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Bem estar animal - Embrapa

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<strong>Bem</strong> <strong>estar</strong> <strong>animal</strong> – Galinhas<br />

O bem – <strong>estar</strong> <strong>animal</strong> parte do princípio de que os animais são seres sensíveis e devem ser tratados de maneira<br />

que não sofram de maneira desnecessária. Isso abrange principalmente os animais que estão sob cuidados<br />

humanos, o que inclui o seu manejo nas granjas e fazendas, durante o transporte ou até a hora do abate. O termo<br />

bem-<strong>estar</strong> se refere ao estado de um indivíduo em relação ao ambiente, e deve ser levado em consideração que<br />

os animais de produção têm necessidades comportamentais específicas e são capazes de alterar seu<br />

comportamento para se adaptarem ao ambiente em que vivem. O <strong>animal</strong> então deve <strong>estar</strong> livre de qualquer<br />

situação de estresse. Estresse pode ser definido como uma resposta biológica desencadeada quando um<br />

indivíduo recebe uma ameaça para a sua homeostase; se essa ameaça se prolongar a permanência em estado de<br />

alerta pode conduzir à exaustão.<br />

Como funciona a resposta a essas “ameaças” nos animais?<br />

A resposta ao estresse começa quando o sistema nervoso central (SNC) do <strong>animal</strong> recebe uma ameaça à<br />

homeostase. Nesse momento é desenvolvida uma ação que consiste na combinação de respostas ou defesas<br />

biológicas. Estas respostas podem ser comportamentais, associadas ao sistema nervoso autônomo,<br />

neuroendócrinas e imunológicas. Quando a intensidade do estímulo recebido é pouco acentuada, a resposta<br />

inicial é do tipo comportamental. Esta resposta pode não ser apropriada para todas as situações necessitando ao<br />

<strong>animal</strong> procurar outro tipo de respostas principalmente quando as ações comportamentais são limitadas ou até<br />

impedidas. Esta situação é muito freqüente quando os animais estão confinados. Com o aumento da intensidade<br />

do desconforto e a sua duração, a resposta neuroendócrina assume um papel determinante. A segunda linha de<br />

defesa é o sistema nervoso autônomo. Este afeta um diverso número de sistemas biológicos, incluindo os<br />

sistemas cardiovascular e gastrointestinal, as glândulas exócrinas e a medula adrenal. Neste caso as respostas<br />

são relativamente rápidas (ex. alteração do ritmo cardíaco ou da pressão arterial). Pelo contrário os hormonios<br />

segregados pelo sistema neuroendócrino hipotálamo-hipófise têm um efeito persistente e duradouro, alterando o<br />

metabolismo, as competências imunológicas e o comportamento. Aumento na circulação de glucocorticoides<br />

adrenais (cortisol e corticosterona) e de outros metabolitos estão desde há muito relacionados com situações de<br />

estresse. Outro dos mecanismos de defesa dos organismos é a resposta celular a situações de estresse, que<br />

assegura a proteção das células e dos tecidos das alterações ambientais agudas e muitas vezes tóxicas ao próprio<br />

organismo e pode aumentar a incidência de doenças uma vez que a supressão das competências imunológicas é<br />

influenciada por situações de estresse.


Além de alterar biologicamente na fisiologia dos animais, as condições ambientais também influenciam a<br />

produtividade. A qualidade e boa conservação da cama e do piso têm grande importância e influência sobre o<br />

bem <strong>estar</strong> <strong>animal</strong> e consequêntemente sobre as condições de qualidade dos ovos. O excesso de umidade da<br />

cama faz com que as aves com suas penas ou pés úmidos manchem os ovos enquanto transitam pelo chão do<br />

aviário. Isso decorre em perda na qualidade dos ovos uma vez que além de sujos ainda poderão <strong>estar</strong><br />

contaminados. Atenção especial também deve ser dada à densidade de aves sobre a cama. O aumento na<br />

densidade resulta em maior compactação da cama, diminuindo assim a sua capacidade de absorção de umidade.<br />

