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1 Espelho, Espelho Meu, Existe Alguém Mais Vaidosa do ... - Anpad

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<strong>Espelho</strong>, <strong>Espelho</strong> <strong>Meu</strong>, <strong>Existe</strong> <strong>Alguém</strong> <strong>Mais</strong> <strong>Vai<strong>do</strong>sa</strong> <strong>do</strong> Que Eu? A Vaidade Feminina e<br />

sua Influência na Autoestima e no Consumo de Procedimentos Estéticos<br />

Resumo:<br />

Autoria: Vivian Iara Strehlau, Danny Pimentel Claro, Sílvio Abrahão Laban Neto<br />

Este trabalho tem por objetivo observar a influência da vaidade feminina na autoestima e no<br />

consumo de procedimentos estéticos. Para Goldenberg (2002) existe uma cultura <strong>do</strong> corpo,<br />

uma cultura narcísica, onde o corpo e a moda são elementos essenciais <strong>do</strong> estilo de vida. A<br />

avaliação que cada um tem de sua própria aparência física compõe parte de seu autoconceito e<br />

o essa avaliação, positiva ou negativa, reflete-se na autoestima (SOLOMON, 2002). A<br />

vaidade, por sua vez, caracteriza uma preocupação e uma visão positiva (e possivelmente<br />

inflada) da aparência física de alguém e de seus feitos e realizações (NETEMEYER;<br />

BURTON; LICHTENSTEIN, 1995). Consideran<strong>do</strong> que desde 2006, o Brasil ocupa a terceira<br />

posição entre os maiores merca<strong>do</strong>s de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> (ABIHPEC, 2009) e os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> por Alcalde (2008), que<br />

apontou a insatisfação de muitas brasileiras com seu corpo, identificamos uma interessante<br />

lacuna a ser estudada. O trabalho tem início com uma introdução ao <strong>do</strong> tema e sua<br />

importância de seu estu<strong>do</strong> e inclui um referencial teórico sobre vaidade, beleza, autoestima e<br />

envolvimento. A pesquisa realizada é quantitativa <strong>do</strong> tipo survey com 210 mulheres entre 18 e<br />

60 anos, de classes socioeconômicas A, B, C e D. O questionário foi construí<strong>do</strong> com<br />

perguntas fechadas e inclui levantamento de da<strong>do</strong>s demográficos da amostra, uma escala que<br />

mede a vaidade da consumi<strong>do</strong>ra (DURVASULA; LYSONSKI e WATSON, 2001) e o tipo e<br />

freqüência de realização de diversos procedimentos estéticos (FETTO, 2003). A amostra é<br />

jovem, 71% da amostra possui até 30 anos de idade e a raça branca foi pre<strong>do</strong>minante (78%).<br />

Quase 57% da amostra possui o ensino superior completo, 31%, o ensino médio completo e<br />

apenas 4% possuem até o ensino fundamental completo. As respondentes estiveram<br />

razoavelmente bem distribuídas nas classes socioeconômicas: quase 34% de classe A, 45% de<br />

classe B e 21% de classes C e D. Para a análise das hipóteses, foram utilizadas regressões<br />

múltiplas com a técnica <strong>do</strong>s mínimos múltiplos quadra<strong>do</strong>s, Os principais acha<strong>do</strong>s se referem<br />

a: Quanto maior o grau de vaidade da mulher maior a utilização de cosméticos e tratamentos<br />

<strong>do</strong>mésticos, a frequência de cuida<strong>do</strong>s, e a autoestima com o corpo Foi encontra<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong><br />

significativo para o grau de vaidade e a propensão para a realização de procedimentos<br />

cirúrgicos. Outro resulta<strong>do</strong> indica que quanto maior o uso de cosméticos e tratamentos<br />

<strong>do</strong>mésticos de beleza, maior a propensão em realizar procedimentos cirúrgicos e<br />

ambulatoriais. O envolvimento com a beleza afeta marginalmente a propensão em realizar<br />

procedimentos cirúrgicos. A análise das variáveis de controle mostrou que a idade afeta<br />

negativamente o conjunto de variáveis media<strong>do</strong>ras de atitude ligadas a beleza, mostran<strong>do</strong> que<br />

quanto mais nova a mulher maior a sua preocupação com a beleza e quanto mais velha maior<br />

a propensão em realizar por procedimentos cirúrgicos e ambulatoriais. Os resulta<strong>do</strong>s mostram<br />

que quanto maior o nível educacional menor a preocupação com beleza. A variável de<br />

controle sócio-econômica influencia negativamente as variáveis media<strong>do</strong>ras, implican<strong>do</strong> que<br />

quanto maior a classe menor a atitude.<br />

1


1. Introdução:<br />

Maffesoli (2004) considera que importantes mudanças de valores aconteceram no final <strong>do</strong><br />

século vinte, o homo politicus ou o homo economicus cedeu espaço a um homo estheticus. Tal<br />

consideração induz ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s elementos oriun<strong>do</strong>s da estética e sua influência na vida e no<br />

comportamento <strong>do</strong>s indivíduos. Goldenberg (2002) afirma que a questão da beleza tem se<br />

mostrada bastante relevante: existe uma cultura <strong>do</strong> corpo e narcísica, onde corpo e moda<br />

constituem elementos essenciais <strong>do</strong> estilo de vida, determinan<strong>do</strong> investimentos pessoais na<br />

preocupação com a aparência Os indivíduos são responsáveis por sua própria juventude,<br />

beleza e saúde e nesse caso “só é feio quem quer e só envelhece quem não se cuida”<br />

