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ARRASA-QUARTEIRÃO - Revista Filme Cultura

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DaviD PricHarD<br />

se é natural compreender o blockbuster como um produto programado para o sucesso, definitivamente<br />

não o é o fato de que, no Brasil, o monopólio das comunicações determine direta e<br />

indiretamente o universo estético e moral das produções cinematográficas. e isto fica claro não<br />

só diante da frase a respeito de Pulp Fiction (em todo caso, uma frase problemática), mas também<br />

ao confrontarmos os parcos espécimes eleitos pelo exíguo público brasileiro durante a primeira<br />

década do milênio. Dois tipos básicos, aparentemente antagônicos, despontam nesse contexto.<br />

os dramas realistas, calcados na crítica social, na violência urbana e na pobreza, representado<br />

por Carandiru, Cidade de Deus e Tropa de elite. e seu oposto simétrico, isto é, as comédias descompromissadas,<br />

geralmente abordando o cotidiano e as agruras do universo burguês carioca.<br />

Destes dois tipos básicos, podemos retirar um tanto a mais de ramificações e subestilos, como<br />

as comédias com forte acento televisivo, geralmente ligadas ao núcleo de produção do diretor<br />

Daniel Filho, ou a séries consagradas na tevê – Os normais i e ii, Se eu fosse você i e ii e Sexo,<br />

amor e traição; as biografias como Cazuza – o tempo não pára, Olga e, sobretudo, a “biografia<br />

do vivo” como Lula – o filho do Brasil e o vencedor da década passada, 2 filhos de Francisco;<br />

temáticas nordestinas com o filtro interpretativo do sudeste, como Lisbela e o prisioneiro, o Auto<br />

da Compadecida e Central do Brasil; filmes contando com a participação de dois verdadeiros<br />

campeões de bilheteria, Xuxa e renato aragão, este último responsável pelo maior número de<br />

títulos na lista das mais altas bilheterias de filmes brasileiros; por fim, combinações desses elementos,<br />

como Chico Xavier ou O divã. a influência da tevê e, sobretudo, do monopólio se exprime<br />

na medida em que estes filmes indicam que o cinema permanece uma espécie de braço auxiliar<br />

da televisão não só porque hoje se imitam as novelas, mas sobretudo porque o jornalismo e a<br />

publicidade chegaram de vez para compor uma santa trindade. Hoje, o blockbuster brasileiro é<br />

filho direto do jornalismo e da publicidade, e não do cinema.<br />

Foi durante a década de 70 que os jornalistas promoveram a irreversível migração da gíria<br />

blockbuster dos grandes sucessos teatrais para o êxito milionário de Tubarão, Jaws (steven<br />

spielberg, 1975), passando a aplicá-la a casos semelhantes. no entanto, a definição do<br />

termo circunscrevia sua natureza, permanecendo suas causas aparentemente relegadas<br />

a competências esotéricas e acasos retumbantes. Por outro lado e, se se define um blockbuster<br />

sob o ponto de vista da recepção, do êxito de público e da renda propriamente ditos,<br />

cabe então perguntar se é possível pensar essa categoria em termos de uma ciência, uma<br />

sorte de técnicas e conhecimentos que orientassem a produção de filmes programados<br />

para fazer sucesso, baseados em pesquisas de mercado e vinculados a grandes meios de<br />

comunicação e grandes produtores. vale lembrar que a estrutura para produzir blockbusters<br />

é obviamente desigual em diversos países por uma infinidade de motivos, e a palavra se<br />

transplantou também de forma desigual pelo mundo. nos eUa há toda uma complexa rede<br />

da produção cinematográfica que corresponde ao tamanho do mercado e da diversidade<br />

de interesses de um público amplo e multifacetado. existem diferentes tipos de produção<br />

e promoção para diferentes gêneros e situações e tudo conspira para a consolidação do termo,<br />

mas também para sua relativização parcial. Dentro das produções americanas, podemos<br />

perceber uma fatia gorda de filmes fáceis, tecnicamente exuberantes, desenvolvidos sob a<br />

única preocupação de atingir um público ávido por novidades vazias e temas frívolos. existem<br />

Olga<br />

filmecultura 52 | outubro 2010

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