Museu do Marajó Pe. Giovanni Gallo - Viva Marajó
Museu do Marajó Pe. Giovanni Gallo - Viva Marajó
Museu do Marajó Pe. Giovanni Gallo - Viva Marajó
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Para: Instituto <strong>Pe</strong>abiru - Programa <strong>Viva</strong> <strong>Marajó</strong><br />
Luiza Bastos_Cachoeira <strong>do</strong> Arari 10_<strong>Museu</strong> <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong> número de páginas deste <strong>do</strong>cumento: 3<br />
<strong>Museu</strong> <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong> <strong>Pe</strong>. <strong>Giovanni</strong> <strong>Gallo</strong><br />
“Pra quem tem os olhos nas pontas <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s”<br />
<strong>Giovanni</strong> <strong>Gallo</strong><br />
O <strong>Museu</strong> <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong> é um sonho, de <strong>Giovanni</strong> <strong>Gallo</strong>, que virou realidade.<br />
Jesuíta italiano, <strong>Gallo</strong> nasceu em Turim, em 1927, e como sacer<strong>do</strong>te trabalhou<br />
na Espanha, na Sardenha (Itália), Suíça e, a partir da década de 1970, convicto<br />
de trabalhar para os mais humildes, veio para a América Latina. No Brasil,<br />
trabalhou em São Luis <strong>do</strong> Maranhão, antes de ser envia<strong>do</strong> a Santa Cruz <strong>do</strong><br />
Arari.<br />
Ao mudar-se para o <strong>Marajó</strong>, Padre <strong>Giovanni</strong> <strong>Gallo</strong> começou uma grande<br />
luta pela melhoria das condições de vida da população local, especialmente,<br />
<strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res de Jenipapo, uma vila de pesca<strong>do</strong>res, erguida sobre palafitas<br />
na nascente <strong>do</strong> Rio Arari.<br />
Padre <strong>Gallo</strong> incorporou, rapidamente, o jeito marajoara. Amou a<br />
natureza, o povo e passava dias e noites pescan<strong>do</strong> com os nativos, no Lago<br />
Arari. Comia tamuatá (Hoplosternum littorale) e limpava as mãos nos próprios<br />
cabelos, pra ficar com o cheiro <strong>do</strong> peixe. Queria conhecer tu<strong>do</strong>, aprender,<br />
registrar com suas câmeras fotográficas e filma<strong>do</strong>ra. Culto, poliglota (falava<br />
mais de 10 idiomas), em pouco tempo sabia mais sobre o <strong>Marajó</strong> que a maioria<br />
<strong>do</strong>s brasileiros.<br />
Criou o Projeto Piranha e ensinou as mulheres de Jenipapo a empalhar<br />
as piranhas <strong>do</strong> Lago Arari, para vendê-las na Europa. O dinheiro seria investi<strong>do</strong><br />
na comunidade. Ao mesmo tempo, coletava histórias e lendas e percebia a<br />
enorme quantidade de cacos de cerâmica antiga que havia na região - algumas<br />
crianças brincavam com eles, como se fossem pedras.<br />
E foi assim: conhecen<strong>do</strong>, participan<strong>do</strong>, interferin<strong>do</strong> diretamente na<br />
transformação social de Jenipapo (a venda de milhares de piranhas, entre<br />
outras coisas, reconstruiu todas as estivas da vila, aju<strong>do</strong>u a erguer hospital,<br />
escola, etc.) que o Padre <strong>Gallo</strong> começou a sonhar em criar um museu, onde<br />
aquele tesouro arqueológico local pudesse ser preserva<strong>do</strong> e o conhecimento<br />
difundi<strong>do</strong>. O museu serviria também para criar alternativa de emprego e renda<br />
para a comunidade carente, atrairia turistas nacionais e estrangeiros e poderia<br />
contribuir para a transformação da realidade social, definitivamente.<br />
O sonho foi releva<strong>do</strong> à comunidade e passou a ser sonha<strong>do</strong><br />
coletivamente. Em 1972, o <strong>Museu</strong> <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong> virou realidade. Foi cria<strong>do</strong>, a<br />
princípio, informalmente, em Santa Cruz <strong>do</strong> Arari; monta<strong>do</strong> em uma casa da<br />
cidade, depois na casa paroquial e enfim, em um prédio, adquiri<strong>do</strong> pelo Padre,<br />
que investia to<strong>do</strong> o seu tempo e recursos para estruturá-lo. Como dizia <strong>Gallo</strong>,<br />
“é um museu pra quem tem os olhos nas pontas <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s”, pois tu<strong>do</strong> que<br />
