sul da<br />

Mesopotâmia. Uma pintura num vaso de argila de Tepe Gawra, no norte do<br />

Iraque, datada da metade do século IV a.C., é considerada o documento<br />

cartográfico mais antigo. Trata-se de uma paisagem abstrata com cenas de<br />

caça; supõe-se que suas linhas onduladas representem o percurso de um rio<br />

com os seus afluentes. Os testemunhos comprovados mais antigos da<br />

cartografia remontam ao reino acadiano antigo (2350 a.C. – 2150 a.C.), uma<br />

época 500 anos posterior à invenção da escrita cuneiforme. Descobriu-se um<br />

mapa regional, além de sete plantas. (DREYER-EIMBCKE, 1996, p.41)<br />

Mas o que dizer das pinturas rupestres das cavernas, dos desenhos feitos em argila,<br />

madeira e rocha, em casas e templos religiosos que mostram, mesmo que à grosso<br />

modo, cenas de caça e referências de lugares, onde os fatos do cotidiano mais<br />

marcantes ocorreram? Indícios desta natureza podem ter desaparecido, mas é fato, que<br />

a necessidade de se localizar e dominar o espaço, sempre existiu na história e na préhistória<br />

da humanidade, por tanto a origem do mapa se confunde com a origem do<br />

homem no planeta.<br />

Os mapas dos tempos antigos não foram feitos a partir de fotografias aéreas ou de<br />

imagens de satélites. Também não foram impressos em papel. Mas nem por isso, nos<br />

36


padrões dos tempos atuais, deixam de serem considerados mapas, pois a sua essência,<br />

mesmo que registrados a partir de observações diretas, em materiais simples e<br />

desprovidos de todo aparato matemático e tecnológico, continua a mesma. Ou seja,<br />

eram instrumentos de localização e, sobretudo de comunicação. O mapeamento é uma<br />

forma de linguagem, assim como é a escrita e a fala. Uma descoberta arqueológica,<br />

realizada em 1963 a.C. em Çatal Hoyuk, na região centro-ocidental da Turquia,<br />

comprova essa afirmação. Segundo Harvey (2003), é o mapa autêntico mais antigo, pois<br />

foi elaborado a cerca de 6000 anos a.C., refutando a afirmação de Dreyer-Eimbcke.<br />

Nele, é possível observar o traçado das ruas e casas, com o vulcão Hasan Dag em<br />

erupção ao fundo. O sítio arqueológico em que foi encontrado era um santuário, e ele<br />

foi criado como parte de um ritual religioso. Mesmo assim não deixa de ser um mapa,<br />

na sua essência.<br />

Os babilônios e os egípcios, segundo Dreyer-Eimbcke (1996, p. 41), eram agricultores<br />

com laços muito fortes com a terra. Por isso, sua cartografia, mesmo que desprovida de<br />

todo o aparato tecnológico, dos tempos atuais, mostrava as subdivisões dos campos e<br />

das plantas das cidades. A propriedade demarcada era de extrema importância para<br />

esses povos, principalmente no Egito, devido às cheias do rio Nilo. A cada ano exigiam<br />

a redistribuição das terras.<br />

Os mapas também consolidam sua importância como instrumentos de pesquisa<br />

histórica. Sua construção é marcada por ideologias, aspectos culturais, religiosas e<br />

políticas, típicos da época em que foram elaborados. Por exemplo, a cartografia<br />

ocidental da idade média,<br />

[...] se orientava principalmente pelos pressupostos bíblicos. [...] era praticada<br />

sobretudo nas escolas monásticas* [...], nas sedes e nos capítulos<br />

episcopais.[...] Na Bíblia encontram-se informações as mais diversas sobre o<br />

feitio da Terra, que é chamada, normalmente de Orbis Terrarum. (DREYER-<br />

EIMBCKE, 1996, p.46)<br />

Cada sociedade tinha a sua maneira de representar o seu espaço e por isso Harvey<br />

(2003) afirma que o mapa é uma “representação gráfica que facilita a compreensão<br />

espacial de objetos, conceitos, condições, processos e fatos do mundo humano.” Por<br />

isso, os mapas são fontes históricas importantes, para o estudo de diversas sociedades<br />

37


que existiram e que ainda existem no planeta. As novas descobertas tecnológicas e<br />

metodológicas de cada época influenciavam a construção dos mapas. Mesmo os erros<br />

grotescos dos mapas devem ser respeitados, pois podem estar apoiados em intenções<br />

políticas, que tinham a sua lógica em cada época. Destaca-se o período das grandes<br />

navegações do século XIV e XV, pois novas terras eram descobertas pelos aventureiros<br />

que se lançavam ao mar, em busca de uma nova rota comercial com as índias, fora da<br />

rota usual que ocorria no mar mediterrâneo. Acidentais ou não, essas novas descobertas,<br />

revelaram amplas possibilidades econômicas que atendiam a lógica do capitalismo<br />

mercantilista da época. Muitas minas de metais preciosos, terras férteis e madeira,<br />

faziam parte das novas terras. Os mapas que traçavam essas novas rotas se tornaram<br />

preciosidades e eram guardados como segredos de Estado. Protegê-los, não importa<br />

como, era crucial, pois:<br />

Informações exatas sobre as terras recém-descobertas tornavam-se vitais para<br />

o descobridor, que devia manter seus conhecimentos em segredo perante a<br />

concorrência internacional. Não é de admirar, pois que, mapas de regiões<br />

descobertas e conquistadas fossem objetos de venda, roubo, traição e<br />

falsificação consciente.[...] Um grande número de mapas foram escondidos<br />

ou esquecidos, tornando-se vítimas fáceis de deterioração em locais<br />

inadequados e de incêndios. (Dreyer-Eimbcke, 1996, p.220)<br />

É possível que esse fato mencionado por Dreyer-Eimbcke, tenha contribuído para o<br />

atraso da cartografia, enquanto técnica, na época das navegações, apesar das<br />

contribuições de Mercador. Mas esses mapas são elementos importantes para uma<br />

pesquisa histórica, a cerca da lógica social que predominava na época.<br />

No mundo moderno, as distâncias estão cada vez menores, graças aos avanços<br />

tecnológicos no campo dos transportes e das telecomunicações. Num mundo tão<br />

dinâmico, conhecer bem todos os espaços disponíveis do planeta é fundamental para<br />

estabelecer estratégias de ocupação e exploração de recursos de todos os tipos. Dentro<br />

deste contexto, o uso dos mapas adquire posição privilegiada, como o único instrumento<br />

capaz de especializar os fenômenos sociais, econômicos, políticos e culturais,<br />

oferecendo uma base sólida para as tomadas de decisões. Ao se adaptar a essa nova<br />

realidade e ao se apropriar destes avanços, os mapas se consolidam como importantes<br />

instrumentos de comunicação, planejamento e orientação.<br />

38


Diante do que foi exposto, é essencial ensinar o mapa, como uma linguagem de<br />

comunicação e o ensino dos mapas é fundamental para uma aprendizagem significativa.<br />

Mas para isso, é preciso quebrar as amarras que impedem o avanço do ensino do mapa<br />

nas escolas. E muitas são as possibilidades de aprendizagem, que a prática do fazer<br />

mapa proporciona. Mas por comodidade, ou por despreparo por parte dos professores,<br />

isso não tem sido contemplado.<br />

2 DESENVOLVIMENTO<br />

2.1 A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO DO ESPAÇO, AO LONGO DA HISTÓRIA<br />

HUMANA<br />

Antes de se pensar no processo de mapeamento, é fundamental compreender o que é o<br />

espaço e como o seu conceito se desdobra ao longo da história do homem, pois afinal é<br />

ele que será representado. Santos(2002) afirma que o espaço e o tempo, que se<br />

constituem como categorias básicas da ciência moderna, são, na verdade, remodelados<br />

na medida em que as sociedades se redimensionam. Por tanto, pensar no espaço como<br />

uma categoria de análise com um conceito fixo é ignorar as influências das<br />

transformações das sociedades sobre ela. Pensar e definir a noção de espaço requer<br />

contextualização. O espaço não é absoluto em si mesmo. Neste caso a história é um<br />

importante instrumento de compreensão do espaço idealizado pelos povos de cada<br />

época.<br />

Do ponto de vista cartográfico, Santos (2002), destaca que todos os mapas conhecidos,<br />

em todos os momentos da história da humanidade, revelam a leitura de mundo da<br />

sociedade que o construiu. Por tanto, demonstram qual era a noção de espaço que estas<br />

sociedades tinham.<br />

Como exemplo, pode-se destacar os mapas dos períodos feudais, como os do tipo T-O.<br />

Eram desprovidos de qualquer rigor geométrico e matemático e não tinham o objetivo<br />

de indicar lugares e caminhos. Porém serviam como instrumento de comunicação, pois<br />

destacavam com muita clareza uma visão religiosa que se tinha do mundo naquela<br />

39


época. Segundo Santos (2002), reafirmavam a hegemonia do cristianismo e do<br />

catolicismo romano.<br />

A partir do Século XIV, os pintores italianos, e dentre eles Leonardo da Vinci, passaram<br />

a observar a natureza de forma detalhada e tentaram reproduzi-la com tal. Com isso<br />

passaram a representar a aparência ótica de profundidade e movimento e a distribuição<br />

de figuras no espaço. Assim nascia o desenho em perspectiva. A humanidade aí adquiria<br />

a capacidade de ver um mundo tridimensional e percebia que suas representações<br />

gráficas se distanciavam do que era real. Era preciso repensar os métodos de<br />

representações, na pintura, no desenho e também no mapa. Como afirma Santos (2002,<br />

p.46) “a espacialidade sem escala, sem profundidade, sem medidas, dá lugar ao domínio<br />

da processualidade, que exige a consolidação do espaço como substantivo [...]”. O<br />

espaço visto desta forma pode ser mensurado. Ele ainda destaca que “colocar as coisas e<br />

os homens nos seus lugares implicou medir distâncias e, mais que isso, sistematizá-las<br />

como representação possível e necessária para garantir a [...] produção e a reprodução<br />

social” (Santos, 2002, p.46).<br />

A fim de atender os anseios de uma nova ordem mundial que se delineava nos século<br />

XV e XVI, pautada no sistema capitalista que se sobrepunha ao feudalismo, ocorreu<br />

uma revolução geográfica e conseqüentemente uma modificação do tratamento<br />

cartográfico do mundo. As navegações marítimas e a possibilidade de descobrir novas<br />

terras exigiam uma representação do mundo cada vez mais próxima do real. Diante das<br />

dificuldades de representar a esfericidade do mundo em um plano, o uso de técnicas<br />

geométricas de projeção foi amplamente utilizado por cartógrafos como Gerhard<br />

Mercador, nascido em Flandres em 1515 e considerado o pai da cartografia moderna.<br />

As viagens de Colombo e Vasco da Gama se tornariam representações folclóricas, se<br />

não fossem as exigências do mundo mercantilista, que tinha a necessidade de ampliar o<br />

seu território, em busca de novos mercados e recursos, dando sustentação ao capitalismo<br />

da época. Ter mapas mais precisos e que indicassem com tranquilidade a localização de<br />

novas rotas marítimas era imprescindível. A cartografia da era feudal, não servia mais<br />

para o mundo que se construía. O espaço aqui passa a ser visto como algo cada vez mais<br />

40


concreto e crucial para a sobrevivência do capitalismo. Diante disso é possível perceber<br />

como a noção de espaço se redimensiona à medida que a sociedade avança no tempo.<br />

Definir este espaço, ou seja, construir sua definição é uma tarefa árdua como diz Milton<br />

Santos. O espaço, objeto de estudo da Geografia é o espaço social, a morada do homem,<br />

e é por isso que, como diz Santos (2008), as formas e os conteúdos, deste espaço são tão<br />

variados, que a tarefa de criar uma definição para ele é um obstáculo de peso. A<br />

tendência deste espaço geográfico é mudar com o processo histórico. De qualquer<br />

maneira, as definições deste espaço não podem ser imutáveis, fixas e eternas conforme<br />

afirma Milton Santos.<br />

Mas isso não invalida a objetividade do estudo do espaço. Mesmo sofrendo influências<br />

da sociedade, mesmo sendo o espaço, como afirma Milton Santos (2008, p.163) “um<br />

fato Social [...], um fator social e uma instância social”, tudo que se aplica ao espaço<br />

“existe fora da consciência humana, e o ser humano pode percebê-lo por meio dos<br />

sentidos e dos dados que fazem parte da sua experiência do cotidiano.” (Kalesnik, 1971,<br />

apud Santos, 2008, p.161).<br />

O professor deve ter em mente as distorções da noção do espaço que muitos mapas<br />

podem provocar. Estes documentos, respaldados pelo seu rigor matemático e<br />

geométrico, podem perpetuar concepções equivocadas do espaço geográfico. Segundo<br />

Doreen Massey (2008, p.160), os “mapas (mapas atuais do tipo ocidental) dão a<br />

impressão de que o espaço é uma superfície – que é a esfera de uma completa<br />

horizontalidade.” Assim o espaço é condenado a ser um recorte no tempo, estático e<br />

sem vida. Isso é uma visão distorcida do que o espaço é na realidade. Massey (2008,<br />

p.94) acrescenta ainda que “conceber o espaço com um recorte estático através do<br />

tempo, como representação, como um sistema fechado, e assim por diante, são todos os<br />

modos de subjugá-lo.” O espaço é marcado por uma multiplicidade e deve estar<br />

associado ao tempo.<br />

Resta uma questão importante: como perceber e dar significado a este espaço, tão<br />

múltiplo e tão mutável? Que bases epistemológicas o devem ser usadas para<br />

compreender e apreender este espaço?<br />

41


2.2 A CONSTRUÇÃO DA NOÇÃO ESPACIAL, SEGUNDO PIAGET: UMA<br />

SOLUÇÃO LIMITADA.<br />

Piaget escreveu sobre a epistemologia genética do <strong>Espaço</strong>. Tema que é abordado em um<br />

artigo de Lívia de Oliveira, intitulado de “Uma leitura geográfica da epistemologia do<br />

<strong>Espaço</strong> segundo Piaget”. Segundo Oliveira (2007), Piaget parte de três problemas<br />

principais: a natureza da intuição geométrica, as relações entre o espaço físico e o<br />

espaço lógico-matemático e as relações entre as operações espaciais e as operações<br />

lógico-matemáticas.<br />

a) A natureza da Intuição geométrica: Segundo Oliveira (2007), Piaget afirma que “a<br />

imagem mental visual desempenha um papel especial no domínio geométrico, pois ela<br />

contém um caráter espacial. [...] a imagem é[...] um símbolo”. Quando se pergunta aos<br />

indivíduos adultos como é um triângulo, todos imaginam a mesma figura espacial. A<br />

imagem geométrica é um símbolo carregado de significados.<br />

b) As relações entre o espaço físico e o espaço lógico-matemático: Todas as estruturas<br />

espaciais são resultados da experiência física (operatório-dedutiva) e lógicomatemática.<br />

Ou seja, segundo Oliveira (2007) “a experiência física se dá sobre os<br />

próprios objetos” e a abstração física depende da existência dos mesmos, enquanto<br />

que a experiência lógico-matemática se dá a partir da ação sobre objetos físicos. A<br />

abstração lógico-matemática pode transcender a existência do objeto. A percepção do<br />

espaço está vinculada a estas duas formas de experiências, não importando a ordem.<br />

c) As operações entre as operações espaciais e as operações lógico-matemáticas: Há<br />

uma relação muito forte entre essas duas formas de operações, como Oliveira (2007,<br />

p.178), “[...] as operações espaciais são simplesmente operações lógico-matemáticas<br />

aplicadas ao espaço.” Elas, as operações espaciais podem se caracterizar pela escala,<br />

que pode se decompor em partes que podem se reatar de diversas maneiras. Essas<br />

operações são chamadas de infralógias.<br />

A combinação destes três problemas, mencionados acima, resulta na análise espacial, ou<br />

na análise infralógica que é constituída pelas noções de vizinhança, de separação, de<br />

envolvimento e de ordem.<br />

A noção de espaço piagetiano, brevemente analisada no presente artigo, mostra que ela<br />

está associada a um tipo de espaço meramente físico. Piaget ignora o espaço geográfico,<br />

que é o principal objeto de estudo da Geografia. Assim, apoiar-se em Piaget é<br />

estabelecer limitações ao estudo do espaço. É possibilitar que a criança assimile apenas<br />

um espaço concreto, sem compreender as suas relações com os seres humanos. A<br />

Geografia há muito já ultrapassou esta análise simplória sobre o espaço.<br />

42


2.3 VYGOTSKY, UMA PERSPECTIVA TEÓRICA DO MAPA COMO<br />

LINGUAGEM.<br />

Em seu estudo, Vygotsky (2005), considera que o conhecimento assimilado pela<br />

criança, não vem pronto e acabado. Na verdade ele é construído dentro da criança, por<br />

intermédio do meio, da sua história social e pela linguagem. Esta seria a principal<br />

responsável por internalizar os conceitos na criança. Na sua concepção a aprendizagem<br />

e o desenvolvimento são dois fenômenos distintos e independentes e a competência<br />

lingüística, age entre os dois, já que é por meio dela (da linguagem) é que a criança se<br />

desenvolve.<br />

Para Vygotsky (2005), existem dois níveis de desenvolvimento, conforme a Figura 01.<br />

Figura 01. Delimitação da Zona de Desenvolvimento Proximal.<br />

Adaptado pelos autores (VYGOSTKY, 2005).<br />

O primeiro é o desenvolvimento real (A), que corresponde ao conjunto de conhecimento<br />

que a criança tem em seu poder. O Segundo nível é o de desenvolvimento potencial (B),<br />

composto por problemas que a criança consegue resolver com o auxílio de pessoas<br />

experientes. É aí que surge a “zona de desenvolvimento proximal” (C). Esta área é<br />

formada por estruturas que ainda não foram internalizadas pela criança, mas que estão<br />

em processo de maturação, graças à linguagem. Vale ressaltar que o nível de<br />

43


desenvolvimento real corresponde o desenvolvimento mental da criança. Segundo<br />

Vygotsky (2005), duas crianças da mesma idade podem ter níveis de desenvolvimento<br />

mental diferentes, e que estas diferenças são qualitativas, pois dependem do ambiente<br />

que elas vivem.<br />

A aprendizagem é capaz de criar a zona de desenvolvimento proximal e ativa os<br />

processos de desenvolvimento na medida em que a criança interage com o meio,<br />

internalizando valores, regras e conhecimentos do seu contexto cultural.<br />

Enfim, dentro da concepção de Vygotsky (2005), a internalização do conhecimento<br />

acumulado pelos homens ao longo de sua história e disponível no meio social em que a<br />

criança vivencia, ocorre principalmente pela linguagem. Interagindo com as pessoas do<br />

seu meio, a criança assimila seus significados linguísticos e, com eles, o conhecimento<br />

da sua cultura.<br />

Dentro desta perspectiva, os mapas assumem um papel fundamental, como forma de<br />

linguagem, para que a criança compreenda as relações do homem com o meio. Assim<br />

vários tipos de conhecimentos poderão ser trabalhados através da cartografia.<br />

Os mapas, além de serem instrumentos de comunicação, também são mecanismos<br />

facilitadores do processo de ensino-aprendizagem. E o professor deve, sobretudo,<br />

dominar as ferramentas de construção dos mapas. E ter em mente que é necessário criar<br />

mecanismos que possibilitem que a crianças, adotem o desenho, como forma de se<br />

comunicar com o mundo. É preciso permitir que a crianças manipulem e interajam com<br />

os mapas, afim de compreenderem o mundo em sua volta.<br />

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS: AS IMAGENS MENTAIS COMO PONTO DE<br />

PARTIDA PARA UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA<br />

O ser humano, conforme já foi dito, é dotado de uma capacidade mental de perceber os<br />

objetos e sua disposição no espaço. A cartografia, tem a intenção de representar e<br />

materializar esta percepção espacial. E dentro deste contexto, os mapas mentais são<br />

44


excelentes ferramentas de comunicação do indivíduo. Através dele, é possível ver a<br />

materialidade da forma de pensar e perceber o seu espaço. Segundo Archela e Gratão<br />

(20<strong>04</strong>, p.127) “mapas mentais são imagens espaciais que as pessoas têm de lugares<br />

conhecidos, direta ou indiretamente.” Essa relação entre as pessoas e os lugares, pode<br />

ser cultural, política, econômica e social. Esse instrumento revela, segundo Archela e<br />

Gratão, “como o lugar é compreendido e vivido” pelo grupo que ocupa aquele espaço.<br />

Por isso as imagens mentais, são matérias-primas importantes para a cartografia e,<br />

podem ser abordadas com os seguintes objetivos, segundo Andrade (2008): “verificar a<br />

relação entre imagens e mapas, usar imagens como mapas, estudar imagens derivadas<br />

de mapas e estudar como as imagens mentais [...], podem ser utilizadas para estimar<br />

distâncias e direções.”<br />

É um instrumento que no seu estado bruto é carregado de subjetividade, mas que pode<br />

oferecer certa objetividade, quando se estabelece critérios precisos de interpretação<br />

destes mapas mentais. Segundo Archela e Gratão (20<strong>04</strong>, p.129) “os mapas mentais são<br />

desenvolvidos nos indivíduos, segundo as etapas de desenvolvimento mental do<br />

homem.” Quanto à interpretação dos mapas, as autoras sugerem que critérios como a<br />

faixa etária, diferenças sociais, herança biológica, cultural e educação, devem ser<br />

levados em consideração.<br />

O resultado desta forma de apreender o espaço é o mapeamento cognitivo (mental) que<br />

tem uma forte similaridade com a cartografia social, muita usada nas ciências humanas.<br />

Sempre a partir das relações que o mapeador tem do lugar, da paisagem, do território e<br />

do espaço que vivencia cotidianamente. E o professor de Geografia deve estar atento a<br />

essa realidade, deve diagnosticá-la, a princípio, antes de desenvolver um plano de<br />

ensino, para uma eficaz educação cartográfica. Andrade (2008) destaca ainda que<br />

dentro do processo de ensino do mapa, é fundamental “despertar a percepção espacial<br />

das pessoas, possibilitando o entendimento espacial do espaço físico onde habitam [...],<br />

com a necessidade de [...] construir seu próprio documento cartográfico” a partir dos<br />

mapas mentais da criança. É uma tarefa árdua, mas com um resultado final gratificante.<br />

Muito melhor do que apenas pintar ou desenhar o contorno de mapas prontos.<br />

45


Pensando neste despertar da percepção espacial, é importante definir o que é isso.<br />

Segundo Andrade (2008), “é a imediata apreensão da informação sobre o ambiente por<br />

um ou mais sentidos, [...] visão, audição, olfato, tato e paladar.” Mas é importante<br />

lembrar que o meio oferece uma grande diversidade de informações, e a percepção<br />

sensorial consegue captar apenas uma pequena porção da realidade, que varia para cada<br />

povo. Mas mesmo assim é um bom começo para, que o pesquisador e o professor<br />

tenham uma idéia de como as pessoas se relacionam com o meio. Os mapas mentais<br />

podem ser o ponto de partida para o ensino das relações do homem com o meio. Podem<br />

servir de janela para a apreensão de vários conceitos importantes da geografia, como o<br />

espaço geográfico o território, a região, etc.<br />

4 REFERÊNCIAS<br />

ANDRADE, Ericka Delania Verissimo de. A elaboração de documentos<br />

cartográficos sob a ótica do mapeamento participativo. – Recife: O Autor, 2008<br />

ARCHELA, Rosely Sampaio; GRATÃO, Lucia Helena; TROSTDORF, Maria. O lugar<br />

dos mapas mentais na representação do lugar. Geografia. Londrina.Vol13 – nº 01,<br />

20<strong>04</strong><br />

DREYER-EIMBCKE, Oswald. O descobrimento da Terra. Tradução de Alfred Josef<br />

Keller. 6.ed. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1996.<br />

HARVEY, David. Condição pós-moderna. Ed: Loyola. 12ª Ed. Sã Paulo, 2003.<br />

MASSEY, Doreen. Pelo <strong>Espaço</strong>: Uma Nova Política da Espacialidade. 1.ed. Rio de<br />

Janeiro:Ed. Bertrand Brasil, 2008.<br />

OLIVEIRA, Lívia de. Estudo Cognitivo do Mapa.In: Almeida, Rosângela Doin de.<br />

Cartografia Escolar. São Paulo:Ed. Contexto, 2007. p. 15-40.<br />

______. Percepção e Representação do <strong>Espaço</strong> geográfico. In:Rio, Vicente Del;<br />

Oliveira, Lívia de. Percepção Ambiental: a experiência Brasileira. Ed. Studio Nobel,<br />

1999. p.187- 212.<br />

_______. Uma leitura Geográfica da Epistemologia do <strong>Espaço</strong>. In: Vitte, Antonio<br />

Carlos (org.). Contribuições à História e à Epistemologia da Geografia. Rio de<br />

Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. p. 163-188.<br />

PALANGANA, Isilda Campaner. Desenvolvimento e aprendizagem em Piaget e<br />

Vygotsky: a relevância social. 3. ed. São Paulo:Ed. Summus, 2001.<br />

46


PASSINI, Elza Yasuko. Aprendizagem Significativa De Gráficos No Ensino De<br />

Geografia. In: Almeida, Rosângela Doin de (org.). Cartografia Escolar. São Paulo:Ed.<br />

Contexto, 2007. p. 173-190.<br />

SANTOS, Douglas. A reinvenção do espaço: diálogos em torno da construção do<br />

significado de uma categoria. 1.ed. São Paulo:Ed.UNESP, 2002.<br />

SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova. 6. ed. São Paulo:Ed. USP, 2008.<br />

SIMIELLI, Maria Elena. O mapa como meio de comunicação e a alfabetização<br />

catográfica. In: Almeida, Rosângela Doin de (org.). Cartografia Escolar. São<br />

Paulo:Ed. Contexto, 2007. p. 71-92.<br />

VYGOSTKY, LEV SEMENOVITCH. Pensamento e Linguagem. -- 3ª ed. -- São<br />

Paulo:Martins Fontes, 2005.<br />

47


O PERFIL DO ALUNO DA EJA E SUAS PRETENSÕES EDUCACIONAIS<br />

48<br />

Cristiane da Silva Lidorino Drumond 13<br />

Daniela Coutinho D´Ávila de Almeida 14<br />

RESUMO<br />

Pâmela Endringer Ribeiro 15<br />

Este trabalho apresenta reflexões acerca das expectativas dos alunos que frequentam a<br />

modalidade de ensino EJA, por meio de uma pesquisa de campo realizada em uma<br />

escola da rede estadual da Grande Vitória com 55 alunos da primeira e terceira etapa<br />

deste programa. Busca-se mostrar as aspirações e os diversos e contraditórios cenários<br />

de realidades vivenciados por estes jovens e adultos que, por algum motivo, não<br />

acessaram este direito a educação quando mais novos, considerando os reais interesses e<br />

retornos sociais esperados destes e para estes usuários.<br />

Palavras-chave: EJA; Programas Sociais e Aceleração da Aprendizagem.<br />

ABSTRACT<br />

This study presents reflections on the expectations of students who attend the mode of<br />

teaching adult education, through a survey at a school in the metropole of Vitória-ES<br />

(BRA), with 55 students from first and third stage of this program. Seeks to show the<br />

aspirations and the diverse and contradictory scenarios realities experienced by these<br />

young people and adults who, for some reason have not accessed this right to education<br />

when young, considering the real interests and social returns expected from such and<br />

such users.<br />

KEYWORDS: EJA (Young Adult Education); Social Program e Apprenticeship of<br />

Acceleration.<br />

13<br />

Licenciada em Pedagogia; Pós-Graduanda em Didática do Ensino Superior pela Faculdade Capixaba da<br />

Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />

14<br />

Bióloga e Professora do Ensino Fundamental e Médio-SEDU-ES; Pós-Graduanda em Didática do<br />

Ensino Superior pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />

15<br />

Assistente Social da Vara de Execuções de Penas e Medidas Alternativas de Vitória-ES; Pós-<br />

Graduanda em Didática do Ensino Superior pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.