(GOLDENBERG, 2002, pg. 9).<br />

O mesmo autor afirma existir um para<strong>do</strong>xo no culto ao corpo da classe média, a autonomia<br />

individual em contraposição à exigência de conformidade aos modelos sociais <strong>do</strong> corpo.<br />

“A obsessão com a magreza, multiplicação <strong>do</strong>s regimes e das atividades de modelagem <strong>do</strong><br />

corpo, a disseminação da lipoaspiração, <strong>do</strong>s implantes de próteses de silicone nos seios, de<br />

botox para atenuar as marcas de expressão na face e da modelagem de nariz testemunham o<br />

poder normaliza<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s modelos, um desejo maior de conformidade estética que se choca com<br />

o ideal individualista e sua exigência de singularização <strong>do</strong>s sujeitos” (GOLDENBERG, 2002,<br />

p.9)<br />

Os cuida<strong>do</strong>s com o corpo e a beleza, quan<strong>do</strong> excessivos, atendem pelo nome de vaidade.<br />

Tradicionalmente, a vaidade é considerada como um <strong>do</strong>s sete peca<strong>do</strong>s capitais <strong>do</strong> catolicismo,<br />

surgin<strong>do</strong> ainda na personagem mitológica de Narciso e em histórias infantis, como a fábula<br />

Branca de Neve <strong>do</strong>s Irmãos Grimm. A vaidade, portanto, assume conotação negativa, sen<strong>do</strong><br />

percebida como uma falha das virtudes morais, algo desfavorável, uma espécie de vício ou<br />

arrogância deprecia<strong>do</strong>ra das virtudes morais. Netemeyer, Burton e Lichtenstein (1995)<br />

identificaram alguns aspectos recorrentes nas definições disponíveis sobre vaidade: vaidade<br />

seria a preocupação e uma visão positiva (e possivelmente inflada) da aparência física de<br />

alguém e de seus feitos e realizações (achievement).<br />

Para Domzall e Kernan (1993) a cultura popular, inclusive o marketing, continua a explorar a<br />

atratividade física como um ideal, um índice de credibilidade e de seu próprio valor. Os<br />

mesmos autores identificam uma série de pesquisas precedentes que indicam que indivíduos<br />

atraentes seriam mais aprecia<strong>do</strong>s e percebi<strong>do</strong>s em termos mais favoráveis que aqueles menos<br />

atraentes. Em outras palavras, a suposta perfeição física impõe pesa<strong>do</strong> far<strong>do</strong> na busca pela<br />

conformidade física a padrões estabeleci<strong>do</strong>s. A aparência propicia, por parte <strong>do</strong> outro,<br />

“atribuições de determina<strong>do</strong>s papéis sociais, expectativas de conduta, e que, mediante esses<br />

papéis, nossas ações serão avaliadas nas relações sociais” (SAMPAIO; FERREIRA, 2009,<br />

p.10).<br />

Este trabalho tem por objetivo relacionar a vaidade feminina ao consumo de procedimentos<br />

estéticos, buscan<strong>do</strong> responder às seguintes questões: qual a relação entre vaidade e o consumo<br />

de procedimentos estéticos, cirúrgicos ou não? Qual a relação entre vaidade e a frequência e o<br />

tipo de consumo de elementos de cuida<strong>do</strong>s corporais cotidianos? Qual a influencia destes<br />

cuida<strong>do</strong>s cotidianos na realização <strong>do</strong>s procedimentos estéticos, cirúrgicos ou não?<br />

A relevância deste trabalho está em auxiliar no entendimento <strong>do</strong> fenômeno <strong>do</strong> consumo de<br />

produtos que tem por objetivo melhorar a beleza feminina. Entende-se por produto a acepção<br />

mais ampla <strong>do</strong> termo, “qualquer coisa destinada ao merca<strong>do</strong> para ser adquirida, usada ou<br />

apreciada”, não distinguin<strong>do</strong> tangibilidade ou quaisquer outras classificações tradicionais.<br />

2


Alguns números ajudam a corroborar a importância de se entender a preocupação com a<br />

beleza para se entender o merca<strong>do</strong> de consumo de produtos e procedimentos volta<strong>do</strong>s a este<br />

fim. De acor<strong>do</strong> com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (2008), o Brasil registra 1200<br />

plásticas ao dia e, segun<strong>do</strong> outro estu<strong>do</strong> da mesma entidade, em 2004, implantes de silicone<br />

passaram a liderar a preferência das consumi<strong>do</strong>ras substituin<strong>do</strong> lipoaspirações e 90% das<br />

cirurgias plásticas foram realizadas em mulheres. Estas informações podem ser corroboradas<br />

por Alcalde (2008) que, ao apresentar um estu<strong>do</strong> conduzi<strong>do</strong> por um instituto de pesquisa,<br />

indica que 37% das mulheres brasileiras estão insatisfeitas com seu corpo, sen<strong>do</strong> superadas<br />

apenas pelas japonesas (59%), sen<strong>do</strong> seguidas de perto pelas inglesas e norte-americanas<br />

