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INOVAÇÃO NA LINHA DE PRODUÇÃO DA EMBRAER: A ... - ITA

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<strong>INOVAÇÃO</strong> <strong>NA</strong> <strong>LINHA</strong> <strong>DE</strong> <strong>PRODUÇÃO</strong> <strong>DA</strong> <strong>EMBRAER</strong>: A MONTAGEM EM DOCA<br />

Aloísio André dos Santos (PG)* Lígia Maria Soto Urbina (PQ)**<br />

Instituto Tecnológico de Aeronáutica - <strong>ITA</strong>/CTA<br />

12228-901 São José dos Campos – SP<br />

* aloisio@mec.ita.br<br />

** ligia@mec.ita.br<br />

RESUMO<br />

Os tempos modernos têm sido caracterizados pelo rápido desenvolvimento de inovações<br />

tecnológicas e sua transferência para o setor produtivo. Estas novas tecnologias afetam<br />

diretamente o meio ambiente do trabalho, modificando a organização da produção e do<br />

trabalho. Como conseqüência, conforme os novos processos de produção são adotados<br />

aumentam as exigências na qualificação do trabalhador. Nos diferentes setores industriais,<br />

estas mudanças têm quebrado paradigmas estabelecidos e conceitos tradicionais, trazendo<br />

assim substanciais elevações da produtividade do trabalho. Nesse contexto, este trabalho<br />

pretende colaborar com a compreensão dos processos de modernização das empresas<br />

brasileiras, apresentando o caso de uma reestruturação da montagem final de aeronaves<br />

da <strong>EMBRAER</strong>.<br />

ABSTRACT<br />

Modern times have been characterized by the rapid development of technological<br />

innovations and its transfer to the productive sector. These new technologies affect directly<br />

the work environment, modifying the production and the labor organization. As a<br />

consequence, as new production processes are adopted increase the worker’s qualification<br />

requirements. In different industrial sectors, these changes have imposed the adoption of<br />

new rules of production, breaking established paradigms and traditional concepts, thus<br />

bringing a substantial increase in the labor productivity. In this context, this work intends<br />

to collaborate with the understanding of the processes of modernization of the Brazilian<br />

companies, presenting the case of the re-organization of the final assembly of aircraft of<br />

the <strong>EMBRAER</strong>.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

O mundo moderno impõe a adoção de tecnologias novas no setor produtivo, com o intuito de<br />

melhorar a produtividade do trabalho, reduzir custos, e elevar a competitividade das empresas,<br />

capacitando-as para concorrer em mercados globais marcados por concorrência muito acirrada.<br />

De fato, o progresso tecnológico, ocorrido com maior intensidade no final do século passado,<br />

modificou a estrutura organizacional e produtiva das empresas que precisavam adequar-se aos padrões de<br />

eficiência e competitividade dinâmicos, impostos pela liberalização dos fluxos comerciais mundiais.<br />

Nesse sentido, Gonçalves [1] chamava atenção para o progresso tecnológico que estava ocorrendo<br />

nas últimas décadas. Para ele: “o progresso foi de tal significância que se transformou num novo<br />

paradigma tecno-econômico, que incorpora novos processos de produção, novos produtos e novos<br />

conceitos-guia em termos de organização da produção”. Também, salienta Lacerda [2] que as


“transformações globais, de ordem tecnológica e/ou organizacional, têm provocado uma reestruturação<br />

global no setor industrial, interferindo significativamente nos padrões de competitividade em nível<br />

internacional”. [E ainda] “Ocorre uma verdadeira revolução tecnológica que criou um novo padrão de<br />

desenvolvimento, ancorado em novas formas de produção e administração”.<br />

Nessa direção apontam os comentários de Dahlman [3] sobre as crescentes indicações de que as<br />

novas tecnologias estão associadas a mudanças organizacionais nas empresas ou segmentos inovadores.<br />