1 INTRODUÇÃO<br />

Este trabalho traz reflexões acerca das expectativas e aspirações de alunos que<br />

frequentam a modalidade de ensino EJA, através da concretização de uma pesquisa de<br />

campo realizada com alunos da primeira e terceira etapa deste programa. O objetivo da<br />

pesquisa foi trazer quem e o que realmente pretende o sujeito que se insere na EJA. Para<br />

tanto, produziu-se um questionário semi-estruturado, sendo este aplicado no mês de<br />

julho de 2011 em uma escola estadual no município de Cariacica/ES.<br />

É sabido, que a Educação de Jovens e Adultos extrapola as questões educacionais,<br />

centram-se aqui também questões políticas, históricas, culturais e principalmente<br />

sociais. Isso porque a educação tem como missão explícita democratizar o<br />

conhecimento, mesmo com todas as suas influências de posicionamento a favor do<br />

neoliberalismo, de manutenção de um Estado elitizado, e como missão mais relevante, e<br />

muitas vezes esquecida, formar cidadãos críticos e conscientes de seus direitos e<br />

deveres, como sujeitos ativos e integrados, assim mais capacitados para atuar e alterar a<br />

realidade social coletiva.<br />

Desde o Brasil colônia, a educação de jovens e adultos já se fazia necessária ao<br />

desenvolvimento social, mostrando-se capaz de transformar sujeitos passivos e<br />

alienados em sujeitos atuantes e críticos. Com a promulgação da Constituição Federal<br />

de 1988, houve avanços significativos que resultaram no Programa EJA, sendo no ano<br />

de 1993, destaque e prioridade do Governo Federal.<br />

Ocorre que mesmo após quase trinta anos de execução deste programa, não se tem<br />

dados suficientes que comprovem o sucesso e/ou fracasso desta modalidade de ensino.<br />

E para suscitar uma discussão acerca deste ensino, a pesquisa revela, em uma menor<br />

parte, o real impacto desta EJA no cotidiano dos alunos e da sociedade. Portanto,<br />

buscou-se mostrar de forma transparente e real, os verdadeiros anseios dos discentes<br />

que procuraram esta forma de aprendizagem.<br />

49


2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA<br />

2.1 HISTÓRIA E DEFINIÇÃO DA EJA<br />

A história da EJA está diretamente ligada às modificações políticas, sociais e<br />

econômicas do País. Inicia-se no Brasil colônia, onde os colonizadores ensinavam os<br />

adultos a ler e a escrever para catequizá-los. Com a expulsão dos jesuítas no século<br />

XVIII, esta modalidade de ensino foi extinta, retornando mais tarde, na época do<br />

Império.<br />

Com a revolução de 1930, iniciou-se a consolidação de um sistema de educação no<br />

Brasil. A educação de adultos, pela primeira vez, passa a ser um dever do Estado. Com<br />

a Constituição de 1934 se estabelece a criação de um Plano Nacional de Educação.<br />

Na década de 40 algumas iniciativas políticas e pedagógicas se mostram mais<br />

abrangentes no que tange a educação de jovens e adultos, criando o FNEP (Fundo<br />

Nacional de Ensino Primário), o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas) e o<br />

CEAA (Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos).<br />

Já nas décadas de 40 a 60 várias campanhas, congressos e seminários marcaram a<br />

educação de jovens e adultos, entre eles, o Segundo Congresso Nacional de Educação<br />

de Adultos, em que se discutiu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação elaborada em<br />

1962. Esse período teve grande influência do autor Paulo Freire, que começou a aplicar<br />

seu sistema de educação baseado no diálogo e características socioculturais das classes<br />

populares.<br />

Nota-se que com o golpe militar de 1964 os movimentos de educação ligados à cultura<br />

popular foram reprimidos. Na década de 70, ainda sob a ditadura militar, iniciou o<br />

Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), um projeto cujo objetivo principal<br />

era erradicar o analfabetismo em dez anos. Não apresentando muito sucesso, o<br />

programa passou por diversas alterações em seus objetivos.<br />

Em 1971 o ensino supletivo é implantado no Brasil.<br />

50


Durante o período militar, a educação de adultos adquiriu pela primeira vez na<br />

sua história um estatuto legal, sendo organizada em capítulo exclusivo na Lei<br />

nº 5.692/71, intitulado ensino supletivo. O artigo 24 dessa legislação<br />

estabelecia como função do supletivo suprir a escolarização regular para<br />

adolescentes e adultos que não a tenham conseguido ou concluído na idade<br />

própria. (Vieira, 20<strong>04</strong>, p.40)<br />

O supletivo tinha como objetivo a escolarização de grande número de pessoas para<br />

satisfazer um mercado de trabalho competitivo. Mas para Haddad, 1991 os centros<br />

supletivos não atingiram seus objetivos verdadeiros, pois não receberam apoio político<br />

nem os recursos financeiros suficientes para sua plena realização.<br />

Na década de 80 várias transformações ocorreram na sociedade brasileira com o fim do<br />

governo militar. O MOBRAL foi extinto, sendo substituído pela fundação EDUCAR e a<br />

Constituição de 1988 trouxe avanços, consolidando-se a EJA.<br />

Em janeiro de 2003, o MEC anunciou que a alfabetização de jovens e adultos seria<br />

prioridade do governo federal. Esse programa encontra-se em andamento e não se pode<br />

afirmar se seus objetivos foram alcançados.<br />

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade de ensino voltada para<br />

pessoas que por algum motivo, não tiveram acesso ao ensino regular na idade<br />

apropriada. Segundo a LDB art. 37 § 2º “o poder público viabilizará e estimulará o<br />

acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e<br />

complementares entre si.”<br />

Desta forma, para trazer este aluno ao ambiente escolar é importante reconhecer sua<br />

significância como sujeito inserido em uma sociedade capitalista e exclusiva.<br />

Conhecendo sua realidade, como aluno ingresso nesta modalidade de ensino, será mais<br />

fácil, entender e atender as necessidades que os trouxeram para este ambiente,<br />

viabilizando uma educação construtiva e atrativa para um público tão diverso.<br />

51


2.2 EDUCAÇÃO E SOCIEDADE<br />

É indispensável o destaque de que a educação não se delimita a aquele ensinamento<br />

institucionalizado, pelo contrário, ela é inerente à existência humana, sendo<br />

contextualizada a cada momento para atender e acompanhar o desenvolvimento do ser<br />

social, conforme descreve o autor “A educação é um processo histórico de criação do<br />

homem para a sociedade e simultaneamente de modificação da sociedade para<br />

benefício do homem (...)” (Pinto, 2000, p.39).<br />

Reconhecendo que a educação não se apresenta pronta, acabada e finita, compreende-se<br />

a necessidade, mesmo que política, de semear o conhecimento para jovens e adultos<br />

que, por algum motivo, não escolheram a educação institucionalizada para terem mais<br />

possibilidades de interferirem na construção de suas comunidades. Não que esse acesso<br />

seja garantido quando se tem a educação exigida socialmente pelo sistema vigente, mas<br />

contribui para que indivíduos busquem soluções coletivas, permitindo que o processo<br />

educacional reduza os espaços entre interesses individuais e coletivos, afinal ninguém é<br />

tão ignorante que não possa socializar seus valores, costumes, hábitos, etc, ou seja,<br />

transmitir conhecimento de alguma forma.<br />

Pinto (2000, p. 38) descreve que:<br />

A educação é apenas o aspecto prático, ativo, da convivência social. Na<br />

sociedade todos educam a todos permanentemente. Como o indivíduo não<br />

vive isolado, sua educação é contínua. Mais particularmente, considerando-se<br />

apenas a transmissão dos conhecimentos compendiados, a educação também é<br />

permanente, pois o grupo dominante tem todo o interesse em reproduzir-se<br />

nas gerações sucessivas, o que faz transmitindo às novas gerações seu estilo<br />

de vida, seu saber, seus hábitos, seus valores, etc. Não existe sociedade sem<br />

educação, ainda que nas formas mais primitivas possa faltar a educação<br />

formalizada, institucionalizada (que aí é representada pelos ritos sociais). Por<br />

conseqüência, nenhum membro da comunidade é absolutamente<br />

ignorante, do contrário não poderia viver (grifo nosso).<br />

Segundo o autor, a educação é social e permanente em qualquer tempo, pois o que se<br />

conquista através dela é a emancipação do homem, transformando-o em sujeito crítico e<br />

consciente de que é parte do processo de desenvolvimento do meio em que está<br />

inserido.<br />

52


Portanto, vale lembrar que a EJA não funciona apenas como um mero conhecimento<br />

subjetivo, como mostra a pesquisa realizada na cidade de Cariacica/ES. Grande parte<br />

dos usuários está em busca de melhores oportunidades de salários e empregos,<br />

conscientes de que esse é o meio mais eficiente de permanecerem ou acessarem o<br />

mercado de trabalho. Não se pode esquecer também o caráter basilar da educação no<br />

processo de desenvolvimento de empregabilidade, bem como desta última na inclusão<br />

social objetivada. A qualificação profissional se apresenta indispensável à inclusão no<br />

mercado de trabalho, ancorada na escolarização. Desta forma, a transmissão do<br />

conhecimento institucionalizado tem sucesso também quando o aparato material e<br />

intelectual dos profissionais que a transmitem possibilita utilizar métodos compatíveis<br />

com a realidade das pessoas que o procuram. O educador não deve reforçar que o adulto<br />

que ali está não estudou por preguiça ou falta de interesse, mas como um crítico e<br />

dominador da realidade dinâmica, reconhecendo que o adulto analfabeto é produto do<br />

meio social em que vive, e não um mero desviado, anormal. Compreende-se também,<br />

que o aumento do acesso infantil a educação institucionalizada é impulsionada pelos<br />

pais que tiveram oportunidades de recebê-la, mesmo com o “atraso social”.<br />

Desta forma, compreende-se que a educação é um fenômeno existencial, ou seja, quem<br />

vive em sociedade está fadado a se encaixar na forma social vigente, sendo nas relações<br />

econômicas, sociais, culturais, científicas, políticas, etc. ser homem já significa aprender<br />

em qualquer e a qualquer tempo, permanentemente. Se por qualquer motivo não<br />

procurou aprender a ler e a escrever, também foi por que existe a possibilidade de viver<br />

sem esta condição de educando. Portanto, quem viveu e vive sem a presença da<br />

educação formal, é justamente absorvido pela própria sociedade, que até o momento não<br />

cobrou tais ensinamentos, o alimentado e o acolhendo da maneira que se apresenta.<br />

Compreendido parte deste amplo conceito que a educação representa, é de extrema valia<br />

expor que uma de suas funções é reproduzir comportamentos do grupo dominante,<br />

sendo aplicados na educação formalizada e nos hábitos do dia a dia. Transmitindo esses<br />

interesses, mesmo que embutidos no discurso social da importância da educação para<br />

todos, no desenvolvimento do país, da inclusão e redução da desigualdade social, o<br />

poder de dominar não caminha fora deste contexto neoliberal de permanecer no<br />

comando. Afinal, mesmo o discurso sendo social e qualitativo, o interesse<br />

53


governamental prisma em fortalecer a economia, aumentar o número de alfabetizados e<br />

cumprir o dever moral de um País que preza o desenvolvimento.<br />

2.3 DIAGNÓSTICO DAS EXPECTATIVAS DOS ALUNOS DA EJA<br />

Os resultados demonstrados a seguir foram obtidos através da pesquisa de campo<br />

realizada em uma escola da rede estadual de ensino localizada no município de<br />

Cariacica, no período noturno com a modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos).<br />

Foi aplicado um questionário semi-estruturado para 55 alunos da 1ª e 3ª etapa, do qual<br />

se observa:<br />

• A maior parte dos alunos é do sexo feminino e de cor parda, com idade entre 17<br />

e 60 anos, sendo predominante a faixa etária dos 17 aos 40 anos. A média da<br />

renda familiar é de 500 a 2000 reais, o que permite concluir que não apenas<br />

pessoas de baixa renda fazem parte dessa modalidade de ensino.<br />

• Os motivos pelos quais esses alunos pararam de estudar foram à necessidade de<br />

trabalhar, o desinteresse, a falta de estímulos e até a dificuldade de acesso à<br />

escola, como se observa nos gráficos abaixo:<br />

54


Cerca de 75% dos alunos acreditam que a EJA prepara para o nível superior, mostrando<br />

a boa motivação desses alunos como mostram o gráfico a seguir:<br />

O número expressivo de 75% dos alunos considera a EJA importante para adquirir<br />

conhecimento. Os outros 25% variam entre melhorar o emprego e concluir o ensino<br />

médio. Observa-se uma grande diversidade com relação ao motivo pelo quais esses<br />

alunos estão na EJA. Observe os gráficos:<br />

55


Aproximadamente a metade dos alunos (40%), nas duas etapas, estão interessados no<br />

mercado de trabalho, 25% dos alunos da 3ª etapa querem cursar o ensino superior e 20<br />

% o ensino técnico. Já na 1ª etapa o interesse no ensino técnico é um pouco maior do<br />

que no superior, e uma pequena parcela quer se inserido no mercado de trabalho.<br />

Nota-se que na 1ª etapa existem alguns alunos que cursam a EJA por obrigação, algo<br />

que na 3ª etapa não aparece no gráfico. Pode-se concluir que esse dado não é<br />

56


epresentado na 3ª etapa, por que, manter-se na escola por obrigação, é praticamente<br />

insustentável, pois a educação é uma questão de satisfação e responsabilidade individual<br />

e social.<br />

57


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Enfim, diante da realidade social vivenciada hoje pela maioria da população brasileira,<br />

considerando a desigualdade em sua mais ampla concretude, ou seja, dificuldades de<br />

cidadãos, constitucionalmente detentores de deveres e direitos, no acesso aos serviços<br />

públicos desde o nascimento, a EJA se apresenta como uma oportunidade de crescimento<br />

intelectual e ascensão social.<br />

Por esta ótica, a modalidade de ensino EJA funciona perfeitamente ao atender um público,<br />

composto em grande parte, por indivíduos de baixa renda, possibilitando, mesmo que<br />

tardiamente, o acesso e a integração social por meio da Educação. Modalidade esta, que<br />

objetivamente é acessada por pessoas que desejam estar inseridas na sociedade,<br />

principalmente no mercado de trabalho.<br />

Porém, o que se deve destacar é que se trata de mais um direito violado, quando não ofertado<br />

adequadamente, sendo minimizado por uma política “compensatória”. Trata-se de uma<br />

modalidade existente há cerca de 8 (oito) anos, mas que não apresenta dados concretos e<br />

acessíveis de sua efetividade, não tendo um currículo próprio, nem profissionais treinados e<br />

capacitados voltados especialmente ao atendimento deste público.<br />

A pesquisa mostra com clareza o perfil e os desejos dos alunos da EJA, entre eles, o Ensino<br />

Superior, o que se pode concluir que há interesse na educação, mas às vezes, não há<br />

oportunidade de exercê-la.<br />

Por isso, a EJA não deve ser estimulada em detrimento ao ensino regular, pois, perde-se não<br />

apenas o aluno da EJA, mas, possivelmente suas gerações. Assim, o Estado deve ampliar e<br />

qualificar a oferta da Educação na infância, para que desde criança seja informada a real<br />

dependência do ser homem da educação. Mostrando de forma “lúdica” ou não, o reflexo da<br />

mesma no futuro individual e coletivo de cada cidadão, e caso a EJA seja a saída para<br />

oportunizar indivíduos a uma melhor condição de vida, que seja dispensado uma atenção de<br />

qualidade aos educadores e aos educandos deste modelo atual de educação de jovens e<br />

adultos.<br />

58


4 REFERÊNCIAS<br />

HADDAD, Sérgio. Estado e educação de adultos (1964-1985). 1991. Tese (Doutorado) –<br />

Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1991.<br />

LOPES, P. L. <strong>Revista</strong> Selva: o histórico da EJA, pdf. Disponível em . Acesso em 10 de agosto de 2011.<br />

PAIVA, Jane; OLIVEIRA, Inês B. de. Educação de Jovens e Adultos. Coleção Pedagogias<br />

em Ação. 1. Ed. Petrópolis: DP et Alii, 2009.<br />

PINTO, Álvaro Vieira, 1909. Sete lições sobre educação de adultos / Álvaro Vieira Pinto:<br />

Introdução e entrevista de Dermeval Saviani e Betty Antunes de Oliveira: versão final revista<br />

pelo autor. 11.ed. São Paulo: Cortez, 2000.<br />

VIEIRA, Maria Clarisse. Fundamentos históricos, políticos e sociais da educação de<br />

jovens e adultos. V.I: aspectos históricos da educação de jovens e adultos no Brasil.<br />

Universidade de Brasília, Brasília, 20<strong>04</strong>.<br />

59


A PRÁTICA DA INTERDISCIPLINARIDADE NO ÂMBITO ESCOLAR<br />

60<br />

Gilcimar do Nascimento Gonçalves 16<br />

Giselle de Figueiredo Bachir Cheroto Juliat 17<br />

Ilzineli de Aguiar Fazolo 18<br />

Rita de Cássia Martins Barbosa 19<br />

RESUMO<br />

O objetivo, deste artigo, é compreender o trabalho pedagógico na perspectiva interdiciplinar,<br />

apresentando um breve histórico, mais precisamente, uma evolução histórico-crítica sobre os<br />

estudos da interdisciplinaridade, como pode ser aplicada na construção do conhecimento,<br />

como prática escolar e no desenvolvimento e articulação dos conteúdos de cada disciplina.<br />

Como pesquisa bibliográfica pautou-se nas ideias de autores considerados expoentes no tema,<br />

com Japiassú e Fazenda.<br />

Palavras-chave: Interdisciplinaridade; Prática escolar; Integração.<br />

ABSTRACT<br />

The aim of this paper is to understand the pedagogical work in a interdisciplinary perspective,<br />

presenting a brief history, more precisely, an evolution on the historical-critical studies of<br />

interdisciplinarity, how can be applied in the process of building up knowledge as a school<br />

practice and also to help in the development and articulation of content of each discipline. The<br />

literature research was based on the ideas of authors considered the exponents on the theme<br />

suchas Japiassú and Fazenda.<br />

KEYWORDS: Interdisciplinary, School practice; Integration.<br />

16 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />

17 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />

18 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.<br />

19 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.


1 INTRODUÇÃO<br />

A abordagem do tema a prática da interdisciplinaridade no âmbito escolar exige inicialmente<br />

uma discussão acerca dos conceitos relativos a interdisciplinaridade, de desclarecimentos<br />

quanto a distinção entre interdisciplinaridade científica e interdisciplinaridade escolar e<br />

posteriormente debruçar sobre a prática interdisciplinar na escola. Assim, neste estudo<br />

pretende-se compreender o trabalho pedagógico na perspectiva interdiciplinar, apresentando<br />

um breve histórico, mais precisamente, uma evolução histórico-crítica sobre os estudos da<br />

interdisciplinaridade, como pode ser aplicada na construção do conhecimento, como prática<br />

escolar e no desenvolvimento e articulação dos conteúdos de cada disciplina.<br />

Os documentos oficiais da educação, especificamente os Parâmetros Curriculares Nacionais –<br />

PCNs , também tratam do termo interdisciplinaridade, o que impõe uma observação deste<br />

documento na discussão sobre a prática pedagógica interdisciplinar, além dos demais<br />

documentos, tais como: a lei de diretrizes e base da educação nacional – LDB, Lei Nº<br />

9394/96, promulgada em 20 de dezembro de 1996, as resoluções que definem e explicitam as<br />

diretrizes e as especificidades de cada etapa da educação básica, que serão pontuads<br />

posteriormente, destacando as interfaces entre o ensino e a aprendizagem e sua relação com a<br />

interdiciplinaridade.<br />

Observando ser relevante, na atualidade, que professores e professoras, pedagogos e<br />

pedagogas, os denominados profissionais da educação, cuja finalidade do trabalho é o<br />

processo de ensino e aprendizagem, lerem, analisarem, refletirem e discutirem o que é<br />

interdisciplinaridade e como tornar a prática pedagógica uma prática interdisciplinar no<br />

interior da escola, esta é justificativa deste estudo, traduzido na busca de resultados de uma<br />

pesquisa bibliográfica, resultado da análise e interpretação das ideias dos autores selecionados<br />

para a produção deste artigo, como Ivani Fazenda, Japiassu, Lenoir, Pombo , Nogueira,<br />

dentre outros.<br />

61


2 DESENVOLVIMENTO<br />

2.1 BREVE TRAJETÓRIA HISTÓRICA E POLÍTICA SOBRE<br />

INERDISCIPLINARIDADE.<br />

Ivani Fazenda em seu 13º livro, “Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa” de 1994,<br />

repete o que já dissera em outras publicações “a interdisciplinaridade se consolida na busca,<br />

de uma busca que é sempre pergunta, ou melhor pesquisa” (p.9). É com esse espírito que<br />

inicia-se este artigo: uma busca para compreender, apreender e quiçá fazer, uma prática<br />

pedagógica interdisciplinar na escola.<br />

As pesquisas apontam que Japiassú e Fazenda são os autores responsáveis pelas primeiras<br />

pistas sobre a interdisciplinaridade no Brasil e apontam dois acontecimentos que contribuíram<br />

como marcos significativos para a estruturação da Interdisciplinaridade.<br />

Em 1970, foi publicado um documento pelo Centro Pesquisa e Inovação do Ensino – CERI,<br />

que analisava as atividades interdisciplinares de estudos e pesquisa das universidades,<br />

propondo algumas definições para Interdisciplinaridade, além de noções e concepções sobre<br />

disciplina, multidisciplinaridade 2018 e pluridisciplinaridade 21 . 19<br />

Também em 1970, foi realizado um Seminário pela Organização de Cooperação e<br />

Desenvolvimento Econômico – OCDE em parceria com Ministério da Educação Francês<br />

sobre Interdisciplinaridade nas Universidades, do qual participaram alguns especialistas de<br />

renome internacional, dentre eles o nosso conhecido Jean Piaget. Neste seminário os autores<br />

discutiram na tentativa de definir Interdisciplinaridade e noções a fim.<br />

Foi a partir de 1976, que as concepções sobre interdisciplinaridade, decorrentes do Congresso<br />

de Nice, na França em 1969, são veiculados aqui no Brasil, trazidas por Japiassú e Fazenda.<br />

Vale ressaltar que o eixo temático de trabalhado por Japiassú é epistemológico 22 , 20 e o de<br />

Fazenda, pedagógico 23 . 21 Para estes dois autores a interdisciplinaridade é apontada como saída<br />

20<br />

Sistema de um só nível e de objetivos múltiplos, mas, sem cooperação.<br />

21<br />

Justaposição de diversas disciplinas, agrupadas de modo a fazer aparecer as relações existentes entre elas,<br />

onde há cooperação, mas, não há coordenação..<br />

22 Diz respeito ao conhecimento – teoria do conhecimento.<br />

23 Diz respeito a educação – ensino e aprendizagem.<br />

62


para o problema da disciplinaridade, tendo como ser superada pelo exercício de uma prática<br />

interdisciplinar.<br />

Fazenda (1994) traça uma evolução, uma tentativa de organização didática do movimento da<br />

interdisciplinaridade em três momentos distintos, a partir da década de 70. Na década de 70,<br />

seria a década da estruturação básica do conceito de interdisciplinaridade, A década seguinte<br />

(1980), a busca, a tentativa de explicitar uma metodologia para a interdisciplinaridade e 1990,<br />

a construção de uma teoria da interdisciplinaridade.<br />

2.2 CONCEITUAÇÕES BÁSICAS<br />

2.2.1 INTERDISCIPLINARIDADE<br />

Lenoir (1998) com base nos estudos de Germain (1991) e Petrie (1992) afirma que o conceito<br />

de interdisciplinaridade tem sentido em um contexto disciplinar, numa relação com outras<br />

disciplinas, pressupondo a necessidade de interação, e mais ainda a interdisciplinaridade que<br />

“pressupõe a existência de ao menos duas disciplinas como referência e a presença de uma<br />

ação recíproca” (GERMAIN, 1991 apud LENOIR, 1998, p.46). Nesse contexto é possível<br />

inferir que a atividade ou a prática interdisciplinar necessita da perspectiva disciplinar,<br />

entendida aqui como matérias escolares.<br />

É em Japiassú (1976), que encontramos sustentação e argumentação para a perspectiva<br />

disciplinar e interdisciplinar indicada acima, pois segundo o mesmo a interdisciplinaridade<br />

necessita da intercomunicação entre as disciplinas, permitindo uma transformação e uma<br />

interlocução entre elas, realizada pelo diálogo compreensível, e não apenas a troca de<br />

informações entre disciplinares, o que não constitui um método interdisciplinar.<br />

Faz-se mister destacar a polêmica em relação ao termo interdisciplinaridade, por sua<br />

variedade no significado e concepção e em alguns casos até mesmo da sua compreensão. O<br />

entender do termo interdisciplinaridade ainda é motivo de debate, como já afirmou Fazenda<br />

(1994), ao traçar a trajetória da evolução em aproximadamente três décadas: sua<br />

conceituação, sua metodologia e sua estruturação enquanto teoria, o que se pode afirmar,<br />

portanto ter uma variedade de definições para o termo, em face de pontos de vista, da vivência<br />

e da experiência educacional, por exemplo.<br />

63


Para Japiassu (1976, p.74): “A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das<br />

trocas entre os especialistas e pelo grau de interação real das disciplinas no interior de um<br />

mesmo projeto de pesquisa”. Enquanto para Pombo (2008, p. 60):<br />

É a relação interna entre a disciplina "mãe" e a disciplina "aplicada". O termo<br />

interdisciplinaridade na educação já não oferece problema, pois, ao tratar do mesmo<br />

objeto de ciência, uma ciência da educação complementa outra. É uma forma nova<br />

de pensar. Piaget já sustentava que a interdisciplinaridade seria uma forma de se<br />

chegar à transdisciplinaridade 24 , 22 etapa que não ficaria na interação e reciprocidade<br />

entre as ciências, mas alcançaria um estágio onde não haveria mais fronteiras entre<br />

as disciplinas.<br />

Porquanto, mesmo não se tendo uma conceituação única e exata do termo<br />

interdisciplinaridade, considerando os distintos enfoques já citados acima e mesmo não sendo<br />

possível sua generalização quanto à concepção da interdisciplinaridade, é fato que Fazenda<br />