(36%).<br />

Este trabalho está organiza<strong>do</strong> da seguinte forma: este primeiro tópico contextualiza e introduz<br />

o tema. A seguir, apresenta-se o referencial que deu suporte ao estu<strong>do</strong> segui<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos, pesquisa e sua análise. O trabalho termina com as<br />

considerações finais e as referências utilizadas no trabalho.<br />

2. Referencial teórico<br />

2.1 Vaidade e beleza<br />

Para Eco (2004) existem diversas concepções da beleza, para o autor, o “Belo” é um adjetivo<br />

usa<strong>do</strong> para designar algo que agrada. Duarte (1998, p.13) define beleza como “uma maneira<br />

de nos relacionarmos com o mun<strong>do</strong>. Não tem a ver com formas, medidas, proporções,<br />

tonalidades e arranjos pretensamente ideais que definem algo como belo”. A preocupação<br />

com a beleza não é fenômeno recente, a fantasia <strong>do</strong> elixir da imortalidade tão busca<strong>do</strong> em<br />

outras épocas cedeu lugar à fantasia vendida através de tratamentos dermatológicos, cirurgias<br />

plásticas, reposições hormonais, vitaminas etc. (GOLDENBERG, 2002).<br />

Apesar das evidências que demonstram a importância <strong>do</strong> tema na sociedade e no consumo,<br />

este tem si<strong>do</strong> pouco explora<strong>do</strong> na academia na área de comportamento <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r<br />

(BLOCH; RICHINS, 1992; BLOCH; RICHINS, 1994), embora seja assunto de interesse para<br />

a filosofia, psicologia e sociologia. Na psicologia e na sua relação com comunicação o tema<br />

tem si<strong>do</strong> bastante estuda<strong>do</strong>, principalmente quanto a influência da aparência física na<br />

propaganda ( BJERKE; POLEGATO; 2006, BOWER; LANDRETH, 2001; WATSON et al,<br />

1999; ENGLIS; SOLOMON; ASHMORE, 1994).<br />

Lipovetsky (2000) comenta que a beleza tem si<strong>do</strong> vista não apenas como um dever, mas um<br />

direito, sen<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong> de um esforço, de uma conquista. Tal afirmação é corroborada pelo<br />

trabalho de Edmonds (2002). Para Goldenberg (2002, p.8) a “mídia adquiriu imenso poder de<br />

influência entre indivíduos, generalizou a paixão pela moda, expandiu o consumo de produtos<br />

de beleza e tornou a aparência uma dimensão essencial da identidade” de homens e mulheres.<br />

Pelo la<strong>do</strong> negativo, Bassili (1981, p. 237) observa que, ainda que os indivíduos assumam que<br />

uma boa aparência é instrumental para uma vida sexual e socialmente mais excitante, este<br />

estilo de vida está desfigura<strong>do</strong> na vaidade e no autocentramento.<br />

Para Poiriet (1999, p.31) o corpo é lugar de todas ambigüidades, não sen<strong>do</strong> um simples<br />

objeto, pois “encontra-se numa situação intermediária a partir da qual pode, numa direção,<br />

3


tornar-se sagra<strong>do</strong> e subjetivar-se e, numa direção oposta, acabar por ‘coisificar-se’<br />

inteiramente”. O corpo pode, portanto, ser completamente materializa<strong>do</strong>, reduzin<strong>do</strong> a apenas<br />

um monte de carne, logo, coisifica<strong>do</strong> e passível de transformação o que pode ser indica<strong>do</strong><br />

pelos expressivos números da indústria da beleza, cirurgias plásticas, vendas de cosméticos e<br />

a<strong>do</strong>rnos.<br />

Os processos culturais são grandemente responsáveis pela definição tanto <strong>do</strong>s padrões<br />

estéticos como da beleza corporal (QUEIROZ; OTTA, 1999). A cirurgia facial está assentada<br />

em complexas questões referentes a gênero, raça, cultura e identidade pessoal e é interessante<br />

observar o efeito das diferentes culturas nas atitudes com relação à beleza e à cirurgia plástica:<br />

nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s estaria mais politizada e ligada à opressão racial enquanto no Brasil está<br />

ligada à ideia de identidade nacional. (EDMONDS, 2002).<br />

No Brasil, estu<strong>do</strong>s que contemplam a temática beleza na área de marketing têm ganha<strong>do</strong><br />

atenção crescente, mas ainda incipiente; são poucos os trabalhos que estudam especificamente<br />

a beleza, como Campos (2009) e Campos, Suarez e Casotti (2006). Na maioria das vezes<br />

encontram-se trabalhos em que a beleza é uma variável importante no estu<strong>do</strong>, mas não seu<br />

foco principal, como em Silveira Netto e Brei (2009), Schweig et al (2009), Hemzo e Silva<br />

(2009) e Vanzellotti (2008).<br />

Vaidade parece não ser mais vista como um peca<strong>do</strong>, ainda que nas definições encontradas em<br />

Aurélio (2009) nenhuma tenha um cunho positivo: “Desejo imodera<strong>do</strong> de chamar atenção, ou<br />

de receber elogios / Idéia exageradamente positiva que alguém faz de si próprio; presunção,<br />

fatuidade, gabo / Coisa vã, fútil; futilidade / Alarde, ostentação, vanglória...”; Todavia,<br />

segun<strong>do</strong> Edmonds (2002), a vaidade, no Brasil, não apresenta o cunho pejorativo que<br />

normalmente se associa ao termo: mulheres associam a vaidade a ter cuida<strong>do</strong> com o corpo,<br />

em especial com cabelos e unhas e não aos exageros associa<strong>do</strong>s à aparência, distinguin<strong>do</strong><br />

entre vaidade (boa) e futilidade (má).<br />

Vaidade está relacionada com a personalidade narcísica (RASKIN;NOVACEK, 1989) e pode<br />

ter também atributos negativos, como o materialismo e a permissividade sexual (BASSILI,<br />

