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Santa Cruz do Arari - Viva Marajó

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Para: Instituto Peabiru - Programa <strong>Viva</strong> <strong>Marajó</strong><br />

Luiza Bastos_<strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>do</strong> <strong>Arari</strong> 9_Matéria <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>do</strong> <strong>Arari</strong>i número de páginas deste <strong>do</strong>cumento: 2<br />

<strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>do</strong> <strong>Arari</strong><br />

A fazenda <strong>do</strong> lago<br />

Ainda é madrugada quan<strong>do</strong> os pesca<strong>do</strong>res de <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>do</strong> <strong>Arari</strong>, o<br />

segun<strong>do</strong> menor município <strong>do</strong> <strong>Marajó</strong>, saem para capturar o tamoatá<br />

(Hoplosternum littorale). Peixe de escamas e carne amarelada, cheiro forte e<br />

sabor agradável, o tamoatá é o principal recurso pesqueiro <strong>do</strong> arquipélago e<br />

base da alimentação <strong>do</strong>s ararienses. Assa<strong>do</strong> na brasa ou cozi<strong>do</strong> no tucupi, ele<br />

perfuma a cidade inteira, por volta das 11h e das 18h, diariamente.<br />

Há poucas décadas, eram pescadas cerca de 50 toneladas de tamoatá,<br />

por dia no lago <strong>Arari</strong>, mas a sobrepesca reduziu esse número para três<br />

toneladas, hoje. Mesmo assim, a vida no lago que banha <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> ainda é<br />

muito rica. Vivem em suas águas, além <strong>do</strong> tamoatá: piranhas, poraquês,<br />

jacarés, cobras, arraias, pirarucus e outros peixes.<br />

Com 18 quilômetros de comprimento por quatro a sete de largura, o lago<br />

<strong>Arari</strong> também é sinônimo de fartura para outras espécies animais, como as<br />

garças, os marrecos e as colhereiras que habitam ninhais às suas margens –<br />

onde também existem vários sítios arqueológicos.<br />

Foi nessa paisagem natural e extremamente bonita, que Pláci<strong>do</strong> José<br />

Pamplona, alferes da infantaria <strong>do</strong> regimento de Macapá, estabeleceu uma<br />

fazenda na sesmaria Santo Inácio, <strong>do</strong>ada pelo Impera<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Brasil, D. Pedro II.<br />

Assim, a família Pamplona e outros 21 sesmeiros iniciaram a colonização<br />

daquele santuário ecológico, a partir de 1868.<br />

Segun<strong>do</strong> relato <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res mais antigos, os Pamplona batizavam<br />

to<strong>do</strong>s os seus bens com o nome da própria família, até escravos. Com a<br />

fazenda foi diferente porque a viagem de Macapá ao <strong>Marajó</strong>, em barcos à vela,<br />

teria si<strong>do</strong> muito perigosa. Ao término, em segurança, Pláci<strong>do</strong> batizou sua nova<br />

propriedade com o nome de <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong>. E por localizar-se às margens <strong>do</strong> lago,<br />

ela ficou conhecida como fazenda de <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>do</strong> <strong>Arari</strong>.<br />

Só em 1961, <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>do</strong> <strong>Arari</strong> virou município independente. Antes<br />

disso, Pláci<strong>do</strong> repartiu e <strong>do</strong>ou as suas terras a filhos, netos e bisnetos - o que<br />

explica o grande o número de descendentes <strong>do</strong>s Pamplona ainda moran<strong>do</strong> no<br />

local.<br />

Herdeiros de Pláci<strong>do</strong>, de outros sesmeiros, como os da família Gemaque<br />

e escravos libertos ficaram impossibilita<strong>do</strong>s de exercer a pecuária extensiva,<br />

nos seus pequenos pedaços de terra. Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong> século XX, fixaram<br />

residência numa península, na nascente <strong>do</strong> rio <strong>Arari</strong>. A piscosidade da área<br />

levou ao desenvolvimento da pesca artesanal e ao surgimento da Vila de<br />

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Para: Instituto Peabiru - Programa <strong>Viva</strong> <strong>Marajó</strong><br />