(1998), Japiassu (1976), Pombo (2008) e Piaget (apud POMBO, 2008) consideram para a<br />

interdisciplinaridade, a exigência da relação de sentidos e significados na busca do<br />

conhecimento, onde o processo de ensino e aprendizagem se dê numa percepção dos saberes<br />

em conjunto, na interação das disciplinas traduzida nas relações que se faz ou que se pretende.<br />

2.2.2 INTERDISCIPLINARIDADE CIENTÍFICA E INTERDISCIPLINARIDADE ESCOLAR<br />

Como o termo interdisciplinaridade é derivado do vocábulo disciplina, é importante entender<br />

a diferenciação das disciplinas escolares das disciplinas científicas, mesmo considerando que<br />

ambas compartilham de uma lógica científica, como também a concepção de disciplina. A<br />

disciplina vem a ser um conjunto específico de conhecimentos com características próprias<br />

sobre o plano do ensino, da formação dos mecanismos, dos métodos e das matérias.<br />

Lenoir (1998) destaca que “a interdisciplinaridade escolar trata das matérias escolares e não<br />

de disciplinas científicas. Mesmo se as matérias escolares tomam certos empréstimos às<br />

disciplinas científicas, não constituem cópias de maneia alguma [...]” (p.47).<br />

24 Etapa superior de integração. Trata-se de um sistema global sem barreiras sólidas entre as<br />

disciplinas.<br />

64


Nessa perspectiva, e que se busca distinguir os conceitos de Interdisciplinaridade científica e<br />

interdisciplinaridade escolar, e retornamos a autora para esclarecer que “como não se deve<br />

confundir disciplina científica e disciplina escolar, a interdisciplinaridade escolar deve ser<br />

nitidamente diferenciada da interdisciplinaridade científica” (ibid, p.51), características<br />

destacads claramente e objetivamente, a saber: a nterdisciplinaridade científica tem como<br />

finalidade a produção de novos conhecimentos e a resposta às necessidades sociais,<br />

enquanto a interdisciplinaridade escolar, a difusão do conhecimento, favorecendo a<br />

integração de aprendizagens e conhecimentos, além da formação de atores sociais. A<br />

primeira tem como moldes de aplicação a pesquisa e o conhecimento como sistema de<br />

referência, e a segunda implica a noção de ensino, de formação e o sujeito, o aprendiz o<br />

seu sistema de referência em relação ao conhecimento.<br />

2.3 OS DOCUMENTOS OFICIAIS E A INTERDISCIPLINARIDADE<br />

Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs se constituem em referencial para a Educação<br />

Básica, especificamente para o Ensino Fundamental e Ensino Médio e tem como referência<br />

nortear o trabalho pedagógico dos professores. Sua disponibilização iniciou-se em 1997 para<br />

o primeiro ciclo do Ensino Fundamental (1ª a 4ª série), em 1998 para o segundo ciclo (5ª a 8ª<br />

série) e em 1999, para o Ensino Médio.<br />

Os documentos – PCNs do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, indicam a<br />

Interdisciplinaridade como opção e orientação de trabalho pedagógico quando direcionam que<br />

o professor faça a relação entre diferentes campos do conhecimento, ao planejar e executar<br />

suas aulas, conforme disposto:<br />

A interdisciplinaridade questiona a segmentação entre os diferentes campos de<br />

conhecimento produzido por uma abordagem que não leva em conta a inter-relação<br />

e a influência entre eles questiona a visão compartimentada (disciplinar) da<br />

realidade sobre a qual a escola, tal como é conhecida, historicamente se constitui.<br />

Refere-se, portanto, a uma relação entre disciplinas (BRASIL, 1997, p.31).<br />

Nesse sentido, a Interdisciplinaridade traduz-se em instrumento capaz de possibilitar a relação<br />

entre as disciplinas, entre os campos de conhecimentos com vistas a produzir saberes para<br />

responder às demandas escolares e sociais.<br />

65


Nos PCNs do Ensino Médio que se encontram os esclarecimentos sobre o fazer do professor,<br />

sua prática escolar interdisciplinar ou para àquele professor que interessa pela<br />

interdisciplinaridade na prática escolar, estes propõem objetivamente:<br />

a interdisciplinaridade não tem a pretensão de criar novas disciplinas ou saberes,<br />

mas de utilizar os conhecimentos de várias disciplinas para resolver um problema<br />

concreto ou compreender um determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista<br />

(Ibid, 1999, p.21).<br />

Outros documentos oficiais tratam da interdisciplinaridade, como por exemplo, As Diretrizes<br />

Curriculares Nacionais para a Educação Básica - Resolução Nº. 4, de 13 de julho de 2010, que<br />

entre outras disposições, determina no Artigo 13, parágrafo terceiro, inciso III:<br />

Escolha da abordagem didático-pedagógica disciplinar, pluridisciplinar,<br />

interdisciplinar ou transdisciplinar pela escola, que oriente o projeto políticopedagógico<br />

e resulte de pacto estabelecido entre os profissionais da escola,<br />

conselhos escolares e comunidade, subsidiando a organização da matriz curricular,<br />

a definição de eixos temáticos a constituição de redes de aprendizagem (Ibid, 2010,<br />

p. 5);<br />

Tal dispositivo legal deixa explicitado claramente a importância das ligações, da<br />

complementaridade, das convergências e das interconexões entre os diversos saberes e fazeres<br />

que compõem o currículo da educação nacional, reafirmado na concepção dos componentes<br />

curriculares da educação básica que [...] são organizados pelos sistemas educativos, em forma<br />

de áreas de conhecimento, [...], eixos temáticos, preservando-se a especificidade dos<br />

diferentes campos do conhecimento [...] (ibid, p.6).<br />

Mais ainda, bem próximo à prática escolar, o processo de avaliação da educação empreendida<br />

pelo Governo Federal, o Exame Nacional do Ensino Medio – ENEM, referência para as<br />

escolas e universidades, possui como base de seus itens/questões a interdisciplinaridade, o<br />

saber integrado.<br />

Nessa visão, a interdisciplinaridade ganha espaço e firma-se como concepção da ação<br />

pedagógica dos profissionais da educação, com possibilidades de garantir a construção de um<br />

conhecimento global, rompendo com as fronteiras das disciplinas.<br />

66


2. 4 A PRÁTICA INTERDISCIPLINAR NA ESCOLA<br />

Pesquisas demonstram que a interdisciplinaridade é atualmente vista como um elemento<br />

valioso dentro do processo de ensino e aprendizagem em quase todos os níveis de ensino. Os<br />

profissionais da educação, pedagogos, coordenadores e professores traduzem seus interesses<br />

em fazer educação na perspectiva interdisciplinar.<br />

De acordo com o pensamento de Fazenda (1993) a interdisciplinaridade começa a ser<br />

considerada por vários estudiosos como a solução para que se restabeleça uma nova ordem na<br />

educação-ensino no Brasil e por significar uma atitude de reciprocidade e mutualidade. É<br />

assim que mesma argumenta em defesa da interdisciplinaridade:<br />

É um esforço de superar a fragmentação do conhecimento, tornar este relacionado<br />

com a realidade e os problemas da vida moderna. Muitos esforços tem sido feitos<br />

neste sentido na educação. Na ciência, por sua vez, os esforços estão na busca de<br />

respostas, impossíveis com os conhecimentos fragmentados de uma única área<br />

especializada (FAZENDA, 2005, p. 60).<br />

A argumentação de Fazenda em prol da interdisciplinaridade aguça a perspectiva de uma<br />

prática interdisciplinar no âmbito escolar, já constado inicialmente nos documentos oficiais,<br />

desde a legislação que direciona o ensino, como nos PCNs. Profissionais da educação<br />

discutem desde a década de 80, sobre a necessidade de romper com a fragmentação do<br />

processo de ensino e aprendizagem, com a desarticulação do processo de construção do<br />

conhecimento que é justificado pela compreensão da importância da interação e<br />

transformação recíprocas entre as diferentes áreas do saber.<br />

A propósito da prática interdisciplinaridade no ambiente escolar, foco do presente estudo<br />

bibliográfico, o professor Nildo Ribeiro Nogueira, em seu livro “Interdisciplinaridade<br />

Aplicada” (1998), discute a Pseudo-Interdisciplinaridade praticada no ambiente escolar.<br />

Afirma o autor, que por ser encarada por alguns professores “como a panacéia da educação,<br />

como modismo [...]” (p.29), e modismo por outros, a interdisciplinaridade na prática, é<br />

desacreditada, é negada conforme comentários registrados no texto “[...] os alunos não<br />

conseguem nem conjugar o verbo To be, como vou conseguir trabalhar o meio ambiente em<br />

Inglês?”, por exemplo. (p.30). Porém, argumenta em favor dos professores, quando analisa<br />

67


que os mesmos professores não fazem uma prática interdisciplinar na escola, por ter que<br />

completar os conteúdos destinados àquela série, durante o ano ou semestre letivo.<br />

Por outro lado, afirma Nogueira (1998) que outros aspectos interferem na consecução de um<br />

projeto interdisciplinar na escola, tais como a insegurança – a falta de compreensão da<br />

proposta interdisciplinar; a flexibilização quanto à orientação do trabalho do professor, em<br />

relação aos conteúdos – autonomia do trabalho pedagógico e a “carga de trabalho” (grifo<br />

nosso) que o professor acredita ter que disponibilizar para a elaboração de exercícios,<br />

questões e atividades relativas ao tema de estudo, do projeto interdisciplinar.<br />

Por tais aspectos, considera o autor, a prática interdisciplinar não se concretiza, o professor<br />

não assume uma postura interdisciplinar e seu fazer pedagógico permanece compartimentado,<br />

fragmentado e até descontextualizado da realidade do educando, o que implica ser a prática<br />

pedagogia interdisciplinar apenas desejo e “sonho do coordenador pedagógico, do diretor e de<br />

alguns poucos professores que conseguem enxergar além das paredes da sala de aula”<br />

(NOGUEIRA, 1998, p.31).<br />

2.4.1 INTERDISCIPLINARIDADE: UMA QUESTÃO DE ATITUDE<br />

É sabido que o professor, um dos responsáveis pelo processo de ensino-aprendizagem na sala<br />

de aula, e por tal, é importante ter um reflexão acerca da postura interdisciplinar que vá além<br />

do discurso e concretize de fato na prática do cotidiano escolar, sendo corroborado pelo<br />

pensamento de Fazenda (1993), quando destaca que a interdisciplinaridade começa a ser<br />

considerada por vários estudiosos como a solução para que se restabeleça uma nova ordem na<br />

educação.<br />

Fazenda (1993), ainda reflete que a interdisciplinaridade é uma atitude de abertura, sem<br />

preconceitos e que considera importante todo tipo de conhecimento, anulando assim o<br />

conhecimento individual frente ao saber universal. É uma atitude coerente, fundamentada na<br />

opinião particular e que pede uma postura única, engajada e comprometida frente aos fatos da<br />

realidade educacional e pedagógica. Sobre a atitude interdisciplinar, segundo o olhar de<br />

Fazenda (apud NOGUEIRA, 1998, p. 31), tem-se:<br />

68


[...] uma atitude diante de alternativas para conhecer mais e melhor, atitude de<br />

espera ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impele à troca, que<br />

impele ao diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou<br />

consigo mesmo – atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude<br />

de perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio<br />

– desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho - atitude de<br />

envolvimento e comprometimento com os e com as pessoas neles envolvidos,<br />

atitude, pois, de compromisso em construir sempre da melhor forma possível,<br />

atitude de responsabilidade, mas, sobretudo, de alegria, de revelação, de encontro,<br />

enfim de vida.<br />

Ter tal atitude implica em romper com alguns paradigmas “postos” na prática escolar,<br />

acreditar de fato que cada aluno é capaz de construir conhecimentos e que os pares sejam<br />

capazes de se despir da áurea de único sabedor do conhecimento. Essa análise é<br />

compartilhada por Fazenda (1993) ao considerar que a prática escolar pautada efetivamente<br />

na interdisciplinaridade se daria pelo desenvolvimento da sensibilidade, do diálogo com seus<br />

pares, da formação continuada sobre o fazer pedagógico.<br />

Faz-se necessário, a partir do exposto acima, ressaltar a importância da interdisciplinaridade,<br />

considerando que a mesma supõe existir um eixo integrador com as disciplinas de um<br />

currículo, onde os alunos aprendam a olhar o mesmo objeto sob perspectivas diferentes.<br />

Uma outra importância da interdisciplinaridade é possibilitar a construção de uma escola<br />

democrática e participativa, contribuindo para a formação do sujeito crítico e social.<br />

Considerando as reflexões exposta acerca da interdisciplinaridade, a prática escolar<br />

interdisciplinar realizar-se-ia como uma maneira diferente de ver e sentir o conhecimento, de<br />

ver e sentir o mundo, de entendê-los, de considerar as diversas e múltiplas implicações que se<br />

realizam, ao analisar um acontecimento, ao construir e reconstruir o conhecimento, o saber.<br />

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Face ao exposto no decorrer deste estudo, é possível inferir como conclusão deste artigo,<br />

porém não como conclusão da pesquisa sobre prática da interdisciplinaridade no âmbito<br />

escolar, que a interdisciplinaridade é um tema complexo e que interfere diretamente e<br />

indiretamente no fazer docente dos professores e das professoras que atuam em sala de aula.<br />

69


Este estudo teve por objetivo o entendimento do trabalho pedagógico na perspectiva<br />

interdiciplinar, refletir sobre a evolução histórico-crítica do conceito de interdisciplinaridade e<br />

como aplicar esta prática na construção do conhecimento e no desenvolvimento dos<br />

conteúdos, o que foi alcançar, de forma satisfatória.<br />

A elaboração desta pesquisa realizou-se à luz dos teóricos que dissertam sobre o tema, através<br />

de uma pesquisa bibliográfica, propiciando a reflexão do entendimento do vocábulo<br />

interdisciplinaridade, sua concepção e aplicação na prática escolar. Como referência, o<br />

conceito de interdisciplinaridade fica entendido como uma corrente de pensamento que se<br />

traduz na ação comunicativa entre os saberes, os conhecimentos das disciplinas e a<br />

interlocução dos sujeitos – atores do processo ensino e aprendizagem.<br />

Isto porque, dos conceitos analisados, prepostos por Japiassú (1976), Fazenda (1998),<br />

Germain (1991) e Petrie (1992), todos eles expressam uma compreensão da necessidade da<br />

interação entre alunos e professores e com o objeto do conhecimento dos diversos<br />

componentes curriculares.<br />

Observa-se na analise dos conceitos da interdisciplinaridade não se altera. Porém, infere-se no<br />

decorrer do estudo, que as práticas de sala de aula, consideradas interdisciplinares são<br />

exercidas mais por iniciativas individuais e/ou por equipes de professores do que práticas da<br />

escola como um todo, isto é, como resultado da filosofia estabelecida no projeto políticopedagógico<br />

da escola, retomando aqui, o já explicitado anteriormente, com a finalidade de<br />

ratificar:<br />

A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das trocas entre os<br />

especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um mesmo<br />

projeto de pesquisa como é o caso do Projeto Pedagógico da Escola (PPP),<br />

considerado como fio condutor de nossas ações educativas e compromisso<br />

profissional (JAPIASSÚ, 1976, p. 26).<br />

Por tal, a interdisciplinaridade assume uma importância na educação e na prática escolar,<br />

mesmo sendo considerada um desafio, ou como disse Fazenda (1988), em Nogueira (1998,<br />

p.31), “desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho”, atrelado a dúvidas e<br />

interrogações sobre o que fazer e como fazer.<br />

70


Consequentemente o trabalho pautado numa proposta interdisciplinar não poderia ser<br />

considerado adequado ou inadequado, apenas mais um desafio como a quebra de paradigmas<br />

que ao longo da história da educação foi presença marcante. Os problemas e as dificuldades<br />

que se delineiam no desenvolvimento de uma prática escolar interdisciplinar seriam os<br />

motivos de impulsioná-la, e não a execução de um trabalho árduo de ministrar os conteúdos<br />

fragmentados e descontextualizados. Pois como registrado por Nogueira (1998, p.31)<br />

“ministrando 100% de um determinado conteúdo não se garantirão os estímulos, as ações, as<br />

vivências, a interação social e todos os demais fatores essenciais à construção do<br />

conhecimento”.<br />

E, finalmente, embora a prática escolar interdisciplinar apresenta altos e baixos destacado pela<br />

comunidade escolar, há um entendimento que esta prática possui em seu bojo uma filosofia do<br />

coletivo, do conjunto, de trocas considerado salutar para o processo de ensino e<br />

aprendizagem, sendo necessário encarar uma mudança na educação, romper paradigmas e<br />

como a educação propõe, aos professores e professoras uma atitude de reflexão, que<br />

certamente será um dos caminhos para a Interdisciplinaridade, ou uma prática interdisciplinar<br />

no contexto escolar.<br />

4 REFERÊNCIAS<br />

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental-MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais<br />

de 5ª a 8ª séries: história, vol. 06. Brasília: MEC/SEF, 1998c. Disponível em:<br />

http://www.mec.gov.br. Acesso em 7/10/2011.<br />

_______. Secretaria de Educação Média e Tecnológica-MEC. Parâmetros Curriculares<br />

Nacionais de Ensino Médio: bases legais. Brasília: MEC/SEMT, 1999a. Disponível em:<br />

http://www.mec.gov.br. Acesso em 10/10/2011.<br />

_______. Secretaria de Educação Fundamental-MEC. Parâmetros urriculares Nacionais de<br />

1ª a 4ª séries: ciências naturais, vol. <strong>04</strong>. Brasília: MEC/SEF, 1997a. Disponível em:<br />

http://www.mec.gov.br. Acesso em 5/10/2011.<br />

________ . Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares para a Educação<br />

Básica – Resolução nº 4/2010. Brasília: MEC, 2010. Disponível em: http://www.mec.gov.br.<br />

Acesso em 5/10/2011.<br />

FAZENDA, Ivani Catarina A. A integração da interdisciplinaridade. 4. ed. São Paulo:<br />

Scipione, 1993.<br />

71


_______________.(Org.). Didática e interdisciplinaridade. 6. ed. São Paulo: Papirus, 1998.<br />

________________. Discutindo sobre a interdisciplinaridade. 5. ed. São Paulo: Scipione,<br />

2005.<br />

JAPIASSÚ, Heitor. Interdisciplinaridade: a patologia do saber. 2. ed. Rio de Janeiro:<br />

Imago, 1976.<br />

LENOIR, Yves. Didática e interdisciplinaridade: uma complementaridade necessária e<br />

incontornável. In: __________. Didática e interdisciplinaridade. 6. ed. São Paulo: Papirus,<br />

1998.<br />

NOGUEIRA, Nildo Ribeiro. Interdisciplinaridade aplicada. 2. ed. São Paulo: Érica, 1998.<br />

POMBO, Gabriel. Integração e interdisciplinaridade: Uma ação pedagógica. 3. ed. Rio de<br />

Janeiro: Forense, 2008.<br />

72


A QUESTÃO DA EVASÃO ESCOLAR: UMA REFLEXÃO SITUACIONAL NO 1º<br />

ANO DO ENSINO MÉDIO NOTURNO EM ESCOLAS DE ENSINO PÚBLICO<br />

RESUMO<br />

Adenilson Mendes dos Santos 25<br />

Edma Santos Pereira 26<br />

Roberto Márcio da Silveira 27<br />

Virgínia Rita dos Santos Silva 28<br />

O presente artigo tem como objetivo refletir a realidade no contexto social sobre a evasão<br />

escolar no 1° ano do Ensino Médio no turno noturno de escolas de ensino público. Neste<br />

estudo pretende-se trazer à tona a preocupação que deve ser de toda a sociedade: a<br />

identificação de formas de prevenção à evasão; meios de resgatar o jovem para o ambiente<br />

escolar. Para debater as causas de abandono escolar no 1º ano do ensino médio noturno,<br />

tomamos como fonte de pesquisa as escolas públicas estaduais: “Clóvis Borges Miguel”,<br />

“Belmiro Teixeira Pimenta”, “Dom João Batista da Motta e Albuquerque” e “Francisco<br />

Nascimento”, localizadas no município de Serra. Para obtenção dos dados teóricos, o estudo<br />

foi conduzido pela pesquisa bibliográfica, pesquisa-ação e de campo com os alunos das<br />

escolas envolvidas. Foram coletados dados de 58 (cinqüenta e oito) alunos que representam a<br />

série em estudo com perfil indicativo a evasão – freqüência irregular, retorno aos estudos após<br />

períodos de abandono escolar, distorção idade x série - com o propósito investigativo que<br />

apontam os prováveis motivos que levam à evasão escolar. Diante dos resultados apurados<br />

observou-se que o alto índice de evasão do ensino noturno deve-se a problemas familiares,<br />

culturais, sociais e financeiros. Reconhece-se que essa responsabilidade precisa ser ampliada<br />

para um coletivo - governo, alunos, professores, sociedade - onde cada um possa assumir seu<br />

papel na busca de políticas que possibilitem caminhos que reduzam a evasão escolar,<br />

principalmente, no 1º ano do ensino médio noturno onde a situação é alarmante. A má<br />

qualidade do ensino noturno é um agravante para a evasão. Como ministrar aulas agradáveis,<br />

dinâmicas que atendam às necessidades dos alunos após dois turnos de trabalho? Como estar<br />

atento às explicações de conteúdos, muitas vezes irrelevantes, após um dia árduo? Denota-se<br />

25 Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES. Licenciado em História<br />

pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Colatina. Especialista em Formação Sócioeconômica do Brasil<br />

pelo UNIVERSO. Mestre em História Social das Relações Políticas pela UFES. Coordenador da EEFM<br />

Francisco Nascimento. Professor da rede pública Estadual de Ensino.<br />

26 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES. Licenciada em Letras pela<br />

Faculdade Cesat . Especialista em Língua Portuguesa pela Cesat. Professora de Língua Portuguesa na EEEFM<br />

“Francisco Nascimento.<br />

27Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES. Licenciado em Geografia<br />

pela Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de Colatina. Especialista em Geografia do Brasil pela FIJ.<br />

Professor da rede pública Estadual de Ensino.<br />

28 Graduanda Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>-ES. Graduada em Letras e Pedagogia pela<br />

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Colatina. Especialista em Planejamento Educacional pela<br />

Universidade Salgado Filho. Gestora da EEFM Francisco Nascimento. Aluna do Curso de Especialização à<br />

Distância em Gestão Escolar da UFES.<br />

73


que o terceiro turno possa ser prejudicado, ou seja, tanto o professor como o aluno. Para um<br />

diagnóstico que indique causa e solução com maior objetividade, faz-se necessário que a<br />

abordagem contemple tanto as perspectivas do “professor” quanto o lado “aluno”.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Escola; Evasão; Gestão Escolar; Ensino Médio.<br />

ABSTRACT<br />

The present article has as objective reflects the reality in the social context on the school<br />

escape in the 1° year of the Teaching Medium nocturne of schools of public teaching. To lift<br />

the causes of that problem, a bibliographical research was accomplished and of field. In the<br />

field research data of 58 were collected (fifty eight) students that represent the series in study<br />

with the purpose investigative that the probable reasons that take to the school escape appear.<br />

Before the select results it was observed that the high index of escape of the night teaching is<br />

due to problems family, cultural, social and financial. It is recognized that that responsibility<br />

needs to be enlarged for a bus - I govern, students, teachers, society - where each one can<br />

assume your role mainly in the search of politics that you/they make possible roads that<br />

reduce the school escape, in the 1st year of the night medium teaching where the situation is<br />

alarming. The bad quality of the night teaching is an added difficulty for the escape. How to<br />

supply pleasant classes, dynamics that assist to the students' needs after two work shifts? How<br />

to be attentive to the explanations of contents, a lot of times insignificant, after an arduous<br />

day? By the way, that the third shift is prejudiced so much for the teacher as for the student.<br />

For a diagnosis that indicates cause and solution with larger objectivity, it is done necessary<br />

that the approach contemplates the side "teacher" so much as the side "School administration”<br />

“student".<br />

KEY WORDS: School; Escape; School administration; Medium Teaching.<br />

1 INTRODUÇÃO<br />

Esta temática surgiu da angústia vivenciada no cotidiano das escolas envolvidas nas quais se<br />

observou que o fenômeno da evasão é comum e preocupante. A evasão escolar não é um<br />

problema restrito apenas a algumas unidades escolares, mas uma questão nacional que vem<br />

ocupando relevante papel nas discussões e pesquisas educacionais no cenário brasileiro.<br />

Os estudos, de maneira geral, mostram o fracasso escolar a partir de duas abordagens<br />

diferentes: a primeira, que busca explicações a partir dos fatores externos à escola, através de<br />

autores como Cortez (2007) e Bueno (1993); e a segunda, a partir de fatores internos<br />

conforme abordagem de Campos (20<strong>04</strong>). Dentre os fatores externos relacionados à questão do<br />

fracasso escolar são apontados o trabalho, as desigualdades sociais e a família. E dentre os<br />

74


fatores internos são apontados a própria escola, a linguagem e o professor. Portanto, refletindo<br />

sobre essa realidade no contexto social, parte-se do pressuposto de situar a problemática da<br />

evasão escolar no 1° ano do Ensino Médio noturno de escolas de ensino público.<br />

Como método de pesquisa fez-se uso de dados teóricos e o estudo foi conduzido pela pesquisa<br />

bibliográfica e de campo. A bibliográfica caracteriza-se pelo uso de livros, periódicos,<br />

revistas, jornais, internet. Na pesquisa de campo foi utilizada para a obtenção dos dados<br />

necessários ao estudo, a observação simples e a entrevista por meio de questionários<br />

estruturados. As entrevistas realizadas tiveram o propósito de caracterizar os alunos e o intuito<br />

de investigar os motivos que levam esses alunos, em especial os das escolas estudadas, à<br />

evasão temporária ou definitiva, para possíveis interferências. A seleção da amostra foi<br />

composta por 58 (cinqüenta e oito) alunos por representarem à série em estudo.<br />

2 DESENVOLVIMENTO<br />

2.1 OS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS SOBRE A EVASÃO ESCOLAR<br />

A evasão escolar está dentre os temas que historicamente fazem parte dos debates e reflexões<br />

no âmbito da educação pública brasileira e que infelizmente, ainda ocupa até os dias atuais,<br />

espaço de relevância no cenário das políticas públicas e da educação em particular.<br />