1993).<br />

Na área de marketing, dentre os poucos trabalhos com foco em vaidade, destacam-se:<br />

Netemeyer, Burton Lichtenstein (1995) desenvolveram escala de vaidade, posteriormente<br />

estendida para 3 países por Durvasula, Lysonski e Watson (2001) e finalmente para a China<br />

por Wang e Waller (2006) com bons resulta<strong>do</strong>s.<br />

Netemeyer, Burton Lichtenstein (1995) identificam <strong>do</strong>is tipos principais de vaidade: a vaidade<br />

com aparência física, ou seja, uma preocupação com aparência física, assim como uma visão<br />

positiva e possivelmente exagerada da aparência física e também a vaidade ligada à realização<br />

<strong>do</strong>s objetivos, ou seja, a preocupação com a realização e o alcance de objetivos, assim como<br />

uma visão positiva (exagerada) <strong>do</strong> atingimento desses objetivos.<br />

2.2 Vaidade e sua relação com a autoestima<br />

Por autoconceito entende-se o conjunto de crenças que uma pessoa tem sobre seus atributos e<br />

como os avalia (SOLOMON, 2008). O autoconceito pode ser dividi<strong>do</strong> em três tipos: o real, o<br />

ideal e o social. O primeiro está relaciona<strong>do</strong> com a auto-percepção, ou seja, como os<br />

indivíduos se vêem na realidade de acor<strong>do</strong> com fatos e experiências pessoais. Já o<br />

4


autoconceito ideal tem a ver com o “ego ideal”: como o indivíduo gostaria de ser e não como<br />

ele percebe que é realmente. E, por último o autoconceito social, ou seja, como o indivíduo<br />

apresenta o “seu eu” para os outros ao seu re<strong>do</strong>r (SIRGY, 1982).<br />

A autoestima relaciona-se com a positividade <strong>do</strong> autoconceito de uma pessoa (SOLOMON,<br />

2008, p.115). A autoestima geral depende “das características <strong>do</strong> eu contingenciais da<br />

autoestima e da forma como avaliamos cada uma delas” (MICHENER; DELAMATER;<br />

MYERS, 2005). Os mesmos autores apresentam três fontes principais de autoestima: a<br />

experiência familiar, feedback <strong>do</strong> desempenho e comparações sociais. Comparações com<br />

indivíduos que ocupam posições “inferiores” tendem a ser auto-valoriza<strong>do</strong>ras enquanto<br />

comparações “para cima”, geralmente podem ameaçar o bem estar e autoestima.<br />

(LYUBOMIRSKY; ROSS, 1997). Pessoas com baixa autoestima tentam evitar o<br />

constrangimento, fracasso ou rejeição.<br />

Para Solomon (2008, p. 195) “a aparência física de uma pessoa é parte considerável de seu<br />

autoconceito. A imagem corporal diz respeito à avaliação subjetiva <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r sobre seu<br />

físico”, sen<strong>do</strong> que a noção de consciência corpórea é complexa por trazer em si aspectos<br />

sociais, simbólicos e sinestésicos (MELO 2005). As mulheres tendem a captar mensagens da<br />

mídia, nas quais a aparência, traduzida pelo corpo, reflete seu valor, sen<strong>do</strong> esta uma das<br />

razões para uma maior ocorrência de distorções da imagem corporal em mulheres<br />

(SOLOMON, 2008). Um exemplo é a propaganda contemporânea que sustenta o ideal de<br />

beleza, em que o sucesso e a felicidade dependem de uma boa aparência física (BRIGGS,<br />

2000). O descontentamento com o peso, por exemplo, leva a uma imagem corporal negativa e<br />

que no caso <strong>do</strong>s obesos chega a causar um estigma social (VEER, 2009). Gomes e<br />

Caramaschi (2007) afirmam que “a busca por um modelo ideal de beleza, que nunca foi tão<br />

estimulada e valorizada, tem deixa<strong>do</strong> um imenso grupo de insatisfeitos e deprimi<strong>do</strong>s,<br />

desconfortáveis com o próprio corpo e com a autoestima em baixa”<br />

2.3 Envolvimento com a beleza<br />

Envolvimento é um <strong>do</strong>s construtos da motivação, pois na medida em que o envolvimento<br />

aumenta, os consumi<strong>do</strong>res têm maior motivação para “captar, compreender e elaborar<br />

informações relevantes à compra” (MOWEN; MINOR, 2003). Ainda segun<strong>do</strong> os mesmos<br />

autores, o conceito de envolvimento é crucial para uma variedade de tópicos relativos ao<br />

consumi<strong>do</strong>r como o processamento da informação, compreensão <strong>do</strong>s processos de memória,<br />

tomada de decisão, formação e mudança de atitude e a comunicação boca-a-boca.<br />

