Tese de Mestrado para publicar.pdf - Repositório Científico do ...
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UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA<br />
ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA<br />
CURSO DE MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA 2000/2002<br />
O PRESTADOR INFORMAL DE CUIDADOS À<br />
PESSOA IDOSA ALVO DE APOIO DOMICILIÁRIO<br />
INTEGRADO<br />
Uma Análise Exploratória como suporte à garantia<br />
da Efectivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Programa <strong>de</strong> Promoção da Saú<strong>de</strong><br />
Dissertação apresentada <strong>para</strong> obtenção <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> mestre<br />
Salete Ferreira<br />
Sob Orientação Científica <strong>do</strong> Sr. Professor Doutor<br />
Teo<strong>do</strong>ro Briz<br />
LISBOA<br />
Novembro <strong>de</strong> 2002
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA<br />
ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA<br />
CURSO DE MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA 2000/2002<br />
O PRESTADOR INFORMAL DE CUIDADOS À<br />
PESSOA IDOSA ALVO DE APOIO<br />
DOMICILIÁRIO INTEGRADO<br />
Uma Análise Exploratória como suporte à garantia<br />
da Efectivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Programa <strong>de</strong> Promoção da Saú<strong>de</strong><br />
Dissertação apresentada <strong>para</strong> obtenção <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> mestre<br />
Salete Ferreira<br />
Sob Orientação Científica <strong>do</strong> Sr. Professor Doutor<br />
Teo<strong>do</strong>ro Briz<br />
LISBOA<br />
Novembro <strong>de</strong> 2002<br />
2
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Dissertação elaborada <strong>para</strong> a obtenção <strong>do</strong> grau<br />
<strong>de</strong> mestre em Saú<strong>de</strong> Pública, a ser apresentada<br />
na Escola Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, da<br />
Universida<strong>de</strong> Nova <strong>de</strong> Lisboa, ao abrigo <strong>do</strong>s<br />
artigos 11º e 16º <strong>do</strong> Decreto-Lei N.º 216/92, <strong>de</strong><br />
13 <strong>de</strong> Outubro.<br />
3
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
DEDICATÓRIA<br />
Dedico este trabalho a to<strong>do</strong>s os meus entes<br />
queri<strong>do</strong>s, por to<strong>do</strong> o apoio incondicional e a<br />
coragem que me foram incutin<strong>do</strong> ao longo<br />
<strong>de</strong>ste percurso, <strong>para</strong> que pu<strong>de</strong>sse crescer<br />
pessoal e profissionalmente.<br />
A to<strong>do</strong>s Vós, que sabem quem são!<br />
4
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Agra<strong>de</strong>ço a to<strong>do</strong>s os que colaboraram, <strong>de</strong> forma directa ou<br />
indirecta, na realização <strong>de</strong>ste trabalho.<br />
Saliento, no entanto:<br />
- O Professor Doutor Teo<strong>do</strong>ro Briz;<br />
- O Professor João Barbosa;<br />
- O Concelho Administrativo da Sub-Região <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santarém, pela forma cordial como<br />
colaborarou no acesso ao espaço <strong>de</strong> investigação;<br />
- O meu namora<strong>do</strong>, Enfermeiro Paulo Guia;<br />
- To<strong>do</strong>s os Enfermeiros que se disponibilizaram a<br />
colaborar neste estu<strong>do</strong>;<br />
- To<strong>do</strong>s os presta<strong>do</strong>res informais que se<br />
disponibilizaram a participar neste estu<strong>do</strong>, uma<br />
vez que sem o seu contributo não seria possível a<br />
realização <strong>de</strong>ste trabalho;<br />
- Os colegas pela troca <strong>de</strong> experiências efectuada ao<br />
longo <strong>do</strong> percurso.<br />
5
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
“Não se ama porque se quer fazer o bem, ou<br />
ajudar, ou proteger alguém. Se assim agimos,<br />
estaremos a ver o próximo como simples objecto,<br />
e estaremos a ver-nos a nós mesmos como<br />
pessoas generosas e sábias. Isso nada tem a ver<br />
com amor. Amar é comungar com o outro...”<br />
Paulo Coelho<br />
6
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
CHAVE DE ABREVIATURAS<br />
cf. – confronte<br />
E1 – Entrevista um<br />
E2 – Entrevista <strong>do</strong>is<br />
E3 – Entrevista três<br />
f. – folha<br />
p. – página<br />
pp. – páginas<br />
% – percentagem<br />
‰ – permilagem<br />
CHAVE DE SIGLAS<br />
ADI – Apoio Domiciliário Integra<strong>do</strong><br />
DGS – Direcção Geral da Saú<strong>de</strong><br />
DR – Diário da República<br />
INE – Instituto Nacional <strong>de</strong> Estatística<br />
IUHPE – International Union for Health Promotion and Education<br />
OCDE – Organização <strong>de</strong> Cooperação e Desenvolvimento Económico<br />
OMS – Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
SSRS – Serviço Sub-Regional <strong>de</strong> Santarém<br />
UAI – Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Apoio Integra<strong>do</strong><br />
UE – União Europeia<br />
7
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
RESUMO<br />
O Processo <strong>de</strong> Investigação que se encontra <strong>de</strong>scrito neste relatório tem o<br />
objectivo <strong>de</strong> tornar inteligível o processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI. Desta forma, a problemática em estu<strong>do</strong> contém<br />
três gran<strong>de</strong>s dimensões:<br />
- a especificida<strong>de</strong> sócio-<strong>de</strong>mográfica da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio informal à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI;<br />
- a percepção <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais acerca <strong>do</strong> impacto e satisfação no<br />
cuida<strong>do</strong> à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI;<br />
- as etapas <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais<br />
enquanto sistemas activos no processo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong><br />
ADI.<br />
Trata-se <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> casos múltiplos, <strong>de</strong> carácter exploratório, suporta<strong>do</strong><br />
por uma abordagem <strong>de</strong> investigação mista, sem a existência <strong>de</strong> recessivida<strong>de</strong> e/ou<br />
<strong>do</strong>minância <strong>do</strong>s <strong>para</strong>digmas quantitativo e qualitativo no processo <strong>de</strong> investigação.<br />
Ten<strong>do</strong> os presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI como os<br />
sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, o trabalho <strong>de</strong> campo teve por base estratégias <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> âmbito<br />
quantitativo (questionário) e qualitativo (entrevista e observação), em que os da<strong>do</strong>s<br />
quantitativos foram alvo <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> redução estatística e os da<strong>do</strong>s qualitativos<br />
alvo <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>.<br />
Estrutura<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma à construção da teoria, este relatório encontra-se dividi<strong>do</strong><br />
em três partes, nomeadamente, a Parte A que, apresentan<strong>do</strong> uma perspectiva teórica <strong>do</strong><br />
cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente <strong>do</strong>miciliário, orienta a investigação e<br />
permite, assim, ir <strong>para</strong> além <strong>de</strong> um amontoa<strong>do</strong> pouco sistemático e arbitrário <strong>de</strong><br />
acontecimentos; a Parte B on<strong>de</strong> é caracterizada a problemática <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> e on<strong>de</strong> está<br />
<strong>de</strong>scrito e justifica<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> investigação, bem como, as opções meto<strong>do</strong>lógicas <strong>de</strong><br />
to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> construção e tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s; e a Parte C on<strong>de</strong>, ao atribuirmos<br />
significa<strong>do</strong>s aos da<strong>do</strong>s, numa fase <strong>de</strong> análise e discussão <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s em resposta às<br />
questões <strong>de</strong> investigação, são geradas conclusões e <strong>de</strong>finidas recomendações.<br />
Como principais conclusões <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong>, salientamos:<br />
8
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
- a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio informal é maioritariamente constituída por familiares da<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI que, por sua vez, são, pre<strong>do</strong>minantemente,<br />
esposas, também elas i<strong>do</strong>sas, que possuem como habilitações literárias o<br />
ensino básico primário completo e não <strong>de</strong>senvolvem nenhuma activida<strong>de</strong><br />
profissional;<br />
- a maioria <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong><br />
ADI referem a existência <strong>de</strong> impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, percepcionan<strong>do</strong> um<br />
nível médio <strong>de</strong> sobrecarga e/ou <strong>de</strong> interrupção no seu estilo vida, sen<strong>do</strong><br />
que, <strong>para</strong> a gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais, é muito difícil planear<br />
o futuro, quan<strong>do</strong> as necessida<strong>de</strong>s da pessoa i<strong>do</strong>sa são tão imprevisíveis, e<br />
a situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> à pessoa i<strong>do</strong>sa impossibilita bastante terem a<br />
privacida<strong>de</strong> que gostariam. No que se refere à satisfação em cuidar, a<br />
maioria <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais referem estar bastante satisfeitos com a<br />
prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s ao familiar i<strong>do</strong>so, sen<strong>do</strong> as principais causas <strong>de</strong>ssa<br />
satisfação o facto <strong>de</strong> gostarem muito <strong>de</strong> estar junto <strong>do</strong> mesmo, e sentirem<br />
muito apreço pelo cuida<strong>do</strong> que prestam.<br />
- o processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais é estrutura<strong>do</strong> por<br />
um conjunto <strong>de</strong> valores, condiciona<strong>do</strong> por <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e obtém<br />
resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le intrapessoal.<br />
Os valores que estão na base da construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r<br />
informal dizem respeito à conceptualização <strong>de</strong> si, da pessoa i<strong>do</strong>sa, e <strong>do</strong><br />
ambiente <strong>do</strong>miciliário enquanto espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s.<br />
Os <strong>de</strong>terminantes são <strong>de</strong> natureza fisiológica, psicológica, sócio-cultural e<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
9
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
ÍNDICE<br />
APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO 18<br />
PARTE A – O CUIDADO INFORMAL À PESSOA IDOSA EM AMBIENTE<br />
DOMICILIÁRIO: DA DIMENSÃO SOCIAL À EFECTIVIDADE<br />
EM PROMOÇÃO E PROTECÇÃO DA SAÚDE 21<br />
1 – POPULAÇÃO IDOSA, ANÁLISE E PERSPECTIVAS 22<br />
1.1 – O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO PORTUGUESA:<br />
DE PROCESSO DEMOGRÁFICO A PROBLEMA DE<br />
SAÚDE PÚBLICA 23<br />
1.2 – A RESPOSTA POLÍTICA FACE À PROBLEMÁTICA<br />
DO ENVELHICIMENTO DEMOGRÁFICO 33<br />
1.2.1 – A Intervenção Articulada <strong>do</strong> Apoio Social e <strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> Continua<strong>do</strong>s dirigi<strong>do</strong>s às pessoas em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência 35<br />
2 – O AMBIENTE DOMICILIÁRIO ENQUANTO ESPAÇO DE<br />
DESENVOLVIMENTO DO CUIDADO INFORMAL À<br />
PESSOA IDOSA 39<br />
3 – O PRESTADOR INFORMAL ENQUANTO SISTEMA ACTIVO NO<br />
PROCESSO DE CUIDADOS À PESSOA IDOSA EM AMBIENTE<br />
DOMICILIÁRIO 43<br />
4 – A PROBLEMÁTICA DA EFECTIVIDADE EM PROMOÇÃO<br />
E PROTECÇÃO DA SAÚDE 51<br />
4.1 – O EMPOWERMENT COMO DETERMINANTE DE EFECTIVIDADE<br />
DE PROGRAMAS DE PROMOÇÃO E PROTECÇÃO DA SAÚDE 54<br />
f.<br />
10
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
PARTE B – O ESTUDO DE CASO 62<br />
1 – O PROCESSO DE EMPOWERMENT DO PRESTADOR<br />
INFORMAL DE CUIDADOS À PESSOA IDOSA, ALVO DE ADI,<br />
COMO DETERMINANTE DE EFECTIVIDADE DA<br />
INTERVENÇÃO ARTICULADA DO APOIO SOCIAL E<br />
DOS CUIDADOS DE SAÚDE CONTINUADOS 63<br />
2 – O MODO DE INVESTIGAÇÃO NUMA SITUAÇÃO SOCIAL 70<br />
3 – PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DOS DADOS 74<br />
3.1 – FASE EXPLORATÓRIA 76<br />
3.2 – APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS 78<br />
3.2.1 – Estratégia <strong>de</strong> pesquisa quantitativa 79<br />
3.2.2 – Estratégia <strong>de</strong> pesquisa qualitativa 84<br />
4 – TRATAMENTO E APRESENTAÇÃO DOS DADOS 91<br />
4.1 – DADOS QUANTITATIVOS 91<br />
4.2 – DADOS QUALITATIVOS 107<br />
4.2.1 – D. Inês 109<br />
4.2.2 – D. Isabel 111<br />
4.2.3 – D. Leonor 113<br />
5 – LIMITAÇÕES DO ESTUDO 116<br />
PARTE C – OS PRESTADORES INFORMAIS DE CUIDADOS À PESSOA<br />
IDOSA ALVO DE APOIO DOMICILIÁRIO INTEGRADO 118<br />
1 – CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA DA REDE DE APOIO<br />
INFORMAL À PESSOA IDOSA ALVO DE ADI 119<br />
2 – O IMPACTO DO CUIDADO E A SATISFAÇÃO EM CUIDAR :<br />
A PERCEPÇÃO DOS PRESTADORES INFORMAIS DE CUIDADOS<br />
À PESSOA IDOSA ALVO DE ADI 124<br />
3 – O PROCESSO DE EMPOWERMENT DOS PRESTADORES<br />
INFORMAIS ENQUANTO SISTEMAS ACTIVOS NO PROCESSO<br />
DE CUIDADOS À PESSOAS IDOSA ALVO DE ADI 127<br />
f.<br />
11
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
3.1 – VALORES 128<br />
3.1.1 – Pessoa I<strong>do</strong>sa 129<br />
3.1.2 – Presta<strong>do</strong>r Informal 132<br />
3.1.3 – Ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s 134<br />
3.2 – DETERMINANTES 137<br />
3.2.1 – Fisiológica 137<br />
3.2.2 – Psicológica 141<br />
3.2.3 – Sócio-cultural 146<br />
3.2.4 – Desenvolvimento 149<br />
3.3 – RESULTADOS 155<br />
3.3.1 – Intrapessoal 155<br />
4 – CONCLUSÕES 157<br />
5 – RECOMENDAÇÕES 160<br />
BIBLIOGRAFIA 161<br />
ANEXOS 173<br />
ANEXO I – Escala <strong>de</strong> avaliação da autonomia/<strong>de</strong>pendência e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s à pessoa alvo da Intervenção Articulada <strong>de</strong> Apoio Social e<br />
<strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Continua<strong>do</strong>s 174<br />
ANEXO II – Guião da Entrevista Exploratória 175<br />
ANEXO III – Questionário 176<br />
ANEXO IV – Guião <strong>de</strong> Entrevista <strong>de</strong> Colheita <strong>de</strong> Da<strong>do</strong>s 177<br />
ANEXO V – Guião <strong>de</strong> Observação 178<br />
f.<br />
12
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
ÍNDICE DE FIGURAS<br />
Figura 1 – Pirâmi<strong>de</strong>s Etárias da população portuguesa referentes aos anos<br />
<strong>de</strong> 1960 e 1991 24<br />
Figura 2 – Pirâmi<strong>de</strong> Etária da população portuguesa referentes aos anos<br />
<strong>de</strong> 1960 e 1998 24<br />
Figura 3 – A avaliação <strong>do</strong> risco em saú<strong>de</strong> numa abordagem sistémica <strong>do</strong><br />
presta<strong>do</strong>r informal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa, em ambiente<br />
<strong>do</strong>miciliário 49<br />
Figura 4 – Avaliação da Efectivida<strong>de</strong> das Práticas Preventivas e <strong>de</strong> Promoção<br />
da Saú<strong>de</strong> 53<br />
Figura 5 – O Empowerment como <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> efectivida<strong>de</strong> das práticas<br />
preventivas e <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong> 57<br />
Figura 6 – Concelhos <strong>do</strong> Distrito <strong>de</strong> Santarém que integram a Intervenção<br />
Articulada <strong>de</strong> Apoio Social e <strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Continua<strong>do</strong>s<br />
dirigi<strong>do</strong>s às pessoas em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência 64<br />
Figura 7 – Esquema Interpretativo <strong>do</strong> Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em<br />
Ambiente Domiciliário 69<br />
Figura 8 – Convergência entre os Paradigmas Quantitativo e<br />
Qualitativo no Estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Casos Múltiplos Incorpora<strong>do</strong> 73<br />
Figura 9 – Desenho <strong>do</strong> Estu<strong>do</strong> 85<br />
Figura 10 – Conceptualização da Pessoa I<strong>do</strong>sa 132<br />
Figura 11 – Conceptualização <strong>do</strong> Presta<strong>do</strong>r Informal 134<br />
Figura 12 – Valores inerentes ao processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res<br />
informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI 136<br />
Figura 13 – Determinantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza fisiológica 140<br />
Figura 14 – Determinantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza psicológica 145<br />
Figura 15 – Determinantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza sócio-cultural 149<br />
Figura 16 – Determinantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento 153<br />
f.<br />
13
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Figura 17 – Determinantes <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
alvo <strong>de</strong> ADI 154<br />
f.<br />
14
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
ÍNDICE DE GRÁFICOS<br />
Gráfico 1 – Distribuição da população resi<strong>de</strong>nte em Portugal, no ano <strong>de</strong> 2001,<br />
segun<strong>do</strong> o grupo etário 25<br />
Gráfico 2 – Distribuição das Taxas <strong>de</strong> Natalida<strong>de</strong> e Mortalida<strong>de</strong> Geral,<br />
referentes à população portuguesa, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1990 a 1999 27<br />
Gráfico 3 – Distribuição da Esperança <strong>de</strong> Vida Média à Nascença, referente<br />
à população portuguesa, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1990 a 1999 27<br />
Gráfico 4 – Distribuição <strong>do</strong>s Índices <strong>de</strong> Dependência Total e <strong>do</strong>s I<strong>do</strong>sos, referentes<br />
à população portuguesa, nos anos <strong>de</strong> 1960, 1970, 1981, 1991, 1995,<br />
2000 e 2005 28<br />
Gráfico 5 – Distribuição das Famílias Clássicas portuguesas, segun<strong>do</strong> a existência<br />
e o número <strong>de</strong> pessoas i<strong>do</strong>sas, no ano <strong>de</strong> 1991 30<br />
Gráfico 6 – Distribuição <strong>do</strong>s sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> pelos Concelhos que integram<br />
o Serviço Sub-Regional <strong>de</strong> Santarém 83<br />
Gráfico 7 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o sexo e ida<strong>de</strong> 92<br />
Gráfico 8 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> civil 93<br />
Gráfico 9 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> civil, sexo<br />
e ida<strong>de</strong> 94<br />
Gráfico 10 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> as habilitações<br />
literárias 94<br />
Gráfico 11 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o grau <strong>de</strong> parentesco à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa 95<br />
Gráfico 12 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o grau <strong>de</strong> parentesco à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa, sexo e ida<strong>de</strong> 96<br />
Gráfico 13 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o grau <strong>de</strong> parentesco à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa e o esta<strong>do</strong> civil 97<br />
Gráfico 14 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o grau <strong>de</strong> parentesco à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa e as habilitações literárias 98<br />
Gráfico 15 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> a situação profissional<br />
e o grau <strong>de</strong> parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa 99<br />
Gráfico 16 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> a sua opinião<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> 99<br />
f.<br />
15
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Gráfico 17 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente à satisfação em cuidar 100<br />
Gráfico 18 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> e à satisfação em cuidar 101<br />
Gráfico 19 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> e os itens da Sub-escala <strong>do</strong><br />
impacto 102<br />
Gráfico 20 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente à satisfação <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>r e os itens da Sub-escala<br />
da satisfação 103<br />
Gráfico 21 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, à satisfação em cuidar e sexo 104<br />
Gráfico 22 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, à satisfação em cuidar e<br />
esta<strong>do</strong> civil 105<br />
Gráfico 23 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, à satisfação em cuidar e grau<br />
<strong>de</strong> parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa 106<br />
Gráfico 24 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, à satisfação em cuidar e<br />
situação profissional 107<br />
f.<br />
16
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
ÍNDICE DE QUADROS<br />
Quadro 1 – Características <strong>de</strong> quatro formas <strong>de</strong> Estar Presente 42<br />
Quadro 2 – Cronograma <strong>de</strong> reuniões promotoras <strong>do</strong> acesso ao espaço <strong>de</strong><br />
investigação 76<br />
Quadro 3 – Variáveis <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> e indica<strong>do</strong>res das variáveis focais 81<br />
Quadro 4 – Cronograma <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> campo <strong>para</strong> recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />
quantitativos 82<br />
Quadro 5 – O locus da observação 89<br />
Quadro 6 – Cronograma <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> campo <strong>para</strong> recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />
qualitativos 90<br />
Quadro 7 – Sistema <strong>de</strong> Categorias <strong>do</strong> Processo <strong>de</strong> Empowerment da D. Inês 109<br />
Quadro 8 – Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Registo mais significativas por Categorias <strong>do</strong> Processo<br />
<strong>de</strong> Empowerment da D. Inês 110<br />
Quadro 9 – Dimensões emergentes da observação participante 111<br />
Quadro 10 – Sistema <strong>de</strong> Categorias <strong>do</strong> Processo <strong>de</strong> Empowerment da D. Isabel 111<br />
Quadro 11 – Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Registo mais significativas por Categorias <strong>do</strong> Processo<br />
<strong>de</strong> Empowerment da D. Isabel 112<br />
Quadro 12 – Dimensões emergentes da observação participante 113<br />
Quadro 13 – Sistema <strong>de</strong> Categorias <strong>do</strong> Processo <strong>de</strong> Empowerment da D. Leonor 113<br />
Quadro 14 – Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Registo mais significativas por Categorias <strong>do</strong> Processo<br />
<strong>de</strong> Empowerment da D. Leonor 114<br />
Quadro 15 – Dimensões emergentes da observação participante 115<br />
Quadro 16 – Relação entre as dimensões e as categorias por área temática 128<br />
Quadro 17 – Relação entre a dimensão Pessoa I<strong>do</strong>sa e as categorias emergentes 129<br />
Quadro 18 – Relação entre a dimensão Presta<strong>do</strong>r Informal e as<br />
categorias emergentes 133<br />
Quadro 19 – Relação entre a dimensão Ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
e as categorias emergentes 134<br />
Quadro 20 – Relação entre a dimensão Fisiológica e as categorias emergentes 138<br />
Quadro 21 – Relação entre a dimensão Psicológica e as categorias emergentes 141<br />
f.<br />
17
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Quadro 22 – Relação entre a dimensão Sócio-cultural e as categorias emergentes 146<br />
Quadro 23 – Relação entre a dimensão Desenvolvimento e as categorias<br />
emergentes 149<br />
Quadro 24 – Relação entre a dimensão Intrapessoal e a categoria emergente 155<br />
f.<br />
18
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
APRESENTAÇÃO DA DISSERTAÇÃO<br />
As socieda<strong>de</strong>s contemporâneas estan<strong>do</strong>, mais <strong>do</strong> que nunca, <strong>de</strong>spertas <strong>para</strong> os<br />
graves problemas que germinam no seu seio, têm vin<strong>do</strong> a tomar consciência da<br />
existência <strong>do</strong> envelhecimento <strong>de</strong>mográfico que, não sen<strong>do</strong> um problema novo, é um<br />
problema com novas roupagens e novos contornos.<br />
De facto, o envelhecimento da população mundial é um fenómeno em relação ao<br />
qual mesmo países tecnicamente mais avança<strong>do</strong>s se procuram ainda adaptar. Viver<br />
muito tempo era um privilégio <strong>de</strong> um número relativamente restrito <strong>de</strong> pessoas até aos<br />
primeiros <strong>de</strong>cénios <strong>do</strong> Século XX, mas, actualmente, é acessível a um número cada vez<br />
maior <strong>de</strong> pessoas em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong> (Natário, 1992).<br />
Neste senti<strong>do</strong>, o envelhecimento progressivo da população mundial, associa<strong>do</strong> às<br />
modificações na socieda<strong>de</strong> actual – como a alteração <strong>do</strong>s padrões <strong>de</strong> vida e da estrutura<br />
e dinâmicas familiares – vem trazer aos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> novas problemáticas na<br />
área da Saú<strong>de</strong> Pública, que necessitam <strong>de</strong> uma análise e reflexão aprofundadas, no<br />
senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> encontrar as respostas mais a<strong>de</strong>quadas <strong>para</strong> as novas necessida<strong>de</strong>s, e que<br />
seguramente irão constituir um <strong>do</strong>s maiores <strong>de</strong>safios sociais e <strong>de</strong> políticas públicas <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>para</strong> este século (Cabete, 1999).<br />
Na base <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>safio encontra-se o défice <strong>de</strong> actuação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, que no nosso<br />
país, num contexto <strong>de</strong> crescente instabilida<strong>de</strong> social e <strong>de</strong> insuficiência <strong>de</strong> respostas<br />
credíveis e viáveis ao envelhecimento <strong>de</strong>mográfico, não assume os contornos <strong>de</strong> um<br />
verda<strong>de</strong>iro Esta<strong>do</strong>-Providência (Pimentel, 2001). Deste mo<strong>do</strong>, um Esta<strong>do</strong>-Providência<br />
fraco é parcialmente compensa<strong>do</strong> pela actuação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> suficientemente rica<br />
em relações <strong>de</strong> interconhecimento, reconhecimento mútuo e entreajuda baseada em<br />
laços <strong>de</strong> parentesco e <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>, através da qual os pequenos grupos sociais trocam<br />
entre si bens e serviços numa base não mercantil e com uma lógica <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong><br />
(Pimetel, 2001).<br />
Por conseguinte, a Socieda<strong>de</strong>-Providência <strong>de</strong>sempenha um papel muito<br />
importante, não somente como estrutura <strong>de</strong> apoio mas, sobretu<strong>do</strong>, porque fornece as<br />
ferramentas e a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> papéis socialmente essenciais e <strong>de</strong><br />
garantia da prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s às pessoas i<strong>do</strong>sas.<br />
19
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Assim, face ao actual <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> em processo <strong>de</strong> continua<strong>do</strong><br />
envelhecimento <strong>de</strong>mográfico, a temática relativa ao Cuida<strong>do</strong> Informal tem vin<strong>do</strong> a<br />
assumir particular importância e, por isso, o presente estu<strong>do</strong> aborda um aspecto<br />
específico em que se manifesta claramente a presença <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />
expressivas da vitalida<strong>de</strong> da Socieda<strong>de</strong>-Providência – o cuidar das pessoas i<strong>do</strong>sas em<br />
ambiente <strong>do</strong>miciliário.<br />
O interesse em tentar dimensionar a problemática <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal, enquanto<br />
agente <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente <strong>do</strong>miciliário, surgiu no exercício da<br />
minha prática profissional, quan<strong>do</strong>, como promotora <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da Sub-Região <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Santarém, me encontro integrada no contexto social e político da Intervenção<br />
Articulada <strong>de</strong> Apoio Social e <strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Continua<strong>do</strong>s dirigi<strong>do</strong>s às pessoas<br />
em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, como resposta ao envelhecimento <strong>de</strong>mográfico nacional.<br />
Neste contexto <strong>de</strong> interface entre a saú<strong>de</strong> e a acção social, on<strong>de</strong> o apoio<br />
<strong>do</strong>miciliário integra<strong>do</strong> é a resposta charneira e prioritária <strong>de</strong>sta intervenção, uma vez<br />
que preconiza o ambiente <strong>do</strong>miciliário como o espaço por excelência <strong>para</strong> o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, e valoriza o inegável papel <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal não po<strong>de</strong> ser<br />
entendi<strong>do</strong> como apazigua<strong>do</strong>r das nossas preocupações, enquanto profissionais, mas um<br />
estímulo à consciência <strong>do</strong> falso pressuposto <strong>de</strong> que os presta<strong>do</strong>res informais estão<br />
naturalmente habilita<strong>do</strong>s <strong>para</strong> <strong>de</strong>senvolverem o referi<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>.<br />
A par <strong>do</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio que é a capacitação <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais, encontra-<br />
-se o da efectivida<strong>de</strong> da Intervenção Articulada <strong>do</strong> Apoio Social e <strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> Continua<strong>do</strong>s e, por isso, ao <strong>de</strong>senvolvermos este estu<strong>do</strong>, preten<strong>de</strong>mos contribuir<br />
<strong>para</strong> a garantia da efectivida<strong>de</strong> da mesma ao tornarmos inteligível o processo <strong>de</strong><br />
empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> o presta<strong>do</strong>r informal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI<br />
como o foco <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> investigação, que <strong>de</strong> seguida iremos <strong>de</strong>screver,<br />
<strong>de</strong>finimos o problema a estudar como:<br />
“Como se caracteriza processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa, alvo <strong>de</strong> Apoio Domiciliário Integra<strong>do</strong>?”<br />
Importa referir que, não haven<strong>do</strong> nenhum conhecimento acerca <strong>de</strong>stes<br />
presta<strong>do</strong>res, ao nível <strong>do</strong> Serviço Sub-Regional <strong>de</strong> Santarém, <strong>para</strong> se caracterizar as<br />
etapas <strong>do</strong> respectivo processo <strong>de</strong> empowerment, foi fundamental caracterizar a<br />
especificida<strong>de</strong> sócio-<strong>de</strong>mográfica da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio informal à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI<br />
20
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
e <strong>de</strong>screver a percepção <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais acerca <strong>do</strong> impacto e satisfação no<br />
cuida<strong>do</strong> que <strong>de</strong>senvolvem. Desta forma, num processo <strong>de</strong> investigação que se preten<strong>de</strong><br />
com rigor científico, temos como intuito respon<strong>de</strong>r às questões <strong>de</strong> investigação:<br />
- Como se distribuem os presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, alvo <strong>de</strong> ADI, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com variáveis sócio-<br />
<strong>de</strong>mográficas ida<strong>de</strong>, sexo, esta<strong>do</strong> civil, habilitações literárias, grau <strong>de</strong><br />
parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa e situação profissional?<br />
- Qual a percepção <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa, alvo <strong>de</strong> ADI, acerca <strong>do</strong> impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> no seu estilo <strong>de</strong><br />
vida e da satisfação em cuidar?<br />
- Como é conceptualiza<strong>do</strong> pelos presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa, alvo <strong>de</strong> ADI, o seu processo <strong>de</strong> empowerment?<br />
É <strong>de</strong> salientar que a resposta a cada uma <strong>de</strong>stas questões, constitui-se como<br />
sen<strong>do</strong> um objectivo específico <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.<br />
Estrutura<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma à construção da teoria, procuramos com este relatório<br />
<strong>de</strong>screver os momentos <strong>de</strong> planeamento efectua<strong>do</strong>s, bem como a sua operacionalização,<br />
apresentan<strong>do</strong> o suporte teórico no qual foram mobilizadas as bases <strong>de</strong> sustentação e<br />
justificação <strong>do</strong> problema, assim como, a conceptualização <strong>do</strong>s termos utiliza<strong>do</strong>s.<br />
Por tu<strong>do</strong> isto, este relatório encontra-se dividi<strong>do</strong> em três partes, nomeadamente,<br />
a Parte A que, apresentan<strong>do</strong> uma perspectiva teórica <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
em ambiente <strong>do</strong>miciliário, com ênfase no fenómeno <strong>do</strong> envelhecimento <strong>de</strong>mográfico, no<br />
ambiente <strong>do</strong>miciliário como espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal, no<br />
presta<strong>do</strong>r informal como sistema activo no processo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa e na<br />
problemática da efectivida<strong>de</strong> em Promoção e Protecção da Saú<strong>de</strong>, orienta a investigação<br />
e permite, assim, ir <strong>para</strong> além <strong>de</strong> um amontoa<strong>do</strong> pouco sistemático e arbitrário <strong>de</strong><br />
acontecimentos. A Parte B on<strong>de</strong> é caracterizada a problemática <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> e on<strong>de</strong> está<br />
<strong>de</strong>scrito e justifica<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> investigação, bem como, as opções meto<strong>do</strong>lógicas <strong>de</strong><br />
to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> construção e tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s; e a Parte C on<strong>de</strong>, ao atribuirmos<br />
significa<strong>do</strong>s aos da<strong>do</strong>s, numa fase <strong>de</strong> análise e discussão <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s em resposta às<br />
questões <strong>de</strong> investigação, são geradas conclusões e <strong>de</strong>finidas recomendações.<br />
Gostaríamos <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar que to<strong>do</strong> este processo <strong>de</strong> investigação não foi<br />
estanque e, por isso, compreen<strong>de</strong>mos as suas diversas etapas enquanto circuitos <strong>de</strong><br />
retroacção e <strong>de</strong> interacção.<br />
21
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
PARTE A – O CUIDADO INFORMAL À PESSOA IDOSA EM AMBIENTE<br />
DOMICILIÁRIO: DA DIMENSÃO SOCIAL À EFECTIVIDADE<br />
EM PROMOÇÃO E PROTECÇÃO DA SAÚDE<br />
22
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
1 – POPULAÇÃO IDOSA, ANÁLISE E PERSPECTIVAS<br />
Ser i<strong>do</strong>so é ter muita ida<strong>de</strong><br />
Mas o que é que isso tem<br />
É ter paz e solidarieda<strong>de</strong><br />
É ser útil sempre a alguém.<br />
Mas já é velha a tradição<br />
Neste mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> esperanças<br />
Resta-nos a satisfação<br />
Sermos duas vezes crianças.<br />
(I<strong>do</strong>so Anónimo)<br />
Afinal, quem são os nossos i<strong>do</strong>sos? São os nossos pais, os nossos tios, os nossos<br />
avós... São pessoas que têm a ver connosco e, por isso, os seus interesses são os nossos<br />
interesses, as suas necessida<strong>de</strong>s são as nossas necessida<strong>de</strong>s e os seus problemas são os<br />
nossos problemas!!<br />
O conceito <strong>de</strong> Pessoa I<strong>do</strong>sa é um conceito complexo e dinâmico, difícil <strong>de</strong><br />
traduzir em algumas palavras, pois reflecte to<strong>do</strong> um conjunto <strong>de</strong> factores<br />
biopsicossociais. No entanto, o conceito <strong>de</strong> Pessoas I<strong>do</strong>sas, segui<strong>do</strong> neste estu<strong>do</strong>,<br />
reporta-se ao conjunto <strong>de</strong> indivíduos com 65 e mais anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, in<strong>do</strong> <strong>de</strong> encontro à<br />
<strong>de</strong>finição utilizada pelo Conselho da Europa e pela Organização <strong>de</strong> Cooperação e<br />
Desenvolvimento Económico (OCDE).<br />
O <strong>de</strong>bate e a análise em torno <strong>do</strong> envelhecimento e das respostas <strong>de</strong> apoio às<br />
pessoas i<strong>do</strong>sas, tem adquiri<strong>do</strong>, nos últimos anos, uma crescente actualida<strong>de</strong> e relevância.<br />
“POR UMA SOCIEDADE PARA TODAS AS IDADES” foi a expressão a<strong>do</strong>ptada como<br />
lema, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, quan<strong>do</strong> proclamou o ano <strong>de</strong> 1999<br />
como o Ano Internacional das Pessoas I<strong>do</strong>sas, através da resolução 47/5 <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong><br />
Outubro <strong>de</strong> 1992 e na linha <strong>do</strong> tema da Cimeira Mundial <strong>de</strong> Desenvolvimento Social,<br />
realizada em Copenhaga em 1995, “UMA SOCIEDADE PARA TODOS”.<br />
Este lema pressupõe a participação <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos na vida da comunida<strong>de</strong>, em todas<br />
as suas vertentes (económica, social, cultural e política), em comunhão com todas as<br />
outras gerações, dan<strong>do</strong> uma particular atenção aos seus espaços relacionais e garantin<strong>do</strong><br />
a continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s laços sociais e familiares.<br />
No entanto, junto à Igreja, costuma estar um pobre muito simpático... um i<strong>do</strong>so,<br />
que soube escolher estrategicamente o local on<strong>de</strong> se encontra, perto <strong>de</strong> um semáforo, e<br />
23
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
que, por vezes, nos faz <strong>para</strong>r. Perguntei-lhe uma vez: “Olhe lá, o Sr. não tem filhos?, ao<br />
que ele me respon<strong>de</strong>u: “Eu tenho, sim senhor, mas é como se não os tivesse.” Esta frase<br />
foi dita por ele, mas podia ser dita por muitos outros!!<br />
Também a saú<strong>de</strong> é uma preocupação <strong>de</strong> muitos i<strong>do</strong>sos... reforma<strong>do</strong>, com uma pensão<br />
baixíssima, o Sr. António, à porta <strong>de</strong> uma farmácia, rasga a receita por não ter dinheiro<br />
<strong>para</strong> pagar a sua parte.<br />
De facto, o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> inutilida<strong>de</strong>, a solidão, a falta <strong>de</strong> esperança são sentimentos<br />
<strong>de</strong> muitas pessoas i<strong>do</strong>sas e, com os quais, é muito difícil <strong>de</strong> lidar quan<strong>do</strong> a pessoa se<br />
sente um peso. O i<strong>do</strong>so não tem me<strong>do</strong> da morte mas, sim, da vida que, em cada manhã,<br />
lhe bate à porta.<br />
Neste contexto, é necessário que não sejam da<strong>do</strong>s apenas mais anos à vida mas,<br />
que seja, também, dada mais vida a esses anos conquista<strong>do</strong>s e, perante esta realida<strong>de</strong>,<br />
to<strong>do</strong>s temos responsabilida<strong>de</strong>s. É necessário menos Esta<strong>do</strong> e mais socieda<strong>de</strong> civil, ou<br />
seja, é necessário que cada um <strong>de</strong> nós, a comunida<strong>de</strong>, a família e os próprios i<strong>do</strong>sos, se<br />
envolvam na prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, utilizan<strong>do</strong> os recursos disponíveis que, por sua vez,<br />
<strong>de</strong>verão constituir uma re<strong>de</strong> cada vez mais diversificada e dinâmica.<br />
São estes alguns pressupostos e algumas preocupações que irão ser <strong>de</strong>scritos e<br />
analisa<strong>do</strong>s neste primeiro capítulo que enfatiza a população i<strong>do</strong>sa e a problemática <strong>do</strong><br />
envelhecimento <strong>de</strong>mográfico.<br />
1.1 – O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO PORTUGUESA: DE PROCESSO<br />
DEMOGRÁFICO A PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA<br />
Na actualida<strong>de</strong>, entre as inúmeras problemáticas confluentes, uma das mais<br />
preocupantes quer <strong>para</strong> a socieda<strong>de</strong> em geral, quer <strong>para</strong> os serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública em<br />
particular, é, sem dúvida, a <strong>do</strong> envelhecimento <strong>de</strong>mográfico.<br />
Desta realida<strong>de</strong>, tem emergi<strong>do</strong> uma análise contínua e aprofundada, em<br />
diferentes áreas científicas, promoven<strong>do</strong> uma melhor caracterização <strong>do</strong> envelhecimento,<br />
com a <strong>de</strong>terminação das suas causas e consequências, na tentativa <strong>de</strong> encontrar novas<br />
soluções e <strong>de</strong> prever a evolução futura <strong>de</strong>ste fenómeno (Fernan<strong>de</strong>s, 1997).<br />
Neste senti<strong>do</strong>, este subcapítulo tem por finalida<strong>de</strong> reunir alguma informação<br />
estatística, o mais actualizada possível, sobre a população i<strong>do</strong>sa em Portugal<br />
contribuin<strong>do</strong>, assim, <strong>para</strong> o traçar <strong>de</strong> um diagnóstico actual da situação, em termos<br />
<strong>de</strong>mográficos, e o esboçar <strong>de</strong> tendências <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a caracterizar as principais linhas <strong>de</strong><br />
24
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
evolução <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> envelhecimento. Na continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> exposto, é <strong>de</strong> frisar que a<br />
referida abordagem tem por base a repartição da população em três gran<strong>de</strong>s grupos<br />
etários: 0-14 anos (grupo <strong>do</strong>s jovens), 15-64 anos (grupo <strong>do</strong>s adultos ou em ida<strong>de</strong><br />
activa) e 65 e mais anos (grupo <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos). A <strong>de</strong>limitação nestes grupos etários, que,<br />
como qualquer outra, é sempre arbitrária e cuja respectiva terminologia é passível <strong>de</strong><br />
discussão, <strong>de</strong>ve-se ao facto <strong>de</strong> ser a mais usual entre os vários organismos<br />
internacionais e também a que melhor reflecte a cronologia <strong>do</strong>s movimentos <strong>de</strong> entrada<br />
e saída da vida activa, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o estabeleci<strong>do</strong> na lei portuguesa.<br />
Em trinta anos a população portuguesa conheceu uma modificação profunda no<br />
seu perfil etário, que se traduz por uma alteração da configuração geral da pirâmi<strong>de</strong><br />
etária. Esta, per<strong>de</strong>u a forma marcadamente triangular que apresentava em 1960,<br />
passan<strong>do</strong>, em 1991, a apresentar uma forma mais rectangular (Figura 1), que se mantém<br />
em 1998 (Figura 2).<br />
Pela análise das figuras 1 e 2, verifica-se que a <strong>de</strong>sfiguração da tradicional forma<br />
da pirâmi<strong>de</strong> etária, própria das socieda<strong>de</strong>s jovens, <strong>de</strong>ve-se a um duplo envelhecimento<br />
<strong>de</strong>mográfico, isto é, ao efeito conjuga<strong>do</strong> <strong>do</strong> aumento da importância relativa <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos<br />
(envelhecimento no topo – alargamento <strong>do</strong> topo) e da diminuição da importância<br />
relativa <strong>do</strong>s jovens (envelhecimento na base – estreitamento da base).<br />
Figura 1 – Pirâmi<strong>de</strong>s Etárias da população portuguesa referentes aos anos <strong>de</strong> 1960 e 1991<br />
Fonte: Rosa, O envelhecimento da População Portuguesa, 1996, p. 11<br />
Figura 2 – Pirâmi<strong>de</strong> Etária da população portuguesa referentes aos anos <strong>de</strong> 1960 e 1998<br />
Fonte: INE, As Gerações mais i<strong>do</strong>sas, 1999, p. 9<br />
25
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Nesta perspectiva, a população i<strong>do</strong>sa, tem-se vin<strong>do</strong> a aproximar, em valores<br />
absolutos e relativos, da população jovem. O grupo <strong>do</strong>s jovens, que em 1960<br />
representava 29,2% <strong>do</strong> total da população portuguesa, em 1998 diminuiu <strong>para</strong> 16,9%, e<br />
em 2001 representa apenas 16,0% <strong>do</strong> total da população. Simultaneamente, o grupo <strong>do</strong>s<br />
i<strong>do</strong>sos não parou <strong>de</strong> crescer e elevou-se <strong>de</strong> 8,0%, em 1960, <strong>para</strong> 15,2%, em 1998, e em<br />
2001 ultrapassou, pela primeira vez, a proporção <strong>do</strong>s jovens, fazen<strong>do</strong>-se representar por<br />
16,4% da população portuguesa (INE, 1999 e 2002).<br />
O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio existente entre a proporção <strong>de</strong> jovens e <strong>de</strong> pessoas i<strong>do</strong>sas<br />
encontra-se bem retrata<strong>do</strong> no Índice <strong>de</strong> Envelhecimento, que <strong>de</strong> 1981 <strong>para</strong> 2001,<br />
aumentou <strong>de</strong> 45 i<strong>do</strong>sos por 100 jovens, <strong>para</strong> 103 i<strong>do</strong>sos <strong>para</strong> 100 jovens (INE, 2002).<br />
Sen<strong>do</strong> bem visível a forte tendência <strong>de</strong> envelhecimento, os referi<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s vão<br />
<strong>de</strong> encontro à seguinte representação gráfica que traduz, em valores absolutos, o perfil<br />
<strong>de</strong>mográfico da população resi<strong>de</strong>nte em Portugal, no ano <strong>de</strong> 2001.<br />
Gráfico 1 – Distribuição da população resi<strong>de</strong>nte em Portugal, no ano <strong>de</strong> 2001, segun<strong>do</strong> o<br />
grupo etário<br />
Fonte: INE, Censos 2001: resulta<strong>do</strong>s provisórios, 2002, p.51<br />
Numa análise por NUTS II, verifica-se que o Alentejo, em relação ao total <strong>do</strong><br />
país, é a região com maior proporção <strong>de</strong> pessoas i<strong>do</strong>sas, (ten<strong>do</strong> aumenta<strong>do</strong> <strong>de</strong> 16,1%<br />
<strong>para</strong> 23,6%, entre 1981 e 2001), a segunda região, em 1981 e 1991, era o Algarve e, em<br />
2001, passou a ser o Centro, com 19,6%, fican<strong>do</strong> o Algarve, em terceiro, com 18,7%.<br />
Com maior proporção <strong>de</strong> jovens encontram-se as duas regiões autónomas que, têm<br />
alterna<strong>do</strong> <strong>de</strong> posição entre si, nos últimos vinte anos. De facto, em 2001, a Região<br />
Autónoma da Ma<strong>de</strong>ira viu diminuir a sua proporção <strong>para</strong> 19,2% e na Região Autónoma<br />
<strong>do</strong>s Açores o <strong>de</strong>clínio da proporção <strong>de</strong> jovens foi menos acentua<strong>do</strong>, tornan<strong>do</strong>-se, assim,<br />
26
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
esta última a região mais jovem com 21,4% <strong>de</strong> jovens no total da população. (INE,<br />
2002)<br />
No contexto da União Europeia, verifica-se que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das<br />
diferentes expressões nacionais e regionais, o fenómeno <strong>do</strong> envelhecimento<br />
<strong>de</strong>mográfico assume tendências convergentes que o dimensionam à escala europeia.<br />
Assim, em 1998, a média Europeia (Europa <strong>do</strong>s 15), no que se refere à proporção <strong>de</strong><br />
jovens, foi <strong>de</strong> 17,1%, constatan<strong>do</strong>-se ser um valor aproxima<strong>do</strong> ao <strong>de</strong> Portugal, sen<strong>do</strong>, no<br />
mesmo ano, a Irlanda o país mais jovem da UE com 22,7% <strong>de</strong> jovens no total da<br />
população. No mesmo marco temporal, o peso <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos na estrutura etária da<br />
população portuguesa também se aproximou ao da Europa <strong>do</strong>s 15 (15,9%), na qual<br />
também a proporção <strong>de</strong> pessoas i<strong>do</strong>sas tem vin<strong>do</strong>, contínua e sistematicamente, a<br />
aumentar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1960. Importa referir que a Itália foi, em 1998, o país mais envelheci<strong>do</strong><br />
da UE com 17,4% <strong>de</strong> i<strong>do</strong>sos no total da população. (EUROSTAT, 1999)<br />
No processo <strong>de</strong> envelhecimento <strong>de</strong>mográfico importa <strong>de</strong>screver e analisar,<br />
embora <strong>de</strong> forma resumida, o comportamento <strong>de</strong> algumas das variáveis<br />
micro<strong>de</strong>mográficas mais importantes, como é o caso das Taxas <strong>de</strong> Natalida<strong>de</strong> e<br />
Mortalida<strong>de</strong> Geral e a Esperança <strong>de</strong> Vida Média à Nascença.<br />
Tal como se po<strong>de</strong> observar no gráfico 2, as estruturas da natalida<strong>de</strong> e da<br />
mortalida<strong>de</strong> geral em Portugal têm regista<strong>do</strong>, ao longo <strong>do</strong> tempo, poucas alterações. É<br />
<strong>de</strong> referir que até 1995, ano que apresentou um valor mais baixo, ocorreu uma redução<br />
contínua na Taxa <strong>de</strong> Natalida<strong>de</strong>, passan<strong>do</strong> <strong>de</strong> 11,5‰, em 1990, <strong>para</strong> um valor <strong>de</strong><br />
10,8‰. No entanto, após este perío<strong>do</strong>, e até 1999, verificou-se um aumento contínuo da<br />
mesma, fazen<strong>do</strong> com que, nesse ano, apresentasse um valor <strong>de</strong> 11,6 ‰, apenas com<br />
uma diferença <strong>de</strong> 2 décimas em relação ao valor <strong>de</strong> 1990. Em complementarida<strong>de</strong>, a<br />
Taxa <strong>de</strong> Mortalida<strong>de</strong> Geral tem sofri<strong>do</strong> pequenas oscilações neste perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 9 anos<br />
registan<strong>do</strong>, em 1994, o valor mais baixo (10,0‰) e em 1996 e 1999 o valor mais alto<br />
(10,8‰). Em semelhança com a Taxa <strong>de</strong> Natalida<strong>de</strong>, a diferença <strong>de</strong> valores entre os<br />
<strong>do</strong>is limites <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> é pequena, ou seja, caracteriza-se apenas por um<br />
aumento <strong>de</strong> 4 décimas (10,4 ‰ <strong>para</strong> 10,8 ‰).<br />
Perante estes valores, importa referir que a quase manutenção <strong>do</strong>s níveis <strong>de</strong><br />
natalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> geral é suficiente <strong>para</strong> reforçar a importância relativa das<br />
pessoas i<strong>do</strong>sas e, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, acentuar os níveis <strong>de</strong> envelhecimento <strong>de</strong>mográfico da<br />
população, pois existe um significativo acréscimo na Esperança <strong>de</strong> Vida Média à<br />
Nascença (Rosa, 1996).<br />
27
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Gráfico 2 – Distribuição das Taxas <strong>de</strong> Natalida<strong>de</strong> e Mortalida<strong>de</strong> Geral, referentes à<br />
população portuguesa, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1990 a 1999.<br />
Fonte: INE, Estatísticas Demográficas, 1999, p.64<br />
Sen<strong>do</strong> assim, o aumento sem prece<strong>de</strong>ntes da Esperança <strong>de</strong> Vida Média à<br />
Nascença representa uma das fases fundamentais da transição <strong>de</strong>mográfica nacional.<br />
Tais argumentos encontram-se bem retrata<strong>do</strong>s no gráfico 3, a partir <strong>do</strong> qual se po<strong>de</strong><br />
observar que tem existi<strong>do</strong> uma subida gradual <strong>do</strong>s valores, sen<strong>do</strong> que em 1999<br />
(resulta<strong>do</strong> mais actualiza<strong>do</strong>), os portugueses possuíam uma Esperança <strong>de</strong> Vida Média à<br />
Nascença <strong>de</strong> 75 anos. É <strong>de</strong> salientar que este acréscimo da longevida<strong>de</strong>, é partilha<strong>do</strong><br />
pelos <strong>do</strong>is sexos e reflecte a melhoria nas condições <strong>de</strong> vida da população <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />
extensão e eficácia da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública na prevenção e controle <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças e na<br />
promoção da saú<strong>de</strong> (Perista, Baptista, Freitas e Perista, 1997).<br />
Gráfico 3 – Distribuição da Esperança <strong>de</strong> Vida Média à Nascença, referente à população<br />
portuguesa, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1990 a 1999<br />
Fonte: INE, Estatísticas Demográficas, 1999, p.64<br />
28
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Associa<strong>do</strong> ao fenómeno <strong>de</strong> envelhecimento, está o aumento da probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
ocorrência <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência física, psíquica e/ou social <strong>para</strong> as quais as<br />
respostas existentes não têm si<strong>do</strong> suficientes e, por vezes, ina<strong>de</strong>quadas (Bernar<strong>do</strong>,<br />
1993).<br />
Neste âmbito, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os resulta<strong>do</strong>s provisórios <strong>do</strong>s Censos 2001, o<br />
Índice <strong>de</strong> Dependência <strong>de</strong> I<strong>do</strong>sos (≥ 65 anos/15-64 anos), no ano 2001, foi <strong>de</strong> 24,3%, ou<br />
seja, existe uma relação <strong>de</strong> 24 i<strong>do</strong>sos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes por cada 100 indivíduos adultos (em<br />
ida<strong>de</strong> activa), reforçan<strong>do</strong> o já referi<strong>do</strong> <strong>de</strong>sequilíbrio etário. Manten<strong>do</strong> a mesma temática<br />
<strong>de</strong> análise mas, numa visão mais generalizada, há que ter em conta o valor <strong>do</strong> Índice <strong>de</strong><br />
Dependência Total ([0-14 + ≥ 65]/ 15-64) que avalia a proporção <strong>de</strong> indivíduos<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s socialmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes – jovens e i<strong>do</strong>sos, com o total <strong>de</strong> indivíduos<br />
adultos, em ida<strong>de</strong> activa. No ano <strong>de</strong> 2001, este índice apresentou um valor <strong>de</strong> 48,1%,<br />
isto é, existe uma relação <strong>de</strong> 48 indivíduos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes por cada 100 indivíduos adultos<br />
(INE, 2002).<br />
Numa perspectiva <strong>de</strong> evolução e projecção, po<strong>de</strong>-se observar, pelo gráfico 4, que<br />
ao longo <strong>do</strong>s anos a população i<strong>do</strong>sa tem apresenta<strong>do</strong> um crescimento contínuo, a um<br />
ritmo claramente superior ao da população activa e, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> às tendências gerais<br />
esboçadas, não nos surpreen<strong>de</strong> que em 2005, por cada 100 indivíduos em ida<strong>de</strong> activa,<br />
haja 24 i<strong>do</strong>sos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Relativamente ao Índice <strong>de</strong> Dependência Total, e ao<br />
contrário <strong>do</strong> que acontece com o primeiro índice, este regista oscilações com tendência<br />
<strong>para</strong> a quebra, o que resulta da menor representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes – os jovens. Aliás, a reforçada importância <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos, em relação aos<br />
jovens, dá origem a que estes se tornem o principal grupo etário <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. (Carrilho,<br />
1993)<br />
Gráfico 4 – Distribuição <strong>do</strong>s Índices <strong>de</strong> Dependência Total e <strong>do</strong>s I<strong>do</strong>sos, referentes à<br />
população portuguesa, nos anos <strong>de</strong> 1960, 1970, 1981, 1991, 1995, 2000 e 2005<br />
N.º <strong>de</strong> Indivíduos<br />
100<br />
80<br />
60<br />
40<br />
20<br />
0<br />
59<br />
13<br />
62<br />
16<br />
59<br />
51 48 49<br />
18 21 22 23<br />
1960 1970 1981 1991 1995 2000 2005<br />
Índice <strong>de</strong> Dependência Total<br />
Índice <strong>de</strong> Dependência <strong>do</strong>s I<strong>do</strong>sos<br />
50<br />
24<br />
29
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Fonte: Carrilho, O Processo <strong>de</strong> Envelhecimento em Portugal: Que Perspectivas...?, 1993, p. 86<br />
Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que o diagnóstico da situação, em termos <strong>de</strong>mográficos, está<br />
genericamente esboça<strong>do</strong> é importante que, neste percurso, se dê ênfase à dimensão <strong>do</strong><br />
processo <strong>de</strong>mográfico que se relaciona com o significa<strong>do</strong> particular <strong>do</strong> envelhecimento<br />
<strong>de</strong>mográfico no quadro da socieda<strong>de</strong> em que ele se manifesta.<br />
Nesta perspectiva, tal como foi <strong>de</strong>scrito e analisa<strong>do</strong> anteriormente, a socieda<strong>de</strong> é<br />
constituída por um conjunto <strong>de</strong> indivíduos jovens, adultos e i<strong>do</strong>sos que contribuem,<br />
cada um à sua maneira, <strong>para</strong> o seu crescimento. Por fazermos parte <strong>de</strong>sta socieda<strong>de</strong>,<br />
mantemos em relação a ela, e às pessoas que a compõem, muitas vezes<br />
inconscientemente, to<strong>do</strong> o tipo <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, valores e crenças. A velhice e as pessoas<br />
i<strong>do</strong>sas não escapam a esta situação.<br />
A gerontofobia, ou seja, o me<strong>do</strong> irracional <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> quanto se relaciona com o<br />
envelhecimento e com a velhice, parece ser um fenómeno social generaliza<strong>do</strong>. Dá<br />
origem a um bloqueio afectivo que provoca <strong>de</strong>sdém, apatia, indiferença e<br />
resistência/recusa face ao processo <strong>de</strong> envelhecimento (Berger, 1995).<br />
Mas a que se <strong>de</strong>ve esta atitu<strong>de</strong>?<br />
To<strong>do</strong>s os dias convivemos e recebemos em nossas casas relatos e experiências<br />
<strong>de</strong> pessoas i<strong>do</strong>sas que, ao caracterizarem as suas condições <strong>de</strong> vida, traduzem alguns<br />
<strong>do</strong>s contornos <strong>do</strong> envelhecimento da população portuguesa, que justificam o facto <strong>de</strong>ste<br />
se ter torna<strong>do</strong> um problema emergente em Saú<strong>de</strong> Pública.<br />
• Pessoas I<strong>do</strong>sas e Contexto Sócio-económico<br />
Aquan<strong>do</strong> da abordagem da pessoa i<strong>do</strong>sa, é fundamental caracterizar a sua<br />
estrutura e dinâmica familiar, uma vez que a problemática <strong>do</strong> envelhecimento<br />
<strong>de</strong>mográfico é evi<strong>de</strong>nciada, em gran<strong>de</strong> medida, pelas alterações profundas que se<br />
processaram ao nível da estrutura das relações familiares (Fernan<strong>de</strong>s, 1997). Deste<br />
mo<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> a mesma autora (1997), a velhice era um assunto <strong>do</strong> foro familiar, em<br />
que as trocas entre gerações, que se efectuavam no interior <strong>do</strong> grupo familiar, garantiam<br />