Segundo Vieira (2002) em face disto, as discussões acerca da evasão escolar, têm tomado<br />

como ponto central de debate o papel tanto da família quanto da escola em relação à vida<br />

escolar do aluno. De acordo com Paro (2001) a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)<br />

no que se refere à educação dispõe que é de responsabilidade da família e do Estado, em<br />

orientar o indivíduo em seu percurso educacional (art.2º), na busca de se evitar/diminuir a<br />

evasão.<br />

Entende-se por aluno evadido aquele que deixou os estudos por qualquer motivo;<br />

independente do motivo da saída que pode ter ocorrido por abandono, por transferência<br />

interna, por desistência ou jubilamento (BUENO, 1993). De acordo com a UNESCO (20<strong>04</strong>),<br />

citado por Gaioso (2005), repetência e evasão são fenômenos que, em muitos casos, estão<br />

interligados e ocasionam o abandono dos estudos.<br />

75


De acordo com as informações da Folha On Line (2008) no Brasil, a questão que envolve a<br />

evasão, aumenta a cada ano; acrescenta que o MEC revela que o crescimento de abandono na<br />

escola é maior no Ensino Médio. “A taxa de evasão, que em 1997 estava em 5,2%, aumentou<br />

para 8,3% em 2001” (FOLHA ON LINE, 2008, p.03).<br />

Mesmo com o crescimento da evasão observado pelo MEC, foi notado que muitos estudantes<br />

que abandonam a escola acabam retornando. Na rede pública, 19,5% dos alunos que estão<br />

matriculados hoje já haviam abandonado os estudos pelo menos uma vez; denota-se que no<br />

período noturno a proporção chega a 35% (FOLHA ON LINE, 2008).<br />

A repetência é um problema que existe há muito tempo, segundo informações de Castilho e<br />

Castro (2007) que em 20<strong>04</strong>, um universo de 9,1 milhões de alunos matriculados no ensino<br />

médio noturno em todo o Brasil, reprovou 30%, ou seja, 2,7 milhões. Ressalta os autores que<br />

há uma conseqüência ainda pior: a evasão; e acrescentam que:<br />

No fim de 2003, só 946 mil alunos concluíram o ensino médio noturno no Brasil.<br />

Apenas 385 mil, cerca de 40%, tinham entre 17 e 19 anos, na faixa etária ideal. A<br />

explicação: entre 1,2 milhão de estudantes que abandonaram o ensino médio em<br />

2003, nada menos que 835 mil (70%) eram do noturno (CASTILHO; CASTRO,<br />

2007, p. 05).<br />

Acrescenta o autor que é comum observar que os alunos permaneçam fora da escola,<br />

conversando sem preocupação com a aula, na busca de um motivo para não freqüentar a aula;<br />

diante dessa questão:<br />

Não podemos culpar professores ou alunos pela evasão, pois como já disse é um<br />

problema muito complexo. Mas um bom começo é a mudança de postura no ensino<br />

noturno do aluno, dando a devida prioridade que o ensino merece e do professor,<br />

mudando sua postura como educador que deseja muito mais do que somente alunos<br />

que passem de ano (CORTEZ, 2007, p. 03).<br />

No que tange o professor nessa questão, acrescenta-se que o mesmo também é um trabalhador<br />

durante o dia, como também pode ser àquele que pode estar atuando em outra profissão<br />

(CORTEZ, 2007). Diante de um aluno com possível perspectiva de evasão, é importante a<br />

necessidade do diagnóstico do professor, através do diálogo com esse aluno e com outros cuja<br />

freqüência nas aulas é elevada. Em situações nas quais se observa um aluno com faltas<br />

elevadas, é imprescindível comunicar ao(a) diretor(a) para medidas preventivas; uma outra<br />

forma é tornar as aulas mais atrativas e dinâmicas.<br />

76


2.2 A SUPERAÇÃO DO FRACASSO DO ALUNO NO ENSINO MÉDIO NOTURNO<br />

A educação de alunos do ensino médio, principalmente em horários noturnos, geralmente<br />

caracteriza-se por derivar de iniciativas do estado, visto que sua substância e centralidade<br />

estão no atendimento às camadas populares (CAMPOS, 20<strong>04</strong>). A necessidade de avanços na<br />

educação do ensino médio noturno deve estar voltada para os interesses populares tanto no<br />

sentido de ampliação da cobertura das populações ainda marginalizadas da escolarização,<br />

quanto no de qualificação do processo ensino aprendizagem. Motivo este decorrente, tanto do<br />

interesse da classe trabalhadora quanto da empregadora, ou seja: educação geral para todos.<br />

Tendo em vista que diante das modificações aceleradas no sistema produtivo, como o avanço<br />

tecnológico, os novos materiais e a informatização, acabam exigindo um novo tipo de<br />

"treinamento" dos trabalhadores; por isso, que eles necessitarão a cada dia, de mais<br />

flexibilidade no comportamento produtivo, para obter maior capacidade de aprender e se<br />

comunicar, conquistando espaço para a obtenção de uma visão autocrítica dos conhecimentos.<br />

Nas condições sociais em que se vive uma política nacional de educação só poderá obter<br />

algum sucesso se estiver vinculada a um projeto econômico que supere as causas sociais que<br />

produzem e mantém o analfabetismo e a baixa escolaridade. Uma política educacional dessa<br />

natureza, capaz de mobilizar recursos e energias de toda a sociedade, só poderá acontecer<br />

mediante um amplo processo de discussão e participação.<br />

O principal motivo da evasão escolar noturna está ligado ao fator trabalho. A maioria dos<br />

alunos dos cursos noturnos são trabalhadores durante o dia, ou seja, são alunos-trabalhadores.<br />

Estes chegam à escola noturna sem banho e sem jantar, saem de suas casas muito cedo;<br />

trabalham oito horas e fazem quatro horas de aula diariamente. Considerando o fato de termos<br />

nas escolas, alunos trabalhadores, como diz Arroyo(1986), “são trabalhadores que estudam”,<br />

esse não é o ponto de partida para entender porque se dá o fracasso na escola pública,<br />

principalmente noturna, mas, é o ponto de partida para que se encontre uma possível,<br />

adequada e necessária solução para este tipo de aluno.<br />

Um estudante trabalhador busca na escola “algo que lhe interesse”, ou seja, quer também<br />

formação e informação que auxiliem no dia-a-dia na luta pela sobrevivência. Se por acaso, a<br />

escola não lhe oferecer o que ele busca, com certeza será impelido a abandoná-la. É muito<br />

77


mais que instrução; o que esses alunos buscam nas escolas noturnas: buscam igualdade de<br />

oportunidades e formas de não exclusão.<br />

Na educação em horários noturnos existe uma diversidade de sujeitos, práticas de exclusão e<br />

inclusão das identidades em sala de aula. De acordo com Campos (20<strong>04</strong>, p. 18): “[...]<br />

apresentam as iniciativas de educação de jovens ao longo da história e fazem uma reflexão<br />

sobre as particularidades que marcam esse público”. O mesmo autor acima citado mostra que:<br />

“[...] mesmo considerando todas as iniciativas, o Estado tem deixado lacunas, sobretudo em<br />

relação ao financiamento dessa modalidade de ensino” (CAMPOS, 20<strong>04</strong>, p.165). Portanto, as<br />

questões levantadas sobre a educação em horários noturnos indicam a necessidade de o<br />

projeto pedagógico levar em conta as singularidades dos/as alunos/as, sobretudo, no que se<br />

refere à raça, gênero e geração e principalmente a inclusão (CAMPOS, 20<strong>04</strong>).<br />

2.3 NECESSIDADE DE UMA NOVA PROPOSTA PEDAGÓGICA<br />

A proposta da nova pedagogia é que somente um ensino de boa qualidade, no qual o professor<br />

interessado e bem formado maneje o conteúdo de ensino levando em conta as especificidades<br />

dos alunos, tanto no que se refere às características da faixa etária quanto às suas experiências<br />

culturais, poderá garantir a eficiência da escola. A escola deverá adequar-se aos seus alunos e<br />

não os alunos a ela, porém é necessário que o Estado se responsabilize por meio das<br />

Universidades em formar professores graduados em educação de alunos com necessidade de<br />

estudos em horários noturnos.<br />

Cada vez mais estão surgindo propostas centradas nos educandos, na sua condição de jovens e<br />

adultos trabalhadores, orientadas pela confiança na capacidade das pessoas que freqüentam as<br />

aulas. O que realmente provoca a aprendizagem nas pessoas é o fato de acreditarmos nela, em<br />

sua capacidade de percepção e aprendizagem. O compromisso da escola com os jovens é o de<br />

lhes proporcionar educação para que possam participar política e produtivamente no mundo<br />

das relações sociais concretas, utilizando-se do comportamento ético e do compromisso<br />

político, conquistando autonomia tanto intelectual quanto moral.<br />

As escolas, por meio dos seus projetos político-pedagógicos devem possibilitar aos estudantes<br />

de cursos de ensino médio noturno ao longo da vida escolar, condições de aprenderem<br />

permanentemente; refletirem criticamente; participarem do trabalho e da vida coletiva; terem<br />

78


esponsabilidade individual e social, construindo soluções originais com agilidade e rapidez a<br />

partir da utilização metodologicamente adequada dos conhecimentos adquiridos, científicos<br />

ou tecnológicos.<br />

Os segmentos da escola pública, em particular o ensino noturno, necessitam ser revistos:<br />

currículo, infra-estrutura, corpo docente, alunos, pois não são ações isoladas ou grupo de<br />

pessoas com boa vontade que conseguirão realizar todas as modificações que esta escola<br />

necessita. É preciso a reestruturação da legislação que rege o ensino médio, é urgente que as<br />

escolas conheçam melhor os profissionais que nelas atuam, oferecendo-lhes melhores<br />

possibilidades de trabalho. Os órgãos administrativos devem repensar as situações de trabalho<br />

e salário dos profissionais da educação, para que os mesmos possam enxergar seus alunos de<br />

forma diversificada e com isso auxiliá-los na construção significativa de conhecimentos,<br />

proporcionando, promoção, permanência e não evasão e repetência.<br />

Em síntese, a compreensão de que a história individual faz parte da história de um<br />

determinado grupo social, e as diferentes histórias de diferentes grupos sociais realizam a<br />

história de uma nação, de um povo. É fundamental que o aluno tenha consciência que ele é<br />

parte integrante da história da nação. Os alunos que integram horários noturnos têm uma idéia<br />

de que a educação básica é construída baseada na escola que freqüentaram no passado, um<br />

modelo bem tradicional, recitação em coro do alfabeto, pontos copiados do quadro de giz<br />

tendo como base uma disciplina rígida.<br />

Cabe ao educador reverter esse quadro, mostrando que uma verdadeira aprendizagem depende<br />

muito mais dos interesses dos alunos do que da própria atividade mecânica e memorizada. A<br />

imagem que os educandos têm da escola, tem muito a ver com a imagem que têm de si<br />

mesmos dentro dela. Experiências passadas de fracasso e exclusão normalmente produzem no<br />

aluno uma auto-imagem negativa. Nos mais velhos essa baixa auto-estima se traduz em<br />

timidez, insegurança, bloqueios. Nos mais jovens é comum que a baixa auto-estima se<br />

expresse pela indisciplina e auto-afirmação negativa, se não pode ser reconhecido pelas<br />

qualidades, será reconhecido pelos defeitos.<br />

Na reflexão pedagógica de Freire (20<strong>04</strong>) a elaboração de programas de educação de alunos<br />

com horários noturnos, deve ter uma especial relevância e consideração no que diz respeito à<br />

dimensão social, ética e política. O ideário da educação diferenciada destaca o valor educativo<br />

79


do diálogo e da participação, a consideração do educando como sujeito portador de saberes,<br />

que devem ser reconhecidos.<br />

2.4 GRÁFICOS DOS RESULTADOS<br />

Na pesquisa realizada com os 58 alunos do 1° ano do Ensino Médio noturno das escolas de<br />

ensino público envolvidas, com relação ao sexo, observa-se o seguinte::<br />

80%<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

78,6%<br />

O Gráfico 2 ilustra o estado civil do aluno.<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

F M<br />

35,7%<br />

Gráfico 1. Sexo<br />

21,4%<br />

64,3%<br />

Casado(a) Solteiro(a)<br />

Gráfico 2. Estado civil<br />

O Gráfico seguinte apresenta o resultado se o aluno possui filhos ou não, e quantos.<br />

80


60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

57,1%<br />

O Gráfico 4 refere-se à idade do aluno.<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0,0%<br />

7,1%<br />

35,8%<br />

1 filho 2 filhos 4 filhos Não tem filhos<br />

Gráfico 3. Quantidade de filho(s)<br />

35,7%<br />

7,0% 7,0%<br />

14,5%<br />

35,8%<br />

0%<br />

14 - 16 anos 17 - 18 anos 19 - 20 anos 21 - 25 anos 25 - 35 anos<br />

Gráfico 4. Idade<br />

O Gráfico 5 ilustra o resultado sobre a situação dos pais dos alunos.<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

mãe<br />

falecida<br />

14,3% 14,3%<br />

7,0%<br />

21,5%<br />

42,9%<br />

outra pai falecido são vivos separados<br />

Gráfico 5. Situação da família<br />

O Gráfico 6 ilustra o resultado apurado quanto à situação financeira do aluno.<br />

81


Gráfico 6. Situação financeira do aluno<br />

O Gráfico 7 ilustra o resultado apurado quanto aos motivos da evasão do aluno.<br />

Gráfico 7. Motivo da evasão<br />

O Gráfico 8 refere-se ao motivo que levou o aluno a matricular-se em horário noturno.<br />

50%<br />

45%<br />

40%<br />

35%<br />

30%<br />

25%<br />

20%<br />

15%<br />

10%<br />

5%<br />

0%<br />

50%<br />

35,70%<br />

7%<br />

Trabalho Filho Mais tempo<br />

para estudar<br />

7%<br />

Falta de<br />

vaga no<br />

diurno<br />

Gráfico 8. Motivo do estudo em horário noturno<br />

O Gráfico seguinte refere-se ao motivo que levou o aluno a obter rendimento baixo.<br />

82


70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

62,0%<br />

9,0% 9,0%<br />

Trabalho Saúde Problemas<br />

familiares<br />

20,0%<br />

Falta de<br />

interesse<br />

Gráfico 9. Motivos do rendimento baixo<br />

2.5 REFLEXÃO ACERCA DOS RESULTADOS OBSERVADOS NOS GRÁFICOS<br />

Conforme resultado apurado observa-se que, 78,6% dos alunos pesquisados são mulheres e<br />

21,4% são homens. A maioria, ou seja, 64,3% dos alunos pesquisados são solteiros e 35,7%<br />

são casados. Um fator que tem tirado muitas jovens da escola é a gravidez na adolescência;<br />

em geral são estudantes que estão cursando o ensino médio e até mesmo o fundamental,<br />

abandonam a escola para cuidar de seus filhos. Algumas têm vontade de continuar seus<br />

estudos, mas não têm com quem deixar seus filhos, pois não possuem condições financeiras<br />

para pagar uma babá e não contam com o apoio da família. Observou-se ainda que, 35,8% dos<br />

alunos pesquisados possuem idade entre 25 e 35 anos; 35,7% entre 14 e 16 anos; 14,5% deles<br />

possuem idade compreendida entre 21 e 25 anos; 7% deles entre 17 e 18 anos e 7% entre 19 e<br />

20 anos; 57,1% dos alunos pesquisados possuem um filho, 35,8% não possuem filhos e 7,1%<br />

possuem quatro filhos.<br />

Verifica-se que a defasagem idade x série acaba por provocar a falta de estímulo no aluno que<br />

por motivo de repetência ou por ter abandonado a escola por alguns anos, quando esse retorna<br />

a escola, se vê no meio de jovens e sente-se perdido, deslocado e acaba se convencendo que o<br />

seu tempo de estudante já passou. Verifica-se ao mesmo tempo em que, a evasão também está<br />

presente nos alunos que não apresentam esta defasagem. Observa-se que 42,9% dos alunos<br />

pesquisados registraram que os pais encontram-se separados; 21,5% estão vivos e casados;<br />

14,3% a mãe é falecida; 14,3% apresentam outra situação e 7% possuem o pai falecido.<br />

Percebeu-se por meio do questionário e da entrevista informal que a desestrutura familiar é<br />

um agravante para a evasão escolar. Os alunos pesquisados registraram que com a separação<br />

ou falecimento dos pais, se viram obrigados a mudarem de cidade, perderam o interesse pela<br />

escola ou passaram a sustentar a si próprios quando não se tornaram “arrimo de família,”<br />

83


tendo que desistir da escola, matriculando-se no ano seguinte ou anos depois recomeçando o<br />

ciclo vicioso.<br />

Dos alunos pesquisados 57,2% registram que não possuem trabalho formal, ou seja, declaram<br />

rotatividade nos empregos, contratos de estágios e ou atividades desenvolvidas de forma<br />

autônoma, assim como tarefas domésticas, 28,8% dos alunos pesquisados declaram estar no<br />

trabalho formal, 7% dos alunos não trabalha trabalham para o seu próprio sustento e 7% é<br />

sustentado pela família. Para 78,6% dos alunos pesquisados eles afastam-se da escola por falta<br />

de tempo para estudar, e para 21,4% por cansaço físico. Por estar no trabalho grande parte do<br />

dia, o aluno chega à escola cansado, sem nenhuma motivação para concentrar-se nos estudos,<br />

e ao chegar a casa o tempo fica ainda mais curto, principalmente por ter que acordar cedo para<br />

mais um dia de trabalho.<br />

Percebe-se que 50% dos alunos fizeram a opção por horário noturno devido ao trabalho;<br />

35,7% por causa dos filhos. 7% deles para ter mais tempo para se dedicar ao estudo e 7%<br />

deles alegaram que foi por falta de vaga no horário diurno. Como a maioria dos estudantes<br />

pertence ao sexo feminino, isso leva a correlacionar que a aluna que é mãe, passa parte de seu<br />

tempo cuidando do filho(a). E àqueles que trabalham não tem outro horário para os estudos.<br />

Para 62% dos alunos alegaram que o motivo do rendimento baixo é o trabalho; 20% deles por<br />

falta de interesse; 9% por motivo de saúde e 9% alegaram que é por causa de problemas<br />

familiares. Os dados mostram que a maioria aponta o fator trabalho como o maior motivo do<br />

rendimento baixo; por alegar que acaba não podendo dedicar pelo menos uma parte do tempo<br />

aos estudos.<br />

O problema da evasão escolar no período noturno é algo complexo, e está relacionado a<br />

questões sociais, culturais, econômicas que impedem a permanência do aluno na escola.<br />

Acredita-se que para combater a evasão escolar é preciso atentar-se para alguns fatores: ações<br />

imediatas na busca de resgatar o aluno “evadido”, reestruturação interna da escola com a<br />

implantação de projetos pedagógicos, elaboração de um currículo que atenda as expectativas<br />

dos alunos, com inovação de práticas, dentro de uma didática renovada e motivadora que<br />

possa elevar a auto-estima dos estudantes dando sentido significativo aos seus valores sóciocultural<br />

e histórico no quais os indivíduos estão inseridos.<br />

84


A metodologia empregada deve perpassar não somente a seleção de conteúdos, mas deve ser<br />

precedida pela justificativa da escolha desses conteúdos. Deve permitir o preparo para a sua<br />

utilização em sala de aula. Deve ser ainda considerada a avaliação contínua dos<br />

procedimentos utilizados, tais como: técnicas, recursos, interações, atividades em classe, extra<br />

classe, pois estas, por sua vez, prolongam a aula do professor. Outro fator importante a ser<br />

levado em consideração é o registro do que ocorre para que estes momentos pedagógicos não<br />

sejam apenas fatos isolados, mas elos de uma corrente que possibilitarão a construção<br />

contínua do conhecimento.<br />

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A evasão no ensino médio noturno é um problema crônico, sendo muitas vezes passivamente<br />

assimilada e tolerada por escolas e sistemas de ensino, que chegam ao cúmulo de admitirem a<br />

matricula de um número mais elevado de alunos por turma do que o adequado já contando<br />

com a desistência de muitos ao longo do ano letivo. Grande parte dos alunos do período<br />

noturno fica com o seu rendimento/estudo comprometido, pois assistem às aulas após uma<br />

longa jornada de trabalho, por isso não conseguem chegar pontualmente ao início da aula e<br />

não ficam até o fim da mesma. Existe uma correlação entre a evasão e as múltiplas<br />

repetências do aluno, principalmente no ensino médio noturno. Outra questão relevante<br />

refere-se à defasagem entre série e idade, o que acaba por fazer com que o aluno se sinta<br />

inadaptado à escola.<br />

Outro fator causador da evasão é a pobreza, eis que na busca por melhorias nas condições de<br />

vida, muitos jovens ingressam precocemente no mercado de trabalho, afastando-se da escola;<br />

muitos alunos que tentam conciliar o horário escolar com as atividades profissionais acabam<br />

por se sobrecarregar com grandes responsabilidades. A maioria dos alunos do ensino médio<br />

noturno, que se encontra nessa situação, trabalha em período integral e reserva o horário<br />

noturno para os estudos.<br />

Acredita-se que, para que ocorra efetiva melhora nas condições do processo educativo do<br />

aluno noturno, é necessário o apoio da sociedade e da escola, esta oferecendo assistência de<br />

psicólogos, assistentes sociais, novas metodologias, a fim de atuar com a dificuldade de<br />

aprendizado, e aquela, por sua vez, assumindo responsabilidades sociais que tragam melhorias<br />

na qualidade de vida do aluno como cidadão.<br />

85


É necessário lembrar que o ensino noturno, com seus alunos e professores, estão inseridos<br />

num contexto em que os comprometimentos pelos possíveis fracassos fogem da<br />

responsabilidade única e exclusiva do professor. É preciso que as necessidades e as<br />

expectativas dos estudantes dos cursos noturnos sejam atendidas. Este é o desafio do<br />

profissional da educação que atua hoje nestes cursos. Acredita-se, também, que a<br />

mobilização da comunidade fortalece o vínculo escola-família, que é um caminho de<br />

possibilidades no combate ao abandono escolar.<br />

Esse também é o desafio das autoridades responsáveis pelo ensino no país; pois é de<br />

responsabilidade das autoridades competentes estabelecerem políticas públicas para uma<br />

conseqüente melhoria nas condições de trabalho dos professores. A falta de valorização<br />

profissional acarreta uma sobrecarga aos professores que, para manter o mínimo de seu<br />

sustento, dependem de uma jornada de trabalho em grande escala. O ensino noturno nos<br />

apresenta um paradoxo crônico e histórico. Se de um lado ele atende uma clientela marcada<br />

pela longa jornada de trabalho ao longo do dia, por outro ele é possuidor de um grupo de<br />

estudantes sedentos por conhecimento e tomado por certo pragmatismo do mercado de<br />

trabalho.<br />

A escola pública para muitos alunos não tem sentido, devido à qualidade inferior do ensino,<br />

sentem-se excluídos da sociedade sem perspectivas de vida futura. Enquanto o ensino público<br />

se mantiver atrasado sem nenhuma condição inovadora para competir com o mundo social,<br />

será difícil reverter este quadro de evasão escolar. Não podemos responsabilizar professores<br />

ou alunos pela evasão, pois, como já dissemos, trata-se de um problema muito complexo.<br />

Ao poder público, por meio de seus órgãos competentes, cabe a implantação de políticas que<br />

alterem o quadro da pobreza, o que obriga muitos estudantes a ingressarem no mercado de<br />

trabalho precocemente, abandonando seus estudos. Necessário se faz, também, a mudança de<br />

postura no ensino noturno do aluno, dando a devida prioridade que o ensino merece. Em<br />

relação ao professor, é importante que este adote uma mudança de postura como educador,<br />

desejoso de preparar cada cidadão socialmente, dentro de todos os aspectos morais e<br />

intelectuais, não se preocupando somente com que os alunos alcancem aprovação.<br />

86


Para que se realize um processo ensino-aprendizagem eficaz, é necessário que este esteja<br />

atrelado ao desenvolvimento de uma prática pedagógica inclusiva, imbuída de aulas atrativas,<br />

inclusivas e bem articuladas, além de práticas que incentivem os alunos a freqüentarem o<br />

ambiente escolar. Tratando-se em especial do aluno noturno, vale salientar que este precisa de<br />

condições para que construa seu conhecimento com aplicabilidade para sua vida, o que traz<br />

mais incentivo ao aluno, para que siga a seqüência de sua vida acadêmico-profissional.<br />

O problema da evasão escolar deve ser enfrentado de duas formas diferentes: a primeira é<br />

buscando os alunos evadidos, a fim de que este ingresse novamente na vida escolar; a segunda<br />

é reestruturando a gestão interna da escola para que se torne mais atrativa e menos maçante ao<br />

aluno. Devemos enfrentar a evasão escolar e não nos omitir perante um problema de difícil<br />

solução. Estamos distantes de resolver esta questão, entretanto já temos um bom caminho<br />

trilhado, ou seja, estamos admitindo a existência do problema e discutindo soluções para o<br />

mesmo. Temos que desenvolver na escola um ambiente em que os alunos se sintam bem, para<br />

que se tornem amantes dela.<br />

4 REFERÊNCIAS<br />

BUENO, José Lino Oliveira. A evasão de alunos. Paidéia, FFCLRP – USP, Ribeirão Preto,<br />

5, agosto /1993.<br />

CAMPOS, Alexandre Cândido de Oliveira. Pluralidade cultural e inclusão na formação de<br />

professoras e professores: gênero, sexualidade, raça, educação especial, educação indígena,<br />

educação de jovens e adultos. Caderno de Pesquisa. V.34, n.123. São<br />

Paulo, Sept./Dec. 20<strong>04</strong>.<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 30 ed.<br />

São Paulo: Paz e Terra, 20<strong>04</strong>.<br />

GADOTTI, M. Romão, J.E. (org). Educação de jovens e adultos: teoria, prática e proposta.<br />

1º ed. ver. São Paulo: Cortez, 1995.<br />

PARO, Vitor Herique. Reprovação escolar: renúncia à educação. São Paulo: Xamã, 2001.<br />

VIEIRA, Sofia Lerche. Política educacional em tempos de transição (1985-1995). Brasília:<br />

Plano, 2002.<br />

87


5 WEBGRAFIA<br />

CASTILHO, Alceu Luis; CASTRO, Fábio de. Ensino noturno: a marca da desigualdade.<br />

<strong>Revista</strong> Educação. 2007. Disponível em<br />

. Acesso em 15 de<br />

maio, 2010.<br />

CORTEZ, Samuel. Evasão escolar no noturno. 2007. Disponível em<br />

. Acesso em 10 de<br />

junho, 2010.<br />

FOLHA ON LINE. Evasão escolar aumenta em quatro anos. 22/09/2003. Disponível em<br />

. Acesso em 10 de<br />

março, 2010.<br />

GAIOSO, Natalícia Pacheco de Lacerda. O fenômeno da evasão escolar na educação<br />

superior no Brasil. Universidade Católica de Brasília. Pó-reitoria de Pós-graduação e<br />