O conceito de envolvimento significa que uma pessoa é motivada a pensar sobre o objeto em<br />

questão (ZAICHKOWSKI, 1995), ou seja, envolvimento é a importância pessoal percebida<br />

e/ou interesse que o consumi<strong>do</strong>r liga à aquisição, consumo e disposição de um bem, serviço<br />

ou ideia (MOWEN; MINOR, 1998).<br />

Várias dimensões <strong>do</strong> envolvimento contribuem para o aumento <strong>do</strong> nível de envolvimento <strong>do</strong><br />

consumi<strong>do</strong>r com a compra, sen<strong>do</strong> que a importância de cada dimensão varia de acor<strong>do</strong> com o<br />

tipo de bem ou serviço, assim como das características <strong>do</strong> compra<strong>do</strong>r. (MOWEN e MINOR,<br />

1998, p.65). As dimensões são: Importância de auto-expressão (produto que auxilia as pessoas<br />

a expressar seu auto-conceito para os outros), Importância hedônica (produtos que são<br />

agradáveis, interessantes, diverti<strong>do</strong>s, fascinantes e excitantes), Relevância prática (produtos<br />

5


que são essenciais ou benéficos por razões utilitárias) e Risco de compra: produtos que criam<br />

incertezas por que uma má escolha seria extremamente aborrecida para o compra<strong>do</strong>r.<br />

A questão <strong>do</strong> envolvimento se torna relevante quanto à beleza e à vaidade se considerarmos o<br />

estu<strong>do</strong> de Edmonds (2002). Para o autor, tanto as pacientes de plástica, quanto indivíduos que<br />

utilizam substâncias, por vezes ilegais, que aceleram o desenvolvimento de seu corpo<br />

(“marombeiros”), se dedicam a “formas extremas de alteração corporal com fins estéticos,<br />

sem, no entanto, criticar os valores sociais <strong>do</strong>minantes”. Ainda, segun<strong>do</strong> o autor, “ambos os<br />

grupos parecem sofrer uma identificação especialmente pronunciada entre eu e o corpo”. No<br />

mesmo estu<strong>do</strong>, dentre as várias observações sobre as motivações para a realização de uma<br />

cirurgia plástica surgem motivações de cunho hedônico, ligadas à sexualidade, como também<br />

centradas na saúde física e na liberdade pessoal.<br />

Em atividade menos extrema e invasiva, Bloch (1993) identificou que o cuida<strong>do</strong> em a<strong>do</strong>rnar o<br />

corpo com maquiagem ou roupas é uma atividade de lazer. Essas pessoas são motivadas por<br />

recompensas extrínsecas (como a atratividade física) e recompensas intrínsecas (como<br />

controle e auto-estima). Mulheres com alto envolvimento em atividades relacionadas ao<br />

a<strong>do</strong>rno (em oposição a mulheres com baixo envolvimento que gastam oito minutos a mais por<br />

dia aplican<strong>do</strong> maquiagem e em sua opinião essa atividade é agradável e recompensa<strong>do</strong>ra).<br />

2.4 Uso de cosméticos<br />

A preocupação com a aparência pode afetar uma grande variedade de atitudes e<br />

comportamentos <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, como moda, bronzeamento, cosméticos, dentre outros<br />

(BURTON; NETEMEYER; LICHTENSTEIN, 1994). Para Vanzellotti (2008, p.11) os<br />

cosméticos são como pontes para a transformação <strong>do</strong> self, na tentativa de “evitar, burlar,<br />

enganar o envelhecimento e ser uma mulher ainda atraente ao envelhecer é transformar o self<br />

futuro, de uma mulher com rugas, flácida, feia e envelhecida”. Michelle, Guthrie e Kim<br />

(2009) indicam a existência de cinco tipos diferentes de mulheres de acor<strong>do</strong> com o<br />

envolvimento que têm com os cosméticos: desinteressada e casual, cautelosa e confiante,<br />

aspiracional, interessada e despreocupada e por fim a entusiasta.<br />

2.5 Hipóteses da Pesquisa<br />

O esquema conceitual com três hipóteses dessa pesquisa foi elabora<strong>do</strong> a partir dessa<br />

discussão, como ilustra<strong>do</strong> na Figura 1, e que serão tratadas a seguir.<br />

Consideran<strong>do</strong> que a aparência física e o sucesso material parecem ser passaportes para a<br />

felicidade, sucesso e todas as coisas boas da vida (WANG; WALLER, 2006) e sen<strong>do</strong> essas<br />

integrantes <strong>do</strong> constructo vaidade, pode-se imaginar que pessoas vai<strong>do</strong>sas potencialmente<br />

terão maior interesse na realização de procedimentos que melhorem e desenvolvam essas<br />

características em busca dessa perfeição idealizada e dadivosa. Complementan<strong>do</strong>, Goldenberg<br />

(2002) observa que cada indivíduo é responsável por sua própria beleza, juventude e saúde.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, a primeira hipótese é:<br />

