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A lenda do Curupira e do Boitatá - Utilnet.com.br

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A <strong>lenda</strong> <strong>do</strong> <strong>Curupira</strong> e <strong>do</strong> <strong>Boitatá</strong><<strong>br</strong> />

Álvaro Moreira de Carvalho<<strong>br</strong> />

No topo <strong>do</strong> morro da Boa Vista, em Santa Catarina, um ser imponente<<strong>br</strong> />

contemplava, desola<strong>do</strong>, a devastação provocada pelas recentes chuvas incessantes.<<strong>br</strong> />

Ele tinha corpo atarraca<strong>do</strong>, cabelos lisos cor de fogo, vestia uma minúscula tanga,<<strong>br</strong> />

segurava uma longa lança e seus pés eram volta<strong>do</strong>s para trás. Parecia um índio<<strong>br</strong> />

selvagem e deforma<strong>do</strong>, mas era a entidade mítica conhecida <strong>com</strong>o <strong>Curupira</strong>.<<strong>br</strong> />

— Já basta! Você foi longe demais. Eu não vou tolerar mais isto! – gritou,<<strong>br</strong> />

furioso, <strong>com</strong> os punhos cerra<strong>do</strong>s, para um ser ala<strong>do</strong> que voava no horizonte,<<strong>br</strong> />

cingin<strong>do</strong> as nuvens carregadas.<<strong>br</strong> />

Era ele o responsável pelas chuvas. Uma criatura magnífica, <strong>com</strong> corpo de<<strong>br</strong> />

serpente, rosto de mulher, juba de leão, pernas de touro e grandes asas. Parecia um<<strong>br</strong> />

dragão, uma quimera, mas era a entidade mítica conhecida <strong>com</strong>o <strong>Boitatá</strong>.<<strong>br</strong> />

Ao ouvir o grito, a criatura aproximou-se velozmente, cortan<strong>do</strong> o ar<<strong>br</strong> />

chuvoso, e vociferou <strong>com</strong> voz sibilante:<<strong>br</strong> />

— Este é só o <strong>com</strong>eço, irmãozinho. A situação nunca esteve tão favorável.<<strong>br</strong> />

Pois a mãe natureza nos liberou. A mim e aos meus semelhantes ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

mun<strong>do</strong>. Ela não mais nos conterá e nós vamos promover a destruição e o caos, para<<strong>br</strong> />

castigar os homens por to<strong>do</strong> o mal provoca<strong>do</strong> ao nosso meio ambiente.<<strong>br</strong> />

— Não se eu puder evitar!<<strong>br</strong> />

Agilmente, <strong>Curupira</strong> cravou a lança numa das asas <strong>do</strong> <strong>Boitatá</strong>, rasgan<strong>do</strong>-a de<<strong>br</strong> />

fora a fora. Aproveitan<strong>do</strong> o impulso, girou por debaixo <strong>do</strong> corpo <strong>do</strong> dragão e caiu<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>, montan<strong>do</strong> em seu <strong>do</strong>rso e agarran<strong>do</strong> em sua juba para fazê-la de<<strong>br</strong> />

rédea. As asas não mais puderam sustentar o voo e ambos foram despencan<strong>do</strong> em<<strong>br</strong> />

parafuso.<<strong>br</strong> />

Caíram na vegetação verdejante e rasteira <strong>do</strong> Arroio Chuí, na fronteira <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

pampas gaúchos. Apesar da queda, <strong>Curupira</strong> permaneceu monta<strong>do</strong>, <strong>com</strong> firmeza, e<<strong>br</strong> />

<strong>Boitatá</strong> tentava se livrar de seu ginete se retorcen<strong>do</strong>, empinan<strong>do</strong> e galopan<strong>do</strong> em<<strong>br</strong> />

círculos. Provocou um gigantesco tufão, nunca antes visto no Rio Grande <strong>do</strong> Sul.<<strong>br</strong> />