Pesquisa. Brasília – DF, 2005. Disponível em<br />

. Acesso em 15 de março, 2010.<br />

SOUZA, Fabiana Sampaio Mello e; FIDELIS, Geraldine Silva Furtado; FURTADOS, Rosa<br />

Maria Silva. A avaliação da aprendizagem e suas implicações no fracasso escolar: evasão<br />

e repetência. 2007. Disponível em<br />

. Acesso em<br />

15 de março, 2010.<br />

88


LECIONAR: DIFICULDADES ENCONTRADAS PELOS DOCENTES<br />

HOMOSSEXUAIS<br />

89<br />

Edinéia Cristina Bortolim Altoé Oliveira 29<br />

Marina Rodrigues Suhett de Rezende 30<br />

Marlúsia Bortolini D' Ávila 31<br />

Omar Carrasco Delgado 32<br />

RESUMO<br />

Este trabalho discute a relação lecionar x professores homossexuais x comunidades escolar. O<br />

conflito é uma parte natural de nossas vidas. A maioria das teorias interacionistas em<br />

filosofia, psicologia e educação estão alicerçadas no pressuposto de que nos constituímos e<br />

somos constituídos a partir da relação direta ou mediados com o outro. Nessa relação nos<br />

deparamos com as diferenças e semelhanças que nos obrigam a comparar, descobrir,<br />

ressignificar, compreender, agir, buscar alternativas e refletir sobre nós mesmos e sobre os<br />

demais. O conflito torna-se, portanto, a matéria prima para nossa constituição psíquica,<br />

cognitiva, afetiva, ideológica e social. Resolver satisfatoriamente os conflitos exige a<br />

contemplação de outros pontos de vista diferentes e, muitas vezes, opostos aos nossos. Nesse<br />

sentido uma formação que visa à construção de valores de democracia e cidadania não pode<br />

ignorar os conflitos pessoais e sociais vividos por seus atores, mas deve, sim, conceder um<br />

lugar relevante às relações interpessoais.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Homossexuais. Comunidade Escolar. Discriminação.<br />

ABSTRACT<br />

This lecture discusses the relationship x x gay community school teachers. Conflict<br />

is a natural part of our lives. Most interactionist theories in philosophy, psychology and<br />

education are grounded in the assumption that constitute and are constituted from the direct or<br />

mediated relationship with the other. In this respect we face the differences<br />

and similarities that require us to compare, discover new meaning, understanding and<br />

acting, look for alternatives and reflect on ourselves and on others. The conflict becomes,<br />

therefore, the raw material for our psychic constitution, cognitive, emotional, ideological and<br />

social. Satisfactorily resolve the conflict requires the contemplation of other points of view<br />

and often opposite to ours. In this regard a training that aims to build values of democracy and<br />

citizenship can not ignore the personal and social conflicts experienced by the actors, but<br />

rather should give an important place to interpersonal relations.<br />

KEYWORD: Gays. Community School. Discrimination.<br />

29 Graduanda do curso de Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES.<br />

30 Graduanda do curso de Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra –ES.<br />

31 Graduanda do curso de Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra - <strong>Serravix</strong>; Serra-ES.<br />

32 Orientador do curso de Pedagogia da Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES.


1 INTRODUÇÃO<br />

Nos anos 60, teve início um processo de aprofundamento das mudanças sociais com<br />

relação ao comportamento e à sexualidade. Ainda hoje se vive um momento de<br />

transição, de transformação dos paradigmas de comportamento sexual e afetivo da nossa<br />

sociedade.<br />

Como em todo momento de mudanças, a realidade de hoje guarda várias contradições.<br />

Ao mesmo em que se vê e convive-se cada dia mais com uma diversidade sexual cada<br />

vez mais rica e menos rotulada, se mantêm e até se reforçam atitudes preconceituosas,<br />

discriminatórias e violentas de pessoas, grupos e instituições conservadoras.<br />

Esse embate entre o novo e o conservador, entre a conquista dos direitos e a repressão<br />

dos preconceitos se dá em todo o corpo social, em diferentes lugares e momentos. Na<br />

família, no círculo de amigos, na comunidade, no trabalho e, é claro, na escola.<br />

Quando se fala de uma escola inclusiva, que acolha a todos, quem está incluído nesse<br />

“todos”? Estão incluídos aí certamente os homossexuais, ou não? Mas quando se fala<br />

em inclusão, o que exatamente isso significa? Incluir um aluno cadeirante, incluir<br />

alunos com necessidades educativas especiais e porque então, quando o assunto se trata<br />

de incluir e/ou aceitar um docente homossexual, muitos dizem simplesmente que a<br />

escola tem as suas normas. Nesse sentido, Mantoan (2003, p. 46) afirma que: “Uma das<br />

maiores barreiras à inclusão é nossa preguiça, nossa falta de compromisso e<br />

coerência, ou nossa falta de desafios”.<br />

A educação deve ser trabalhada como meio de reconhecimento e afirmação dos direitos<br />

humanos e da diversidade existente entre as pessoas. É a partir da educação que é<br />

possível incluir essa imensa parcela da população brasileira no desenvolvimento,<br />

garantindo-lhe o pleno exercício da cidadania.<br />

Em primeiro lugar é preciso ter claro que a escola inclusiva não é um presente, uma boa<br />

ação, mas a conquista gradativa de um direito. Portanto, não há dúvidas de que<br />

homossexuais têm sim direito a trabalhar numa escola, seja ela pública ou particular,<br />

90


que os acolha e respeite. Agora, isso não significa que para ter acesso ao trabalho,<br />

devam abrir mão de suas identidades.<br />

Em grande parte das vezes, a “aceitação” dos docentes homossexuais é condicionada<br />

desde que não pareçam, ou seja, uma vez que não incomodem os olhos dos outros.<br />

Obrigá-los a modificar o seu jeito íntimo de ser, de falar, de se fazer bonito para poder<br />

trabalhar, é condicionar um direito que é incondicional. É desrespeito. É discriminação.<br />

É homofobia. É crime.<br />

Conforme lição de Borrillo sobre a homofobia (apud SOUZA et al., 2003, p. 3): “é uma<br />

manifestação arbitrária que consiste em designar o outro como contrário, inferior ou<br />

anormal. Sua diferença irredutível o coloca em outro lugar fora do universo comum<br />

dos humanos”.<br />

É preciso reforçar que a afirmação da igualdade de todos os seres humanos não quer<br />

dizer igualdade física, cultural, intelectual ou psicológica. Cada pessoa tem sua<br />

individualidade, personalidade e modo próprio de ver e sentir as coisas. Tais situações<br />

demonstram que ainda há muito a ser feito para promover o respeito à diversidade para<br />

a conquista de uma sociedade mais justa e solidária.<br />

Os objetivos deste artigo foram refletir sobre as vivencias educacionais com o tema, a<br />

relação dos educandos homossexuais com os alunos, questões que surgem no decorrer<br />

desse processo educacional: expectativas, motivações, receios, preocupações, alegrias e<br />

surpresas e a dificuldade de se relacionar com a comunidade escolar.<br />

Buscando atingir os objetivos propostos, utilizou-se como forma de pesquisa a<br />

bibliográfica, que de acordo com Gil (2001), investiga o problema a partir do referencial<br />

teórico existentes em livros e outras publicações, sendo necessária a qualquer<br />

modalidade de trabalho técnico e é também a primeira etapa de qualquer tipo de<br />

pesquisa. Sendo assim este estudo trata-se de uma pesquisa bibliográfica com a<br />

finalidade de estudar materiais já elaborado, analisado e publicado de diversas formas,<br />

investigando o problema do referencial teórico.<br />

91


2 DESENVOLVIEMNTO<br />

2.1 BREVES NOTAS HISTÓRICAS E POSSÍVEIS CAUSAS DA<br />

HOMOSSEXUALIDADE<br />

É irrefutável que nos povos primitivos, selvagens e nas civilizações mais antigas, como<br />

a romana, egípcia e assíria a homossexualidade sempre esteve presente, tanto que<br />

chegou a relacionar-se com a religião e a carreira militar. Conforme Rios (2001, p. 31)<br />

“a homossexualidade existe desde que o mundo é mundo”.<br />

A prática de atos homossexuais está inserida no contexto da história da própria<br />

humanidade, tendo em vista sua aceitação, embora com algumas restrições, na<br />

Antiguidade Clássica. Sua maior feição foi entre os gregos, que lhe atribuíam<br />

predicados como a intelectualidade, a estética corporal e a ética comportamental, sendo<br />

considerada mais nobre que a relação heterossexual e a prática recomendável por sua<br />

utilidade.<br />

“A Idade Média registra o florescimento da homossexualidade em mosteiros e<br />

acampamentos militares, sabendo-se que na Renascença, artistas como Miguel Ângelo<br />

e Francis Bacon cultivavam a homossexualidade” (BRITO 2000, p. 47).<br />

Conforme a doutrina cristã, a homossexualidade representa um pecado, é vista como um<br />

desvio dos padrões éticos de conduta, além de ser considerada um comportamento<br />

ultrajante nas sociedades pautadas na moral e nos bons costumes, merecedora apenas de<br />

repúdio e sarcasmo social.<br />

Aponta Spencer (1999, p. 11):<br />

Do ponto de vista psicológico e médico, a homossexualidade configura a<br />

atração erótica por indivíduos do mesmo sexo, uma perversão sexual que<br />

atinge os dois eixos, sendo considerado homossexual quem pratica atos<br />

libidinosos com indivíduos do mesmo sexo ou exibe fantasias eróticas a<br />

respeito.<br />

A homossexualidade é encarada na área da Psicologia como um distúrbio de identidade<br />

e não como uma doença. Também não é hereditária nem é uma opção consciente ou<br />

92


deliberada. Trata-se assim de um fato que não poderia ensejar qualquer reprovabilidade<br />

social ou jurídica, porque é algo involuntário.<br />

No campo científico a homossexualidade também mudou o conceito. No ano de 1985,<br />

deixou de constar no artigo 302 do Código Internacional das Doenças (CID), como uma<br />

doença mental e passou ao capítulo Dos Sintomas Decorrentes de Circunstâncias<br />

Psicossocias.<br />

Não há consenso acerca das razões que determinam a orientação sexual dos<br />

indivíduos. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostra a existência<br />

de causas genéticas no desenvolvimento do homossexualismo. Desta forma,<br />

não se pode taxar o homossexualismo como um desvio de conduta ou uma<br />

escolha pessoal (DIAS, 2001, p. 43).<br />

Não sendo uma opção livre, mas fruto de um determinismo psicológico, não pode ser<br />

objeto de reprovação ou marginalização social. Deve-se destacar que o<br />

homossexualismo não viola qualquer norma jurídica, nem é capaz, por si só, de afetar a<br />

vida de terceiros.<br />

2.2 AS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA<br />

A interpretação constitucional não é um exercício abstrato de busca de verdades<br />

universais. Nessa linha cabe declinar o que preceitua Farias (1996, p. 56):<br />

A homossexualidade é um fato da vida; as relações homoafetivas são fatos<br />

lícitos e relativos à esfera privada de cada um; o intérprete constitucional<br />

deve ser movido por argumentos de razão pública e não por concepções<br />

particulares, sejam religiosas, políticas ou morais; o papel do Estado e do<br />

Direito é o de acolher e não o de rejeitar aqueles que são vítimas de<br />

preconceitos e intolerância.<br />

A Constituição Federal pátria vigente afirma a existência de um Estado Democrático de<br />

Direito, preservando assim os próprios princípios de liberdade e da igualdade.<br />

Superados os preconceitos que afetam as uniões homoafetivas, aplicam-se os princípios<br />

constitucionais da dignidade da pessoa humana, da igualdade, além da analogia e dos<br />

princípios gerais do direito.<br />

Como prevê o Ordenamento Jurídico Brasileiro, em seu artigo 1°, inciso III da<br />

Constituição Federal/88, a dignidade da pessoa humana é um princípio fundamental,<br />

93


sendo assim, inerente a toda pessoa humana, sem distinção de origem, raça, sexo, cor e<br />

credo (BRASIL, 1988).<br />

Este princípio está interligado a duas garantias fundamentais, também previstas pela<br />

Constituição (art. 5°, caput), o da liberdade e igualdade. Assim, conforme Rosenvald<br />

(2005, p. 3), “o ser humano é digno de respeito pela eminência de ser livre”. Do<br />

mesmo modo, dispôs a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo 1°:<br />

“Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão<br />

e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade”<br />

(ONU, 1948).<br />

Posto que, todo ser humano nasce livre e sendo a dignidade pressuposto fundamental da<br />

liberdade e igualdade, constata-se que não existe pessoa sem dignidade, haja vista esta<br />

ser é um atributo natural que advém da essência de cada ser humano.<br />

Assim, Hironaka (apud ROSENVALD, 2005, p. 10) remete ao belo pensamento do<br />

francês Bernard Edelman, sobre a dignidade como essência da humanidade:<br />

Se a liberdade é a essência dos direitos do homem, a dignidade é a essência<br />

da humanidade. Ela se apresenta como a reunião simbólica de todos os<br />

homens que eles têm de comum, isto é, sua qualidade de ser humano.<br />

Dessa forma, torna-se imperioso ressaltar que nenhuma pessoa pode renunciar à<br />

dignidade, posto que a condição de sua existência é a vida. A própria palavra dignidade<br />

em seu significado gramatical quer dizer respeito, sendo que a palavra vida traduz<br />

existência humana, origem, fundamento, estando-se, entretanto, diante de um princípio<br />

que presa o respeito à existência humana. É certo que para a dignidade ser exercida de<br />

forma eficaz, caberá ao Estado propiciar condições necessárias para que uma<br />

coletividade se desenvolva.<br />

Todo ser humano deve ter a sua dignidade protegida pela tutela do Estado,<br />

tendo em vista que esta é o pressuposto de sua existência. Portanto, cabe<br />

também ao Estado proporcionar a todos os seres humanos chances iguais,<br />

para que todos na formação de uma sociedade possam atingir seus fins<br />

culturais, econômicos e sociais (PEREIRA, 2000, p. 93).<br />

94


É a dignidade que faz do homem um ser acima das coisas, dotado de consciência<br />

racional e moral. Sendo assim, o Estado não pode ser colocado no mesmo plano que o<br />

indivíduo, nem limitá-lo aos mesmos direitos e obrigações, como prescreve Bastos<br />

(1999, p. 276): “o dever resulta da necessidade de dar-se significação prática ao<br />

exercício de um outro direito”. Nesse sentido, o Estado existe em função das pessoas e<br />

não as pessoas em função do Estado.<br />

Assim, Pereira (2000, p. 97) retrata o valor do homem quanto à dignidade como pessoa<br />

ao expressar: “quando uma coisa tem um preço, podemos substituí-la por qualquer<br />

outra como equivalente; mas o homem, superior à coisa, está acima de todo preço,<br />

portanto não permite equivalente, pois ele tem dignidade”.<br />

Nesse sentido, não existe nada que possa superar o valor do homem como ser humano,<br />

nem ser sacrificado em nome de uma coletividade ou ser colocado em posição de<br />

desigualdade diante dos demais ou desvalorizado como pessoa e elevado à condição de<br />

coisa, sendo que todo ser humano é único.<br />

Sendo a dignidade humana princípio fundamental, disciplinada pela Carta Magna, é<br />

correto afirmar que a mesma é norma jurídica de eficácia plena, servindo assim, como<br />

lei geral para os direitos fundamentais. E, se assim não o fizer, viola-se norma<br />

constitucional que elegeu a dignidade da pessoa humana como princípio fundamental<br />

para preservação dos indivíduos como ser único dotado de direitos e obrigações.<br />

2.3 EDUCADORES HOMOSSEXUAIS E A QUESTÃO DA HOMOFOBIA<br />

A discriminação contra os homossexuais geralmente se inicia no lar, reduto<br />

culturalmente ligado ao acolhimento e à ideia de refúgio dos problemas do dia a dia.<br />

Paralelamente a essa vivência no lar, a escola muitas vezes reflete e reproduz<br />

preconceitos. A diferenciação entre coisas de meninos e coisas de meninas passa da<br />

esfera do privado à do público, e qualquer transgressão a essa ordem provoca uma<br />

reação coletiva, em geral negativa.<br />

95


De acordo com Costa (1994, p. 4-5):<br />

A sexualidade é o aspecto mais conflituoso, controverso e desconhecido do<br />

ser humano. A nossa cultura lida mal com esse importante aspecto da vida e,<br />

para agravar, cria modelos estanques nos quais pretendem encaixar e<br />

classificar as pessoas. Esses moldes, muitos dos quais baseados apenas no<br />

preconceito e na falta de informação, não nos permitem que sejamos<br />

exatamente aquilo que somos ou que poderíamos ser.<br />

Desta forma surge um questionamento: um/a educador/a homossexual pode criar<br />

problemas para a escola? Provavelmente sim, não pela sua sexualidade, mas pelas<br />

reações preconceituosas que podem surgir a partir da orientação sexual declarada ou<br />

prejulgada desse/a educador/a. Porém, o mais importante é lembrar que não é o<br />

professor gay ou professora lésbica a causa das situações de conflito. O preconceito de<br />

alguns responsáveis, alunos/as ou colegas é, de fato, a verdadeira fonte dos problemas.<br />

Suplicy (1986, p. 266) sai em defesa dos homossexuais ao expressar: “a orientação<br />

sexual é a expressão sexual de cada indivíduo por um membro de outro sexo, do mesmo<br />

sexo, ou por ambos os sexos. Não se sabe se a orientação sexual é determinada pelo<br />

social, por fatores biológicos ou ambos”.<br />

Muitas pessoas vão dizer que não existe nenhum problema em ter na escola um<br />

educador/a homossexual, desde que ele/a se comporte. Mas o que significa esse<br />

comportamento? Comportar significa ser, mas não parecer homossexual. Significa que<br />

esse profissional, para ser aceito/ e respeitado/a, tem que abrir mão de ser, agir e falar<br />

do seu jeito para se adaptar a uma determinada norma de comportamento de gênero.<br />

Significa que ele ou ela tem que vestir uma máscara, interpretar um papel dentro da<br />

escola que não levante nenhum indício de sua identidade sexual.<br />

Porém, deve-se deixar claro que profissionalismo não significa falar groso ou fino,<br />

vestir essa ou aquela cor. Profissionalismo tem a ver com ética, compromisso com o<br />

trabalho, dedicação, capacidade, respeito. Educadores têm que ser julgados como<br />

educadores, não como gays, lésbicas, heterossexuais, ou o que seja. E dizer que a<br />

identidade sexual do profissional não importa, não significa dizer que ele/a tem de<br />

apagá-la, escondê-la ou negá-la como se fosse algo errado. O que importa é dizer que<br />

todas as identidades sexuais serão respeitadas, sejam quais forem.<br />

96


Criou-se o preconceito contra os homossexuais a partir do século XVIII, com a cultura<br />

da sexualidade. A estigmatização dos homossexuais seria, assim, resultado do processo<br />

de classificação das sexualidades, o que tornou o sexo um meio poderoso de categorizar<br />

as pessoas (BADINTER, 1993).<br />

Sendo assim, o preconceito contra gays cumpre o papel psicológico essencial de deixar<br />

claro quem é heterossexual e quem é homossexual. O preconceito contra homossexuais<br />

é chamado de homofobia. Para Mott (1997, p. 9):<br />

A homofobia define-se como uma ideologia anti-homossexual, aversão à<br />

homossexualidade, ódio dirigido a homossexuais. [...] de todas as minorias<br />

sociais, os homossexuais são as maiores vítimas do preconceito, mais<br />

rejeitados do que os negros, judeus e mulheres.<br />

Segundo o autor, os crimes praticados contra homossexuais são, na maioria das vezes,<br />

classificados como crimes de ódio e devem ser referidos como crimes homofóbicos, por<br />

terem como principal motivação o fato de o agressor não aceitar orientação sexual da<br />

vítima.<br />

Os crimes homofóbicos e todas as demais expressões de preconceito e discriminação,<br />

motivadas pela homossexualidade alheia, constituem manifestações de violência e<br />

desrespeito aos direitos humanos e à igualdade de cidadania, sem falar que podem<br />

representar o primeiro passo de ações homofóbicas mais agressivas que poderão<br />

redundar no extermínio do indivíduo homossexual.<br />

Mais importante que descobrir as causas da violência contra homossexuais, travestis e<br />

transgêneros é ter em mente que qualquer sociedade que pretenda ostentar o título de<br />

democrática, plural e justa, deve combater qualquer forma de violência fundada na<br />

irracionalidade de querer uniformizar e impor uma única maneira de amar, de<br />

manifestar o amor e os desejos eróticos. É inadmissível que o Estado laico compactue<br />

em escolas e outros órgãos com a institucionalização, ainda que sutil, de violências<br />

infundadas contra minorias, sejam elas raciais, étnicas, religiosas ou sexuais.<br />

97


O processo de desconstrução da homofobia só será possível quando houver rupturas<br />

com o naturalizado, mediante a tolerância e a aceitação das diferenças encontradas nos<br />

indivíduos e a luta do movimento homossexual em busca de cidadania e respeito.<br />

2.4 A QUESTÃO DO GÊNERO<br />

Mesmo antes de nascerem os pais criam expectativas relacionadas ao sexo da criança<br />

que serão vestidas com a cor “ideal”, brincarão com os jogos e brinquedos<br />

“apropriados” e deverão se comportar segundo os padrões estabelecidos pela sociedade.<br />

É desta forma que nossas crianças aprendem e reproduz como devem desempenhar os<br />

papéis que lhes são atribuídos, demonstrando assim, o quanto já absorveram das<br />

expectativas dos adultos.<br />

Bozon (20<strong>04</strong>, p. 59) afirma que:<br />

A diferenciação psicossexual tem lugar independentemente dos aspectos<br />

genéticos, hormonais, genitais e morfológicos. A identidade sexual é tudo<br />

aquilo que distingue os sexos, ou seja, atitudes, ocupações, vestimentas,<br />

adornos, gestos, expressões emocionais, erotismo e comportamento sexual.<br />

Isto significa dizer que essas características de comportamento são<br />

determinadas pela própria cultura em cada sociedade ou grupo social.<br />

Deste modo, vários estereótipos são transmitidos pela educação das crianças. Uma<br />

primeira providência formada é a separação dos universos masculino e feminino, ou<br />

seja, mesmo as crianças estudando ou brincando juntas, quase sempre são lembradas<br />

das suas diferenças. Nesse sentido, Rosa (2003, p. 19) alerta que “ser homem, ser<br />

mulher, ou, simplesmente ser diferente não significa ser melhor ou pior do que ninguém<br />

e sim ter capacidade e características próprias que nos fazem seres únicos e especiais”.<br />

Considerando que o gênero é uma categoria social que influencia a maneira de as<br />

pessoas se relacionarem com o mundo e com os outros, acredita-se que uma das piores<br />

formas de manifestação de preconceitos e discriminação contra os homossexuais é a<br />

violência de gênero, presente em nossa cultura e naturalizada em suas múltiplas formas<br />

de manifestação. Pode-se estar ao seu lado sem vê-los, pode-se negar sua existência,<br />

aceitá-los ou lutar contra eles.<br />

98


Daí a importância de projetos de intervenção social e educativa que deem visibilidade a<br />

tal realidade e promovam a tomada de consciência das implicações éticas e sociais que<br />

esse tipo de violência traz para o convívio democrático. Assim, nos vemos com o<br />

desafio da erradicação da discriminação sexista, e na busca de garantir espaços<br />

privilegiados para superá-lo.<br />

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Não há como negar que a sexualidade seja contraditória, complexa e socialmente<br />

construída, da mesma forma, não se pode também negar que todas as elaborações<br />

humanas possam ser refeitas. Portanto, pensar na discussão das sexualidades, sobretudo<br />

no contexto escolar, sob uma perspectiva reflexiva e inovadora da maneira como os<br />

corpos sexuados são estruturados e definidos culturalmente é um caminho polêmico,<br />

difícil, mas, não impossível.<br />

Educação é uma questão de direitos humanos e as escolas precisam modificar seu<br />

funcionamento para incluir todos, e as características de uma escola de qualidade,<br />

decorrem do paradigma da inclusão, onde se enfatiza o processo de adequação da escola<br />

às necessidades dos alunos para que possam estudar aprender, crescer e exercer<br />

plenamente a sua cidadania. Para tanto as escolas precisam eliminar atitudes<br />

preconceituosas, adequar seus programas, prepararem os alunos e famílias e capacitar<br />

continuamente todos os profissionais que atuam na escola.<br />

Acabar com a homofobia depende da mudança de valores, tanto da sociedade quanto da<br />

educação, da vivência de um novo paradigma que não se faz por decretos ou por<br />

simples recomendações técnicas. Dependem, também, da participação coletiva,<br />

envolvimento e comprometimento de todas as pessoas.<br />

A adoção de uma postura pedagógica crítica neste sentido nos parece relevante e<br />

urgente, pois a escola é uma das instituições sociais que também deve se comprometer<br />

com a promoção da diversidade humana, incluindo aí o direito à igualdade e o respeito<br />

às diferenças.<br />

99


4 REFERÊNCIAS<br />

BADINTER, Elisabeth. XY Sobre a Identidade Masculina. Rio de Janeiro: Nova<br />

Fronteira, 1993.<br />

BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 20. ed. São Paulo: Saraiva,<br />

1999.<br />

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outubro de 1988. Brasília, DF, 1988.<br />

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1. ed. São Paulo: Ltr, 2000.<br />

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privada r a imagem versus a liberdade de expressão e informação. Porto Alegre:<br />

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São Paulo: Moderna, 2003.<br />

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Família. Belo Horizonte: Del Rey, 2000.<br />

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Advogado, 2001.<br />

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p.17-22, out./dez., 2003.<br />

100


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Saraiva, 2005.<br />

SOUZA, Francisco Loyola de et. al. A justiça e os direitos de gays e lésbicas:<br />

jurisprudência comentada. Porto Alegre: Sulina, 2003.<br />

SPENCER, Colin. Homossexualidade: uma história. 2. ed. Rio de Janeiro: Record,<br />

1999.<br />

SUPLICY, Marta. Conversando sobre sexo. Petrópolis: Vozes, 1986.<br />

101


O ENSINO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:<br />

O PROFESSOR MEDIADOR DO PROCESSO DE FORMAÇÃO CRÍTICA<br />

Adriano Pereira dos Santos 33<br />

Edimar Pereira das Neves 34<br />

Lidiane Andreati 35<br />

Vitor Correa Lima 36<br />

RESUMO<br />

Este artigo é o resultado de leituras acerca dos problemas observados no processo<br />

educacional e do contexto social em que as nossas escolas se encontram. Por isso, é<br />

necessário observar diversos aspectos, desde a escola com toda sua estrutura, o papel do<br />

professor e os conteúdos selecionados, a participação dos alunos e da comunidade<br />

escolar. Para desenvolvimento da temática, apresentaremos dois aspectos importantes:<br />

primeiro mostrar como a realidade social influencia no processo ensino-aprendizagem; e<br />

segundo, observar como o ensino de História somado à participação do professor,<br />

proporciona aos alunos uma melhor compreensão da sua realidade.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Ensino de História; Realidade social; formação crítica.<br />