a resolução <strong>do</strong>s problemas <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong> envelhecimento, sen<strong>do</strong>, estes, problemas<br />
priva<strong>do</strong>s e individualiza<strong>do</strong>s.<br />
No entanto, a re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> papéis, a generalização <strong>do</strong> emprego feminino, os<br />
fluxos migratórios <strong>do</strong>s mais jovens (os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes), resultan<strong>do</strong> em situações <strong>de</strong><br />
afastamento geográfico, e a incompatibilida<strong>de</strong> entre trabalho e vida familiar, são<br />
30
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
algumas das características da família <strong>de</strong> hoje (Morais, 1999), que têm contribuí<strong>do</strong> <strong>para</strong><br />
o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>smoronamento das bases em que assentava o familismo tradicional e<br />
nas quais se ancoravam, até um passa<strong>do</strong> recente, to<strong>do</strong>s os suportes <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s às pessoas<br />
i<strong>do</strong>sas (Fernan<strong>de</strong>s, 1997).<br />
Neste senti<strong>do</strong>, apesar <strong>de</strong> que, segun<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Recenseamento Geral da<br />
População e Habitação, realiza<strong>do</strong> em 1991, 97,5% da população i<strong>do</strong>sa viva em famílias<br />
clássicas e não institucionais, verifica-se, pela observação <strong>do</strong> gráfico 5, que <strong>do</strong> total das<br />
famílias clássicas com pessoas i<strong>do</strong>sas (31%), 15% são famílias só com i<strong>do</strong>sos em que,<br />
<strong>de</strong>stas últimas, a maioria, ou seja, 51,4% correspon<strong>de</strong>m a famílias unipessoais <strong>de</strong><br />
i<strong>do</strong>sos, seguin<strong>do</strong>-se as famílias constituídas por <strong>do</strong>is i<strong>do</strong>sos (47,1%) e, por último, as<br />
famílias com três ou mais i<strong>do</strong>sos (1,5%). (INE, 1999)<br />
Gráfico 5 – Distribuição das Famílias Clássicas portuguesas, segun<strong>do</strong> a existência e o<br />
número <strong>de</strong> pessoas i<strong>do</strong>sas, no ano <strong>de</strong> 1991<br />
Fonte: INE, “As Gerações mais I<strong>do</strong>sas”, 1999, p.21<br />
Estes resulta<strong>do</strong>s tornam-se problemáticos pois, perante o crescimento contínuo<br />
<strong>do</strong> índice <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos, o que faz com que estes se tornem o principal<br />
grupo etário <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, traduzem reais situações <strong>de</strong> isolamento e solidão das pessoas<br />
i<strong>do</strong>sas, relativamente aos suportes familiares, quan<strong>do</strong> as “novas” dinâmicas familiares,<br />
induzidas pela urbanização e mo<strong>de</strong>rnização das socieda<strong>de</strong>s, dificultam ou inviabilizam o<br />
apoio aos seus ascen<strong>de</strong>ntes i<strong>do</strong>sos (Perista, Baptista, Freitas e Perista, 1997).<br />
Segun<strong>do</strong> os mesmos autores (1997), e complementan<strong>do</strong> a análise, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a<br />
que, na maioria <strong>do</strong>s casos, as pessoas i<strong>do</strong>sas fazem parte <strong>de</strong> um agrega<strong>do</strong> igualmente<br />
i<strong>do</strong>so, é <strong>de</strong> salientar a renovada importância que a problemática <strong>do</strong> isolamento e solidão<br />
das pessoas i<strong>do</strong>sas adquire quan<strong>do</strong> neste subgrupo da população, o fenómeno da<br />
dissolução familiar é essencialmente por morte <strong>do</strong> cônjuge. Reforçan<strong>do</strong> este da<strong>do</strong>, em<br />
1998, ocorreram 46 914 dissoluções familiares por morte <strong>do</strong> cônjuge, resultan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse<br />
31
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
facto 31 143 viúvos com 65 e mais anos, traduzi<strong>do</strong>-se numa taxa <strong>de</strong> viuvez, nesta<br />
subpopulação, <strong>de</strong> 20,6 por mil habitantes. (INE, 1999)<br />
Uma outra fonte <strong>de</strong> questões que suportam o envelhecimento <strong>de</strong>mográfico como<br />
um problema <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, quanto à afectação das condições <strong>de</strong> vida e <strong>do</strong>s apoios<br />
disponíveis <strong>para</strong> a população i<strong>do</strong>sa, passa pela caracterização das suas condições <strong>de</strong><br />
conforto. Relativamente ao alojamento, e <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Inquérito aos<br />
Orçamentos Familiares 1994/95, as pessoas i<strong>do</strong>sas vivem maioritariamente em<br />
moradias in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes (78,7%) cujo perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> construção foi anterior a 1946<br />
(48,8%). (INE, 1999)<br />
Segun<strong>do</strong> a mesmo autor (1995, cita<strong>do</strong> em INE, 1999), no que respeita às infra-<br />
estruturas básicas <strong>do</strong>s alojamentos, os resulta<strong>do</strong>s referentes aos agrega<strong>do</strong>s com pessoas<br />
i<strong>do</strong>sas reflectem piores condições, quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong><strong>do</strong>s com a população em geral.<br />
Desta forma, em 1995, 9,6% <strong>do</strong>s agrega<strong>do</strong>s com pessoas i<strong>do</strong>sas não possuíam água<br />
canalizada, 2,8% não possuíam electricida<strong>de</strong>, 11,3% não possuíam qualquer tipo <strong>de</strong><br />
instalações sanitárias e 11,8% não tinham qualquer ligação a um sistema <strong>de</strong> esgotos.<br />
Nos agrega<strong>do</strong>s constituí<strong>do</strong>s por uma pessoa i<strong>do</strong>sa a residir só, a situação é ainda mais<br />
grave, pois 2,8% <strong>do</strong>s agrega<strong>do</strong>s não possuíam cozinha, 15,1% não possuíam água<br />
canalizada, 4,6% não tinham electricida<strong>de</strong>, 18,3% e 18,6%, respectivamente, não<br />
dispunham <strong>de</strong> instalações sanitárias e <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> esgotos.<br />
Tais condições <strong>de</strong> conforto reflectem as dificulda<strong>de</strong>s económicas por que<br />
passam as pessoas i<strong>do</strong>sas. Assim, numa vertente económica, a situação das pessoas<br />
i<strong>do</strong>sas, face ao merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho, segun<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Inquérito ao Emprego,<br />
realiza<strong>do</strong> em 1998, é caracterizada pelo facto <strong>de</strong> 82,8% da população i<strong>do</strong>sa ser<br />
consi<strong>de</strong>rada inactiva, sen<strong>do</strong> a maioria reforma<strong>do</strong>s (80,9%) e <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>mésticos<br />
(13,4%). (INE, 1999)<br />
Para além disto, é <strong>de</strong> referir que nos diferentes tipos <strong>de</strong> agrega<strong>do</strong>s com i<strong>do</strong>sos, o<br />
valor da receita líquida média total, sen<strong>do</strong> cerca <strong>de</strong> 5310.2 € por adulto equivalente,<br />
seja inferior, em 42,6% ao verifica<strong>do</strong> nos agrega<strong>do</strong>s sem i<strong>do</strong>sos (7575.2 €) e em 25,3%<br />
à média nacional (6654.5 €).<br />
No que se refere à fonte das receitas, enquanto que nos agrega<strong>do</strong>s sem i<strong>do</strong>sos<br />
mais <strong>de</strong> <strong>do</strong>is terços <strong>do</strong> rendimento provinham <strong>de</strong> rendimentos <strong>do</strong> trabalho, nos<br />
agrega<strong>do</strong>s com i<strong>do</strong>sos as pensões foram a componente mais importante, representan<strong>do</strong><br />
quase meta<strong>de</strong> (45,6%) <strong>do</strong> total das receitas. (INE, 1995, cita<strong>do</strong> em INE, 1999)<br />
Também este facto surge <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfamilização das relações<br />
familiares, pois o encargo económico <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser da responsabilida<strong>de</strong> da<br />
32
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
esfera familiar privada, tornan<strong>do</strong>-se então pessoas i<strong>do</strong>sas sustentadas por sistemas <strong>de</strong><br />
reforma obrigatória, passan<strong>do</strong> a gozar <strong>de</strong> uma maior in<strong>de</strong>pendência face aos círculos <strong>de</strong><br />
parentesco e <strong>de</strong> uma maior <strong>de</strong>pendência face ao Esta<strong>do</strong> (Fernan<strong>de</strong>s, 1997).<br />
Relacionadas com as receitas, estão as <strong>de</strong>spesas médias por adulto equivalente.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, são os agrega<strong>do</strong>s com os menores níveis <strong>de</strong> receita líquida média que<br />
registaram os menores níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesa média. Sen<strong>do</strong> assim, a <strong>de</strong>spesa média <strong>do</strong>s<br />
agrega<strong>do</strong>s sem i<strong>do</strong>sos ultrapassou largamente o valor médio nacional em mais <strong>de</strong><br />
943.7€ por adulto equivalente, e nos agrega<strong>do</strong>s com i<strong>do</strong>sos verificou-se o inverso, isto<br />
é, registou-se uma <strong>de</strong>spesa média total por adulto equivalente <strong>de</strong> 4449.3€, menos<br />
1378.2€ que a média nacional. Quanto à estrutura das <strong>de</strong>spesas, verifica-se que a<br />
alimentação e a habitação absorvem mais <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> das <strong>de</strong>spesas <strong>do</strong>s agrega<strong>do</strong>s com<br />
i<strong>do</strong>sos, apresentan<strong>do</strong> valores <strong>de</strong> 27,8% e 23,8% <strong>do</strong> total das <strong>de</strong>spesas, respectivamente,<br />
e as <strong>de</strong>spesas com distracção e espectáculos são as <strong>de</strong> menor expressão (2,5%). (INE,<br />
1995, cita<strong>do</strong> em INE, 1999)<br />
Perante estes resulta<strong>do</strong>s, importa realçar que os estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s sobre a<br />
realida<strong>de</strong> portuguesa parecem ser unânimes na i<strong>de</strong>ntificação das pessoas i<strong>do</strong>sas como<br />
um <strong>do</strong>s grupos sociais mais vulneráveis a situações <strong>de</strong> pobreza <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sequilíbrio entre os rendimentos da população activa e os reforma<strong>do</strong>s. Desta forma, o<br />
envelhecimento e a passagem à reforma são, assim, sinónimo, <strong>para</strong> muitas pessoas<br />
i<strong>do</strong>sas, ou <strong>de</strong> uma persistência, frequentemente agravada, da situação <strong>de</strong> pobreza em<br />
que sempre viveram, ou <strong>de</strong> processos mais ou menos bruscos <strong>de</strong> empobrecimento<br />
(Perista et al, 1997).<br />
Assim, <strong>de</strong> uma maneira geral, a problemática que o envelhecimento<br />
populacional representa, po<strong>de</strong>rá ser analisada segun<strong>do</strong> <strong>de</strong>terminadas dimensões:<br />
- a necessida<strong>de</strong> crescente <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e assistência às pessoas<br />
i<strong>do</strong>sas;<br />
- a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos face à diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s das pessoas<br />
i<strong>do</strong>sas;<br />
- o relativo <strong>de</strong>clínio da população activa e envelhecimento da mão-<strong>de</strong>-obra;<br />
- a pressão sobre os regimes <strong>de</strong> pensão e sobre as finanças públicas<br />
provocada pelo número crescente <strong>de</strong> reforma<strong>do</strong>s e pela diminuição da<br />
população em ida<strong>de</strong> activa (INE, 1999).<br />
A presente <strong>de</strong>scrição e análise <strong>do</strong> envelhecimento <strong>de</strong>mográfico, não só no que se<br />
refere a conteú<strong>do</strong>s factuais, que caracterizam o seu processo, mas também quanto aos<br />
contextos <strong>de</strong> vivências e <strong>de</strong> suportes económicos, que o retratam como problema <strong>de</strong><br />
33
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Saú<strong>de</strong> Pública, leva-nos a perspectivar a crescente importância <strong>de</strong> um planeamento e<br />
implementação <strong>de</strong> políticas públicas que dêem resposta às diversas necessida<strong>de</strong>s da<br />
população i<strong>do</strong>sa.<br />
1.2 – A RESPOSTA POLÍTICA FACE À PROBLEMÁTICA DO<br />
ENVELHECIMENTO DEMOGRÁFICO<br />
No século XXI, constituin<strong>do</strong> as pessoas i<strong>do</strong>sas um grupo significativo da<br />
população, torna-se imperativo encontrar formas <strong>de</strong> compatibilizar o envelhecimento e a<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, com o objectivo <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s das pessoas i<strong>do</strong>sas,<br />
têm vin<strong>do</strong> a ser, gradualmente, implementadas políticas públicas <strong>de</strong> envelhecimento, no<br />
âmbito da Saú<strong>de</strong> Pública, que têm em consi<strong>de</strong>ração a heterogeneida<strong>de</strong> e as diversas<br />
vertentes <strong>do</strong> envelhecimento e respeitam vectores como a solidarieda<strong>de</strong>, o apoio à<br />
família e a inserção social (INE, 1999).<br />
Destaca-se, assim, uma política global, trans-sectorial, frequentemente <strong>de</strong>fendida<br />
nos <strong>de</strong>bates entre os Governos <strong>do</strong>s países que integram a OCDE e a UE, que visa<br />
<strong>de</strong>senvolver uma estratégia activa integrada, tanto no <strong>do</strong>mínio das políticas da<br />
população, como nos <strong>do</strong>mínios da acção social, <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e das políticas <strong>de</strong><br />
família (INE, 1999).<br />
Importa referir que, nesta abordagem, não interessan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>scrição específica e<br />
sectorial <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas políticas, iremos caracterizar globalmente alguns<br />
princípios essenciais numa verda<strong>de</strong>ira política pública <strong>de</strong> envelhecimento. Desta forma,<br />
toda a política <strong>de</strong>ve inserir-se num sistema <strong>de</strong> valores, <strong>de</strong> suporte ao seu<br />
<strong>de</strong>senvolvimento, como são:<br />
- o humanismo, um direito fundamental da dignida<strong>de</strong> da pessoa e, portanto<br />
também da pessoa i<strong>do</strong>sa, que traduz a aproximação à pessoa ten<strong>do</strong> em<br />
conta a sua globalida<strong>de</strong> e especificida<strong>de</strong>, respeitan<strong>do</strong>-a na sua dimensão<br />
biopsicossocial;<br />
- a subsidiarieda<strong>de</strong>, que implica a auto-responsabilização pelos actos e, por<br />
isso, a política não <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sresponsabilizar, isto é, impor medidas, nem<br />
substitui a pessoa nas suas escolhas e <strong>de</strong>veres;<br />
- a solidarieda<strong>de</strong>, que sen<strong>do</strong> complementar ao anterior, <strong>de</strong>ve com ele ser<br />
conjugada, pois o Esta<strong>do</strong> não <strong>de</strong>ve nem po<strong>de</strong> fazer tu<strong>do</strong>, mas sim, suscitar a<br />
34
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
solidarieda<strong>de</strong> e promovê-la na socieda<strong>de</strong> civil (como por exemplo o da<br />
solidarieda<strong>de</strong> intergeracional);<br />
- a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha face às ajudas, pois respeitar a pessoa e a sua<br />
autonomia implica que, na construção <strong>de</strong> uma política pública <strong>de</strong><br />
envelhecimento, haja uma intervenção integrada com diversas áreas e<br />
tipologias <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços/cuida<strong>do</strong>s, <strong>para</strong> ser possível uma livre<br />
escolha.<br />
- a participação das pessoas i<strong>do</strong>sas, que ten<strong>do</strong> o seu fundamento no princípio<br />
da responsabilida<strong>de</strong> e da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha, é um princípio fundamental<br />
na constituição da política como factor activa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> integração e inibi<strong>do</strong>r <strong>de</strong><br />
exclusão;<br />
- a avaliação, que é um princípio fundamental na prevenção <strong>de</strong> intervenções<br />
antagónicas e contra-produtivas (Ministério <strong>do</strong> Emprego e da Segurança<br />
Social, 1994).<br />
Perante a caracterização da problemática <strong>do</strong> envelhecimento e os princípios<br />
anteriormente menciona<strong>do</strong>s, segun<strong>do</strong> o INE (1999), gran<strong>de</strong> parte das soluções <strong>para</strong> o<br />
envelhecimento <strong>de</strong>mográfico, consistem numa série <strong>de</strong> medidas, tais como:<br />
- prevenir situações que conduzam à <strong>de</strong>gradação <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />
envelhecimento;<br />
- promover as condições favoráveis à integração sócio-familiar, económica e<br />
cultural das pessoas i<strong>do</strong>sas, evitan<strong>do</strong> a sua exclusão/marginalização;<br />
- fomentar a autonomia da pessoa i<strong>do</strong>sa, através da sua participação activa na<br />
comunida<strong>de</strong>;<br />
- reconhecer o valor <strong>do</strong> papel da pessoa i<strong>do</strong>sa na família;<br />
- re<strong>de</strong>scobrir o valor positivo das pessoas i<strong>do</strong>sas, <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> saberes,<br />
experiências e culturas que é necessário preservar;<br />
- apoiar os presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s às pessoas i<strong>do</strong>sas;<br />
- articular os serviços implica<strong>do</strong>s na resolução <strong>do</strong>s problemas das pessoas<br />
i<strong>do</strong>sas, em especial os da Saú<strong>de</strong> e Acção Social;<br />
- promover a solidarieda<strong>de</strong> entre gerações como regra básica da coesão<br />
social.<br />
Perante este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> intervenção, que suporta um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />
estratégias que têm si<strong>do</strong> implementadas como resposta política face à problemática <strong>do</strong><br />
envelhecimento <strong>de</strong>mográfico, iremos enfatizar a Intervenção Articulada <strong>do</strong> Apoio<br />
35
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Social e <strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Continua<strong>do</strong>s, dirigida às pessoas em situação <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pendência, uma vez que esta constitui o contexto político <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong>.<br />
1.2.1 – A Intervenção Articulada <strong>do</strong> Apoio Social e <strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
Continua<strong>do</strong>s dirigi<strong>do</strong>s às pessoas em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência<br />
Com as transformações <strong>de</strong>mográficas, sociais e familiares dá-se início a uma<br />
nova filosofia <strong>de</strong> intervenção <strong>do</strong>s vários parceiros envolvi<strong>do</strong>s na prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à<br />
pessoa em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência.<br />
Desta forma, a acção conjunta <strong>de</strong> apoio social e <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
continua<strong>do</strong>s, organizada a partir <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> intervenção articula<strong>do</strong> e integra<strong>do</strong>, é<br />
cada vez mais valorizada ao nível das Políticas e Estratégias Nacionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> salientar que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1998 que os Ministérios da Saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Trabalho e da<br />
Solidarieda<strong>de</strong> aprovaram, pelo Despacho Conjunto n.º 407 (DR, II Série, n.º 138, <strong>de</strong> 18<br />
<strong>de</strong> Junho), as orientações regula<strong>do</strong>ras da Intervenção Articulada <strong>do</strong> Apoio Social e <strong>do</strong>s<br />
Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Continua<strong>do</strong>s dirigi<strong>do</strong>s às Pessoas em Situação <strong>de</strong> Dependência.<br />
acção social<br />
O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> intervenção articulada <strong>de</strong> completa interface entre a saú<strong>de</strong> e a<br />
... tem como objectivo, fundamentalmente, promover a autonomia das pessoas em<br />
situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência e o reforço das capacida<strong>de</strong>s e competências das famílias<br />
<strong>para</strong> lidar com essas situações e, como lógica <strong>de</strong> intervenção, privilegiar a prestação<br />
<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s no <strong>do</strong>micílio, sem prejuízo da possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> recurso ao internamento<br />
em unida<strong>de</strong>s resi<strong>de</strong>nciais sempre que este se mostra necessário ao processo <strong>de</strong><br />
reabilitação com a promoção <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> autonomia que habilitem as pessoas a<br />
regressar ao seu <strong>do</strong>micílio (Ministérios da Saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Trabalho e da Solidarieda<strong>de</strong>,<br />
1998, p. 8328).<br />
Para além disto, e <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o mesmo <strong>de</strong>spacho (Ministérios da Saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong><br />
Trabalho e da Solidarieda<strong>de</strong>, 1998), importa referir que os grupos alvo <strong>de</strong>sta intervenção<br />
são as pessoas em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência física, mental ou social, transitória ou<br />
permanente, resultante ou agravada por isolamento geográfico, sequelas que <strong>de</strong>correm<br />
<strong>de</strong> <strong>do</strong>enças crónicas, situação <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença aguda, ausência ou perda <strong>de</strong> familiares, amigos<br />
ou vizinhos que prestavam apoio, <strong>de</strong>ficiência física ou mental e inexistência ou<br />
insuficiência <strong>de</strong> apoio diurno e/ou nocturno.<br />
Perante o objectivo e o grupo alvo menciona<strong>do</strong>s, as respostas às necessida<strong>de</strong>s<br />
<strong>do</strong>s utentes são diversas e caracterizam-se, pelo apoio social, pelos cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
36
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
continua<strong>do</strong>s e pelas respostas integradas, que englobam as duas áreas <strong>de</strong> intervenção<br />
anteriores.<br />
Sen<strong>do</strong> a interface entre saú<strong>de</strong> e acção social o suporte <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
Intervenção Comunitária, saliento as respostas integradas, que compreen<strong>de</strong>m o apoio<br />
<strong>do</strong>miciliário integra<strong>do</strong> (ADI) e a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio integra<strong>do</strong> (UAI), e que têm como<br />
objectivos,<br />
melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e promover a (...) inserção social e comunitária, bem<br />
como o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> valorização pessoal, favorecer e privilegiar<br />
a permanência no <strong>do</strong>micílio e no meio familiar e social, colaborar com as famílias,<br />
reforçan<strong>do</strong> as suas capacida<strong>de</strong>s e competências, conce<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-lhes o apoio necessário<br />
e o acesso a ajudas técnicas a<strong>de</strong>quadas, (...) e promover condições propicia<strong>do</strong>ras <strong>de</strong><br />
autonomia, estimulan<strong>do</strong> a participação <strong>do</strong>s próprios na resolução <strong>do</strong>s seus problemas<br />
(Ministérios da Saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Trabalho e da Solidarieda<strong>de</strong>, 1998, p. 8330).<br />
Segun<strong>do</strong> o referi<strong>do</strong> <strong>de</strong>spacho (Ministérios da Saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Trabalho e da<br />
Solidarieda<strong>de</strong>, 1998, p. 8330), a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio integra<strong>do</strong> é uma estrutura<br />
diferenciada das instituições <strong>de</strong>signadas por Lar “... com capacida<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong> 30<br />
utentes, que visa prestar cuida<strong>do</strong>s temporários, globais e integra<strong>do</strong>s a pessoas que, por<br />
motivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, não po<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a avaliação da equipa <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
integra<strong>do</strong>s, manter-se apoia<strong>do</strong>s no seu <strong>do</strong>micílio, mas que não carecem <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
clínicos em internamento hospitalar”. Assim, o objectivo prioritário <strong>de</strong>sta unida<strong>de</strong> “... é<br />
o <strong>de</strong> criar condições <strong>de</strong> autonomia às pessoas por forma a habilitá-las a regressar ao seu<br />
<strong>do</strong>micílio ou ambiente sócio-familiar, ainda que necessitan<strong>do</strong> <strong>de</strong> apoio <strong>do</strong>miciliário<br />
integra<strong>do</strong>” (Ministérios da Saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Trabalho e da Solidarieda<strong>de</strong>, 1998, p. 8330).<br />
No que diz respeito ao apoio <strong>do</strong>miciliário integra<strong>do</strong>, este é perspectiva<strong>do</strong>, pelos<br />
referi<strong>do</strong>s Ministérios (1998), como a resposta charneira e prioritária <strong>de</strong>sta intervenção, e<br />
consiste “... num conjunto <strong>de</strong> acções e cuida<strong>do</strong>s pluridisciplinares flexíveis,<br />
abrangentes, acessíveis e articula<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> apoio social e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a prestar no<br />
<strong>do</strong>micílio”. A partir <strong>de</strong>ste conceito, preconiza-se que o apoio <strong>do</strong>miciliário integra<strong>do</strong> se<br />
encontre organiza<strong>do</strong> como um serviço <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s humaniza<strong>do</strong>s, que<br />
assegura, cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> continua<strong>do</strong>s <strong>de</strong> enfermagem e médicos, <strong>de</strong> âmbito<br />
preventivo, curativo e <strong>de</strong> reabilitação, e apoio social numa abordagem psicossocial e<br />
numa vertente ocupacional prestan<strong>do</strong> pequenos serviços no exterior, tais como compras,<br />
marcação <strong>de</strong> consultas, ou outros <strong>de</strong> natureza indispensável.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, envolven<strong>do</strong> as famílias e outros presta<strong>do</strong>res informais,<br />
<strong>de</strong>signadamente vizinhos, amigos e/ou voluntários, e centradas na promoção <strong>do</strong> auto-<br />
cuida<strong>do</strong>, ambas as respostas integradas <strong>de</strong>vem assegurar o apoio aos familiares com<br />
pessoas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes a seu cargo, incluin<strong>do</strong> o ensino e o treino na prestação <strong>do</strong>s<br />
37
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
cuida<strong>do</strong>s e promover a colaboração <strong>do</strong>s mesmos e <strong>de</strong> outros presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s (Ministérios da Saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Trabalho e da Solidarieda<strong>de</strong>, 1998).<br />
Importa referir que a já mencionada equipa <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>s é<br />
multidisciplinar, integran<strong>do</strong> elementos da área da saú<strong>de</strong> e da acção social com formação<br />
nas áreas <strong>de</strong> geriatria e gerontologia, sem prejuízo <strong>de</strong> outras competências específicas<br />
<strong>para</strong> lidar com as situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, sen<strong>do</strong> responsável pela análise sócio-<br />
familiar, i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência (Anexo I), necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s a<br />
prestar e sua periodicida<strong>de</strong> (Ministérios da Saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Trabalho e da Solidarieda<strong>de</strong>,<br />
1998).<br />
Perante esta caracterização, torna-se evi<strong>de</strong>nte que os cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong>miciliários são<br />
uma das peças fundamentais em que assenta a política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e da acção social. Para<br />
além disto, a transição <strong>para</strong> um cuidar centra<strong>do</strong> na comunida<strong>de</strong> aumentou a consciência<br />
acerca da importância e da abrangência da prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais na<br />
manutenção <strong>do</strong>s i<strong>do</strong>sos no seu <strong>do</strong>micílio, que <strong>de</strong> outra forma estariam<br />
institucionaliza<strong>do</strong>s. Deste mo<strong>do</strong>, estes presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, ou <strong>de</strong> uma forma mais<br />
global, o cuida<strong>do</strong> informal, tem vin<strong>do</strong> a ser cada vez mais valoriza<strong>do</strong> ao nível das<br />
políticas nacionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, in<strong>do</strong> <strong>de</strong> encontro ao que refere Mailloux-Poirier (1995),<br />
isto é, que não se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong> manutenção das pessoas i<strong>do</strong>sas no <strong>do</strong>micílio sem fazer<br />
referência à re<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte informal, ou seja, a todas as pessoas que permitem às<br />
pessoas i<strong>do</strong>sas, em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, continuarem a viver no seu meio.<br />
Assim, perante este contexto social e político, Gil (1998) reforça que o conceito<br />
<strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio à pessoa i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ve assumir duas dimensões, a re<strong>de</strong><br />
informal (família, amigos e vizinhança) e a re<strong>de</strong> formal (organizações públicas ou<br />
privadas com estruturas profissionalizadas), sen<strong>do</strong> necessário que estas sejam<br />
privilegiadas em conjunto, e <strong>de</strong> forma integrada, numa lógica <strong>de</strong> complementarida<strong>de</strong>.<br />
Vários autores têm-se <strong>de</strong>bruça<strong>do</strong> sobre a relação entre as re<strong>de</strong>s formais e<br />
informais. A teoria das tarefas específicas ou teoria das funções partilhadas <strong>de</strong> Litwak<br />
(1985, cita<strong>do</strong> em Gil, 1998) aborda a complementarida<strong>de</strong> das duas re<strong>de</strong>s em termos <strong>de</strong><br />
tarefas partilhadas, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> pressuposto <strong>de</strong> que as tarefas <strong>de</strong>sempenhadas pelos <strong>do</strong>is<br />
tipos <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s são <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da estrutura <strong>de</strong> cada grupo, isto é, enquanto que nas<br />
re<strong>de</strong>s informais, os cuida<strong>do</strong>s não requerem conhecimentos técnicos, nas re<strong>de</strong>s formais<br />
<strong>de</strong>sempenham-se funções que necessitam <strong>de</strong> um conhecimento técnico, especializa<strong>do</strong>,<br />
profissional. Assim, apesar da sua estrutura oposta, Litwak reconhece que ambas são<br />
complementares e inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e po<strong>de</strong>m coor<strong>de</strong>nar esforços no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> manter a<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa no <strong>do</strong>micílio.<br />
38
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
A teoria <strong>de</strong> Cantor (1992, cita<strong>do</strong> em Gil, 1998) ou mo<strong>de</strong>lo hierárquico e<br />
compensatório <strong>de</strong> Cantor constitui uma abordagem holística e ecológica ao propor um<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> suporte à pessoa i<strong>do</strong>sa em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência. Tal suporte é<br />
regi<strong>do</strong> por uma lógica preferencial assente num processo or<strong>de</strong>na<strong>do</strong> e numa selecção<br />
hierárquica compensatória, ou seja, a re<strong>de</strong> informal é o recurso a que a pessoa i<strong>do</strong>sa se<br />
socorre com mais frequência, mas quan<strong>do</strong> os elementos da re<strong>de</strong> informal são<br />
inexistentes, indisponíveis, pela escassez <strong>de</strong> tempo, problemas económicos ou<br />
incapacida<strong>de</strong> em respon<strong>de</strong>r, a pessoa i<strong>do</strong>sa e as famílias solicitam o apoio <strong>do</strong>s serviços<br />
formais, sen<strong>do</strong> estes o último recurso. Segun<strong>do</strong> Gil (1998), o que está na base <strong>de</strong>ste<br />
mo<strong>de</strong>lo compensatório é a maior necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais e os<br />
níveis mais eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> da pessoa i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e, por isso, à medida<br />
que os graus <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> da pessoa i<strong>do</strong>sa aumentam, maior é a intervenção <strong>do</strong>s<br />
serviços formais e menor é a participação das re<strong>de</strong>s informais.<br />
39
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
2 – O AMBIENTE DOMICILIÁRIO ENQUANTO ESPAÇO DE<br />
DESENVOLVIMENTO DO CUIDADO INFORMAL À PESSOA IDOSA<br />
De acor<strong>do</strong> com a análise, e consequente preocupação, sobre as repercussões <strong>do</strong><br />
envelhecimento <strong>de</strong>mográfico, o cuida<strong>do</strong> informal em ambiente <strong>do</strong>miciliário adquire<br />
uma crescente importância no apoio às pessoas i<strong>do</strong>sas em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência,<br />
como complemento da acção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> que cerca <strong>de</strong> 80% <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s<br />
dispensa<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa são <strong>de</strong> carácter informal, pelo que este trabalho <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
Comunitária é tão valorizável como aquele que é <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelos técnicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
(Ministérios da Saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Trabalho e da Solidarieda<strong>de</strong>, 1998).<br />
Prece<strong>de</strong>nte ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta temática, encontra-se a <strong>de</strong>finição <strong>do</strong><br />
conceito <strong>de</strong> Cuida<strong>do</strong> Informal que, neste estu<strong>do</strong>, é entendi<strong>do</strong> como o cuida<strong>do</strong> não<br />
remunera<strong>do</strong>, presta<strong>do</strong>, <strong>de</strong> forma parcial ou integral, à pessoa i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte por<br />
pessoas não pertencentes à re<strong>de</strong> informal.<br />
Na continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> exposto, a valorização <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal em ambiente<br />
<strong>do</strong>miciliário caracteriza-se pelo seu importante papel enquanto agente económico,<br />
<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua componente <strong>de</strong> gratuitida<strong>de</strong> da prestação e <strong>do</strong> ambiente <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, face<br />
ao perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> restrição orçamental e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s poupanças nas <strong>de</strong>spesas públicas em<br />
que nos encontramos. No entanto, esta não é a única razão, pois o ser humano, durante a<br />
sua existência, ocupa vários espaços que influenciam a sua maneira <strong>de</strong> estar no mun<strong>do</strong> e<br />
as formas <strong>de</strong> relacionamento com as pessoas e, por isso, <strong>para</strong> muitas pessoas i<strong>do</strong>sas o<br />
<strong>do</strong>micílio, a família, os amigos e a vizinhança, ou melhor, o conheci<strong>do</strong>, acaba por ser<br />
tu<strong>do</strong> o que possuem. Logo, tal como está preconiza<strong>do</strong> que aconteça no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal em ambiente <strong>do</strong>miciliário, é importante enfatizar os laços que a<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa estabelece com o espaço, com os objectos e com as pessoas, como factores<br />
<strong>de</strong> garantia <strong>para</strong> a manutenção da sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>do</strong> seu equilíbrio, ou seja, da sua<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida (Carletti & Rejani, 1999).<br />
Nesta perspectiva, o cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente <strong>do</strong>miciliário<br />
traduz-se num processo complexo <strong>de</strong> interacção pessoal que pressupõe uma co-<br />
-participação <strong>de</strong> experiências entre a pessoa i<strong>do</strong>sa e o presta<strong>do</strong>r informal e um esforço<br />
comum em conhecer a realida<strong>de</strong> que se procura mudar (Carletti & Rejani, 1999).<br />
40
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Focalizan<strong>do</strong>-nos na interacção que se estabelece entre a pessoas i<strong>do</strong>sa e o<br />
presta<strong>do</strong>r informal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, em ambiente <strong>do</strong>miciliário, po<strong>de</strong>mos encarar o cuida<strong>do</strong><br />
informal, naquilo que Collière (1999) preconiza como o care, isto é, como sen<strong>do</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> sustento e manutenção da vida. Segun<strong>do</strong> a mesma autora (1999, p. 237), o<br />
“care representa to<strong>do</strong>s esses cuida<strong>do</strong>s permanentes e quotidianos que não têm outra<br />
função <strong>para</strong> além <strong>de</strong> sustentar a vida, reabastecen<strong>do</strong>-a em energia, seja <strong>de</strong> natureza<br />
alimentar, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> água (...), calor, luz, ou <strong>de</strong> natureza afectiva, psicossocial<br />
(...) cada um <strong>de</strong>stes aspectos interferin<strong>do</strong> entre si”.<br />
Hesbeen (2000, p. 64) refere-se ao care como a vertente <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> que “... põe a<br />
tónica no que é essencial, ou seja, na relação entre duas pessoas, uma presta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s e a outra beneficiária <strong>de</strong>sses mesmos cuida<strong>do</strong>s. É esta relação que vai permitir<br />
esperar um resulta<strong>do</strong> terapêutico entendi<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> «contribuir <strong>para</strong> o bem-estar»<br />
e não no senti<strong>do</strong> restritivo <strong>de</strong> curar ou <strong>de</strong> tratar”.<br />
No cuida<strong>do</strong> informal, como em to<strong>do</strong>s os processos <strong>de</strong> interacção, o ambiente<br />
envolvente ao cuida<strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenha um papel prepon<strong>de</strong>rante, uma vez que, como refere<br />
Neuman (1995, citada em George, 2000), consiste num conjunto <strong>de</strong> factores ou<br />
influências internas e externas que circundam a pessoa enquanto sistema, enquanto um<br />
to<strong>do</strong>, e a influência da pessoa sobre o ambiente e <strong>do</strong> ambiente sobre a pessoa po<strong>de</strong> ser<br />
positiva ou negativa a qualquer momento.<br />
Po<strong>de</strong>-se assim dizer que este conceito geral <strong>de</strong> ambiente implica, segun<strong>do</strong><br />
Neuman (1995, citada em George, 2000), o aparecimento <strong>de</strong> conceitos específicos como<br />
os <strong>de</strong> ambiente interno, ambiente externo e ambiente cria<strong>do</strong>. Consi<strong>de</strong>ra-se que o<br />
ambiente interno existe <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> sistema pessoa e é constituí<strong>do</strong> por todas as forças e<br />
influências em interacção que estão unicamente <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s limites <strong>de</strong>sse sistema. O<br />
ambiente externo é aquele que existe fora <strong>do</strong> sistema pessoa, sen<strong>do</strong> constituí<strong>do</strong> por<br />
todas as forças e influências que estão fora <strong>do</strong>s limites <strong>de</strong>sse sistema. O terceiro tipo <strong>de</strong><br />
ambiente, i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> por Neuman, é <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pela pessoa e é simbólico da<br />
totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> sistema, representan<strong>do</strong> a troca <strong>de</strong> energia <strong>do</strong> sistema aberto tanto com o<br />
ambiente interno quanto com o externo.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, enfatizan<strong>do</strong> o ambiente <strong>do</strong>miciliário como o principal contexto da<br />
prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais à pessoa i<strong>do</strong>sa, a Saú<strong>de</strong> Pública <strong>de</strong>ve estar cada vez<br />
mais preocupada com o ambiente em que o utente se encontra inseri<strong>do</strong>, procuran<strong>do</strong><br />
promover a saú<strong>de</strong>, educan<strong>do</strong> e manten<strong>do</strong> um eleva<strong>do</strong> nível <strong>de</strong> bem-estar. Isto significa<br />
que, actualmente, no âmbito <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa o promotor <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
41
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
tem que ser um profissional multifaceta<strong>do</strong>, que presta cuida<strong>do</strong>s globais à pessoa, família<br />
e comunida<strong>de</strong>, priorizan<strong>do</strong> como ambiente o seu <strong>do</strong>micílio.<br />
De facto,<br />
os cuida<strong>do</strong>s (...) <strong>do</strong>miciliários são a componente <strong>de</strong> um continua<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> (...)<br />
global em que os serviços (...) são presta<strong>do</strong>s aos indivíduos e famílias nos seus<br />
locais <strong>de</strong> residência com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover, manter ou recuperar a saú<strong>de</strong>, ou<br />
<strong>de</strong> maximizar o nível <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência enquanto se minimiza os efeitos da<br />
<strong>de</strong>ficiência e <strong>do</strong>ença incluin<strong>do</strong> a <strong>do</strong>ença terminal (Warhola, 1980, cita<strong>do</strong> em<br />
Stanhope, 1999, pp. 882 e 883).<br />
O ambiente <strong>do</strong>miciliário enquanto espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong><br />
informal é, <strong>de</strong>sta forma, um contexto complexo pois, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>,<br />
perante a pessoa i<strong>do</strong>sa, centra-se no processo <strong>de</strong> interacção que ocorre entre o presta<strong>do</strong>r<br />
informal, a pessoa i<strong>do</strong>sa e o presta<strong>do</strong>r formal.<br />
O referi<strong>do</strong> processo <strong>de</strong> interacção, que faz <strong>do</strong> ambiente <strong>do</strong>miciliário um espaço<br />
físico e relacional, exige <strong>do</strong>s diferentes elementos da tría<strong>de</strong> uma presença física e<br />
psíquica constante. Apesar <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> como se está presente po<strong>de</strong>r variar, Osterman &<br />
Schwartz-Barcott (1997, p. 319) <strong>de</strong>finem, genericamente, presença “... como uma oferta<br />
<strong>de</strong> si mesmo, igualada à utilização <strong>de</strong> si próprio e que é transmitida através <strong>de</strong> um<br />
comportamento franco e <strong>do</strong>a<strong>do</strong>r...”.<br />
Para além da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> presença, os mesmos autores (1997) apresentam quatro<br />
formas distintas <strong>de</strong> estar lá, ou seja, no ambiente <strong>do</strong>miciliário enquanto espaço <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa, nomeadamente, a presença, a<br />
presença parcial, a presença plena e a presença transcen<strong>de</strong>nte que, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma<br />
melhor compreensão das mesmas, apresentamos o quadro 1, na página seguinte, com as<br />
características <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>las.<br />
42
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Quadro 1 – Características <strong>de</strong> quatro formas <strong>de</strong> Estar Presente<br />
Tipos <strong>de</strong> Presença<br />
Características<br />
<strong>de</strong> Presença<br />
Qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar lá<br />
Foco <strong>de</strong> energia<br />
Natureza da<br />
interacção<br />
Resulta<strong>do</strong>s positivos<br />
Resulta<strong>do</strong>s negativos<br />
Presença Presença parcial Presença plena<br />
Fisicamente presente<br />
no contexto dum<br />
outro<br />
Absorvida com o Eu<br />
Realida<strong>de</strong> pessoal e<br />
subjectiva<br />
Encontro<br />
interpessoal, sem<br />
interacção, autoabsorto<br />
Reduz o stress;<br />
garantia <strong>de</strong> que<br />
alguém está lá; po<strong>de</strong><br />
ser acalmante e<br />
restaura<strong>do</strong>r; facilita o<br />
pensar criativo<br />
Nenhum<br />
envolvimento<br />
interpessoal –<br />
comunicação<br />
falhada; isolamento,<br />
introversão,<br />
ansieda<strong>de</strong> crescente<br />
Fisicamente presente<br />
no contexto dum<br />
outro<br />
Objecto ou tarefas no<br />
ambiente relevantes<br />
<strong>para</strong> o outro, mas<br />
nenhuma da energia é<br />
dirigida ao outro<br />
Realida<strong>de</strong> mecânica,<br />
técnica<br />
Encontro com<br />
interacção com parte<br />
<strong>do</strong> outro<br />
Reduz o stress;<br />
resolve um problema<br />
mecânico; reduz a<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
estímulos num<br />
encontro<br />
Nenhuma ligação<br />
interpessoal<br />
Fonte: Osterman & Schwartz-Barcott, “Servir”, 1997, p. 320.<br />
Fisicamente presente,<br />
(lá), (comportamento<br />
<strong>de</strong> atendimento físico<br />
– contacto visual,<br />
inclinan<strong>do</strong>-se)<br />
Psicologicamente<br />
presente (com)<br />
(comportamento <strong>de</strong><br />
atenta escuta)<br />
O Eu/O Outro<br />
(focagem noutras<br />
influências <strong>de</strong><br />
resposta recíproca)<br />
Orientada <strong>para</strong> o<br />
presente (aqui e<br />
agora), radicada na<br />
realida<strong>de</strong> actual<br />
Interactiva;<br />
comunicação<br />
essencial; fronteiras –<br />
restrições <strong>de</strong> papeis;<br />
relacionamento<br />
profissional <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong> bilateral<br />
Solução dum<br />
problema humano;<br />
alívio duma<br />
perturbação <strong>do</strong> aqui e<br />
agora<br />
Por ser <strong>de</strong>masiada<br />
energia <strong>para</strong> o<br />
receptor/ou sentida<br />
negativamente pelo<br />
receptor; energia nem<br />
sempre disponível<br />
<strong>para</strong> a presença<br />
plena; ansieda<strong>de</strong><br />
crescente<br />
Presença<br />
transcen<strong>de</strong>nte<br />
Qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar lá<br />
Centra<strong>do</strong> –<br />
(exaurin<strong>do</strong> da energia<br />
universal)<br />
Sujeito/sujeito leva à<br />
unicida<strong>de</strong><br />
Transcen<strong>de</strong>nte e<br />
orientada <strong>para</strong> além<br />
<strong>do</strong> aqui e agora<br />
manten<strong>do</strong>, ao mesmo<br />
tempo que<br />
transforman<strong>do</strong>, a<br />
realida<strong>de</strong><br />
Relacionamento; alto<br />
grau <strong>de</strong> técnica <strong>de</strong><br />
comunicação; sem<br />
papeis; intimida<strong>de</strong><br />
humana/amor; cuidar<br />
humanístico, sem<br />
fronteiras; relação<br />
unilateral<br />
Transformações<br />
diminuíram solidão;<br />
alargamento da<br />
consciencialização; e<br />
significa<strong>do</strong> da<br />
existência<br />
(amor/conexão); um<br />
bom sentimento<br />
gera<strong>do</strong> ao re<strong>do</strong>r;<br />
unicida<strong>de</strong><br />
transpessoal<br />
Fusão e possível<br />
perda da realida<strong>de</strong><br />
objectiva; perigo <strong>de</strong><br />
assumir <strong>para</strong> si os<br />
problemas <strong>do</strong><br />
receptor<br />
É <strong>de</strong> salientar que a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s,<br />
implica a actuação conjunta <strong>de</strong> uma equipa multidisciplinar que <strong>de</strong>senvolve o seu<br />
trabalho em parceria, com profissionais <strong>de</strong> diferentes áreas da saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> abordagem<br />
social e/ou outros profissionais <strong>de</strong> suporte que proporcionem uma complementarida<strong>de</strong> e<br />
reciprocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenção, sen<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sta forma, o ambiente <strong>do</strong>miciliário um espaço <strong>de</strong><br />
intervenção global e holística.<br />
43
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
3 – O PRESTADOR INFORMAL ENQUANTO SISTEMA ACTIVO NO<br />
PROCESSO DE CUIDADOS À PESSOA IDOSA EM AMBIENTE<br />
DOMICILIÁRIO<br />
Segun<strong>do</strong> Perista et al (1997), a par das múltiplas “agressões” às estruturas<br />
familiares tradicionais, que alimentam a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> crise da família, as re<strong>de</strong>s familiares<br />
subsistem enquanto principal suporte informal <strong>de</strong> apoio à população i<strong>do</strong>sa. De facto,<br />
vários estu<strong>do</strong>s, lança<strong>do</strong>s à escala da Europa Comunitária (Bris, 1994 & Burrus, 1995),<br />
reforçam a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o gran<strong>de</strong> fornece<strong>do</strong>r <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais é a re<strong>de</strong> familiar.<br />
Tais re<strong>de</strong>s familiares são essencialmente verticais in<strong>do</strong> ao encontro <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />
<strong>de</strong> substituição preconiza<strong>do</strong> por Shanas (1986, cita<strong>do</strong> por Gil, 1998, p. 99) que assenta<br />
na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a ajuda levada a cabo pelos membros da família é concebida a partir <strong>de</strong><br />
uma or<strong>de</strong>m: “o cônjugue é concebi<strong>do</strong> como ajudante familiar, se este está ausente ou<br />
indisponível são os filhos que assumem o papel <strong>de</strong> ajudantes, se os filhos não estão<br />
disponíveis, são as pessoas exteriores à família que <strong>de</strong>sempenham esta função”.<br />
Em complementarida<strong>de</strong> a este mo<strong>de</strong>lo, Gil (1998) refere a existência <strong>de</strong> uma<br />
especialização parcial <strong>do</strong>s apoios informais à pessoa i<strong>do</strong>sa em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência.<br />
A família directa (cônjugue e filhos) envolve-se mais em tarefas <strong>de</strong> longa duração<br />
(apoio instrumental na assistência à <strong>do</strong>ença e ajudas nas tarefas <strong>do</strong> dia a dia) e<br />
intimida<strong>de</strong>, os amigos constituem importantes fontes <strong>de</strong> suporte afectivo e emocional, e<br />
os vizinhos envolvem-se mais em tarefas curtas e mais próximas geograficamente<br />
(ajudas no transporte ou nas compras e em situações <strong>de</strong> emergência, como na <strong>do</strong>ença).<br />
Os apoios disponíveis pela família alargada fazem-se em ocasiões <strong>de</strong> perturbação<br />
específica, como em caso <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença, urgência monetária, ten<strong>do</strong> essas interajudas um<br />
carácter pontual e não sistemático. Os netos são um exemplo <strong>para</strong>digmático da<br />
<strong>de</strong>sproporcionalida<strong>de</strong> entre a proximida<strong>de</strong> afectiva e a funcionalida<strong>de</strong> das relações<br />
intergeracionais, pois apesar <strong>de</strong> existir uma proximida<strong>de</strong> física entre estas duas gerações<br />
e uma regularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contactos, as trocas <strong>de</strong> suportes fazem-se com muito pouca<br />
intensida<strong>de</strong>.<br />
Para além da força atribuída aos diferentes laços <strong>de</strong> parentesco com a pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa, Gil (1998) e Perista et al (1997) consi<strong>de</strong>ram ainda que as responsabilida<strong>de</strong>s<br />
44
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
familiares <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m também <strong>do</strong>s diferentes papéis <strong>do</strong> género. Deste mo<strong>do</strong>, a presença<br />
feminina caracteriza-se por ser muito mais contínua e regular na prestação <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s, o que vem confirmar, <strong>para</strong> além da forte verticalida<strong>de</strong> da re<strong>de</strong> familiar, que o<br />
apoio informal à pessoa i<strong>do</strong>sa é também fortemente lateraliza<strong>do</strong>. A reforçar esta i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />
lateralização, a par da prevalência matriarcal das re<strong>de</strong>s informais, Perista et al (1997)<br />
enfatiza que este tipo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s é substancialmente presta<strong>do</strong> por pessoas também elas<br />
i<strong>do</strong>sas.<br />
O cuida<strong>do</strong> informal, que é associa<strong>do</strong> ao não trabalho, contribui <strong>para</strong> revalidar o<br />
sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver e obrigação, mas também <strong>de</strong> reconhecimento e gratidão, sen<strong>do</strong> com<br />
estes últimos que muitos presta<strong>do</strong>res informais justificam o seu investimento na<br />
prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s (Perista et al, 1997). Assim, a gratuitida<strong>de</strong> <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal<br />
tem subjacente um imperativo <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>, ainda que este seja media<strong>do</strong> pelos<br />
afectos e pela vonta<strong>de</strong> individual. Tal como refere Pitrou (1997, cita<strong>do</strong> em Gil, 1998, p.<br />
108), “as trocas mútuas no seio da re<strong>de</strong> familiar estão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> factores<br />
concretos, tanto da boa vonta<strong>de</strong> das pessoas, que é ela própria selectiva em função das<br />
afinida<strong>de</strong>s ou <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> em comum, mas apoia-se na maior parte <strong>do</strong>s casos sobre uma<br />
carga afectiva positiva”. Também Godbout (1994, cita<strong>do</strong> em Gil, 1998, p. 108) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />
que “o gesto <strong>do</strong> <strong>do</strong>m não necessita <strong>de</strong> retorno, mas sim <strong>de</strong> reconhecimento. O <strong>do</strong>m é<br />
livre, não é obriga<strong>do</strong>.” Complementan<strong>do</strong> esta perspectiva, Cohen e Eis<strong>do</strong>rfer (sd.,<br />
cita<strong>do</strong>s em Lu<strong>de</strong>rs & Storani, sd., p. 155) referem que a motivação <strong>para</strong> o presta<strong>do</strong>r<br />
informal cuidar <strong>de</strong>ve-se ao<br />
amor pela pessoa i<strong>do</strong>sa, sentimento este que não requer explicação científica;<br />
gratidão, na qual se consi<strong>de</strong>ra as experiências passadas e tu<strong>do</strong> o que foi<br />
anteriormente ofereci<strong>do</strong> pela pessoa receptora <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s; moralida<strong>de</strong>, seguin<strong>do</strong><br />
basicamente as expectativas <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> e, por fim, uma vonta<strong>de</strong> própria em<br />
prestar cuida<strong>do</strong>s a alguém.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, as trocas acabam por ser trocas interessadas, mas não no senti<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> equivalência directa (teoria utilitarista), pois as trocas são assimétricas e o seu<br />
conteú<strong>do</strong> serve <strong>para</strong> alimentar as relações entre presta<strong>do</strong>r informal e pessoa i<strong>do</strong>sa e não<br />
em torno <strong>do</strong>s ganhos e das perdas contabilizáveis.<br />
• Os efeitos <strong>do</strong> tempo... as consequências <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> <strong>para</strong> o presta<strong>do</strong>r informal<br />
No <strong>de</strong>senvolvimento da problemática <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente <strong>do</strong>miciliário, importa referir que, ao contrário <strong>do</strong> que<br />
acontece no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>s nas crianças, a <strong>de</strong>pendência é crescente e este<br />
acontecimento <strong>de</strong> vida normativo ou não normativo, assim <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> por Loveland-<br />
45
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
-Cherry (1999) os acontecimentos que geralmente se espera ou não que ocorram num<br />
estádio particular <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ou <strong>do</strong> ciclo <strong>de</strong> vida, po<strong>de</strong> ser traduzi<strong>do</strong> por cinco<br />
crises:<br />
- a consciência da <strong>de</strong>generação, que ameaça o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> segurança <strong>de</strong><br />
quem cuida da pessoa i<strong>do</strong>sa e cria um sentimento <strong>de</strong> impotência;<br />
- a imprevisibilida<strong>de</strong> no envelhecimento e evolução <strong>de</strong> uma <strong>do</strong>ença é um<br />
da<strong>do</strong> adquiri<strong>do</strong>;<br />
- as limitações <strong>de</strong> tempo, pois a <strong>de</strong>pendência aumenta e raramente a<br />
responsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> é partilhada por mais <strong>do</strong> que uma pessoa;<br />
- a relação entre quem presta cuida<strong>do</strong>s e quem os recebe, pois a relação<br />
prévia com a pessoa i<strong>do</strong>sa e a inversão <strong>de</strong> papéis aumenta a<br />
probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conflito;<br />
- a falta <strong>de</strong> escolha, pois numa relação familiar há pouca escolha <strong>para</strong> o<br />
assumir da prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, pon<strong>do</strong> <strong>de</strong> la<strong>do</strong> outros planos<br />
(Braithwaite, 1992, cita<strong>do</strong> em Paúl, 1997).<br />
Tal facto, que quase sempre se <strong>de</strong>senrola durante vários anos <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às <strong>do</strong>enças<br />
<strong>de</strong>generativas, comporta a inclusão <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais no processo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
da pessoa i<strong>do</strong>sa, enquanto sistema activo no ambiente <strong>do</strong>miciliário, sen<strong>do</strong> necessário<br />
analisar as percepções <strong>do</strong>s mesmos relativas à prestação <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s.<br />
Este <strong>de</strong>safio, que se refere a um fenómeno subjectivo, associa<strong>do</strong> aos<br />
acontecimentos vivencia<strong>do</strong>s, foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> teoricamente por Lawton que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o<br />
Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Dois Factores na avaliação <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal (Martín, Paúl e Roncon,<br />
2000). Lawton sugere que a avaliação <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal se processa <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />
<strong>do</strong>is vectores: o impacto percebi<strong>do</strong>, ou seja, a percepção que o presta<strong>do</strong>r informal tem<br />
da sobrecarga <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> no seu estilo <strong>de</strong> vida; e a satisfação percebida, isto é, a<br />
percepção <strong>de</strong> benefícios que o presta<strong>do</strong>r informal tem pelo seu esforço ao cuidar<br />
(Martín, Paúl e Roncon, 2000). De acor<strong>do</strong> com Orwell (1993, cita<strong>do</strong> em Martín, Paúl e<br />
Roncon, 2000, p. 4), este mo<strong>de</strong>lo<br />
contribuiu significativamente <strong>para</strong> uma abordagem mais sistemática <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong><br />
informal, essencialmente, ao conceptualizá-lo como algo multidimensional, tanto <strong>de</strong><br />
uma perspectiva negativa como positiva, como se torna essencial quan<strong>do</strong> se avalia o<br />
cuida<strong>do</strong> informal <strong>de</strong> uma forma mais completa, ten<strong>do</strong> em conta diferentes<br />
perspectivas.<br />
De encontro a este mo<strong>de</strong>lo encontram-se as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Renwick, Brown e Nagler<br />
(1996, cita<strong>do</strong>s em Canam & Acorn, 1999) que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que o enfoque no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
impacto percepciona<strong>do</strong> pelos presta<strong>do</strong>res informais limita a efectivida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s serviços<br />
dirigi<strong>do</strong>s aos presta<strong>do</strong>res informais, tornan<strong>do</strong>-se emergente a consciencialização da<br />
46
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
satisfação <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal como um conceito pertinente e abrangente no senti<strong>do</strong><br />
da consecução <strong>de</strong>ssa efectivida<strong>de</strong>.<br />
Visan<strong>do</strong> a multidimensionalida<strong>de</strong> <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal e <strong>do</strong> seu presta<strong>do</strong>r, Novak<br />
& Guest (1989, cita<strong>do</strong>s em Paúl, 1997) <strong>de</strong>finiram cinco dimensões da sobrecarga <strong>do</strong><br />
presta<strong>do</strong>r informal: sobrecarga da <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> tempo, relativa às restrições <strong>do</strong><br />
tempo, sobrecarga <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, sobrecarga física, sobrecarga social e<br />
sobrecarga emocional.<br />
Hagen & Gallagher (1996) alertam <strong>para</strong> o facto <strong>do</strong> impacto total <strong>de</strong> longas horas<br />
<strong>de</strong> um cuida<strong>do</strong> exigente ser, muitas vezes, pobremente compreendi<strong>do</strong> e grosseiramente<br />
subvaloriza<strong>do</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, Jones & Peters, em 1992 (cita<strong>do</strong> em Canam e Acorn,<br />
1999), realizaram um estu<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> qual concluíram que os presta<strong>do</strong>res cuidam <strong>do</strong>s<br />
familiares i<strong>do</strong>sos com gran<strong>de</strong>s custos <strong>para</strong> elas próprias, alertan<strong>do</strong> <strong>para</strong> que as<br />
necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s familiares fossem <strong>de</strong>vidamente consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s<br />
e não só as necessida<strong>de</strong>s das pessoas i<strong>do</strong>sas.<br />
Segun<strong>do</strong> Lu<strong>de</strong>rs & Storani (1999) a situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
em ambiente <strong>do</strong>miciliário, po<strong>de</strong> comprometer a in<strong>de</strong>pendência <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal,<br />
pois estes passam a viver a vida da pessoa i<strong>do</strong>sa, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> surgir isolamento social,<br />
mudanças na dinâmica familiar e nas relação entre os membros da família, emergin<strong>do</strong><br />
nessas situações problemas não resolvi<strong>do</strong>s anteriormente, e dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> assistência<br />
médica. As mesmas autoras (1999) referem ainda que as <strong>de</strong>spesas necessárias <strong>para</strong><br />
manter o bem-estar da pessoa i<strong>do</strong>sa é bastante gran<strong>de</strong>, in<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os exames solicita<strong>do</strong>s,<br />
aos honorários profissionais, aos medicamentos, e aos serviços <strong>de</strong> terceiros no apoio aos<br />
cuida<strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>s no dia-a-dia, levan<strong>do</strong> algumas famílias a terem problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
financeira.<br />
Decorrente <strong>de</strong>sta problemática, Baumgarten et al, em 1994, <strong>de</strong>senvolveram um<br />
estu<strong>do</strong> com o objectivo <strong>de</strong> observar as associações entre os distúrbios comportamentais<br />
<strong>de</strong> i<strong>do</strong>sos com <strong>de</strong>mência e as alterações na saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
ao longo <strong>do</strong> tempo (perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> um ano). Assim, segun<strong>do</strong> estes autores o nível mais<br />
eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong> distúrbios comportamentais em pacientes com <strong>de</strong>mência encontrava-se<br />
significativamente associa<strong>do</strong> a uma <strong>de</strong>teriorização quer nos sintomas físicos, como<br />
<strong>de</strong>pressivos <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, durante o perío<strong>do</strong> em estu<strong>do</strong>.<br />
Os aspectos psicológicos po<strong>de</strong>m-se tornar bastante difíceis e pesa<strong>do</strong>s <strong>para</strong> o<br />
presta<strong>do</strong>r informal, levan<strong>do</strong> a pessoa a uma labilida<strong>de</strong> afectiva com uma instabilida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong>s sentimentos e reacções afectivas, surgin<strong>do</strong> neste processo sentimentos negativos, <strong>de</strong><br />
47
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
ira, me<strong>do</strong>, culpa, vergonha e outros, mas também sentimentos agradáveis relaciona<strong>do</strong>s<br />
com as vivências anteriores à <strong>do</strong>ença (Lu<strong>de</strong>rs & Storani, 1999).<br />
Em complementarida<strong>de</strong> com estes estu<strong>do</strong>s, Shyu (2000) refere que os<br />
presta<strong>do</strong>res familiares <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong><strong>para</strong>m-se, constantemente, com um conflito entre<br />
as suas próprias necessida<strong>de</strong>s e as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> familiar i<strong>do</strong>so a quem prestam<br />
cuida<strong>do</strong>s. Noutros estu<strong>do</strong>s foi, também, verifica<strong>do</strong> este conflito, como é o caso <strong>do</strong><br />
estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Beach (1993, cita<strong>do</strong> em Shyu, 2000), no qual refere que o papel <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>r<br />
<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s primário compete com outros papéis na re<strong>de</strong> familiar, e <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
Mckibbon, Généreux e Séguin-Roberge (1996), on<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que o impacto da<br />
prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa, enquanto se conjugam as responsabilida<strong>de</strong>s<br />
profissionais e familiares, po<strong>de</strong> ser intenso e, por isso, os sentimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ver e<br />
<strong>de</strong>voção entram frequentemente em conflito com outras preocupações familiares e com<br />
o emprego. Reforçan<strong>do</strong> este aspecto, também, se concluiu que as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res familiares <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, referentes à liberda<strong>de</strong>, privacida<strong>de</strong>, carreira<br />
profissional e activida<strong>de</strong>s sociais, competiam com as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> familiar i<strong>do</strong>so<br />
receptor <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s (Archbold, 1982; Gilbeau e Anastas, 1989; Scharlach e Boyd,<br />
1989; Neal et al, 1993; Scharlach, 1994; Pavalko e Artis, 1997; cita<strong>do</strong>s em Schyu,<br />
2000).<br />
Importa referir que o processo <strong>de</strong> encontrar um ponto <strong>de</strong> equilíbrio po<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>sempenhar um papel <strong>de</strong>cisivo na mediação <strong>do</strong>s efeitos <strong>do</strong> conflito <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s, na<br />
percepção <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res familiares <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s acerca <strong>do</strong> seu stress e bem estar,<br />
sen<strong>do</strong> que o mesmo po<strong>de</strong> ser utiliza<strong>do</strong> como estratégia <strong>de</strong> adaptação aquan<strong>do</strong> da<br />
prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s a um familiar i<strong>do</strong>so (Shyu, 2000). Nesse processo <strong>de</strong> equilíbrio é<br />
muito importante a necessida<strong>de</strong> da continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estímulos <strong>para</strong> que o presta<strong>do</strong>r<br />
informal consiga viver <strong>de</strong> maneira satisfatória, manten<strong>do</strong> a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (Lu<strong>de</strong>rs &<br />
Storani, 1999).<br />
Há que consi<strong>de</strong>rar não só os aborrecimentos mas também as gratificações que<br />
surgem das tarefas <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente <strong>do</strong>miciliário e, por<br />
isso, a importância <strong>de</strong> analisar a satisfação percebida pelo presta<strong>do</strong>r informal que,<br />
puramente subjectiva, refere-se a sentimentos <strong>de</strong> contentamento com a vida (Canam &<br />
Acorn, 1999). Ainda referente à satisfação, Lee, Kim e You (1997) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que a<br />
satisfação na prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong>s valores pessoais <strong>de</strong> cada<br />
presta<strong>do</strong>r e da sua capacida<strong>de</strong> <strong>para</strong> atingir aquilo que é valoriza<strong>do</strong> pelos outros, assim<br />
como, da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptar e manter novos e múltiplos papéis.<br />
48
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Face a tais consi<strong>de</strong>rações, que retratam a complexida<strong>de</strong> que envolve a prestação<br />
<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais à pessoa i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, em ambiente <strong>do</strong>miciliário, torna-se<br />
fundamental analisar o risco em saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal, numa perspectiva <strong>de</strong><br />
estimativa, como um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação da presença <strong>de</strong> factores <strong>de</strong> risco como<br />
estan<strong>do</strong> associa<strong>do</strong>s ao aumento da probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> uma <strong>do</strong>ença ou <strong>de</strong> um<br />
acontecimento não saudável (Loveland-Cherry, 1999).<br />
Para tal <strong>de</strong>vemos interagir com o presta<strong>do</strong>r informal respeitan<strong>do</strong>-o em todas as<br />
suas dimensões, numa visão <strong>de</strong> totalida<strong>de</strong>, num contexto <strong>do</strong> pensamento sistémico.<br />
Neste contexto, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Neuman é, particularmente, a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> à prática da<br />
Promoção e Protecção da Saú<strong>de</strong>, numa vertente <strong>de</strong> avaliação e gestão <strong>do</strong> risco em saú<strong>de</strong>,<br />
pois permite compreen<strong>de</strong>r o perfil <strong>de</strong> um risco caracteriza<strong>do</strong> <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a<br />
especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> toda a envolvente que abrange a saú<strong>de</strong> <strong>do</strong> indivíduo e comunida<strong>de</strong>.<br />
Segun<strong>do</strong> George (2000) o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Neuman baseia-se na filosofia <strong>de</strong> que cada<br />
indivíduo é uma «pessoa total», multidimensional, um composto <strong>de</strong> variáveis,<br />
estressores ou factores <strong>de</strong> risco, da reacção aos factores <strong>de</strong> risco e da pessoa que<br />
interage com o ambiente (pessoa representada por uma série <strong>de</strong> círculos concêntricos).<br />
Existem inúmeros factores <strong>de</strong> risco que resultam da constante interacção entre a pessoa<br />
e o ambiente, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le extra, inter e intrapessoais e <strong>de</strong> natureza fisiológica,<br />
psicológica, sociocultural, espiritual e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. A mesma autora (2000, p.<br />
228) refere que<br />
a variável fisiológica refere-se à estrutura e às funções <strong>do</strong> organismo. A variável<br />
psicológica refere-se aos processos mentais e relacionamentos. A variável sócio-<br />
-cultural refere-se às funções <strong>do</strong> sistema relativas às expectativas e às activida<strong>de</strong>s<br />
sociais e culturais. A variável <strong>de</strong>senvolvimento refere-se aos processos relativos ao<br />
<strong>de</strong>senvolvimento durante o ciclo <strong>de</strong> vida. A variável espiritual refere-se à influência<br />
das crenças espirituais.<br />
O bem-estar <strong>do</strong> sistema presta<strong>do</strong>r informal é, assim, conceptualiza<strong>do</strong> como a<br />
estabilida<strong>de</strong> encontrada entre os sistemas psicológico, fisiológico, sociocultural,<br />
espiritual e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, sen<strong>do</strong> este concebi<strong>do</strong> como um to<strong>do</strong>, constituí<strong>do</strong> por<br />
estas cinco dimensões, num equilíbrio permanente. Importa referir que neste processo<br />
dinâmico <strong>de</strong> alcance <strong>do</strong> bem-estar está implícito, no sistema <strong>de</strong> cada presta<strong>do</strong>r informal,<br />
um conjunto <strong>de</strong> factores internos <strong>de</strong> resistência que funcionam <strong>para</strong> estabilizar e fazer<br />
com que o indivíduo retorne a um esta<strong>do</strong> normal <strong>de</strong> bem-estar ou esta<strong>do</strong> estável (linha<br />
normal <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa), ou possivelmente, a um nível mais eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>, após uma<br />
reacção ao factor <strong>de</strong> risco (George, 2000).<br />
De acor<strong>do</strong> com isto, Neuman <strong>de</strong>fine bem-estar como um processo <strong>de</strong><br />
interacção/ajustamento aos factores <strong>de</strong> risco, em que o presta<strong>do</strong>r informal retém<br />
49
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
diversos graus <strong>de</strong> equilíbrio ao longo <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> da vida, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a estabilida<strong>de</strong><br />
da linha normal <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-a, assim, como uma energia viva constituída<br />
pelas características, específicas <strong>de</strong> cada um e comuns a to<strong>do</strong>s (estrutura básica <strong>de</strong><br />
recursos energéticos) (George, 2000).<br />
Tais pressupostos permitem i<strong>de</strong>ntificar <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> risco em saú<strong>de</strong>, na<br />
população em geral, e no presta<strong>do</strong>r informal em particular, nomeadamente, o risco <strong>de</strong><br />
um contexto específico e o risco <strong>de</strong> um contexto específico, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da avaliação<br />
<strong>do</strong>s factores <strong>de</strong> risco a que os indivíduos se encontram expostos. O risco comum resulta<br />
<strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> populações no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r os factores que explicam o padrão<br />
<strong>do</strong> risco <strong>de</strong> ocorrência (Mckeown & Garrison, 1999), basean<strong>do</strong>-se, por isso, na<br />
<strong>de</strong>terminação <strong>do</strong>s factores padrão ou factores <strong>de</strong> risco básicos, comuns a to<strong>do</strong>s os<br />
presta<strong>do</strong>res informais, que fazem parte da estrutura básica <strong>de</strong> recursos energéticos <strong>de</strong><br />
cada um <strong>de</strong>les.<br />
Quan<strong>do</strong> se avalia a «pessoa total», <strong>de</strong> uma forma holística e se tem em<br />
consi<strong>de</strong>ração o conjunto das características comuns e individuais ou específicas <strong>de</strong> cada<br />
presta<strong>do</strong>r informal, estamos a inserir um cariz específico ao risco pois acrescentamos<br />
aos factores <strong>de</strong> risco básicos, a que to<strong>do</strong>s os presta<strong>do</strong>res informais estão expostos,<br />
alguns factores <strong>de</strong> risco específicos <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal em análise. (Figura 3)<br />
Linha Normal <strong>de</strong> Defesa<br />
Factor <strong>de</strong> Risco Específico<br />
Reacção<br />
Risco Específico<br />
Linhas <strong>de</strong> Resistência<br />
Estrutur<br />
a básica<br />
<strong>de</strong><br />
recursos<br />
Risco<br />
Comum<br />
Factores<br />
<strong>de</strong> risco<br />
básicos<br />
Factor <strong>de</strong> Risco Específico<br />
Figura 3 – A avaliação <strong>do</strong> risco em saú<strong>de</strong> numa abordagem sistémica <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
à pessoa i<strong>do</strong>sa, em ambiente <strong>do</strong>miciliário – Adaptação <strong>do</strong> Mo<strong>de</strong>lo Sistémico <strong>de</strong> Betty<br />
Neuman<br />
Fonte: George, “Betty Neuman”, 2000, p. 227.<br />
Nesta perspectiva, estan<strong>do</strong> os presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, em ambiente <strong>do</strong>miciliário, susceptíveis a um contexto <strong>de</strong> mudança e <strong>de</strong><br />
50
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
instabilida<strong>de</strong>, surge a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> intervenção, nos quais o presta<strong>do</strong>r<br />
informal <strong>de</strong>sempenha um papel activo. Para tal, e porque estamos perante pessoas e<br />
tu<strong>do</strong> o que as envolve, é imprescindível analisar e valorizar as características comuns e<br />
específicas <strong>de</strong> cada um, visan<strong>do</strong> i<strong>de</strong>ntificar e compreen<strong>de</strong>r com rigor as necessida<strong>de</strong>s<br />
individuais e colectivas, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a assegurar a efectivida<strong>de</strong> da intervenção.<br />
51
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
4 – A PROBLEMÁTICA DA EFECTIVIDADE EM PROMOÇÃO E<br />
PROTECÇÃO DA SAÚDE<br />
A Saú<strong>de</strong> é um bem cada vez mais valoriza<strong>do</strong> na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> hoje e,<br />
consequentemente, o Desenvolvimento Contínuo da Qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s é<br />
cada vez mais importante por razões,<br />
profissionais, visto que o pessoal quer naturalmente trabalhar melhor e ser<br />
cada vez mais prestigia<strong>do</strong>; éticas, porque somos responsáveis da confiança que<br />
(...) é <strong>de</strong>positada pelo cidadão; políticas, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a que a qualida<strong>de</strong> passou a<br />
ser uma preocupação estratégica; económicas, porque os recursos financeiros,<br />
sempre relativamente escassos com<strong>para</strong><strong>do</strong>s com as necessida<strong>de</strong>s, têm que ser<br />
bem utiliza<strong>do</strong>s e os orçamentos não aumentam com a rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>sejada; e (...)<br />
sociais, porque o cidadão é cada vez mais exigente e tem cada dia que passa<br />
mais expectativas relativas à efectivida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>” que lhe são<br />
presta<strong>do</strong>s (DGS, 2000, p.1).<br />
Assim, no senti<strong>do</strong> da inovação <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, em mea<strong>do</strong>s da década <strong>de</strong><br />
90 a OMS alerta <strong>para</strong> a importância da estimativa <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> excelência <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, através da análise com<strong>para</strong>tiva entre os resulta<strong>do</strong>s consegui<strong>do</strong>s e os que<br />
po<strong>de</strong>riam ter si<strong>do</strong> obti<strong>do</strong>s, tornan<strong>do</strong>-se, <strong>para</strong> isso, necessário criar e <strong>de</strong>senvolver<br />
processos <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> acreditação <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s, basea<strong>do</strong>s na evidência<br />
científica proveniente da avaliação das diversas dimensões da qualida<strong>de</strong> como a<br />
acessibilida<strong>de</strong>, continuida<strong>de</strong>, efectivida<strong>de</strong> e equida<strong>de</strong> (DGS, 2000).<br />
Actualmente, apesar <strong>de</strong>sta preocupação estar muito enraizada na dinâmica <strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Programas Comunitários, no âmbito da Promoção e <strong>de</strong> Protecção<br />
da Saú<strong>de</strong>, frequentemente, durante o seu planeamento não é <strong>de</strong>finida a estratégia <strong>de</strong><br />
avaliação <strong>do</strong>s seus resulta<strong>do</strong>s, surgin<strong>do</strong>, por vezes, dúvidas acerca da existência ou não<br />
<strong>de</strong> efectivida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s mesmos, isto é, se após o seu <strong>de</strong>senvolvimento existem ou não<br />
ganhos em saú<strong>de</strong> <strong>para</strong> o indivíduo, família ou comunida<strong>de</strong>.<br />
Promover e Proteger a Saú<strong>de</strong> é, por conseguinte, uma responsabilida<strong>de</strong> que diz<br />
respeito a to<strong>do</strong>s e que exige a a<strong>do</strong>pção <strong>de</strong> uma cultura orientada <strong>para</strong> a obtenção <strong>de</strong><br />
ganhos em saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a conduzir a uma mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s, focalizan<strong>do</strong> a<br />
intervenção nas necessida<strong>de</strong>s totais <strong>do</strong> indivíduo, enquanto pessoa, compreendida na<br />
sua individualida<strong>de</strong> global (Dias, 2000).<br />
52
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Neste âmbito, o contexto <strong>de</strong> intervenção em Promoção e Protecção da Saú<strong>de</strong><br />
concretiza-se por um conjunto <strong>de</strong> acções/activida<strong>de</strong>s diversificadas que, ao incentivarem<br />
as pessoas a a<strong>do</strong>ptar e manter estilos <strong>de</strong> vida saudáveis e ao criarem condições <strong>de</strong><br />
suporte <strong>de</strong> vida necessárias à saú<strong>de</strong>, integram um processo <strong>de</strong> capacitação das pessoas<br />
<strong>para</strong> exercerem o controle sobre os <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e, consequentemente,<br />
melhorarem a saú<strong>de</strong> (IUHPE, 1999). Tais activida<strong>de</strong>s encontram-se integradas em cinco<br />
gran<strong>de</strong>s <strong>do</strong>mínios como:<br />
- <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> políticas públicas favoráveis à saú<strong>de</strong>;<br />
- reorientação <strong>do</strong>s serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;<br />
- <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências individuais;<br />
- reforço da acção comunitária;<br />
- criação <strong>de</strong> ambientes favoráveis à saú<strong>de</strong> (Dias, 2000).<br />
Nesta perspectiva, a Avaliação da Efectivida<strong>de</strong> das Práticas Preventivas e da<br />
Promoção da Saú<strong>de</strong> é uma etapa fundamental, no processo dinâmico que caracteriza um<br />
programa <strong>de</strong> Promoção e Protecção da Saú<strong>de</strong>, pois visa avaliar a dimensão <strong>do</strong> efeito<br />
<strong>de</strong>seja<strong>do</strong> <strong>de</strong> programas comunitários, isto é, obter uma <strong>de</strong>terminada mudança na<br />
proporção <strong>de</strong> indivíduos expostos a <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s factores <strong>de</strong> risco, que se encontram<br />
<strong>de</strong>ntro (ambiente interno) e fora (ambiente externo) <strong>do</strong> controle <strong>do</strong>s indivíduos, ou gerar<br />
ganhos em saú<strong>de</strong> caracteriza<strong>do</strong>s pelos <strong>do</strong>mínios <strong>de</strong> intervenção menciona<strong>do</strong>s.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os <strong>do</strong>mínios <strong>de</strong> intervenção em Promoção e<br />
Protecção da Saú<strong>de</strong>, existem diferentes e complementares perspectivas <strong>do</strong> que<br />
representa a efectivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong>ste âmbito. Ao nível da <strong>de</strong>cisão política e<br />
<strong>de</strong> gestão orçamental, a efectivida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>finida como a relação entre o investimento e o<br />
alcançar <strong>de</strong> ganhos em saú<strong>de</strong> em curto prazo; em relação aos profissionais promotores<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a efectivida<strong>de</strong> é encarada em termos da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> implementação <strong>do</strong><br />
programa, assim como das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mobilizar as parcerias (pessoas e<br />
organizações) <strong>para</strong> actuar na saú<strong>de</strong>; a população alvo consi<strong>de</strong>ra a existência <strong>de</strong><br />
efectivida<strong>de</strong> quan<strong>do</strong> há resposta às necessida<strong>de</strong>s sentidas e oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
participação comunitária; <strong>para</strong> o investiga<strong>do</strong>r académico, a efectivida<strong>de</strong> é construída<br />
pelo seu rigor meto<strong>do</strong>lógico, manutenção da integrida<strong>de</strong> <strong>do</strong> programa e o alcançar <strong>de</strong><br />
ganhos pré-<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s. Embora cada uma <strong>de</strong>stas abordagens esteja direccionada <strong>para</strong><br />
o alcançar <strong>de</strong> uma melhoria da saú<strong>de</strong> e <strong>para</strong> a mudança nos respectivos <strong>de</strong>terminantes,<br />
cada uma <strong>de</strong>las difere acentuadamente na ênfase atribuída ao processo pelo qual os<br />
ganhos são alcança<strong>do</strong>s e pela importância associada ao custo e à operacionalização da<br />
implementação <strong>do</strong> programa. Além disso, <strong>para</strong> cada uma <strong>de</strong>stas abordagens existe um<br />
53
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
vector que <strong>de</strong>limita a natureza da intervenção <strong>de</strong> diferentes formas, ou seja, enfatizan<strong>do</strong><br />
o assunto, a população ou contexto (IUHPE, 1999).<br />
Importa referir que só <strong>de</strong>sta forma, enquanto <strong>de</strong>fensores <strong>de</strong>sta área <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s,<br />
conseguimos alicerçar a nossa intervenção por uma tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão racional com<br />
base em juízos equilibra<strong>do</strong>s, influencia<strong>do</strong>s por um conhecimento efectivo das<br />
activida<strong>de</strong>s que fazem mais mal <strong>do</strong> que bem, mais bem <strong>do</strong> que mal e <strong>de</strong> efeitos<br />
<strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>s e, assim, contribuir <strong>para</strong> o fortalecimento da Promoção da Saú<strong>de</strong>.<br />
A necessária com<strong>para</strong>ção entre o efeito consegui<strong>do</strong> e o efeito <strong>de</strong>seja<strong>do</strong>, impõe<br />
uma dimensão temporal na dinâmica <strong>do</strong> Processo <strong>de</strong> Avaliação da Efectivida<strong>de</strong> em<br />
Promoção e Protecção da Saú<strong>de</strong>. Num primeiro momento surgem os resulta<strong>do</strong>s<br />
imediatos da intervenção (conhecimentos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, participação comunitária) que<br />
representam os factores pessoais, sociais e estruturais que ao serem modifica<strong>do</strong>s<br />
po<strong>de</strong>rão alterar os <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> esta alteração ocorre trata-se <strong>de</strong><br />
obter o efeito <strong>de</strong>seja<strong>do</strong> que correspon<strong>de</strong> a um ganho em saú<strong>de</strong> intermédio, a médio<br />
prazo que, por sua vez, se for atingi<strong>do</strong> irá reflectir-se, a longo prazo, num ganho em<br />
saú<strong>de</strong> final que se caracteriza pelo impacto na saú<strong>de</strong> consegui<strong>do</strong> com a nossa<br />
intervenção, isto é, caracteriza o perfil <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Esta avaliação a médio/longo prazo é<br />
um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio mas também muito importante, pois avalia até que ponto é que as<br />
mudanças <strong>de</strong> comportamento e a tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sustentada são dura<strong>do</strong>uras e<br />
continuadas no indivíduo, família e comunida<strong>de</strong> (IUHPE, 1999). (Figura 4)<br />
Figura 4 – Avaliação da Efectivida<strong>de</strong> das Práticas Preventivas e <strong>de</strong> Promoção da Saú<strong>de</strong><br />
54
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Importa referir que, utilizan<strong>do</strong> a mesma lógica <strong>de</strong> intervenção da Promoção e<br />
Protecção da Saú<strong>de</strong>, isto é, uma intervenção nos <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />
indivíduo, família e comunida<strong>de</strong>, a existência <strong>de</strong> Efectivida<strong>de</strong> na Promoção e Protecção<br />
da Saú<strong>de</strong> implica uma intervenção ao nível <strong>do</strong>s seus <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> efectivida<strong>de</strong>.<br />
Assim, qualquer programa <strong>de</strong> Promoção e Protecção da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser sustenta<strong>do</strong> num<br />
processo <strong>de</strong> planeamento com, <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong> seu contexto e <strong>do</strong>mínio, ou seja, <strong>do</strong>s seus<br />
<strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> efectivida<strong>de</strong>, e elaboração <strong>de</strong> um dispositivo <strong>de</strong> monitorização <strong>de</strong>sses<br />
mesmos <strong>de</strong>terminantes, pois só assim, se torna num instrumento <strong>de</strong> intervenção eficaz, a<br />
utilizar <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> eficiente e que conduz à efectivida<strong>de</strong> em ganhos em saú<strong>de</strong>.<br />
Desta forma, no subcapítulo seguinte, consi<strong>de</strong>ramos pertinente <strong>de</strong>senvolver a<br />
temática <strong>do</strong>s <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> efectivida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s Programas <strong>de</strong> Promoção e Protecção da<br />
Saú<strong>de</strong>, enfatizan<strong>do</strong> especificamente o Empowerment como um <strong>do</strong>s <strong>de</strong>terminantes, uma<br />
vez que este se trata <strong>do</strong> foco central <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong>.<br />
4.1 – O EMPOWERMENT COMO DETERMINANTE DE EFECTIVIDADE DE<br />
PROGRAMAS DE PROMOÇÃO E PROTECÇÃO DA SAÚDE<br />
Svedbom (1994) ilustra a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminantes que influenciam a<br />
efectivida<strong>de</strong> das práticas preventivas e <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong>. Assim, a saú<strong>de</strong> da<br />
população é <strong>de</strong>terminada por factores nos quais ainda não conseguimos intervir<br />
(factores pessoais – características genéticas, sexo e ida<strong>de</strong>) e por outros cuja intervenção<br />
estamos aptos a <strong>de</strong>senvolvê-la, nomeadamente:<br />
- factores estruturais, que incluem, o <strong>de</strong>senvolvimento económico, a<br />
urbanização, as mudanças tecnológicas e na estrutura <strong>de</strong> emprego e as<br />
ameaças ambientais;<br />
- condições <strong>de</strong> vida, que dizem respeito, ao <strong>de</strong>semprego, à educação, ao<br />
sistema <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, aos ambientes <strong>de</strong> trabalho e <strong>do</strong>miciliário, à<br />
insegurança social;<br />
- estilo <strong>de</strong> vida, que integra, os hábitos alimentares, o exercício físico, o<br />
comportamento sexual e os hábitos nocivos;<br />
- empowerment, que se refere, a estratégias <strong>de</strong> adaptação e <strong>de</strong> mestria, à<br />
coerência e à persistência.<br />
55
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> o empowerment como <strong>de</strong>terminante, Tones (1994) refere que o<br />
conceito <strong>de</strong> empowerment é central na filosofia e prática da Promoção e Protecção da<br />
Saú<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong>, a um micro nível, a chave <strong>para</strong> o alcançar <strong>do</strong>s seus objectivos.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, <strong>de</strong>senvolver ou reforçar as competências individuais, isto é,<br />
trabalhar os recursos/capacida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> indivíduo <strong>para</strong> i<strong>de</strong>ntificar problemas, criar<br />
consensos e atingir objectivos é hoje um <strong>do</strong>mínio fundamental na Promoção e Protecção<br />
da Saú<strong>de</strong>.<br />
Glanz (1999), refere-se ao empowerment como, a prontidão <strong>do</strong> indivíduo <strong>para</strong><br />
mudar ou tentar mudar os seus comportamentos <strong>para</strong> outros mais saudáveis, a percepção<br />
que o indivíduo tem da ameaça que um problema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> representa, o reconhecimento<br />
<strong>de</strong> comportamentos recomenda<strong>do</strong>s <strong>para</strong> prevenir ou gerir o problema, e os processos<br />
mediante os quais absorve e utiliza a informação na sua tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão.<br />
Para Gibson (1991), empowerment é um processo social <strong>de</strong> reconhecimento,<br />
promoção e utilização das competências pessoais <strong>para</strong> conhecer as suas próprias<br />
necessida<strong>de</strong>s, resolver os seus próprios problemas e mobilizar os recursos necessários<br />
<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a sentir um controlo nas suas vidas. É, simplesmente, um processo <strong>de</strong> ajuda<br />
<strong>para</strong> que o indivíduo <strong>de</strong>senvolva ou mantenha um controle sobre os factores que<br />
afectam a sua saú<strong>de</strong>.<br />
Rappaport (1984 e 1985) acrescenta à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> empowerment, a dimensão<br />
individual, organizacional e comunitária na aquisição <strong>de</strong> controle ou <strong>do</strong>mínio sobre as<br />
suas vidas e os assuntos/temas <strong>de</strong> interesse que lhe são próprios; e a importância da<br />
personalida<strong>de</strong>, cognição e motivação <strong>de</strong> cada um no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> controle sobre a vida,<br />
po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser expresso ao nível, <strong>do</strong>s sentimentos, das i<strong>de</strong>ias sobre o próprio valor e <strong>de</strong> se<br />
acreditar ser capaz <strong>de</strong> fazer a diferença. Reforça, também, que o empowerment, não é<br />
um bem escasso, mas sim, uma habilida<strong>de</strong> que to<strong>do</strong>s temos em potencial e que precisa<br />
<strong>de</strong> ser libertada.<br />
Empowerment é, assim, traduzi<strong>do</strong> como um conceito dinâmico pois o seu<br />
processo, ao envolver uma relação com o outro e com o ambiente que o ro<strong>de</strong>ia, é<br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma diferente <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a especificida<strong>de</strong> da pessoa, grupo ou<br />
comunida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> contexto em que se insere (Gibson, 1991). Zimmerman (1995), reforça<br />
esta i<strong>de</strong>ia referin<strong>do</strong> que o empowerment é específico e diferente <strong>para</strong> cada população e,<br />
toma diferentes formas <strong>para</strong> pessoas diferentes (com necessida<strong>de</strong>s únicas), em contextos<br />
diferentes.<br />
Uma outra <strong>de</strong>finição que incorpora, explicitamente, a interacção existente entre a<br />
pessoa e o ambiente, no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment, é a <strong>de</strong> Cornell<br />
56
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Group (1989, cita<strong>do</strong> em Zimmerman, 2000) que <strong>de</strong>fine empowerment como um<br />
processo intenciona<strong>do</strong> e contínuo, centra<strong>do</strong> na comunida<strong>de</strong> local, que envolve o respeito<br />
mútuo, a reflexão crítica, a preocupação com os outros e a participação <strong>do</strong> grupo, e<br />
através <strong>do</strong> qual pessoas a quem falta uma justa distribuição <strong>de</strong> importantes recursos,<br />
possam ter acesso e ganhar controle sobre esses recursos.<br />
Partin<strong>do</strong> da caracterização <strong>do</strong> constructo <strong>do</strong> empowerment e voltan<strong>do</strong> à<br />
problemática <strong>do</strong> empowerment como <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> efectivida<strong>de</strong> da Promoção e<br />
Protecção da Saú<strong>de</strong>, Tones (1994) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que os <strong>do</strong>is mais importantes imperativos<br />
i<strong>de</strong>ológicos da conceptualização da Promoção e Protecção da Saú<strong>de</strong>, por parte da OMS,<br />
são o atenuar das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e a existência <strong>de</strong> empowerment individual. Tais<br />
imperativos estão interrelaciona<strong>do</strong>s, e na base <strong>de</strong>ste relacionamento encontra-se a<br />
Promoção e Protecção da Saú<strong>de</strong> como resulta<strong>do</strong> da relação simbiótica e sinergética<br />
entre a Educação <strong>para</strong> a Saú<strong>de</strong> e a Política Pública <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (Tones, 1997)<br />
O mun<strong>do</strong> da Política é bastante complexo, e as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> são quase<br />
sempre subjectivas, constituin<strong>do</strong> um conjunto <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, mais ou menos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e<br />
pontuais, <strong>de</strong>vidas a pressões ou emergências. No entanto, por a política ser<br />
imprescindível no processo <strong>de</strong> planeamento que está subjacente a qualquer intervenção<br />
<strong>de</strong> âmbito preventivo ou <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong>, torna-se um <strong>de</strong>safio diminuir a «carga<br />
i<strong>de</strong>ológica» da política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e aumentar a sua «componente técnica» <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />
as reais necessida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong> e, <strong>de</strong>sta forma, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à sua natureza e efeito, ser<br />
consi<strong>de</strong>rada por to<strong>do</strong>s uma política pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, “que regule ou sirva <strong>de</strong> base a<br />
acções saudáveis e práticas <strong>para</strong> a prevenção, <strong>de</strong>tecção, controlo e gestão <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças”<br />
(Glanz, 1999)<br />
No entanto, tais objectivos políticos só são passíveis <strong>de</strong> serem atingi<strong>do</strong>s se<br />
houver uma preocupação complementar sobre a Educação <strong>para</strong> a Saú<strong>de</strong>, que segun<strong>do</strong><br />
Tones & Tilford (1994, cita<strong>do</strong>s em Tones, 1997), é qualquer activida<strong>de</strong> intencional<br />
<strong>de</strong>senhada <strong>para</strong> atingir uma aprendizagem relacionada com a saú<strong>de</strong> ou a <strong>do</strong>ença, como<br />
por exemplo, algumas alterações relativamente permanentes nas capacida<strong>de</strong>s ou<br />
disposições <strong>de</strong> um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> indivíduo. Consequentemente, uma Educação <strong>para</strong> a<br />
Saú<strong>de</strong> efectiva po<strong>de</strong>rá produzir alterações no conhecimento e na compreensão ou nas<br />
maneiras <strong>de</strong> pensar; po<strong>de</strong>rá influenciar ou clarificar os valores; po<strong>de</strong>rá realçar algumas<br />
mudanças nas crenças ou atitu<strong>de</strong>s; po<strong>de</strong>rá facilitar a aquisição <strong>de</strong> aptidões; po<strong>de</strong>rá até<br />
mesmo efectivar alterações nos comportamentos ou nos estilos <strong>de</strong> vida. Com a presente<br />
<strong>de</strong>finição explicita-se, assim, o importante papel da educação <strong>para</strong> a saú<strong>de</strong> na promoção<br />
<strong>do</strong> empowerment.<br />
57
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Deste mo<strong>do</strong>, <strong>para</strong> que se ultrapassem as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e exista empowerment<br />
individual é fundamental uma política pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que procure obter uma<br />
redistribuição <strong>do</strong>s recursos e, assim, contornar os efeitos patogénicos das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s,<br />
e rectificar a falta <strong>de</strong> empowerment individual ou comunitário. Por outro la<strong>do</strong>, a criação<br />
<strong>de</strong> uma política pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> requer o exercer <strong>de</strong> uma pressão proveniente <strong>de</strong> uma<br />
população com empowerment, que, por sua vez, resulta <strong>de</strong> uma efectiva educação <strong>para</strong> a<br />
saú<strong>de</strong> (Tones, 1994).<br />
Este jogo <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendências, ilustra<strong>do</strong> na figura 5, <strong>de</strong>monstra o caminho pelo<br />
qual o empowerment, como resulta<strong>do</strong> ou efeito da Educação <strong>para</strong> a saú<strong>de</strong>, e suporta<strong>do</strong><br />
por orientações políticas verda<strong>de</strong>iramente públicas, contribui <strong>para</strong> o atingir <strong>do</strong>s<br />
objectivos da Protecção e Promoção da Saú<strong>de</strong>.<br />
POLÍTICA PÚBLICA<br />
DE SAÚDE<br />
Sistema<br />
Motivacional<br />
Sistema<br />
Normativo<br />
SAÚDE<br />
Equida<strong>de</strong> <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r e <strong>do</strong>s<br />
recursos<br />
Circunstâncias<br />
ambientais e sociais<br />
Empowerment<br />
Sistema <strong>de</strong><br />
Crenças<br />
EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE<br />
POLÍTICA PÚBLICA<br />
DE SAÚDE<br />
Figura 5 – O Empowerment como <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> efectivida<strong>de</strong> das práticas preventivas e <strong>de</strong> promoção da<br />
saú<strong>de</strong> – Adaptação <strong>de</strong> “The contribution of education to health promotion” e <strong>de</strong> “Health<br />
Education, Empowerment and Health Promotion”.<br />
Fonte: Tones, “Health education as empowerment”, 1994, p. 41.<br />
Tones, “Health Promotion, Empowerment and Action Competence”, 1994, p.168.<br />
Importa referir que a figura anterior, <strong>para</strong> além <strong>de</strong> reflectir o papel <strong>de</strong>terminante<br />
<strong>do</strong> empowerment na obtenção <strong>de</strong> ganhos em saú<strong>de</strong>, ou seja, na efectivida<strong>de</strong> das práticas<br />
preventivas e <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong>, também enfatiza a natureza dinâmica <strong>do</strong> conceito<br />
58
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, bem como, a influência da interactivida<strong>de</strong> <strong>do</strong> indivíduo com o ambiente que o<br />
ro<strong>de</strong>ia em to<strong>do</strong> este processo. De acor<strong>do</strong> com Tones (1997), a intenção <strong>de</strong> um<br />
<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> indivíduo <strong>para</strong> empreen<strong>de</strong>r qualquer acção em saú<strong>de</strong> é influenciada por<br />
três sistemas principais, nomeadamente, um conjunto <strong>de</strong> crenças, um grupo <strong>de</strong> factores<br />
motivacionais e várias pressões normativas.<br />
No que diz respeito à interactivida<strong>de</strong> entre indivíduo e ambiente, Tones (1994)<br />
enfatiza o facto das pessoas não serem completamente controladas pelo seu ambiente,<br />
nem po<strong>de</strong>rem controlar totalmente as suas circunstâncias físicas, sociais e económicas,<br />
sen<strong>do</strong> necessário a criação <strong>de</strong> ambientes saudáveis que suportem e facilitem a a<strong>do</strong>pção<br />
ou manutenção <strong>de</strong> estilos <strong>de</strong> vida mais saudáveis.<br />
Esta noção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e ambiente, que Bandura (1982, cita<strong>do</strong> em Tones, 1994)<br />
<strong>de</strong>nomina como «<strong>de</strong>terminismo recíproco» é <strong>de</strong> importância central <strong>para</strong> o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> empowerment na Educação <strong>para</strong> a Saú<strong>de</strong> e na<br />
Promoção e Protecção da Saú<strong>de</strong>, como iremos caracterizar mais à frente.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, potencialmente, o empowerment tem muito que oferecer à<br />
Promoção e Protecção da Saú<strong>de</strong>, mas, a falta <strong>de</strong> uma conceptualização teórica clara, e<br />
acima <strong>de</strong> qualquer questionamento, a <strong>de</strong>storção <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os diferentes<br />
utiliza<strong>do</strong>res, as ambiguida<strong>de</strong>s avaliativas, assim como, as barreiras estruturais, fazem <strong>do</strong><br />
empowerment algo <strong>de</strong> difícil obtenção (Rissel, 1994)<br />
A principal dificulda<strong>de</strong> <strong>para</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento e aplicação da teoria <strong>de</strong><br />
empowerment na Promoção da Saú<strong>de</strong> tem si<strong>do</strong> a falta <strong>de</strong> clareza no que diz respeito ao<br />
enfoque <strong>do</strong> mesmo (Tones, 1992, cita<strong>do</strong> em Rissel, 1994). A Promoção da Saú<strong>de</strong><br />
necessita, por isto, <strong>de</strong> direccionar-se <strong>para</strong> este obstáculo antes que o empowerment seja<br />
usa<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma abrangente como sen<strong>do</strong> o «fiel da balança» através <strong>do</strong> qual a Promoção<br />
da saú<strong>de</strong> se julgue a si própria. (Rissel, 1994)<br />
No <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um enquadramento conceptual e operacionalização <strong>do</strong><br />
processo <strong>de</strong> empowerment, Zimmerman (2000) refere que os seus mecanismos incluem<br />
diferentes níveis <strong>de</strong> análise, nomeadamente, as competências e os comportamentos<br />
próactivos individuais, os sistemas <strong>de</strong> ajuda naturais e a efectivida<strong>de</strong> organizacional, e a<br />
competência comunitária e os acessos aos seus recursos. Cada nível <strong>de</strong> análise, apesar<br />
<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ser <strong>de</strong>scrito se<strong>para</strong>damente, está inerentemente liga<strong>do</strong> aos outros, ou seja, o<br />
empowerment individual, organizacional e comunitário são mutuamente<br />
inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e são os três causa e consequência <strong>de</strong> cada um <strong>do</strong>s outros, sen<strong>do</strong> o<br />
grau <strong>de</strong> empowerment que cada elemento <strong>de</strong> um nível atinge, um potencial <strong>de</strong><br />
empowerment <strong>para</strong> os outros níveis <strong>de</strong> análise. Zimmerman & Warschausky (1998, pp.<br />
59
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
4 e 5), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que o constructo <strong>do</strong> empowerment psicológico, que se refere ao nível<br />
<strong>de</strong> análise individual,<br />
... integra a percepção <strong>de</strong> controle pessoal, uma abordagem pró-activa da vida, por<br />
forma a atingir objectivos, e uma consciencialização crítica acerca <strong>do</strong>s factores que<br />
subvalorizam ou enaltecem o esforço <strong>do</strong> indivíduo <strong>para</strong> exercer controle sobre a sua<br />
própria vida. Num nível <strong>de</strong> análise organizacional, o empowerment inclui processos<br />
e estruturas que incentivem a participação activa <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os seus membros, <strong>de</strong><br />
forma a melhorar a capacida<strong>de</strong> organizacional <strong>para</strong> atingir os seus objectivos. Ao<br />
nível da análise comunitária, o empowerment po<strong>de</strong> referir-se à participação colectiva<br />
<strong>para</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida na comunida<strong>de</strong>, e melhorar o contacto entre<br />
organizações e agentes <strong>de</strong>ssa mesma comunida<strong>de</strong>.<br />
No entanto, é <strong>de</strong> realçar que os empowerment comunitário e organizacional não<br />
são, simplesmente, um agrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> indivíduos com altos níveis <strong>de</strong> empowerment, uma<br />
vez que o facto <strong>de</strong> a nível individual os membros possuírem algum grau <strong>de</strong><br />
empowerment po<strong>de</strong> não ser suficiente <strong>para</strong> que a organização ou a comunida<strong>de</strong> utilize<br />
estratégias ou processos <strong>de</strong> empowerment (Zimmerman & Warschausky, 1998).<br />
Numa tentativa <strong>de</strong> conseguir um quadro consistente, <strong>de</strong> suporte ao<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> investigações, Zimmerman (1993, 1995, cita<strong>do</strong> em Zimmerman &<br />
Warschausky, 1998) <strong>de</strong>lineou três dimensões da teoria <strong>de</strong> empowerment:<br />
- os valores, que consistem num sistema <strong>de</strong> crenças que tem como<br />
objectivo reger uma conduta pela qual profissionais e clientes <strong>de</strong>vem<br />
trabalhar juntos;<br />
- os processos, que são mecanismos através <strong>do</strong>s quais pessoas,<br />
organizações e comunida<strong>de</strong>s adquirem perícia e controlo sobre assuntos<br />
que lhes dizem respeito, <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> uma atitu<strong>de</strong> crítica sobre o seu<br />
meio ambiente e participan<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma activa nas <strong>de</strong>cisões que afectam<br />
as suas vidas;<br />
- os resulta<strong>do</strong>s, que dizem respeito às consequências <strong>do</strong>s processos, isto é,<br />
é o nível <strong>de</strong> empowerment que as pessoas, organizações e comunida<strong>de</strong>s<br />
apresentam após os processos <strong>de</strong> empowerment.<br />
De acor<strong>do</strong> com Bacatum, Vieira e Costa (1998), os valores traduzem sempre a<br />
representação <strong>de</strong> qualquer coisa e/ou <strong>de</strong> alguém, sen<strong>do</strong> um processo em que se<br />
estabelece uma relação com o mun<strong>do</strong> e com as coisas. Neste contexto, citan<strong>do</strong> as<br />
mesmas autoras (1998), os valores oferecem uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s que permitem a<br />
ancoragem da acção e a atribuição <strong>de</strong> senti<strong>do</strong> a acontecimentos, comportamentos,<br />
pessoas, grupos e factos sociais. Por tu<strong>do</strong> isto, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> relacionar os<br />
valores com o senti<strong>do</strong> que a pessoa atribuí perante a prática, isto é, a acção materializa a<br />
prática, mas o senti<strong>do</strong> que nela se inscreve é da or<strong>de</strong>m <strong>do</strong> simbólico, resultan<strong>do</strong> a<br />
60
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
prática da articulação entre o objecto da acção (percebi<strong>do</strong>) e o sistema <strong>de</strong> disposições<br />
daquele que age (hábitos, quadros <strong>de</strong> referência, capacida<strong>de</strong>s cognitivas), pelo que as<br />
práticas são práticas simbólicas (Rebelo, 1998).<br />
No que se refere às outras duas dimensões da teoria <strong>de</strong> empowerment, importa<br />
frisar que não se estabelece, rigidamente, quais são os processos e os resulta<strong>do</strong>s que são<br />
supostos existir, da<strong>do</strong> que, como já referimos anteriormente, basea<strong>do</strong>s no dinamismo e<br />
especificida<strong>de</strong> <strong>do</strong> empowerment, quer uns quer outros, variam os seus contornos<br />
consoante o contexto e o significa<strong>do</strong> que têm <strong>para</strong> cada pessoa (Zimmerman, 1995).<br />
Alguns autores, como Zimmerman, Israel, Schulz & Checkoway (1992),<br />
Zimmerman (1995, 2000) e Zimmerman & Warschausky (1998), propuseram um<br />
mo<strong>de</strong>lo conceptual <strong>de</strong> empowerment psicológico, que consiste em três componentes:<br />
- a componente intrapessoal, que se refere à percepção que cada um tem<br />
sobre a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> influência nos sistemas social e político que<br />
lhes são importantes, e inclui processos intrapsíquicos <strong>de</strong> percepção <strong>de</strong><br />
controle das áreas da personalida<strong>de</strong>, cognição e motivação;<br />
- a componente interaccional, que se refere à percepção que cada um tem<br />
sobre a comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> vivem e as questões sociopolíticas, com as<br />
quais se relacionam, e inclui o conhecimento acerca <strong>do</strong>s recursos<br />
necessários <strong>para</strong> o atingir <strong>do</strong>s objectivos, a compreensão <strong>do</strong>s factores <strong>de</strong><br />
risco, a consciência crítica e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e<br />
<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> problemas;<br />
- a componente comportamental, que diz respeito às acções empreendidas<br />
por cada um <strong>para</strong> exercer influência nos sistemas social e político,<br />
através da participação em organizações e activida<strong>de</strong>s comunitárias.<br />
Segun<strong>do</strong> Zimmerman (1995), estas três componentes <strong>do</strong> empowerment<br />
psicológico convergem, contribuin<strong>do</strong> <strong>para</strong> o retracto <strong>de</strong> uma pessoa que acredita ter<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>para</strong> influenciar um da<strong>do</strong> contexto (componente intrapessoal), que enten<strong>de</strong><br />
como o sistema opera nesse contexto (componente interaccional) e que a<strong>do</strong>pta<br />
comportamentos <strong>para</strong> exercer controle nesse contexto (componente comportamental).<br />
Zimmerman & Warschausky (1998) referem ainda que este mo<strong>de</strong>lo permite<br />
i<strong>de</strong>ntificar elementos específicos que po<strong>de</strong>m ser apropria<strong>do</strong>s <strong>para</strong> contextos específicos<br />
e particulares, e assim, perceber o nível <strong>de</strong> empowerment psicológico <strong>de</strong> cada indivíduo.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, indivíduos que tenham um nível alto nas três componentes serão os que<br />
têm um nível mais alto <strong>de</strong> empowerment; os que obtêm um nível alto na componente<br />
intrapessoal e níveis baixos nas outras duas componentes, terão um nível limita<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
61
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
empowerment psicológico, ou seja, indivíduos que acreditem que têm controle sobre a<br />
sua vida (componente intrapessoal), mas que não saibam como contornar as barreiras<br />
existentes na comunida<strong>de</strong> (componente interaccional), e que não fazem um esforço <strong>para</strong><br />
a remoção <strong>de</strong>ssas mesmas barreiras (componente comportamental), terão um nível <strong>de</strong><br />
empowerment psicológico inferior, em com<strong>para</strong>ção com indivíduos que <strong>de</strong>senvolvam<br />
mecanismos que influenciam a comunida<strong>de</strong> na remoção <strong>de</strong>ssas mesmas barreiras.<br />
Perante tais consi<strong>de</strong>rações teóricas, procuraremos elaborar o nosso próprio<br />
esquema interpretativo da problemática em estu<strong>do</strong>, por forma a construir uma linha<br />
orienta<strong>do</strong>ra, que sustente o presente processo <strong>de</strong> investigação.<br />
62
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
PARTE B – O ESTUDO DE CASO<br />
63
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
1 – O PROCESSO DE EMPOWERMENT DO PRESTADOR INFORMAL DE<br />
CUIDADOS À PESSOA IDOSA, ALVO DE ADI, COMO DETERMINANTE<br />
DE EFECTIVIDADE DA INTERVENÇÃO ARTICULADA DO APOIO<br />
SOCIAL E DOS CUIDADOS DE SAÚDE CONTINUADOS<br />
Por tu<strong>do</strong> o que foi anteriormente menciona<strong>do</strong>, possuímos to<strong>do</strong>s os vectores<br />
teóricos que nos permitem, à luz <strong>do</strong>s retracta<strong>do</strong>s contextos social e político, precisar as<br />
gran<strong>de</strong>s orientações da investigação, e interpretar a realida<strong>de</strong> <strong>do</strong> fenómeno em estu<strong>do</strong>.<br />
Nesta perspectiva, será caracterizada, neste capítulo, a problemática que suporta to<strong>do</strong> o<br />
processo <strong>de</strong> investigação, <strong>de</strong>screven<strong>do</strong> a perspectiva teórica que <strong>de</strong>cidimos a<strong>do</strong>ptar <strong>para</strong><br />
abordar o contexto natural em que se <strong>de</strong>senvolveu o estu<strong>do</strong> (Quivy e Campenhoudt,<br />
1998).<br />
A par da globalização <strong>do</strong> envelhecimento <strong>de</strong>mográfico, como processo<br />
individual que dura toda a vida e como fenómeno que afecta a socieda<strong>de</strong>, o Distrito <strong>de</strong><br />
Santarém é um <strong>do</strong>s que apresenta e, numa análise prospectiva, irá apresentar as mais<br />
baixas proporções <strong>de</strong> jovens e as mais altas proporções <strong>de</strong> pessoas i<strong>do</strong>sas (Cónim,<br />
1999). Para além da estrutura populacional, o mesmo autor (1999), projecta que<br />
actualmente, e no futuro, o Distrito <strong>de</strong> Santarém é, e será, um <strong>do</strong>s que apresenta maiores<br />
índices <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> i<strong>do</strong>sos, bem como, maiores índices <strong>de</strong> envelhecimento<br />
<strong>de</strong>mográfico (≥ 65 anos/0-14 anos).<br />
Perante este enquadramento <strong>de</strong>mográfico, que é a realida<strong>de</strong> <strong>do</strong> meu <strong>de</strong>sempenho<br />
profissional, enquanto promotora <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, está bem presente a importância da<br />
operacionalização, no Distrito <strong>de</strong> Santarém, <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Intervenção Articulada <strong>de</strong><br />
Apoio Social e <strong>de</strong> Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Continua<strong>do</strong>s, que, como já mencionámos, se<br />
apresenta como uma resposta política face ao envelhecimento <strong>de</strong>mográfico nacional.<br />