Eles empreenderam uma longa e extensa tourada até chegarem à enorme<<strong>br</strong> />

praça arborizada <strong>do</strong> Teatro de Arame. <strong>Boitatá</strong>, então, cravou os cascos e parou<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>uscamente, fazen<strong>do</strong> o chão tremer. <strong>Curupira</strong> foi lança<strong>do</strong> ao longe e a queda fez<<strong>br</strong> />

de novo o solo trepidar. As pessoas não podiam enxergar aqueles poderosos seres


místicos, mas podiam sentir as consequências da luta. Fugiam, assustadas,<<strong>br</strong> />

julgan<strong>do</strong> estar em meio a um terremoto sem precedentes no Paraná.<<strong>br</strong> />

<strong>Boitatá</strong> bufou, raspou os cascos e, <strong>com</strong>o um touro raivoso, foi galopan<strong>do</strong> de<<strong>br</strong> />

encontro ao seu oponente. Atrás dele, uma fenda ia se a<strong>br</strong>in<strong>do</strong> no chão. Ainda<<strong>br</strong> />

ator<strong>do</strong>a<strong>do</strong>, <strong>Curupira</strong> se desviou no último instante. Seu agressor atingiu<<strong>br</strong> />

violentamente a fachada <strong>do</strong> teatro, abalan<strong>do</strong> a frágil estrutura, chacoalhou a<<strong>br</strong> />

cabeça, girou o corpo e voltou pelo mesmo caminho até tomar distância. Depois<<strong>br</strong> />

deu meia-volta e disparou de novo, porém <strong>Curupira</strong> já não era o alvo. Na verdade,<<strong>br</strong> />

ele tencionava voltar a atingir o teatro para derrubá-lo de vez e acabar o serviço.<<strong>br</strong> />

Mas no caminho o índio o agarrou e os <strong>do</strong>is foram tomban<strong>do</strong> e se arrastan<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

pelo chão até atingirem o Pão de Açúcar. A violência <strong>do</strong> impacto provocou um<<strong>br</strong> />

desmoronamento, <strong>com</strong>o jamais acontecera no Rio de Janeiro. E junto à terra e às<<strong>br</strong> />

pedras despencan<strong>do</strong>, os <strong>do</strong>is foram escalan<strong>do</strong> as encostas <strong>do</strong> grande monte<<strong>br</strong> />

rochoso. <strong>Boitatá</strong> foi o primeiro a atingir o topo. No mesmo instante, agarrou-se ao<<strong>br</strong> />

teleférico. Este foi deslizan<strong>do</strong>, descontrola<strong>do</strong>, em alta velocidade. Os turistas em<<strong>br</strong> />

seu interior gritaram, apavora<strong>do</strong>s, imaginan<strong>do</strong> terem si<strong>do</strong> pegos por uma forte<<strong>br</strong> />

rajada de vento. Ao ver aquilo, <strong>Curupira</strong> disparou pelos cabos, equili<strong>br</strong>an<strong>do</strong>-se<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o numa corda bamba, e cravou a lança contra o mecanismo de roldanas <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

teleférico. Teve sucesso. O teleférico parou de supetão e as duas entidades míticas<<strong>br</strong> />

despencaram no vazio.<<strong>br</strong> />

Caíram no centro da cidade, bem no meio <strong>do</strong> Viaduto <strong>do</strong> Chá, que partiu e<<strong>br</strong> />

desmoronou <strong>com</strong> o impacto. Depois se chocaram na avenida movimentada logo<<strong>br</strong> />

abaixo. A<strong>br</strong>iram uma cratera. Atravessaram o túnel <strong>do</strong> metrô, resvalan<strong>do</strong> no trem<<strong>br</strong> />

que descarrilou, e penetraram no solo. Foi <strong>com</strong>o um meteoro arrasa<strong>do</strong>r que atingiu<<strong>br</strong> />

o coração de São Paulo.<<strong>br</strong> />

Firmemente agarra<strong>do</strong>s, chegaram à camada de magma <strong>do</strong> subsolo e foram<<strong>br</strong> />

mergulhan<strong>do</strong> pelo alúvio incandescente. Mais à frente, irromperam para a<<strong>br</strong> />

superfície ao a<strong>br</strong>ir um enorme rombo num <strong>do</strong>s vulcões inativos de Poços de<<strong>br</strong> />

