Cristiane Souza Gonçalves > Diamantina
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7.O Sistema de Contrato foi,<br />
segundo Cairo e Pessôa (2007),<br />
adotado em função da dificuldade<br />
de se adotar o mesmo sistema<br />
de cobrança de impostos do<br />
ouro – o quinto, no qual a quinta<br />
parte das pedras extraídas seria<br />
da Coroa –, pois as pedras eram<br />
muito diversas entre si e se encontravam<br />
em área específica.<br />
Nesse novo sistema, o contratador<br />
“recebia a concessão da<br />
exploração da extração por um<br />
período determinado e por determinadas<br />
áreas, com um número<br />
limitado de escravos (esta<br />
era a cláusula menos respeitada),<br />
em troca do pagamento de uma<br />
taxa fixa. A extração do ouro era<br />
proibida”. (Ibid., p. 83).<br />
8. Sylvio de Vasconcellos considerou<br />
a população do Arraial do<br />
Tijuco escassa durante o século<br />
18: “Enquanto a maioria das<br />
povoações mineiras se constituíra<br />
espontânea e livremente em<br />
torno do comércio interessado<br />
no abastecimento local, no Tejuco<br />
o Arraial se conteve, limitado<br />
por acidentes geográficos<br />
e pelo controle administrativo,<br />
dependendo do comércio de<br />
distribuição. [...] No Tejuco, [...] as<br />
oscilações da produção diamantífera<br />
pouco reflexo produziram<br />
na dinâmica urbana. [...] Contido<br />
por vários meios e modos, não<br />
se modificou muito o arraial em<br />
seu primeiro século. Só a partir<br />
de 1831, elevado a Vila <strong>Diamantina</strong>,<br />
é que adquiriu liberdade e<br />
autonomia indispensáveis ao<br />
seu progresso” (1975 apud FUR-<br />
TADO, 2008, p. 38).<br />
usjt • arq.urb • número 8 | segundo semestre de 2012<br />
A natureza de sítio de exploração e comercialização<br />
de diamantes, ao invés de acelerar o desenvolvimento<br />
do arraial, acabou interpondo<br />
obstáculos à sua elevação à condição de vila, na<br />
medida em que a uma maior autonomia em relação<br />
a Portugal poderia corresponder uma menor<br />
arrecadação de tributos. O aumento da cobiça,<br />
no entanto, foi acompanhado pelo incremento<br />
às restrições impostas pela Coroa portuguesa<br />
visando garantir, primeiro, o recolhimento dos<br />
tributos devidos e, segundo, a exploração direta<br />
dos diamantes em território brasileiro. O núcleo<br />
diamantino viveu, então, sob a égide de uma organização<br />
administrativa peculiar que resultou<br />
em uma configuração urbana também particular:<br />
De fato, a mineração de diamante determinou<br />
uma ordem administrativa especial para o território,<br />
com a Demarcação <strong>Diamantina</strong>, definida<br />
em 1731, que incluía o arraial do Tijuco e<br />
outros pequenos povoados. A organização administrativa<br />
com representação e atuação local<br />
foi estabelecida em 1734, com a criação da Intendência<br />
dos Diamantes, situada no Arraial do<br />
Tijuco. Dessa maneira, a política administrativa<br />
portuguesa estabeleceu os responsáveis diretos<br />
pelo cumprimento de suas ordens na área<br />
de Demarcação, que eram representados, principalmente,<br />
pelo Intendente e o Governador da<br />
Capitania.<br />
Assim, a Intendência foi atuando, durante longo<br />
período, conforme as variadas decisões da<br />
<strong>Cristiane</strong> <strong>Souza</strong> <strong>Gonçalves</strong> | <strong>Diamantina</strong>: breve relato de sua formação<br />
Metrópole, sobre a forma de extração e comercialização<br />
do diamante. Inicialmente, se<br />
utilizou a forma de contrato7 , determinada em<br />
1739, quando a exploração era monopólio particular.<br />
Depois foi instalada a Real Extração do<br />
Diamante, estabelecida de 1771 a 1845, com o<br />
monopólio régio, definido pelo Regimento Diamantino<br />
(PESTANA, 2001, p. 580).<br />
Sylvio de Vasconcellos (1975) e Aires da Mata<br />
Machado Filho (1980) defendem a tese de que<br />
os rigores da administração da Coroa portuguesa<br />
teriam influenciado o desenho do arraial do Tijuco,<br />
restringindo sua ampliação e moldando seu<br />
crescimento dentro de limites mais contidos8 .<br />
Essa ideia encontra eco em D’Assumpção (1995),<br />
segundo a qual a maneira encontrada para viabilizar<br />
a fiscalização com poucos soldados e para<br />
manter os moradores sob vigilância foi por meio<br />
da contenção da expansão do núcleo urbano,<br />
conforme atestaria o trecho da carta da Diretoria<br />
de Lisboa, dirigida à Junta <strong>Diamantina</strong>, em 13 de<br />
julho de 1789: “... nem finalmente consentirão na<br />
edificação de novas casas afastadas do meio da<br />
povoação, por serem as mais adequadas aos ladrões<br />
de diamantes e contrabandistas” (SANTOS,<br />
1976 apud D’ASSUMPÇÃO, 1995, p. 84).<br />
Segundo os estudos de Sylvio de Vasconcellos,<br />
<strong>Diamantina</strong> teria se originado da polarização de<br />
pequenos núcleos isolados, cuja confluência dos<br />
caminhos de ligação teria delimitado uma área<br />
triangular, com centro de gravidade no arraial do<br />
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