Pelo Serviço Sub-Regional <strong>de</strong> Santarém, que operacionaliza esta intervenção em 8<br />
Concelhos, integran<strong>do</strong> 8 Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Sub-Região <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santarém e 19<br />
Instituições <strong>de</strong> Apoio Social, no ano <strong>de</strong> 2001, foram atendi<strong>do</strong>s em respostas integradas,<br />
entre Janeiro e Dezembro, 344 pessoas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, das quais 141 transitaram <strong>do</strong> ano<br />
anterior (Ministérios da Saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Trabalho e da Solidarieda<strong>de</strong>; SSRS, 2002). Os<br />
64
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Concelhos anteriormente menciona<strong>do</strong>s encontram-se assinala<strong>do</strong>s na figura 6, que, por<br />
or<strong>de</strong>m alfabética, são os Concelhos <strong>de</strong> Alpiarça, Entroncamento, Ferreira <strong>do</strong> Zêzere,<br />
Golegã, Mação, Santarém, Torres Novas e Vila Nova da Barquinha.<br />
Rio Maior<br />
Cartaxo<br />
Benavente<br />
Torres Novas<br />
Sar<strong>do</strong>al<br />
Alcanena<br />
VN Barquinha<br />
Entroncamento<br />
Abrantes<br />
Constância<br />
Golegã<br />
Santarém<br />
Chamusca<br />
Alpiarça<br />
Salvaterra<br />
<strong>de</strong> Magos<br />
Ourém<br />
Almeirim<br />
Coruche<br />
F. Zêzere<br />
Tomar<br />
Mação<br />
Figura 6 – Concelhos <strong>do</strong> Distrito <strong>de</strong> Santarém que integram a Intervenção Articulada <strong>de</strong> Apoio Social e<br />
<strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Continua<strong>do</strong>s dirigi<strong>do</strong>s às pessoas em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência.<br />
Das pessoas em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência física, mental ou social, é <strong>de</strong> frisar que,<br />
no mesmo ano, 88% <strong>do</strong>s utentes que receberam cuida<strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>s no Distrito <strong>de</strong><br />
Santarém, são pessoas i<strong>do</strong>sas (apresentan<strong>do</strong> a maioria, ou seja, 76%, uma ida<strong>de</strong> superior<br />
ou igual a 75 anos), 59% são mulheres, 80% apresentam uma <strong>de</strong>pendência entre D3 e<br />
D5, inclusive (D3 - 29%, D4 - 29% e D5 - 22% - Anexo I), e o principal motivo da<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>s, quer em ADI, como em UAI, é o <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença crónica<br />
(Ministérios da Saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Trabalho e da Solidarieda<strong>de</strong>; SSRS, 2002).<br />
In<strong>do</strong> <strong>de</strong> encontro às orientações teóricas, também no Distrito <strong>de</strong> Santarém, o<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> intervenção articulada, <strong>de</strong> completa interface entre a saú<strong>de</strong> e a acção social,<br />
trata-se <strong>de</strong> uma intervenção no âmbito da Promoção e Protecção da Saú<strong>de</strong> que, prioriza<br />
o ambiente <strong>do</strong>miciliário, enquanto espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> à pessoa em<br />
situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, e prevê, com substancial ênfase, o cuida<strong>do</strong> informal presta<strong>do</strong><br />
por familiares, amigos, vizinhos e/ou voluntários. Para ilustrar esta i<strong>de</strong>ia importa referir<br />
que <strong>do</strong> total <strong>de</strong> utentes atendi<strong>do</strong>s pelo Serviço Sub-Regional <strong>de</strong> Santarém, a gran<strong>de</strong><br />
maioria (73%) foi atendida em ADI, os restantes 92 utentes foram atendi<strong>do</strong>s em UAI, e<br />
65
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
<strong>de</strong>stes últimos, a maioria <strong>do</strong>s que tiveram alta, não por falecimento, já não possuíam<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s e/ou apresentavam apoio familiar suficiente, ou foram<br />
encaminha<strong>do</strong>s <strong>para</strong> ADI (Ministérios da Saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong> Trabalho e da Solidarieda<strong>de</strong>; SSRS,<br />
2002). Relativamente à situação familiar, a maioria <strong>do</strong>s utentes que foram atendi<strong>do</strong>s<br />
quer em ADI (76%), como em UAI (63%), segun<strong>do</strong> os Ministérios da Saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong><br />
Trabalho e da Solidarieda<strong>de</strong>; SSRS (2002), não se encontravam sós, mas sim a viver,<br />
principalmente, no caso <strong>do</strong>s utentes atendi<strong>do</strong>s em ADI, com cônjuges e/ou outros<br />
familiares que lhes po<strong>de</strong>m prestar cuida<strong>do</strong>s (42%), e no caso <strong>do</strong>s utentes atendi<strong>do</strong>s em<br />
UAI, com cônjuges e/ou outros familiares que não lhes po<strong>de</strong>m prestar cuida<strong>do</strong>s (32%).<br />
Este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> intervenção vem, <strong>de</strong>sta forma, reforçar a inegável pertinência<br />
social, política e económica da vertente <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal, que <strong>para</strong> além disso, ou<br />
por isso mesmo, é também objecto <strong>de</strong> uma forte pressão e responsabilização sociais, já<br />
que se espera que as famílias, principais instituições <strong>de</strong> suporte informal à população<br />
i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das transformações que têm vin<strong>do</strong> a atravessar,<br />
consigam manter os seus ascen<strong>de</strong>ntes afasta<strong>do</strong>s das vicissitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uma eventual<br />
institucionalização precoce (Perista et al, 1997).<br />
Neste senti<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> os mesmos autores (1997), o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong><br />
cuida<strong>do</strong> informal, que implica a interacção entre a pessoa i<strong>do</strong>sa, o presta<strong>do</strong>r informal e o<br />
presta<strong>do</strong>r formal, num ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s que é o <strong>do</strong>miciliário,<br />
não po<strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong> como apazigua<strong>do</strong>r das nossas preocupações, enquanto<br />
profissionais, mas um estímulo à consciência <strong>do</strong> falso pressuposto <strong>de</strong> que as famílias<br />
estão naturalmente habilitadas <strong>para</strong> apoiar os seus ascen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, pois, pelo<br />
contrário, a situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> informal coloca inúmeros problemas e novos <strong>de</strong>safios<br />
às famílias, <strong>para</strong> os quais estas não se encontram capacitadas a respon<strong>de</strong>r,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong> seu inegável papel nas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suporte à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.<br />
É, por isto, evi<strong>de</strong>nte a importância em investir na coexistência e melhor<br />
articulação entre a re<strong>de</strong> informal e a re<strong>de</strong> formal (já que esta se tem revela<strong>do</strong> sobretu<strong>do</strong><br />
alternativa e raramente complementar), bem como <strong>de</strong>finir e introduzir novos<br />
protagonistas em campo (facilitan<strong>do</strong>, entre outros, o aparecimento <strong>de</strong> iniciativas<br />
privadas qualificadas e a co-responsabilização das entida<strong>de</strong>s emprega<strong>do</strong>ras) <strong>de</strong> suporte<br />
ao empowerment <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal durante um processo <strong>de</strong> reestruturação e <strong>de</strong><br />
readaptação, permanente, na prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa, em ambiente<br />
<strong>do</strong>miciliário.<br />
66
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Numa perspectiva sistémica <strong>do</strong>s ganhos em saú<strong>de</strong>, tal como o envolvimento e a<br />
participação da pessoa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, a educação das mesmas e a motivação e educação na<br />
comunida<strong>de</strong>, o empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, é um <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> efectivida<strong>de</strong> da Intervenção Articulada <strong>do</strong> Apoio<br />
Social e <strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Continua<strong>do</strong>s, pois <strong>de</strong>ve ser assumi<strong>do</strong> como um factor<br />
que <strong>de</strong>termina o alcançar <strong>do</strong> efeito <strong>de</strong>seja<strong>do</strong> na população alvo, isto é, na pessoa<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte em ambiente <strong>do</strong>miciliário, que consiste em melhorar a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da<br />
pessoa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e a sua inserção social.<br />
Mckibbon, Généreux e Séguin-Roberge (1996) referem que os objectivos <strong>de</strong><br />
qualquer programa <strong>de</strong> apoio a i<strong>do</strong>sos <strong>de</strong>verão ser, a promoção <strong>de</strong> um crescimento<br />
comunitário que valorize e apoie os presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, assim como, o acesso <strong>do</strong>s mesmos às informações <strong>de</strong> que necessitam acerca<br />
<strong>do</strong>s recursos comunitários disponíveis.<br />
Sen<strong>do</strong> assim, e seguin<strong>do</strong> os mesmos autores (1996), os programas educacionais<br />
e <strong>de</strong> suporte permitem que o presta<strong>do</strong>r informal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s aumente os seus<br />
conhecimentos em áreas como o envelhecimento normal, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong><br />
aptidões, a gestão <strong>do</strong> tempo e os recursos da comunida<strong>de</strong>, provi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong>, igualmente,<br />
uma fonte <strong>de</strong> suporte emocional pelos pares.<br />
Justificada a importância da existência <strong>de</strong> empowerment nos presta<strong>do</strong>res<br />
informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, alvo <strong>de</strong> ADI, na efectivida<strong>de</strong> da<br />
Intervenção Articulada <strong>do</strong> Apoio Social e <strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Continua<strong>do</strong>s, e<br />
perante o facto <strong>de</strong> que o Serviço Sub-Regional <strong>de</strong> Santarém, no processo <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong>sta<br />
intervenção, não possui qualquer conhecimento acerca <strong>de</strong>stes presta<strong>do</strong>res e respectivo<br />
empowerment, torna-se evi<strong>de</strong>nte a actual incapacida<strong>de</strong> <strong>para</strong> avaliar a efectivida<strong>de</strong> da<br />
mesma, não in<strong>do</strong> <strong>de</strong> encontro a um <strong>do</strong>s gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>safios da Promoção e Protecção da<br />
Saú<strong>de</strong>. Para que tal ocorra, é necessário construir to<strong>do</strong> um processo <strong>de</strong> Gestão <strong>de</strong><br />
Programa, resultante <strong>de</strong> uma interacção entre a cultura da intervenção e da avaliação em<br />
Promoção e Protecção da Saú<strong>de</strong> e a meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> Planeamento em Saú<strong>de</strong>, que<br />
preconiza um controle sobre os <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>/<strong>do</strong>ença e uma capacitação<br />
individual e comunitária <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> recursos ao longo <strong>do</strong> planeamento,<br />
implementação e avaliação, como suporte à efectivida<strong>de</strong> das práticas preventivas e <strong>de</strong><br />
promoção da saú<strong>de</strong>.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, ao <strong>de</strong>senvolvermos este estu<strong>do</strong>, temos como finalida<strong>de</strong> contribuir<br />
<strong>para</strong> a garantia da efectivida<strong>de</strong> da Intervenção <strong>do</strong> Apoio Social e <strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
Continua<strong>do</strong>s dirigi<strong>do</strong>s às pessoas em situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, no Serviço Sub-Regional<br />
67
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
<strong>de</strong> Santarém, sen<strong>do</strong>, <strong>para</strong> tal, <strong>de</strong> extrema importância tornar inteligível o processo <strong>de</strong><br />
empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> por base a temática <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte em ambiente <strong>do</strong>miciliário, to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> investigação, que <strong>de</strong> seguida<br />
iremos <strong>de</strong>screver, tem como intuito respon<strong>de</strong>r à questão:<br />
“Como se caracteriza o processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa, alvo <strong>de</strong> Apoio Domiciliário Integra<strong>do</strong>?”<br />
Deste mo<strong>do</strong>, a presente investigação possui um interesse, necessida<strong>de</strong> e utilida<strong>de</strong><br />
pessoal, pública e científica. Pessoal, uma vez que, enquanto presta<strong>do</strong>ra formal e<br />
promotora <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, só compreen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o fenómeno <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, conseguirei planear<br />
cuida<strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>s com qualida<strong>de</strong>. Pública e científica, na medida em que, como esta<br />
linha <strong>de</strong> investigação ainda não foi explorada no âmbito <strong>do</strong> Serviço Sub-Regional <strong>de</strong><br />
Santarém, po<strong>de</strong> acrescentar conhecimento na temática específica a que se refere, e <strong>de</strong>sta<br />
forma, viabilizar <strong>de</strong>cisões e acções fundamentadas.<br />
Importa referir que a problemática em estu<strong>do</strong> contém três gran<strong>de</strong>s dimensões<br />
pois, <strong>para</strong> caracterizar as etapas <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais<br />
é necessário estudar a especificida<strong>de</strong> sócio-<strong>de</strong>mográfica da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio informal à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI e a percepção <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais acerca <strong>do</strong> impacto e<br />
satisfação no cuida<strong>do</strong> à pessoa alvo <strong>de</strong> ADI.<br />
Ten<strong>do</strong> opta<strong>do</strong> pela análise teórica aqui mencionada, apresentamos na figura 7 o<br />
nosso esquema interpretativo, a partir <strong>do</strong> qual visamos atingir os seguintes objectivos:<br />
- caracterizar a especificida<strong>de</strong> sócio-<strong>de</strong>mográfica da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio<br />
informal à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI;<br />
- <strong>de</strong>screver a percepção <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais acerca <strong>do</strong> impacto e<br />
satisfação no cuida<strong>do</strong> à pessoa alvo <strong>de</strong> ADI;<br />
- caracterizar as etapas <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res<br />
informais enquanto sistemas activos no processo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI.<br />
Importa referir que, ten<strong>do</strong> como objecto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> empowerment<br />
<strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, torna-se necessário um quadro <strong>de</strong> referência que<br />
oriente, <strong>de</strong> uma forma geral, a sua abordagem. Consi<strong>de</strong>ro, por isso, que a perspectiva<br />
individual <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment, <strong>de</strong>ve ser analisada ten<strong>do</strong> por base valores,<br />
processos e resulta<strong>do</strong>s, assente num mo<strong>de</strong>lo sistémico, consi<strong>de</strong>rar a natureza fisiológica,<br />
68
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
psicológica, sociocultural, espiritual e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s <strong>de</strong>terminantes que<br />
influenciam os processos, e as componentes intrapessoal, interaccional comportamental<br />
<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s. É <strong>de</strong> frisar ainda que incidiremos no nível <strong>de</strong> análise individual visto que<br />
se trata <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong> inicial, no que se refere a esta problemática, e segun<strong>do</strong><br />
Zimmerman (2000), não existe empowerment comunitário ou organizacional sem<br />
empowerment psicológico, sen<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sta forma, as pessoas com empowerment a base<br />
responsável pelo <strong>de</strong>senvolvimento das organizações e das comunida<strong>de</strong>s participativas.<br />
Perante tais tópicos ou objectivos, que caracterizam o enfoque <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>,<br />
passamos a apresentar as questões <strong>de</strong> investigação:<br />
- Como se distribuem os presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, alvo <strong>de</strong> ADI, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com variáveis sócio-<strong>de</strong>mográficas<br />
ida<strong>de</strong>, sexo, esta<strong>do</strong> civil, habilitações literárias, grau <strong>de</strong> parentesco e<br />
situação profissional?<br />
- Qual a percepção <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa,<br />
alvo <strong>de</strong> ADI, acerca <strong>do</strong> impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> no seu estilo <strong>de</strong> vida e da<br />
satisfação em cuidar?<br />
- Como é conceptualiza<strong>do</strong> pelos presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa, alvo <strong>de</strong> ADI, o seu processo <strong>de</strong> empowerment?<br />
O processo <strong>de</strong> investigação que irei <strong>de</strong>screver, nos capítulos seguintes, tem por<br />
base alguns conceitos relaciona<strong>do</strong>s com o objecto <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> e que <strong>de</strong>vem estar<br />
explicitamente <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s <strong>para</strong> que to<strong>do</strong>s aqueles que leiam este <strong>do</strong>cumento façam uma<br />
mesma interpretação <strong>do</strong>s mesmos:<br />
- Pessoa I<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – pessoa que tem uma ida<strong>de</strong> igual ou superior a<br />
65 anos e que não apresenta capacida<strong>de</strong>s físicas ou mentais, temporárias<br />
ou permanentes, <strong>de</strong> auto-cuida<strong>do</strong> nas activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida diária.<br />
- Cuida<strong>do</strong>s Informais – cuida<strong>do</strong>s não remunera<strong>do</strong>s, presta<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> forma<br />
parcial ou integral, à pessoa i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte por pessoas que pertencem<br />
à re<strong>de</strong> informal, em ambiente <strong>do</strong>miciliário.<br />
- Presta<strong>do</strong>res Informais – pessoas não remuneradas, que pertencem à re<strong>de</strong><br />
informal e que prestam cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte alvo <strong>de</strong> ADI.<br />
69
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
2 – O MODO DE INVESTIGAÇÃO NUMA SITUAÇÃO SOCIAL<br />
Neste capítulo apresentamos as características que <strong>de</strong>finem o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
investigação, ou seja, a maneira como <strong>de</strong>cidimos consi<strong>de</strong>rar os sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> e a<br />
sua situação, sen<strong>do</strong> este processo basea<strong>do</strong> nos objectivos da investigação (Lessard-<br />
-Hébert, Goyette e Boutin, 1990).<br />
Foi nesta etapa <strong>do</strong> processo que tomámos algumas <strong>de</strong>cisões acerca da<br />
operacionalização da investigação, <strong>de</strong>cisões essas que foram tomadas ten<strong>do</strong> por base<br />
to<strong>do</strong> o percurso anteriormente percorri<strong>do</strong>, existin<strong>do</strong> uma constante atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ruptura e<br />
consequente construção conceptual.<br />
Que estratégia <strong>de</strong> pesquisa assumir? Que tipo <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s explorar?<br />
Procuran<strong>do</strong> construir um percurso lógico e coerente ao longo <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />
investigação, quan<strong>do</strong> nos <strong>de</strong>parámos com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
pesquisa, revimos a natureza <strong>do</strong> problema <strong>de</strong> investigação e <strong>do</strong> produto final <strong>de</strong>seja<strong>do</strong>.<br />
I<strong>de</strong>ntificámos o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso como o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> pesquisa mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> à<br />
investigação pretendida, uma vez que segun<strong>do</strong> Yin (2001), opta-se por esta estratégia<br />
quan<strong>do</strong> se preten<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r fenómenos contemporâneos e complexos, <strong>de</strong> nível<br />
individual, social e político, como é o caso <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res informais que, sen<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong> individualmente, emerge <strong>de</strong> um contexto<br />
social <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa, em ambiente <strong>do</strong>miciliário, e apresenta-se como um<br />
<strong>de</strong>safio público, num contexto político <strong>de</strong> respostas integradas como o ADI. Para além<br />
disto, existem outras razões <strong>para</strong> a utilização <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso na investigação <strong>do</strong><br />
processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong><br />
ADI, como é o facto <strong>do</strong> problema <strong>de</strong> investigação ser expresso por uma questão <strong>do</strong> tipo<br />
“Como”, e pelo cariz singular e holístico <strong>do</strong> objecto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> que impõe um méto<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
investigação o menos limita<strong>do</strong> possível, isto é, «aberto» ao real tal como ele se<br />
apresenta (Yin, 2001).<br />
No que diz respeito ao aprofundamento da pesquisa, o presente estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso<br />
encontra-se inseri<strong>do</strong> num contexto <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta e tem um carácter exploratório, visto<br />
que a base <strong>de</strong> conhecimento existente acerca <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente <strong>do</strong>miciliário é <strong>de</strong>ficiente<br />
70
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
e a literatura disponível não fornece nenhuma estrutura conceptual que sirva <strong>de</strong> base ao<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> proposições teóricas (Yin, 2001), mas sim apenas uma perspectiva<br />
teórica global que orienta a investigação e permite, assim, ir <strong>para</strong> além <strong>de</strong> um<br />
amontoa<strong>do</strong> pouco sistemático e arbitrário <strong>de</strong> acontecimentos (Bogdan & Biklen, 1999).<br />
Para além <strong>de</strong> ser um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso exploratório, é suporta<strong>do</strong> por uma<br />
abordagem <strong>de</strong> investigação mista, retractan<strong>do</strong> a possível convergência e<br />
complementarida<strong>de</strong> entre os <strong>para</strong>digmas qualitativo e quantitativo, sem a existência <strong>de</strong><br />
recessivida<strong>de</strong> e/ou <strong>do</strong>minância em qualquer um <strong>de</strong>les no mesmo processo <strong>de</strong><br />
investigação (Creswell, 1994). Lessard-Hébert, Goyette e Boutin (1990) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m este<br />
continuum meto<strong>do</strong>lógico, em que um não vem substituir o outro, e recriminam uma<br />
dicotomia <strong>para</strong>digmática que, segun<strong>do</strong> eles, conduz à construção <strong>de</strong> barreiras que<br />
impe<strong>de</strong>m o progresso das questões meto<strong>do</strong>lógicas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m prática, com as quais os<br />
investiga<strong>do</strong>res por vezes se <strong>de</strong>frontam. (Figura 8, p. 73)<br />
A opção pelos <strong>para</strong>digmas quantitativo e qualitativo, surge da natureza<br />
específica <strong>do</strong>s objectos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> e <strong>do</strong> papel da teoria no processo <strong>de</strong> investigação. O<br />
processo <strong>de</strong> empowerment, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma diferente e apresentan<strong>do</strong><br />
características diferentes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> da especificida<strong>de</strong> da pessoa e da particularida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> contexto em que esta se insere (cf. Gibson e Zimmerman, p. 55), <strong>de</strong>ve ser estuda<strong>do</strong><br />
com ênfase, tal como é preconiza<strong>do</strong> no <strong>para</strong>digma qualitativo, no significa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />
recolhi<strong>do</strong>s, no mo<strong>do</strong> como as pessoas dão senti<strong>do</strong> aquilo que experimentam, como<br />
interpretam as suas experiências e como estruturam o mun<strong>do</strong> social em que vivem<br />
(Bogdan & Biklen, 1999). Assim, ao enveredarmos pela abordagem qualitativa, temos<br />
como objectivo compreen<strong>de</strong>r o processo mediante o qual as pessoas constróem os<br />
significa<strong>do</strong>s e <strong>de</strong>screver em que consistem esses mesmos significa<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> forma a<br />
investigar o fenómeno em toda a sua complexida<strong>de</strong> e em contexto natural (Bogdan &<br />
Biklen, 1999).<br />
Por outro la<strong>do</strong>, a ausência <strong>de</strong> uma estrutura conceptual que suporte o processo <strong>de</strong><br />
empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoas i<strong>do</strong>sa em ambiente<br />
<strong>do</strong>miciliário, leva a que, no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> seu processo <strong>de</strong> investigação, se vá<br />
construin<strong>do</strong> uma teoria à medida que se recolhem e analisam os da<strong>do</strong>s particulares, e<br />
não confirmar ou infirmar hipóteses previamente construídas, com base numa estrutura<br />
conceptual sólida, apoiada em evidências científicas, como aconteceria se<br />
enveredássemos numa abordagem quantitativa (Bogdan & Biklen, 1999). Esta<br />
perspectiva vai <strong>de</strong> encontro ao méto<strong>do</strong> indutivo utiliza<strong>do</strong> no <strong>para</strong>digma qualitativo que,<br />
segun<strong>do</strong> Quivy & Campenhoudt (1998), serve os investiga<strong>do</strong>res que se iniciam num<br />
71
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
terreno que <strong>de</strong>sconhecem, permitin<strong>do</strong> a construção <strong>de</strong> novos conceitos, o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma teoria/mo<strong>de</strong>lo interpretativo e a elaboração <strong>de</strong> proposições<br />
que, em posteriores estu<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>rão então ser testadas. Importa referir que a aplicação<br />
<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> indutivo na construção <strong>de</strong> uma teoria, surge <strong>de</strong> uma generalização <strong>do</strong>s<br />
resulta<strong>do</strong>s que não <strong>de</strong>ve ser confundida com a generalização estatística das abordagens<br />
quantitativas. De acor<strong>do</strong> com Yin (2001), este processo <strong>de</strong> generalização, consiste numa<br />
generalização analítica na qual ocorrerá a generalização <strong>de</strong> um conjunto particular <strong>de</strong><br />
resulta<strong>do</strong>s a uma teoria mais abrangente.<br />
Esta real necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma estrutura conceptual referente ao<br />
processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa em<br />
ambiente <strong>do</strong>miciliário, torna-se um fundamento lógico <strong>para</strong> <strong>de</strong>senvolver um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
casos múltiplos que, ao permitir prever resulta<strong>do</strong>s semelhantes (replicação literal) <strong>para</strong><br />
cada um <strong>do</strong>s casos, basean<strong>do</strong>-se no estu<strong>do</strong> aprofunda<strong>do</strong> <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les, visa <strong>de</strong>scobrir<br />
convergências entre os vários casos e, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, formular uma teoria (Yin, 2001;<br />
Lessard-Hébert, Goyette e Boutin, 1990). A reforçar esta i<strong>de</strong>ia e a explicitar o porquê da<br />
não realização <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso único, Yin (2001, p. 62), refere que<br />
encontra-se um fundamento lógico <strong>para</strong> um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso único quan<strong>do</strong> ele<br />
representa o caso <strong>de</strong>cisivo ao se testar uma teoria bem formulada. (...) Para<br />
confirmar, contestar ou esten<strong>de</strong>r a teoria, <strong>de</strong>ve existir um caso único, que<br />
satisfaça todas as condições <strong>para</strong> se testar a teoria. O caso único po<strong>de</strong>, então,<br />
ser utiliza<strong>do</strong> <strong>para</strong> se <strong>de</strong>terminar se as proposições <strong>de</strong> uma teoria são correctas<br />
ou se algum outro conjunto alternativo <strong>de</strong> explanações possa ser mais<br />
relevante.<br />
A opção meto<strong>do</strong>lógica pelo estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> casos múltiplos pressupõe um maior<br />
controle no campo <strong>de</strong> investigação no que diz respeito à selecção <strong>do</strong>s casos a estudar<br />
(Lessard-Hébert, Goyette e Boutin, 1990). Foi com base nessa selecção que<br />
operacionalizámos a já referida complementarida<strong>de</strong> entre o <strong>para</strong>digma qualitativo e o<br />
quantitativo, pois os múltiplos casos foram cuida<strong>do</strong>samente <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s ten<strong>do</strong> por base<br />
a componente quantitativa <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong>, através da <strong>de</strong>terminação das características<br />
<strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais, no que se refere às variáveis sócio-<strong>de</strong>mográficas, bem<br />
como, o impacto e satisfação percebi<strong>do</strong>s, com recurso ao méto<strong>do</strong> <strong>de</strong>dutivo.<br />
Para além <strong>de</strong> termos opta<strong>do</strong> por uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> casos, importa frisar que<br />
no que se refere à unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise este é um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso incorpora<strong>do</strong>, uma vez<br />
que to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> investigação envolve três sub-unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> análise (Yin, 2001),<br />
nomeadamente, a especificida<strong>de</strong> sócio-<strong>de</strong>mográfica da re<strong>de</strong> informal <strong>de</strong> apoio, a auto-<br />
-percepção <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais acerca <strong>do</strong> impacto e satisfação no cuida<strong>do</strong>, e as<br />
respectivas etapas <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment, visan<strong>do</strong> tornar inteligível o perfil <strong>do</strong>s<br />
mesmos (Figura 8, p. 73).<br />
72
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Perante isto, a componente qualitativa centra-se na terceira sub-unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
análise e, por isso, visa caracterizar o processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res<br />
informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as restantes sub-<br />
-unida<strong>de</strong>s, ou seja, as características <strong>do</strong>s mesmos retractadas nos múltiplos casos que,<br />
por sua vez, foram <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s no <strong>de</strong>curso da componente quantitativa, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong><br />
assim, um movimento vaivém, compatível com um méto<strong>do</strong> <strong>de</strong>dutivo-indutivo (Figura<br />
8).<br />
Defini<strong>do</strong> o tipo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> há que <strong>de</strong>cidir os aspectos operacionais <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />
investigação que, neste relatório, incluímos no processo <strong>de</strong> construção <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s.<br />
Especificida<strong>de</strong><br />
Sócio-<br />
-<strong>de</strong>mográfica<br />
Paradigma Quantitativo<br />
Perfil <strong>do</strong> Presta<strong>do</strong>r<br />
Informal<br />
Conceptualização<br />
<strong>do</strong> Processo <strong>de</strong><br />
Empowerment<br />
Paradigma Qualitativo<br />
Auto-percepção<br />
acerca <strong>do</strong> Impacto e<br />
Satisfação no<br />
cuida<strong>do</strong><br />
Figura 8 – Convergência entre os Paradigmas Quantitativo e Qualitativo no Estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Casos Múltiplos<br />
Incorpora<strong>do</strong><br />
73
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
3 – PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DOS DADOS<br />
On<strong>de</strong>, o quê e quem vai ser alvo da investigação? Quais os instrumentos a<br />
utilizar na recolha <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s?<br />
As respostas a estas questões encontram-se retractadas neste capítulo uma vez<br />
que as referidas preocupações, e as consequentes soluções, integram to<strong>do</strong> um processo<br />
<strong>de</strong> planeamento que visa a construção <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s que formam a base da análise <strong>do</strong><br />
estu<strong>do</strong>. Bogdan & Biklen (1999) referem-se aos da<strong>do</strong>s como os materiais em bruto que<br />
o investiga<strong>do</strong>r recolhe da problemática que se encontra a estudar, sen<strong>do</strong>,<br />
simultaneamente, provas e pistas <strong>para</strong> o investiga<strong>do</strong>r.<br />
Des<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> investigação encarámos o nosso <strong>de</strong>sempenho,<br />
enquanto investiga<strong>do</strong>res, não como alguém que faz uma pequena <strong>para</strong>gem ao passar,<br />
mas como quem vai fazer uma visita; não como pessoas que sabem tu<strong>do</strong>, mas como<br />
alguém que quer apren<strong>de</strong>r; não como pessoas que querem ser como os sujeitos, mas<br />
como alguém que procura saber o que é ser como eles. Neste senti<strong>do</strong>, importa referir<br />
que a operacionalização <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> teve sempre por base uma abordagem aberta (overt<br />
approach) e <strong>de</strong> estilo cooperativo (cooperative style), em que explicitámos os nossos<br />
interesses e tentámos que os sujeitos alvo <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> cooperassem connosco (Bogdan &<br />
Biklen, 1999).<br />
Consi<strong>de</strong>ramos que o processo <strong>de</strong> investigação não é uma questão <strong>de</strong><br />
procedimentos simples e claros, mas um processo social e, por consequência, os<br />
princípios anteriores foram aplica<strong>do</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira fase <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> construção<br />
<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, ou seja, na obtenção <strong>do</strong> acesso ao espaço <strong>de</strong> investigação.<br />
O acesso ao espaço <strong>de</strong> investigação é uma fase essencial como pré-requisito <strong>para</strong><br />
que a investigação se realize, bem como, <strong>para</strong> a fiabilida<strong>de</strong> e valida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s que<br />
iremos obter subsequentemente (Burgess, 1997) e, por isso, achamos pertinente tecer<br />
algumas consi<strong>de</strong>rações referentes a este assunto. Tal processo envolveu diferentes<br />
aspectos, nomeadamente, a selecção <strong>do</strong> local da investigação e a permissão <strong>para</strong> a<br />
realização <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> no respectivo local.<br />
A selecção <strong>do</strong> local <strong>de</strong> investigação, <strong>de</strong>signada por Ghiglione & Matalon (2001)<br />
por amostragem espacial, ocorreu através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> amostragem não<br />
74
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
probabilística, não haven<strong>do</strong> meio <strong>de</strong> estimar a probabilida<strong>de</strong> das unida<strong>de</strong>s serem<br />
incluídas na amostra, e intencional, em que as unida<strong>de</strong>s são seleccionadas <strong>para</strong> o estu<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com um certo número <strong>de</strong> critérios estabeleci<strong>do</strong>s (Burgess, 1997).<br />
Seleccionámos o Serviço Sub-Regional <strong>de</strong> Santarém, constituí<strong>do</strong> por 8 Concelhos,<br />
como o local <strong>de</strong> investigação, não estan<strong>do</strong> preocupa<strong>do</strong>s com o facto <strong>do</strong> local ser<br />
«típico» ou representativo, mas sim por:<br />
- facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso, uma vez que, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a contactos profissionais já<br />
estabeleci<strong>do</strong>s e uma participação numa série <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s profissionais<br />
em curso, o sentimento <strong>de</strong> intrusão seria diminuí<strong>do</strong>, ou mesmo<br />
inexistente, e o grau <strong>de</strong> permissivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> entrada no campo <strong>de</strong><br />
investigação aumentava;<br />
- simplicida<strong>de</strong>, pois sen<strong>do</strong> um local restrito a 8 Concelhos <strong>do</strong> mesmo<br />
Distrito, seria mais fácil respeitar o limite temporal <strong>para</strong> a realização da<br />
investigação (Burgess, 1997). (Figura 9, p. 85)<br />
O passo seguinte foi ter conhecimento acerca da hierarquia e regras da<br />
organização, pois mesmo que a permissão tenha si<strong>do</strong> dada pelo topo da hierarquia, ou<br />
seja, pelo Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r da Sub-Região <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> alvo <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, por <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong><br />
Dezembro <strong>de</strong> 2001, houve que conseguir a permissão/colaboração <strong>do</strong>s informa<strong>do</strong>res<br />
chave, assim <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s por Bogdan & Biklen (1999) os sujeitos que têm mais<br />
experiência <strong>do</strong> contexto ou são mais intuitivos em relação às situações, fazen<strong>do</strong>-os<br />
sentir a sua importância no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.<br />
Importa frisar que <strong>de</strong>finimos como informa<strong>do</strong>res chave os Enfermeiros gestores<br />
da Intervenção Articulada <strong>do</strong> Apoio Social e Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Continua<strong>do</strong>s, a<br />
<strong>de</strong>sempenhar funções nos Centros <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada concelho. A escolha pelos<br />
profissionais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, em geral, e pelos Enfermeiros, em particular, baseou-se na<br />
afinida<strong>de</strong> profissional existente e, consequentemente, na maior acessibilida<strong>de</strong>. Para além<br />
<strong>de</strong>ste critério, consi<strong>de</strong>rámos que o enfermeiro gestor <strong>do</strong> programa é o melhor<br />
informa<strong>do</strong>r chave, uma vez que este, sen<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s responsáveis pela articulação entre a<br />
vertente social e a vertente da saú<strong>de</strong> e, no âmbito <strong>de</strong>sta última, pela articulação<br />
multidisciplinar da equipa operacional, tem um conhecimento global <strong>do</strong>s<br />
utentes/famílias integra<strong>do</strong>s em ADI e um acesso mais efectivo às características<br />
específicas <strong>do</strong>s mesmos.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, foram realizadas diversas reuniões com os menciona<strong>do</strong>s<br />
informa<strong>do</strong>res chave, segun<strong>do</strong> a sua disponibilida<strong>de</strong> (Quadro 2, p. 76), nas quais foram<br />
caracteriza<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senho <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, enfatiza<strong>do</strong>s o interesse e valor <strong>do</strong> mesmo na<br />
75
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>s, e selecciona<strong>do</strong>s os sujeitos, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os<br />
critérios pré-<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> que estes últimos, bem como os objectivos da reunião, já<br />
haviam si<strong>do</strong> transmiti<strong>do</strong>s em contacto telefónico prece<strong>de</strong>nte.<br />
Quadro 2 – Cronograma <strong>de</strong> reuniões promotoras <strong>do</strong> acesso ao espaço <strong>de</strong> investigação<br />
Cronograma<br />
DEZEMBRO JANEIRO FEVEREIRO<br />
24 a 30-12-01 31-12-01 a 6-01-02 7 a 13-01-02 14 a 20-01-02 21 a 27-01-02 28-01 a 03-02-02<br />
Vila Nova da<br />
Barquinha<br />
Santarém Alpiarça Torres Novas<br />
Ferreira <strong>do</strong> Zêzere +<br />
+ Mação<br />
Golegã + Entroncamento<br />
Consi<strong>de</strong>ramos que to<strong>do</strong> este processo <strong>de</strong> negociação <strong>de</strong>correu com gran<strong>de</strong> êxito,<br />
sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> salientar que houve uma gran<strong>de</strong> receptivida<strong>de</strong> e disponibilida<strong>de</strong> por parte <strong>do</strong>s<br />
informa<strong>do</strong>res chave, o que permitiu <strong>de</strong>senvolvê-lo sem receio e hostilida<strong>de</strong>, mas sim<br />
com simpatia, respeito e interajuda. Para além disto, to<strong>do</strong> o entusiasmo e <strong>de</strong>sejo em<br />
cooperar, <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> pelos mesmos, fizeram-nos sentir uma gran<strong>de</strong> segurança na<br />
pertinência <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, o que veio aumentar a satisfação e a vonta<strong>de</strong> em prosseguir com<br />
o mesmo.<br />
Embora até agora tenhamos <strong>de</strong>scrito o acesso ao espaço <strong>de</strong> investigação como<br />
algo que ocorreu como pre<strong>para</strong>ção à efectiva fase <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, este é um<br />
processo contínuo, pois nas múltiplas fases <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> construção <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s,<br />
antece<strong>de</strong>ntes e prece<strong>de</strong>ntes a esta pre<strong>para</strong>ção, que iremos caracterizar <strong>de</strong> seguida, foram<br />
necessárias sucessivas autorizações e tentativas <strong>de</strong> cooperação, à medida que fomos<br />
partilhan<strong>do</strong> novos territórios e trabalhan<strong>do</strong> com diferentes pessoas.<br />
3.1 – FASE EXPLORATÓRIA<br />
Ao termos <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> a nossa problemática, <strong>de</strong>senvolvemos a fase primária <strong>do</strong><br />
processo <strong>de</strong> construção <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, ou seja, a fase exploratória na qual, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />
Quivy & Campenhoudt (1998), se proce<strong>de</strong>u à ruptura com o senso comum “... que<br />
consiste precisamente em romper com os preconceitos e as falsas evidências, que<br />
somente nos dão a ilusão <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rmos as coisas”. Esta fase foi fundamental no<br />
processo <strong>de</strong> investigação, em geral, e no processo <strong>de</strong> construção <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, em<br />
particular, pois, segun<strong>do</strong> os mesmos autores (1998, p. 26), “... a nossa bagagem<br />
supostamente «teórica» comporta numerosas armadilhas, da<strong>do</strong> que uma gran<strong>de</strong> parte<br />
das nossas i<strong>de</strong>ias se inspiram nas aparências imediatas ou em posições parciais”.<br />
76
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Assim, complementan<strong>do</strong> as leituras efectuadas, proce<strong>de</strong>mos à realização <strong>de</strong> duas<br />
entrevistas exploratórias, que nos permitiram ter certeza da actualida<strong>de</strong> da nossa<br />
problemática <strong>de</strong> investigação, isto é, da pertinência da mesma <strong>para</strong> a prática profissional<br />
e <strong>do</strong> seu potencial <strong>para</strong> contribuir no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s conhecimentos na área <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> Pública, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> clarificar ou redimensionar a problemática <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />
empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente<br />
<strong>do</strong>miciliário. Para além disto, estas serviram <strong>para</strong> treinar a técnica da entrevista, assim<br />
como, <strong>para</strong> explorar os aspectos específicos a <strong>de</strong>senvolver na investigação.<br />
Neste âmbito, Quivy & Campenhoudt (1998, p. 79) sustentam que<br />
as entrevistas exploratórias não têm como função verificar hipóteses nem recolher ou<br />
analisar da<strong>do</strong>s específicos, mas sim abrir pistas <strong>de</strong> reflexão, alargar e precisar os<br />
horizontes <strong>de</strong> leitura, tomar consciência das dimensões e <strong>do</strong>s aspectos <strong>de</strong> um da<strong>do</strong><br />
problema, nos quais o investiga<strong>do</strong>r não teria <strong>de</strong> certo pensa<strong>do</strong> espontaneamente.<br />
Permitem também não nos lançarmos em falsos problemas, produtos inconscientes<br />
<strong>do</strong>s nossos pressupostos e pré-noções.<br />
As entrevistas exploratórias tiveram como finalida<strong>de</strong>, compreen<strong>de</strong>r a pertinência<br />
<strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s informais à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa, em ambiente <strong>do</strong>miciliário, ten<strong>do</strong> por base a experiência <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s. O<br />
processo <strong>de</strong> selecção <strong>de</strong>stes últimos, sen<strong>do</strong> eles <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s informa<strong>do</strong>res chave<br />
menciona<strong>do</strong>s anteriormente, teve por base a estratégia <strong>de</strong> amostragem já referida, isto é,<br />
não probabilística e intencional, por motivo <strong>de</strong> facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a questões <strong>de</strong><br />
proximida<strong>de</strong> geográfica e à existência <strong>de</strong> contactos profissionais anteriores.<br />
Respeitan<strong>do</strong> os princípios <strong>de</strong> uma abordagem aberta e <strong>de</strong> estilo cooperativo, as<br />
entrevistas foram realizadas nos dias 17 e 18 <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 2001, com acor<strong>do</strong> prévio<br />
face à data, hora e local das entrevistas, bem como <strong>para</strong> a gravação, transcrição e<br />
utilização <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s das mesmas, e o compromisso <strong>de</strong> anonimato <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s.<br />
No que diz respeito à tipologia das entrevistas, segun<strong>do</strong> Ghiglione & Matalon<br />
(2001) a <strong>de</strong>cisão sobre um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> entrevista <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da existência, prévia<br />
ou não, <strong>de</strong> um saber anterior relativo à unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise. Nesta perspectiva,<br />
encontran<strong>do</strong>-se as entrevistas a um nível <strong>de</strong> exploração <strong>de</strong> um <strong>do</strong>mínio que não<br />
conhecíamos, ou seja, haven<strong>do</strong> um <strong>de</strong>ficiente grau <strong>de</strong> conhecimento relativo ao<br />
processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa em<br />
ambiente <strong>do</strong>miciliário, optámos por entrevistas não directivas que <strong>de</strong>correram <strong>de</strong> forma<br />
muito aberta e flexível, visan<strong>do</strong> um eleva<strong>do</strong> grau <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e ambiguida<strong>de</strong> nas<br />
respostas <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s que, <strong>de</strong>sta forma, <strong>de</strong>senvolveram o seu próprio raciocínio,<br />
77
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
exprimin<strong>do</strong> a própria realida<strong>de</strong>, a partir das suas características conceptuais e os seus<br />
quadros <strong>de</strong> referência (Ghiglione & Matalon, 2001; Quivy & Campenhoudt, 1998).<br />
As noções <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e ambiguida<strong>de</strong>, fundamentais neste tipo <strong>de</strong> entrevista,<br />
foram respeitadas no planeamento e realização das entrevistas, uma vez que as mesmas<br />
tiveram por base uma pergunta geral, que serviu <strong>de</strong> tema à conversa, e 4 tópicos<br />
orienta<strong>do</strong>res que, num mínimo <strong>de</strong> intervenções, formuladas da forma mais aberta<br />
possível, serviram <strong>para</strong> conduzir as entrevistas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os objectivos previamente<br />
<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s, <strong>para</strong> recuperar a dinâmica das mesmas e/ou <strong>para</strong> incitar os entrevista<strong>do</strong>s a<br />
aprofundar aspectos particularmente importantes <strong>do</strong> tema aborda<strong>do</strong> (Quivy &<br />
Campenhoudt, 1998). (Anexo II)<br />
Tal como é <strong>de</strong>fendi<strong>do</strong> pelos mesmos autores (1998), após a transcrição <strong>do</strong><br />
conteú<strong>do</strong> das entrevistas exploratórias em suporte informático, a análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />
obti<strong>do</strong>s nas mesmas, consistiu na leitura repetida <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>, sem auxílio a qualquer<br />
méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> análise preciso, <strong>de</strong>ixámos correr o olhar sem nos fixarmos só numa pista,<br />
escutámos tu<strong>do</strong> em re<strong>do</strong>r sem nos contentarmos só com uma mensagem, apreen<strong>de</strong>mos<br />
os ambientes e, finalmente, procurámos discernir as dimensões essenciais <strong>do</strong> problema<br />
em estu<strong>do</strong>, as suas facetas mais revela<strong>do</strong>ras e, a partir daí, os mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> abordagem mais<br />
esclarece<strong>do</strong>res.<br />
Consi<strong>de</strong>ramos, assim, que cumprimos a função exploratória <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />
construção <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s que, sen<strong>do</strong> uma das fases mais agradáveis da investigação,<br />
permitiu-nos, <strong>para</strong> além <strong>do</strong>s ganhos já referi<strong>do</strong>s, uma economia <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong> meios.<br />
3.2 – APLICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS<br />
O trabalho <strong>de</strong> campo, assim <strong>de</strong>nominada por Bogdan & Biklen (1999) a<br />
principal fase <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> construção <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, integra uma gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
instrumentos <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s. A escolha <strong>de</strong> tais instrumentos, também <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s<br />
por Burgess (1997) como méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> terreno, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da abordagem<br />
meto<strong>do</strong>lógica que suporta to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> investigação.<br />
Sen<strong>do</strong> este estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> casos múltiplos suporta<strong>do</strong> por uma abordagem <strong>de</strong><br />
investigação mista, em que o <strong>de</strong>curso da componente quantitativa teve o intuito <strong>de</strong><br />
caracterizar os presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, <strong>de</strong>finin<strong>do</strong><br />
os múltiplos casos e, perante isto, a componente qualitativa visou caracterizar o<br />
78
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
processo <strong>de</strong> empowerment <strong>de</strong> cada caso, o trabalho <strong>de</strong> campo consistiu na realização <strong>de</strong><br />
estratégias <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> âmbito quantitativo e qualitativo.<br />
3.2.1 – Estratégia <strong>de</strong> pesquisa quantitativa<br />
Prece<strong>de</strong>nte à apresentação <strong>do</strong> instrumento <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, importa referir<br />
que relativamente à <strong>de</strong>finição e selecção <strong>do</strong>s sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, estes foram a população<br />
<strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa que tivesse si<strong>do</strong> admitida em ADI<br />
até, inclusive, ao terceiro dia da semana, que antece<strong>de</strong>u o início da fase <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong><br />
da<strong>do</strong>s por cada Concelho, não sen<strong>do</strong> um número igual <strong>de</strong> sujeitos <strong>para</strong> os 8 Concelhos<br />
<strong>do</strong> Serviço Sub-Regional <strong>de</strong> Santarém que integram a intervenção. É <strong>de</strong> salientar que<br />
<strong>de</strong>finimos este limite temporal por consi<strong>de</strong>rarmos, em conjunto com os informa<strong>do</strong>res<br />
chave, que os 5 dias que restam da semana eram suficientes <strong>para</strong> que a equipa <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s integra<strong>do</strong>s estabelecesse uma relação com os sujeitos que nos permitisse um<br />
fácil acesso ao ambiente <strong>do</strong>miciliário, enquanto espaço físico e relacional.<br />
Ten<strong>do</strong> por base as <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> pessoa i<strong>do</strong>sa e <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>r informal <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s, referidas no enquadramento teórico, <strong>de</strong>limitámos critérios <strong>de</strong> inclusão e<br />
exclusão.<br />
- Critérios <strong>de</strong> inclusão:<br />
° que o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência da pessoa i<strong>do</strong>sa se encontrasse entre D3<br />
e D5, inclusive, pois são estes os níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência que se<br />
referem a uma <strong>de</strong>pendência periódica ou permanente da pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa e com acompanhamento periódico e permanente, técnico e<br />
não técnico. Este critério retracta mais uma vez a não preocupação<br />
com a representativida<strong>de</strong>, e consequente generalização estatística,<br />
mas sim a selecção <strong>de</strong>stas situações <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> informal, que<br />
consi<strong>de</strong>rámos prioritárias no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment<br />
<strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais, através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> amostragem<br />
não probabilística por conveniência ou intencional. (Figura 9, p. 85)<br />
- Critérios <strong>de</strong> exclusão:<br />
° que não responda a uma ou mais questões <strong>do</strong> instrumento da recolha<br />
<strong>de</strong> da<strong>do</strong>s. (Figura 9, p. 85)<br />
Perante o objectivo <strong>de</strong> caracterizar os presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, consi<strong>de</strong>rámos o questionário o instrumento <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s<br />
mais a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> uma população ou subpopulação, visto que é um<br />
79
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
instrumento rigorosamente estandardiza<strong>do</strong>, tanto no conteú<strong>do</strong> das questões, como na<br />
sua or<strong>de</strong>m, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> garantir a com<strong>para</strong>bilida<strong>de</strong> das respostas <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os sujeitos,<br />
e a sua quantificação <strong>para</strong> uma posterior análise estatística (Ghiglione & Matalon,<br />
2001).<br />
No processo <strong>de</strong> construção <strong>do</strong> questionário foi essencial a <strong>de</strong>finição das<br />
variáveis <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> que, segun<strong>do</strong> Fortin, Côté e Vissandjée (2000) são qualida<strong>de</strong>s,<br />
proprieda<strong>de</strong>s ou características <strong>de</strong> objectos, <strong>de</strong> pessoas ou <strong>de</strong> situações que são<br />
estudadas numa investigação. Com base neste raciocínio, tal como se encontra <strong>de</strong>scrito<br />
no Quadro 3 da página seguinte, <strong>de</strong>finimos as variáveis focais, as variáveis contextuais,<br />
assim como, os indica<strong>do</strong>res das primeiras que, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Fortin & Na<strong>de</strong>au (2000),<br />
permitem quantificá-las. As variáveis focais são aquelas que são essenciais e centrais no<br />
estu<strong>do</strong> e que, não sen<strong>do</strong> isoladas, encontram-se em interacção com outras que nelas<br />
interferem, isto é, com as contextuais (Abramson, 1990).<br />
Definidas as variáveis e os indica<strong>do</strong>res, o questionário encontra-se estrutura<strong>do</strong><br />
em 2 áreas, nomeadamente, a caracterização sócio-<strong>de</strong>mográfica da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio<br />
informal e a avaliação <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal através da percepção <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res<br />
informais acerca <strong>do</strong> impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> que prestam à pessoa i<strong>do</strong>sa no seu dia-a-dia e<br />
da satisfação que sentem com o facto <strong>de</strong> prestar tais cuida<strong>do</strong>s. Para além disto, são 16 as<br />
questões que integram o questionário que, no que se refere à forma 14 são fechadas, 1 é<br />
aberta e 1 é mista, e no que diz respeito ao conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong>bruçam-se sobre factos (questões<br />
<strong>de</strong> facto) que são susceptíveis <strong>de</strong> serem conheci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> outra forma sem ser através <strong>de</strong><br />
um inquérito, e sobre opiniões (questões <strong>de</strong> opinião) que, ao contrário das anteriores,<br />
tratam situações impossíveis <strong>de</strong> conhecer <strong>de</strong> outra forma se não o inquérito (Ghiglione<br />
& Matalon, 2001). Nesta perspectiva, importa frisar que as questões <strong>de</strong> facto dão<br />
resposta à caracterização sócio-<strong>de</strong>mográfica <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais e, por isso, visam<br />
o estu<strong>do</strong> das variáveis contextuais, e as questões <strong>de</strong> opinião dão resposta à avaliação <strong>do</strong><br />