Caldas. O monte a<strong>do</strong>rmeci<strong>do</strong> foi desperta<strong>do</strong> de seu sono milenar e, numa explosão<<strong>br</strong> />

violenta, esparramou lava escaldante, co<strong>br</strong>iu de cinzas o sul de Minas Gerais e<<strong>br</strong> />

lançou os adversários ao mar. Eles afundaram nas proximidades <strong>do</strong> porto de<<strong>br</strong> />

Vitória, no Espírito Santo. A queda provocou um maremoto que arrasou as<<strong>br</strong> />

edificações <strong>do</strong> litoral capixaba.<<strong>br</strong> />

Para fugir, <strong>Boitatá</strong> na<strong>do</strong>u velozmente rumo ao norte, margean<strong>do</strong> a costa.<<strong>br</strong> />

<strong>Curupira</strong> seguiu no encalço. Em Porto Seguro, no exato ponto onde os<<strong>br</strong> />

desco<strong>br</strong>i<strong>do</strong>res desembarcaram no novo mun<strong>do</strong>, os <strong>do</strong>is aportaram em terra firme.


Seus movimentos vigorosos provocaram um vagalhão, um tsunami, que inun<strong>do</strong>u as<<strong>br</strong> />

praias da Bahia.<<strong>br</strong> />

O índio logo alcançou o lombo <strong>do</strong> dragão. Este empinou, urrou e disparou<<strong>br</strong> />

em galope furioso. Sob seus pés, a terra foi se a<strong>br</strong>in<strong>do</strong> num terremoto de escala e<<strong>br</strong> />

extensão jamais registradas no agreste nordestino. Em Natal, eles mergulharam<<strong>br</strong> />

entre as dunas, causan<strong>do</strong> a maior tempestade de areia já ocorrida no Rio Grande <strong>do</strong><<strong>br</strong> />

Norte.<<strong>br</strong> />

Prosseguiram em galope percorren<strong>do</strong> o entorno <strong>do</strong> Brasil, cavan<strong>do</strong> sulcos na<<strong>br</strong> />

terra <strong>com</strong>o se estivessem demarcan<strong>do</strong> as fronteiras da nação. No Monte Caburaí,<<strong>br</strong> />

em Roraima, o ponto extremo ao norte, <strong>Boitatá</strong> deu uma guinada aguda e adentrou<<strong>br</strong> />

pelo país. No centro da floresta amazônica, arrojou o <strong>do</strong>rso contra uma fron<strong>do</strong>sa<<strong>br</strong> />

árvore e quase esmagou a perna <strong>do</strong> índio, que saltou a tempo e caiu estira<strong>do</strong> no<<strong>br</strong> />

chão. Enfim, os <strong>do</strong>is pararam, extenua<strong>do</strong>s, ofegantes, e ficaram se encaran<strong>do</strong><<strong>br</strong> />

raivosamente.<<strong>br</strong> />

Foi quan<strong>do</strong> <strong>Boitatá</strong> ergueu os cascos dianteiros, fechou os olhos e passou a<<strong>br</strong> />

balbuciar palavras estranhas, <strong>com</strong>o se estivesse oran<strong>do</strong>. De repente, o céu foi<<strong>br</strong> />

encoberto por pesadas e sinistras nuvens negras, mas não houve chuva. O que se<<strong>br</strong> />

seguiu foi uma profusão de trovões, relâmpagos e raios que fustigaram a mata e<<strong>br</strong> />

produziram incontáveis focos de fogo. Um incêndio de proporções inimagináveis<<strong>br</strong> />

em solo amazônico.<<strong>br</strong> />

O dragão gargalhou.<<strong>br</strong> />

— Fique saben<strong>do</strong>, irmãozinho – disse o dragão, rin<strong>do</strong> –, que o fim <strong>do</strong>s<<strong>br</strong> />

tempos está próximo, e nele eu desempenharei um papel fundamental. Serei um<<strong>br</strong> />

<strong>do</strong>s protagonistas, pois a destruição vai se iniciar aqui. Na minha região! Afinal, a<<strong>br</strong> />

Amazônia é o pulmão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>!<<strong>br</strong> />

<strong>Curupira</strong> se ajoelhou e abaixou a cabeça. Seus de<strong>do</strong>s tocaram o solo...<<strong>br</strong> />

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