H1: Quanto maior a vaidade da consumi<strong>do</strong>ra, maior a propensão em realizar procedimentos<br />

estéticos cirúrgicos (a) e ambulatoriais (b).<br />

6


Figura 1: Esquema referente ao impacto da vaidade<br />

Vaidade<br />

H2<br />

Uso de cosméticos e<br />

tratamentos (a)<br />

Frequência de cuida<strong>do</strong>s (b)<br />

Autoestima corporal (c)<br />

Envolvimento com beleza (d)<br />

H3<br />

Variáveis<br />

de controle<br />

H1<br />

Renda (R$)<br />

Educação (anos)<br />

Idade (anos)<br />

Procedimentos<br />

Cirúrgicos<br />

Cirurgia ocular à laser<br />

Cirurgia na barriga<br />

Lipoaspiração<br />

Implante <strong>do</strong>s seios<br />

Plástica facial<br />

Cirurgia de nariz<br />

Ambulatoriais<br />

Implante capilar<br />

Botox<br />

Injeções de colágeno<br />

A vaidade parece impactar em várias características <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, a literatura traz suporte<br />

para muitas das quais foram selecionadas três. Burton, Netemeyer e Lichtenstein (1994)<br />

destacam que a preocupação com a aparência pode afetar uma grande variedade de atitudes e<br />

comportamentos <strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r, como moda, bronzeamento, cosméticos, dentre outros. Da<br />

mesma forma, a vaidade também impacta fortemente a autoestima (SOLOMON, 2008) e<br />

exemplifica<strong>do</strong> por Bloch (1993) que identificou que o cuida<strong>do</strong> em a<strong>do</strong>rnar o corpo com<br />

maquiagem ou roupas é uma atividade de lazer motivada pela recompensa extrínseca como a<br />

atratividade e intrínsecas, como a autoestima. O envolvimento com a beleza aparece em Bloch<br />

(1993) onde mulheres com alto envolvimento gastam mais tempo e consideram a atividade<br />

maquiagem como uma atividade agradável e compensa<strong>do</strong>ra. O que conduz à segunda<br />

hipótese:<br />

H2: Quanto maior a vaidade da consumi<strong>do</strong>ra, maior a propensão em usar cosméticos (a),<br />

maior a frequência de cuida<strong>do</strong>s (b), maior a autoestima corporal (c) e maior o envolvimento<br />

com a beleza (d).<br />

Poiriet (1999) aborda a questão da “coisificação” <strong>do</strong> corpo, sen<strong>do</strong> apenas uma massa de carne<br />

e, portanto passível de transformação conforme os desejos de seu “<strong>do</strong>no”, portanto a busca<br />

por um ideal de beleza é fortemente estimulada e valorizada (GOMES; CARAMASCHI,<br />

2007) deixa<strong>do</strong> um imenso grupo de pessoas desconfortáveis com o próprio corpo e com a<br />

autoestima em baixa. Logo a terceira hipótese é:<br />

H3: As atitudes frente ao uso de cosméticos (a), frequência de cuida<strong>do</strong>s (b), autoestima (c) e<br />

o envolvimento com a beleza (d) influenciam na realização de procedimentos cirúrgicos e<br />

ambulatoriais.<br />

Em relação a características demográficas das mulheres, é razoável supor que determinadas<br />

delas com renda, educação e idade elevadas sejam mais sensíveis a questões de beleza e,<br />

portanto, maior será o grau preocupação e atitude, bem como de procedimentos. Desta forma,<br />

três variáveis de controle foram incluídas a fim de avaliar a variabilidade <strong>do</strong> modelo estima<strong>do</strong>.<br />

Embora as hipóteses específicas para as variáveis de controle não tenham si<strong>do</strong> desenvolvidas,<br />

7


espera-se que o impacto seja positivo das variáveis de controle nas vaiáveis media<strong>do</strong>ras e de<br />

resposta.<br />

3. Procedimentos meto<strong>do</strong>lógicos<br />

Para o desenvolvimento deste trabalho utilizou-se de um levantamento de da<strong>do</strong>s, através de<br />

survey. Os da<strong>do</strong>s foram obti<strong>do</strong>s por meio de um questionário impresso e estrutura<strong>do</strong> com<br />

perguntas fechadas aplica<strong>do</strong>s pessoalmente durante os meses de agosto, setembro e outubro<br />

de 2008, em locais próximos a farmácias e perfumarias em bairros nobres e populares da<br />

cidade de São Paulo, com o objetivo de encontrar diversidade em termos de faixa etária e<br />

estrato socioeconômico. O critério de seleção amostral foi não-probabilístico e por<br />

conveniência perfazen<strong>do</strong> um total de 210 mulheres com idades entre 18 e 60 anos e<br />

pertencentes aos estratos socioeconômicos A, B e C.<br />

O questionário foi elabora<strong>do</strong> incluin<strong>do</strong>-se questões demográficas tais como faixa etária,<br />

educação e classe econômica. Essa última foi medida com o uso <strong>do</strong> Critério de Classificação<br />

Econômica Brasil – CCEB –, que divide a população em cinco classes econômicas (A, B, C,<br />

D e E) de acor<strong>do</strong> com a pontuação obtida pela posse de determina<strong>do</strong>s bens e pelo grau de<br />

instrução <strong>do</strong> chefe de família.<br />

Para a mensuração da vaidade utilizou-se a escala desenvolvida por Durvasula, Lysonski e<br />