ABSTRACT<br />

This article is the result of reading about the problems observed in the educational<br />

process and social context in which our schools are. Tried to look at various aspects,<br />

from the school with its structure, the role of the teacher and selected content, student<br />

participation and school community. To develop the theme, we present two important<br />

aspects: first show how social reality influences the teaching-learning process, and<br />

second, to observe how the teaching of history coupled with the participation of the<br />

teacher gives students a better understanding of their reality.<br />

KEYWORDS: History teaching; Social Reality; critical training.<br />

33 Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Professor de<br />

Filosofia e Ensino Religioso da rede pública Estadual do Espírito Santo.<br />

34 Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Professor de<br />

História da rede pública Estadual do Espírito Santo.<br />

35 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Professora de<br />

Geografia da rede pública Estadual do Espírito Santo.<br />

36 Graduando em Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Professor de<br />

História da rede pública Estadual do Espírito Santo e Coordenador da rede Municipal de Cariacica.<br />

102


1 INTRODUÇÃO<br />

São diversas as maneiras em que a realidade social influencia na vida cotidiana dos<br />

alunos. Viver numa comunidade carente, sem perspectivas de trabalho, sem infraestrutura<br />

básica e próximos da violência e das drogas, onde muitos correm riscos de<br />

matar ou morrer. São homens e mulheres, jovens e adultos procurando seus espaços no<br />

mundo do trabalho, fugindo da exclusão social, tentando garantir o pão de cada dia para<br />

si e para sua família.<br />

Em alguns momentos percebe-se uma insatisfação com a realidade em que vive. Porém,<br />

seus comportamentos evidenciam suas relações e preocupações com a sua própria<br />

realidade, pois não questionam e nem querem questioná-la, simplesmente repetem o que<br />

se fala, de que esse mundo não tem mais jeito, não tem solução, ou quando questionam,<br />

não são capazes de mudar suas atitudes, não se transformam em prática. Porém, de<br />

acordo Paulo Freire “[...] enquanto se sentirem assim, pensarem assim e agirem assim,<br />

reforçam o poder do sistema. Se tornam coniventes da ordem desumanizante” (Freire,<br />

20<strong>04</strong>, p. 83).<br />

É possível compreender o porquê de suas insatisfações não gerarem mudanças, pois a<br />

realidade em que vivem é que lhes dá sua sobrevivência. Transformar esse cotidiano<br />

seria, talvez, aumentar as dificuldades de viverem, pois mudam apenas o seu contexto,<br />

mas o sistema desumanizante, mais amplo, continua e mudá-lo, seria acabar com alguns<br />

de seus meios de vida, como por exemplo, o tráfico de drogas, que garante a<br />

sobrevivência de muitas pessoas ou outras formas de viver. Essa realidade, somada a<br />

falta de estrutura familiar, é levada para a sala de aula, e muitos fazem dentro da escola<br />

aquilo que fazem em suas casas ou na sua comunidade e outros ainda procuram, na<br />

escola, uma possibilidade de camuflar seus problemas.<br />

Ao observar o contexto da maioria das escolas, percebe-se a forma como esses alunos<br />

vivem e levam para a sala de aula aquilo que vivem no seu dia a dia, sobretudo os<br />

adolescentes e os jovens, em seu jeito de falar e agir, sem importar-se com o ambiente<br />

onde estão e nem com as pessoas que ali se encontram. Para eles é normal falar o que<br />

quiserem e o que pensam, mesmo em sala de aula.<br />

103


É essa realidade que a escola precisa enfrentar e são esses alunos que ela tem por<br />

necessidade transformá-los em cidadãos críticos e ativos na transformação social. Sendo<br />

assim, para Freire, (20<strong>04</strong> p. 63) “[...] não é possível à escola, se, na verdade, engajada<br />

na formação de educandos [...] alhear-se das condições sociais, culturais, econômicas<br />

de seus alunos, de suas famílias, de seus vizinhos”.<br />

Portanto, o papel do professor, torna-se de suma importância, nesse processo. Ele é<br />

capaz traduzir as necessidades dos alunos e relacioná-las com os conteúdos a serem<br />

estudados. A seleção dos conteúdos e forma como trabalhá-los possibilitam aos alunos<br />

uma visão mais ampla do contexto em que estão inseridos. E, sobretudo, o professor de<br />

história, pois tem a possibilidade levar ao conhecimento dos alunos os acontecimentos<br />

de épocas históricas diferentes, apresentando suas permanências e transformações.<br />

Neste caso, o professor por meio do conteúdo tem o poder de orientar para o processo<br />

de formação crítica diante da realidade em que os alunos estão inseridos, porque o<br />

estudo da história permite fazer a interação passado e presente. Sobretudo, com os<br />

alunos da EJA, que levam para a sala de aula uma experiência de vida somada aos<br />

conhecimentos do conteúdo de história.<br />

Uma sociedade de oportunidades igualitárias só é percebida por meio de uma análise da<br />

realidade contextualizada, e que não se deve aceitar o que se apresentam, sem uma<br />

reflexão em total conformidade com o que se mostra imutável. É preciso que haja uma<br />

visão e um posicionamento de que algo urgente precisa ser feito em prol de uma<br />

sociedade mais justa. A escola deve propiciar essa reflexão aos alunos levando-os a<br />

compreender e perceber que as relações humanas e suas formas de organização social<br />

geram desigualdades e também movimentos por uma forma de vida mais igualitária,<br />

dependendo das características de cada grupo social.<br />

Ao assumir o papel de educador integrado ao saber contextualizado este tem a<br />

responsabilidade de considerar o saber da própria experiência dos alunos e ao<br />

desenvolver sua docência deve perceber e considerar a realidade do educando como<br />

ponto de partida da prática pedagógica a ser adotada. A partir desse diagnóstico, o<br />

1<strong>04</strong>


educador pode assumir dois posicionamentos que irão conduzir seus trabalhos: educar<br />

para reproduzir ou educar para transformar.<br />

O papel norteador da possibilidade da transformação advém de uma autotransformação<br />

que ocorre com o processo de conscientização. Nesta prática pedagógica, aos conteúdos<br />

sistemáticos integrados, deve-se adotar, também, um posicionamento crítico e reflexivo<br />

o que possibilitará mais igualdade de oportunidades dos indivíduos dominados em<br />

ralação aos dominantes.<br />

Sendo assim, um educador cuja prática pedagógica possibilita a transformação da<br />

sociedade vigente parte do pressuposto de sua conscientização e autotransformação para<br />

desenvolver nos seus educandos uma autonomia para as tomadas de decisões. Seu papel<br />

histórico, social e cultural na construção de uma sociedade mais justa está ligado à<br />

aceitabilidade ou mudança do momento presente para a construção do futuro.<br />

O que hoje é presente, amanhã será história, e a História é construída dia-a-dia. Cabe<br />

então aos educadores a construção da História com a participação de sujeitos agentes,<br />

conscientes e transformadores. Mudar é difícil, mas não impossível. É necessário e<br />

urgente (Freire, 20<strong>04</strong>).<br />

2 DESENVOLVIMENTO<br />

2.1 O PAPEL DO ENSINO DE HISTÓRIA E DO PROFESSOR DE HISTÓRIA<br />

Como a realidade está inserida num tempo histórico, entende-se que não é possível<br />

ensinar história sem estar aberto para as problemáticas em que se encontram os alunos.<br />

E nesse contexto, a disciplina de História tem um papel importante, pois é capaz de<br />

aproximar os alunos às transformações ocorridas ao longo dos tempos e relacioná-las<br />

com a realidade atual, para poder conhecê-la melhor e organizarem-se para transformála<br />

em todos os seus aspectos, quer sejam individuais ou coletivos. Sendo assim,<br />

105<br />

[...] é na escola que formulamos grande parte das respostas e das perguntas<br />

necessárias à compreensão de nossas vidas, de nossa sociedade e de nosso<br />

cotidiano; é o espaço no qual podemos adquirir a idéia do tempo histórico e


106<br />

da transformação que a humanidade produziu [...] (Bock; Furtado; Teixeira,<br />

1999, p. 270).<br />

A escola, sobretudo o ensino de história, são partes fundamentais na formação e<br />

construção de um pensamento crítico e atualizado diante da realidade de vida dos alunos<br />

e o meio social onde estão inseridos determina sua compreensão de mundo. Porque,<br />

Há uma relação particular entre atividade e ação. O motivo da atividade,<br />

sendo substituída, pode passar para o objeto (o alvo) da ação, com o resultado<br />

de que a ação é transformada em atividade. Este é um ponto<br />

excepcionalmente importante. Esta é a maneira pela qual surgem todas as<br />

atividades e novas relações com a realidade. Esse processo é precisamente a<br />

base psicológica concreta sobre a qual ocorrem mudanças na atividade<br />

principal e, consequentemente, as transições de um estágio do<br />

desenvolvimento para o outro. (VYGOTSKY; LURIA; LEONTIEV, 2001, p.<br />

69).<br />

Para viabilizar essa relação da ação com a realidade, conforme Bittencourt houve<br />

atualmente uma inovação nos objetivos do ensino de História onde a ênfase passa para a<br />

compreensão do sujeito histórico contribuindo para a formação de um cidadão crítico e<br />

para a construção de uma sociedade democrática e igualitária. Outra contribuição<br />

necessária do ensino de História para a formação dos cidadãos, é fazê-los “[...] entender<br />

que a cidadania não se constitui em direitos concedidos pelo poder instituído, mas tem<br />

sido obtida em lutas constantes e em suas diversas dimensões” (BITTENCOURT, 2002,<br />

p. 20).<br />

Segundo Giroux (1992), o professor de História deve estar presente nesse contexto<br />

apresentando-se como um intelectual crítico e transformador para estar junto com os<br />

alunos desenvolvendo uma reflexão crítica e profunda para mudarem suas atitudes<br />

diante da realidade de injustiças em seus arredores. Os alunos devem ser voz ativa no<br />

processo de aprendizagem, pois trazem para a escola suas experiências sociais e<br />

culturais, suas esperanças e sonhos. E, no entanto, a reflexão crítica não deve apenas<br />

mostrar a necessidade da mudança, mas apresentar, também, possibilidades para que os<br />

alunos tornem-se agentes para atuar como cidadãos transformadores diante da ideologia<br />

da sociedade dominante.<br />

É esse sujeito ativo, cidadão crítico, que o ensino de história deve, acima de tudo,<br />

formar. Não apenas para ser crítico, mas que possa atuar na transformação da sua


ealidade. O ensino de História e a prática do professor proporcionam aos alunos uma<br />

melhor compreensão da sua realidade, possibilitando-os não serem apenas mais um<br />

componente na sociedade, mas sim, tornarem-se formadores e transformadores desta<br />

sociedade na qual são e estão inseridos. De acordo com Libâneo (1994, p. 47) “As<br />

características mais importantes da atividade profissional do professor é a mediação<br />

entre o aluno e a sociedade, entre as condições de origem do aluno e sua destinação<br />

social na sociedade [...]”.<br />

Se o educador não perceber a realidade do educando e não ver essa realidade/mundo<br />

com os olhos dos mesmos, não é possível captar a necessidade dos alunos e nem mesmo<br />

apresentar formas que possibilitem as transformações (Freire, 20<strong>04</strong>). As mudanças se<br />

processam com a interação entre alunos e professor e vice-versa. “Não há um sem os<br />

outros, mas ambos estão em permanente interação” (Freire, 1998, p. 37).<br />

Entretanto, para Freire, a realidade social existente em cada comunidade, não surgiu<br />

naturalmente, mas foi por meio da construção humana, desta mesma forma, a sua<br />

transformação só poderá ser produto da ação do ser humano, isto é, através da sua<br />

‘práxis’ que é ação e reflexão da ação, levando à conscientização e transformação<br />

dentro de sua comunidade (Freire, 1998). Sendo assim, “[...] transformar a realidade<br />

opressora é tarefa histórica, é tarefa do homem” (Freire, 1998, p. 37). Essa<br />

transformação não se dá apenas individualmente, mas de forma coletiva, comunitária e<br />

consciente.<br />

A escola, no entanto, deve ser um espaço para a aquisição dessa consciência e para a<br />

socialização da mesma na condução do processo transformador. O projeto pedagógico<br />

escolar deve levar ao processo de conscientização e libertação. Pois, para Moraes (1997,<br />

p. 43) “[...] O trabalho pedagógico em sala de aula, se não tiver isso em mira, é<br />

opressivo, a-político e a-crítico”.<br />

A escola é o local da aquisição de conhecimento e deve ser também, nela o<br />

processamento da socialização desse conhecimento adquirido em projetos de mudanças.<br />

Cabe aí, o papel importante do professor/educador, que tem a possibilidade de visualizar<br />

a realidade e apresentar aos educandos meios possíveis para que as mudanças se<br />

107


processem. E as mudanças surgem, a partir do momento, em que o professor entender<br />

que sua função não é apenas transmitir o conteúdo e conhecimento, mas possibilitar que<br />

o aluno faça sua própria produção ou construção de conhecimentos (Freire, 20<strong>04</strong>).<br />

Mesmo diante do jogo da vida, em que a maioria dos estudantes enfrenta no seu dia-adia,<br />

querer uma vida melhor, segundo Freire, ainda, é o sonho de cada indivíduo e o que<br />

lhe falta muitas vezes é motivação, é autoestima e sem dúvidas, a condição de vida em<br />

que vive a maioria dos estudantes, lhes condiciona e direciona a sua compreensão e<br />

entendimento de mundo e de sua própria realidade, sua aprendizagem e as formas de<br />

responder aos desafios que a vida lhes proporciona (Freire, 20<strong>04</strong>,). A escola deve ser o<br />

local em que essa motivação seja trabalhada. E o professor é nada mais que, um<br />

incentivador, um motivador, e<br />

108<br />

[...] A motivação é, portanto, o processo que mobiliza o organismo para a<br />

ação, a partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a necessidade e o<br />

objeto de satisfação. Isso significa que, na base da motivação, está sempre<br />

um organismo que apresenta uma necessidade, um desejo, uma intenção, um<br />

interesse, uma vontade ou uma predisposição para agir [...] (Bock; Furtado;<br />

Teixeira, 1999, p. 121).<br />

A escola com suas disciplinas e com os seus professores deve oferecer um<br />

conhecimento baseado no cotidiano dos seus alunos. Os professores, mais do que<br />

conhecer os conteúdos e os seus alunos, devem conhecer, também, a realidade em que<br />

os mesmos estão inseridos, para a partir daí, poder se organizar e elaborar o<br />

planejamento de suas aulas. Com base nesta temática Antônio Leal preconiza que,<br />

[...] para ser professor é necessário participar do planejamento do curso, da<br />

organização e das discussões da escola como um todo. Acho ainda que o<br />

professor deve conhecer a comunidade e procurar ligações [...] com<br />

elementos que produzam cultura no local [...] (LEAL, 1991, p. 33).<br />

Desta forma, é necessário, o professor entendr que ele é um agente social ativo com<br />

possibilidades de intervir na realidade e por sua vez, é também, mediador na formação<br />

de novos agentes atuantes na sociedade (Moraes, 1997). É o papel pedagógico<br />

desenvolvido dentro da sala de aula direcionado para a atuação fora dela.<br />

Sendo assim, a escola, não deve abrir, apenas, as portas para as comunidades realizarem<br />

eventos, festas, etc.. Mas, também, junto com a comunidade planejar um calendário de


atividades que envolva não só alunos e pais para resolverem os problemas internos, mas<br />

toda a comunidade que faze parte do contexto da escola. É necessário ter um objetivo<br />

maior, que vai além das estruturas da escola, que é a conscientização das pessoas que<br />

fazem parte da comunidade onde ela está inserida. Para isso, a escola precisa de<br />

organização e de um projeto político pedagógico elaborado.<br />

109<br />

“Um projeto pedagógico de nível tem que partir do diagnóstico da realidade<br />

da comunidade e da escola, das condições de aprendizagem dos alunos e<br />

alunas, da problematização constante das práticas pedagógicas e opções<br />

metodológicas adotadas, da compreensão por parte dos educadores estarem<br />

em contínuo processo de formação, da clareza das finalidades da escola, das<br />

metas a serem atingidas [...] envolvendo, comprometendo-se e<br />

comprometendo a todos na busca de conscientização dos anseios coletivos”<br />

(SANTOS, 20<strong>04</strong>, p. 7).<br />

A instituição escolar não deve ser apenas o espaço para realizar essas atividades, mas<br />

deve ir ao encontro dessa realidade e atuar junto com as associações de moradores, dos<br />

conselhos comunitários, igrejas e outras instituições engajadas no bem-estar social, para<br />

proporcionar a participação dos pais, dos alunos e da comunidade em: palestras de<br />

formação e conscientização (questões ecológicas, lixo, saneamento básico etc.), cursos<br />

diversos como: pintura, informática, artesanato com material reciclável e fomentar a<br />

criação de cooperativas, associações etc. Tudo isso, visa melhorar a condição de vida da<br />

comunidade, que para Libâneo (1994, p. 36) “[...] a escola não pode ignorar que as<br />

desigualdades sociais são um real obstáculo ao desenvolvimento humano e, por isso,<br />

mesmo, precisa aliar sua transmissão de conhecimentos às lutas sociais pela<br />

transformação do quadro social vigente”.<br />

A escola deve estar integrada na elaboração e na realização dessas atividades, pois uma<br />

vez que ela atua na comunidade, não apenas como instituição de educação formal e<br />

curricular, todos terão uma nova visão sobre o seu papel e o resultado poderá vir na<br />

transformação do comportamento em sala de aula e também no comportamento das<br />

pessoas que ali não estudam. Pois passarão vê-la como uma aliada no processo de<br />

compreensão e superação dos desafios. A escola deve levar até a comunidade uma<br />

compreensão melhor da realidade, pois através das aulas de História podem-se<br />

apresentar as transformações ocorridas ao longo dos tempos e as que acontecem<br />

também hoje, frutos das ações dos homens atuais.


A escola e todo o seu contexto fazem parte dessa realidade. A instituição escolar não<br />

pode estar separada do cotidiano de seus alunos e nem tampouco deve estar a serviço<br />

das teorias das classes dominantes. Ela deve ser um espaço de produção cultural e servir<br />

de possibilidade para construir a ação dos estudantes.<br />

110<br />

[...] É na linguagem, e através dela, que os indivíduos, em contextos<br />

históricos específicos, moldam seus valores em determinadas formas e<br />

práticas [...] A escola é uma das esferas públicas básicas, onde, pela<br />

influência da autoridade, da resistência e do diálogo, a linguagem é capaz de<br />

construir a maneira como vários indivíduos e grupos codificam e, assim,<br />

lêem o mundo [...] (Giroux, 1992, p. 84-5).<br />

A escola não deve ser apenas o espaço da aquisição ou exposição do conhecimento,<br />

mas, sobretudo, preparar seus alunos para serem cidadãos. Sendo assim, “[...] a escola,<br />

em hipótese nenhuma, pode isentar-se da sua mais importante função: social, política e<br />

cultural [...]” (Guimarães, 2003, p. 9). Dessa forma, portanto, a escola desenvolve<br />

condições para apresentar de forma clara e objetiva os meios viáveis para que os alunos<br />

desenvolvam ou ampliem suas visões de mundo e através dela, sejam protagonistas da<br />

transformação do meio social em que estão inseridos, porque “por seu envolvimento na<br />

vida social e de trabalho, a preparação de uma pessoa [...] estão historicamente longe<br />

de ser sempre os mesmos” (VYGOTSKY; LURIA; LEONTIEV, 2001, p. 65).<br />

2.2 A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE HISTÓRIA NA EJA<br />

Buscando compreender a importância do ensino de história na educação escolar,<br />

percebemos que não é possível estudar a história de forma fragmentada e distanciando<br />

os períodos históricos da realidade atual. É indispensável para o estudo da história, em<br />

qualquer etapa de escolaridade, sobretudo na EJA, a interação passado e presente.<br />

Porque “os instrumentos que o homem usa para dominar seu ambiente e seu próprio<br />

comportamento [...] foram inventados e aperfeiçoados ao longo da história social do<br />

homem” (VYGOTSKY; LURIA; LEONTIEV, 2001, p. 26). Por isso, há um anseio pela<br />

compreensão do presente, mas na busca de encontrar uma origem para as questões da<br />

atualidade.


Como na EJA os alunos, em sua maioria, tem uma vasta experiência de vida e<br />

profissional o debate acerca da história e atualidade se torna fundamental para o<br />

processo de ensino e aprendizagem. Ao trabalhar conteúdos da pré-história, por<br />

exemplo, com o nomadismo, o sedentarismo, o surgimento da agricultura, do comércio,<br />

das cidades, dos reis (políticos), das religiões, entre tantas outras criações do homem<br />

pré-histórico com invenções técnicas que foram aperfeiçoando ao longo da história, que<br />

leva professor e alunos fazendo uso dessas temáticas, percorrerem os períodos<br />

históricos, possibilitando a compreensão e percepção das transformações e<br />

permanências dos acontecimentos ou fatos que marcaram e marcam a vida do ser<br />

humano.<br />

Os alunos da EJA têm uma compreensão muito mais ampla desses acontecimentos e<br />

uma facilidade para fazer a interação do passado com o presente. É inevitável esse<br />

debate. Mas o professor torna-se peça importante nesse processo e passa por ele a<br />

seleção dos conteúdos e a forma como apresentá-los é que determina ou possibilita esse<br />

processo.<br />

Trabalhar com turmas da EJA do Ensino Médio percebe-se que os alunos provocam o<br />

debate passado/presente e leva o professor a mudar sua forma de trabalhar. É constante<br />

ouvir dos alunos que quando o professor aproxima o passado com o presente, estudar<br />

história fica mais interessante.<br />

Para entender melhor a ensino de história na EJA, foi feito um levantamento com os<br />

alunos, no final do ano letivo de 2010, com uma turma de 2ª etapa do ensino médio, em<br />

que os mesmos responderam a quatro questões pertinentes ao ensino de história na sala<br />

de aula e levando em consideração suas experiências de vida e seus conhecimentos da<br />

história. Como segue abaixo:<br />

1) O que você acha da matéria de história () bom; ( ) ruim; ( ) regular e ótimo ( ).<br />

Dos 13 alunos que responderam as questões 5 responderam bom; 7 ótimo e 1 ruim.<br />

Entende-se que o resultado obtido foi importante, pois no inicio do ano letivo a maioria<br />

dos alunos questionava quanto à importância do ensino de história. Percebe-se que<br />

111


houve uma mudança de comportamento em relação à história como componente<br />

curricular.<br />

2) O estudo da história te ajuda a compreender melhor a realidade atual? ( ) sim; ( ) não.<br />

Justifique.<br />

Todos os alunos responderam que sim e as justificativas foram diversas. Algumas foram<br />

selecionadas e reproduzidas na integra 37 . O aluno Leandro respondeu que “o estudo da<br />

história nos ajuda a compreender a formação da sociedade, não só em nosso país, mas<br />

em todo o mundo e, em suas origens é possível encontrar costumes que preservamos até<br />

hoje”. Já o aluno Sérgio, entende que estudar história “ajuda a compreender a realidade<br />

do mundo de hoje... Resgatar o passado e dando continuidade do presente”. A aluna<br />

Layana argumenta que a história traz “a cultura dos antepassados...”. O aluno Bruno<br />

responde que o estudo da história “são realidades que podemos aprender para os dias de<br />

hoje”. Para o aluno Paulo Sérgio o ensino de história contribui “para que nós<br />

entendemos como funcionou o mundo até hoje”.<br />

3) Em sua opinião, qual a importância do estudo da história?<br />

Para a aluna Madalena a importância da história é que “conhecemos nossas origens”.<br />

Para Mariana é “pra nós sabermos como eram as coisas antigamente e como foi<br />

aprimorando”. Para o aluno Jadison “é saber como nossos antepassados viviam, e isso<br />

ajuda a refletir mais a vida”. Já para Leandro “a história ajuda o ser humano a<br />

compreender a si mesmo e, desse modo, o ajuda a evoluir”.<br />

4) Qual a importância da história para a sua vida?<br />

Para a aluna Marlene a história ajuda a “dar mais valor a vida profissional, familiar no<br />

conhecimento e poder passar para meus filhos. É dar mais valor a vida, olhando-se para<br />

trás”. Já para o aluno é “para ter conhecimentos gerais e entender melhor a vida”. Para o<br />

aluno Jadison é que “a história do passado estudamos hoje, nossa história, hoje,<br />

estudarão no futuro. A história, o fato é que faz parte de nossa vida”. Para o aluno<br />

Lourival a história é inerente ao ser humano. “na minha vida, a história tem um papel<br />

muito importante, pois como leitor e aspirante a escritor, ela atravessa meu caminho<br />

37<br />

Os nomes dos alunos são fictícios para manter a ética na pesquisa, uma vez que não dispomos de<br />

autorização dos mesmos.<br />

112


várias vezes e sua influência é muito enriquecedora. Hoje percebo que nada é por acaso,<br />

que tudo tem um motivo e um início. Estudar história é buscar a compreensão sobre nós<br />

mesmo e a vida”.<br />

Esses depoimentos deixam claro, que a história tem uma importância muito grande na<br />

vida do ser humano. Dependendo do foco do professor ou da forma como se trabalha o<br />

conteúdo pode-se abafar a criatividade e a liberdade de pensamento e conhecimento<br />

critico que aluno tem da história do passado e presente. Sabendo que o professor deve<br />

sempre ser o mediador desse processo, senão surgem as críticas, as observações e para<br />

que isso não fique fragmentado ou desajustado diante da realidade histórica o professor<br />

precisa intervir, orientar, conduzir para os procedimentos do conhecimento da história<br />

que passa pela análise e compreensão e com o auxilio do professor é necessário que se<br />

torne capaz de elaborar sua síntese.<br />

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A elaboração deste artigo possibilitou entender que ensinar exige compreensão e<br />

apreensão da realidade para poder transformá-la ou construí-la proporcionando ao<br />

educando a construção de sua própria formação crítica e juntos buscar uma nova<br />

realidade onde cada um possa alcançar seus objetivos, sonhos e ideais.<br />

Possibilitou, também, fazer uma reflexão sobre o papel da educação, sobretudo do<br />

Ensino de História, na formação de um cidadão crítico. Porém, essa educação só será<br />

alcançada quando a instituição escolar com toda a sua organização administrativa e<br />

docente estiver integrada com a realidade social da comunidade escolar. Caso contrário,<br />

será sempre reprodutora do sistema vigente. Para ser transformadora é necessário um<br />

projeto que valorize não somente a participação dos alunos, mas de toda a comunidade.<br />

Todo esse processo fez entender que ser educador não é tarefa fácil. Exige<br />

compromisso, planejamento e muita disposição para poder não apenas transmitir<br />

conhecimentos, mas participar da vida da comunidade onde escola está inserida.<br />