Como por exemplo, observa-se o crescimento da adoção de novas formas de organização do trabalho<br />

baseadas em equipes de trabalho, trabalhadores polivalentes, com maior autonomia e hierarquias mais<br />

enxutas. Salienta-se ainda que algumas tecnologias modernas impõem modificações radicais na estrutura<br />

organizacional e produtiva, como a reengenharia, o sistema just in time, a tecnologia de grupo, novos<br />

arranjos físicos de produção e o sistema de gestão manufacturing resources planning. Algumas outras<br />

inovações, de natureza talvez mais freqüente, afetam processos e produtos de uma forma menos<br />

acentuada. Porém, o fator comum, em ambos casos, é a necessidade de mudanças na organização da<br />

produção e do trabalho.<br />

Este trabalho pretende colaborar com a compreensão dos processos de modernização das empresas<br />

brasileiras, apresentando uma modificação no processo produtivo que foi implantado na <strong>EMBRAER</strong>,<br />

especificamente na linha de produção, em decorrência da inovação na família de jatos. Destaca-se ainda<br />

que vários estudos foram ou estão sendo destinados ao assunto, porém como salienta Anderson [4], “as<br />

influências recíprocas da capacidade das empresas de inovar, absorver e utilizar a tecnologia estão se<br />

tornando cada vez mais complexas e exigentes”.<br />

2. A <strong>INOVAÇÃO</strong> TECNOLÓGICA<br />

A inadaptação às mudanças tecnológicas fazem com que muitas organizações fracassem. Harmon e<br />

Peterson [5] já chamavam a atenção para os fracassos em automações industriais e de sistemas de<br />

informação a partir de modelos complicados e às vezes inadequados de funcionamento.<br />

Para Sabato [6] a tecnologia é o conjunto ordenado de conhecimentos (científicos ou empíricos)<br />

utilizados na produção e na comercialização de bens e serviços. Segundo o autor toda alteração de uma<br />

tecnologia pode ser chamada de inovação tecnológica, ou simplesmente inovação.<br />

A inovação tecnológica tem sido uma componente importante do desenvolvimento de uma empresa<br />

no que se refere à competitividade. Empresas que investem na inovação tecnológica podem,<br />

eventualmente, lançar produtos novos antes dos concorrentes. Os efeitos ocasionados pela inovação<br />

tecnológica são observados na otimização dos processos de produção, que modificam a organização do<br />

trabalho, e reduzem os custos de produção, buscando maior qualidade e velocidade de entrega do produto.<br />

Estas mudanças são abordadas em A CAPACI<strong>DA</strong><strong>DE</strong>...[7], onde se comenta que "a indústria<br />

brasileira passou por um período de otimização da produtividade na década de 90, ocasionando "a<br />

diminuição dos prazos de produção” [e ainda] “uma otimização e uma busca da eficiência e<br />

produtividade".<br />

Nesse cenário de mudanças, as empresas se defrontam ainda com a decisão de gerar novas<br />

tecnologias ou compra-las no mercado. Para o caso de empresas que optam pelo desenvolvimento de<br />

inovações, Cabral [8] argumenta que o processo de inovação tecnológica nas empresas ocorre através do<br />

exame das diversas etapas de aprendizado, que envolve a importação de tecnologia, domínio da<br />

tecnologia, desempacotamento tecnológico (know-how), cópia de tecnologia importada, novas concepções<br />

tecnológicas, e exportação de tecnologia.<br />

Deixa-se claro porém que todo o processo de inovação é complexo e não apresenta uma forma<br />

linear, todas as etapas de uma inovação se interagem e a todo instante necessitam ser repensadas e<br />

redirecionadas conforme o mercado interno e externo.<br />

Um exemplo de inovação a ser destacado foi o lançamento, após ampla pesquisa de mercado, do<br />

ERJ-170, pela <strong>EMBRAER</strong>, que faz parte de uma nova família de jatos, que têm uma “configuração que<br />

oferece vantagens de redução de peso e melhor balanceamento, resultantes do posicionamento dos<br />

motores próximo ao centro de gravidade”. Alves [9].