1
Para: Instituto <strong>Pe</strong>abiru - Programa <strong>Viva</strong> <strong>Marajó</strong><br />
Luiza Bastos_Cachoeira <strong>do</strong> Arari 10_<strong>Museu</strong> <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong> número de páginas deste <strong>do</strong>cumento: 3<br />
estava, ou viesse a ser exposto deveria ser interativo, respeitan<strong>do</strong> o costume<br />
que as pessoas <strong>do</strong> local tem de tocar, de pegar nas coisas que olham.<br />
Seus planos foram tão bem traça<strong>do</strong>s e a dedicação <strong>do</strong> Padre era<br />
tamanha que resultou na vinda de muitos turistas estrangeiros e no apoio e<br />
reconhecimento da comunidade; além, da ira de políticos e de parte <strong>do</strong> clero,<br />
uma vez que o trabalho <strong>do</strong> Padre conquistava admira<strong>do</strong>res, dentro e fora <strong>do</strong><br />
Brasil e gerava receita extra diocese.<br />
Onze anos depois, mesmo com o <strong>Museu</strong> <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong> estrutura<strong>do</strong> e<br />
funcionan<strong>do</strong> de maneira simples, mas eficiente, as forças políticas e religiosas<br />
locais conseguiram expulsar o Padre <strong>Gallo</strong> de Santa Cruz <strong>do</strong> Arari e da própria<br />
Igreja, sob acusações diversas. Triste por não poder mais exercer suas<br />
funções de sacer<strong>do</strong>te; injuria<strong>do</strong> pelos políticos; mas valente e determina<strong>do</strong>,<br />
como sempre, <strong>Gallo</strong> conseguiu levar o acervo para o município vizinho,<br />
Cachoeira <strong>do</strong> Arari, onde recomeçou o trabalho <strong>do</strong> museu comunitário.<br />
Hoje é impossível falar de Cachoeira <strong>do</strong> Arari e não falar <strong>do</strong> <strong>Museu</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>Marajó</strong>, assim como não poderíamos entender o <strong>Museu</strong>, sem antes<br />
conhecermos um pouquinho da vida e da luta de <strong>Giovanni</strong> <strong>Gallo</strong>, que morreu<br />
em 2003 e foi enterra<strong>do</strong> em um bosque, no <strong>Museu</strong> <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong>, que agora leva<br />
seu nome. Depois de morto, a Igreja reviu sua posição em relação a <strong>Giovanni</strong><br />
<strong>Gallo</strong> e ele “voltou” a ser padre. Já os políticos, não, permanecem com suas<br />
visões e Santa Cruz <strong>do</strong> Arari, sem o <strong>Museu</strong>.<br />
Do jeito que o <strong>Museu</strong> <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong> foi sonha<strong>do</strong>, vem sen<strong>do</strong> construí<strong>do</strong>:<br />
comunitário, interativo, responsável pela conservação e divulgação da<br />
arqueologia e da cultura popular marajoara.<br />
Nesses 30 anos de história, o <strong>Museu</strong> conquistou seu espaço: uma<br />
fábrica aban<strong>do</strong>nada, adquirida por <strong>Gallo</strong> com recursos da venda da antiga sede<br />
e terras <strong>do</strong>adas pela Prefeitura de Cachoeira <strong>do</strong> Arari para a construção das<br />
instalações de apoio: Fazen<strong>do</strong>la, Capela de São <strong>Pe</strong>dro, Casa <strong>do</strong> Artesanato,<br />
Escola Oficina, Casa da Cerâmica, Casa da Cultura e hotel, que garantiria o<br />
sustento <strong>do</strong> <strong>Museu</strong>.<br />
To<strong>do</strong>s os espaços de apoio, exceto o hotel, foram implanta<strong>do</strong>s. Neles<br />
são realiza<strong>do</strong>s cursos e oficinas de música, artesanato, cerâmica, além de<br />
projetos de capacitação profissional e auxílio à produção e comercialização de<br />
artesanato, com o objetivo maior de valorizar a comunidade, fortalecer a<br />
identidade social e criar bases sólidas para a construção da cidadania.<br />
Um <strong>do</strong>s projetos mais recentes, realiza<strong>do</strong> com o apoio da Lei de<br />
Incentivo à Cultura, <strong>do</strong> Ministério da Cultura, e patrocina<strong>do</strong> pela <strong>Pe</strong>trobrás,<br />
criou a Reserva Técnica <strong>do</strong> <strong>Museu</strong> <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong>, a terceira <strong>do</strong> norte <strong>do</strong> Brasil. Ela<br />