Analisar a realidade social dos alunos é um desafio, mas extremamente importante, não<br />

113


somente para a formação profissional, mas para que trabalho do professor atinja seus<br />

objetivos que é formar cidadãos críticos para atuarem como transformadores da<br />

realidade em que vivem. Percebe-se, portanto, que ser professor vai muito mais além do<br />

que simplesmente dar aulas.<br />

4 REFERÊNCIAS<br />

BITTENCOURT, Circe (org). O Saber Histórico na Sala de Aula. 7 ed. São Paulo:<br />

Contexto, 2002.<br />

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi.<br />

Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13 ed. São Paulo: Saraiva, 1999.<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Ed. 25. São Paulo: Paz e Terra, 1998.<br />

____________. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à pratica educativa. 30<br />

ed. São Paulo: Paz e Terra, 20<strong>04</strong>.<br />

GIROUX, Henry. Escola Crítica e Política Cultural. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1992.<br />

_____________. Os Professores como Intelectuais: rumo a uma pedagogia da<br />

aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.<br />

GUIMARÃES, Raidalva Araújo de Queiroz. A escola Cidadã e os desafios da<br />

sociedade pós-moderna. Jornal Mundo Jovem. Porto Alegre. Ano XLI, nº 334,<br />

Mar/2003.<br />

LEAL, Antônio. Fala Maria Favela: uma experiência criativa em alfabetização. 11 ed.<br />

São Paulo: Ática, 1991.<br />

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.<br />

MORAES, Regis de (org). Sala de Aula: Que espaço é esse? Campinas, SP: Papirus,<br />

1997.<br />

SANTOS, Edmerson dos. Projeto Pedagógico: moda, exigência ou consciência? Jornal<br />

Mundo Jovem. Porto Alegre. Ano XLII, nº 345, Abr/20<strong>04</strong>.<br />

VYGOTSKY, Lev Semenovich; LURIA, Alexander Romanovich; LEONTIEV, Alex<br />

N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2001.<br />

114


O EMPREGO DAS GÍRIAS ENTRE ADOLESCENTES: ESTUDO DE CASO<br />

EM UMA ESCOLA PÚBLICA EM CARIACICA (ES)<br />

115<br />

Adriana Oliveira Silva Carreiro 38<br />

Michelle Ferreira Ruela Alves 39<br />

Viviana Carla Lucas 40<br />

RESUMO<br />

Este artigo busca descrever aspectos gerais sobre o emprego das gírias por adolescentes<br />

da faixa etária de 12 anos de uma escola pública estadual do município de Cariacica, no<br />

Espírito Santo. Para tanto, recorreu-se a um procedimento de análise qualitativa a partir<br />

da avaliação de dados quantitativos, mas levando-se em consideração um princípio<br />

universal de que todos os adolescentes da faixa etária em questão tendem a empregar<br />

gírias em suas atividades conversacionais. A abordagem privilegiada foi acerca da gíria<br />

como uma variante linguística que, em muitos contextos, não é bem assimilada,<br />

chegando a ser recriminada por alguns grupos. Os resultados obtidos apontam para um<br />

uso muito espontâneo do vocabulário gírio e, simultaneamente, para o emprego<br />

consciente dessa variante, o que pode evidenciar a busca por uma identidade linguística<br />

por meio das gírias. O presente trabalho segue, assim, com uma introdução, a proposta<br />

metodológica, o referencial teórico, análises e discussões sobre os dados e algumas<br />

considerações finais.<br />

PALAVRAS-CHAVE: gíria; adolescentes; variação linguística; linguagem.<br />

ABSTRACT<br />

This article attempts to describe general aspects on the use of slangs by teenagers aged<br />

from 12 years old to a state school in the city of Cariacica, in Espírito Santo. To this<br />

end, we used a qualitative analysis procedure based on the evaluation of quantitative<br />

data, but taking into account a universal principle that all adolescents in the age group in<br />

question tend to use slangs in their conversational activities. The preferred approach<br />

was about as a variant of the slang language that in many contexts, it is hard to swallow,<br />

coming to be blamed for some groups. The results indicate a very spontaneous use of<br />

slangs and simultaneously the conscious employment of this variant, which can<br />

highlight the search for an identity through language slang. This paper therefore follows<br />

with an introduction, the proposed methodology, the theoretical framework, analysis<br />

and discussion of the data and some final remarks.<br />

KEY WORDS: slang; teenagers; linguistic variation; language.<br />

38 Graduanda do curso de Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Licenciada<br />

em Letras-Português/Inglês pelo SABERES. Especialista em Literatura pela UNIUBE. Especialista em<br />

EJA – Educação de Jovens e Adultos pela Instituto Superior de Educação e Cultura Ulysses Boyd.<br />

39 Graduanda do curso de Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Licenciada<br />

em Letras-Português pelo Centro de Ensino Superior de Vitória. Especialista em Gestão e Educação<br />

Ambiental pela FAESA.<br />

40 Graduanda do curso de Pedagogia pela Faculdade Capixaba da Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES. Licenciada<br />

em Matemática pela Universidade Federal do Espírito Santo.


1 INTRODUÇÃO<br />

Neste estudo, serão abordados alguns aspectos linguísticos e sociais em relação a uma<br />

modalidade de linguagem que é comumente utilizada por adolescentes e jovens: as<br />

gírias.<br />

Considerada por muito tempo como “linguagem dos malandros”, a gíria era, até algum<br />

tempo, uma variante linguística alvo de preconceitos de ordem social, ficando à margem<br />

das variantes mais prestigiadas. Com a emergência dos meios de comunicação, essa<br />

imagem, até então negativa, vai sendo reconstruída, e pode-se considerar, sem<br />

generalizações, que hoje, o uso das gírias é comum em todos os níveis sociais.<br />

Para Preti (2010), a expansão do vocabulário gírio na sociedade contemporânea<br />

brasileira, em especial nos contextos urbanos, permite-nos afirmar que não se trata mais<br />

de uma marca dos falantes jovens, mas de uma presença constante na conversação, por<br />

vezes até mesmo em falantes de outras faixas etárias ou em situações formais.<br />

Sabe-se que a comunidade de falantes constituída por adolescentes e jovens continua<br />

sendo a principal responsável pela difusão e inserção social dessa modalidade. Ainda<br />

que se considere que a gíria tem sido objeto de adesão por indivíduos e grupos dos mais<br />

diversos níveis – seja faixa etária, classe social, grau de escolaridade, religião –, não é<br />

viável crer na inexistência de preconceito linguístico.<br />

De acordo com Silva & Moura (2000), percebe-se que uma das dificuldades da vida<br />

social é a aceitação da diferença, uma vez que todos os preconceitos aparecem quando<br />

uma especificidade em relação à realidade intergrupos entra em evidência. A raiz do<br />

preconceito está na rejeição da alteridade ou na consideração das diferenças como<br />

patologia, erro, vício etc. O uso das gírias por jovens e adolescentes sempre foi visto<br />

como algo polêmico. Por trás do preconceito em relação à gíria, há sempre um conflito<br />

entre grupos sociais conservadores e inovadores.<br />

Esta pesquisa tem como objetivo investigar os vários tipos de gírias que são utilizados<br />

por adolescentes na faixa etária de doze anos numa escola pública no município de<br />

116


Cariacica/ES. Busca-se, com esse estudo, explicações para os motivos que levam os<br />

adolescentes a empregarem gírias em suas atividades interacionais. Outro foco de<br />

interesse é verificar se os adolescentes dessa faixa etária fazem o uso da gíria em sua<br />

interação com adultos, e se, nesse diálogo, há dificuldades de interpretação, gerando,<br />

assim, desvios de comunicação ou mesmo preconceito.<br />

Para alcançar os objetivos delineados, propõem-se alguns procedimentos básicos, a<br />

saber:<br />

117<br />

§ Entrevistas, por meio de questionário, aos adolescentes com faixa etária média<br />

de 12 anos, a fim de construir um quadro percentual;<br />

§ Investigação acerca do significado das gírias mais difundidas, pois acreditamos<br />

que, conhecendo esse vocabulário, é possível partir do conhecimento que os<br />

alunos possuem para desenvolver uma relação dialógica mais clara entre os<br />

sujeitos envolvidos na interação;<br />

§ Análise quantitativa e qualitativa dos dados;<br />

§ Avaliação da análise a partir dos resultados.<br />

Após esta introdução, este trabalho conta ainda com uma segunda seção, na qual<br />

discutiremos sobre o processo de levantamento dos dados, bem como uma terceira<br />

parte, em que são apresentadas as análises e discussão sobre os dados. Por fim, serão<br />

feitas algumas considerações finais acerca dos resultados encontrados.<br />

2 METODOLOGIA PARA ENTREVISTAS E FOCO DA PESQUISA<br />

Para atingir o objetivo proposto nesta pesquisa, foram utilizados, como procedimentos<br />

metodológicos, uma estrutura de entrevistas padronizadas, seguindo a orientação de<br />

Lakatos e Marconi (2001, p. 197), para quem essa modalidade de entrevistas “é aquela<br />

em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido”. Os autores<br />

explicam que “ela se realiza de acordo com um formulário elaborado e é efetuada de<br />

preferência com pessoas selecionadas de acordo com um plano”. Assim, foram


envolvidos 59 alunos da 6ª série de uma escola pública estadual de Cariacica, no<br />

Espírito Santo.<br />

Embora seja possível estabelecer um quadro quantitativo a partir dos resultados,<br />

buscaremos priorizar uma análise qualitativa, ainda que este não seja o procedimento<br />

mais adequado para um estudo de caso como este, uma vez que os dados recolhidos são,<br />

via de regra, insuficientes para a obtenção de resultados amplamente objetivos.<br />

Por outro lado, é viável focalizar uma pesquisa qualitativa com dados aparentemente<br />

superficiais se partirmos do princípio da uniformidade, dada a tendência natural e<br />

universal dos adolescentes a estabelecerem suas relações sociais pela linguagem<br />

utilizando gírias – principalmente, mas não somente, nos centros urbanos.<br />

3 DESENVOLVIMENTO<br />

A pesquisa será sustentada por um quadro teórico composto por autores renomados no<br />

campo de estudos da linguagem. Assim, serão aqui retomados os trabalhos de Preti<br />

(2000; 2003; 2010) e Ribeiro (online), sobretudo no que diz respeito ao objeto de<br />

discussão – a gíria; Travaglia (2003), tratando do tema geral da interação; e Silva &<br />

Moura (2000), com suas considerações sobre preconceito linguístico. Vale esclarecer<br />

que, no decorrer da pesquisa, outros autores poderão ser convocados a elencar a<br />

bibliografia.<br />

De acordo com Ribeiro (2005), as gírias trazem um novo significado às formas já<br />

existentes ou que tenham sido alteradas nesse sistema linguístico comum. O objetivo da<br />

gíria é não se fazer entender por quem não faz parte de um determinado grupo social,<br />

logo ela pretende manter a identidade e a consciência deste grupo social.<br />

Segundo Preti (2000:11), em toda a nossa vida em sociedade existe um problema de<br />

intercâmbio e diálogo que se realiza pela língua. Dessa maneira, percebe-se que a<br />

diferença de idade muitas vezes traz conflitos entre os falantes, pois adultos e<br />

adolescentes não compreendem um ao outro.<br />

118


Ao considerar que o locutor adulto, ao longo dos anos e de suas experiências, amplia o<br />

seu vocabulário, possivelmente possuirá um repertório que possa tornar-se mais formal,<br />

de acordo com as exigências da norma culta, nas relações sociais que estabelece. Esse<br />

vocabulário mais apurado não permite uma aproximação com os adolescentes que, por<br />

sua vez, utilizam um vocabulário não formal. Portanto, ao considerar as faixas etárias<br />

diferentes, o vocabulário utilizado pelos adolescentes é entendido no contexto social,<br />

frente às exigências cultas como gírio, popular ou informal.<br />

Percebe-se uma hierarquização dos diversos vocábulos, inferiorizando a linguagem<br />

popular construída em diversos contextos diariamente. Ao transpor essas considerações<br />

para o cotidiano escolar, focalizando a relação dialógica e reflexiva entre professor e<br />

aluno, Silveira (1997:43-4), mostra como essa hierarquização acontece na escola.<br />

De acordo com o autor, o professor, representante dessa classe dominante através de sua<br />

linguagem, expressa crenças, valores e representações da realidade valorizada na escola.<br />

Representante da classe popular, o aluno não compartilha destas crenças, valores e<br />

representações da realidade. Além disso, sua linguagem, suas proposições e<br />

expectativas são diferentes das do professor. De acordo com Silveira (1997), fica<br />

evidente a existência de um fosso entre o diálogo de professores e alunos, e a<br />

necessidade de que vença essas barreiras, respeitando o direito de cada um de expressar<br />

seus sentimentos. Nesse sentido, no tipo de linguagem utilizada por ambos, deve haver<br />

sintonia, ou seja, professor e aluno devem construir uma linguagem de maneira<br />

colaborativa. Assim, o professor deve apontar para o aluno a linguagem utilizada pela<br />

sociedade, e o aluno, ao mesmo tempo, deve ter o direito de mostrar um pouco do que<br />

faz parte do seu mundo, sem ser discriminado.<br />

Dessa forma, observamos que uma das grandes dificuldades no meio social tem sido a<br />

aceitação das diferenças existentes em relação às pessoas, uma vez que os preconceitos<br />

são considerados como uma especificidade quanto à realidade de cada grupo ou como<br />

elemento superior a todos os outros (Silva & Moura, 2000:23). Nesse caso, tudo o que<br />

venha a ser diferente é visto como algo inexistente, isto é, como algo inferior, errado e<br />

feio.<br />

119


Ainda de acordo com Silva & Moura (2000:27),<br />

120<br />

[...] a variação é inerente às línguas, porque as sociedades são divididas em<br />

grupos: há os mais jovens e os mais velhos, os que habitam uma região ou<br />

outra, os que têm esta ou aquela profissão, os que são de uma ou outra classe<br />

social e assim por diante. O uso de determinada variedade linguística serve<br />

para marcar a inclusão num desses grupos, dá uma identidade para seus<br />

membros.<br />

Para os autores, a língua é um fenômeno sócio-cultural, em que existe uma extensa<br />

variedade de raças e culturas, que se misturam transmitindo seus valores e tradições, e a<br />

língua que falamos reflete essa diversidade. Dessa forma, os indivíduos,<br />

independentemente de sua região ou classe social, utilizam a linguagem própria de cada<br />

grupo, o que possibilita um relacionamento entre eles.<br />

Entendemos que a gíria dá um significado novo a formas que já existem ou até mesmo<br />

que tenham sido alteradas nesse sistema linguístico comum. O objetivo do uso das<br />

gírias pelos grupos de adolescentes é de não se fazer entender por quem não pertence a<br />

um determinado grupo. Diante disso, a gíria tem a intenção de manter a identidade de<br />

um determinado grupo social, ou seja, a criação de termos e expressões pode servir de<br />

intenção de não se fazer entender por outros grupos que não sejam pertencentes ao seu<br />

grupo, o que levaria a buscar meios de imposição de sua expressão linguística.<br />

Conforme Celso Cunha (20<strong>04</strong>:244),<br />

Em todos os grupos de seres humanos organizados, desde o início em que<br />

eles adquirem a consciência de sua unidade, os que não pertencem àquele<br />

grupo, ou seja, os não iniciados passam a ser chamados de profanos. E, é a<br />

partir daí que decorre o antagonismo entre a ação uniformizadora da<br />

sociedade geral, onde busca estagnar a língua, pela resistência da inércia<br />

coletiva de toda invenção linguística, e a ação dos grupos particulares<br />

tentando diferenciá-la, principalmente quando se trata de um grupo mais ou<br />

menos fechado e independente.<br />

Portanto, entendemos que os grupos se dividem cada um em busca de defender os seus<br />

interesses, existem aqueles que defendem a linguagem culta, colocando-a como a<br />

correta e aqueles que defendem a linguagem que foi criada de forma independente.


Esses grupos, por sua vez, se fecham não admitindo trocas de experiências e nessa<br />

defesa tem ocorrido a dificuldade de relacionamentos, em que na sua maioria o<br />

adolescente se sente rejeitado e excluído dos meios sociais em que o preconceito invade<br />

todo o contexto, devido às gírias não serem aceitas pela sociedade.<br />

Ribeiro (2005) aponta referenciais de alguns estudos sobre gíria: para Mounim,<br />

(1993:40), a gíria, num sentido linguisticamente, mais técnico, representa<br />

exclusivamente uma forma de língua na qual o léxico específico está ligado a um grupo<br />

social, ou porque o grupo tem uma vida fechada (a gíria politécnica), ou porque ele<br />

elaborou uma língua secreta que protege (a gíria dos malfeitores, a gíria dos<br />

mercadores, comerciantes).<br />

Cardona (1991:159) expõe que a gíria é uma variedade linguística compartilhada por<br />

um grupo restrito (por idade ou por ocupação), que é falada para excluir da<br />

comunicação as pessoas estranhas e para reforçar o sentimento de identidade dos que<br />

pertencem ao grupo. Travaglia (2003:45) a define como forma própria de utilização da<br />

língua por um grupo social o qual se identifica por esse uso da língua e se protege do<br />

entendimento por outros grupos, pode também ser considerada como uma forma de<br />

dialeto social.<br />

De acordo com Ribeiro (2005) e Coutinho (1976), a gíria é derivada de contribuições<br />

variadas da língua comum, nela podem ser incorporados arcaísmos, neologismos,<br />

aspectos estilísticos, mudanças sintáticas e outros recursos que, a princípio, teriam como<br />

objetivo torná-la uma linguagem totalmente irreconhecível fora do grupo de uso.<br />

Ribeiro (2005) aponta que:<br />

121<br />

[...] assim, se seguirmos a tendência de considerar a linguagem especial dos<br />

adolescentes um modo de comunicação que se destina somente aos iniciados,<br />

que estão a par de seus significados simbólicos, ela será tomada como gíria.<br />

A esse respeito, é interessante observar o fato de muitas revistas se<br />

especializarem em assuntos que envolvem os gostos e interesses dos<br />

adolescentes, formando um público especial, que entende os termos usados.<br />

Sob este prisma, somente este público iniciado entenderia, a princípio tal<br />

linguagem. Apesar disso, embora inicialmente restrita a um pequeno grupo,<br />

muitas vezes ela passa a fazer parte da língua cotidiana. Por isso, é natural a<br />

oscilação entre considerar ou não a “língua do adolescente” um caso de gíria,<br />

pelo menos no que tange às definições técnicas desse termo. Como a gíria


122<br />

está em contato com a língua comum, muitas de suas leis são iguais às da<br />

língua comum, com diferenças apenas no léxico.<br />

Além disso, conforme Ribeiro (2005) deve-se considerar que as pessoas estão sempre<br />

mudando de um grupo para o outro e que em cada grupo existe uma forma de<br />

linguagem. Ao chegar ao novo grupo, elas vão adquirindo a nova forma de se<br />

comunicar.<br />

Com os adolescentes não é diferente, pelo fato de estarem num momento de<br />

descobertas, eles estão sempre mudando de grupo e variando sua linguagem. E a<br />

linguagem utilizada pelos adolescentes é destinada apenas àqueles que fazem parte do<br />

seu grupo e esse tipo de linguagem é classificada como gíria, quando somente os<br />

adolescentes que fazem parte do grupo poderiam entender o seu significado.<br />

4 REFLETINDO SOBRE OS DADOS<br />

Ao serem questionados sobre os motivos pelos quais utilizam as gírias em sua<br />

comunicação, alguns dos entrevistados evidenciam a importância social do vocabulário<br />

gírio. Veja-se pelas respostas abaixo reproduzidas:<br />

1) “é um modo de adolescentes”<br />

2) “eu não consigo falar uma coisa sem gírias”<br />

3) “é uma forma de afinidade com as amigas mais íntimas”<br />

4) “é um costume de alguns adolescentes”<br />

5) “entre colegas, nós gostamos” / “assim são os tempos modernos”<br />

6) “nós adolescentes não gostamos de falar tudo certinho”<br />

Tais afirmações atestam que a gíria é, entre outros aspectos, um fator de inclusão e de<br />

exclusão social. De inclusão, se considerarmos que ela aproxima falantes de um mesmo<br />

grupo social, funcionando como mecanismo de defesa desse grupo. De exclusão, se<br />

pensarmos que pode ser motivo de preconceito, ou seja, pode gerar rejeição nas<br />

situações de diálogo.


No caso em questão, essa situação de preconceito é vivenciada no contexto familiar: dos<br />

59 adolescentes entrevistados, 33 (aproximadamente 55%) afirmam ser mal<br />

compreendidos e recriminados pelos pais quando empregam gírias em suas falas<br />

espontâneas.<br />

A esse respeito, vale mencionar o trabalho de Stella (2003), que realizou uma pesquisa<br />

na antiga Casa de Detenção de São Paulo, a qual revelou que certas gírias se constituem<br />

como um código de interação muito específico entre os presos, e são, muitas vezes<br />

desconhecidas pelos guardas. No entanto, de acordo com um dos entrevistados da<br />

pesquisa de Stella, fora do ambiente prisional existe um grande receio para o uso de tal<br />

linguajar, uma vez que ele é carregado de um sentido excludente na sociedade na qual<br />

deseja reintegrar-se.<br />

Dessa forma, é evidente que existem restrições de uso do vocabulário gírio, seja pelo<br />

receio de uma possível situação de preconceito, seja por uma questão de adequação<br />

linguística a determinadas situações de comunicação em que o uso da gíria não se<br />

enquadra. Observe-se a tabela abaixo, que retrata o percentual relativo a locais onde os<br />

entrevistados mais empregam gírias:<br />

Locais<br />

Quantidade<br />

(de um total de 59)<br />

Em casa 20 33,9<br />

Na escola 39 66,1<br />

Na igreja 05 8,5<br />

Em festas 28 47,4<br />

Em qualquer lugar, exceto em casa 20 33,9<br />

Outros 18 30,5<br />

%<br />

123


Os dados revelam resultados que nos levam a tirar algumas conclusões:<br />

O uso de gírias é mais restrito em situações (locais) em que há exigência de um<br />

vocabulário menos informal, como em casa e, principalmente, na igreja.<br />

O baixo índice do emprego das gírias em casa deve-se, possivelmente, à relativa<br />

recriminação de que essa linguagem é vítima, como já mostramos anteriormente.<br />

No âmbito religioso, em geral, o emprego de um vocabulário mais sério e formal, como<br />

uma característica da linguagem eclesiástica, deve inibir consideravelmente o emprego<br />

de vocabulário gírio.<br />

O uso de gírias é mais evidente nos ambientes escolares e em festas.<br />

Acerca deste último ponto, cabe levantar alguns fatores que podem ser os grandes<br />

motivadores para o emprego espontâneo de um linguajar mais específico e próprio dos<br />

entrevistados. Tais fatores são:<br />

124<br />

§ A distância dos pais, tidos como inibidores (recriminadores) das gírias.<br />

§ A construção de relacionamentos, desencadeada pelo desejo de pertença ou de<br />

inclusão social.<br />

É necessário destacar ainda um fator essencial para a implementação e consequente<br />

difusão de novas gírias: a língua permite esses usos, tanto que são naturalmente<br />

compreendidas entre falantes que adotam a variante gíria. Portanto, se a língua permite<br />

o uso de variedades “não-padrão”, como é o caso das gírias, o preconceito é que deve<br />

ser considerado “erro”, uma vez que o vocabulário gírio atende as exigências<br />

comunicativas de seus usuários. Bagno (2007:37) afirma que:<br />

Não tem sentido falar de variação linguística como um “problema”. Vira e<br />

mexe recebo mensagens de pessoas que perguntam como tratar em sala de<br />

aula o “problema da variação”. Podemos começar respondendo que “o<br />

problema está em achar que a variedade linguística é um “problema” que<br />

pode ser solucionado. O verdadeiro problema é considerar que existe uma<br />

língua perfeita, correta, bem-acabada e fixada em bases sólidas, e que todas<br />

as inúmeras manifestações orais e escritas que se distanciem dessa língua


125<br />

ideal são como ervas daninhas que precisam ser arrancadas do jardim para<br />

que as flores continuem lindas e coloridas!<br />

Outro momento essencial das entrevistas é o de levantamento do vocabulário, isto é, de<br />

gírias mais utilizadas pelos entrevistados. Os dados coletados estão dispostos na tabela<br />

abaixo de acordo com cada ato de linguagem, seja este um cumprimento, ao falar sobre<br />

alguém ou outras expressões:<br />

Quais as gírias que você mais usa?<br />

Cumprimento/<br />

Pergunta<br />

Outras expressões Outras expressões Ao falar sobre alguém<br />

Qual é? Ninguém merece Já é Mané<br />

Colé? Tipo assim... Já era X9<br />

Colé veio? Aí cara Sinistro Dragão<br />

Colé mano? Porcaria Irado Canhão<br />

Colé neguinho? Na moral Vacilão Gatinho/a<br />

Pô Na providência Ta tirando onda? Miragem<br />

Pô veio Valeu! Buzu Filé<br />

Ta ligado?! Moro!? É nóis Zé mane<br />

Qual é cara Se liga! Falo Tdb<br />

Fala aí malandro Sai fora! Saca só Papa anjo<br />

Qual é brother? Maneiro! Selinho Bolado/a<br />

Qual é brode? Saco! Palha Cabeção<br />

Qual é brol? Caramba! Cinco minutinhos Meu chegado<br />

Qual é coroa? Que doido! Droga Sangue bom<br />

Fala aê maluco! parada Mil grau Sagas<br />

Pode crê! Fala sério!? Legal Fêi<br />

Caraca Maneiro Doido<br />

Galera Ta vacilando! Tosco<br />

Cara Passar o rodo Viajante<br />

Passar o cerol Vazar Sonso<br />

Tô zerando Caiu a ficha! bicho


Ta ligado! Ganso esquerim<br />

Sai dessa cachaça! Caiu a ficha! bagulho<br />

Coca-cola barraqueira Mico<br />

Maior favelada Selinho Ficar em off<br />

Tô no sal Balada Coca-cola é fanta.<br />

Neste ponto, observou-se que os alunos entrevistados usam as gírias com seus grupos e,<br />

em sua maioria, expressam seus sentimentos de forma até organizada. Cada gíria tem o<br />

seu papel especial de entendimento entre o locutor e o receptor e ambos entendem a<br />

mensagem proposta em cada gíria.<br />

Então, partindo dessa linha de raciocínio, resolveu-se elaborar um quadro, no qual<br />

apresentamos a organização de linguagem entre eles. Esse grupo tem uma linguagem<br />

própria, utilizada para cumprimentar as pessoas de seu grupo ou de outros grupos.<br />

Destacamos, por exemplo, “qual é?”, “colé mano”; “pô véio”; “fala aí malandro” etc.<br />

Também utilizam as gírias para falar sobre alguém, usando-as no sentido de elogiar<br />