O ERJ-170 pode ser considerado uma inovação tecnológica uma vez que se diferencia dos modelos<br />

até então utilizados pela <strong>EMBRAER</strong> em vários aspectos. Um deles é o aumento na capacidade de<br />

passageiros e motores instalados sob as asas. Esta inovação refletiu em impactos significativos em toda a<br />

empresa que teve que se ajustar ao novo tipo de aeronave tanto no sentido de produção de um número<br />

maior de peças que são comuns nas outras famílias, quanto no sentido de fabricação de peças maiores e<br />

outras novas que surgiram em decorrência do novo modelo.<br />

Inúmeras modificações no chão de fábrica da empresa poderiam ser destacadas, como mudanças de<br />

layout, fluxo de materiais, novos programas, treinamento da mão-de-obra, entre outros. No campo da<br />

produção, merece destaque a montagem em doca, que está sendo utilizada na montagem final da aeronave,<br />

descrita a seguir.<br />

3. MU<strong>DA</strong>NÇA <strong>DE</strong>VIDO À <strong>INOVAÇÃO</strong><br />

A afirmação de que toda mudança tecnológica tem impactos na organização da produção é<br />

ilustrada, a seguir, pela mudança na linha de montagem final da <strong>EMBRAER</strong>.<br />

A inovação tecnológica (ERJ-170) causou um impacto substancial na linha de produção de aeronaves da<br />

empresa e ocasionou uma reorganização de todos os setores da fábrica para atenderam a nova demanda<br />

(cadência).<br />

Focalizando a etapa de montagem final da aeronave, por exemplo, e direcionando os estudos<br />

especificamente para a linha de montagem, observou-se que as aeronaves até então fabricadas pela<br />

<strong>EMBRAER</strong> (135 140 145, entre outros), seguiam o sistema de montagem em linha, muito conhecido na<br />

indústria automobilística. O novo modelo porém, baseado em estudos da própria empresa, se adequava<br />

melhor a um novo tipo de montagem chamado de montagem em doca, onde a aeronave permanece<br />

estacionada no momento da montagem final.<br />

A Montagem em Linha (Figura 1) é o sistema de produção que se caracteriza pela movimentação do<br />

produto enquanto que a mão-de-obra permanece fixa no lugar de trabalho, durante as etapas do processo<br />

produtivo.<br />

P1 P2 P3 P N<br />

Mão de obra (fixa)<br />

Figura 1 – Representação esquemática da Montagem em Linha<br />

Já na Montagem em Doca (Figura 2), o sistema de produção se caracteriza por posição fixa do<br />

produto, enquanto que os vários times de trabalho que montam o avião durante as várias etapas do<br />

processo produtivo vão se aproximando conforme necessário. Esta forma de trabalho se denomina de<br />

volante.


PRODUTO<br />

Mão de obra (volante)<br />

Figura 2 – Representação esquemática da Montagem em Doca<br />

A Montagem em Doca acarretou mudanças significativas tanto na questão de organização da<br />

produção quanto na organização do trabalho, que se organiza em grupos de trabalho com maior autonomia<br />

de decisão. Assim, este modelo de trabalho requer que a empresa contrate trabalhadores mais qualificados,<br />

capazes de se adaptar às novas condições de trabalho.<br />

Esta restruturação produtiva traz consigo a flexibilização da produção, que propõe novos problemas<br />

organizacionais e de coordenação de atividades, dificultando a gestão. Portanto, a montagem em doca<br />

pode ser considerada mais complexa e aponta para diferentes direções, quando observada sob a ótica do<br />

trabalho e da organização da produção.<br />

Não há como definir se um conceito é melhor do que o outro, a aplicação de cada um deles passa a<br />

ser mais ou menos viável, em função das características do produto, do programa e das instalações. Na<br />