foi construída para facilitar a pesquisa e despertar o interesse de estudantes e<br />
pesquisa<strong>do</strong>res de diversas instituições sobre o <strong>Museu</strong> e a cultura marajoara.<br />
2
Para: Instituto <strong>Pe</strong>abiru - Programa <strong>Viva</strong> <strong>Marajó</strong><br />
Luiza Bastos_Cachoeira <strong>do</strong> Arari 10_<strong>Museu</strong> <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong> número de páginas deste <strong>do</strong>cumento: 3<br />
Assim, o <strong>Museu</strong> que nasceu como uma pequena sociedade civil, sem<br />
fins lucrativos, visan<strong>do</strong> o desenvolvimento da comunidade marajoara através<br />
da cultura e que depois foi crescen<strong>do</strong> como instituição reconhecida, nacional e<br />
internacionalmente, agora está legaliza<strong>do</strong>, entre outros locais, no Conselho<br />
Nacional de Serviço Social, no Conselho Nacional de <strong>Museu</strong>s, no Cadastro <strong>do</strong><br />
Ministério da Cultura e no Sistema Integra<strong>do</strong> de <strong>Museu</strong>s e Memoriais <strong>do</strong> Pará.<br />
Tem Inscrição Estadual, CNPJ, Atesta<strong>do</strong> de Utilidade Pública Municipal e<br />
Estadual e possui a exposição permanente mais interessante e informativa<br />
sobre o arquipélago <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong>.<br />
A expressão: “pra quem tem os olhos nas pontas <strong>do</strong>s de<strong>do</strong>s” pode ser<br />
compreendida, plenamente, assim que o visitante entra na exposição<br />
permanente <strong>do</strong> <strong>Museu</strong> - a maioria das informações pode ser acessada pelo<br />
toque das mãos. <strong>Gallo</strong> criou “computa<strong>do</strong>res de primeira geração”, mais<br />
conheci<strong>do</strong>s por “computa<strong>do</strong>res caipiras” - móveis de madeira com uma<br />
manivela externa (mouse), que movimenta as informações armazenadas no<br />
interior. É giran<strong>do</strong> o mouse, por exemplo, que se descobre toda a origem da<br />
Ilha <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong> e seus primeiros habitantes.<br />
Mas não pára por aí, aliás, começa por aí. Depois o visitante se<br />
acostuma a levantar janelinhas, puxar cordões e “pescar” conhecimentos sobre<br />
o mo<strong>do</strong> de ser marajoara: como constroem suas casas; como vivem nas<br />
fazendas; o jeito de falar; como criam ga<strong>do</strong> ou convivem com animais como a<br />
piranha, o urubu, o poraquê e a importância deles para o equilíbrio da natureza.<br />
Saber mais sobre cobras gigantescas e receitas de comidas e remédios<br />
regionais; lendas, crendice e assombrações; os tipos de búfalo; o cavalo e o<br />
vaqueiro... basta mover <strong>do</strong>is de<strong>do</strong>s e o <strong>Marajó</strong> descortina-se em informações<br />
exclusivas, apresentadas de maneira original, lúdica e criativa.<br />
Por ser um homem à frente de seu tempo, <strong>Gallo</strong> também criou o primeiro<br />
site <strong>do</strong> <strong>Museu</strong> <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong> na internet, com apoio da Amazon, um prove<strong>do</strong>r de<br />
Belém. Hoje, reformula<strong>do</strong> com o incentivo da Caixa Econômica Federal, o site<br />
www.museu<strong>do</strong>marajo.com.br é bilíngüe, está mais dinâmico e disponibilizará o<br />
acervo já cataloga<strong>do</strong>.<br />
O <strong>Museu</strong> <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong> <strong>Pe</strong>.<strong>Giovanni</strong> <strong>Gallo</strong> fica na Avenida d <strong>Museu</strong>, n° 1983<br />
e como dizia seu cria<strong>do</strong>r, que também era museólogo, “tem um ciclo completo:<br />
nasce da comunidade, cresce com a comunidade e volta à comunidade”. Tanto<br />
que ainda é geri<strong>do</strong> por uma Associação Comunitária e dirigi<strong>do</strong> por associa<strong>do</strong>s,<br />
mora<strong>do</strong>res de Cachoeira <strong>do</strong> Arari, que lutam para realizar manter vivo o sonho<br />
de desenvolver a região através da cultura, da geração de renda e emprego.<br />
3