Watson (2001). Essa escala consiste em 21 itens avalia<strong>do</strong>s em escala likert de 7 pontos, na<br />

qual o ponto 1 representa “discor<strong>do</strong> totalmente” e o 7 representa “concor<strong>do</strong> totalmente”. O<br />

questionário original em inglês foi traduzi<strong>do</strong> para o português. Procedimentos de tradução<br />

reversa retornaram a escala traduzida à versão original e não foram encontradas diferenças<br />

significativas. O questionário incluiu ainda questões sobre freqüência de realização de<br />

procedimentos estéticos e cirúrgicos (baseada em FETTO, 2003) e questões para indicar a<br />

autoestima relacionada à beleza física. Foram também incluí<strong>do</strong>s questões para refletir o uso<br />

de cosméticos e tratamentos e o envolvimento das mulheres com beleza. To<strong>do</strong>s os constructos<br />

estima<strong>do</strong>s através de multi-itens apresentaram alfa de Crombach maior que 0,68, acima <strong>do</strong><br />

limite de 0,60 que é comumente aceito na literatura. Um pré-teste com 20 mulheres foi<br />

realiza<strong>do</strong> para checar compreensão, existência de dificuldades e tempo de preenchimento.<br />

Pequenos ajustes foram realiza<strong>do</strong>s nas questões, com o objetivo de aprimorar sua<br />

compreensão e em média, verificou-se que o questionário poderia ser respondi<strong>do</strong> entre 10 e<br />

15 minutos.<br />

As médias, desvios padrões e a matriz de correlação para to<strong>do</strong>s os itens são apresenta<strong>do</strong>s na<br />

Tabela 1. A associação das variáveis <strong>do</strong> modelo pode ser vista nos coeficientes de correlação<br />

que estão realça<strong>do</strong>s. Embora várias correlações são significativas e positivas, todas elas estão<br />

abaixo de 0,80. De acor<strong>do</strong> com Hair et al. (2005), correlações abaixo de 0,80 são necessárias<br />

para se evitar problemas com multicolinearidade.<br />

8


Tabela 1: Correlações, desvio padrões e médias<br />

Variável Média Desvio Padrão<br />

1. Proced Cirurgico 2,07<br />

2. Proced Ambulatorial 0,70<br />

3. Idade 2,34<br />

4. Educação 2,70<br />

5. Classe Socio‐Econömica 3,19<br />

6. Vaidade 4,67<br />

7. Frequencia de Cuida<strong>do</strong>s 3,39<br />

8. Cosméticos e Tratamentos 4,62<br />

9. Auto estima corporal 4,15<br />

10. Envolvimento com beleza 4,85<br />

1,54<br />

0,85<br />

0,97<br />

0,70<br />

1,39<br />

0,79<br />

0,94<br />

1,27<br />

0,98<br />

1,46<br />

1. 2. 3. 4. 5.<br />

6. 7. 8. 9.<br />

1,00<br />

,42** 1,00<br />

,08 ,34** 1,00<br />

- ,15* - ,01 ,09 1,00<br />

Matriz Correlação<br />

- ,01 - ,01 - ,02 - ,35** 1,00<br />

,19** ,07 - ,13 ,11 - ,24 1,00<br />

,10 ,13 ,01 ,13 - ,36** ,32** 1,00<br />

,30** ,11 - ,15* - ,01 - ,33** ,40** ,46** 1,00<br />

,13 - ,09 - ,27** - ,05 - ,26** ,40** - ,31** ,32** 1,00<br />

,16* ,01 - ,16* - ,11 - ,06 ,08 ,14* ,18* ,10<br />

9


4. Resulta<strong>do</strong>s da pesquisa<br />

A amostra estudada é bastante jovem, 71% da amostra possui até 30 anos de idade com<br />

pre<strong>do</strong>mínio de 78% da raça branca. Quase 57% da amostra possui o ensino superior completo,<br />

31%, o ensino médio completo e apenas 4% possuem até o ensino fundamental completo. As<br />

respondentes estiveram razoavelmente bem distribuídas nas classes socioeconômicas: quase<br />

34% de classe A, 45% de classe B e 21% de classes C e D, como indica<strong>do</strong> na Tabela 2, a<br />

seguir.<br />

Tabela 2: Descrição da amostra por idade, nível educacional, classe socioeconômica e raça<br />

Faixa etária N % Classe socioeconômica N %<br />

até 19 anos 26 12,4 A1 32 15,2<br />

entre 20 e 29 anos 124 59,0 A2 39 18,6<br />

entre 30 e 39 anos 33 15,7 B1 44 21,0<br />

entre 40 e 49 anos 18 8,6 B2 51 24,3<br />

50 anos ou mais 9 4,3 C+D 44 20,9<br />

Total 210 100,0 Total 210 100,0<br />

Nível educacional N % Raça n %<br />

até ensino fundamental completo 8 3,8 Branco 163 77,6<br />

Ensino médio completo 66 31,4 Negro 6 2,9<br />

superior completo 119 56,7 Amarelo 18 8,6<br />

especialização ou MBA 15 7,1 Par<strong>do</strong> 23 11,0<br />

mestra<strong>do</strong> ou <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> 2 1,0 Total 210 100,0<br />

Total 210 100,0<br />

Para a análise das hipóteses, foram utilizadas regressões múltiplas com a técnica <strong>do</strong>s mínimos<br />

múltiplos quadra<strong>do</strong>s, empregan<strong>do</strong>-se o software SPSS 17.0. Computou-se a média simples<br />

<strong>do</strong>s itens que refletem cada variável. A Tabela 3 apresenta os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s efeitos das<br />

variávies independentes nas variáveis dependentes. Quatro modelos foram necessários para o<br />

teste das três hipóteses centrais. Os valores estima<strong>do</strong>s <strong>do</strong> poder de explicação das equações<br />