Quando se aumenta a densidade, deve-se também aumentar a altura da cama, bem como revolvê-la mais<br />

freqüentemente.<br />

Uma forma de se garantir a boa conservação dos ovos seria fazer com que as aves voltassem as suas origens, ou<br />

seja, fazer com que elas botassem no ninho. Isso também tem uma relação muito importante no tocante ao<br />

comportamento <strong>animal</strong>, uma vez que, se presume ser da própria natureza da ave a confecção de ninhos no<br />

intuito de proteger os ovos. O problema é que, atualmente, a alta evolução nos setores da avicultura de postura e<br />

o grande avanço da genética nas linhagens comerciais de aves cada vez mais produtivas, estão fazendo com que<br />

as linhagens “percam” um pouco seus princípios normais de comportamento <strong>animal</strong>, ou seja, devido aos<br />

avanços genéticos, as aves se "esqueceram" de que seu comportamento natural "manda" que se deva botar no<br />

ninho. Por isso, as aves teriam que passar por uma espécie de ”nova adaptação” para que possam readquirir o<br />

comportamento de seus ancestrais. Esta "nova adaptação" seria a chave para que as linhagens comerciais de<br />

hoje voltassem a procurar o ninho para botar, isso implicaria em ovos com maior qualidade externa e interna,<br />

uma vez que <strong>estar</strong>iam longe da contaminação da cama.<br />

Ao considerar o bem <strong>estar</strong> <strong>animal</strong> no ambiente de produção, hoje se sabe que a temperatura também é outro<br />

fator que possui grande importância e influência sobre o bem <strong>estar</strong> dos animais, junto com umidade, velocidade<br />

do vento e outros. Sob estresse por calor, a ave pode apresentar perda de peso corporal, diminuição na<br />

produção, no peso e na qualidade de casca dos ovos, geralmente acompanhado de decréscimo no consumo<br />

alimentar. Um dos primeiros efeitos das altas temperaturas e falta de bem-<strong>estar</strong> nos lotes de frango de corte é a<br />

redução no consumo alimentar. A redução no apetite das aves se dá numa tentativa de reduzir a produção de<br />

calor interno ocasionada pelo consumo de energia presente na ração. O alimento aumenta o metabolismo e,<br />

conseqüentemente, a quantidade de calor corporal, pois a digestão e a absorção de nutrientes geram energia, que<br />

liberada na forma de calor é chamada de “incremento calórico”. As aves passam a utilizar a gordura como fonte<br />

de energia, que produz menor incremento calórico que o metabolismo de proteínas e carboidratos presentes na


ação. A redução do consumo de ração e conseqüente redução na ingestão de nutrientes afeta diretamente a<br />

produtividade do lote, culminando numa redução do ganho de peso e bem-<strong>estar</strong> das aves. O incremento na taxa<br />

respiratória das aves, é um indicador de bem-<strong>estar</strong>, e está diretamente ligado ao meio físico externo em que as<br />

aves estão inseridas. Quanto maior for a pressão de vapor no ambiente, maior é a dificuldade de liberação de<br />

calor por meios evaporativos. O ofego somente é eficiente, como meio de liberação de calor latente, quando a<br />

umidade relativa ambiental se encontra em níveis relativamente menores que 70%. A umidade relativa passa a<br />

ter importância no conforto térmico das aves, quando a temperatura ambiente atinge 25oC. Altas taxas de<br />

umidade relativa, associadas a temperaturas altas, fazem com que menos umidade seja removida das vias<br />

aéreas, tornando a respiração cada vez mais ofegante. A ave pode não ter capacidade suficiente para manter<br />

uma freqüência respiratória alta o bastante para remover o excesso de calor interno, causando hipertermia,<br />

seguida de prostração e morte. Altas amplitudes térmicas influenciam também na queda do bem-<strong>estar</strong>, e<br />

produtividade dos frangos de corte. As três maiores fontes de calor em uma instalação avícola são: a radiação<br />

solar, o calor total produzido pelos próprios animais e a radiação emitida pelos arredores da instalação. O calor<br />

de radiação solar direta representa 75% do total de calor na forma de radiação que atinge uma instalação. Nas<br />

horas mais quentes do dia, possui um fluxo de calor 5 vezes maior que o calor gerado internamente na<br />

instalação. No caso de aves de postura, a queda do pH sangüíneo decresce juntamente com o nível de cálcio,<br />

após duas horas de estresse térmico. Este processo é prejudicial à formação da casca do ovo, pois há uma<br />

diminuição de Ca++ no sangue.<br />

Dados científicos:<br />

Um experimento foi realizado ao longo de nove dias e, a cada três dias, nove aves (três aves por idade) foram<br />

alocadas dentro da câmara climática dividida em três boxes, cada qual alocando um grupo de três matrizes de<br />

mesma idade e contendo um tipo de ração diferente. Cada grupo de matrizes pesadas foi submetido a um<br />

ambiente constante durante três dias consecutivos. Neste experimento, foram simulados três ambientes térmicos<br />

diferentes (de 13; 21; ou 35 °C), e fixando-se a umidade relativa em 75%.<br />

As aves tiveram suas expressões comportamentais filmadas por câmeras colocadas no teto do local. As imagens<br />

foram durante 15 minutos no período da manha e 15 minutos no período da tarde<br />

Os comportamentos observados foram:<br />

- Abrir asas: Movimento em que a matriz bate as duas asas<br />

- Arrepiar penas: Ação de arrepiar e sacudir todas as penas do corpo<br />

- Ciscar: Movimento de arrastar a cama para trás com as patas e explorar a cama com o bico.


