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Contos gauchescos - PasseNaUFRGS.com.br

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em plena festa matrimonial, pelo velho contrabandista e seus asseclas é uma das<<strong>br</strong> />

cenas mais exasperantes da ficção <strong>br</strong>asileira. Também o mísero destino de um animal,<<strong>br</strong> />

cruelmente morto por ricos fazendeiros a quem sempre servira <strong>com</strong> abnegação, em "O<<strong>br</strong> />

boi velho", é narrado de forma tão meticulosa por Blau Nunes que não há <strong>com</strong>o fugir<<strong>br</strong> />

da <strong>com</strong>oção que o conto desperta:<<strong>br</strong> />

O peão puxou da faca e dum golpe enterrou-a até o cabo, no sangradouro do<<strong>br</strong> />

boi manso; quando retirou a mão, já veio nela a golfada espumenta do sangue do<<strong>br</strong> />

coração...<<strong>br</strong> />

Houve um silenciozito em toda aquela gente.<<strong>br</strong> />

O boi velho sentindo-se ferido, doendo o talho, quem sabe se entendeu que<<strong>br</strong> />

aquilo seria um castigo, algum pregaço de picana, mal dado por não estar ainda<<strong>br</strong> />

arrumado... – pois vancê creia! – soprando o sangue em borbotões, já meio roncando<<strong>br</strong> />

na respiração, meio cambaleando, o boi velho deu uns passos mais, encostou o corpo<<strong>br</strong> />

ao <strong>com</strong>prido no cabeçalho do carretão, e meteu a cabeça, certinha, no lugar da<<strong>br</strong> />

canga... e ficou arrumado, esperando... (...)<<strong>br</strong> />

E ajoelhou... e caiu... e morreu...<<strong>br</strong> />

O drama humano<<strong>br</strong> />

Os principais relatos do autor pelotense são aqueles denominados "contos de<<strong>br</strong> />

sangue e paixão". Apesar de todos estes contos documentarem os costumes e as<<strong>br</strong> />

singularidades da região pastoril e apresentarem personagens inseridos na “vida<<strong>br</strong> />

bárbara dos gaúchos”, há neles uma ciranda tão cega e intensa de sentimentos<<strong>br</strong> />

elementares que o puramente regional é ultrapassado por algo maior: o homem<<strong>br</strong> />

universal, <strong>com</strong> sua cegueira e seus desatinos.<<strong>br</strong> />

A maldade dos estancieiros, em "O boi velho"; a luta fratricida entre dois<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>andantes farroupilhas provavelmente por causa de uma mulher, em "Duelo dos<<strong>br</strong> />

Farrapos"; a devoção do pai a sua filha em "Contrabandista"; o ódio e a vingança<<strong>br</strong> />

ilimitada, em "No manantial", "Os cabelos da china" e em "O negro Bonifácio"; a<<strong>br</strong> />

loucura do orgulho ferido, em "Jogo do osso"; o horror da guerra em "O Anjo da<<strong>br</strong> />

Vitória" são exemplos de relatos em que paixões humanas, instintivas e profundas,<<strong>br</strong> />

corrompem a ordem natural e lançam os seres no desconcerto e no aniquilamento.<<strong>br</strong> />

O Anjo da Vitória, apelido do heróico general A<strong>br</strong>eu, que lutou contra as forças<<strong>br</strong> />

uruguaias de Artigas, por exemplo, é um desses “contos de sangue e paixão”. Escrito<<strong>br</strong> />

ao que tudo indica para cele<strong>br</strong>ar a valentia épica do guerreiro rio-grandense, o texto<<strong>br</strong> />

acaba dilacerado entre a audácia do <strong>com</strong>andante que, mesmo após um <strong>br</strong>utal erro<<strong>br</strong> />

militar – o exército imperial bombardeara e destruíra suas próprias tropas – convoca a<<strong>br</strong> />

soldadesca à luta, e o desespero de Blau Nunes, então um menino de 10 anos que

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