cuida<strong>do</strong> informal, visan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sta forma, o estu<strong>do</strong> das variáveis focais através da Escala<br />
<strong>de</strong> Avaliação <strong>do</strong> Cuida<strong>do</strong> Informal (Martín, Paúl, Roncon, 2000). (Anexo III)<br />
A referida escala foi adaptada e validada à população portuguesa a partir da<br />
escala original Caregiving Appraisal (Lawton et al, 1989, cita<strong>do</strong> em Martín, Paúl,<br />
Roncon, 2000) que, manten<strong>do</strong>-se a mesma estrutura, é constituída por três sub-escalas:<br />
impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, satisfação <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>r e sobrecarga subjectiva. No<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> apenas foram utilizadas as duas primeiras sub-escalas,<br />
uma vez que, relativamente ao grau <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, apresentaram um Alpha <strong>de</strong> Cronbach<br />
<strong>de</strong> 0,71 e 0,60, respectivamente. No que se refere à terceira, os resulta<strong>do</strong>s não foram<br />
80
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
satisfatórios a nível <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> pois o Alpha <strong>de</strong> Cronbach foi <strong>de</strong> apenas 0,22. Assim,<br />
as duas sub-escalas utilizadas são constituídas por 5 itens cada e dispõe <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong><br />
escolha em forma <strong>de</strong> Escala <strong>de</strong> Lickert em que o sujeito <strong>de</strong>ve respon<strong>de</strong>r <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />
o seu grau <strong>de</strong> concordância <strong>para</strong> o seu caso. Em cada sub-escala a pontuação é obtida a<br />
partir da soma das respostas, e to<strong>do</strong>s os itens das diferentes sub-escalas têm a mesma<br />
direcção. (Martín, Paúl, Roncon, 2000)<br />
Quadro 3 – Variáveis <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> e indica<strong>do</strong>res das variáveis focais<br />
VARIÁVEIS<br />
FOCAIS<br />
VARIÁVEIS<br />
CONTEXTUAIS<br />
VARIÁVEIS<br />
- Impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, no estilo <strong>de</strong><br />
vida <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal,<br />
conforme percebi<strong>do</strong>.<br />
- Satisfação <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal<br />
perante a prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI,<br />
conforme percebi<strong>do</strong>.<br />
INDICADORES<br />
Escala <strong>de</strong> Avaliação <strong>do</strong><br />
Cuida<strong>do</strong> Informal – Sub-escala<br />
<strong>do</strong> Impacto <strong>do</strong> Cuida<strong>do</strong><br />
Escala <strong>de</strong> Avaliação <strong>do</strong><br />
Cuida<strong>do</strong> Informal – Sub-escala<br />
da Satisfação <strong>do</strong> Cuida<strong>do</strong>r<br />
- Características sócio-<strong>de</strong>mográficas <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal<br />
° Ida<strong>de</strong><br />
° Sexo<br />
° Esta<strong>do</strong> civil<br />
° Habilitações literárias<br />
° Grau <strong>de</strong> parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
° Situação Profissional<br />
Quan<strong>do</strong> a primeira versão <strong>do</strong> questionário ficou redigida, foi absolutamente<br />
indispensável a realização <strong>de</strong> um pré-teste <strong>para</strong> garantir que este fosse <strong>de</strong> facto<br />
estandardiza<strong>do</strong>, com possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> com<strong>para</strong>bilida<strong>de</strong> entre sujeitos e, consequente,<br />
análise estatística <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s (Ghiglione & Matalon, 2001). Para tal, aplicámos o<br />
referi<strong>do</strong> instrumento <strong>de</strong> recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s a 10 sujeitos com as mesmas características da<br />
amostra visada que, embora fosse um número reduzi<strong>do</strong>, foi suficiente <strong>para</strong> testar a<br />
clareza e objectivida<strong>de</strong> das questões (Ghiglione & Matalon, 2001; Fortin, Grenier,<br />
Na<strong>de</strong>au, 2000). Neste contexto, verificámos que as pessoas reagiram bem ao conjunto<br />
<strong>do</strong> questionário, ou seja, não o consi<strong>de</strong>raram muito longo, sen<strong>do</strong> a duração da sua<br />
aplicação cerca <strong>de</strong> 10 minutos; respon<strong>de</strong>ram a todas as questões com aceitação,<br />
81
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
interesse e sem aborrecimento, uma vez que estas se enca<strong>de</strong>avam uma nas outras, sem<br />
rupturas nem repetições. Para além disto, embora nenhuma questão se tivesse<br />
<strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> <strong>de</strong> difícil compreensão, inútil e ambígua, nas questões relativas às<br />
variáveis “Ida<strong>de</strong>”, “Habilitações literárias”, “Grau <strong>de</strong> parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa” e<br />
“Situação Profissional”, as listas <strong>de</strong> respostas propostas não cobriram todas as respostas<br />
possíveis, embora as respostas <strong>do</strong>s sujeitos inquiri<strong>do</strong>s tivessem fica<strong>do</strong> registadas. De<br />
forma a corrigir este facto, foram feitas alterações ao nível da forma das referidas<br />
questões, em que, após a reformulação <strong>do</strong> questionário, a questão relativa à variável<br />
“Ida<strong>de</strong>” tornou-se numa questão aberta, as questões relativas às variáveis “Habilitações<br />
literárias” e “Situação Profissional”, mantiveram-se questões fechadas, mas foram<br />
acrescentadas respostas às listas <strong>de</strong> respostas possíveis, e a questão relativa à variável<br />
“Grau <strong>de</strong> parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa” tornou-se mista visto que se acrescentou à lista <strong>de</strong><br />
respostas possíveis a opção “Outro”.<br />
Importa salientar que os sujeitos a quem foi aplica<strong>do</strong> o pré-teste integraram a<br />
amostra <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, na medida em que a reformulação <strong>do</strong> questionário não veio alterar o<br />
conteú<strong>do</strong> das respostas, sen<strong>do</strong> estas consi<strong>de</strong>radas da<strong>do</strong>s váli<strong>do</strong>s a analisar.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, ao longo <strong>do</strong>s meses <strong>de</strong> Dezembro, Janeiro e Fevereiro <strong>de</strong>correu o<br />
perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> campo <strong>para</strong> recolha <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s quantitativos, durante o qual<br />
foram auto-administra<strong>do</strong>s 62 questionários nos diferentes Concelhos que integram o<br />
Serviço Sub-Regional <strong>de</strong> Santarém. Os perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> campo foram planea<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a disponibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s informa<strong>do</strong>res chave, cujo facto <strong>de</strong> nos<br />
acompanharem durante a recolha <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, como intermediários no acesso ao espaço<br />
<strong>do</strong>miciliário, facilitou o sucesso <strong>de</strong>sta fase que se traduziu pela inexistência <strong>de</strong> recusas<br />
<strong>do</strong>s sujeitos em participarem no estu<strong>do</strong>, bem como em respon<strong>de</strong>r a uma ou mais<br />
questões <strong>do</strong> questionário, não sen<strong>do</strong>, por isso, nenhum sujeito excluí<strong>do</strong> da amostra.<br />
(Quadro 4)<br />
Quadro 4 – Cronograma <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> campo <strong>para</strong> recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s quantitativos<br />
DEZEMBRO JANEIRO FEVEREIRO<br />
31-12-01 a 6-01-02 7 a 13-01-02 14 a 20-01-02 21 a 27-01-02 28-01 a 03-02-02 4 a 10-02-02<br />
Cronograma Vila Nova da Barquinha Santarém<br />
Santarém +<br />
+ Alpiarça<br />
Santarém<br />
Alpiarça + Mação +<br />
+ Ferreira <strong>do</strong> Zêzere<br />
Santarém + Mação +<br />
+ Golegã + Entroncamento<br />
Como po<strong>de</strong>mos observar pelo gráfico 6 (p. 83), o número <strong>de</strong> sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />
diferiu <strong>de</strong> Concelho <strong>para</strong> Concelho, sen<strong>do</strong> Torres Novas o único Concelho em que,<br />
durante o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo em que <strong>de</strong>correu o trabalho <strong>de</strong> campo <strong>para</strong> recolha <strong>do</strong>s<br />
82
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
da<strong>do</strong>s quantitativos, as pessoas alvo <strong>de</strong> ADI não apresentavam os critérios necessários<br />
<strong>para</strong> que os respectivos presta<strong>do</strong>res informais fossem incluí<strong>do</strong>s na amostra.<br />
Gráfico 6 – Distribuição <strong>do</strong>s sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> pelos Concelhos que integram o Serviço<br />
Sub-Regional <strong>de</strong> Santarém<br />
No que se refere à <strong>de</strong>finição <strong>do</strong>s casos, após a recolha <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s quantitativos, e<br />
apenas com base nos da<strong>do</strong>s relativos às variáveis focais, foi realizada uma análise <strong>de</strong><br />
clusters em que, através <strong>do</strong> SPSS Win<strong>do</strong>ws©, versão 10.0, foi possível <strong>de</strong>tectar 3<br />
grupos, homogéneos nos da<strong>do</strong>s intragrupais que, segun<strong>do</strong> Pestana & Gageiro (2000)<br />
<strong>de</strong>finiram agrupamentos <strong>de</strong> casos:<br />
- o 1º cluster diz respeito ao conjunto <strong>de</strong> 23 presta<strong>do</strong>res informais que<br />
apresentam valores inferiores e superiores a 3, na Escala <strong>de</strong> Lickert,<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> e à satisfação <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>r,<br />
respectivamente, ou seja, referem nenhum ou pouco impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong><br />
que prestam à pessoa i<strong>do</strong>sa no seu dia-a-dia e encontram-se bastante ou<br />
muito satisfeitos com o facto <strong>de</strong> prestarem tais cuida<strong>do</strong>s;<br />
- o 2º cluster refere-se ao conjunto <strong>de</strong> 29 presta<strong>do</strong>res informais que<br />
apresentam um valor igual a 3, na Escala <strong>de</strong> Lickert, relativamente ao<br />
impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> e à satisfação <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>r, isto é, referem existir<br />
impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> que prestam à pessoa i<strong>do</strong>sa no seu dia-a-dia e<br />
encontram-se satisfeitos com o facto <strong>de</strong> prestarem tais cuida<strong>do</strong>s;<br />
- o 3º cluster integra os restantes 10 presta<strong>do</strong>res informais que apresentam<br />
valores superiores a 3, na Escala <strong>de</strong> Lickert, relativamente ao impacto <strong>do</strong><br />
cuida<strong>do</strong> e à satisfação <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>r, ou seja, referem existir bastante ou<br />
83
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
muito impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> que prestam à pessoa i<strong>do</strong>sa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte no seu<br />
dia-a-dia e encontram-se bastante ou muito satisfeitos com o facto <strong>de</strong><br />
prestarem tais cuida<strong>do</strong>s. (Figura 9, p. 85)<br />
Perante estes três clusters, é <strong>de</strong> salientar que foi a variável impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, no estilo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal, a responsável pela<br />
diversida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong> casos, já que a variável satisfação <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal<br />
perante a prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI se apresenta constante<br />
intergrupos. Assim, foram <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s três grupos <strong>de</strong> casos:<br />
- os presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, que<br />
referem existir nenhum ou pouco impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> que prestam no seu<br />
dia-a-dia e encontram-se satisfeitos com o facto <strong>de</strong> prestarem tais cuida<strong>do</strong>s;<br />
- os presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, que<br />
referem existir impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> que prestam seu dia-a-dia e encontram-<br />
se bastante ou muito satisfeitos com o facto <strong>de</strong> prestarem tais cuida<strong>do</strong>s;<br />
- os presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, que<br />
referem existir bastante ou muito impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> que prestam no seu<br />
dia-a-dia e encontram-se bastante ou muito satisfeitos com o facto <strong>de</strong><br />
prestarem tais cuida<strong>do</strong>s.<br />
3.2.2 – Estratégia <strong>de</strong> pesquisa qualitativa<br />
Defini<strong>do</strong>s os grupos <strong>de</strong> casos, proce<strong>de</strong>mos à selecção <strong>de</strong> um caso por grupo, <strong>de</strong><br />
forma a explorar a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perspectivas existentes acerca <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />
empowerment, visan<strong>do</strong>, assim, a construção da teoria. No processo <strong>de</strong> selecção <strong>de</strong> cada<br />
caso, ten<strong>do</strong> em consi<strong>de</strong>ração que a nossa preocupação era <strong>de</strong>senvolver uma <strong>de</strong>scrição<br />
rica e <strong>de</strong>nsa <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment com base no mo<strong>do</strong> como diferentes pessoas<br />
dão senti<strong>do</strong> às suas vidas, em vez <strong>de</strong> utilizar técnicas <strong>de</strong> amostragem que apoiem a<br />
generalização estatística <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s (Streubert & Carpenter, 2002), foi utilizada,<br />
mais uma vez, a amostragem não probabilística por conveniência ou intencional com<br />
base na qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s (Bogdan & Biklen, 1999). (Figura 9, p. 85)<br />
Neste senti<strong>do</strong>, na selecção <strong>de</strong> cada caso atribuímos importância ao saber e<br />
experiência <strong>do</strong>s sujeitos, ao facto <strong>de</strong> estes serem susceptíveis <strong>de</strong> fornecer da<strong>do</strong>s váli<strong>do</strong>s<br />
e completos e possuírem capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> testemunhar sobre a sua experiência, o que<br />
supôs, também, uma motivação <strong>para</strong> participarem no estu<strong>do</strong> e uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
84
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
exprimirem (Rousseau & Saillant, 2000). Perante estes critérios seleccionámos 3 casos<br />
que <strong>de</strong>nominámos com nomes fictícios:<br />
- D. Inês, uma presta<strong>do</strong>ra informal que presta cuida<strong>do</strong>s ao mari<strong>do</strong> alvo <strong>de</strong><br />
ADI, que refere que o cuida<strong>do</strong> que <strong>de</strong>senvolve tem pouco impacto no seu<br />
dia-a-dia e que se encontra muito satisfeita com o facto <strong>de</strong> prestar tais<br />
cuida<strong>do</strong>s;<br />
- D. Isabel, uma presta<strong>do</strong>ra informal que presta cuida<strong>do</strong>s ao mari<strong>do</strong> alvo <strong>de</strong><br />
ADI, que refere que o cuida<strong>do</strong> que <strong>de</strong>senvolve tem impacto no seu dia-a-<br />
dia e que se encontra muito satisfeita com o facto <strong>de</strong> prestar tais cuida<strong>do</strong>s;<br />
- D. Leonor, uma presta<strong>do</strong>ra informal que presta cuida<strong>do</strong>s ao pai alvo <strong>de</strong><br />
ADI, que refere que o cuida<strong>do</strong> que <strong>de</strong>senvolve tem bastante impacto no seu<br />
dia-a-dia e que se encontra bastante satisfeita com o facto <strong>de</strong> prestar tais<br />
cuida<strong>do</strong>s. ( Figura 9)<br />
A estratégia <strong>de</strong> pesquisa qualitativa é caracteristicamente multimeto<strong>do</strong>lógica<br />
visan<strong>do</strong> o rigor com que se preten<strong>de</strong> conduzir to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> investigação, <strong>de</strong> uma<br />
forma geral e, especificamente, a promoção da credibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s (Alves-<br />
-Mazzotti, 2001). Deste mo<strong>do</strong>, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> linhas convergentes <strong>de</strong><br />
investigação foi consegui<strong>do</strong> através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> triangulação <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, com a<br />
utilização alternada <strong>de</strong> <strong>do</strong>is méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pesquisa qualitativa complementares no estu<strong>do</strong><br />
aprofunda<strong>do</strong> <strong>de</strong> cada caso: a entrevista e a observação (Yin, 2001). (Figura 9)<br />
85
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Análise <strong>de</strong><br />
clusters –<br />
variáveis<br />
focais<br />
3 Clusters<br />
Prest.<br />
Infor.<br />
Cc. 1<br />
Figura 9 – Desenho <strong>do</strong> Estu<strong>do</strong><br />
• A entrevista<br />
Prest.<br />
Infor.<br />
Cc. 2<br />
Prest.<br />
Infor.<br />
Cc. 3<br />
Cluster c/ 23 Pres. Inf.<br />
(Impacto< 3 e<br />
Satisfação > 3)<br />
Cluster c/ 29 Pres. Inf.<br />
(Impacto = 3 e<br />
Satisfação = 3)<br />
Cluster c/ 10 Pres. Inf.<br />
(Impacto > 3 e<br />
Satisfação > 3)<br />
Estratégia <strong>de</strong> amostragem não probabilística e intencional<br />
Respon<strong>de</strong><br />
a todas as<br />
questões<br />
Prest.<br />
Infor.<br />
Cc. 4<br />
Pessoa<br />
I<strong>do</strong>sa<br />
entre<br />
D3 e D5<br />
Elegível<br />
<strong>para</strong><br />
Inclusão<br />
Aplicação<br />
<strong>de</strong><br />
questioná<br />
rio<br />
Prest.<br />
Infor.<br />
Cc. 5<br />
Prest.<br />
Infor.<br />
Cc. 6<br />
Amostragem não probabilística e<br />
intencional<br />
Amostragem não probabilística e<br />
intencional<br />
intencional<br />
Amostragem não probabilística e<br />
intencional<br />
intencional<br />
Prest.<br />
Infor.<br />
Cc. 7<br />
Recusa<br />
participar<br />
Não<br />
respon<strong>de</strong><br />
a todas as<br />
questões<br />
Prest.<br />
Infor.<br />
Cc. 8<br />
Caso 1 – D. Inês<br />
- Entrevistas<br />
- Observação<br />
Caso 2 – D. Isabel<br />
- Entrevistas<br />
- Observação<br />
Pessoa<br />
I<strong>do</strong>sa<br />
D1 e D2<br />
Não<br />
elegível<br />
<strong>para</strong><br />
Inclusão<br />
Excluí<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong><br />
Estu<strong>do</strong><br />
Caso 3 – D. Leonor<br />
- Entrevistas<br />
- Observação<br />
Uma das mais importantes fontes <strong>de</strong> informação <strong>para</strong> um estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> caso são as<br />
entrevistas (Yin, 2001) pois, pela sua natureza interactiva, permitem tratar temas<br />
complexos, como é o processo <strong>de</strong> empowerment, que dificilmente po<strong>de</strong>riam ser<br />
investiga<strong>do</strong>s a<strong>de</strong>quadamente através <strong>de</strong> questionários, exploran<strong>do</strong>-os em profundida<strong>de</strong><br />
(Alves-Mazzotti, 2001).<br />
In<strong>do</strong> <strong>de</strong> encontro aos objectivos da componente qualitativa, a entrevista foi<br />
utilizada <strong>para</strong> recolher da<strong>do</strong>s <strong>de</strong>scritivos na linguagem <strong>do</strong> próprio presta<strong>do</strong>r informal<br />
acerca <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment, permitin<strong>do</strong>-nos <strong>de</strong>senvolver uma i<strong>de</strong>ia sobre a<br />
maneira como estes interpretam aspectos relaciona<strong>do</strong>s com os cuida<strong>do</strong>s que prestam à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI (Bogdan & Biklen, 1999). A reforçar esta i<strong>de</strong>ia, Quivy &<br />
Campenhoudt (1998) referem que a entrevista, ao se distinguir pela aplicação <strong>de</strong><br />
processos fundamentais <strong>de</strong> comunicação e <strong>de</strong> interacção humana, durante os quais os<br />
presta<strong>do</strong>res informais exprimiram as suas percepções, as suas interpretações ou as suas<br />
experiências acerca <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> que <strong>de</strong>senvolvem, permitiu-nos retirar informações e<br />
elementos <strong>de</strong> reflexão muito ricos e matiza<strong>do</strong>s.<br />
86
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Nesta fase <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> campo, perante um <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> investigação cuja<br />
estrutura já se conhecia, uma vez que já existia uma perspectiva <strong>de</strong> empowerment<br />
global, mas que não estava suficientemente explicita<strong>do</strong> na especificida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />
empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, a<br />
entrevista foi utilizada a um nível <strong>de</strong> verificação e aprofundamento (Ghiglione &<br />
Matalon, 2001). Este saber anterior relativo à unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise, fez-nos optar pela<br />
entrevista semi-directiva pois, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os mesmos autores (2001), esta é<br />
a<strong>de</strong>quada <strong>para</strong> aprofundar um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio ou verificar a evolução <strong>de</strong> um<br />
<strong>do</strong>mínio já conheci<strong>do</strong>, intervin<strong>do</strong> a meio caminho entre um conhecimento completo e<br />
anterior da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise por parte <strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>r, o que remete <strong>para</strong> a entrevista<br />
directiva ou <strong>para</strong> o questionário, e uma ausência <strong>de</strong> conhecimento por parte <strong>do</strong> mesmo,<br />
o que remete <strong>para</strong> a entrevista não directiva, como ocorreu na fase exploratória.<br />
Posterior a um pré-contacto com os sujeitos, que nos permitiu conhecer e<br />
pre<strong>para</strong>r/negociar o espaço <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> um clima <strong>de</strong> confiança à<br />
medida que transmitíamos os objectivos da entrevista, os papéis <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>r e <strong>do</strong><br />
entrevista<strong>do</strong>, bem como as regras <strong>de</strong>ontológicas respeitantes à autorização <strong>para</strong> a<br />
gravação, transcrição e utilização <strong>do</strong>s respectivos conteú<strong>do</strong>s da entrevista e o<br />
compromisso <strong>de</strong> anonimato <strong>do</strong>s sujeitos, proce<strong>de</strong>mos à realização <strong>de</strong> 3 entrevistas por<br />
sujeito num perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> tempo que, intercala<strong>do</strong> com os momentos <strong>de</strong> observação,<br />
<strong>de</strong>correu durante 4 semanas entre Maio e Agosto (Quadro 6, p. 90 ). Esta distribuição<br />
temporal traduz a complementarida<strong>de</strong> entre a entrevista e a observação, uma vez que os<br />
da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s nas duas primeiras entrevistas, realizadas a cada sujeito, serviram <strong>de</strong><br />
base <strong>para</strong> a elaboração <strong>do</strong> guião <strong>de</strong> observação, os da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s através <strong>de</strong>ste último<br />
méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> pesquisa vêm complementar os da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s pelas entrevistas e, a partir<br />
<strong>do</strong>s mesmos, foi elabora<strong>do</strong> o guião <strong>para</strong> as terceiras entrevistas, também semi directivas,<br />
que, por sua vez, serviram <strong>para</strong> recolher da<strong>do</strong>s que verificaram os da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s pela<br />
observação.<br />
No que diz respeito aos aspectos estruturais das entrevistas, foi elabora<strong>do</strong> um<br />
guião constituí<strong>do</strong> por 3 perguntas abertas que, existin<strong>do</strong> tópicos orienta<strong>do</strong>res <strong>para</strong> cada<br />
pergunta (Anexo IV), serviu <strong>de</strong> «ai<strong>de</strong> mémoire» à condução da mesma, garantin<strong>do</strong> que<br />
os tópicos fossem aborda<strong>do</strong>s em to<strong>do</strong>s os casos (Burgess, 1997). No <strong>de</strong>curso das<br />
entrevistas houve a preocupação <strong>de</strong> manter liberda<strong>de</strong> e ambiguida<strong>de</strong> nas respostas <strong>do</strong>s<br />
sujeitos, pois as perguntas não foram colocadas necessariamente pela or<strong>de</strong>m que se<br />
encontravam no guião e sob a formulação prevista, mas sim no momento mais<br />
apropria<strong>do</strong> e <strong>de</strong> forma tão natural quanto possível <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o sujeito, que teve<br />
87
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar abertamente, com as palavras e pela or<strong>de</strong>m que <strong>de</strong>sejou (Quivy &<br />
Campenhoudt, 1998), permanecen<strong>do</strong> uma não <strong>de</strong>finição <strong>do</strong>s quadros <strong>de</strong> referência ao<br />
nível <strong>de</strong> cada pergunta, mas apenas no esquema da entrevista (Ghiglione & Matalon,<br />
2001).<br />
Importa referir que as notas <strong>de</strong> campo resultantes das entrevistas (Bogdan &<br />
Biklen, 1999), que duraram em média cerca <strong>de</strong> 45 minutos, foram dadas a conhecer aos<br />
respectivos sujeitos e, não se verifican<strong>do</strong> qualquer alteração nas mesmas, foram<br />
transcritas em suporte informático.<br />
Enfatizan<strong>do</strong> nesta fase <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> campo <strong>para</strong> recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s qualitativos<br />
os «factos» conheci<strong>do</strong>s através das entrevistas, passámos à observação das «práticas».<br />
• A observação<br />
Tal como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Costa (1986), a eficácia <strong>de</strong> cada um <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s <strong>de</strong> pesquisa<br />
é diferente consoante o tipo <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s que o investiga<strong>do</strong>r preten<strong>de</strong> recolher.<br />
Optámos, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong>, pela observação como méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> pesquisa complementar<br />
à entrevista, na medida em que este é um méto<strong>do</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> nível <strong>de</strong><br />
conhecimento ou capacida<strong>de</strong> verbal <strong>do</strong>s sujeitos, permite verificar, na prática, a<br />
sincerida<strong>de</strong> <strong>de</strong> certas respostas que, às vezes, são dadas só <strong>para</strong> causar boa ou má<br />
impressão, permite i<strong>de</strong>ntificar comportamentos não intencionais ou inconscientes,<br />
explorar tópicos que os sujeitos não se sentem à vonta<strong>de</strong> <strong>para</strong> discutir e permite o<br />
registo <strong>de</strong> comportamentos no seu contexto temporal e espacial (Alves-Mazzotti, 2001).<br />
Esta perspectiva sugere que a observação permitiu-nos caracterizar a correspondência<br />
ou a discrepância entre o i<strong>de</strong>al e o real, em que a realida<strong>de</strong> social, ten<strong>do</strong> um significa<strong>do</strong><br />
específico e uma estrutura relevante <strong>para</strong> o ser humano que vive, actua e pensa nele, não<br />
é objectiva e envolve significa<strong>do</strong>s subjectivos e experiências que são construídas pelos<br />
sujeitos nas situações sociais (Burgess, 1997).<br />
De entre os vários papéis <strong>de</strong> observa<strong>do</strong>r, optámos pelo <strong>de</strong> observa<strong>do</strong>r<br />
participante em que, não ocultan<strong>do</strong> o nosso propósito, interagimos com os sujeitos<br />
evitan<strong>do</strong> o «tornarmo-nos nativos», ou seja, enquanto observávamos os locais, os<br />
objectos e os símbolos, as pessoas, as activida<strong>de</strong>s, os comportamentos, as interacções<br />
verbais, as maneiras <strong>de</strong> fazer e <strong>de</strong> dizer, as situações, os ritmos e os acontecimentos,<br />
estabelecíamos conversa com alguns ou to<strong>do</strong>s os participantes na situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong><br />
informal <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a <strong>de</strong>scobrir a interpretação que eles davam aos acontecimentos que,<br />
simultaneamente, observávamos (Burgess, 1997 e Streubert & Carpenter, 2002).<br />
88
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
O <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>ste papel, ao evi<strong>de</strong>nciar o próprio investiga<strong>do</strong>r como o<br />
principal instrumento <strong>de</strong> pesquisa, e a presença prolongada no contexto social em<br />
estu<strong>do</strong>, o contacto com as pessoas, as situações e os acontecimento como os principais<br />
procedimentos (Costa, 1986), levanta o problema da interferência e <strong>do</strong> impacto na<br />
credibilida<strong>de</strong>, transferibilida<strong>de</strong>, consistência e confirmabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s<br />
(Alves-Mazzotti, 2001). No entanto, Costa (1986) refere que no processo <strong>de</strong><br />
investigação qualitativo a familiarização é um elemento tão indispensável quanto o<br />
distanciamento, pois é através <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> interacção, que têm por suporte um<br />
quadro <strong>de</strong> relações sociais entre o observa<strong>do</strong>r e os observa<strong>do</strong>s, que é possível ter acesso<br />
aos significa<strong>do</strong>s que os sujeitos atribuem às situações sociais, como é o cuida<strong>do</strong><br />
informal. De acor<strong>do</strong> com o mesmo autor (1986), a interferência não é, simplesmente,<br />
um obstáculo ao conhecimento, mas também um veículo <strong>de</strong>sse conhecimento, visto que<br />
na interacção social não se po<strong>de</strong> não comunicar e num quadro social não se po<strong>de</strong>,<br />
igualmente, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> se estabelecer relações sociais sen<strong>do</strong>, por isso, muito mais<br />
interferente ficar <strong>para</strong><strong>do</strong> a olhar, sem dizer nada a ninguém. Assim, a resolução <strong>de</strong>ste<br />
problema não está, supostamente, em evitar a interferência, mas em tê-la em<br />
consi<strong>de</strong>ração, objectivá-la não a ignoran<strong>do</strong> e controlá-la, pois à medida que se vai<br />
prolongan<strong>do</strong> o trabalho <strong>de</strong> campo vai haven<strong>do</strong> uma reorganização das relações entre o<br />
observa<strong>do</strong>r e os observa<strong>do</strong>s, como também, <strong>do</strong> próprio teci<strong>do</strong> social em análise (Costa,<br />
1986).<br />
Ten<strong>do</strong> como objectivo observar o dia-a-dia <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais num<br />
contexto <strong>de</strong> pensamento sistémico, <strong>de</strong> forma a caracterizar as etapas o processo <strong>de</strong><br />
empowerment <strong>do</strong>s mesmos no <strong>de</strong>correr da situação <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, o locus da observação resultou da conjugação <strong>do</strong> espaço físico<br />
(locais on<strong>de</strong> se constróem as diferentes dimensões inerentes ao processo <strong>de</strong><br />
empowerment) e <strong>do</strong> espaço social (campo das relações sociais, indiferente, <strong>do</strong>s locais<br />
on<strong>de</strong> ocorrem, que integram o processo <strong>de</strong> empowerment). (Quadro 5)<br />
Quadro 5 – O locus da observação<br />
ESPAÇO FÍSICO ESPAÇO SOCIAL<br />
- Locais comuns aos três casos<br />
° Sala<br />
° Quarto<br />
° Cozinha<br />
° Quintal<br />
- D. Inês<br />
° Quinta - área <strong>de</strong> cultivo<br />
° Lojas <strong>de</strong> roupa<br />
- Valores<br />
89
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
- D. Isabel<br />
° Supermerca<strong>do</strong>s<br />
° Cemitério<br />
° Lar <strong>de</strong> I<strong>do</strong>sos<br />
- D. Leonor<br />
° Igreja<br />
° Supermerca<strong>do</strong>s<br />
° Cemitério<br />
° Banco<br />
° Correios<br />
° Lar <strong>de</strong> I<strong>do</strong>sos<br />
- Processos<br />
- Resulta<strong>do</strong>s<br />
I<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s os espaços físico e social da observação, e ten<strong>do</strong> em atenção que os<br />
perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> tempo po<strong>de</strong>m influenciar os acontecimentos que são observa<strong>do</strong>s e, por isso,<br />
torna-se importante <strong>de</strong>finir não só que acontecimentos ocorrem, mas também quan<strong>do</strong><br />
ocorrem (Burgess, 1997), consi<strong>de</strong>rámos fundamental observar o dia-a-dia <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res informais nos perío<strong>do</strong>s da manhã e da tar<strong>de</strong>, pois no perío<strong>do</strong> matinal a<br />
situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> informal po<strong>de</strong> ser diferente daquela que ocorre à tar<strong>de</strong>.<br />
Não sen<strong>do</strong> necessário passarmos pelas fases <strong>de</strong> integração e adaptação no<br />
contexto <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> informal, uma vez que à medida que o trabalho <strong>de</strong> campo foi sen<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> inicio com os questionários e <strong>de</strong>pois com as entrevistas, a relação<br />
<strong>de</strong> confiança foi crescen<strong>do</strong> e sen<strong>do</strong>, nesta fase, o grau <strong>de</strong> aceitação visível através <strong>de</strong><br />
gracejos, da referência a momentos anteriores agradáveis e <strong>de</strong> convites <strong>para</strong> tomar o<br />
almoço e/ou o lanche, proce<strong>de</strong>mos às sessões <strong>de</strong> observação, respeitan<strong>do</strong> as regras<br />
<strong>de</strong>ontológicas já referenciadas <strong>para</strong> as entrevistas. Desenvolvemos diversas sessões <strong>de</strong><br />
observação durante 4 semanas, entre Maio e Agosto (Quadro 6), não sen<strong>do</strong> estas<br />
suficientes <strong>para</strong> atingirmos a «saturação» <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s que, segun<strong>do</strong> Rousseau & Saillant<br />
(2000), consiste no momento <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> campo a partir <strong>do</strong> qual não apreen<strong>de</strong>mos<br />
nada <strong>de</strong> novo <strong>do</strong>s sujeitos ou das situações observadas.<br />
Quadro 6 – Cronograma <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> campo <strong>para</strong> recolha <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s qualitativos<br />
Cronograma<br />
das<br />
Entrevistas<br />
Cronograma<br />
<strong>do</strong>s perío<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> Observação<br />
MAIO JUNHO JULHO AGOSTO<br />
27-05-02 a 2-06-02 10 a 16-06-02 1 a 7-07-02 8 a 14-07-02 15 a 21-07-02 22 a 28-07-02 29-07-02 a 4-08-02 12 a 18-08-02<br />
D. Leonor +<br />
+ D. Inês<br />
D. Isabel<br />
D. Isabel + D.<br />
Inês + D.<br />
Leonor<br />
D. Leonor +<br />
+ D. Isabel<br />
D. Leonor +<br />
+ D. Isabel +<br />
+ D. Isabel<br />
D. Inês +<br />
+ D. Isabel +<br />
+ D. Inês<br />
D. Inês + D. Leonor<br />
+ D. Leonor +<br />
+ D. Inês<br />
D. Inês +<br />
+ D. Isabel +<br />
+ D. Leonor<br />
Ao longo <strong>de</strong> tais sessões, cujos perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> tempo foram aumentan<strong>do</strong> até um<br />
perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 5 horas (tempo máximo permiti<strong>do</strong> pela nossa memória), <strong>de</strong>senvolvemos<br />
diferentes tipos <strong>de</strong> observação, começan<strong>do</strong> por uma observação <strong>de</strong>scritiva, <strong>para</strong> obter<br />
uma perspectiva global <strong>do</strong> que se passava, passan<strong>do</strong> <strong>para</strong> uma observação focalizada e<br />
90
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
selectiva em que, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> sessões <strong>de</strong> observação repetitivas, começámos a ter<br />
como foco <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s acontecimentos (Spradley, 1987, cita<strong>do</strong> em Amen<strong>do</strong>eira,<br />
1999). Para operacionalizar a observação focalizada e selectiva, sen<strong>do</strong> esta semi-<br />
directiva, utilizámos um guião composto por temas e dimensões resultantes da análise<br />
<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s recolhi<strong>do</strong>s pelas entrevistas (Anexo V) e que, tal como aconteceu na fase <strong>de</strong><br />
trabalho <strong>de</strong> campo anterior, serviu <strong>de</strong> «ai<strong>de</strong> mémoire».<br />
Após cada sessão <strong>de</strong> observação redigíamos as notas <strong>de</strong> campo que, embora<br />
evitássemos fazê-lo no momento da observação e/ou junto <strong>do</strong>s sujeitos, quan<strong>do</strong> os<br />
acontecimentos observa<strong>do</strong>s mereciam um registo imediato pela sua riqueza, fazíamos<br />
uma saída estratégica <strong>para</strong> um local discreto e registávamos os aspectos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s<br />
chave. Este tipo <strong>de</strong> registo, a que Spradley (1987, cita<strong>do</strong> em Amen<strong>do</strong>eira, 1999) <strong>de</strong>signa<br />
<strong>de</strong> «con<strong>de</strong>nsa<strong>do</strong>», constituiu-se <strong>de</strong> frases chave <strong>de</strong> acontecimentos importantes que, à<br />
posteriori, permitiu fazer o «registo expandi<strong>do</strong>», on<strong>de</strong> as palavras ou frases chave<br />
serviram <strong>para</strong> expandir o registo, respeitan<strong>do</strong> os princípios da i<strong>de</strong>ntificação da<br />
linguagem, <strong>do</strong> verbalismo e <strong>do</strong> concreto (Spradley, 1987, cita<strong>do</strong> em Amen<strong>do</strong>eira, 1999).<br />
As notas <strong>de</strong> campo resultantes <strong>do</strong> «registo expandi<strong>do</strong>», foram dadas a conhecer aos<br />
respectivos sujeitos e, não se verifican<strong>do</strong> qualquer alteração nas mesmas, foram<br />
transcritas em suporte informático. Perante to<strong>do</strong> este processo <strong>de</strong> construção <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s,<br />
iremos <strong>de</strong> seguida incidir na fase <strong>de</strong> tratamento e apresentação <strong>do</strong>s mesmos.<br />
91
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
4 – TRATAMENTO E APRESENTAÇÃO DOS DADOS<br />
Decorrente das estratégias <strong>de</strong> pesquisa foi construí<strong>do</strong>, tal como refere Yin<br />
(2001), um banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s cujo conteú<strong>do</strong> integral, constituí<strong>do</strong> por um conjunto<br />
diversifica<strong>do</strong> <strong>de</strong> notas <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> origem quantitativa e qualitativa, encontra-se<br />
disponível <strong>para</strong> consulta caso seja manifesta<strong>do</strong> interesse por parte <strong>do</strong>s leitores.<br />
Ten<strong>do</strong> por base a natureza <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>senvolvemos o primeiro momento <strong>de</strong><br />
interpretação <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> investigação proce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> à redução <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s que, <strong>de</strong><br />
acor<strong>do</strong> com Maren (1987, cita<strong>do</strong> em Lessard-Hébert, Goyette e Boutin, 1990), consiste<br />
em sistematizar ou «formatar» as notas <strong>de</strong> campo, que retractam respostas singulares ou<br />
individuais, num mesmo sistema, por meio <strong>de</strong> um alfabeto único.<br />
Este processo <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> particularida<strong>de</strong>s <strong>para</strong> um quadro geral e<br />
manipulável conduziu-nos, assim, ao tratamento e apresentação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s quantitativos<br />
e qualitativos que, ao estruturar o conjunto <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, irá permitir a análise <strong>do</strong>s mesmos<br />
(Miles & Huberman, 1984, cita<strong>do</strong>s em Lessard-Hébert, Goyette e Boutin, 1990).<br />
4.1 – DADOS QUANTITATIVOS<br />
Visan<strong>do</strong> caracterizar a especificida<strong>de</strong> sócio-<strong>de</strong>mográfica <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res<br />
informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, e a percepção <strong>do</strong>s mesmos<br />
relativamente ao impacto e satisfação no cuida<strong>do</strong> que prestam, os da<strong>do</strong>s quantitativos<br />
foram alvo <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> redução estatística, <strong>de</strong> âmbito <strong>de</strong>scritivo. Tal redução<br />
estatística foi efectuada por meio <strong>de</strong> suporte informático, com recurso ao SPSS<br />
Win<strong>do</strong>ws©, versão 10.0.<br />
Suporta<strong>do</strong> neste processo, no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste sub-capítulo, encontram-se<br />
<strong>de</strong>scritos o tratamento e apresentação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s quantitativos, através <strong>de</strong> gráficos<br />
<strong>de</strong>scritivos e explicativos (Lessard-Hébert, Goyette e Boutin, 1990) promoven<strong>do</strong> uma<br />
melhor e mais fácil interpretação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s.<br />
92
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
• Caracterização sócio-<strong>de</strong>mográfica<br />
Pela observação <strong>do</strong> gráfico 7, verificamos que a maioria <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res<br />
informais, ou seja, cerca <strong>de</strong> 76% (fi = 47), são <strong>do</strong> sexo feminino, <strong>do</strong>s quais 35% (fi = 22)<br />
apresentam uma ida<strong>de</strong> entre os 72 e os 81 anos, sen<strong>do</strong> esta a classe modal. A média <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong>s é <strong>de</strong> 62 anos e os limites inferior e superior são <strong>de</strong> 32 e 92 anos, respectivamente.<br />
Para além disto, as classes etárias com menor frequência <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res<br />
informais são, por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente <strong>de</strong> valores, [42-52[ , [82-92[ , [32-42[ e [92-102] e<br />
as <strong>de</strong> maior frequência, por or<strong>de</strong>m crescente <strong>de</strong> valores, são [52-62[ , [62-72[ e [72-82[.<br />
Importa ainda referir que a distribuição <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais por sexo, nas<br />
várias classes etárias, não é semelhante, sen<strong>do</strong> apenas nas classes correspon<strong>de</strong>ntes a<br />
uma ida<strong>de</strong> mais elevada ([82-92[ e [92-102]) que existe uma maior frequência <strong>de</strong><br />
presta<strong>do</strong>res informais <strong>do</strong> sexo masculino e nas classes etárias [32-42[ e [62-72[ os<br />
presta<strong>do</strong>res informais são apenas <strong>do</strong> sexo feminino.<br />
Gráfico 7 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o sexo e ida<strong>de</strong><br />
No que diz respeito à relação marital, pelo gráfico 8, po<strong>de</strong>mos observar que 80%<br />
(fi = 50) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais são casa<strong>do</strong>s/as. Apresentan<strong>do</strong> frequências relativas<br />
muito inferiores, encontram-se os restantes esta<strong>do</strong>s civis, sen<strong>do</strong> que 8% (fi = 5) <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res informais são viúvos/as, 5% (fi = 3) solteiros/as, 5% (fi = 3) divorcia<strong>do</strong>s/as e<br />
2% (fi = 1) se<strong>para</strong><strong>do</strong>s/as. É <strong>de</strong> frisar que o esta<strong>do</strong> civil “União <strong>de</strong> Facto”, embora<br />
também tivesse si<strong>do</strong> opção no instrumento <strong>de</strong> colheita <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, este não representou a<br />
relação marital <strong>de</strong> nenhum <strong>do</strong>s sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.<br />
93
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Gráfico 8 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> civil<br />
De forma a caracterizar os presta<strong>do</strong>res informais, relacionan<strong>do</strong> o seu esta<strong>do</strong> civil<br />
com o sexo e a ida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s mesmos, apresentamos o gráfico 9. Relativamente ao género,<br />
verificamos que os presta<strong>do</strong>res informais viúvos, divorcia<strong>do</strong>s e se<strong>para</strong><strong>do</strong>s são, na sua<br />
totalida<strong>de</strong>, <strong>do</strong> sexo feminino, os homens representam 67% <strong>do</strong>s solteiros e as mulheres<br />
74% <strong>do</strong>s casa<strong>do</strong>s.<br />
Quanto à ida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos observar que o esta<strong>do</strong> civil “Casa<strong>do</strong>/a”, pelo seu<br />
número <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais, apresenta uma maior diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> classes etárias,<br />
sen<strong>do</strong> que, tal como se verificou no gráfico 7, as classes etárias [52-62[ , [62-72[ e [72-<br />
82[ mantém um número eleva<strong>do</strong> <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res, fazen<strong>do</strong>-se representar,<br />
respectivamente, por 82%, 93% e 82% <strong>do</strong>s sujeitos <strong>de</strong> cada classe. Ainda relativo aos<br />
sujeitos casa<strong>do</strong>s, é <strong>de</strong> frisar que neles estão incluí<strong>do</strong>s os 6 presta<strong>do</strong>res informais com<br />
uma ida<strong>de</strong> superior ou igual a 82 anos. Em oposição, <strong>do</strong>s 3 presta<strong>do</strong>res informais<br />
pertencentes à classe etária [32-42[, são 67% divorcia<strong>do</strong>s (fi = 2) e 33% solteiros (fi =<br />
1).<br />
Em conformida<strong>de</strong> com os presta<strong>do</strong>res informais casa<strong>do</strong>s, e como o geral <strong>do</strong>s<br />
sujeitos, 60% das presta<strong>do</strong>ras viúvas (fi = 3) também apresentam uma ida<strong>de</strong><br />
compreendida entre os 72 e os 81 anos. Por último, o esta<strong>do</strong> civil “Se<strong>para</strong><strong>do</strong>/a” é<br />
representa<strong>do</strong> por uma presta<strong>do</strong>ra informal com 52 a 61 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.<br />
94
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Gráfico 9 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o esta<strong>do</strong> civil, sexo e<br />
ida<strong>de</strong><br />
Esta<strong>do</strong> Civil<br />
Se<strong>para</strong><strong>do</strong>/a<br />
Divorcia<strong>do</strong>/a<br />
Viúvo/a<br />
Solteiro/a<br />
Casa<strong>do</strong>/a<br />
1<br />
37<br />
1<br />
3<br />
5<br />
2 1<br />
1<br />
Sexo Ida<strong>de</strong><br />
No que se refere à escolarida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos observar, pelo gráfico 10, que 36%<br />
(fi=22) <strong>do</strong> total <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais, possuem o ensino básico primário completo<br />
como habilitações literárias, seguin<strong>do</strong>-se, por or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente, os presta<strong>do</strong>res que não<br />
sabem ler e escrever (fri = 19% e fi = 12) e os que possuem o ensino básico primário<br />
incompleto (fri = 15% e fi = 9). Para além disto, verificamos que os ensinos, básico<br />
pre<strong>para</strong>tório, secundário unifica<strong>do</strong> e secundário complementar são os que representam<br />
apenas 2% <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais. Aos atributos “Curso Médio” e “Curso Superior”,<br />
embora integrassem a variável habilitações literárias no instrumento <strong>de</strong> colheita <strong>de</strong><br />
da<strong>do</strong>s, nenhum presta<strong>do</strong>r informal os referiu como sen<strong>do</strong> a sua escolarida<strong>de</strong>.<br />
13<br />
Gráfico 10 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> as habilitações literárias<br />
1<br />
1<br />
2<br />
1<br />
3 9 14 18 4 2<br />
fi<br />
3<br />
1<br />
1<br />
Feminino<br />
Masculino<br />
[32-42[<br />
[42-52[<br />
[52-62[<br />
[62-72[<br />
[72-82[<br />
[82-92[<br />
[92-102]<br />
95
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Dan<strong>do</strong> continuida<strong>de</strong> à caracterização sócio-<strong>de</strong>mográfica <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res<br />
informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, passamos à <strong>de</strong>scrição <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />
representa<strong>do</strong>s no gráfico 11, relativo à distribuição <strong>do</strong>s sujeitos segun<strong>do</strong> o grau <strong>de</strong><br />
parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa. Assim, pela observação <strong>do</strong> mesmo, po<strong>de</strong>mos referir que 47%<br />
(fi = 29) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais são esposos/as da pessoa i<strong>do</strong>sa a quem prestam<br />
cuida<strong>do</strong>s e os filhos/as e os genros/noras representam 27% (fi = 17) e 11% (fi = 7) <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res informais, respectivamente. Neste contexto, com valores relativos menos<br />
significativos, encontram-se 3 (fri = 5%) sobrinhos/as, 2 irmãos/ãs (fri = 3%), 2 amigos/as<br />
(fri = 3%), 1 primo/a (fri = 2%) e 1 cunha<strong>do</strong>/a (fri = 2%).<br />
É <strong>de</strong> salientar que os graus <strong>de</strong> parentesco “Primo/a” e “Cunha<strong>do</strong>/a” são respostas<br />
à pergunta aberta “Outros” e que os atributos “Companheiro/a”, “Neto/a” e “Tio/a”,<br />
referentes a esta variável, e presentes no questionário aplica<strong>do</strong>, não estão representa<strong>do</strong>s<br />
neste gráfico pois não foram menciona<strong>do</strong>s por qualquer sujeito <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.<br />
Gráfico 11 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o grau <strong>de</strong> parentesco à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
Visan<strong>do</strong> compreen<strong>de</strong>r algumas das características específicas <strong>do</strong>s já referi<strong>do</strong>s<br />
parentes da pessoa i<strong>do</strong>sa relativamente, ao sexo, à ida<strong>de</strong>, ao esta<strong>do</strong> civil e às<br />
habilitações literárias, realizámos um conjunto <strong>de</strong> gráficos com cruzamentos <strong>de</strong><br />
variáveis que passamos a apresentar.<br />
Pela observação <strong>do</strong> gráfico 12, po<strong>de</strong>mos referir que relativamente ao género, em<br />
to<strong>do</strong>s os graus <strong>de</strong> parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa, as presta<strong>do</strong>ras informais encontram-se em<br />
maior número, em relação aos homens, sen<strong>do</strong> os sobrinhos, amigos, primo e cunha<strong>do</strong><br />
96
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
exclusivamente <strong>do</strong> sexo feminino. Nesta diferenciação homem/mulher enquanto que nos<br />
graus <strong>de</strong> parentesco “Esposo/a” e “Irmão/ã” os homens representam 40% e 50%, <strong>do</strong>s<br />
sujeitos, respectivamente, nos graus <strong>de</strong> parentesco “Genro/Nora” e “Filho/a” estes<br />
representam, respectivamente, 14% e 12%.<br />
Em relação à ida<strong>de</strong>, verificamos que 55% (fi = 16) <strong>do</strong>s esposos/as são pessoas<br />
com 72 a 81 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, representan<strong>do</strong> 73% (fi = 16) das mesmas, 47% (fi = 7)<br />
daqueles com 62 a 71 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e 100% <strong>do</strong>s que se encontram na classes etárias,<br />
[82-92[ (fi = 4) e [92-102] (fi =2). Para além disto, os presta<strong>do</strong>res informais, cunhada, prima<br />
e irmãos <strong>de</strong> pessoas i<strong>do</strong>sas são na sua totalida<strong>de</strong> pessoas com ida<strong>de</strong> entre os 72 e 81<br />
anos; 42% (fi = 7) <strong>do</strong>s filhos encontram-se na classe etária [52-62[ anos, e representam<br />
67% (fi = 2) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais com ida<strong>de</strong>s entre os 32 e 41 anos, 64% (fi = 7)<br />
<strong>do</strong>s com 52 a 61 anos e 60% (fi = 3) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais com 42 a 51 anos; e, por<br />
fim, os genros/noras representam 29% (fi = 2) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais com ida<strong>de</strong>s<br />
entre os 42 e 51 anos, 29% (fi = 2) <strong>do</strong>s com 52 a 61 anos, 29% (fi = 2) <strong>do</strong>s com 62 a 71<br />
anos e 13% (fi = 1) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais com 72 a 81 anos.<br />
Gráfico 12 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o grau <strong>de</strong> parentesco à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa, sexo e ida<strong>de</strong><br />
Grau <strong>de</strong> Parentesco à Pessoa I<strong>do</strong>sa<br />
Cunha<strong>do</strong>/a<br />
Primo/a<br />
Amigo/a<br />
Sobrinho/a<br />
Irmão/ã<br />
Genro/Nora<br />
Esposo/a<br />
Filho/a<br />
1<br />
18<br />
6<br />
1<br />
1<br />
2<br />
3<br />
1<br />
11<br />
15<br />
2 2 3 7<br />
Sexo Ida<strong>de</strong><br />
Para além <strong>do</strong> sexo e ida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rámos importante relacionar o grau <strong>de</strong><br />
parentesco com o esta<strong>do</strong> civil. Sen<strong>do</strong> assim, pelo gráfico 13, po<strong>de</strong>mos observar que os<br />
presta<strong>do</strong>res informais casa<strong>do</strong>s/as representam 100% <strong>do</strong>s esposos/as (fi =29) e <strong>do</strong>s<br />
genros/noras (fi = 7) da pessoa i<strong>do</strong>sa receptora <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s e 71% (fi = 12) <strong>do</strong>s<br />
filhos/as. Dos restantes filhos/as das pessoas i<strong>do</strong>sas receptoras <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais 2<br />
(fri = 12%) são solteiro/as, 2 são divorciadas (fri = 12%) e 1 (fri = 5%) é se<strong>para</strong>da.<br />
1<br />
fi<br />
7<br />
1<br />
1<br />
2 2<br />
1<br />
1<br />
1<br />
2<br />
16<br />
2<br />
1<br />
1<br />
5<br />
1<br />
4 2<br />
Feminino<br />
Masculino<br />
[32-42[<br />
[42-52[<br />
[52-62[<br />
[62-72[<br />
[72-82[<br />
[82-92[<br />
[92-102]<br />
97
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Importa referir que em relação aos outros graus <strong>de</strong> parentesco, <strong>do</strong>s 2 irmãos à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa, o irmão é solteiro e a irmã é viúva; as 3 sobrinhas são, uma casada, uma<br />
viúva e uma divorciada; as duas amigas, bem como a prima, são viúvas e, por último, a<br />
presta<strong>do</strong>ra informal cunhada à pessoa i<strong>do</strong>sa é casada.<br />
Gráfico 13 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o grau <strong>de</strong><br />
parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa e o esta<strong>do</strong> civil<br />
Grau <strong>de</strong> Parentesco à Pessoa I<strong>do</strong>sa<br />
Cunha<strong>do</strong>/a<br />
Primo/a<br />
Amigo/a<br />
Sobrinho/a<br />
Irmão/ã<br />
Genro/Nora<br />
Esposo/a<br />
Filho/a<br />
O gráfico 14 é o último gráfico que retrata a caracterização específica <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res informais, ten<strong>do</strong> por base o cruzamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s relativos à variável grau<br />
<strong>de</strong> parentesco com outras variáveis. Deste mo<strong>do</strong>, no gráfico menciona<strong>do</strong>, está<br />
representada a distribuição <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais segun<strong>do</strong> o grau <strong>de</strong> parentesco à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa e as habilitações literárias.<br />
1<br />
12<br />
Perante tal representação gráfica, po<strong>de</strong>mos referir que 29% (fi = 8) <strong>do</strong>s<br />
esposos/as da pessoa i<strong>do</strong>sa não sabem ler e escrever, sen<strong>do</strong> segui<strong>do</strong>s, com igual valor<br />
relativo e absoluto (fri = 17% e fi = 5), por aqueles que possuem os ensinos, básico<br />
primário completo e incompleto e básico pre<strong>para</strong>tório completo. Ainda relativo a este<br />
grau <strong>de</strong> parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa, verificamos que os esposos/as representam, 67% (fi =<br />
8) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais que não sabem ler nem escrever, 67% (fi = 4) <strong>do</strong>s que<br />
sabem ler e escrever sem possuírem grau <strong>de</strong> ensino e 50% (fi = 1) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res<br />
informais que possuem o ensino secundário complementar incompleto. Também a única<br />
presta<strong>do</strong>ra informal que possui o ensino básico pre<strong>para</strong>tório incompleto é um cônjuge.<br />
No que diz respeito aos presta<strong>do</strong>res filhos/as, <strong>do</strong> total <strong>de</strong> 17, 65% (fi = 11)<br />
possuem o ensino básico primário completo, representan<strong>do</strong> 50% (fi = 11) <strong>do</strong>s sujeitos<br />
1<br />
1<br />
2<br />
1<br />
1 1<br />
Casa<strong>do</strong>/a Solteiro/a Viúvo/a Divorcia<strong>do</strong>/a Se<strong>para</strong><strong>do</strong>/a<br />
7<br />
29<br />
fi<br />
2<br />
1<br />
2<br />
1<br />
98
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
quer possuem este grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, 50% (fri = 6%) <strong>do</strong>s que possuem o ensino<br />
secundário complementar incompleto. Para além <strong>de</strong>stes, o filho/a é o único grau <strong>de</strong><br />
parentesco que possui o ensino secundário unifica<strong>do</strong> incompleto e este grau <strong>de</strong><br />
parentesco representa 8% (fi = 1) <strong>do</strong>s que não sabem ler e escrever, 17% (fi = 1) <strong>do</strong>s que<br />
Gráfico 14 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> o grau <strong>de</strong> parentesco à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa e as habilitações literárias<br />
Grau <strong>de</strong> Parentesco à Pessoa I<strong>do</strong>sa<br />
Cunha<strong>do</strong>/a<br />
Primo/a<br />
Amigo/a<br />
Sobrinho/a<br />
Irmão/ã<br />
Gemro/Nora<br />
Esposo/a<br />
Filho/a<br />
1<br />
1<br />
1<br />
O gráfico seguinte, que finaliza a apresentação e tratamento <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s relativos<br />
à caracterização sócio-<strong>de</strong>mográfica <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, refere-se à variável situação profissional cruzada com os da<strong>do</strong>s<br />
referentes ao grau <strong>de</strong> parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa.<br />
Pelo gráfico 15, verificamos que 82% (fi = 51) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais não<br />
trabalham, 15% (fi = 9) trabalham a tempo parcial e 3% (fi = 2) trabalham a tempo<br />
inteiro. Associan<strong>do</strong> à variável grau <strong>de</strong> parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa, é <strong>de</strong> salientar que 57%<br />
(fi = 29) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais que não trabalham são esposos/as e 22% (fi = 11) são<br />
filhos/as. Já <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais que trabalham a tempo parcial, 56% (fi = 5) são<br />
filhos/as e 33% (fi = 3) são esposos/as, e <strong>do</strong>s que trabalham a tempo inteiro, 50% (fi = 1)<br />
são filhos/as e os outros 50% (fi = 1) são amigos/as.<br />
8<br />
1<br />
2<br />