- Correr: Movimentação de uma matriz entre dois pontos distantes em velocidade maior do que a observada<br />

normalmente.<br />

- Deitar: Ato de a matriz ficar sentada ou deitada sobre a cama.<br />

- Espojar: Banho realizado pela matriz utilizando o substrato da cama.<br />

- Espreguiçar: Ato em que a matriz estica uma asa e uma perna, do mesmo hemisfério do corpo.<br />

- Limpar penas: Ato em que a matriz arruma as penas com o bico, induzindo a liberação de óleos nas glândulas<br />

encontradas na base das penas.<br />

Segundo os autores do trabalho, o comportamento de “arrepiar penas”, sugere indicador de bem-<strong>estar</strong><br />

exclusivamente térmico para as matrizes pesadas, pois, independentemente da presença ou ausência do<br />

alimento, não apresenta interação e não depende da faixa etária. Isso mostra que a influência da temperatura<br />

sobre esse comportamento não está condicionada a nenhum outro fator. Já o comportamento “ciscar” deve ser<br />

analisado mais cautelosamente pois apresentaram interação com o fato de já estiverem sido alimentadas<br />

(período da tarde) ou não (período da manha) para esse comportamento. Portanto a freqüência de “ciscar”,<br />

pôde-se obter bom indicador térmico, desde que não haja escassez de alimento (turno da manhã).<br />

Um outro estudo realizado pela Feagri/Unicamp, permitiu a verificação do número de ocorrências de<br />

determinada reação comportamental por um período contínuo de observação de 15 minutos pela manhã e 15<br />

minutos à tarde. As temperaturas utilizadas foram T1 = 13 ºC ± 2 ºC; T2 = 21 ºC ± 2 ºC, e T3 = 35 ºC ± 2ºC. A<br />

escolha dessas temperaturas baseou-se na informação que a temperatura ótima de conforto é em torno de 21ºC.<br />

Foram fornecidas, ainda, três composições energéticas diferenciadas de ração para as aves (R1 = 2.810,81<br />

kcal kg -1 ; R2 = 2.800,01 kcal kg -1 e R3 = 2.789,71 kcal kg -1 ). As variáveis referentes às reações<br />

comportamentais observadas foram as mesmas em ambos os períodos do dia, sejam elas: limpar penas,<br />

espojamento, espreguiçar, prostrar, correr, deitar, ciscar, abrir asas, arrepiar penas, ameaçar, perseguir, montar e<br />

bicar, sendo as quatro últimas denominadas de reações comportamentais agressivas.<br />

Segundo os autores do trabalho, os animais que estiveram submetidos à condição térmica T3 (T = 35 ºC e UR =<br />

75%), foram os que apresentam maior freqüência de espreguiçar, e as aves que foram estudadas sob a condição<br />

térmica T1 (T = 13 ºC e UR = 75%), arrepiam mais as penas. As aves mais jovens (Id1 = 38 semanas) foram as<br />

que mais apresentaram o comportamento de correr. As matrizes que se alimentaram da R2 (2.800,01 kcal kg -1 )<br />

apresentaram freqüência maior de abertura das asas. Dado o controle dos fatores experimentais aplicados, esses<br />

comportamentos são potenciais indicadores do bem-<strong>estar</strong> dessas aves em função do fator ambiental atuante.