(R 2 ) permite a avaliação <strong>do</strong> impacto de cada variável nas variáveis dependentes. Os<br />

coeficientes reporta<strong>do</strong>s são padroniza<strong>do</strong>s (β) para permitir a comparação <strong>do</strong> impacto de cada<br />

uma das variáveis. As equações apresentam nível significativo a 1% no teste F. O R 2 ajusta<strong>do</strong><br />

da equação significativa varia entre 0,233 a 0,047 e indica que os parâmetros estima<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

modelo apresentam um poder explicativo satisfatório. O poder explicativo da equação suporta<br />

a avaliação individual <strong>do</strong>s coeficientes.<br />

10


Tabela 3: Resulta<strong>do</strong>s das Análises de Regressão<br />

Variáveis<br />

Variáveis de Controle<br />

Idade - ,11 (1,71)† ,03 (,50) - ,23 (3,68)** - ,14 (2,04)* ,16 (2,27)* ,36 (5,19)**<br />

Educação - ,14 (2,16)* ,01 (,01) - ,03 (,53) - ,13 (1,83)† - ,13 (1,93)† - ,03 (4,50)**<br />

Classe Socio-Econömica - ,31 (4,59)** - ,30 (4,31)** - ,20 (2,98)** - ,10 (1,29) ,05 (,67) ,06 (,77)<br />

Variável Antecedente<br />

Vaidade H 1ab,2 ,32 (5,16)** ,25 (3,85)** ,33 (5,16)** ,05 (,77) ,15 (2,05)* ,08 (1,08)<br />

Variáveis Media<strong>do</strong>ras<br />

Cosméticos e<br />

Tratamentos<br />

Frequencia de<br />

Cuida<strong>do</strong>s<br />

Auto estima<br />

corporal<br />

Proced, Cirurgicos<br />

Proced<br />

Ambulatoriais<br />

Cosméticos e Tratamentos H 3a ,31 (3,91)** ,13 (1,66)†<br />

Frequencia de Cuida<strong>do</strong>s H 3b - ,05 (,64) ,09 (1,20)<br />

Auto estima corporal H 3c - ,08 (1,12) - ,08 (1,10)<br />

Envolvimento com beleza H 3d ,12 (1,89)† ,04 (,55)<br />

R 2 0,248 0,187 0,242 0,047 0,17 0,162<br />

R 2 Ajusta<strong>do</strong> 0,233 0,171 0,227 0,028 0,137 0,129<br />

Estatistica F 16,89** 11,82** 16,34** 2,57* 5,144** 4,86**<br />

Nota: †p < ,10; *p < ,05; **p < ,01, A tabela reporta os coeficientes padroniza<strong>do</strong>s e os valores t em parenteses,<br />

Envolvimento com<br />

beleza<br />

11


Foi encontra<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> significativo para o grau de vaidade e a propensão para a realização<br />

de procedimentos cirúrgicos (β= 0,15; p


Edmonds (2002) que ressaltava o fato de ser “uma escrava da beleza” Similarmente, quanto<br />

maior o grau de vaidade da mulher maior a utilização de cosméticos e tratamentos <strong>do</strong>mésticos<br />

assim como a sua frequência de cuida<strong>do</strong>s. Não surpreendentemente está relacionada com a<br />

autoestima especificamente ligada ao corpo (amplamente suportada pelos trabalhos<br />

levanta<strong>do</strong>s),<br />

A principal contribuição deste trabalho está no estu<strong>do</strong> das relações entre os procedimentos<br />

estéticos e a vaidade, pois não foram encontradas evidências dessa relação na literatura<br />

estudada. Vaidade está diretamente relacionada à propensão na realização de procedimentos<br />

cirúrgicos, ainda que não seja significativa para procedimentos ambulatoriais. É curioso<br />

observar que as mulheres não ficam satisfeitas apenas em tratamentos cosméticos, querem<br />

mais, afinal beleza é uma conquista, tanto um direito como um dever. (LIPOVETSKY, 2000)<br />

Quanto maior o uso de cosméticos e tratamentos <strong>do</strong>mésticos de beleza, maior a propensão em<br />

realizar procedimentos cirúrgicos e ambulatoriais. O envolvimento com a beleza afeta apenas<br />

marginalmente a propensão em realizar procedimentos cirúrgicos, talvez o envolvimento se<br />

manifeste nos cuida<strong>do</strong>s cotidianos e não nas grandes intervenções.<br />

O estu<strong>do</strong> de Wang e Waller (2006) destaca o interesse em se estudar a evolução da vaidade<br />

em países em desenvolvimento onde influências culturais americanas e a européias possam<br />

influenciar comportamentos mesmo conceitos sobre o que é belo. Outro ponto que poderia,<br />

ainda, ser ressalta<strong>do</strong> é a questão da desigualdade de classes, onde muitas vezes a beleza é<br />

vista como uma maneira de ascensão social, neste estu<strong>do</strong> encontrou-se que a busca por<br />

procedimentos estéticos cirúrgicos ou ambulatoriais independe da classe socieconômica. No<br />

caso brasileiro ainda há muito a ser estuda<strong>do</strong> na área, como entender os motivos da<br />

preocupação com o corpo, por vezes excessiva, como no denomina<strong>do</strong> “corpolatria”<br />

menciona<strong>do</strong> por Malysse (2002), as relações entre beleza e a busca por felicidade, enfim, são<br />

muitas as portas que se abrem ao olhar <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r da área.<br />

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