2<br />
4<br />
11<br />
Ñ sabe ler e esc. Sabe ler e esc. s/ grau ens. Ens. B. Pri. Comp. Ens. B. Pri. Inc. Ens. B. Pre. Comp.<br />
Ens. B. Pre. Inc. Ens. Sec. Uni. Comp. Ens. Sec. Uni. Inc. Ens. Sec. Compl. Comp. Ens. Sec. Compl. Inc.<br />
1<br />
1<br />
2<br />
1<br />
5<br />
fi<br />
5<br />
2<br />
1<br />
2<br />
1<br />
5<br />
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
99
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Gráfico 15 – Distribuição <strong>do</strong>s Presta<strong>do</strong>res Informais segun<strong>do</strong> a situação profissional e o<br />
grau <strong>de</strong> parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
• Avaliação <strong>do</strong> Cuida<strong>do</strong> Informal<br />
No que diz respeito ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, verifica-se, pelo gráfico 16, que as<br />
cinco categorias da Sub-escala encontram-se representadas no grupo <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res<br />
informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI. Destes, 43% (fi = 27) têm a<br />
percepção que o cuida<strong>do</strong> que prestam tem impacto no seu estilo <strong>de</strong> vida, 31% (fi = 19)<br />
referem pouco impacto, 14% (fi = 9) referem bastante impacto, 10% (fi = 6) nenhum<br />
impacto e 2% (fi = 1) muito impacto.<br />
Gráfico 16 – Distribuição <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais segun<strong>do</strong> a sua opinião<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong><br />
A representação gráfica seguinte retracta a satisfação <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais<br />
em cuidar da pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI. Deste mo<strong>do</strong>, observa-se que, ao contrário <strong>do</strong><br />
100
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
que aconteceu com o impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, nem todas as categorias da Sub-escala estão<br />
representadas no gráfico pois, pela soma das respostas aos diversos itens da mesma,<br />
nenhum sujeito <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> se encontra nada satisfeito com a situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa. Para além disto, 55% (fi = 34) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais encontram-se<br />
bastante satisfeitos, 26% (fi = 16) referem estar satisfeitos, 16% (fi = 10) encontram-se<br />
muitos satisfeitos e apenas 3% (fi = 2) percepcionam uma pouca satisfação no cuida<strong>do</strong><br />
que <strong>de</strong>senvolvem.<br />
Gráfico 17 – Distribuição <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente à satisfação em cuidar<br />
Cruzan<strong>do</strong> as percepções <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais relativamente ao impacto <strong>do</strong><br />
cuida<strong>do</strong> no seu estilo <strong>de</strong> vida e à satisfação em cuidar da pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI,<br />
surge o gráfico 18, através <strong>do</strong> qual se po<strong>de</strong> observar que os 48% (fi = 13) <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res informais que referem impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> no seu estilo <strong>de</strong> vida,<br />
representam 38% (fi = 13) <strong>do</strong>s que se encontram bastante satisfeitos, e, por sua vez,<br />
estes últimos representam 77% (fi = 7) <strong>do</strong>s que referem existir bastante impacto. É <strong>de</strong><br />
referir que 11% (fi = 1) e 14% (fi = 4) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais que referem bastante<br />
impacto e impacto, respectivamente, estão muito satisfeitos com a situação <strong>de</strong> cuidar da<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa e que o sujeito <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> que refere muito impacto encontra-se satisfeito.<br />
Importa ainda salientar que entre os presta<strong>do</strong>res informais que referiram existir pouco e<br />
nenhum impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> no estilo <strong>de</strong> vida, 21% (fi = 4) <strong>do</strong>s primeiros e 16% (fi = 1)<br />
<strong>do</strong>s segun<strong>do</strong>s encontram-se muito satisfeitos.<br />
101
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Gráfico 18 – Distribuição <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> e à satisfação em cuidar<br />
Sub-escala <strong>do</strong> Impacto <strong>do</strong> Cuida<strong>do</strong><br />
Com a preocupação <strong>de</strong> interpretar o mo<strong>do</strong> como o cuida<strong>do</strong> à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo<br />
<strong>de</strong> ADI interfere no estilo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal, e as razões pelas quais os<br />
presta<strong>do</strong>res sentem diferentes graus <strong>de</strong> satisfação em cuidar, surgem os <strong>do</strong>is gráficos<br />
seguintes. Na construção <strong>do</strong>s mesmos foram mobiliza<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s relativos aos<br />
diversos intens das Sub-escalas <strong>de</strong> impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> e da satisfação <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>r que,<br />
<strong>para</strong> facilitar a sua leitura, apresentamos a correspondência das letras existentes à<br />
temática <strong>do</strong>s intens:<br />
Muito Impacto<br />
Bastante Impacto<br />
Impacto<br />
Pouco Impacto<br />
Nenhum Impacto<br />
1<br />
1<br />
1<br />
- Sub-escala <strong>do</strong> impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong><br />
A – Relacionamento com outros membros da família<br />
B – Trazer amigos a casa<br />
C – Utilização <strong>do</strong> espaço da casa<br />
D – Planear o futuro<br />
E – Privacida<strong>de</strong><br />
1<br />
- Sub-escala da satisfação <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>r<br />
A – Prazer em cuidar<br />
B – Proximida<strong>de</strong> com a pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
C – Apreço pelo cuida<strong>do</strong><br />
D – Satisfação em estar junto da pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
E – Auto-estima<br />
4<br />
9<br />
Pouco Satisfeito Satisfeito Bastante Satisfeito Muito Satisfeito<br />
1<br />
7<br />
4<br />
fi<br />
10<br />
13<br />
4<br />
1<br />
4<br />
1<br />
102
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Pela observação <strong>do</strong> gráfico 19, que retrata o impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>-se referir<br />
que 82% (fi = 51) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais referem que <strong>para</strong> eles não é nada<br />
<strong>de</strong>sconfortável trazer amigos a casa <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à presença da pessoa i<strong>do</strong>sa no seu <strong>do</strong>micílio<br />
e 46% (fi = 29) <strong>do</strong>s mesmos referem que o seu relacionamento com outros familiares em<br />
nada é afecta<strong>do</strong> negativamente pela situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI.<br />
No entanto, <strong>para</strong> 55% (fi = 34) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais é muito difícil planear<br />
o futuro, quan<strong>do</strong> as necessida<strong>de</strong>s da pessoa i<strong>do</strong>sa são tão imprevisíveis, e <strong>para</strong> 37% (fi =<br />
23) <strong>do</strong>s mesmos a situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> à pessoa i<strong>do</strong>sa impossibilita bastante terem a<br />
privacida<strong>de</strong> que gostariam. No que se refere à utilização <strong>do</strong> espaço da casa, 32% (fi =<br />
16) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais referem que a situação <strong>de</strong> cuidar da pessoa i<strong>do</strong>sa interfere<br />
nessa utilização.<br />
Gráfico 19 – Distribuição <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> e os itens da Sub-escala <strong>do</strong><br />
impacto<br />
fri<br />
90%<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
46%<br />
21%<br />
13%<br />
10%<br />
10%<br />
No que diz respeito à satisfação <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>r, verifica-se, através <strong>do</strong> gráfico 20,<br />
que 71% (fi = 44) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais gostam muito <strong>de</strong> estar junto da pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa, 50% (fi = 31) <strong>do</strong>s mesmos referem muito apreço pelo cuida<strong>do</strong> que prestam à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa, e 35% (fi = 22) sentem muito prazer em cuidar. Para além disto, 34% (fi =<br />
= 21) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais referem que o facto <strong>de</strong> prestarem cuida<strong>do</strong>s tem feito<br />
sentirem-se bastante mais próximos da pessoa i<strong>do</strong>sa receptora <strong>de</strong>sses cuida<strong>do</strong>s, e 34%<br />
(fi = 21) <strong>do</strong>s mesmos referem que o facto <strong>de</strong> se terem responsabiliza<strong>do</strong> pela pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
aumentou a auto-estima.<br />
82%<br />
7%<br />
5%<br />
3% 3%<br />
24%<br />
32%<br />
26%<br />
18%<br />
0%<br />
2%<br />
55%<br />
21%<br />
18%<br />
14%<br />
8%<br />
10%<br />
13%<br />
A B C D E<br />
Nenhum Impacto Pouco Impacto Impacto Bastante Impacto Muito Impacto<br />
37%<br />
22%<br />
103
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Gráfico 20 – Distribuição <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente à satisfação <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>r e os itens da Sub-escala da<br />
satisfação<br />
fri<br />
80%<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
0%<br />
8%<br />
35%<br />
31%<br />
26%<br />
18%<br />
27%<br />
Relacionan<strong>do</strong> as variáveis sócio-<strong>de</strong>mográficas com a percepção <strong>do</strong> impacto e<br />
satisfação no cuida<strong>do</strong>, resulta a seguinte sequência <strong>de</strong> representações gráficas.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, pelo gráfico 21 po<strong>de</strong>mos referir que 46% (fi = 7) <strong>do</strong>s homens<br />
referem estar satisfeitos com a situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> informal e outros 46% (fi = 7)<br />
referem bastante satisfação, representan<strong>do</strong> 43% <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais que referem<br />
satisfação em cuidar. Já nas mulheres, 58% (fi = 27) das mesmas referem bastante<br />
satisfação, sen<strong>do</strong> este sexo representante <strong>de</strong> 79% <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais que<br />
possuem este grau <strong>de</strong> satisfação.<br />
0%<br />
2%<br />
3%<br />
0%<br />
No que diz respeito à percepção <strong>de</strong> impacto, 43% (fi = 7) <strong>do</strong>s homens referem<br />
que o cuida<strong>do</strong> que <strong>de</strong>senvolvem tem pouco impacto no seu estilo <strong>de</strong> vida, representan<strong>do</strong><br />
37% <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais que se posicionam neste nível <strong>de</strong> impacto. No sexo<br />
oposto, 47% (fi = 22) das mulheres percepcionam que o facto <strong>de</strong> cuidarem da pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa tem impacto no seu dia-a-dia, representan<strong>do</strong> 81% <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res que referem<br />
impacto e 88% (fi = 8) <strong>do</strong>s que percepcionam bastante impacto.<br />
11%<br />
34%<br />
10%<br />
13%<br />
35%<br />
50%<br />
16%<br />
10%<br />
71%<br />
5%<br />
27%<br />
A B C D E<br />
Nada Satisfeito Pouco Satisfeito Satisfeito Bastante Satisfeito Muito Satisfeito<br />
34%<br />
19%<br />
15%<br />
104
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Gráfico 21 – Distribuição <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, à satisfação em cuidar e sexo<br />
Sub-escalas <strong>de</strong> Avaliação <strong>do</strong> Cuida<strong>do</strong> Informal<br />
Muito Satisfeito<br />
Bastante Satisfeito<br />
Satisfeito<br />
Pouco Satisfeito<br />
Muito Impacto<br />
Bastante Impacto<br />
Impacto<br />
Pouco Impacto<br />
Nenhum Impacto<br />
Feminino Masculino<br />
A representação gráfica 22 retracta a relação entre a percepção <strong>do</strong> impacto e da<br />
satisfação e o esta<strong>do</strong> civil. Assim, po<strong>de</strong>mos verificar que 52% (fi = 26) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res<br />
informais casa<strong>do</strong>s referem estar bastante satisfeitos, acontecen<strong>do</strong> o mesmo com os<br />
100% (fi = 3) <strong>do</strong>s solteiros, 60% (fi = 3) das viúvas e 66% (fi = 2) das divorciadas.<br />
Destaca-se a presta<strong>do</strong>ra informal se<strong>para</strong>da que refere encontrar-se pouco satisfeita com<br />
a situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, 48% (fi = 24) <strong>do</strong>s casa<strong>do</strong>s referem sentir impacto no seu estilo <strong>de</strong><br />
vida <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à situação <strong>de</strong> cuidar, 66% (fi = 2) das divorciadas e a presta<strong>do</strong>ra informal<br />
se<strong>para</strong>da referem sentir pouco impacto, e os solteiros, assim como, as viúvas<br />
representam 16% (fi = 1) cada, <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais que referem que a situação <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong> não tem nenhum impacto no seu dia-a-dia.<br />
9<br />
12<br />
4<br />
27<br />
22<br />
9<br />
8<br />
2<br />
1<br />
fi<br />
7<br />
7<br />
2<br />
7<br />
5<br />
1<br />
1<br />
105
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Gráfico 22 – Distribuição <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, à satisfação em cuidar e esta<strong>do</strong><br />
civil<br />
Sub-escalas <strong>de</strong> Avaliação <strong>do</strong> Cuida<strong>do</strong> Informal<br />
Muito Satisfeito<br />
Bastante Satisfeito<br />
Satisfeito<br />
Pouco Satisfeito<br />
Muito Impacto<br />
Bastante Impacto<br />
Impacto<br />
Pouco Impacto<br />
Através <strong>do</strong> gráfico 23, que representa a relação entre a percepção <strong>do</strong> impacto e<br />
da satisfação e o grau <strong>de</strong> parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa, po<strong>de</strong>-se observar que 71% (fi = 12)<br />
<strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais que são filhos da pessoa i<strong>do</strong>sa e 45% (fi = 13) <strong>do</strong>s esposos<br />
referem estar bastante satisfeitos, representan<strong>do</strong> os primeiros 35% <strong>do</strong>s mesmos, e os<br />
segun<strong>do</strong>s 60% (fi = 6) <strong>do</strong>s que percepcionam muita satisfação em cuidar. Para além<br />
disto, importa referir que 42% (fi = 3) <strong>do</strong>s genros/noras referem satisfação, 14% (fi = 1)<br />
<strong>do</strong>s mesmos referem pouca satisfação, e as sobrinhas, prima e cunhada percepcionam<br />
bastante satisfação no cuida<strong>do</strong> que prestam.<br />
No que se refere ao impacto percebi<strong>do</strong>, o grau <strong>de</strong> parentesco genro/nora<br />
representa 100% (fi = 1) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res que referem existir muito impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
no estilo <strong>de</strong> vida, os filhos representam 55% (fi = 5) <strong>do</strong>s que referem bastante impacto,<br />
53% (fi = 10) <strong>do</strong>s esposos são presta<strong>do</strong>res informais que percepcionam que o cuidar tem<br />
pouco impacto no seu dia-a-dia. É ainda <strong>de</strong> mencionar que a presta<strong>do</strong>ra informal que é<br />
prima da pessoa i<strong>do</strong>sa, assim como, a cunhada, percepcionam que os cuida<strong>do</strong>s que<br />
prestam não têm nenhum impacto e as amigas referem pouco impacto.<br />
1<br />
Nenhum Impacto<br />
4<br />
1<br />
Casa<strong>do</strong>/a Solteiro/a Viúvo/a<br />
fi<br />
Divorcia<strong>do</strong>/a Se<strong>para</strong><strong>do</strong>/a<br />
13<br />
26<br />
8<br />
8<br />
24<br />
15<br />
1<br />
1<br />
1<br />
2<br />
3<br />
1<br />
3<br />
2<br />
1<br />
2<br />
1<br />
1<br />
2<br />
1<br />
1<br />
1<br />
106
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Gráfico 23 – Distribuição <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, à satisfação em cuidar e grau <strong>de</strong><br />
parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
Sub-escalas <strong>de</strong> Avaliação <strong>do</strong> Cuida<strong>do</strong> Informal<br />
Muito Satisfeito<br />
Satisfeito<br />
Muito Impacto<br />
Impacto<br />
Nenhum Impacto<br />
Da última representação gráfica, que <strong>de</strong>screve a relação existente entre a<br />
percepção <strong>do</strong> impacto e da satisfação e a situação profissional, po<strong>de</strong>-se verificar que<br />
53% (fi = 27) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais que não trabalham e 66% (fi = 6) daqueles que<br />
trabalham a tempo parcial, referem encontrar-se bastante satisfeitos, e 50% (fi = 1) <strong>do</strong>s<br />
que trabalham a tempo inteiro referem que estão muito satisfeitos, representan<strong>do</strong> 10%<br />
<strong>do</strong> total <strong>de</strong>stes presta<strong>do</strong>res.<br />
2<br />
5<br />
2<br />
5<br />
12<br />
2<br />
1<br />
5<br />
Filho/a Esposo/a Genro/Nora Irmão/ã Sobrinho/a<br />
Amigo/a Primo/a Cunha<strong>do</strong>/a<br />
Relativamente à percepção <strong>do</strong> impacto, 84% (fi = 16) <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais<br />
que referem pouco impacto são aqueles que não trabalham, os que trabalham a tempo<br />
parcial representam 19% (fi = 5) <strong>do</strong> total <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais que mencionam a<br />
existência <strong>de</strong> impacto, e os que trabalham a tempo inteiro distribuem-se,<br />
equitativamente, entre os que referem impacto e os que mencionam pouco impacto.<br />
10<br />
14<br />
6<br />
1<br />
2<br />
fi<br />
10<br />
13<br />
3<br />
1<br />
1<br />
2<br />
5<br />
1<br />
1<br />
3<br />
1<br />
3<br />
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
1<br />
2<br />
1<br />
2<br />
1<br />
1<br />
107
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Gráfico 24 – Distribuição <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais segun<strong>do</strong> a sua percepção<br />
relativamente ao impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, à satisfação em cuidar e situação<br />
profissional<br />
Sub-escalas <strong>de</strong> Avaliação <strong>do</strong> Cuida<strong>do</strong> Informal<br />
Muito Satisfeito<br />
Bastante Satisfeito<br />
Satisfeito<br />
Pouco Satisfeito<br />
Muito Impacto<br />
Bastante Impacto<br />
Impacto<br />
Pouco impacto<br />
Nenhum Impacto<br />
4.2 – DADOS QUALITATIVOS<br />
Num contexto <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res<br />
informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, proce<strong>de</strong>mos ao processo <strong>de</strong> redução<br />
<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s ten<strong>do</strong> por base o banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s qualitativos que, resultante das entrevistas e<br />
observação participante, é constituí<strong>do</strong> por:<br />
1<br />
1<br />
- no caso da D. Inês, arquivo <strong>de</strong> 3 entrevistas transcritas em suporte<br />
informático com cerca <strong>de</strong> 15 páginas <strong>de</strong> formato A4 + arquivo <strong>de</strong> 28<br />
páginas <strong>de</strong> formato A4, provenientes <strong>do</strong> «registo expandi<strong>do</strong>» da<br />
observação;<br />
- no caso da D. Isabel, arquivo <strong>de</strong> 3 entrevistas transcritas em suporte<br />
informático com cerca <strong>de</strong> 29 páginas <strong>de</strong> formato A4 + arquivo <strong>de</strong> 35<br />
páginas <strong>de</strong> formato A4, provenientes <strong>do</strong> «registo expandi<strong>do</strong>» da<br />
observação;<br />
- no caso da D. Leonor, arquivo <strong>de</strong> 3 entrevistas transcritas em suporte<br />
informático com cerca <strong>de</strong> 18 páginas <strong>de</strong> formato A4 + arquivo <strong>de</strong> 31<br />
páginas <strong>de</strong> formato A4, provenientes <strong>do</strong> «registo expandi<strong>do</strong>» da<br />
observação.<br />
1<br />
1<br />
1<br />
2<br />
1<br />
2<br />
6<br />
5<br />
1<br />
Trabalho a tempo inteiro Trabalho a tempo parcial Não trabalha<br />
1<br />
fi<br />
9<br />
14<br />
8<br />
16<br />
5<br />
27<br />
21<br />
1<br />
108
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Conscientes das importância e riqueza <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> das notas <strong>de</strong> campo, os<br />
procedimentos <strong>de</strong> redução <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, que foram realiza<strong>do</strong>s caso a caso, consistiram<br />
numa técnica aberta ao contexto real da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise, ou seja, a técnica <strong>de</strong> análise<br />
<strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> que visa fazer inferências por i<strong>de</strong>ntificação sistemática e objectiva das<br />
características específicas <strong>de</strong> uma mensagem (Vala, 1986 e Ghiglione & Matalon,<br />
2001).<br />
De acor<strong>do</strong> com os mesmos autores, submetemos as entrevistas transcritas a<br />
várias operações que mobilizaram diferentes procedimentos específicos da análise <strong>de</strong><br />
conteú<strong>do</strong>:<br />
- leitura flutuante <strong>para</strong> contactar com o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s discursos <strong>de</strong> cada sujeito<br />
individualmente;<br />
- i<strong>de</strong>ntificação das frases consi<strong>de</strong>radas significativas, partin<strong>do</strong> da reflexão<br />
produzida por cada sujeito, a partir das questões colocadas;<br />
- <strong>de</strong>scontextualização das frases significativas <strong>de</strong> cada discurso, com<br />
i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> temas emergentes;<br />
- recontextualização das frases significativas por dimensões e,<br />
consequentemente, por temas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>do</strong>s sujeitos que as<br />
proferiram, essencialmente <strong>para</strong> obtermos um texto que mais facilmente<br />
nos permitisse com<strong>para</strong>r os diferentes discursos;<br />
- análise temática, <strong>para</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s temas emergentes que vieram a<br />
constituir-se como espaço social da produção <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s em ambiente<br />
<strong>do</strong>miciliário.<br />
Utilizan<strong>do</strong> este processo construímos, <strong>para</strong> cada caso, um sistema <strong>de</strong> categorias<br />
constituí<strong>do</strong> por temas, dimensões e categorias, através <strong>de</strong> uma operação <strong>de</strong> classificação<br />
<strong>de</strong> elementos constitutivos <strong>de</strong> um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por<br />
reagrupamento, que se <strong>de</strong>signa por categorização (Bardin, 2000). Para tal, proce<strong>de</strong>mos a<br />
uma categorização a posteriori, na qual <strong>de</strong>finimos como unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registo, as<br />
expressões das frases significativas encontradas no texto, correspon<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a uma regra<br />
<strong>de</strong> recorte <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> e não da forma, e como unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contexto as respectivas<br />
respostas (Vala, 1986 e Bardin, 2000).<br />
Importa salientar que relativamente à observação participante, <strong>de</strong> que resultou<br />
parte <strong>do</strong> corpus da investigação (banco <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s), seguiu-se o mesmo procedimento <strong>de</strong><br />
redução <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, embora proce<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a uma categorização a priori, tal como ocorreu<br />
nas notas <strong>de</strong> campo relativas às terceiras entrevistas, pois mobilizámos os sistemas <strong>de</strong><br />
categorias já construí<strong>do</strong>s anteriormente. Deste processo a que foram submeti<strong>do</strong>s os<br />
109
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
«registos expandi<strong>do</strong>s», emergiram diversas dimensões comuns aos três casos, que se<br />
constituem, em complementarida<strong>de</strong> com os sistemas <strong>de</strong> categorias, os focos <strong>de</strong> análise<br />
em que se alicerça a Parte C <strong>de</strong>ste relatório.<br />
Num processo <strong>de</strong> organização e apresentação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s elaborámos matrizes<br />
que passamos a apresentar <strong>de</strong> seguida caso a caso.<br />
4.2.1 – D. Inês<br />
A D. Inês, presta<strong>do</strong>ra informal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s que refere existir pouco impacto <strong>do</strong><br />
cuida<strong>do</strong> que <strong>de</strong>senvolve no seu dia-a-dia e que se encontra muito satisfeita com o facto<br />
<strong>de</strong> cuidar <strong>do</strong> seu mari<strong>do</strong>, tem 70 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, possui o ensino secundário<br />
complementar e não trabalha.<br />
no quadro 7.<br />
O sistema <strong>de</strong> categorias <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment da D. Inês é apresenta<strong>do</strong><br />
Quadro 7 – Sistema <strong>de</strong> Categorias <strong>do</strong> Processo <strong>de</strong> Empowerment da D. Inês<br />
TEMA DIMENSÃO CATEGORIA<br />
VALORES Pessoa I<strong>do</strong>sa<br />
Potencialida<strong>de</strong>s<br />
Ida<strong>de</strong><br />
Fisiológica<br />
Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Intervenção<br />
Funções <strong>do</strong> Organismo<br />
Segurança<br />
DETERMINANTES<br />
Psicológica<br />
Bem-estar<br />
Estima<br />
Afectivida<strong>de</strong><br />
Sócio-cultural<br />
Sistema <strong>de</strong> Suporte<br />
Condição Económica<br />
Desenvolvimento<br />
Estimulação<br />
Experiências Anteriores<br />
RESULTADOS Intrapessoal Competência Percebida<br />
Para além da apresentação <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> categorias, consi<strong>de</strong>ramos importante<br />
apresentar as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registo mais significativas (Quadro 8, p. 110), inseridas no<br />
corpus da investigação, em cada uma das categorias encontradas.<br />
110
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Quadro 8 – Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Registo 1 mais significativas por Categorias <strong>do</strong> Processo <strong>de</strong><br />
Empowerment da D. Inês<br />
CATEGORIAS UNIDADES DE REGISTO SIGNIFICATIVAS<br />
Potencialida<strong>de</strong>s<br />
Ida<strong>de</strong><br />
Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Intervenção<br />
Funções <strong>do</strong> Organismo<br />
Segurança<br />
Bem-estar<br />
Estima<br />
Afectivida<strong>de</strong><br />
Sistema <strong>de</strong> Suporte<br />
Condição Económica<br />
Estimulação<br />
Experiências Anteriores<br />
Competência Percebida<br />
“... p’ra mim i<strong>do</strong>so é uma pessoa que não po<strong>de</strong> fazer nada...”<br />
(E1,)<br />
“... se a pessoa pensar que não é (i<strong>do</strong>sa), (...) que não tem tanta<br />
ida<strong>de</strong> eu acho que consegue ultrapassar muitos mais obstáculos”<br />
(E1)<br />
“... quan<strong>do</strong> eu estou (em casa) sou eu sempre a dar a<br />
alimentação ao meu mari<strong>do</strong>...” (E3)<br />
“... a incapacida<strong>de</strong> física é a principal dificulda<strong>de</strong> que eu tenho<br />
enquanto presto cuida<strong>do</strong>s ao meu mari<strong>do</strong>” (E3)<br />
“... eu tenho que planear (...) (as minhas saídas) com uma certa<br />
antecedência...” (E3)<br />
“... faço-o (cui<strong>do</strong> <strong>do</strong> meu mari<strong>do</strong>) com prazer...” ( E2)<br />
“... fui sempre uma pessoa (...) que me <strong>de</strong>diquei aos outros...”<br />
(E1)<br />
“... há muito afecto naquilo que eu faço <strong>para</strong> ele (mari<strong>do</strong>)...”<br />
(E2)<br />
“... eu não sou capaz sozinha <strong>de</strong> lidar com ele (mari<strong>do</strong>) e, por<br />
isso, tinha sempre que pedir ajuda...” (E2)<br />
“enquanto tiver essa capacida<strong>de</strong> económica (o meu mari<strong>do</strong>)<br />
ficará aqui em casa, sempre junto <strong>de</strong> mim...” (E2)<br />
“... p’ra ser diferente (...) fui aos anos <strong>do</strong> meu neto” (E3)<br />
“a vida cá em casa era <strong>de</strong> outra maneira (...) ele (mari<strong>do</strong>) tinha a<br />
sua vida normal cá fora, eu tinha <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa...” (E3)<br />
“o bom <strong>de</strong> tê-lo (mari<strong>do</strong>) cá em casa é eu dar-lhe o mais<br />
assistência possível, o mais carinho, o mais amor, (...) a mais<br />
<strong>de</strong>dicação” (E1)<br />
À semelhança <strong>do</strong> que ocorreu com o sistema <strong>de</strong> categorias, as dimensões<br />
emergentes da observação participante são apresentadas no quadro 9.<br />
1 Ao longo <strong>do</strong> relatório, enten<strong>de</strong>-se por (Ex) entrevista 1, 2 ou 3, por “(...)” omissão <strong>de</strong> texto e por “(texto)”<br />
adaptação ao discurso.<br />
111
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Quadro 9 – Dimensões emergentes da observação participante<br />
DIMENSÕES<br />
- Mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Intervenção no processo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI<br />
- Dificulda<strong>de</strong>s na prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a incapacida<strong>de</strong>s físicas<br />
- Comportamentos <strong>de</strong>monstrativos <strong>de</strong> segurança/insegurança, bem-estar, sentimentos<br />
<strong>de</strong> afectivida<strong>de</strong><br />
- Estrutura das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio social ao presta<strong>do</strong>r informal<br />
- Tipos <strong>de</strong> apoio presta<strong>do</strong> pelas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio social<br />
- Comportamentos <strong>de</strong>monstrativos <strong>de</strong> existência /ausência <strong>de</strong> estímulos na vivência <strong>do</strong><br />
cuida<strong>do</strong> informal<br />
- Dinâmica das alterações/manutenção <strong>do</strong> estilo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal<br />
4.2.2 – D. Isabel<br />
A D. Isabel, presta<strong>do</strong>ra informal que refere existir impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> que<br />
<strong>de</strong>senvolve no seu dia-a-dia e que se encontra muito satisfeita com o facto <strong>de</strong> cuidar <strong>do</strong><br />
seu mari<strong>do</strong>, tem 77 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, não sabe ler e escrever e não trabalha.<br />
no quadro 10.<br />
O sistema <strong>de</strong> categorias <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment da D. Inês é apresenta<strong>do</strong><br />
Quadro 10 – Sistema <strong>de</strong> Categorias <strong>do</strong> Processo <strong>de</strong> Empowerment da D. Isabel<br />
TEMA DIMENSÃO CATEGORIA<br />
Pessoa I<strong>do</strong>sa<br />
Potencialida<strong>de</strong>s<br />
Ida<strong>de</strong><br />
VALORES<br />
Presta<strong>do</strong>r Informal Relação Interpessoal<br />
Ambiente <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
Espaço Interrelacional<br />
Fisiológica<br />
Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Intervenção<br />
Funções <strong>do</strong> Organismo<br />
Segurança<br />
DETERMINANTES<br />
Psicológica<br />
Bem-estar<br />
Estima<br />
Afectivida<strong>de</strong><br />
Sócio-cultural<br />
Sistema <strong>de</strong> Suporte<br />
Condição Económica<br />
Desenvolvimento<br />
Estimulação<br />
Experiências Anteriores<br />
RESULTADOS Intrapessoal Competência Percebida<br />
112
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Também no caso <strong>de</strong> D. Isabel consi<strong>de</strong>ramos importante apresentar as unida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> registo mais significativas em cada uma das categorias encontradas (Quadro 11).<br />
Quadro 11 – Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Registo mais significativas por Categorias <strong>do</strong> Processo <strong>de</strong><br />
Empowerment da D. Isabel<br />
CATEGORIAS UNIDADES DE REGISTO SIGNIFICATIVAS<br />
Potencialida<strong>de</strong>s<br />
Ida<strong>de</strong><br />
Relação Interpessoal<br />
Espaço Interrelacional<br />
Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Intervenção<br />
Funções <strong>do</strong> Organismo<br />
Segurança<br />
Bem-estar<br />
Estima<br />
Afectivida<strong>de</strong><br />
Sistema <strong>de</strong> Suporte<br />
Condição Económica<br />
Estimulação<br />
Experiências Anteriores<br />
Competência Percebida<br />
“Consi<strong>de</strong>ro-o (mari<strong>do</strong>) i<strong>do</strong>so porque ele (...) já não é capaz <strong>de</strong><br />
fazer aquilo que conseguia...” (E2)<br />
“... no meu aspecto <strong>de</strong> viver, eu imagino que é mentira (eu) ter<br />
esta ida<strong>de</strong>...” (E1)<br />
“... aquele amor que a gente (presta<strong>do</strong>res informais) ganha pela<br />
pessoa (que é cuidada), é uma loucura!” (E2)<br />
“... se os nossos mari<strong>do</strong>s chegam a faltar, faz conta que é uma<br />
casa sem luz, mesmo <strong>do</strong>entinho como ele ‘tá...” (E2)<br />
“... ponho-o (mari<strong>do</strong>) a fazer xixi, ponho-o a fazer cocó, limpo-<br />
lhe o rabo...” (E3)<br />
“... ele (mari<strong>do</strong>) não come sozinho porque começa a tremer com<br />
o mal e <strong>de</strong>pois entorna o comer to<strong>do</strong>” (E3)<br />
“... an<strong>do</strong> sempre, sempre com aquela preocupação <strong>de</strong>le (mari<strong>do</strong>)<br />
‘tar sozinho, com me<strong>do</strong> <strong>de</strong> que ele precise <strong>de</strong> qualquer coisa ou<br />
que lhe dê alguma coisa...” (E3)<br />
“... cui<strong>do</strong> <strong>de</strong>le (mari<strong>do</strong>) coitadinho, com muita satisfação...” (E1)<br />
“... ele (mari<strong>do</strong>) reconhece aquilo que eu lhe faço...” (E1)<br />
“... sinto-me com carinho p’ra tratar <strong>de</strong>le (mari<strong>do</strong>)...” (E1)<br />
“tu<strong>do</strong> isto (as ajudas) vai influenciar o mo<strong>do</strong> como trato <strong>do</strong> meu<br />
mari<strong>do</strong>...” (E2)<br />
“... vá lá p’ra on<strong>de</strong> for, gaste o dinheiro que gastar, é preciso é<br />
chegar...” (E1)<br />
“... tenho fé em Deus que ainda vejo o meu mari<strong>do</strong> a andar” (E2)<br />
“... antigamente tinha tempo p’ra ver televisão e até via,<br />
antigamente tinha tempo p’ra fazer uns picots e até fazia...” (E3)<br />
“... acho que ele (mari<strong>do</strong>) aqui em casa ‘tá melhor porque tem<br />
outro carinho...” (E1)<br />
Tal como no caso <strong>de</strong> D. Inês, as dimensões emergentes da observação<br />
participante são apresentadas no quadro 12.<br />
113
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Quadro 12 – Dimensões emergentes da observação participante<br />
DIMENSÕES<br />
- Mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Intervenção no processo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI<br />
- Dificulda<strong>de</strong>s na prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a incapacida<strong>de</strong>s físicas<br />
- Comportamentos <strong>de</strong>monstrativos <strong>de</strong> segurança/insegurança, bem-estar, sentimentos<br />
<strong>de</strong> afectivida<strong>de</strong><br />
- Estrutura das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio social ao presta<strong>do</strong>r informal<br />
- Tipos <strong>de</strong> apoio presta<strong>do</strong> pelas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio social<br />
- Comportamentos <strong>de</strong>monstrativos <strong>de</strong> existência /ausência <strong>de</strong> estímulos na vivência <strong>do</strong><br />
cuida<strong>do</strong> informal<br />
- Dinâmica das alterações/manutenção <strong>do</strong> estilo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal<br />
4.2.3 – D. Leonor<br />
A D. Leonor, presta<strong>do</strong>ra Informal que refere existir bastante impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong><br />
que <strong>de</strong>senvolve no seu dia-a-dia e que se encontra bastante satisfeita com o facto <strong>de</strong><br />
cuidar <strong>do</strong> seu pai, tem 55 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, é casada, possui o ensino básico primário<br />
completo e não trabalha.<br />
no quadro 13.<br />
O sistema <strong>de</strong> categorias <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment da D. Inês é apresenta<strong>do</strong><br />
Quadro 13 – Sistema <strong>de</strong> Categorias <strong>do</strong> Processo <strong>de</strong> Empowerment da D. Leonor<br />
TEMA DIMENSÃO CATEGORIA<br />
VALORES<br />
Pessoa I<strong>do</strong>sa<br />
Ida<strong>de</strong><br />
Pré-<strong>de</strong>terminação<br />
Presta<strong>do</strong>r Informal Relação Interpessoal<br />
Fisiológica<br />
Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Intervenção<br />
Funções <strong>do</strong> Organismo<br />
Segurança<br />
DETERMINANTES<br />
Psicológica<br />
Bem-estar<br />
Estima<br />
Afectivida<strong>de</strong><br />
Sócio-cultural<br />
Sistema <strong>de</strong> Suporte<br />
Condição Económica<br />
Desenvolvimento<br />
Estimulação<br />
Experiências Anteriores<br />
RESULTADOS Intrapessoal Competência Percebida<br />
114
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Para além da apresentação <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> categorias, também as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />
registo mais significativas são apresentadas, em cada uma das categorias encontradas,<br />
no quadro 14.<br />
Quadro 14 – Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Registo mais significativas por Categorias <strong>do</strong> Processo <strong>de</strong><br />
Empowerment da D. Leonor<br />
CATEGORIAS UNIDADES DE REGISTO SIGNIFICATIVAS<br />
Ida<strong>de</strong><br />
Pré-<strong>de</strong>terminação<br />
Relação Interpessoal<br />
“(ser i<strong>do</strong>so) é uma ida<strong>de</strong> que nós temos que respeitar” (E1)<br />
“... <strong>de</strong> velho não se escapa...” (E1)<br />
“(o presta<strong>do</strong>r informal cuida melhor) Por ser uma pessoa da<br />
nossa família, <strong>do</strong> nosso sangue” (E1)<br />
Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Intervenção “... tenho que lhe (pai) dar o banho...” (E3)<br />
Funções <strong>do</strong> Organismo<br />
Segurança<br />
Bem-estar<br />
Estima<br />
Afectivida<strong>de</strong><br />
Sistema <strong>de</strong> Suporte<br />
Condição Económica<br />
Estimulação<br />
Experiências Anteriores<br />
Competência Percebida<br />
“... vejo muito mal...” (E1)<br />
“... ’tou sempre em cuida<strong>do</strong>s (...) que lhe (pai) dê qualquer coisa<br />
ou que ele precise <strong>de</strong> qualquer coisa” (E3)<br />
“... cuidar <strong>do</strong> meu pai p’ra mim é positivo” (E1)<br />
“ele (pai) achou que estava melhor na minha companhia” (E1)<br />
“... tu<strong>do</strong> o que eu pu<strong>de</strong>r fazer (ao meu pai), tu<strong>do</strong> o que tiver ao<br />
meu alcance, farei <strong>de</strong> coração...” (E1)<br />
“(as ajudas que tenho) não interferem muito no cuidar <strong>do</strong> meu<br />
pai” (E2)<br />
“... o meu irmão <strong>de</strong>via <strong>de</strong> me dar alguma coisa (dinheiro) p’ra<br />
ajudar...) porque eu preciso e não sou filha única e ele (irmão)<br />
não precisa...” (E1)<br />
“... acho que é uma virtu<strong>de</strong> (cuidar <strong>do</strong> meu pai), uma obra que eu<br />
estou a fazer, (...) é uma obra que Deus quer e que eu faço com o<br />
amor a Deus e pela felicida<strong>de</strong> da minha filha” (E3)<br />
“... cuidar <strong>de</strong> i<strong>do</strong>sos fazia parte <strong>do</strong> meu trabalho...” (E3)<br />
“... se eu tivesse mais calma, se eu tivesse mais feliz (...)<br />
transmitia mais alegria p’ró meu pai e ele (...) ficava também<br />
mais alegre...” (E2)<br />
As dimensões emergentes da observação participante são apresentadas no<br />
quadro 15.<br />
115
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Quadro 15 – Dimensões emergentes da observação participante<br />
DIMENSÕES<br />
- Mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Intervenção no processo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI<br />
- Dificulda<strong>de</strong>s na prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a incapacida<strong>de</strong>s físicas<br />
- Comportamentos <strong>de</strong>monstrativos <strong>de</strong> segurança/insegurança, bem-estar, sentimentos<br />
<strong>de</strong> afectivida<strong>de</strong><br />
- Estrutura das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio social ao presta<strong>do</strong>r informal<br />
- Tipos <strong>de</strong> apoio presta<strong>do</strong> pelas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio social<br />
- Comportamentos <strong>de</strong>monstrativos <strong>de</strong> existência /ausência <strong>de</strong> estímulos na vivência <strong>do</strong><br />
cuida<strong>do</strong> informal<br />
- Dinâmica das alterações/manutenção <strong>do</strong> estilo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal<br />
116
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
5 – LIMITAÇÕES DO ESTUDO<br />
Quan<strong>do</strong> nos pre<strong>para</strong>mos <strong>para</strong> passarmos à etapa <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> investigação que<br />
visa a criação <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>s ou a atribuição <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s aos da<strong>do</strong>s na sequência da sua<br />
redução e organização (Lessard-Hébert, Goyette e Boutin, 1990), é fundamental um<br />
espaço <strong>de</strong> reflexão e crítica acerca <strong>do</strong> «valor» <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s. Neste senti<strong>do</strong>,<br />
importa analisar a questão <strong>do</strong>s critérios <strong>de</strong> cientificida<strong>de</strong> aplica<strong>do</strong>s ao presente estu<strong>do</strong>,<br />
como o da credibilida<strong>de</strong>, transferibilida<strong>de</strong>, consistência e confirmabilida<strong>de</strong> (Alves-<br />
-Mazzotti, 2001) e, assim, <strong>de</strong>limitar algumas limitações que o caracterizem.<br />
No que diz respeito à credibilida<strong>de</strong> embora tenha havi<strong>do</strong> a preocupação <strong>de</strong><br />
verificar com os próprios sujeitos os significa<strong>do</strong>s atribuí<strong>do</strong>s ao objecto em estu<strong>do</strong>, e<br />
si<strong>do</strong> promovida uma triangulação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, consi<strong>de</strong>ramos que, por limitações <strong>de</strong><br />
tempo <strong>para</strong> a elaboração <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> campo não foi suficiente<br />
<strong>para</strong> atingir a «saturação» <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e, <strong>de</strong>sta forma, não foi possível apreen<strong>de</strong>r uma<br />
perspectiva mais ampla, corrigir possíveis interpretações falsas ou enviesadas e<br />
i<strong>de</strong>ntificar com rigor distorções nas informações apresentadas pelos sujeitos.<br />
Os critérios relativos à transferibilida<strong>de</strong> também merecem importância nesta<br />
reflexão, já que, apesar das características intrínsecas em que se suporta a investigação<br />
qualitativa, e a partir das quais já referenciámos a lógica da generalização analítica com<br />
uma especificida<strong>de</strong> e não como limitação, pela natureza da técnica <strong>de</strong> amostragem que<br />
foi utilizada, os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> origem quantitativa não po<strong>de</strong>rão ser generaliza<strong>do</strong>s <strong>para</strong> a<br />
população <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais integra<strong>do</strong>s no Distrito <strong>de</strong> Santarém, nem tão pouco<br />
<strong>para</strong> a população <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais cuja pessoa i<strong>do</strong>sa receptora <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s é<br />
alvo <strong>de</strong> ADI, uma vez que o conjunto <strong>do</strong>s 62 presta<strong>do</strong>res informais não é representativo<br />
da população da qual foi retira<strong>do</strong>.<br />
Para além das referidas limitações, é <strong>de</strong> salientar ainda as que se relacionam com<br />
os critérios <strong>de</strong> consistência e <strong>de</strong> confirmabilida<strong>de</strong>. Deste mo<strong>do</strong>, apesar da <strong>de</strong>finição <strong>do</strong>s<br />
casos múltiplos visar uma análise das diferentes perspectivas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a<br />
especificida<strong>de</strong> <strong>do</strong> contexto em que os sujeitos se encontram inseri<strong>do</strong>s, consi<strong>de</strong>ramos a<br />
existência <strong>de</strong> uma limitação na consistência e confirmabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />
117
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
ausência, ao longo <strong>do</strong> presente processo <strong>de</strong> investigação, <strong>de</strong> uma validação <strong>do</strong>s<br />
resulta<strong>do</strong>s inter-observa<strong>do</strong>r.<br />
Perante estas consi<strong>de</strong>rações passamos à fase da análise e discussão <strong>do</strong>s<br />
resulta<strong>do</strong>s uma certeza reforçada relativamente à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> investigação como um<br />
processo nunca termina<strong>do</strong> e que, por isso, implica uma busca constante.<br />
118
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
PARTE C – OS PRESTADORES INFORMAIS DE CUIDADOS À PESSOA<br />
IDOSA ALVO DE APOIO DOMICILIÁRIO INTEGRADO<br />
119
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
1 – CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA DA REDE DE APOIO<br />
INFORMAL À PESSOA IDOSA ALVO DE ADI<br />
Num contexto <strong>de</strong> profundas e permanentes mudanças sócio-<strong>de</strong>mográficas, e na<br />
presença <strong>de</strong> uma crise <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>-Providência na gestão pública <strong>do</strong> envelhecimento, por<br />
uma ruptura da solidarieda<strong>de</strong> formal, tem-se vin<strong>do</strong> a assistir a uma revitalização da<br />
importância das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> familiar (Fernan<strong>de</strong>s, 1997). Tal facto torna-se<br />
evi<strong>de</strong>nte no presente estu<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> total <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais apenas um não<br />
possui um grau <strong>de</strong> parentesco com a pessoa i<strong>do</strong>sa, sen<strong>do</strong> também confirma<strong>do</strong> em<br />
diferentes estu<strong>do</strong>s que concluem que a família é um <strong>do</strong>s principais sistemas <strong>de</strong> suporte<br />
das pessoas i<strong>do</strong>sas como principal agente <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s informais em Portugal (Gomes,<br />
Soares e Veiga, 1997; Men<strong>do</strong>nça, Martinez e Rodrigues 2000; Pereira, 2001; Rebelo,<br />
1996; Sousa & Figueire<strong>do</strong>, 2002), assim como na UE (Bris, 1994 e Salvage, 1995).<br />
As solidarieda<strong>de</strong>s familiares vêm, assim, enfatizar a responsabilida<strong>de</strong> da família<br />
nos cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, ou seja, no <strong>de</strong>sempenho da função <strong>de</strong> proteger a saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s seus<br />
membros e dar apoio e resposta às necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s mesmos durante os perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
<strong>do</strong>ença (Stanhope, 1999).<br />
A par <strong>de</strong>sta perspectiva, no grupo <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, importa dar atenção à existência <strong>de</strong> uma diferenciação interna na<br />
estrutura familiar no que diz respeito ao grau <strong>de</strong> parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa, ao sexo, à<br />
ida<strong>de</strong>, ao esta<strong>do</strong> civil, às habilitações literárias e à situação profissional <strong>do</strong>s mesmos.<br />
No que se refere ao grau <strong>de</strong> parentesco, estamos perante re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong><br />
verticais (cf. Shanas, p. 43) em que o cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI é<br />
concentra<strong>do</strong> no cônjuge, os filhos/as e os genros/noras apresentam também um valor<br />
relativo significativo, seguin<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> outros parentes (sobrinhos/as, irmãos/ãs, primo/a e<br />
cunha<strong>do</strong>/a) com valores relativos muito pouco significativos. Esta hierarquia, que é<br />
igualmente <strong>de</strong>fendida por Abraham & Berry (1992), Bris (1994), Rebelo (1996),<br />
Roberts et al (1999) e Rodríguez, Álvarez e Cortés (2001), retracta muito bem a visão<br />
longitudinal <strong>do</strong> ciclo <strong>de</strong> vida familiar que, ao permitir i<strong>de</strong>ntificar pontos no<br />
<strong>de</strong>senvolvimento familiar em que ocorrem mudanças no esta<strong>do</strong> e nos papéis <strong>do</strong>s seus<br />
membros, fornece ao profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública linhas orienta<strong>do</strong>ras <strong>para</strong> avaliar as<br />
120
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais, visan<strong>do</strong> a protecção e promoção da saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s<br />
mesmos (Stanhope, 1999). Neste senti<strong>do</strong>, são evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong>s os estádios <strong>do</strong><br />
envelhecimento familiar e pós-parental, que coinci<strong>de</strong>m com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidar <strong>do</strong>s<br />
cônjuges e <strong>do</strong>s pais, respectivamente (Watson, 1985).<br />
Para além disto, é <strong>de</strong> frisar a importância quantitativa <strong>do</strong>s genros/noras no<br />
referi<strong>do</strong> grupo <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais que, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com (Saraceno, 1992), surge<br />
<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à progressiva <strong>de</strong>terioração da relevância <strong>do</strong> parentesco associa<strong>do</strong> ao princípio da<br />
consanguinida<strong>de</strong>, com um <strong>de</strong>scomprometimento <strong>do</strong>s filhos/as em relação aos pais na<br />
<strong>de</strong>limitação <strong>do</strong>s <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> cada família e indivíduo, e progressiva promoção das re<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> familiares através <strong>de</strong> princípios <strong>de</strong> residência (simbolicamente<br />
representa<strong>do</strong> pela coabitação com a pessoa i<strong>do</strong>sa) e <strong>de</strong> comensalida<strong>de</strong> (correspon<strong>de</strong>nte<br />
ao princípio da existência <strong>de</strong> um fun<strong>do</strong> comum <strong>de</strong> consumo) que se traduzem por uma<br />
ajuda <strong>de</strong> subsistência e/ou promocional. De facto, segun<strong>do</strong> Paúl (1997), muito <strong>do</strong><br />
trabalho que é <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> pelos filhos é na realida<strong>de</strong> presta<strong>do</strong> pelas noras haven<strong>do</strong><br />
vários tipos <strong>de</strong> relações entre noras e a pessoa i<strong>do</strong>sa, nomeadamente, amiza<strong>de</strong>s baseadas<br />
na partilha <strong>de</strong> interesses profissionais, relações com o mínimo <strong>de</strong> envolvimento e<br />
relações quase <strong>de</strong> mãe/pai e filha.<br />
A referida ruptura nos laços <strong>de</strong> coesão intergeracional também está presente no<br />
caso <strong>do</strong>s netos/as, pois o facto da <strong>de</strong>sproporcionalida<strong>de</strong> entre a proximida<strong>de</strong> afectiva e a<br />
funcionalida<strong>de</strong> das relações entre a pessoa i<strong>do</strong>sa e este grau <strong>de</strong> parentesco (cf. Gil, p.<br />
43) é confirmada neste estu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> o neto/a não representa nenhum <strong>do</strong>s sujeitos <strong>do</strong><br />
estu<strong>do</strong>. Para Pitaud (1992) este facto traduz a fraqueza da noção <strong>de</strong> intergeração baseada<br />
no traço <strong>de</strong> união que ontem juntava avós e netos numa mesma cumplicida<strong>de</strong>, à medida<br />
que é fortaleci<strong>do</strong> o encontro entre gerações atravessa<strong>do</strong> por interesses e<br />
comportamentos distintos.<br />
Ten<strong>do</strong> por base que a família é o espaço histórico e simbólico na qual e a partir<br />
<strong>do</strong> qual se <strong>de</strong>senvolve a divisão <strong>do</strong> trabalho, das competências, <strong>do</strong>s <strong>de</strong>stinos pessoais <strong>de</strong><br />
homens e mulheres (Saraceno, 1992), o cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI<br />
estrutura-se na diferença entre os <strong>do</strong>is sexos, sen<strong>do</strong> fortemente lateraliza<strong>do</strong> (cf. Gil e<br />
Perista et al, pp. 43 e 44). Tal lateralização é caracterizada pela ênfase quantitativa das<br />
solidarieda<strong>de</strong>s femininas na prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong><br />
ADI, qualquer que seja o grau <strong>de</strong> parentesco. As diversas fontes (Abraham & Berry,<br />
1992; Bris, 1994; Given & Given, 1991; Mckibbon, Généreux e Séguin-Roberge, 1996;<br />
Lee, Kim e You, 1997; Martín, Paul e Roncon, 2000; Men<strong>do</strong>nça, Martinez e Rodrigues,<br />
2000; Paúl, 1997; Rebelo, 1996; Roberts et al, 1999; Rodríguez, Álvarez e Cortés,<br />
121
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
2001; Salvage, 1995; Sousa & Figueire<strong>do</strong>, 2002) são unânimes em constatar a<br />
pre<strong>do</strong>minância feminina na prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente<br />
<strong>do</strong>miciliário, sen<strong>do</strong> este facto consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como um processo natural basea<strong>do</strong> em<br />
obrigações culturais e normativas (Gil, 1998) e está associa<strong>do</strong>, <strong>de</strong> certo mo<strong>do</strong>, ao espaço<br />
<strong>do</strong>méstico e priva<strong>do</strong> que é, tradicionalmente, o espaço por excelência das mulheres<br />
(Hespanha, 1993).<br />
No entanto, verifica-se que, com as mudanças progressivas em prol <strong>de</strong> uma<br />
igualda<strong>de</strong> entre os sexos, quer no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, quer nas activida<strong>de</strong>s sociais, tem<br />
existi<strong>do</strong> uma maior abertura <strong>do</strong>s homens ao <strong>de</strong>sempenho <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal, sen<strong>do</strong><br />
este negocia<strong>do</strong> entre os membros da família e, por isso, as activida<strong>de</strong>s tradicionalmente<br />
associadas à mulher têm vin<strong>do</strong> a ser redistribuídas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>do</strong>s intervenientes e <strong>do</strong>s<br />
contextos (Bris, 1994 e Rodríguez, Álvarez e Cortés, 2001; Salvage, 1995). No presente<br />
estu<strong>do</strong>, e <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s por Bris (1994), o referi<strong>do</strong> contexto é<br />
caracteriza<strong>do</strong> pelo grau <strong>de</strong> parentesco e pelo esta<strong>do</strong> civil, em que, apesar <strong>de</strong> nos<br />
filhos/as e nos genros/noras a pre<strong>do</strong>minância feminina seja incontestável, entre os<br />
cônjuges os homens são em número aproxima<strong>do</strong> ao das mulheres, e, <strong>de</strong> entre os<br />
diferentes esta<strong>do</strong>s civis, os celibatários (representa<strong>do</strong>s por um irmão e um filho) são os<br />
únicos presta<strong>do</strong>res informais que ocupam uma posição importante no cuida<strong>do</strong> à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI.<br />
O aumento da esperança <strong>de</strong> vida média à nascença, como variável explicativa <strong>do</strong><br />
processo <strong>de</strong> envelhecimento <strong>de</strong>mográfico (cf. p. 27), tem também contribuí<strong>do</strong> <strong>para</strong> que<br />
o grupo <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais seja cada vez mais constituí<strong>do</strong> por pessoas i<strong>do</strong>sas (Gil,<br />
1998). O grupo <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI é,<br />
igualmente, constituí<strong>do</strong> maioritariamente por pessoas i<strong>do</strong>sas, contribuin<strong>do</strong> <strong>para</strong> isto o<br />
facto <strong>de</strong> serem pre<strong>do</strong>minantemente cônjuges. Para além <strong>de</strong>sta associação, confirmada<br />
por diversos autores (Abraham & Berry, 1992; Bris, 1994; Rodríguez, Álvarez e Cortés,<br />
2001), há quem <strong>de</strong>fenda que o número <strong>de</strong> pessoas i<strong>do</strong>sas nos presta<strong>do</strong>res informais<br />
também está associa<strong>do</strong> ao fenómeno da feminização <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s informais (Given &<br />
Given, 1991; Rodríguez, Álvarez e Cortés, 2001) uma vez que, sen<strong>do</strong> a esperança <strong>de</strong><br />
vida média à nascença, e consequentes níveis <strong>de</strong> envelhecimento, superiores <strong>para</strong> o sexo<br />
feminino, presenciamos uma importância crescente das mulheres i<strong>do</strong>sas (INE, 1999).<br />
Relacionada com esta última associação não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> enfatizar uma<br />
característica muito específica <strong>do</strong> grupo <strong>do</strong>s sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, pois não a encontramos<br />
<strong>de</strong>scrita em nenhum estu<strong>do</strong> que tivemos acesso, que consiste no facto <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res<br />
informais mais i<strong>do</strong>sos, ou seja, com uma ida<strong>de</strong> mais avançada, serem maioritariamente<br />
122
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
<strong>do</strong> sexo masculino, existin<strong>do</strong> apenas uma mulher. Para finalizar a análise <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<br />
relativos à ida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais, consi<strong>de</strong>ramos importante realçar, em<br />
conformida<strong>de</strong> com resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> outros estu<strong>do</strong>s (Bris, 1994 e Rodríguez, Álvarez e<br />
Cortés, 2001), a existência, embora minoritária, <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res mais jovens<br />
e que estes são, principalmente, filhos/as e genros/noras.<br />
Ten<strong>do</strong> em conta o que já foi menciona<strong>do</strong> relativamente aos presta<strong>do</strong>res<br />
informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, não é surpreen<strong>de</strong>nte a gran<strong>de</strong><br />
proporção <strong>de</strong> casa<strong>do</strong>s no conjunto <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os presta<strong>do</strong>res, tal como referem Abraham<br />
& Berry (1992), Bris (1994), Chang (1999), Martín, Paúl e Roncon (2000), Men<strong>do</strong>nça<br />
& Martinez (2000) e Roberts et al (1999). Também relacionada com a já referida<br />
longevida<strong>de</strong> feminina, está o importante papel das viúvas no grupo <strong>do</strong>s sujeitos <strong>do</strong><br />
estu<strong>do</strong> visto que, embora representadas por um pequeno número <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res<br />
informais, são o segun<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> civil, em termos quantitativos, <strong>de</strong>pois <strong>do</strong>s casa<strong>do</strong>s. Bris<br />
(1994) realça este facto e adianta que no caso particular das filhas e das noras, há uma<br />
gran<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ficarem viúvas, in<strong>do</strong> contribuir <strong>para</strong> o aumento <strong>de</strong>ste esta<strong>do</strong><br />
civil no conjunto das presta<strong>do</strong>ras informais. De acor<strong>do</strong> com isto, é <strong>de</strong> frisar que esta<br />