(“gatinho”, “filé”, “TDB” que significa “tudo de bom”, “sangue bom” etc.); ou de<br />

depreciar (“mané”, “papa anjo”, “bolado” no sentido de “doido”, “sonso”, “viajante”<br />

etc.).<br />

Um dos fatores de variação analisados neste estudo foi o gênero sexual. Sobre quais<br />

gírias são mais usadas por meninos e quais pelas meninas, 11 admitiram não existir<br />

diferença entre as gírias utilizadas por meninos e meninas. Entretanto, 29 dos alunos<br />

entrevistados apontaram que as meninas utilizam gírias leves e os meninos gírias<br />

pesadas e palavrões, e que os meninos usam as gírias no sentido depreciativo ou até<br />

mesmo como forma de xingamentos; enquanto as meninas as utilizam como<br />

cumprimento, elogio, no sentido de paquera, ou seja, de forma mais inteligente na visão<br />

delas.<br />

Partindo para o fim das discussões propostas, um importante questionamento que não<br />

poderia deixar de ser feito foi sobre o efeito das instituições midiáticas para os usuários<br />

de gírias. Veja-se a tabela abaixo e posteriores considerações:<br />

126


Você acha que a televisão influencia para que aconteça<br />

um uso maior das gírias?<br />

Nº de<br />

entrevistados<br />

Sim 23 58%<br />

Não 14 35%<br />

Às vezes 02 05%<br />

Não repara 01 08%<br />

Nesta questão, confirmou-se que 58% dos entrevistados acreditam que a televisão<br />

influencia para que aconteça um uso maior das gírias, 35% disseram que a televisão não<br />

influencia o uso deste tipo de linguagem e 5% que às vezes ocorre influência da<br />

televisão quanto ao uso de gírias. Apenas 8% dos entrevistados disseram que não<br />

reparam a influência que a televisão possa ter em relação ao uso de gírias por parte dos<br />

adolescentes. Nesse caso, constatou-se que a maioria dos entrevistados concorda que a<br />

televisão tem contribuído para um maior uso de gírias na linguagem dos adolescentes.<br />

Através deste questionário foi possível concluir que os adolescentes, em sua maioria,<br />

não têm se preocupado com o que os outros pensam em relação ao uso das gírias que<br />

são utilizadas em sua linguagem, e que as respostas dadas por eles passavam segurança,<br />

mesmo eles percebendo que, em muitas vezes, são discriminados por pessoas não<br />

pertencentes aos seus grupos como família, professores e adultos em geral.<br />

As respostas facilitaram nosso entendimento dos motivos que os levam a fazerem das<br />

gírias a sua linguagem própria de comunicação, e por que elas aparecem como um meio<br />

de se expressar de forma descontraída e, muitas vezes, marcante, uma vez que essa<br />

forma de linguagem é característica de falantes da faixa etária analisada.<br />

Ao iniciar o estudo sobre as gírias utilizadas pelos adolescentes na faixa etária de doze<br />

anos, tomando como direção a análise dos vários tipos de gírias e seus respectivos<br />

significados e a variação linguística, alguns fatores eram previstos no que se diz respeito<br />

ao comportamento dos adolescentes e o uso da linguagem que eles utilizam.<br />

%<br />

127


5 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Com a aplicação da entrevista, foi possível constatar que apesar de o assunto ser o<br />

mesmo para os adolescentes, cada um expressava seus sentimentos através das respostas<br />

sem nenhum constrangimento pelo fato de o assunto ser visto por muitos como algo<br />

polêmico.<br />

Notou-se que eles gostaram do assunto, tanto na pesquisa que fizeram quanto nas<br />

atividades que foram trabalhadas com eles em sala de aula. Por meio das respostas que<br />

eles deram na entrevista, foi possível conhecer melhor as gírias e seus respectivos<br />

significados.<br />

A partir da metodologia, dos objetivos alcançados e das atividades que foram realizadas<br />

com esses adolescentes, ficou claro que eles sabem justificar o uso das gírias e seus<br />

significados, assim como também diferenciá-lo da linguagem culta, e que, em alguns<br />

momentos, eles se mostram muito organizados em relação ao uso das gírias, ou seja,<br />

cada gíria tem o seu papel e função no jogo interacional que eles mantêm.<br />

Diante disso, não se pode afirmar que o tipo de linguagem utilizada pelos adolescentes<br />

dessa faixa etária, ou até mesmo de outras, é inadequado ou que somente a norma culta<br />

é aceitável e correta, uma vez que esse tipo de linguagem tem se expandido não somente<br />

aos grupos de adolescentes, mas também a outros grupos. Para isso, é importante que<br />

ambos os grupos respeitem as características do outro.<br />

Através desta pesquisa, percebeu-se que, em algumas situações, as gírias trazem um<br />

significado aceitável e até mesmo divertido. Porém, não quer dizer que ela deva<br />

dominar todo o espaço da linguagem na sociedade, mas que existe um equilíbrio e troca<br />

de vocabulário entre os grupos de adolescentes e aqueles que defendam a língua culta<br />

para que haja um melhor entendimento entre ambos.<br />

Nessa perspectiva, é importante ressaltar que os adolescentes estão cientes de que a<br />

linguagem utilizada por eles sofre preconceitos, vindo muitas vezes da sociedade que é<br />

bastante conservadora. Entretanto, eles também estão na busca de defender esse tipo de<br />

128


linguagem, conquistando o seu espaço para que também possam ser reconhecidos e<br />

respeitados como seres sociais e usuários competentes da língua.<br />

Dessa maneira, assim como os adolescentes estão passando por processo de mudança, a<br />

língua também utilizada não só por eles, mas pela comunidade de falantes que dela se<br />

utilizam para seus propósitos comunicacionais, varia de grupo para grupo e de pessoa<br />

para pessoa. Qualquer diferença no uso da língua está relacionada à nossa sociedade e à<br />

cultura na qual se encontra inserida, tornando a linguagem mais variada.<br />

Portanto, sempre haverá grupos diferentes e, por assim serem, sofrem variações<br />

linguísticas que estão sujeitas a serem ou não aceitas pela sociedade. O importante é que<br />

os grupos de defesa saibam respeitar e ao mesmo tempo procurem conhecer melhor o<br />

tipo de linguagem de cada um e até mesmo que façam trocas de vocabulário para evitar<br />

conflitos. Uma vez que a língua utilizada por todos está sempre sofrendo modificações,<br />

é fundamental saber usá-la independentemente do grupo a que pertence, pois ela um<br />

bem público da comunidade de falantes.<br />

Se a língua permite variações, façamos uso dela de acordo com nossas necessidades,<br />

mas sempre respeitando os diferentes espaços sociais. Assim, usar gírias numa roda de<br />

amigos, tudo bem. Mas em uma entrevista de emprego, veja.<br />

6 REFERÊNCIAS<br />

BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação<br />

linguística. São Paulo, Parábola Editorial, 2007 [1961].<br />

CARDONA, Giorgio Raimundo. Diccionario de linguística. Barcelona: Ariel, 1991.<br />

CUNHA, Celso Ferreira da. Em torno dos conceitos da gíria e calão: sob a pele das<br />

palavras. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Academia Brasileira de Letras, 20<strong>04</strong>.<br />

PRETI, Dino. Inclusão e exclusão social pela linguagem: a gíria de grupo. In: BENTES, A.<br />

C.; LEITE, M. Q. (orgs.). Linguística de texto e análise da conversação: panorama das<br />

pesquisas no Brasil. São Paulo: Cortez, 2010.<br />

______. Léxico na língua oral e escrita. Projetos paralelos. NURC\SP. Ed. Humanitas,<br />

pp. 48-49, 2003.<br />

129


______. Sociolinguística: os níveis da fala. São Paulo: Edusp, 2000.<br />

RIBEIRO, Simone Nejaim. A língua do adolescente: linguagem especial ou gíria? In<br />

Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. Disponível em<br />

acesso em 14/<strong>04</strong>/06.<br />

SILVA, Fábio Lopes & MOURA, Heronides Maurílio de Melo. O direito à fala: a<br />

questão do preconceito linguístico. Florianópolis/SC: Insular, 2000.<br />

SILVEIRA, Elizabeth. O aluno entende o que se diz na escola. São Paulo: Ed. Dunya,<br />

1997.<br />

STELLA, Lea Poiano. Tá tudo dominado: a gíria das prisões. Dissertação (Mestrado)<br />

– Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2003.<br />

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de<br />

gramática. São Paulo: Cortez, 2003.<br />

130


VIOLÊNCIA ESCOLAR<br />

RESUMO<br />

131<br />

Ana Paula dos Santos 41<br />

Giovani Souza Salles 42<br />

Diante do crescente aumento da violência no ambiente escolar nas últimas décadas, este<br />

artigo tem como objetivo estudar os motivos dessas mudanças, a influência da dinâmica<br />

da sociedade contemporânea e as práticas escolares como molas propulsoras da<br />

violência nesse contexto, trazendo suas várias formas dentro dos muros das escolas.<br />

Para uma compreensão crítica da situação, o artigo além das pesquisas de seus autores<br />

está baseado nos estudos de vários escritores, estudiosos da evolução da sociedade, seus<br />

costumes e práticas sociais. Através da história da sociedade, destaca a influência do<br />

capitalismo na formação do cidadão. O artigo ainda, procura dar ênfase ao Bullying que<br />

hoje se tornou um dos problemas mais freqüentes nas escolas, destacando o papel da<br />

comunidade escolar no combate a esse mal.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Violência – escola – aumento - práticas escolares<br />

ABSTRACT<br />

Due to the increase in violence within the school environment during the last decade,<br />

this article studies the reasons for such behavior, the influence of the contemporary<br />

society and classroom practices as precursors for such violence in its many different<br />

types. To enable a critical analysis of the situation this article is based on its author’s<br />

researches as well as other studies performed on the issues of society evolution, its<br />

habits and social practices. Throughout history of society it highlights the influence of<br />

capitalism in the formation of a citizen. Moreover, the article emphasizes Bullying as it<br />

has become one the most frequent problem in schools and the role of the school in<br />

avoiding such practice.<br />

KEYWORDS: Violence - school - increase - practical pertaining to school<br />

41 Pós-Graduanda do Curso de Psicopedagogia Institucional da Faculdade Capixaba da<br />

Serra – <strong>Serravix</strong>; Serra-ES.<br />

42 Pós-Graduando do Curso de Psicopedagogia Institucional da Faculdade Capixaba da<br />

Serra – <strong>Serravix</strong>, Serra-ES.


1 INTRODUÇÃO<br />

O objetivo de abordar a temática proposta no artigo é compreender a problemática da<br />

violência em seus aspectos pontuais no ambiente escolar, ao conceituar a palavra<br />

“violência” e expandi-la para o universo escolar, destacando os tipos de violência dentro<br />

e fora das escolas e, em especial o Bullying. Além de fazer um retrato da violência e<br />

das suas conseqüências no cotidiano, destaca-se o papel do educador inserido nesse<br />

contexto, como um agente essencial na compreensão, reflexão, diálogo e solução das<br />

questões.<br />

Toda a argumentação do texto estrutura-se numa abordagem qualitativa e com um<br />

caráter etnográfico, pautada nos estudos realizados por pesquisadores e diversas fontes<br />

de pesquisas, entre elas: artigos em periódicos, livros, working papers, teses e<br />

entrevistas, para dar sustentação a este artigo. Pois, ao tratarmos de um assunto de<br />

importância e influência dentro e fora das escolas, não poderíamos fazer relatos isolados<br />

de pequenos campos, mas uma abordagem ampla e adequada com reflexo social.<br />

Com as mudanças nos meios sociais, drasticamente as escolas estão sendo atingidas,<br />

com isso, muitos estudiosos descrevem esse assunto em seus livros e pesquisas, a fim de<br />

diagnosticar e orientar a comunidade escolar sobre estes fatos. Além dos materiais<br />

escritos, a mídia repercuti o assunto em grande proporção, sendo essa de grande<br />

relevância para a estruturação deste texto.<br />

Ao destacar os reflexos da sociedade nos ambientes escolares, o artigo aborda às<br />

variáveis já identificadas em pesquisas como associadas à manifestação da violência<br />

escolar, como: porte da cidade, tamanho do estabelecimento, desigualdade social, etc.<br />

Esta panorâmica permite observar, além do crescimento constante nos índices de<br />

violência escolar, a sua disseminação, e também, o agravamento do problema, em<br />

virtude das formas de manifestação que se tornam cada vez mais explícitas e pessoais.<br />

132


2 DESENVOLVIMENTO<br />

2.1 A VIOLÊNCIA<br />

Antes de conceituar a violência é necessário tratarmos do fator histórico dela na<br />

sociedade. A violência sempre existiu nos grupos sociais, independente do tamanho<br />

desse grupo. Vários fatores históricos respaldam essa afirmativa. Freud afirma que, “o<br />

homem tem uma predisposição inata para a violência, nasce e cresce em um ambiente<br />

violento, porque também a sociedade é violenta”.<br />

Sendo nossa sociedade capitalista, buscou-se em Karl Marx explicações para a violência<br />

social. De acordo com Marx (1973, p.18), “O capital não tem pátria, vai onde encontra<br />

boas colocações. Se a exploração burguesa se converteu, necessariamente, pelo fato do<br />

desenvolvimento econômico, em exploração internacional; se não conhece raças nem<br />

fronteiras, exercendo-se indiferentemente onde quer que haja que roubar, ao mesmo<br />

tempo em que a intervenção governamental se declara em seu favor, em frente ao<br />

cosmopolitismo financeiro, da internacional amarela, o internacionalismo operário se<br />

levanta, correspondendo ao verdadeiro antagonismo dos interesses que estão em jogo”.<br />

A ação do capitalismo na sociedade deflagrou uma divisão de classes de forma desigual,<br />

criando uma classe operária que dispunha de poucos recursos para sua sobrevivência. A<br />

partir do crescimento de uma população de baixa renda, onde sua força de trabalho<br />

passou a ter valor de moeda, a disputa no mercado tornou-se acirrada e,<br />

consequentemente, a escassez de postos de trabalho, criou uma classe marginalizada,<br />

capaz de atitudes extremas para atender suas necessidades. Uma mola geradora da<br />

violência social. Conforme cita Libâneo: “A vida contemporânea afeta as práticas de<br />

convivência humana, as pessoas estão mais isoladas e mais egoístas, há muito mais<br />

violência, as crianças estão mais impacientes e mais dispersivas na sala de aula”.*<br />

Para Marx, o que distingue o ser humano dos outros animais, é o fato que ele, em algum<br />

momento da história, começa a produzir os seus meios de existência. O que o ser<br />

humano é coincide com “o que” e “como” ele produz, então é a vida concreta e real que<br />

133


determina a consciência. Assim, “O que os indivíduos são, portanto, depende das<br />

condições materiais de sua produção” (MARX; ENGELS, 1999, p. 28).<br />

A partir desse breve relato do contexto social, é possível conceituar a violência, sendo<br />

que esta requer interpretações diversas e abarque o maior número de condicionantes<br />

para ter-se uma visão holística do cenário estabelecido em nosso entorno e não se deixar<br />

cair na banalização. Abramovay (2006, p.54), afirma: “ao mesmo tempo em que a<br />

violência, hoje, se torna espetacular, notícia, diversos atos se entranham pelo cotidiano,<br />

tomando a forma ora de conflito, ora de altercações que se acercam do fatal e que<br />

provocam dor, mas que se naturalizam em comportamentos e práticas sociais que<br />

muitas vezes passam despercebidos. Nem sempre a violência se fundamenta em crimes<br />

e delitos, mas ela permeia nosso cotidiano, nossas mentes e almas na forma de um<br />

sentimento de insegurança. Ou seja, não necessariamente se fazem necessárias provas,<br />

corpos para configurar algo como violência e neste momento é quando nos violentamos,<br />

alterando gostos, hábitos e prazeres, práticas culturais, ou seja, nos disciplinando por<br />

medos”.<br />

Observando outra conceituação conforme cita Abramovay (2006) apud (Michaud,1989,<br />

10 e 11). Esse escreve:<br />

134<br />

Há violência quando, em uma situação de interação, um ou vários atores<br />

agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma<br />

ou mais pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, em suas<br />

posses ou em suas participações simbólicas e culturais.<br />

No contexto desta temática, abre-se espaço para as várias violências que são crescentes<br />

no nosso cotidiano e com isso, fechando-se o espaço do diálogo, do entendimento, de<br />

reconhecer o outro, do olhar atento aos mais fracos e a proteção destes, e porque não um<br />

olhar de compaixão.<br />

As manifestações de violência confrontam-se com os valores anteriormente adquiridos<br />

nos lares e até mesmo com os professores, pois quando utilizasse de atos violentos os<br />

agressores exercem sobre os outros a força, estampando o falso poder e com isso,<br />

negam a dignidade humana.


A violência escolar, apesar de crescente, há pouco tempo começou a fazer parte dos<br />

levantamentos estatísticos, conforme escreve no artigo: “Um breve balanço da pesquisa<br />

sobre violência escolar no Brasil”. De acordo com Sposito (2001), “o único<br />

levantamento nacional que abordou o tema da violência escolar, publicado em 1998,<br />

traz um retrato bastante sugestivo, embora tenha sido decorrente de uma investigação<br />

realizada apenas com professores. Identificam-se três tipos de situações mais<br />

freqüentes: as depredações, furtos ou roubos que atingem o patrimônio, as agressões<br />

físicas entre os alunos e as agressões de alunos contra os professores.<br />

Conforme a Lei Federal nº 9.394/96 (LDB), art. 2o: “a educação ... tem por finalidade o<br />

pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua<br />

qualificação para o trabalho.”<br />

2.2 TIPOS DE VIOLÊNCIA E O LINK ESCOLA<br />

A violência que as crianças e os adolescentes exercem, é antes de tudo, a que seu meio<br />

exerce sobre eles. A criança reflete na escola as frustrações do seu dia-a- dia. É neste<br />

contexto que destacamos os tipos de violência praticados dentro da escola.<br />

Violência contra o patrimônio - é a violência praticada contra a parte física da escola. "<br />

É contra a própria construção que se voltam os pré-adolescentes e os adolescentes,<br />

obrigados que são a passar neste local oito ou nove horas por dia." COLOMBIER et<br />

al.(1989)<br />

Violência doméstica - é a violência praticada por familiares ou pessoas ligadas<br />

diretamente ao convívio diário do adolescente.<br />

Violência simbólica - Segundo Bourdier e Passeron (1982), todo poder de violência<br />

simbólica, isto é, todo poder que chega a impor significações e a impô-las como<br />

legítimas, dissimulando as relações de força que estão na base de sua força é o que<br />

compõe o arcabouço para que a sociedade em toda suas instâncias imponha algum tipo<br />

de força legitimada sobre aqueles que estão nos seguimentos mais fracos. No que tange<br />

135


a escola, esta é também o campo de reprodução dessa sociedade. É na escola que a<br />

violência simbólica exerce sua ação sobre o aluno quando o anula da capacidade de<br />

pensar e o torna um ser capaz somente de reproduzir. A violência simbólica é a mais<br />

difícil de ser percebida porque é exercida pela sociedade quando esta não é capaz de<br />

encaminhar seus jovens ao mercado de trabalho, quando não lhes oferece oportunidades<br />

para o desenvolvimento da criatividade e de atividades de lazer; quando as escolas<br />

impõem conteúdos destituídos de interesse e de significado para a vida dos alunos; ou<br />

quando os professores se recusam a proporcionar explicações suficientes, abandonando<br />

os estudantes à sua própria sorte, desvalorizando-os com palavras e atitudes de<br />

desmerecimento. (ABRAMOVAY ; RUA , 2002, p.335) “...a violência simbólica<br />

também pode ser contra o professor quando este é agredido em seu trabalho pela<br />

indiferença e desinteresse do aluno.”<br />

Violência física - Brigar, bater, matar, estuprar, roubar, assaltar, tiroteio, espancar,<br />

pancadaria, andar armado e até participar de atividades em gangues.<br />

Compreende-se através da descrição dos diversos tipos de violências que o universo<br />

escolar precisa preparar-se e amparar-se de toda a comunidade escolar, pois não é<br />

possivel um trabalho sem o envolvimento de pais, professores e alunos, sendo preciso<br />

que a escola possibilite em seu contexto relações sociais significativas e transforme seu<br />

espaço, em um espaço de construção de identidades coletivas, em busca do bem<br />

comum.<br />

2.3 BULLYING<br />

Conforme revista Nova Escola in matéria: Gestão Escolar “O que é bullying” (2009).<br />

Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou<br />

físicas, feitas de maneira repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais<br />

colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão,<br />

brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como ameaça, tirania,<br />

opressão, intimidação, humilhação e maltrato.<br />

136


Bullying corresponde a um conjunto de atitudes de violência física e/ou psicológica que<br />

ocorrem nas instituições de ensino. É um tipo de agressão intencional, que ridiculariza,<br />

humilha e intimida suas vítimas.<br />

Os profissionais da educação envolvidos nos diversos tipos de ambientes escolares<br />

precisam preparar-se para detectarem os possíveis problemas e saberem lidar com as<br />

situações que podem ser geradas.<br />

A escola como instituição deve ter ampla abertura para que todos tenham acesso<br />

conforme LDB, receba todas as pessoas com os seus problemas. “A escola como<br />

instituição provedora da educação formal, com objetivo de adquirir conhecimentos<br />

científicos e formando a capacidade de pensar criticamente os problemas e desafios<br />

postos pela realidade” (Libâneo, 1990).<br />

No estado de São Paulo, foi criado um Núcleo de pesquisa sobre Bullying na FMU<br />

(Faculdades Metropolitanas Unidas), com o intuito de analisar e levantar dados sobre<br />

a situação vivenciada dentro das escolas, a partir dos estudos, durante o primeiro<br />

semestre, foi lançada a “Cartilha Bullying”. A Cartilha Bullying começou a ser<br />

distribuída gratuitamente nas escolas públicas e privadas do Estado de São Paulo e aos<br />

demais interessados. Como outras realizações ocorridas em diversas áreas de prestação<br />

de serviços à comunidade, essa iniciativa é uma colaboração para auxiliar a sociedade a<br />

superar este grave problema.<br />

Hoje, em nosso estado, várias escolas têm debatido com seus professores, pais e alunos<br />

sobre a temática; montando projetos de prevenção para evitar tais atos. A doutora em<br />

educação e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Cleonara<br />

Schwartz, acredita que a violência na escola é reflexo da sociedade. “Uma analise que<br />

eu faço como professora é que essa violência não é algo gratuito. Acompanha o<br />

movimento da sociedade. A violência aumentou de diferentes tipos e o problema já<br />

transcende os limites da escola, é um problema social. De geração de renda, de<br />

desigualdade, além disso, entra a questão do tráfico que se aproveita disso e faz um<br />

outro tipo de trabalho que vai subsidiar as carências da população de baixa renda”,<br />

falou.<br />

137


A professora também acredita que o Estado possui muitas famílias em situação de risco,<br />

o que favorece esse tipo de ocorrência. “Há um grande contingente de famílias no nosso<br />

Estado que recebe bolsa família, isso significa que temos um grande número de jovens<br />

em situação de risco social. Daí esse problema chega até a escola. Antes de entrarem na<br />

escola eles têm uma vida e trazem tudo para dentro da escola, esse problema da<br />

desigualdade, tudo que tem sido preenchido pelo tráfico, pela bandidagem. Não dá para<br />

falar que o fato da criança entrar armada na escola é problema da escola e sim social”,<br />

afirmou.<br />

2.4 O PAPEL DO EDUCADOR<br />

Para ensinar, além de ser conhecedor dos conteúdos curriculares, o educador precisa ser<br />

um grande conhecedor dos valores morais e éticos, a fim de influenciar positivamente<br />

na formação moral de seus alunos.<br />

O papel do educador nessa transformação é fundamental, pois a construção de limites, a<br />

formação continuada dos professores sobre a questão da indisciplina e a criação de um<br />

ambiente que promova acolhimento em sala de aula, estão entre as ações prioritárias<br />

para construir escolas positivas. Tendo apoio do governo, garantindo verbas para a<br />

educação, melhorando a qualidade do ensino e promovendo políticas públicas sociais<br />

para diminuir as desigualdades sociais.<br />

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Pode-se concluir através desse artigo que o educador diante de tantos desafios que o<br />

permeia no ato de ensinar, não está paralisado diante deste fenômeno social, buscando<br />

refletir, debater, formar opinião nos espaços sociais. Devemos buscar proposições que<br />

nos levam a refletir e buscar junto aos pares e a toda comunidade, soluções para levar a<br />

cultura de paz para dentro dos muros da escola e para fora dela, pois a escola tem a<br />

138


capacidade de não só passar conhecimentos científicos, mas formar pessoas com<br />

capacidade de pensar criticamente os problemas e desafios postos pela realidade social.<br />

O poder público não deve se omitir, garantindo mais verbas para a educação,<br />

melhorando a qualidade e ao mesmo tempo promovendo políticas públicas sociais e de<br />

renda para diminuir as desigualdades sociais, dando mais expectativas para o jovem<br />

para o mesmo não ingressar no mundo das drogas e outros caminhos perniciosos.<br />

4 REFERÊNCIAS<br />

ABRAMOVAY, Miriam; et alli. Cotidiano das escolas: entre violências – Brasília:<br />

UNESCO, Observatório de Violência, Ministério da Educação, 2005. 4<strong>04</strong> p. ISBN: 85-<br />

7652-057-5.<br />

ABRAMOVAY, Miriam; RUA, Maria das Graças - Violência nas escolas. Ed.Unesco,<br />

doações institucionais.<br />

ABRAMOVAY, Miriam ; et alli - Gangues , galeras, chegados e rappers. RJ, Ed.<br />

Garamond , 1999.<br />

BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude. A Reprodução, Rio de Janeiro,<br />

Livraria Francisco Alves Editora S.A., 1982<br />

BRASIL. Lei N° 9394/96 de 20 de <strong>Dezembro</strong> de 1996. Estabelece as Diretrizes e<br />

Bases da Educação Nacional. Brasília: Senado Federal, 1996.<br />

COLOMBIER,Claire; MANGEL,Gilbert; PERDRIAULT,Marguerite. A violência na<br />

escola. São Paulo, Ed.Summus,1989.<br />

FREUD, Anna (1987). Infância normal e patológica (determinantes do<br />

desenvolvimento). 4ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara.<br />

LIBÂNEO, José Carlos. Perspectiva de uma Pedagogia emancipadora face às<br />

transformações do mundo contemporâneo. Pensar a Prática, 1:1-21, jan./jun.1998.<br />

Entrevista concedida a Nogueira David<br />

______. Democratização da Escola Pública: a pedagogia crítico-social dos<br />

conteúdos. São Paulo: Loyola, 1990.<br />

MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. 11. ed. São Paulo: Hicitec, 1999<br />

MARX, Karl. O Capital - edição resumida. Ed. Ediouro, RJ, 1973.<br />

WEBGRAFIA<br />

MELLO, Victor. Banalização da violência faz crescer número de crimes nas escolas<br />

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