Esses comportamentos são reflexos diretos do ambiente sobre a ave, de modo que, conhecendo melhor como<br />

esses comportamentos são afetados por esses fatores isoladamente, é possível que se obtenham níveis de bem-<br />

<strong>estar</strong> que sejam função desses fatores. No período da tarde (pós-alimentação), é notória maior ocorrência de<br />

prostrações nas matrizes de frango que estiveram submetidas ao estresse térmico acima da zona de<br />

termoneutralidade (T = 35 ºC e UR = 75%) e à ocorrência do ato de deitar-se nas demais condições ambientais<br />

aplicadas no estudo. Houve variações significativas nos comportamentos de ciscar e arrepiar penas nas aves que<br />

estiveram submetidas à condição térmica T1. Por meio dessa análise, é possível identificar potenciais<br />

indicadores de bem-<strong>estar</strong>. Nesse caso, os fatores ração e idade não influenciaram nos comportamentos das aves,<br />

provavelmente devido ao fato de não haver mais a presença do alimento como fator atuante. Assim, a presença<br />

ou não de ração no ambiente em que a ave está inserida, constitui fator experimental atuante.<br />

A seguir, são mostradas as reações agressivas das aves em função dos fatores experimentais:<br />

O fator temperatura afetou significativamente a freqüência de perseguições e bicadas efetuadas pelas aves,<br />

principalmente na condição térmica T1 (T = 13 ºC e UR = 75%) abaixo da zona de conforto térmico das aves.<br />

Esse elevado número de comportamentos agressivos, quando comparado com o período da tarde reflete a<br />

acentuada disputa que ocorreu pela ração. Esse resultado aponta a necessidade de energia das aves para manter<br />

a temperatura corporal em ambiente agressivo pelo frio. A diferença de idade também afetou o nível de<br />

perseguição das aves, sendo as aves mais jovens as que mais praticaram as perseguições.<br />

No período vespertino, correspondente ao período pós-alimentação, nenhum dos tratamentos impostos na<br />

câmara climática (temperatura, idade e ração) afetaram ou induziram o comportamento agressivo das aves. Esse<br />

resultado reforça a afirmação anterior de que a presença do alimento é um fator atuante no comportamento das<br />

aves alojadas e que o comportamento agressivo é decorrente da disputa, seja pelo alimento e pelo espaço, seja<br />

pela hierarquia e dominância sobre o grupo. A tabela abaixo demonstra os comportamentos observados e os<br />

fatores que os induziram/afetaram:


Fontes e outras informações interessantes sobre o assunto:<br />

- Avicultura e Clima Quente: Como administrar o bem-<strong>estar</strong> às aves? Patrícia de Sousa, DSc, Pesquisadora da <strong>Embrapa</strong> Suínos e<br />

Aves, Área de transferência de tecnologia<br />

- Indicadores de bem-<strong>estar</strong> baseados em reações comportamentais de matrizes pesadas - Danilo F. Pereira I ; Irenilza de A. Nääs II ;<br />

Carlos E. B. Romanini III ; Douglas D. Salgado IV ; Gracely O. T. Pereira V<br />

- Modelos Estatísticos Indicadores de Comportamentos associados a <strong>Bem</strong>-<strong>estar</strong> Térmico para matrizes pesadas - Douglas d. Salgado1,<br />

Irenilza de A. Nääs2, Danilo F. Pereira3, Daniella J. de Moura4<br />

-Princípios de bem-<strong>estar</strong> <strong>animal</strong> e sua aplicação na cadeia avícola<br />

Irenilza de Alencar Nääs FEAGRI/UNICAMP, Campinas, SP<br />

-Sistema Integrado de Monitoramento do bem-<strong>estar</strong> <strong>animal</strong> - Vasco Fitas da Cruz, Universidade de Évora, Portugal; Patrícia de Sousa,<br />

DSc, Pesquisadora da <strong>Embrapa</strong> Suínos e Aves, Áreas de transferência de tecnologia e bem-<strong>estar</strong> <strong>animal</strong><br />

- Avaliação Dos Comportamentos de aves poedeiras utilizando Seqüência de Imagens - Barbosa Filho et al., 2007<br />

-http://www.aviculturaindustrial.com.br/<br />

PortalGessulli/WebSite/News/Default.aspx?page=13&item=39517&Channel=20081118093820_E_542<br />

- FARM ANIMAL WELFARE COUNCIL – FAWC. Five Freedoms. Disponível em: http://www.fawc.org.uk/freedoms.htm.<br />

- Avaliação do bem-<strong>estar</strong> de aves poedeiras comerciais: efeitos do sistema de criação e do ambiente bioclimático sobre o<br />

desempenho das aves e a qualidade de ovos - Alves et al., 2007<br />

- http://pt.engormix.com/MA-avicultura/artigos/impactos-bem<strong>estar</strong>-producao-ovos_156.htm<br />

- Impactos do bem-<strong>estar</strong> na produção de ovos - data de publicação: 15/05/2009 autor: Prof. Dr. Iran José Oliveira da Silva e Profa.<br />

Dra. Kesia Oliveira da Silva - NUPEA/ESALQ/USP.

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