possibilida<strong>de</strong> também se encontra presente no grupo <strong>de</strong> filhas e noras presta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI pois, estas são, no caso das filhas,<br />
maioritariamente casadas, e no caso das noras, casadas na sua totalida<strong>de</strong>.<br />
As habilitações literárias <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
em ambiente <strong>do</strong>miciliário é uma característica que, haven<strong>do</strong> apenas resulta<strong>do</strong>s relativos<br />
à mesma em <strong>do</strong>is estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> entre os que tivemos acesso, não é suficientemente<br />
conhecida. Desta forma, tal como referem Men<strong>do</strong>nça, Martinez e Rodrigues (2000), os<br />
presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI têm, pre<strong>do</strong>minantemente,<br />
o ensino básico primário completo, seguin<strong>do</strong>-se os presta<strong>do</strong>res informais analfabetos<br />
que estão representa<strong>do</strong>s ainda com um número significativo. Para além disto importa<br />
referir que nenhum <strong>do</strong>s sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> possui os Cursos Médio ou Superior, in<strong>do</strong><br />
este facto acentuar os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> baixas proporções <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais com<br />
estas habilitações literárias obti<strong>do</strong>s em alguns estu<strong>do</strong>s (Martín, Paul e Roncon, 2000 e<br />
Men<strong>do</strong>nça, Martinez e Rodrigues, 2000). Limitan<strong>do</strong>-nos apenas aos da<strong>do</strong>s<br />
anteriormente apresenta<strong>do</strong>s, é <strong>de</strong> realçar a associação existente entre as habilitações<br />
literárias e a ida<strong>de</strong> na medida em que a maioria <strong>do</strong>s analfabetos são cônjuges e os<br />
cônjuges são na sua maioria analfabetos, os filhos/as possuem, pre<strong>do</strong>minantemente, o<br />
ensino básico primário completo e vice-versa e, por fim, são estes últimos, bem como os<br />
genros/noras, que possuem as habilitações literárias mais elevadas.<br />
123
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Os diferentes papéis e funções <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais impostos pela família<br />
enquanto estrutura, exige <strong>do</strong>s mesmos uma constante interacção com o meio exterior<br />
muitas vezes retractada pela situação profissional. No entanto, <strong>para</strong> finalizar a<br />
caracterização sócio-<strong>de</strong>mográfica <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
alvo <strong>de</strong> ADI, resta-nos referir que a acumulação <strong>de</strong> um trabalho remunera<strong>do</strong> e da função<br />
<strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais não constitui o mo<strong>de</strong>lo pre<strong>do</strong>minante nos<br />
presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI. Deste mo<strong>do</strong>, associa<strong>do</strong><br />
uma vez mais à ida<strong>de</strong> e, consequentemente, ao grau <strong>de</strong> parentesco à pessoa i<strong>do</strong>sa, a<br />
maioria <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais não trabalham, contribuin<strong>do</strong> <strong>para</strong> isso, segun<strong>do</strong> Bris<br />
(1994), o facto <strong>do</strong>s cônjuges se encontrarem reforma<strong>do</strong>s na maioria <strong>do</strong>s casos. Para<br />
além <strong>de</strong>sta pre<strong>do</strong>minância, também confirmada por Abraham & Berry (1992), Bris<br />
(1994) refere ainda que os presta<strong>do</strong>res po<strong>de</strong>m perfeitamente ainda ter uma activida<strong>de</strong><br />
profissional, o que se constata igualmente entre os sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> mais jovens, ou<br />
seja, filhos/as e genros/noras que se encontram a trabalhar a tempo parcial. Partin<strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>ste contexto laboral, é <strong>de</strong> salientar que o grupo <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais filhas e noras<br />
é constituí<strong>do</strong> por muitas mulheres que acumulam a prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
com o cuidar <strong>do</strong>s filhos/as e mari<strong>do</strong>s, já que a maioria são casadas, e o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong><br />
tarefas profissionais (Costa & Silva, 2000). Este grupo <strong>de</strong> mulheres que se encontram<br />
no «meio» é <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> por Brody (1981, cita<strong>do</strong> em Mckibbon, Généreux e Séguin-<br />
Roberge, 1996) como «geração sanduíche», uma vez que elas assumem as tarefas <strong>de</strong><br />
prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa sem que <strong>para</strong> isso abdiquem <strong>do</strong>s outros <strong>de</strong>veres<br />
(familiares e profissionais).<br />
O presta<strong>do</strong>r informal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI possui, <strong>de</strong>sta<br />
forma, características específicas. No entanto, esta especificida<strong>de</strong> não se relaciona<br />
apenas com as qualida<strong>de</strong>s sócio-<strong>de</strong>mográficas, mas também com a percepção que o<br />
mesmo possui sobre a prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> esta a análise que apresentamos <strong>de</strong><br />
seguida.<br />
124
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
2 – O IMPACTO DO CUIDADO E A SATISFAÇÃO EM CUIDAR : QUAL A<br />
PERCEPÇÃO DOS PRESTADORES INFORMAIS DE CUIDADOS À<br />
PESSOA IDOSA ALVO DE ADI?<br />
Ten<strong>do</strong> por base o Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Dois Factores <strong>de</strong> Lawton, o cuida<strong>do</strong> informal à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI é conceptualiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma forma multidimensional, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong><br />
ser negativo e/ou positivo <strong>para</strong> os presta<strong>do</strong>res informais, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o impacto e a<br />
satisfação percebi<strong>do</strong>s pelos mesmos, sen<strong>do</strong> estes associa<strong>do</strong>s às experiências vivenciadas<br />
enquanto sistemas activos no ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s (cf. Martín,<br />
Paúl e Roncon, p. 45).<br />
Neste senti<strong>do</strong>, precedi<strong>do</strong>s por um número significativo <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais<br />
que referem pouco impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> no seu estilo <strong>de</strong> vida, o número maioritário <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI referem a existência <strong>de</strong><br />
impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, percepcionan<strong>do</strong> um nível médio <strong>de</strong> sobrecarga e/ou <strong>de</strong> interrupção<br />
no seu estilo vida. As consequências negativas da prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente <strong>do</strong>miciliário encontra-se bem <strong>do</strong>cumentada no estu<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
Chang (1999) quan<strong>do</strong>, citan<strong>do</strong> diversos autores (Baumgarten et al, 1994; Kuhlman et al,<br />
1991; Penrod et al, 1995), refere que os menciona<strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res apresentam uma<br />
maior sobrecarga no seu estilo <strong>de</strong> vida relativamente aos indivíduos que não prestam<br />
qualquer tipo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais, mas com resulta<strong>do</strong>s bastante abaixo <strong>do</strong>s que<br />
indicam a existência <strong>de</strong> uma patologia clínica. Os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s no estu<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
Men<strong>do</strong>nça, Martinez e Rodrigues (2000) confirmam o peso <strong>do</strong> cuidar <strong>do</strong> familiar i<strong>do</strong>so,<br />
pois também a maioria <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais afirmaram que o facto <strong>de</strong> cuidar da<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa tinha interferi<strong>do</strong> na sua vida.<br />
Apesar <strong>do</strong>s aspectos negativos <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal serem claramente<br />
prepon<strong>de</strong>rantes na percepção <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais acerca da prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
à pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente <strong>do</strong>miciliário, estes também afirmam existir benefícios ou<br />
aspectos positivos <strong>de</strong>correntes da sua situação <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s (Bris, 1994).<br />
Tal facto encontra-se igualmente presente no grupo <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, em que a maioria <strong>de</strong>stes referem estar bastante<br />
satisfeitos com a prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s ao familiar i<strong>do</strong>so, segui<strong>do</strong>s daqueles que, com<br />
125
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
alguma importância quantitativa, se encontram satisfeitos. A reforçar a bastante<br />
satisfação <strong>do</strong>s sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> em cuidar, Hagen & Gallagher (1996) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que a<br />
prestação informal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s a um membro familiar i<strong>do</strong>so e incapacita<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser<br />
bastante recompensa<strong>do</strong>r e gratificante. Também Archbold, Stewart, Greenlick e Harvath<br />
(1990, cita<strong>do</strong>s em Given & Given, 1991), i<strong>de</strong>ntificaram a existência <strong>de</strong> satisfação no<br />
grupo <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais à pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente <strong>do</strong>miciliário à qual<br />
<strong>de</strong>nominaram <strong>de</strong> «recompensas da prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s», sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>scrito que o os<br />
mesmos possuíam a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar um significa<strong>do</strong> e um valor <strong>para</strong> a sua<br />
própria situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s.<br />
Relacionan<strong>do</strong> o impacto e a satisfação, verifica-se que na percepção <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, tal como referem<br />
Rajagopal, Brody e Kleban (1992, cita<strong>do</strong>s em Chang, 1999), os aspectos positivos e<br />
negativos da prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s não são entendi<strong>do</strong>s como opostos mas antes como<br />
<strong>para</strong>lelos, sen<strong>do</strong> que nunca se cruzam entre si, pois a maioria <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais<br />
que referem a existência <strong>de</strong> impacto no seu estilo <strong>de</strong> vida encontram-se bastante<br />
satisfeitos, o mesmo acontece com aqueles que referem a existência <strong>de</strong> bastante<br />
impacto, o único presta<strong>do</strong>r informal que refere muito impacto encontra-se satisfeito e a<br />
proporção <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais que se encontram muito satisfeitos com a situação<br />
<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> à pessoa i<strong>do</strong>sa é superior naqueles que referem pouco impacto em relação<br />
aos que percepcionam nenhum impacto. Os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> por<br />
Chang (1992) apoiam a i<strong>de</strong>ia <strong>do</strong> «canal <strong>para</strong>lelo» pois indicam uma diminuição na<br />
satisfação sem que haja alteração <strong>do</strong> impacto, bem como os <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Lawton et al<br />
(cita<strong>do</strong>s em Chang, 1992) em que níveis eleva<strong>do</strong>s <strong>de</strong> envolvimento <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r<br />
informal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s resultam num aumento da satisfação e também num aumento <strong>do</strong><br />
impacto.<br />
Especifican<strong>do</strong> o mo<strong>do</strong> como o cuida<strong>do</strong> à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI interfere no<br />
estilo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal, o grupo <strong>de</strong> sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> referem<br />
pre<strong>do</strong>minantemente a existência da sobrecarga da <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> tempo, enquanto<br />
subvalorizam as sobrecargas social e emocional (cf. Novak & Guest, p. 46). Neste<br />
senti<strong>do</strong>, a dificulda<strong>de</strong> em planear o futuro, face à imprevisibilida<strong>de</strong> das necessida<strong>de</strong>s da<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa ao longo <strong>do</strong> tempo, e a falta <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong> por necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um cuida<strong>do</strong><br />
permanente são as principais causas <strong>de</strong> sobrecarga referidas pelos presta<strong>do</strong>res informais<br />
<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, e que contribuem <strong>para</strong> que o cuida<strong>do</strong> que é<br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> tenha muito ou bastante impacto no estilo <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s mesmos. Estes<br />
126
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> sobrecarga e/ou interrupção no estilo <strong>de</strong> vida encontram-se <strong>de</strong>scritos em<br />
diversos estu<strong>do</strong>s (Bris, 1994; Costa & Silva, 2000; Rebelo, 1996).<br />
No que diz respeito à satisfação percebida, os presta<strong>do</strong>res informais retractam<br />
que o gran<strong>de</strong> motivo <strong>de</strong> satisfação no cuida<strong>do</strong> que prestam é <strong>de</strong> natureza psicológica,<br />
com especial ênfase no laços <strong>de</strong> afectivida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> assim que a gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s<br />
mesmos referem gostar muito <strong>de</strong> estar junto da pessoa i<strong>do</strong>sa e terem muito apreço em<br />
cuidar. Este resulta<strong>do</strong> está <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o que vários autores <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m, entre eles<br />
encontram-se Lee, Kim e You (1997), quan<strong>do</strong> no estu<strong>do</strong> relatam que os presta<strong>do</strong>res<br />
informais no <strong>do</strong>micílio <strong>de</strong>senvolvem uma melhor inter-relacção com a pessoa i<strong>do</strong>sa alvo<br />
<strong>do</strong>s seus cuida<strong>do</strong>s.<br />
Na tentativa <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a dinâmica <strong>do</strong> impacto e satisfação no processo <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, conforme é percebi<strong>do</strong> pelos presta<strong>do</strong>res informais,<br />
importa analisar a variação <strong>do</strong>s mesmos com o sexo, esta<strong>do</strong> civil, grau <strong>de</strong> parentesco à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa. De facto, as mulheres percepcionam o impacto em níveis superiores ao<br />
<strong>do</strong>s homens, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser uma explicação <strong>para</strong> tal o facto <strong>de</strong> que os homens tenham<br />
mais probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> receber ajuda externa, ao contrário das mulheres que são<br />
consi<strong>de</strong>radas como necessitan<strong>do</strong> menos <strong>de</strong> ajuda quer pela família, quer pelas re<strong>de</strong>s<br />
formais (Paúl, 1997). Para além disto, é <strong>de</strong> salientar que apesar <strong>do</strong>s cônjuges <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />
e, consequentemente, a maioria <strong>do</strong>s casa<strong>do</strong>s, referirem menor impacto, Paúl (1997) e<br />
Bris (1994) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que estes são mais vulneráveis a problemas psicológicos.<br />
127
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
3 – O PROCESSO DE EMPOWERMENT DOS PRESTADORES INFORMAIS<br />
ENQUANTO SISTEMAS ACTIVOS NO PROCESSO DE CUIDADOS À<br />
PESSOAS IDOSA ALVO DE ADI<br />
O processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI é um espelho da natureza holística que os <strong>de</strong>fine enquanto seres em<br />
constante interacção/ajustamento com o meio on<strong>de</strong> se encontram inseri<strong>do</strong>s sen<strong>do</strong>,<br />
simultaneamente, consequências e causas nesse processo.<br />
Neste contexto, numa análise <strong>de</strong> cariz individual, o processo <strong>de</strong> empowerment<br />
<strong>de</strong>stes presta<strong>do</strong>res é traduzi<strong>do</strong> por uma inter-relação que envolve valores, <strong>de</strong>terminantes<br />
e resulta<strong>do</strong>s.<br />
Estan<strong>do</strong> centra<strong>do</strong>s no processo <strong>de</strong> interacção que ocorre entre o presta<strong>do</strong>r<br />
informal <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s e a pessoa i<strong>do</strong>sa, inseri<strong>do</strong>s num ambiente específico, que é o<br />
<strong>do</strong>miciliário num contexto <strong>de</strong> apoio integra<strong>do</strong>, perspectivamos interpretar os senti<strong>do</strong>s<br />
que aquele que cuida atribui a esse processo <strong>de</strong> interacção. Não sen<strong>do</strong> este processo<br />
estanque,<br />
o senti<strong>do</strong> (...), liga-se a toda a situação <strong>de</strong> vida e, consoante o vivi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s costumes<br />
ou a impregnação das crenças, assim estimula ou inibe a pessoa. (...) o senti<strong>do</strong> não<br />
tem, necessariamente, uma orientação única, a <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo ou <strong>de</strong> um não <strong>de</strong>sejo. A<br />
maior parte das vezes situa-se numa encruzilhada <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo e <strong>de</strong> um<br />
contra<strong>de</strong>sejo: o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que qualquer coisa aconteça e ao mesmo tempo <strong>de</strong> que não<br />
aconteça (Collière, 1999, p. 302).<br />
Assim, ten<strong>do</strong> por base o seguinte quadro <strong>de</strong>senvolveremos toda uma análise <strong>de</strong><br />
com<strong>para</strong>ção entre os casos.<br />
128
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Quadro 16 – Relação entre as dimensões e as categorias por área temática<br />
TEMA DIMENSÃO CATEGORIA<br />
Potencialida<strong>de</strong>s<br />
Pessoa I<strong>do</strong>sa<br />
Ida<strong>de</strong><br />
VALORES<br />
Presta<strong>do</strong>r Informal<br />
Pré-<strong>de</strong>terminação<br />
Relação Interpessoal<br />
Ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> Cuida<strong>do</strong>s<br />
Espaço Interrelacional<br />
Fisiológica<br />
Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Intervenção<br />
Funções <strong>do</strong> Organismo<br />
Segurança<br />
DETERMINANTES<br />
Psicológica<br />
Bem-estar<br />
Estima<br />
Afectivida<strong>de</strong><br />
Sócio-cultural<br />
Sistema <strong>de</strong> Suporte<br />
Condição Económica<br />
Desenvolvimento<br />
Estimulação<br />
Experiências Anteriores<br />
RESULTADOS Intrapessoal Competência Percebida<br />
3.1 – VALORES<br />
Os valores são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s elementos estruturais no processo <strong>de</strong> empowerment<br />
<strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI (cf. Zimmerman, p.<br />
59). Estes são, em gran<strong>de</strong> parte, <strong>de</strong>riva<strong>do</strong>s da interacção social, emergin<strong>do</strong> <strong>de</strong> um<br />
sistema <strong>de</strong> crenças ou i<strong>de</strong>ologias, específicas <strong>de</strong> cada indivíduo, que tem como objectivo<br />
reger a sua própria conduta o que, por sua vez, interfere no papel que o presta<strong>do</strong>r<br />
informal <strong>de</strong>sempenha enquanto sistema activo no processo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
alvo <strong>de</strong> ADI (Paúl, 1997; cf. Zimmerman, p. 56).<br />
Numa relação com o mun<strong>do</strong> e as coisas, a análise <strong>do</strong>s valores oferece-nos uma<br />
re<strong>de</strong> <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>s que traduzem a prática simbólica subjacente ao cuida<strong>do</strong> informal,<br />
isto é, uma prática que resulta da articulação entre o objecto da acção (percebi<strong>do</strong>) e o<br />
sistema <strong>de</strong> disposições <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal (cf. Bacatum, Vieira e Costa, p. 59;<br />
Rebelo, p. 60).<br />
Com tu<strong>do</strong> isto, queremos referir que a prática <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI constrói-se pela representação que o presta<strong>do</strong>r informal faz da pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa, <strong>de</strong> si próprio, e <strong>do</strong> ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s, à medida que<br />
fundamentam simbolicamente a sua acção (Quadro 16).<br />
129
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
3.1.1 – Pessoa I<strong>do</strong>sa<br />
To<strong>do</strong>s nós, com certeza, temos uma representação <strong>de</strong> pessoa i<strong>do</strong>sa formada a<br />
partir da nossa observação, da nossa vivência ou daquilo que nos é transmiti<strong>do</strong> pela<br />
família e socieda<strong>de</strong>. Surge, assim, o conceito <strong>de</strong> pessoa i<strong>do</strong>sa como algo que se<br />
modifica à medida que o envolvimento é vivencia<strong>do</strong>, consoante o contexto social em<br />
que a pessoa se insere, sen<strong>do</strong> este, um fenómeno cultural que se altera no tempo e no<br />
espaço, e como tal, mutável e dinâmico (Zimerman, 2000).<br />
Neste senti<strong>do</strong>, verifica-se que os presta<strong>do</strong>res informais, na construção da sua<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> enquanto cuida<strong>do</strong>res em ambiente <strong>do</strong>miciliário, conceptualizam a pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa através <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> representações que foram integradas nas categorias,<br />
potencialida<strong>de</strong>s, ida<strong>de</strong> e pré-<strong>de</strong>terminação, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a natureza <strong>do</strong> seu constructo<br />
(Quadro 17).<br />
Quadro 17 – Relação entre a dimensão Pessoa I<strong>do</strong>sa e as categorias emergentes<br />
TEMA DIMENSÃO CATEGORIA<br />
Potencialida<strong>de</strong>s<br />
VALORES Pessoa I<strong>do</strong>sa<br />
Potencialida<strong>de</strong>s<br />
Ida<strong>de</strong><br />
Pré-<strong>de</strong>terminação<br />
A velhice é certamente um fenómeno normal, mas leva a um aumento da<br />
fragilida<strong>de</strong> e da vulnerabilida<strong>de</strong> (Cor<strong>de</strong>iro, 1999).<br />
Conceben<strong>do</strong> a pessoa i<strong>do</strong>sa numa perspectiva sistémica, naquilo que Neuman<br />
preconiza, o envelhecimento produz alterações inevitáveis e irreversíveis no sistema<br />
cliente i<strong>do</strong>so. Estas mudanças variam <strong>de</strong> indivíduo <strong>para</strong> indivíduo, mas, quase sempre,<br />
representa uma alteração no bem-estar fisiológico, conceptualiza<strong>do</strong> como a perda <strong>de</strong><br />
flexibilida<strong>de</strong> e da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação das linhas <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, representan<strong>do</strong> a<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> sistema. As outras dimensões <strong>do</strong> sistema cliente i<strong>do</strong>so<br />
(psicológica, sócio-cultural, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e espiritual) po<strong>de</strong>rão ou não sofrer<br />
modificações com o <strong>de</strong>senrolar <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> envelhecimento, tu<strong>do</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá das<br />
vivências anteriores <strong>de</strong>ste sistema e da forma <strong>de</strong> encarar esta nova etapa <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento, positiva ou negativamente (Peirce e Fulmer, 1995).<br />
Numa perspectiva <strong>de</strong> que o envelhecimento po<strong>de</strong> significar um tempo <strong>de</strong> perdas,<br />
incapacida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>pendências (Paschoal, 1999), D. Inês e D. Isabel conceptualizam a<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa como alguém que se encontra num processo <strong>de</strong> perda das potencialida<strong>de</strong>s<br />
130
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
humanas: “... p’ra mim i<strong>do</strong>so é uma pessoa que não po<strong>de</strong> fazer nada...” (D. Inês, E1,) e<br />
“Consi<strong>de</strong>ro-o (mari<strong>do</strong>) i<strong>do</strong>so porque ele (...) já não é capaz <strong>de</strong> fazer aquilo que<br />
conseguia...” (D. Isabel, E2). Este processo <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s na pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
assume diferentes senti<strong>do</strong>s.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, o envelhecimento biológico da pessoa é enfatiza<strong>do</strong> por D. Isabel<br />
quan<strong>do</strong> focaliza o seu discurso na perda <strong>do</strong> vigor físico associa<strong>do</strong> ao envelhecimento <strong>do</strong><br />
mari<strong>do</strong>: “... agora acho o meu mari<strong>do</strong> mais i<strong>do</strong>so, porque ele não se mexe, não se<br />
levanta, (...) não consegue comer sozinho...” (E2). Esta presta<strong>do</strong>ra informal explica<br />
ainda o processo <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s por variáveis sociais, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> o<br />
envelhecimento social <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> refere “... dantes não, dantes não o (mari<strong>do</strong>)<br />
consi<strong>de</strong>rava por i<strong>do</strong>so porque ele era um homem p’ra trabalhar, um homem que<br />
apresentava-se bem, era bem pareci<strong>do</strong>...” (E2).<br />
Por outro la<strong>do</strong>, além das alterações no corpo, o envelhecimento traz ao ser<br />
humano uma série <strong>de</strong> mudanças psicológicas (Zimerman, 2000), sen<strong>do</strong> estas que<br />
suportam a representação que D. Inês tem da pessoa i<strong>do</strong>sa, ou seja, como alguém<br />
envelhecida psicologicamente, com perda <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s cognitivas: “... uma pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa exactamente é aquela que não tem já possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> (...) comandar...” (E2).<br />
Importa ainda referir que, <strong>do</strong> discurso das presta<strong>do</strong>ras informais D. Inês e D.<br />
Isabel, emerge também a representação <strong>de</strong> que, tal como refere Berger (1995), as<br />
alterações da ida<strong>de</strong> nem sempre são previsíveis, e resultam não só <strong>do</strong> processo <strong>de</strong><br />
senescência normal (envelhecimento primário), mas também da <strong>do</strong>ença<br />
(envelhecimento secundário). Deste mo<strong>do</strong>, a perda <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s associada à<br />
existência <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença/<strong>de</strong>pendência tem um papel pre<strong>do</strong>minante na representação da<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa: “... <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento que ele (mari<strong>do</strong>) a<strong>do</strong>eceu, per<strong>de</strong>u as faculda<strong>de</strong>s,<br />
tornou-se i<strong>do</strong>so” (D. Inês, E2) e “... sinto-o (mari<strong>do</strong>) mais i<strong>do</strong>so, é pela <strong>do</strong>ença, é pela<br />
<strong>do</strong>ença” (D. Isabel, E2).<br />
Ida<strong>de</strong><br />
De acor<strong>do</strong> com Birren (1980, cita<strong>do</strong> em Cor<strong>de</strong>iro, 1999) o envelhecimento<br />
refere-se às mudanças regulares que ocorrem em organismos maturos, à medida em que<br />
avançam na ida<strong>de</strong> cronológica.<br />
No entanto, Paschoal (1999) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a noção <strong>de</strong> envelhecimento<br />
cronológico torna-se um pouco arbitrária uma vez que o aparecimento <strong>do</strong>s sinais <strong>de</strong>ste<br />
processo ocorre em diferentes ida<strong>de</strong>s cronológicas e, por isso, o envelhecimento,<br />
131
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
enquanto processo, po<strong>de</strong> ocorrer em qualquer ida<strong>de</strong>. Deste mo<strong>do</strong>, as presta<strong>do</strong>ras<br />
informais conceptualizam a pessoa i<strong>do</strong>sa no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que ser i<strong>do</strong>so não é ter ida<strong>de</strong>: “<br />
não me consi<strong>de</strong>ro muito i<strong>do</strong>sa, (...) tenho setenta e oito anos mas (...) não me consi<strong>de</strong>ro<br />
assim (i<strong>do</strong>sa) (...) por ter esta ida<strong>de</strong>” (D. Isabel, E1).<br />
Numa perspectiva sistémica, <strong>do</strong> discurso das presta<strong>do</strong>ras informais emerge os<br />
conceitos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> psicológica e social (Cor<strong>de</strong>iro, 1999). Enquanto que D. Inês e D.<br />
Isabel enfatizam a ida<strong>de</strong> psicológica, em <strong>de</strong>trimento da cronológica, referin<strong>do</strong> que na<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa o que importa é sua a postura diante a vida, a forma <strong>de</strong> ser e <strong>de</strong> buscar a<br />
própria felicida<strong>de</strong> (Zimerman, 2000): “... no meu aspecto <strong>de</strong> viver, eu imagino que é<br />
mentira (eu) ter esta ida<strong>de</strong>...” (D. Isabel, E1) e “... se a pessoa pensar que não é<br />
(i<strong>do</strong>sa), (...) que não tem tanta ida<strong>de</strong> eu acho que consegue ultrapassar muitos mais<br />
obstáculos” (D. Inês, E1); D. Leonor suporta as sua representações no estatuto social da<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa, associan<strong>do</strong> a ida<strong>de</strong> à importância da valorização da pessoa i<strong>do</strong>sa na<br />
socieda<strong>de</strong>: “(ser i<strong>do</strong>so) é uma ida<strong>de</strong> que nós temos que respeitar” (E1).<br />
Pré-<strong>de</strong>terminação<br />
Envelhecer é uma característica, por enquanto inevitável, das formas <strong>de</strong> vida<br />
mais elevadas. Assim, há <strong>para</strong> todas as espécies uma duração máxima <strong>de</strong> vida própria <strong>de</strong><br />
cada uma <strong>de</strong>las (Ermida, 1999).<br />
Neste senti<strong>do</strong>, a pessoa i<strong>do</strong>sa é conceptualizada por D. Leonor como se<br />
encontran<strong>do</strong> num estádio <strong>do</strong> ciclo <strong>de</strong> vida pré-<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que o<br />
envelhecimento é um processo irreversível que se inscreve no tempo entre o nascimento<br />
e a morte <strong>do</strong> indivíduo (Ponte, 1999) e, por isso, a pessoa i<strong>do</strong>sa encontra-se perto <strong>do</strong><br />
fim, na última etapa da vida: “... <strong>de</strong> velho não se escapa...” (E1).<br />
No discurso <strong>de</strong> D. Leonor surge ainda a pré-<strong>de</strong>terminação <strong>do</strong> envelhecimento no<br />
senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que a velhice é a pior das <strong>de</strong>sgraças que po<strong>de</strong>m atingir o homem (Agreda,<br />
1999), conceptualizan<strong>do</strong>-a como uma etapa triste e infeliz da vida: “acho que é... mau<br />
(ser i<strong>do</strong>so)... porque (...) na pessoa i<strong>do</strong>sa (...) é tu<strong>do</strong> p’ra baixo, tu<strong>do</strong> p’ra baixo...” (E1).<br />
Apresentamos <strong>de</strong> seguida a figura 10 que sintetiza a análise <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s<br />
atribuí<strong>do</strong>s pelas presta<strong>do</strong>ras informais à pessoa i<strong>do</strong>sa.<br />
132
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Figura 10 – Conceptualização da Pessoa I<strong>do</strong>sa<br />
3.1.2 – Presta<strong>do</strong>r Informal<br />
A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal é também suportada pelos significa<strong>do</strong>s da<br />
própria prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa e refere-se a aspectos subjectivos e<br />
associações individuais atribuídas aos acontecimentos vivencia<strong>do</strong>s, haven<strong>do</strong> uma<br />
interpretação individual das experiências <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> cada um que emergem <strong>de</strong> um<br />
conjunto <strong>de</strong> valores (Rubinstein, 1989, cita<strong>do</strong> em Paúl, 1997).<br />
Sen<strong>do</strong> o cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente <strong>do</strong>miciliário um processo<br />
complexo <strong>de</strong> interacção pessoal que pressupõe uma co-participação <strong>de</strong> experiências<br />
entre a pessoa i<strong>do</strong>sa e o presta<strong>do</strong>r informal (cf. Carletti & Rejani, p. 39), torna-se natural<br />
que, tal como se encontra esquematiza<strong>do</strong> no Quadro 18, D. Isabel e D. Leonor tenham<br />
enfatiza<strong>do</strong> a relação interpessoal que estabelecem com os familiares i<strong>do</strong>sos como uma<br />
especificida<strong>de</strong> <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> que <strong>de</strong>senvolvem.<br />
133
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Quadro 18 – Relação entre a dimensão Presta<strong>do</strong>r Informal e as categorias emergentes<br />
TEMA DIMENSÃO CATEGORIA<br />
VALORES Presta<strong>do</strong>r Informal Relação Interpessoal<br />
Relação Interpessoal<br />
O processo <strong>de</strong> interacção entre duas pessoas, é <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> Ficher<br />
(1982, cita<strong>do</strong> em Paúl, 1997), a partir <strong>de</strong> três tipos <strong>de</strong> envolvimento ou relação: o<br />
formal, no senti<strong>do</strong> em que envolve regras reconhecidas socialmente, com direitos e<br />
<strong>de</strong>veres recíprocos, como é o caso das relações filiais; o sentimental, quan<strong>do</strong> há um<br />
senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> preocupação e proximida<strong>de</strong> relativamente ao outro; e a troca, quan<strong>do</strong> o<br />
envolvimento é no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> partilha <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s, apoio emotivo ou ambos, num dar<br />
e receber recíproco.<br />
Encontra-se, assim, subjacente ao discurso <strong>de</strong> D. Leonor a relação formal no<br />
cuida<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> esta atribui à relação interpessoal que estabelece com o seu pai o<br />
senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que a prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais que <strong>de</strong>senvolve emerge <strong>de</strong> valores <strong>de</strong><br />
consanguinida<strong>de</strong>: “(o presta<strong>do</strong>r informal cuida melhor) Por ser uma pessoa da nossa<br />
família, <strong>do</strong> nosso sangue” (E1).<br />
Outro tipo <strong>de</strong> relação que caracteriza a relação interpessoal entre presta<strong>do</strong>r<br />
informal e pessoa i<strong>do</strong>sa é o sentimental, pois quer D. Isabel, bem como D. Leonor,<br />
evi<strong>de</strong>nciam a importância da efectivida<strong>de</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal:<br />
“Nós (presta<strong>do</strong>res informais) cuidamos com mais amor, com mais carinho, talvez com<br />
mais cuida<strong>do</strong>s” (D. Leonor, E1) e “... aquele amor que a gente (presta<strong>do</strong>res informais)<br />
ganha pela pessoa (que é cuidada), é uma loucura!” (D. Isabel, E2).<br />
Para além <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> relação interpessoal que <strong>de</strong>senvolvem, salientamos ainda<br />
que <strong>do</strong> discurso <strong>de</strong> D. Isabel emergem valores referentes às consequências <strong>de</strong>sta relação.<br />
Tais consequências retratam a labilida<strong>de</strong> afectiva, ou seja, a instabilida<strong>de</strong> e constante<br />
mutabilida<strong>de</strong> das reacções afectivas (Lu<strong>de</strong>rs & Storani, 1999), em que não são só os<br />
sentimentos agradáveis <strong>de</strong> carinho e amor que surgem neste processo <strong>de</strong> interacção, mas<br />
também sentimentos negativos como a revolta e o <strong>de</strong>sespero: “... a gente (presta<strong>do</strong>res<br />
informais) às vezes também <strong>de</strong>sespera um bocadinho...” (E1) e “... a gente (presta<strong>do</strong>res<br />
informais) também se revolta um bocadinho...” (E2).<br />
De forma a melhor compreen<strong>de</strong>r a presente análise, apresentamos seguidamente<br />
a figura 11, on<strong>de</strong> sistematizamos os aspectos mais relevantes da categoria emergente da<br />
dimensão Presta<strong>do</strong>r Informal.<br />
134
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Figura 11 – Conceptualização <strong>do</strong> Presta<strong>do</strong>r Informal<br />
3.1.3 – Ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
O ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s é neste contexto conceptualiza<strong>do</strong><br />
enquanto ambiente cria<strong>do</strong>, pois resulta da troca <strong>de</strong> energia, tanto com o ambiente<br />
interno como com o externo, que se <strong>de</strong>senvolve no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
informais à pessoa i<strong>do</strong>sa (cf. Neuman, p. 40).<br />
Fernan<strong>de</strong>s (1992, cita<strong>do</strong> em Reis, 1998) reforça que em to<strong>do</strong> este processo <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s o ambiente envolvente <strong>de</strong>sempenha um papel prepon<strong>de</strong>rante, uma vez que é<br />
entendi<strong>do</strong> enquanto espaço social, numa perspectiva <strong>de</strong> um «campo <strong>de</strong> forças» on<strong>de</strong> os<br />
agentes sociais se <strong>de</strong>finem pelas suas posições relativas, ten<strong>do</strong> em conta que to<strong>do</strong> o<br />
sistema <strong>de</strong> relação se inscreve num espaço em que se associam estreitamente o lugar, o<br />
social e o cultural.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, o ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais, <strong>para</strong> além<br />
<strong>de</strong> ser um espaço físico, ou seja, o ambiente <strong>do</strong>miciliário, é conceptualiza<strong>do</strong> como um<br />
espaço interrelacional (Quadro 19).<br />
135
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Quadro 19 – Relação entre a dimensão Ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s e as<br />
categorias emergentes<br />
TEMA DIMENSÃO CATEGORIA<br />
VALORES<br />
Ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> Cuida<strong>do</strong>s<br />
Espaço Interrelacional<br />
Espaço Interrelacional<br />
Construí<strong>do</strong> no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais à pessoa i<strong>do</strong>sa, o<br />
ambiente <strong>do</strong>miciliário, enquanto espaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, centra-se no<br />
processo <strong>de</strong> interacção que ocorre entre o presta<strong>do</strong>r informal e a pessoa i<strong>do</strong>sa (cf. p. 41)<br />
e, por isso, <strong>de</strong>sempenha um papel importante na construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da D. Isabel<br />
como presta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais ao mari<strong>do</strong>: “... se os nossos mari<strong>do</strong>s chegam a<br />
faltar, faz conta que é uma casa sem luz, mesmo <strong>do</strong>entinho como ele ‘tá...” (E2).<br />
Sen<strong>do</strong> este um espaço complexo, <strong>de</strong> adaptação activa, e que implica a<br />
articulação entre a prática e o pensamento, entre as vivências e as<br />
representações/operações simbólicas, o ambiente <strong>do</strong>miciliário enquanto espaço<br />
interrelacional é valoriza<strong>do</strong> por D. Isabel como um espaço promotor <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
personaliza<strong>do</strong>s ao mari<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao seu potencial humaniza<strong>do</strong>r e a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong> às<br />
necessida<strong>de</strong>s específicas <strong>do</strong> mesmo, ao contrário <strong>do</strong> que aconteceria num ambiente<br />
institucional: “... aqui (<strong>do</strong>micílio) sou só eu a tratar <strong>de</strong>le (mari<strong>do</strong>) e lá (instituição) são<br />
muitos, são poucos a tratar <strong>de</strong> muitos” (E1).<br />
O ambiente <strong>do</strong>miciliário é também conceptualiza<strong>do</strong> por D. Isabel como um<br />
espaço interrelacional no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> controlo ambiental por parte <strong>do</strong>s que nele estão<br />
inseri<strong>do</strong>, nomeadamente “... isto (<strong>do</strong>micílio) é o nosso cantinho...” (E2). Este é um<br />
aspecto positivo no cuida<strong>do</strong> informal, quer <strong>para</strong> o presta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s como <strong>para</strong> a<br />
pessoa que é cuidada, uma vez que enfatiza os laços que a día<strong>de</strong> estabelece com o<br />
espaço, com os objectos e com as pessoas que, por sua vez, constituem factores <strong>de</strong><br />
garantia <strong>para</strong> a manutenção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>do</strong> equilíbrio, ou seja da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />
<strong>do</strong>s mesmos (cf. Carletti & Rejani, p. 39).<br />
Perante tais consi<strong>de</strong>rações, visan<strong>do</strong> caracterizar o processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, na sua especificida<strong>de</strong>,<br />
proce<strong>de</strong>mos à síntese <strong>do</strong> tema Valores, on<strong>de</strong> relacionamos as três dimensões emergentes<br />
com as diferentes categorias e a forma como os diferentes casos se posicionam, <strong>de</strong><br />
acor<strong>do</strong> com os senti<strong>do</strong>s atribuí<strong>do</strong>s.<br />
136
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Síntese <strong>do</strong> Tema – Valores<br />
O processo <strong>de</strong> empowerment das presta<strong>do</strong>ras informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI é estrutura<strong>do</strong> com base na concepção da pessoa i<strong>do</strong>sa como alguém<br />
frágil, que se encontra num processo <strong>de</strong> perdas <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s físicas, psicológicas e<br />
sociais, e no qual é também referenciada a importância da relação interpessoal no<br />
cuida<strong>do</strong> que é presta<strong>do</strong>, bem como da importância <strong>do</strong> ambiente em que este é<br />
<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> enquanto potencia<strong>do</strong>r <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s humaniza<strong>do</strong>s. Esta humanização é<br />
evi<strong>de</strong>nciada não só pela já referida relação interpessoal, com base no princípio da<br />
consanguinida<strong>de</strong> ou em sentimentos <strong>de</strong> amor e carinho, mas também pelo espaço<br />
interrelacional promotor <strong>de</strong> equilíbrio interno.<br />
É <strong>de</strong> salientar que o facto das presta<strong>do</strong>ras informais construírem a sua<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, e a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> que <strong>de</strong>senvolvem, valorizan<strong>do</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s<br />
aspectos em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outros (figura 12), retrata o ser complexo e especifico que é<br />
o Homem. Esta complexida<strong>de</strong> é influenciada, e tem por base, o contexto em que cada<br />
um <strong>de</strong> nós se encontra inseri<strong>do</strong> fazen<strong>do</strong> com que to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> capacitação que<br />
vamos <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> durante o ciclo vital seja suporta<strong>do</strong> pela forma como<br />
conceptualizamos os acontecimentos da vida.<br />
Legenda:<br />
Senti<strong>do</strong> atribuí<strong>do</strong> Forte Fraco Nulo<br />
Figura 12 – Valores inerentes ao processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI<br />
137
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
3.2 – DETERMINANTES<br />
O empowerment sen<strong>do</strong> um processo social <strong>de</strong> reconhecimento, promoção e<br />
utilização das competências pessoais <strong>para</strong> conhecer as suas próprias necessida<strong>de</strong>s,<br />
resolver os seus próprios problemas e mobilizar os recursos necessários, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a<br />
sentir um controle nas suas vidas (cf. Gibson, p. 55), envolve, igualmente, um controle<br />
sobre os factores que afectam a sua saú<strong>de</strong>.<br />
Inerente a esta i<strong>de</strong>ia, no processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI encontra-se a noção <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
que, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Loveland-Cherry (1999), dizem respeito aos factores que<br />
influenciam o risco ou a distribuição <strong>do</strong>s acontecimentos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. De facto, o<br />
conhecimento, e consequente controle, <strong>de</strong> tais factores é fundamental na compreensão<br />
<strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment <strong>de</strong>stes presta<strong>do</strong>res informais, pois eles, como o nome<br />
indica, <strong>de</strong>terminam os mecanismos através <strong>do</strong>s quais esses mesmos presta<strong>do</strong>res<br />
<strong>de</strong>senvolvem uma atitu<strong>de</strong> crítica e participam <strong>de</strong> uma forma activa nas <strong>de</strong>cisões que<br />
afectam as suas vidas, ou seja, tais factores <strong>de</strong>terminam os processos mediante os quais<br />
os presta<strong>do</strong>res <strong>de</strong>senvolvem resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (cf. Zimmerman, p. 59).<br />
Manten<strong>do</strong> uma perspectiva sistémica, em que Neuman <strong>de</strong>fine os <strong>de</strong>terminantes<br />
como estímulos que produzem tensões e têm o potencial <strong>de</strong> causar a instabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
sistema presta<strong>do</strong>r informal (George, 2000), a prática <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
alvo <strong>de</strong> ADI é condicionada por <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> natureza fisiológica, psicológica,<br />
sociocultural e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento (Quadro 16, p. 128).<br />
3.2.1 – Fisiológica<br />
A dimensão fisiológica é entendida pelas presta<strong>do</strong>ras informais como um<br />
<strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> à pessoa i<strong>do</strong>sa em <strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s, ou seja,<br />
numa vertente intencional e não intencional. A vertente intencional diz respeito ao<br />
mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> intervenção no cuida<strong>do</strong> informal e a vertente não intencional consiste nas<br />
próprias funções <strong>do</strong> organismo.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, no discurso das presta<strong>do</strong>ras informais surgem <strong>do</strong>is <strong>de</strong>terminantes<br />
<strong>de</strong> natureza fisiológica: o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> intervenção e as funções <strong>do</strong> organismo (Quadro 20,<br />
p. 138).<br />
138
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Quadro 20 – Relação entre a dimensão Fisiológica e as categorias emergentes<br />
TEMA DIMENSÃO CATEGORIA<br />
DETERMINANTES Fisiológica<br />
Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Intervenção<br />
Funções <strong>do</strong> Organismo<br />
Mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> Intervenção<br />
Numa dimensão fisiológica <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal o mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> intervenção das<br />
presta<strong>do</strong>ras informais, ten<strong>do</strong> a tónica na relação interpessoal, é <strong>de</strong>finida pelo significa<strong>do</strong><br />
ou ín<strong>do</strong>le <strong>de</strong> sustento e manutenção da vida, reabastecen<strong>do</strong>-a permanentemente em<br />
energia (cf. Collière, p. 40).<br />
Integra<strong>do</strong>s numa vertente <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> manutenção encontram-se cinco<br />
categorias <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s: os cuida<strong>do</strong>s antecipatórios, que incluem comportamentos ou<br />
<strong>de</strong>cisões basea<strong>do</strong>s na antecipação <strong>de</strong> possíveis necessida<strong>de</strong>s (é um acontecimento<br />
mental e é intencionalmente invisível); os cuida<strong>do</strong>s preventivos, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> evitar a<br />
<strong>do</strong>ença, as complicações e a <strong>de</strong>terioração física; os cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> supervisão, que<br />
correspon<strong>de</strong>m a um envolvimento directo e activo e é habitualmente reconheci<strong>do</strong> como<br />
o olhar pela pessoa i<strong>do</strong>sa; os cuida<strong>do</strong>s instrumentais, nos quais se incluem o fazer por<br />
ou assistir <strong>para</strong> manter a integrida<strong>de</strong> física e o esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da pessoa i<strong>do</strong>sa (está<br />
relaciona<strong>do</strong> com o bem-estar físico, com o corpo); e os cuida<strong>do</strong>s protectores, que têm a<br />
ver com a protecção relativa ao que não po<strong>de</strong> ser evita<strong>do</strong> (Paúl, 1997).<br />
Em conformida<strong>de</strong> com o que emerge <strong>do</strong> discurso, da observação das práticas<br />
diárias <strong>de</strong> D. Inês, D. Isabel e D. Leonor, os cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa, numa dimensão<br />
fisiológica, são caracteriza<strong>do</strong>s essencialmente por cuida<strong>do</strong>s instrumentais basea<strong>do</strong>s em<br />
activida<strong>de</strong>s relativas aos cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> higiene e conforto [“... tenho que lhe (pai) dar o<br />
banho...” (D. Leonor, E3)], que inclui o arranjar e o vestir da pessoa i<strong>do</strong>sa, aos cuida<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> alimentação [“... quan<strong>do</strong> eu estou (em casa) sou eu sempre a dar a alimentação ao<br />
meu mari<strong>do</strong>...”(D. Inês, E3)], aos cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mobilização, aos cuida<strong>do</strong>s na eliminação<br />
vesical e intestinal [“... ponho-o (mari<strong>do</strong>) a fazer xixi, ponho-o a fazer cocó, limpo-lhe o<br />
rabo...” (D. Isabel, E3)], <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> segurança e agilida<strong>de</strong> na sua execução.<br />
Para além <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s instrumentais, todas as presta<strong>do</strong>ras informais prestam<br />
cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> supervisão permanecen<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong> tempo perto da pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
verifican<strong>do</strong> a satisfação da mesma relativamente às necessida<strong>de</strong>s fisiológicas,<br />
supervisionan<strong>do</strong> a medicação a tomar e planean<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> necessário, o apoio formal<br />
(marcação <strong>de</strong> consultas clínicas e <strong>de</strong> enfermagem, marcação <strong>de</strong> exames complementares<br />
<strong>de</strong> diagnóstico).<br />
139
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
É <strong>de</strong> salientar que a prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais <strong>de</strong>senvolvida por D. Inês e<br />
D. Isabel realça também cuida<strong>do</strong>s preventivos. Estes cuida<strong>do</strong>s dizem respeito, no caso<br />
<strong>de</strong> D. Inês, à utilização <strong>de</strong> cama articulada, colchão anti-escaras e a aplicação <strong>de</strong><br />
pomadas e produtos <strong>de</strong> higiene específicos visan<strong>do</strong> a promoção da integrida<strong>de</strong> cutânea<br />
<strong>do</strong> mari<strong>do</strong> que se encontra acama<strong>do</strong>, e o provi<strong>de</strong>nciar <strong>de</strong> fisioterapeuta particular que,<br />
duas vezes por semana, vai ao <strong>do</strong>micílio promover exercícios musculares e articulares<br />
<strong>de</strong> forma a que o seu mari<strong>do</strong> possua um tónus muscular e uma mobilida<strong>de</strong> articular em<br />
esta<strong>do</strong> normal <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com as suas limitações [“... o meu mari<strong>do</strong> precisa <strong>de</strong><br />
exercício” (E1)]. D. Isabel ao longo da prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s ao seu mari<strong>do</strong> previne o<br />
acentuar da <strong>de</strong>pendência física <strong>do</strong> mesmo ao o incentivar a <strong>de</strong>ambular, pelo que<br />
adquiriu um andarilho [“Anteontem fui-lhe (mari<strong>do</strong>) comprar um andarilho, tal é a<br />
força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> que eu tenho <strong>de</strong>le não <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> andar...” (E2)] e incentiva-o a<br />
mobilizar-se no leito alternan<strong>do</strong> os <strong>de</strong>cúbitos.<br />
Funções <strong>do</strong> Organismo<br />
Se a consciência discursiva das presta<strong>do</strong>ras informais nos sugere as funções <strong>do</strong><br />
organismo como um <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, pela compreensão <strong>do</strong>s comportamentos<br />
observa<strong>do</strong>s, parece-nos ser atribuí<strong>do</strong> por D. Inês, D. Isabel e D. Leonor o significa<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
que a prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais é <strong>de</strong>terminada pela existência <strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong>s<br />
físicas por parte das mesmas, bem como das pessoas i<strong>do</strong>sas receptoras <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, D. Inês expressa “... a incapacida<strong>de</strong> física é a principal<br />
dificulda<strong>de</strong> que eu tenho enquanto presto cuida<strong>do</strong>s ao meu mari<strong>do</strong>” (E3), e <strong>de</strong> facto<br />
apresenta gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s na mobilização <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> (alternância <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbitos<br />
enquanto <strong>de</strong>ita<strong>do</strong> e passagem <strong>do</strong> ca<strong>de</strong>irão <strong>para</strong> a cama e vice-versa), sen<strong>do</strong> incapaz <strong>de</strong> o<br />
fazer sozinha, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à pouca força muscular que sente nos membros.<br />
D. Isabel, <strong>de</strong> forma semelhante à presta<strong>do</strong>ra informal anterior, também apresenta<br />
dificulda<strong>de</strong>s em activida<strong>de</strong>s que requerem um maior esforço físico, como o auxílio na<br />
<strong>de</strong>ambulação <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> espaço <strong>de</strong> casa e fora, no quintal, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />
diminuição da força muscular e, consequentemente, <strong>do</strong>r generalizada nos membros<br />
inferiores.<br />
D. Leonor, apresentan<strong>do</strong> uma gran<strong>de</strong> incapacida<strong>de</strong> visual [“... vejo muito mal...”<br />
(E1)], a interferência no cuida<strong>do</strong> é mais generalizada, sen<strong>do</strong> ao nível <strong>do</strong> <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong><br />
to<strong>do</strong>s os cuida<strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>s ao pai (higiene e arranjo <strong>do</strong> pai, pre<strong>para</strong>ção da comida e<br />
medicação, limpeza e arrumação da casa), como ao nível da sua vida individual<br />
(dificulda<strong>de</strong> na realização das compras <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à dificulda<strong>de</strong> na contagem <strong>do</strong> dinheiro,<br />
140
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
insegurança ro<strong>do</strong>viária, tarefas bancárias e preenchimento <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos e lida<br />
<strong>do</strong>méstica).<br />
Importa ainda referir que todas estas incapacida<strong>de</strong>s, e consequentes dificulda<strong>de</strong>s,<br />
po<strong>de</strong>m ser, por sua vez, <strong>de</strong>terminadas por incapacida<strong>de</strong>s físicas das pessoas i<strong>do</strong>sas<br />
receptoras <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s. D. Inês presta cuida<strong>do</strong>s ao mari<strong>do</strong> que se encontra totalmente<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte nas activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vida, inconsciente, com pouca reacção a estímulos<br />
verbais e muito pouco comunicativo [“ele (mari<strong>do</strong>) não tem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comandar<br />
os seus membros e não tem vonta<strong>de</strong>...” (E3)]; D. Isabel presta cuida<strong>do</strong>s ao mari<strong>do</strong> que<br />
também se encontra totalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, embora consciente e orienta<strong>do</strong> no tempo e<br />
no espaço e bastante comunicativo [“... ele (mari<strong>do</strong>) não come sozinho porque começa<br />
a tremer com o mal e <strong>de</strong>pois entorna o comer to<strong>do</strong>” (E3)]; e D. Leonor presta cuida<strong>do</strong>s<br />
ao pai que, sen<strong>do</strong> parcialmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, é autónomo na <strong>de</strong>ambulação e, por isso, vai<br />
à casa-<strong>de</strong>-banho sozinho e passeia no quintal apenas com o apoio <strong>de</strong> um auxiliar <strong>de</strong><br />
marcha (bengala), e mantém força e coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong>s membros superiores permitin<strong>do</strong>-<br />
lhe comer sozinho.<br />
a figura 13.<br />
Como síntese <strong>do</strong>s <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza fisiológica, apresentamos<br />
Figura 13 – Determinantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza fisiológica<br />
141
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
3.2.2 – Psicológica<br />
A dimensão psicológica refere-se a processos mentais e relacionamentos (cf.<br />
George, p. 48) e, como tal, <strong>para</strong> os presta<strong>do</strong>res informais o cuida<strong>do</strong> à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
envolve <strong>de</strong>terminantes emocionais que, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o discurso <strong>de</strong> D. Inês, D. Isabel e<br />
D. Leonor, encontram-se integra<strong>do</strong>s nas categorias <strong>de</strong> segurança, bem-estar, estima e<br />
afectivida<strong>de</strong> que passamos a analisar (Quadro 21).<br />
Quadro 21 – Relação entre a dimensão Psicológica e as categorias emergentes<br />
TEMA DIMENSÃO CATEGORIA<br />
Segurança<br />
DETERMINANTES Psicológica<br />
Bem-estar<br />
Estima<br />
Afectivida<strong>de</strong><br />
Segurança<br />
Maslow <strong>de</strong>clara que as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> segurança incluem a confiança, a<br />
estabilida<strong>de</strong> e a protecção, sen<strong>do</strong> esta sensação <strong>de</strong> tranquilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> um esta<strong>do</strong> livre <strong>de</strong><br />