Luiza Bastos_<strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>do</strong> <strong>Arari</strong> 9_Matéria <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>do</strong> <strong>Arari</strong>i número de páginas deste <strong>do</strong>cumento: 2<br />

Jenipapo - uma comunidade erguida sobre palafitas, maior que o distrito-sede,<br />

atualmente.<br />

Mesmo com toda a sua dimensão, o lago <strong>Arari</strong> não é perene. Em agosto<br />

começa a estiagem e, apesar da “tapagem” feita pela prefeitura, que coloca<br />

toneladas de terra para barrar a saída total da água, em outubro é possível<br />

atravessá-lo a pé, de bicicleta, de búfalo, a cavalo, de moto e até de ônibus. No<br />

segun<strong>do</strong> <strong>do</strong>mingo de novembro, a procissão <strong>do</strong> Círio de Nossa Senhora de<br />

Nazaré, padroeira de <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>do</strong> <strong>Arari</strong>, também passa no leito. Infelizmente,<br />

esses movimentos contribuem para o assoreamento <strong>do</strong> rio e à compactação <strong>do</strong><br />

lago <strong>Arari</strong>.<br />

A natureza só consegue se recuperar no perío<strong>do</strong> das chuvas, quan<strong>do</strong> a<br />

vida renasce exuberante, no <strong>Arari</strong> e os esportes aquáticos ganham espaço<br />

junto aos pesca<strong>do</strong>res, com seus rituais diários. Na época de maior<br />

precipitação, de fevereiro a maio, o nível da água sobe e chega às portas das<br />

palafitas, erguidas a quatro metros <strong>do</strong> chão.<br />

Mas não é só a seca, nem a cheia que modificam a rotina <strong>do</strong> arariense.<br />

No perío<strong>do</strong> intermediário, especialmente no início de setembro e dezembro,<br />

<strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>do</strong> Arai fica isolada por causa da lama. Os barcos aportam em<br />

Jenipapo e o restante <strong>do</strong> percurso até a cidade, que normalmente é feito em 40<br />

minutos, por pequenas embarcações a motor, só pode ser realiza<strong>do</strong> a pé, em<br />

trator, a cavalo ou búfalo. Esse isolamento anual gera muitas dificuldades para<br />

o município, que precisa importar praticamente tu<strong>do</strong> o que consome e ainda<br />

encontra problemas para manter profissionais em áreas estratégicas, como<br />

saúde e segurança.<br />

As dificuldades de acesso e transporte, comuns em to<strong>do</strong> o arquipélago,<br />

não inviabilizam o turismo em <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>do</strong> <strong>Arari</strong>. Durante o verão, no mês de<br />

julho, a cidade se agita. Outros momentos especiais são o Festival <strong>do</strong> Tamoatá<br />

e o Círio de Nazaré, no segun<strong>do</strong> semestre. Além disso, é impressionante<br />

assistir as revoadas de pássaros sobre o lago <strong>Arari</strong> ou conhecer a arquitetura<br />

em madeira, elaborada pelos mestres carpinteiros.<br />

Quase todas as casas de <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>do</strong> <strong>Arari</strong> tem estilo palafita e são<br />

construídas em madeira de lei. Os desenhos <strong>do</strong>s chalés, com suas varandas e<br />

acabamentos ornamentais são muito criativos. A pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s proprietários, os<br />

carpinteiros utilizam detalhes e cores fortes para diferenciar umas das outras,<br />

deixan<strong>do</strong> o <strong>do</strong>no com a certeza de possuir a casa mais bonita da cidade. Há<br />

isso em <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>do</strong> <strong>Arari</strong>: cada mora<strong>do</strong>r quer construir a casa mais bonita.<br />

O resulta<strong>do</strong> é uma cidade agradável de ver e estar.<br />

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