Montagem em Linha a movimentação do produto exige sincronização e ciclos de produção padrões ou<br />

similares. Os desvios do planejado (inversão de linha, reconfiguração) causam impacto nos ciclos<br />

praticados takt time da linha de produção. Também, este tipo de montagem não absorve mix de produção<br />

com ciclos diferentes.<br />

Na Montagem em Doca a gestão da produção requer maior controle, dificultando o gerenciamento e<br />

controle da produção, gerando a necessidade de sistemas que possibilitem uma gestão mais visual. Exigem<br />

uma logística de abastecimento à produção mais planejada e controlada e ainda há necessidade de<br />

duplicação de alguns ferramentais e ferramentas (gestão de recursos). Esta montagem ainda é<br />

caracterizada pelo trabalho em grupo, trabalhadores qualificados, treinados e com autonomia de decisão e<br />

ação, exigindo maior empenho e qualificação da mão-de-obra para adequar-se ao novo sistema.<br />

Se por um lado, a montagem de doca se mostrou uma melhor opção para a nova família de<br />

aeronaves, o conceito de montagem em linha continua sendo empregado pela empresa na montagem final<br />

das outras famílias de jatos, daí a dificuldade em definir qual conceito é melhor.<br />

4. CONCLUSÕES<br />

Conclui-se que a necessidade das empresas de estarem sempre inovando para se tornar competitivas<br />

em um mercado cada vez mais globalizado gera desafios em todos os setores da empresa. Uma inovação<br />

ou até mesmo uma melhoria em um processo de produção requer estudos diferenciados no sentido de<br />

reduzir ao máximo o lead time.<br />

A <strong>EMBRAER</strong>, com o lançamento de uma nova família de jatos, ao invés de continuar com uma<br />

linha de montagem apenas ( montagem em linha), implementou a montagem em doca, que melhor se<br />

adequou ao novo modelo.<br />

A migração para um novo tipo de montagem, que a princípio parece simples, acarretou mudanças<br />

significativas tanto na questão de organização da produção quanto na organização do trabalho, quando<br />

passou a exigir trabalhadores mais qualificados e autonomia nas decisões.<br />

A restruturação produtiva portanto pode ser considerada bastante complexa e aponta para diferentes<br />

direções quando observada sob a ótica do trabalho e da organização da produção. A flexibilização da


produção, os problemas organizacionais e de coordenação de atividades dificultam ainda mais a<br />

complexidade da gestão.<br />

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA<br />

[1] GONÇALVES, R. Abre Alas.: A Nova Inserção do Brasil na Economia Mundial. Rio de Janeiro:<br />

Relume-Dumará, 1994.<br />

[2] LACER<strong>DA</strong>, A.C.: O impacto da Globalização na Economia Brasileira. São Paulo: Contexto,<br />

2aEd.,1998.<br />

[3] <strong>DA</strong>HLMAN, C.: O desafio da Revolução do conhecimento para a indústria dos países em<br />

desenvolvimento. In: CASTRO, A.B. et al. O Futuro da Indústria no Brasil e no Mundo – os desafios<br />

do século XXI. Rio de Janeiro: Campus, 1999.<br />

[4] AN<strong>DE</strong>RSON, T.: Nova Política Industrial: objetivos, instrumentos e desempenho. In: CASTRO,<br />

A.B. et al. O Futuro da Indústria no Brasil e no Mundo – os desafios do século XXI. Rio de Janeiro:<br />

Campus, 1999.<br />

[5] HARMON, R.L.: PETERSON, L.D. Reinventando a Fábrica: Conceitos Modernos de Produtividade<br />

Aplicados na Prática. Rio de Janeiro: Campus, 1991.<br />

[6] SABATO, J.A.: El Comercio de Tecnologia. Departamento de Assuntos Científicos-Secretaria Geral<br />

da OEA, Washington, 1972.<br />

[7] A CAPACI<strong>DA</strong><strong>DE</strong> de inovação será diferencial no futuro. Pesquisa FAPESP, Suplemento Especial.<br />

Ed.54 - 01/05, 2001.<br />

[8] CABRAL, A. S.: Análise do Desempenho Tecnológico da Indústria Aeronáutica Brasileira. Tese<br />

(Doutorado):1987 - <strong>ITA</strong>, São José dos Campos.<br />

[9] ALVES, J.M.: Proposta de um Modelo Híbrido de Gestão da Produção: Aplicação na Indústria<br />

Aeronáutica. Tese (Doutorado) - Engenharia Mecânica (UNICAMP), Campinas, 2001.

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