sentimentos <strong>de</strong> me<strong>do</strong>, ansieda<strong>de</strong> e apreensão correspon<strong>de</strong>nte a uma segurança<br />
psicológica (Atkinson & Murray, 1989).<br />
A consciência que as presta<strong>do</strong>ras informais têm <strong>de</strong>ste facto é consonante com o<br />
observa<strong>do</strong> na prática, sen<strong>do</strong> diversos os significa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> segurança/insegurança<br />
psicológica caracteriza<strong>do</strong>s pelas acções vivenciadas pelas presta<strong>do</strong>ras informais.<br />
De facto, a sensação <strong>de</strong> tranquilida<strong>de</strong> por um esta<strong>do</strong> livre <strong>de</strong> sentimentos <strong>de</strong><br />
me<strong>do</strong> e ansieda<strong>de</strong> não é vivenciada por D. Isabel e D. Leonor, que em conformida<strong>de</strong><br />
com o que refere Pereira (2001), <strong>de</strong>monstram uma preocupação permanente <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao<br />
me<strong>do</strong>/receio <strong>de</strong> que algo <strong>de</strong> mau possa acontecer aos seus familiares i<strong>do</strong>sos nos<br />
perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ausência [“... an<strong>do</strong> sempre, sempre com aquela preocupação <strong>de</strong>le (mari<strong>do</strong>)<br />
‘tar sozinho, com me<strong>do</strong> <strong>de</strong> que ele precise <strong>de</strong> qualquer coisa ou que lhe dê alguma<br />
coisa...” (D. Isabel, E3); “... ’tou sempre em cuida<strong>do</strong>s (...) que lhe (pai) dê qualquer<br />
coisa ou que ele precise <strong>de</strong> qualquer coisa” (D. Leonor, E3)]. A retractar esta<br />
insegurança, D. Isabel quan<strong>do</strong> sai <strong>de</strong> casa <strong>para</strong> ir ao supermerca<strong>do</strong>, cemitério ou ao<br />
centro <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nunca <strong>de</strong>mora muito tempo, recusa-se a sair <strong>de</strong> casa por perío<strong>do</strong>s mais<br />
longos e continua<strong>do</strong>s, quan<strong>do</strong> se encontra no quintal a cavar, a cuidar das flores e <strong>do</strong>s<br />
animais, ou em casa na lida <strong>do</strong>méstica, e ouve o chamar <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, larga tu<strong>do</strong> o que<br />
está fazer e vai logo até junto <strong>do</strong> mesmo, incentivan<strong>do</strong>-o a permanecer durante o dia<br />
numa divisão entre a cozinha e o quintal ten<strong>do</strong>, por isso, um acesso mais directo e<br />
142
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
rápi<strong>do</strong> ao local on<strong>de</strong> este se encontra. D. Leonor, <strong>de</strong> forma semelhante, vai sempre a<br />
fugir a qualquer la<strong>do</strong> (lar <strong>de</strong> i<strong>do</strong>sos, igreja, supermerca<strong>do</strong>, cemitério, banco), também se<br />
recusa a sair <strong>de</strong> casa por longos perío<strong>do</strong>s, e a primeira coisa que faz quan<strong>do</strong> chega a<br />
casa é procurar pelo pai verifican<strong>do</strong> o seu esta<strong>do</strong>.<br />
Pelo contrário, D. Inês não transporta <strong>para</strong> a sua vivência este senti<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
insegurança, uma vez que mobiliza o planeamento, ten<strong>do</strong> em conta a dimensão<br />
temporal, assim como o tipo <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s a realizar, enquanto estratégia gera<strong>do</strong>ra <strong>de</strong><br />
segurança: “... (quan<strong>do</strong> saio) tem que ser tu<strong>do</strong> planea<strong>do</strong>.” (E1) e “... eu tenho que<br />
planear (...) (as minhas saídas) com uma certa antecedência...” (E3). Este facto foi<br />
comprova<strong>do</strong> na prática, pois a D. Inês <strong>de</strong>sfruta <strong>de</strong> perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ausência <strong>do</strong> <strong>do</strong>micílio,<br />
com alguma frequência, vivencian<strong>do</strong>-os com tranquilida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> que este<br />
comportamento se torna visível nas <strong>de</strong>slocações em passo <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong>, mas calmo, sem<br />
que verbalizasse constantemente a necessida<strong>de</strong> urgente <strong>de</strong> voltar <strong>para</strong> casa.<br />
Para além <strong>do</strong> referi<strong>do</strong>, importa salientar que a D. Isabel evi<strong>de</strong>ncia um outro<br />
senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> insegurança, que neste caso diz respeito à falta <strong>de</strong> confiança que esta coloca<br />
nos cuida<strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>s ao mari<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s por outrém, quan<strong>do</strong> com<strong>para</strong><strong>do</strong>s com a<br />
qualida<strong>de</strong> percebida <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>s por si: “Confio mais em mim...” (E2) e “...<br />
acho que ninguém tratava tão bem <strong>de</strong>le (mari<strong>do</strong>) como a mim” (E3). Ten<strong>do</strong> por base<br />
este sentir, nos perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> observação verificou-se que a D. Isabel nunca pediu a<br />
ninguém <strong>para</strong> a substituir nos seus cuida<strong>do</strong>s.<br />
Esta forma <strong>de</strong> cingir os laços <strong>de</strong> confiança à día<strong>de</strong> presta<strong>do</strong>r informal/pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa também é vivenciada por aqueles que são receptores <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, pois quer o<br />
mari<strong>do</strong> <strong>de</strong> D. Isabel, como o pai <strong>de</strong> D. Leonor, são menciona<strong>do</strong>s por ambas, no senti<strong>do</strong><br />
da segurança acrescida que sentem ao serem cuida<strong>do</strong>s pelos seus presta<strong>do</strong>res primários,<br />
recean<strong>do</strong> o facto <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rem verem-se priva<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s mesmos: “... (o meu mari<strong>do</strong>) tem<br />
muito me<strong>do</strong> que eu a<strong>do</strong>eça” (D. Isabel, E2) e “... quan<strong>do</strong> vou a qualquer la<strong>do</strong> (o meu<br />
pai) diz sempre «não te <strong>de</strong>mores, eu só ‘tou bem contigo ao pé, tu és o meu anjo da<br />
guarda»” (D. Leonor, E1).<br />
Bem-estar<br />
Do discurso das presta<strong>do</strong>ras informais emerge o bem-estar como um<br />
<strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le psicológica. Neste senti<strong>do</strong>, verificou-se que as três<br />
presta<strong>do</strong>ras vivenciam o cuida<strong>do</strong> informal com bem-estar, reflectin<strong>do</strong>-se em frases<br />
como, “... faço-o (cui<strong>do</strong> <strong>do</strong> meu mari<strong>do</strong>) com prazer...” (D. Inês, E2), “... cui<strong>do</strong> <strong>de</strong>le<br />
143
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
(mari<strong>do</strong>) coitadinho, com muita satisfação...” (D. Isabel, E1) e “... cuidar <strong>do</strong> meu pai<br />
p’ra mim é positivo” (D. Leonor, E1).<br />
A D. Inês <strong>de</strong>monstra esse bem-estar na sua prática diária, através da valorização<br />
<strong>de</strong> todas as acções e comportamentos <strong>do</strong> seu mari<strong>do</strong> [“... tiro o melhor parti<strong>do</strong> possível<br />
da situação” (E3)], num âmbito mais abrangente <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> presta<strong>do</strong>, engloban<strong>do</strong><br />
reacções afectivas ou reacções que se aproximam, <strong>de</strong> alguma forma, <strong>do</strong> seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />
estar anterior à situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s. De facto, a D. Inês expressa alegria aquan<strong>do</strong> da<br />
verbalização <strong>de</strong> «palavras engraçadas» por parte <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> o mesmo <strong>de</strong>monstra<br />
apetite ingerin<strong>do</strong> a totalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s alimentos que ela lhe dá, permanece senta<strong>do</strong> no<br />
ca<strong>de</strong>irão com uma postura alinhada ou a olha com um fácies expressivo (sorriso), ou<br />
ainda quan<strong>do</strong> lhe respon<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma mais abrupta.<br />
No caso da D. Isabel e da D. Leonor, o sentimento <strong>de</strong> bem-estar, fundamenta<strong>do</strong><br />
em termos <strong>de</strong> “gosto também <strong>de</strong> i<strong>do</strong>sos e gostava <strong>de</strong> tratar (...) <strong>de</strong> pessoas velhinhas...”<br />
(D. Isabel, E1) e “... sempre gostei <strong>de</strong> velhinhos” (D. Leonor, E1), é comprova<strong>do</strong><br />
aquan<strong>do</strong> da observação da sua expressão <strong>de</strong> alegria, interesse e disponibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>monstradas e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escuta no relacionamento com os i<strong>do</strong>sos, bem como <strong>do</strong><br />
reforço positivo das potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s mesmos.<br />
Para além <strong>de</strong>ste vector, nos casos anteriores, o bem-estar surge ainda<br />
fundamenta<strong>do</strong> pelo fácies alegre e gestos <strong>de</strong> ternura <strong>para</strong> com o receptor <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s,<br />
em resposta à valorização dada pelo mesmo relativamente aos cuida<strong>do</strong>s que elas lhes<br />
prestam: “... fico muito contente com to<strong>do</strong> o valor que ele (mari<strong>do</strong>) me dá...” (D. Isabel,<br />
E3) e “... sinto-me bem, em ele (pai) sentir-se melhor comigo...” (D. Leonor, E3).<br />
Estima<br />
A estima é mais <strong>do</strong> que um sentimento positivo, é uma avaliação ou julgamento<br />
<strong>do</strong> valor <strong>de</strong> uma pessoa referin<strong>do</strong>-se à forma pela qual a pessoa se vê a si própria ou ao<br />
outro (Atkinson & Murray, 1989). Os mesmos autores (1989) referem ainda que<br />
Maslow subdividiu a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estima em <strong>do</strong>is subconjuntos, isto é, um conjunto<br />
que inclui as qualida<strong>de</strong>s necessárias <strong>para</strong> sentir e acreditar que se tem valor (<strong>de</strong>sejos <strong>de</strong><br />
força, realização, perícia, competência, confiança e in<strong>de</strong>pendência), e outro que inclui as<br />
qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prestígio, dignida<strong>de</strong> e apreciação, que requerem uma interacção com<br />
outros.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, <strong>do</strong> discurso das presta<strong>do</strong>ras informais emergem os senti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> auto<br />
e hetero-estima. Relativamente ao primeiro, enquanto que a D. Isabel evi<strong>de</strong>ncia o<br />
senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> perícia/competência no cuida<strong>do</strong> que presta, “... eu imagino que sou uma<br />
144
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
pessoa competente a cuidar <strong>do</strong> meu mari<strong>do</strong>...” (E1), a D. Inês e a D. Leonor expressam<br />
a auto-estima por intermédio <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> realização: “... fui sempre uma pessoa (...)<br />
que me <strong>de</strong>diquei aos outros...” (D. Inês, E1) e “... eu sempre (...) me <strong>de</strong>diquei aos<br />
velhinhos, aos <strong>do</strong>entes...” (D. Leonor, E1).<br />
No que diz respeito à hetero-estima, esta é realçada por D. Isabel e D. Leonor<br />
com o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>/apreciação, como qualida<strong>de</strong>s que lhes são atribuídas pelos<br />
receptores <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, apresentan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>scritas em termos <strong>de</strong>, “... ele (mari<strong>do</strong>)<br />
reconhece aquilo que eu lhe faço...” (D. Isabel, E1) e “ele (pai) achou que estava<br />
melhor na minha companhia” (D. Leonor, E1).<br />
Afectivida<strong>de</strong><br />
A afectivida<strong>de</strong> é a compreensão e a aceitação que se tem <strong>para</strong> com os outros<br />
(Atkinson & Murray, 1989). No <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
alvo <strong>de</strong> ADI, encontra-se subjacente a afectivida<strong>de</strong> como característica da relação entre<br />
o presta<strong>do</strong>r informal e o receptor <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s: “... há muito afecto naquilo que eu faço<br />
<strong>para</strong> ele (mari<strong>do</strong>)...” (D. Inês, E2); “... sinto-me com carinho p’ra tratar <strong>de</strong>le<br />
(mari<strong>do</strong>)...” (D. Isabel, E1) e “... tu<strong>do</strong> o que eu pu<strong>de</strong>r fazer (ao meu pai), tu<strong>do</strong> o que<br />
tiver ao meu alcance, farei <strong>de</strong> coração...” (D. Leonor, E1).<br />
Embora <strong>de</strong>sempenhe em to<strong>do</strong>s os casos um papel primordial no processo <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s, a afectivida<strong>de</strong> é vivenciada por cada presta<strong>do</strong>ra informal <strong>de</strong> forma diferente.<br />
Assim, comum às três presta<strong>do</strong>ras informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, surgem alguns sentimentos<br />
mobiliza<strong>do</strong>s na relação interpessoal que têm por base laços afectivos, tais como, o amor<br />
e/ou a ternura: “ternura, muita ternura, muito amor que eu tenho por ele (mari<strong>do</strong>)” (D.<br />
Inês, E3); “a única coisa que eu consi<strong>de</strong>ro boa é eu ter forças p’ra o ajudar, esta força<br />
interior, (...) este amor por ele (mari<strong>do</strong>)...” (D. Isabel, E3) e “o meu pai tem o meu<br />
amor...” (D. Leonor, E3). Estes sentimentos foram verifica<strong>do</strong>s na prática relacional<br />
através <strong>de</strong> carícias faciais e mimos, que englobam a preocupação em confeccionar e<br />
comprar os alimentos, bem como as guloseimas, que lhes são <strong>de</strong> mais agra<strong>do</strong> e a<br />
verbalização <strong>de</strong> palavras carinhosas ou <strong>de</strong> lisonjeio.<br />
Também o sentimento <strong>de</strong> pena, enquanto vivência da afectivida<strong>de</strong>, surge<br />
referenciada por D. Isabel e D. Leonor, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> caracterizar a forma como<br />
perspectivam a situação actual em que se encontram os familiares receptores <strong>do</strong>s seus<br />
cuida<strong>do</strong>s: “... sinto muita pena pelo meu mari<strong>do</strong>, (...) tenho muita pena <strong>de</strong>le...” (D.<br />
Isabel, E1) e “... sinto pena, muita pena <strong>do</strong> meu pai...” (D. Leonor, E1). Manten<strong>do</strong> a<br />
ênfase no esta<strong>do</strong> actual em que se encontram os receptores <strong>do</strong>s seus cuida<strong>do</strong>s, <strong>do</strong><br />
145
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
discurso da D. Isabel emerge ainda o senti<strong>do</strong> da afectivida<strong>de</strong> como recompensa, pois “...<br />
<strong>do</strong>u-lhe (mari<strong>do</strong>) mais carinho que o que lhe dava antes...” (E2).<br />
Para além disto, importa ainda referir que, da observação das práticas, a<br />
afectivida<strong>de</strong> surge como uma característica intrínseca a todas as presta<strong>do</strong>ras informais<br />
<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s, pois, <strong>de</strong> facto, as mesmas três <strong>de</strong>monstram amor e ternura <strong>para</strong> com os<br />
familiares, D. Inês e D. Isabel <strong>para</strong> com as ajudantes familiares, enfermeiras e to<strong>do</strong>s<br />
aqueles que as ajudam <strong>de</strong> alguma forma nos cuida<strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>s, e D. Isabel e D. Leonor<br />
<strong>para</strong> com as pessoa i<strong>do</strong>sas no geral, durante as suas idas aos Centro <strong>de</strong> Dia e Lar,<br />
respectivamente.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, pela observação, tornou-se também evi<strong>de</strong>nte a falta <strong>de</strong> afecto<br />
sentida por D. Leonor por parte daqueles, familiares e não familiares, que a ro<strong>de</strong>iam,<br />
com excepção <strong>do</strong> seu pai que é a única pessoa com quem sente que a afectivida<strong>de</strong> é<br />
recíproca. Deste mo<strong>do</strong>, D. Leonor, choran<strong>do</strong>, verbaliza, frequentemente, no seu dia-a-<br />
-dia que o pai tem muito afecto por ela e ela por ele, mas que os familiares (mari<strong>do</strong>,<br />
filha e irmão) não têm e não lhe dão amor.<br />
Numa sistematização <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s aqui analisa<strong>do</strong>s, apresentamos a figura 14.<br />
Figura 14 – Determinantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza psicológica<br />
146
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
3.2.3 – Sócio-cultural<br />
O homem não é um ser isola<strong>do</strong> no mun<strong>do</strong>, tem necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se relacionar com<br />
os outros e com o mun<strong>do</strong> que o ro<strong>de</strong>ia e, por isso, a dimensão sócio-cultural, revestida<br />
pelas expectativas e activida<strong>de</strong>s sociais e culturais <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI (cf. George, p. 48), também foi evi<strong>de</strong>nciada como<br />
<strong>de</strong>terminante <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s mesmos.<br />
Tais expectativas e activida<strong>de</strong>s sociais e culturais são focadas por D. Inês, D.<br />
Isabel e D. Leonor, através das categorias sistema <strong>de</strong> suporte e condição económica,<br />
representan<strong>do</strong> <strong>para</strong> este efeito a abrangência da dimensão (Quadro 22).<br />
Quadro 22 – Relação entre a dimensão Sócio-cultural e as categorias emergentes<br />
TEMA DIMENSÃO CATEGORIA<br />
DETERMINANTES Sócio-cultural<br />
Sistema <strong>de</strong> Suporte<br />
Condição Económica<br />
Sistema <strong>de</strong> Suporte<br />
Um sistema <strong>de</strong> suporte é uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio social, ou seja, um conjunto <strong>de</strong><br />
pessoas ligadas por um conjunto <strong>de</strong> laços, forman<strong>do</strong> uma re<strong>de</strong> social, limitada <strong>do</strong> ponto<br />
<strong>de</strong> vista analítico e que formam uma única estrutura integrada (Wellman, 1981, cita<strong>do</strong><br />
em Paúl, 1997).<br />
Ten<strong>do</strong> por base esta <strong>de</strong>finição, po<strong>de</strong>mos ainda referir que as interacções, <strong>de</strong>ntro<br />
<strong>de</strong>ste conjunto complexo e evolutivo das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio, incluem o dar e receber e<br />
reflectem as necessida<strong>de</strong>s e os recursos <strong>do</strong>s seus membros, sen<strong>do</strong> assim que surgem, “...<br />
eu não sou capaz sozinha <strong>de</strong> lidar com ele (mari<strong>do</strong>) e, por isso, tinha sempre que pedir<br />
ajuda...” (D. Inês, E2), “tu<strong>do</strong> isto (as ajudas) vai influenciar o mo<strong>do</strong> como trato <strong>do</strong> meu<br />
mari<strong>do</strong>...” (D. Isabel, E2) e “(as ajudas que tenho) não interferem muito no cuidar <strong>do</strong><br />
meu pai” (D. Leonor, E2).<br />
Numa análise estrutural <strong>de</strong>stas re<strong>de</strong>s, as presta<strong>do</strong>ras informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa, encontram-se inseridas, por via <strong>de</strong>sta última, num contexto social e<br />
político <strong>de</strong> respostas integradas, como é o ADI. Deste mo<strong>do</strong>, torna-se fácil compreen<strong>de</strong>r<br />
o facto da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio social das presta<strong>do</strong>ras informais ser coinci<strong>de</strong>nte ou <strong>para</strong>lela,<br />
face à re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio às pessoas i<strong>do</strong>sas, assumin<strong>do</strong>, igualmente, duas dimensões, a re<strong>de</strong><br />
informal e a re<strong>de</strong> formal (cf. Gil, p. 37).<br />
Pela prática <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>, enquanto que a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio formal é<br />
comum às três presta<strong>do</strong>ras informais, sen<strong>do</strong> constituída pelas ajudantes familiares que,<br />
147
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
provenientes <strong>do</strong>s serviço social, ajudam, diariamente, duas vezes por dia (<strong>de</strong> manhã e à<br />
tar<strong>de</strong>) e pela enfermeira que, proveniente <strong>do</strong> serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, vai ao <strong>do</strong>micílio quan<strong>do</strong><br />
solicitada, por outro la<strong>do</strong>, os elementos da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio informal são diferentes <strong>de</strong> caso<br />
<strong>para</strong> caso. D. Inês recebe a ajuda <strong>do</strong>s filhos, durante os fins-<strong>de</strong>-semana, da empregada<br />
<strong>do</strong>méstica, diariamente, das 9h00 às 17h00, <strong>de</strong> uma empregada da quinta, todas as<br />
noites, das 22h00 às 23h00, e da irmã que a ajuda, frequentemente, sempre que<br />
solicitada. Por sua vez, D. Isabel recebe auxílio, esporádico, <strong>de</strong> uma vizinha e da<br />
ren<strong>de</strong>ira, diário da neta, por contacto telefónico, e, frequentemente, <strong>do</strong> afilha<strong>do</strong> e <strong>de</strong> um<br />
vizinho. Por último, D. Leonor beneficia <strong>do</strong> apoio esporádico <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, da ren<strong>de</strong>ira, e<br />
<strong>de</strong> duas amigas, em que uma é por contacto telefónico.<br />
Para além da estrutura, é fundamental analisar o tipo <strong>de</strong> apoio da<strong>do</strong> pelos<br />
diversos elementos da re<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> este ser <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le instrumental, que pressupõe a<br />
ajuda física, e/ou <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le psicológica, relaciona<strong>do</strong> com o bem-estar psicológico (Paúl,<br />
1997). Neste senti<strong>do</strong>, a D. Inês é a presta<strong>do</strong>ra informal que beneficia <strong>de</strong> um leque <strong>de</strong><br />
apoio mais alarga<strong>do</strong> e sustenta<strong>do</strong>, pois <strong>do</strong> tipo instrumental, recebe ajuda das ajudantes<br />
familiares, <strong>do</strong>s filhos e da empregada da quinta, que auxiliam nos cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> higiene e<br />
<strong>de</strong> posicionamento <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, da enfermeira que presta cuida<strong>do</strong>s técnicos<br />
(<strong>de</strong>salgaliação), da empregada <strong>do</strong>méstica que confecciona os alimentos, realiza a<br />
limpeza da casa e o arranjo da roupa, assim como da irmã que presta cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
supervisão ao seu cunha<strong>do</strong> nos perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ausência da presta<strong>do</strong>ra primária; e <strong>do</strong> tipo<br />
psicológico, que envolve o suporte por parte <strong>do</strong>s filhos, irmã e empregada <strong>do</strong>méstica, os<br />
quais lhe proporcionam um espaço <strong>de</strong> partilha e <strong>de</strong>sabafo, transmitin<strong>do</strong> as alegrias e as<br />
tristezas <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s.<br />
A D. Isabel, recebe apoio instrumental das ajudantes familiares nos cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong><br />
higiene corporal e no vestuário <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, a enfermeira que presta cuida<strong>do</strong>s técnicos<br />
(administração <strong>de</strong> injectáveis), <strong>do</strong> afilha<strong>do</strong> que realiza as tarefas <strong>de</strong> conservação e<br />
manutenção da casa que impliquem o dispêndio <strong>de</strong> um maior esforço físico (por<br />
exemplo, pintar a casa), o vizinho que lhe transporta as compras mais pesadas (leite,<br />
<strong>de</strong>tergente <strong>para</strong> a roupa, o arroz, entre outros) até ao <strong>do</strong>micílio, e a vizinha ou a ren<strong>de</strong>ira<br />
que prestam cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> supervisão ao seu mari<strong>do</strong>, na sua ausência; e apoio psicológico<br />
por parte da neta, afilha<strong>do</strong>, a vizinha e a ren<strong>de</strong>ira, que, à semelhança da D. Inês, lhe<br />
permitem comunicar emoções e sentimentos vivencia<strong>do</strong>s, através <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong><br />
relação <strong>de</strong> ajuda e partilha.<br />
A D. Leonor que, obten<strong>do</strong> apoio instrumental por parte das ajudantes familiares<br />
no banho semanal <strong>do</strong> pai, na confecção <strong>do</strong>s alimentos às três refeições e na higiene e<br />
148
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
arranjo <strong>do</strong> vestuário <strong>do</strong> mesmo, <strong>do</strong> enfermeiro nos cuida<strong>do</strong>s técnicos (realgaliação), <strong>do</strong><br />
mari<strong>do</strong> na limpeza da casa, da ren<strong>de</strong>ira que presta cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> supervisão ao pai na sua<br />
ausência, e <strong>de</strong> uma amiga que lhe facilita graciosamente alguns alimentos (pão, bolos<br />
secos e fruta); e apoio psicológico apenas das amigas com as quais chora e ri,<br />
partilhan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sta forma, as angústias e alegrias que transporta consigo nos seus papéis<br />
<strong>de</strong> esposa, mãe e filha, é a presta<strong>do</strong>ra informal que possui uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio menos<br />
sustentada.<br />
Condição Económica<br />
Tal como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m Gomes, Soares e Veiga (1997) e Bris (1994), os custos<br />
económicos <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong> cuidar <strong>de</strong> um familiar i<strong>do</strong>so <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte no <strong>do</strong>micílio, são<br />
senti<strong>do</strong>s como eleva<strong>do</strong>s e, por isso, a condição económica constitui-se como um<br />
<strong>de</strong>terminante social no processo <strong>de</strong> empowerment das presta<strong>do</strong>ras informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
à pessoa i<strong>do</strong>sa. Desta forma, emerge <strong>do</strong>s seus discursos o senti<strong>do</strong> da condição<br />
económica enquanto elemento estruturante das re<strong>de</strong>s sociais <strong>de</strong> apoio, pois a prestação<br />
<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais à pessoa i<strong>do</strong>sa representa uma sobrecarga económica que po<strong>de</strong>,<br />
ou não, ser suportada pelos presta<strong>do</strong>res informais. De facto, apesar <strong>de</strong> D. Inês e D.<br />
Isabel consi<strong>de</strong>rarem existir no seu dia-a-dia uma sobrecarga económica, referem a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suportá-la, respectivamente, “enquanto tiver essa capacida<strong>de</strong><br />
económica (o meu mari<strong>do</strong>) ficará aqui em casa, sempre junto <strong>de</strong> mim...” (E2) e “... vá<br />
lá p’ra on<strong>de</strong> for, gaste o dinheiro que gastar, é preciso é chegar...” (E1).<br />
Pelo contrário, D. Leonor consi<strong>de</strong>ra existir uma sobrecarga económica que não<br />
consegue suportar, referin<strong>do</strong> “... o meu irmão <strong>de</strong>via <strong>de</strong> me dar alguma coisa (dinheiro)<br />
p’ra ajudar...) porque eu preciso e não sou filha única e ele (irmão) não precisa...”<br />
(E1).<br />
À semelhança <strong>do</strong> aconteceu nas anteriores dimensões, segue-se a figura 15, na<br />
qual se encontram sistematiza<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>terminantes <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment <strong>de</strong><br />
natureza sócio-cultural.<br />
149
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Figura 15 – Determinantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza sócio-cultural<br />
3.2.4 – Desenvolvimento<br />
A dimensão <strong>de</strong>senvolvimento caracteriza-se por ser referente aos processos<br />
relativos ao <strong>de</strong>senvolvimento durante o ciclo <strong>de</strong> vida (cf. George, p. 26), sen<strong>do</strong> que<br />
nestes casos em concreto, D. Inês e D. Isabel encontram-se no estádio <strong>de</strong><br />
envelhecimento familiar e D. Leonor no estádio pós-parental. A vivência <strong>de</strong>stas etapas<br />
<strong>do</strong> ciclo vital, que surge como um <strong>de</strong>safio permanentemente instável, pressupõe a<br />
interacção constante <strong>de</strong> todas as dimensões aqui analisadas (Peirce e Fulmer, 1995), e é<br />
caracterizada pelas mesmas através das categorias estimulação e experiências anteriores<br />
(Quadro 23).<br />
Quadro 23 – Relação entre a dimensão Desenvolvimento e as categorias emergentes<br />
TEMA DIMENSÃO CATEGORIA<br />
DETERMINANTES Desenvolvimento<br />
Estimulação<br />
Experiências Anteriores<br />
Estimulação<br />
Estimular é criar meios <strong>de</strong> manter a mente, as emoções, as comunicações e os<br />
relacionamentos em activida<strong>de</strong>, crian<strong>do</strong> uma postura <strong>de</strong> busca constante, <strong>de</strong> realizar<br />
activida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> sentir-se alguém, <strong>para</strong> com isso ser parte integrante e activa <strong>do</strong> seu<br />
grupo. A estimulação, ao envolver uma interacção entre a pessoa e o meio, visa ampliar<br />
150
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
o ambiente interno e externo, ou seja, o ambiente cria<strong>do</strong>, contribuin<strong>do</strong> <strong>para</strong> a satisfação,<br />
valorização e integração na família e socieda<strong>de</strong> (Zimerman, 2000).<br />
Deste mo<strong>do</strong>, o ambiente cria<strong>do</strong> envolvente à prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais à<br />
pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI é amplia<strong>do</strong>/reduzi<strong>do</strong> pela presença/ausência <strong>de</strong> diversos<br />
estímulos ou perspectiva<strong>do</strong> através <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos que conduzam aos mesmos.<br />
D. Inês refere a existência <strong>de</strong> solidão [“às vezes sinto-me sozinha” (E1)], embora<br />
enfatize que este sentimento não a acompanha durante o dia, mencionan<strong>do</strong> que “...<br />
durante o dia não sinto solidão...” (E1), o que foi comprova<strong>do</strong> através da observação,<br />
verifican<strong>do</strong>-se que se encontra inserida num ambiente rechea<strong>do</strong> <strong>de</strong> estímulos <strong>de</strong><br />
natureza sócio-cultural. Tais estímulos envolvem as activida<strong>de</strong>s lúdicas observadas no<br />
<strong>do</strong>micílio, como ver televisão, ler, ouvir música, ver revistas <strong>de</strong> <strong>de</strong>coração, fazer costura<br />
e trabalhos manuais, as conversas mantidas com a empregada <strong>do</strong>méstica e o<br />
referencia<strong>do</strong> convívio social, <strong>de</strong> âmbito mais restrito, “... p’ra ser diferente (...) fui aos<br />
anos <strong>do</strong> meu neto” (E3), bem como <strong>de</strong> âmbito mais geral, “... ir à Ópera, ou ir ouvir um<br />
concerto, ou ir a uma exposição...” (E3).<br />
Ainda no que diz respeito ao sentimento <strong>de</strong> solidão, a D. Leonor verbaliza<br />
também a existência <strong>de</strong> solidão [“sinto-me realmente sozinha...” (E1)], mas ao contrário<br />
<strong>do</strong> que acontece com D. Inês, os perío<strong>do</strong>s <strong>de</strong> observação comprovaram que o seu<br />
discurso é um espelho <strong>do</strong> seu dia-a-dia pois, o único contacto verda<strong>de</strong>iramente<br />
relacional que estabelece é com o seu pai, já que o mari<strong>do</strong>, com quem também convive<br />
diariamente, não dá atenção à sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conversar e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sabafar; e o único<br />
contacto social frequente que <strong>de</strong>senvolve é a ida ao lar, no qual vai à missa e visita as<br />
pessoas i<strong>do</strong>sas com quem gosta <strong>de</strong> conversar. Encontran<strong>do</strong>-se gasta, cansada, sem<br />
forças <strong>para</strong> continuar a vida [“’tou gasta, ‘tou sem forças, gasta em to<strong>do</strong>s os aspectos,<br />
físico, psicológico, tu<strong>do</strong>...” (E3)], D. Leonor apresenta como único estímulo <strong>para</strong> a<br />
realização <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s as crenças espirituais: “... acho que é uma virtu<strong>de</strong> (cuidar <strong>do</strong><br />
meu pai), uma obra que eu estou a fazer, (...) é uma obra que Deus quer e que eu faço<br />
com o amor a Deus e pela felicida<strong>de</strong> da minha filha” (E3). Neste caso, po<strong>de</strong>mos referir<br />
que é <strong>do</strong> sagra<strong>do</strong> que o crente espera to<strong>do</strong> o socorro e to<strong>do</strong> o êxito, no senti<strong>do</strong> da «fé-<br />
recompensa» (Gomes, Soares e Veiga, 1997).<br />
Relativamente a D. Isabel, o sentimento <strong>de</strong> solidão não foi observa<strong>do</strong>, nem tão<br />
pouco referi<strong>do</strong>, pois, à semelhança <strong>do</strong> que acontece com D. Inês, o ambiente cria<strong>do</strong> é<br />
amplia<strong>do</strong> por um conjunto diversifica<strong>do</strong> <strong>de</strong> estímulos sócio-culturais observa<strong>do</strong>s, como<br />
o convívio com as várias pessoas que se dirigem a sua casa, quer <strong>para</strong> visitar o mari<strong>do</strong>,<br />
quer <strong>para</strong> lhe comprarem flores, hortaliças, coelhos e ovos, as activida<strong>de</strong>s lúdicas que<br />
151
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
<strong>de</strong>senvolve durante o dia, como a limpeza e o arranjar da casa ou o arranjo <strong>do</strong> quintal.<br />
Para além <strong>de</strong>stes estímulos, a D. Isabel obtém satisfação nas activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
dia-a-dia através das crenças <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m espiritual, constituin<strong>do</strong>-se estas como um<br />
instrumento no qual <strong>de</strong>posita a fé na «cura» <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> [“... tenho fé em Deus que ainda<br />
vejo o meu mari<strong>do</strong> a andar” (E2)] e <strong>do</strong> qual retira o seu leit motiv <strong>para</strong> continuar a<br />
cuidar fazen<strong>do</strong> face às provas e às dificulda<strong>de</strong>s da existência, referin<strong>do</strong> “... continuo<br />
com fé, tenho fé e se calhar é ela que me dá esta força toda...” (E1). Po<strong>de</strong>mos assim<br />
realçar o senti<strong>do</strong> da «fé-esperança», enquanto experiência humana complexa, mas<br />
essencial à vida, através da qual se po<strong>de</strong> esperar e se <strong>de</strong>ve acreditar que existem<br />
soluções <strong>para</strong> as suas necessida<strong>de</strong>s, conjugan<strong>do</strong>-se este conceito com o já <strong>de</strong>scrito, <strong>de</strong><br />
«fé-recompensa» (Gomes, Soares e Veiga, 1997).<br />
Experiências Anteriores<br />
Por experiências anteriores enten<strong>de</strong>-se que é tu<strong>do</strong> o que se constitui ao longo <strong>do</strong><br />
tempo, individual e colectivamente, na intimida<strong>de</strong> das pessoas, no seu corpo,<br />
inteligência, imaginário e sensibilida<strong>de</strong>, na confrontação quotidiana com o real e com a<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se resolver problemas <strong>de</strong> toda a espécie (Pineau, 1991, cita<strong>do</strong> em Costa,<br />
1998).<br />
Reflexo <strong>de</strong>sta perspectiva surge, da opinião das presta<strong>do</strong>ras informais <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s, o senti<strong>do</strong> das experiências anteriores como forma <strong>de</strong> retractar as alterações<br />
introduzidas no seu estilo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais, assim como<br />
justificação <strong>para</strong> os padrões <strong>de</strong> vida manti<strong>do</strong>s.<br />
Neste senti<strong>do</strong>, o facto <strong>de</strong> D. Inês coor<strong>de</strong>nar a lavoura da quinta, ser responsável<br />
pelo pagamento das <strong>de</strong>spesas da casa e da quinta, ten<strong>do</strong> que realizar uma série <strong>de</strong><br />
activida<strong>de</strong>s burocráticas, trata-se <strong>de</strong> uma alteração <strong>do</strong> seu estilo <strong>de</strong> vida uma vez que é<br />
referi<strong>do</strong> pela mesma que “a vida cá em casa era <strong>de</strong> outra maneira (...) ele (mari<strong>do</strong>)<br />
tinha a sua vida normal cá fora, eu tinha <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa...” (E3), o ter pouco tempo<br />
<strong>para</strong> dar apoio aos restantes familiares também constitui uma alteração já que a D. Inês<br />
refere que “...’tava permanentemente ocupada ou com os meus netos (...) ou<br />
preocupada com as minhas filhas...” (E3). Por outro la<strong>do</strong>, o já analisa<strong>do</strong> bem-estar<br />
vivencia<strong>do</strong> por D. Inês na situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> informal, e os laços <strong>de</strong> amor e ternura<br />
que caracterizam a sua relação interpessoal com o mari<strong>do</strong> são justifica<strong>do</strong>s pelo “...<br />
muito amor que ele (mari<strong>do</strong>) me <strong>de</strong>u...” (E3), e o ênfase que é da<strong>do</strong> na perda <strong>de</strong><br />
potencialida<strong>de</strong>s psicológicas no processo <strong>de</strong> envelhecimento po<strong>de</strong>rá ser justifica<strong>do</strong> pela<br />
recordação que D. Inês tem das potencialida<strong>de</strong>s anteriores <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>: “... (o meu<br />
152
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
mari<strong>do</strong>) tinha muita vitalida<strong>de</strong>, tinha muita energia, era uma pessoa que gostava<br />
imenso <strong>de</strong> ir p’ra to<strong>do</strong> o la<strong>do</strong>...” (E2) e “... (o meu mari<strong>do</strong>) era uma pessoa muito<br />
extrovertida que encantava toda a gente, que era uma simpatia p’ra toda a gente...”<br />
(E2).<br />
No caso <strong>de</strong> D. Isabel, o facto <strong>de</strong>sta, actualmente, não ver televisão e não fazer<br />
renda, são alterações nas activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer que ocorreram <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à situação <strong>de</strong><br />
cuidar, pois a mesma menciona que “... antigamente tinha tempo p’ra ver televisão e<br />
até via, antigamente tinha tempo p’ra fazer uns picots e até fazia...” (E3), o facto <strong>de</strong> não<br />
ter tempo <strong>para</strong> cuidar <strong>de</strong> si própria, não in<strong>do</strong> ao cabeleireiro ou não in<strong>do</strong> comprar roupa,<br />
ten<strong>do</strong> sempre como priorida<strong>de</strong> as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, também constitui uma<br />
alteração ao seu estilo <strong>de</strong> vida, pois refere que “... gostava muito <strong>de</strong> me arranjar, (...)<br />
era um bocadinho vai<strong>do</strong>sa também...” (E3) e, por último, a preocupação permanente<br />
<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao me<strong>do</strong>/receio <strong>de</strong> que algo <strong>de</strong> mau possa acontecer ao seu mari<strong>do</strong> nos perío<strong>do</strong>s<br />
<strong>de</strong> ausência é uma situação recente no seu dia-a-dia já que “... dantes não pensava na<br />
morte...” (E3). No que diz respeito aos factos da D. Isabel, não sair <strong>de</strong> casa por perío<strong>do</strong>s<br />
longos e verbalizar que não sente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> passear está relaciona<strong>do</strong> com hábitos<br />
anteriores, como “... saía sempre com o meu mari<strong>do</strong>, nunca fui sozinha, nem ele nunca<br />
foi sozinho sem mim...” (E3) e “já não andava muito pela rua antes <strong>do</strong> meu mari<strong>do</strong> ‘tar<br />
<strong>do</strong>ente...” (E3), e <strong>de</strong> nunca pedir a ninguém <strong>para</strong> a substituir nos seus cuida<strong>do</strong>s justifica-<br />
se com forte relação que existe entre os <strong>do</strong>is: “... agarrámo-nos muito um ao outro...<br />
(E3).<br />
Do discurso <strong>de</strong> D. Leonor evi<strong>de</strong>ncia-se apenas a justificação <strong>para</strong> a afectivida<strong>de</strong><br />
como uma característica intrínseca à sua personalida<strong>de</strong>, na medida em que refere que<br />
“... cuidar <strong>de</strong> i<strong>do</strong>sos fazia parte <strong>do</strong> meu trabalho...” (E3).<br />
De seguida apresentamos a figura 16 que sintetiza os <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
natureza <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
153
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
Figura 16 – Determinantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
Síntese <strong>do</strong> Tema – Determinantes<br />
Tal como o empowerment é um <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> efectivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> programas <strong>de</strong><br />
Promoção da Saú<strong>de</strong>, também o seu processo é condiciona<strong>do</strong> por <strong>de</strong>terminantes. Estes<br />
últimos dizem respeito aos <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais, que como<br />
seres biopsicossociais, possuem em constante interacção <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> natureza<br />
fisiológica, psicológica, sócio-cultural e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
O conhecimento <strong>de</strong> tais factores torna-se fundamental <strong>para</strong> o processo <strong>de</strong><br />
empowerment, pois uma possível futura intervenção que vise a referida capacitação <strong>do</strong>s<br />
presta<strong>do</strong>res informais no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa, <strong>de</strong>ve incidir nos<br />
mesmos, ou seja, no ambiente cria<strong>do</strong>. Esta perspectiva <strong>de</strong> diagnóstico <strong>de</strong> situação<br />
permite-nos enveredar num processo <strong>de</strong> estimativa <strong>do</strong> risco que, actualmente, exerce um<br />
importante papel nas intervenções no âmbito da Promoção e Protecção da Saú<strong>de</strong>.<br />
Analisan<strong>do</strong> os diversos <strong>de</strong>terminantes, e no intuito da estimativa <strong>do</strong> risco <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>mos referir que a satisfação percepcionada pelas três presta<strong>do</strong>ras po<strong>de</strong>rá<br />
estar relacionada com a experiência <strong>de</strong> bem-estar e <strong>de</strong> auto-estima que todas vivênciam<br />
na situação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong> informal. Por outro la<strong>do</strong>, na mesma linha <strong>de</strong> análise, as<br />
diferenças <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> impacto entre cada caso po<strong>de</strong>rá estar relaciona<strong>do</strong> com a<br />
especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada contexto em que se encontram inseridas, como por exemplo a<br />
154
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
esfera <strong>de</strong> segurança, os laços <strong>de</strong> afectivida<strong>de</strong>, as próprias incapacida<strong>de</strong>s físicas, a<br />
condição económica e, o muito importante, sistema <strong>de</strong> suporte.<br />
Deste mo<strong>do</strong>, como po<strong>de</strong>mos observar na figura 17, D. Inês, que é a presta<strong>do</strong>ra<br />
informal que refere a existência <strong>de</strong> pouco impacto, atribui e vive um senti<strong>do</strong> positivo em<br />
to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>terminantes, enquanto que D. Leonor, que é a presta<strong>do</strong>ra informal que refere<br />
sentir muito impacto, atribui e vive a prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s ao familiar num senti<strong>do</strong><br />
forte e fraco.<br />
Legenda:<br />
Senti<strong>do</strong> atribuí<strong>do</strong> Forte Fraco<br />
Figura 17 – Determinantes <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa<br />
i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI<br />
155
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
3.3 – RESULTADOS<br />
Rappaport (cf. p. 55) <strong>de</strong>fine empowerment como a aquisição <strong>de</strong> controle ou<br />
<strong>do</strong>mínio sobre as suas vidas, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser expresso ao nível <strong>do</strong>s sentimentos, das i<strong>de</strong>ias<br />
sobre o próprio valor e <strong>de</strong> se acreditar ser capaz <strong>de</strong> fazer a diferença.<br />
Este conceito <strong>de</strong> empowerment, que conduz à noção da existência <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s<br />
após a intervenção sobre os <strong>de</strong>terminantes, contribui <strong>para</strong> o retracto <strong>de</strong> uma pessoa que<br />
acredita ter capacida<strong>de</strong> <strong>para</strong> influenciar um da<strong>do</strong> contexto, que enten<strong>de</strong> como o sistema<br />
opera nesse contexto e que a<strong>do</strong>pta comportamentos <strong>para</strong> exercer controle nesse contexto<br />
(cf. Zimmerman, p. 59).<br />
Neste senti<strong>do</strong>, também o processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais<br />
<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI é constituí<strong>do</strong> por resulta<strong>do</strong>s embora apenas na<br />
componente intrapessoal (Quadro 16, p. 128) .<br />
3.3.1 – Intrapessoal<br />
A componente intrapessoal refere-se à percepção que cada um tem sobre a sua<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> influência, incluin<strong>do</strong> processos intrapsíquicos nas áreas da personalida<strong>de</strong>,<br />
cognição e motivação (cf. Zimmerman; Warschausky, p. 60). Em consonância com este<br />
conceito, <strong>do</strong> discurso <strong>de</strong> D. Inês, D. Isabel e D. Leonor emerge a competência percebida<br />
como um resulta<strong>do</strong> intrapessoal (Quadro 24).<br />
Quadro 24 – Relação entre a dimensão Intrapessoal e a categoria emergente<br />
TEMA DIMENSÃO CATEGORIA<br />
RESULTADOS Intrapessoal Competência Percebida<br />
Competência Percebida<br />
A competência percebida consiste na avaliação <strong>de</strong> cada pessoa sobre as suas<br />
capacida<strong>de</strong>s, na base da qual organizará e executará os seus comportamentos, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a<br />
alcançar o rendimento <strong>de</strong>seja<strong>do</strong> (Bandura, 1986, cita<strong>do</strong> em Paúl, 1997). Para além disto,<br />
o mesmo autor (1986, cita<strong>do</strong> em Paúl, 1997) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> ainda que as percepções <strong>de</strong><br />
competência que as pessoas possuem, <strong>de</strong>terminam, em gran<strong>de</strong> parte, as opções que<br />
tomam, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esforço que dispen<strong>de</strong>m em diferentes activida<strong>de</strong>s, a sua<br />
perseverança face a resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>cepcionantes, e a atitu<strong>de</strong> ansiosa ou segura com que<br />
enfrentam as situações.<br />
156
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que as percepções <strong>de</strong> competência que as pessoas possuem<br />
<strong>de</strong>terminam as opções que tomam, é evi<strong>de</strong>nciada no discurso das três presta<strong>do</strong>ras<br />
informais. Embora a opção pelo ambiente <strong>do</strong>miciliário como o melhor espaço <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s aos seus familiares i<strong>do</strong>sos seja unânime, D. Inês e D.<br />
Isabel justificam esta opção pela especificida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s que prestam, ou seja, pela<br />
possibilida<strong>de</strong> que os seus familiares têm <strong>de</strong> receber um cuida<strong>do</strong> caracteriza<strong>do</strong> por mais<br />
carinho e <strong>de</strong>dicação: “o bom <strong>de</strong> tê-lo (mari<strong>do</strong>) cá em casa é eu dar-lhe o mais<br />
assistência possível, o mais carinho, o mais amor, (...) a mais <strong>de</strong>dicação” (D. Inês, E1),<br />
“... acho que ele (mari<strong>do</strong>) aqui em casa ‘tá melhor porque tem outro carinho...” (D.<br />
Isabel, E1), e D. Leonor tem a percepção da qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> espaço pois permite que o seu<br />
pai se sinta mais à vonta<strong>de</strong>, com liberda<strong>de</strong> <strong>para</strong> manter a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: “... o meu pai<br />
sente-se melhor em casa porque é a casa <strong>de</strong>le, ‘tá mais à vonta<strong>de</strong>, (...) <strong>de</strong>ita-se e<br />
levanta-se quan<strong>do</strong> ele quer, comer a mesma coisa...” (D. Leonor, E2).<br />
Importa referir que D. Isabel percepciona ainda que a opção que fez <strong>de</strong> prestar<br />
cuida<strong>do</strong>s com qualida<strong>de</strong> é justificada por experiências anteriores <strong>de</strong> carácter positivo na<br />
relação com o seu mari<strong>do</strong>, como “... cui<strong>do</strong> bem <strong>do</strong> meu mari<strong>do</strong> porque vejo que ele é<br />
uma pessoa que merece...” (E1).<br />
Para além <strong>de</strong>stas percepções <strong>de</strong> competência, D. Inês e D. Leonor têm a<br />
percepção das suas limitações, isto é, das suas incompetências no processo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s<br />
aos seus familiares, sen<strong>do</strong> estas <strong>de</strong> natureza fisiológica, no <strong>do</strong>is casos [“(o meu mari<strong>do</strong>)<br />
é uma pessoa muito forte, muito pesada e eu não sou capaz por incapacida<strong>de</strong> física”<br />
(D. Inês, E1), “...eu vejo mal, (...) pouco posso fazer aqui em casa...” (D. Leonor, E1)], e<br />
<strong>de</strong> natureza psicológica, no caso específico <strong>de</strong> D. Leonor [“... se eu tivesse mais calma,<br />
se eu tivesse mais feliz (...) transmitia mais alegria p’ró meu pai e ele (...) ficava<br />
também mais alegre...” (E2)].<br />
Síntese <strong>do</strong> Tema - Resulta<strong>do</strong>s<br />
Os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> empowerment das presta<strong>do</strong>ras informais são<br />
traduzi<strong>do</strong>s apenas na vertente intrapessoal. Este facto po<strong>de</strong>rá reflectir o longo caminho<br />
que ainda há a percorrer no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> atingir resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le interaccional e<br />
comportamental. Isto revela que as presta<strong>do</strong>ras informais iniciaram o caminho <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>scoberta pela percepção das suas próprias competências, analisan<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma crítica<br />
as suas capacida<strong>de</strong>s, ten<strong>do</strong> a noção daquilo que conseguem e/ou não conseguem. É um<br />
óptimo princípio e <strong>para</strong> que este percurso <strong>de</strong> capacitação se continue a <strong>de</strong>senvolver no<br />
157
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
melhor e mais saudável senti<strong>do</strong> nós, presta<strong>do</strong>res formais temos uma gran<strong>de</strong><br />
responsabilida<strong>de</strong>.<br />
158
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
4 – CONCLUSÕES<br />
De acor<strong>do</strong> com a problemática em estu<strong>do</strong>, os objectivos e as questões <strong>de</strong><br />
investigação, procurámos traduzir um conjunto <strong>de</strong> conclusões que emergem da análise<br />
<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s.<br />
Para tal, recorremos ao esquema interpretativo que reflecte a conceptualização<br />
<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente <strong>do</strong>miciliário, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>-o como<br />
suporte básico das conclusões que se apresentam.<br />
No senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> obtermos uma maior clareza na leitura das já mencionadas<br />
conclusões, organizámo-las ten<strong>do</strong> em conta, as questões <strong>de</strong> investigação, percursoras <strong>do</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> to<strong>do</strong> este processo <strong>de</strong> investigação.<br />
A – Em relação ao mo<strong>do</strong> como se caracteriza sócio-<strong>de</strong>mograficamente a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio<br />
informal à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI, é-nos possível salientar:<br />
- A revitalização da importância das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> familiar traduzida<br />
pelo facto <strong>de</strong> que a família é um <strong>do</strong>s principais sistemas <strong>de</strong> suporte <strong>do</strong><br />
cuida<strong>do</strong> informal às pessoas i<strong>do</strong>sas alvo <strong>de</strong> ADI;<br />
- O cuida<strong>do</strong> informal à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI é concentra<strong>do</strong> no cônjuge,<br />
embora os filhos/as e os genros/noras apresentam também um valor relativo<br />
significativo;<br />
- Para além <strong>de</strong> serem solidarieda<strong>de</strong>s verticais, são também lateralizadas, uma<br />
vez que é dada ênfase quantitativa às solidarieda<strong>de</strong>s femininas na prestação<br />
<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s informais à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI;<br />
- O grupo <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI é<br />
constituí<strong>do</strong> maioritariamente por pessoas i<strong>do</strong>sas.<br />
159
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
B – No que respeita à forma como os presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa<br />
alvo <strong>de</strong> ADI percepcionam o impacto e a satisfação no cuida<strong>do</strong>, realçamos que:<br />
- O número maioritário <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais referem a existência <strong>de</strong><br />
impacto <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, percepcionan<strong>do</strong> um nível médio <strong>de</strong> sobrecarga e/ou <strong>de</strong><br />
interrupção no seu estilo <strong>de</strong> vida;<br />
- O grupo <strong>de</strong> presta<strong>do</strong>res informais afirmam também existir benefícios ou<br />
aspectos positivos <strong>de</strong>correntes da sua situação <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s,<br />
referin<strong>do</strong> a maioria <strong>de</strong>les estarem bastante satisfeitos com a prestação <strong>de</strong><br />
cuida<strong>do</strong>s ao familiar i<strong>do</strong>so;<br />
- Relativamente ao impacto, o grupo <strong>de</strong> sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> referem<br />
pre<strong>do</strong>minantemente a existência da sobrecarga da <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> tempo,<br />
haven<strong>do</strong> dificulda<strong>de</strong> em planear o futuro, falta <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à<br />
necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um cuida<strong>do</strong> permanente, por parte da pessoa i<strong>do</strong>sa.<br />
C – No que concerne ao processo <strong>de</strong> empowerment <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais enquanto<br />
sistemas activos no processo <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa alvo <strong>de</strong> ADI:<br />
- As presta<strong>do</strong>ras estruturam o processo <strong>de</strong> empowerment ten<strong>do</strong> por base<br />
valores relativos à pessoa i<strong>do</strong>sa, ao próprio presta<strong>do</strong>r informal e ao ambiente<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s;<br />
- Dentro da temática <strong>do</strong>s valores conceptualizam a pessoa i<strong>do</strong>sa como alguém<br />
frágil, com perda <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s físicas, psicológicas e sociais. Na<br />
prática <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r informal é dada ênfase à relação interpessoal que se<br />
estabelece entre a día<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> extrema importância o ambiente<br />
<strong>do</strong>miciliário enquanto espaço interrelacional;<br />
- O processo <strong>de</strong> empowerment é condiciona<strong>do</strong> por <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
natureza fisiológica, psicológica, sócio-cultural e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.<br />
- A satisfação comum a todas as presta<strong>do</strong>ras informais po<strong>de</strong>rá estar<br />
relaciona<strong>do</strong> com a vivência <strong>de</strong> bem-estar e auto-estima na situação <strong>de</strong><br />
160
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
cuida<strong>do</strong>s, enquanto que o impacto po<strong>de</strong>rá ser condiciona<strong>do</strong> por factores<br />
económicos, falta <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> suporte.<br />
- Como resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> capacitação, apenas foi percepciona<strong>do</strong> a<br />
existência <strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le extrapessoal, como é o caso da<br />
competência percebida.<br />
161
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
5 – RECOMENDAÇÕES<br />
A realização <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> revelou-se fulcral no conhecimento <strong>do</strong> presta<strong>do</strong>r<br />
informal, da<strong>do</strong> ao <strong>de</strong>sconhecimento que existia acerca <strong>do</strong> mesmo. Neste senti<strong>do</strong>, perante<br />
as conclusões <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vemo-nos sentir com responsabilida<strong>de</strong> <strong>para</strong> actuar em prol<br />
da capacitação <strong>do</strong>s presta<strong>do</strong>res informais <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa i<strong>do</strong>sa em ambiente<br />
<strong>do</strong>miciliário.<br />
Assim, consi<strong>de</strong>ramos <strong>de</strong> extrema importância o planeamento <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong><br />
intervenção nos <strong>de</strong>terminantes que este estu<strong>do</strong> nos permitiu i<strong>de</strong>ntificar, sen<strong>do</strong> este um<br />
gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio <strong>para</strong> to<strong>do</strong>s aqueles que acreditam que o centro <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s é a família.<br />
Para além disto, gostaríamos <strong>de</strong> realçar a importância da continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong>,<br />
pois sen<strong>do</strong> este exploratório lança a escada <strong>para</strong> futuras investigações <strong>de</strong> carácter<br />
mais <strong>de</strong>limita<strong>do</strong>.<br />
162
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
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O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
ANEXOS<br />
175
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
ANEXO I – Escala <strong>de</strong> avaliação da autonomia/<strong>de</strong>pendência e necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s à pessoa alvo da Intervenção Articulada <strong>de</strong> Apoio Social<br />
e <strong>do</strong>s Cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Continua<strong>do</strong>s<br />
176
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
ANEXO II – Guião da Entrevista Exploratória<br />
177
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
ANEXO III – Questionário<br />
178
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
ANEXO IV – Guião <strong>de</strong> Entrevista <strong>de</strong> Colheita <strong>de</strong> Da<strong>do</strong>s<br />
179
O Cuida<strong>do</strong> Informal à Pessoa I<strong>do</strong>sa em Ambiente Domiciliário<br />
ANEXO V – Guião <strong>de</strong> Observação<br />
180