DESAPEGO EMOCIONAL NA FAMÍLIA - IAF
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<strong>DESAPEGO</strong> <strong>EMOCIO<strong>NA</strong>L</strong> <strong>NA</strong> <strong>FAMÍLIA</strong><br />
É sobre desapego que propomos uma reflexão.<br />
Helena e Mello<br />
Terapeuta de Família e Casal<br />
Segundo o dicionário Aurélio, desapego significa “falta de apego, de<br />
afeição, desamor. 2. Desinteresse, indiferença.’’<br />
Daí, costumeiramente vincular-se o termo a coisas. Desapego a<br />
coisas velhas, em desuso, inservíveis ou inúteis. Por isso,<br />
acostumamo-nos à habitual “faxina” doméstica, onde jogamos fora<br />
ou doamos roupas que já não nos servem e objetos superados, em<br />
especial aparelhos eletrônicos.<br />
Com o sentido de desapego renovamos a decoração de nossa casa,<br />
dos utensílios, de coisas e mais coisas. Renovamos também no<br />
trabalho, quando atualizamos procedimentos, conhecimentos e<br />
equipamentos.<br />
Desapegar-se seria então abrir espaço para a renovação.<br />
Mas, será possível nos desapegarmos de pessoas ou de papéis que<br />
representamos? A esse desapego poderíamos chamar de desapego<br />
emocional?<br />
Acreditamos que sim.<br />
O desapegar-se a nível emocional seria transpor a barreira do mundo<br />
material para um desapego vivenciado no mundo dos sentimentos,<br />
das emoções. E neste campo, o despego cabe bem nas relações<br />
familiares, onde o amor, a proteção e o cuidado perpassam pelos<br />
ciclos de vida dos seus membros em constantes movimentos de<br />
renovação.<br />
Assim, o desapego na família distancia-se dos conceitos de “falta de<br />
apego, de afeição, desamor. 2. Desinteresse, indiferença.’’ No campo<br />
do desapego emocional, a afetividade e o amor permanecem<br />
inalterados mudando apenas seu foco de interesse. Desta forma, o<br />
processo de transição entre o apego e o momento do desapego,<br />
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passa por variação, de acordo com a estrutura de cada membro da<br />
família. Prendemo-nos, nesta reflexão, às transferências dos papéis<br />
no desenvolvimento dos ciclos familiares.<br />
Sabemos que as famílias sofrem mudanças com o decorrer do tempo.<br />
Mudanças previsíveis e ocorrências imprevisíveis. As primeiras, são<br />
aquelas pelas quais a quase totalidade das famílias passam nos seus<br />
diversos ciclos de vida e as segundas, como morte, divórcio, doenças<br />
graves ou degenerativas, etc. são pontuais, podendo ocorrer nas<br />
mais diversas etapas da vida.<br />
Em uma visão didática podemos elencá-las na seguinte seqüência:<br />
1. A formação do novo casal – momento em que a família dá origem<br />
a um outro sistema de conjugalidade. Os pais deixam o papel de<br />
autoridade para assumir o papel de rede de apoio. Surgem dois<br />
subsistemas: o conjugal e o parental.<br />
2. A chegada dos filhos – o casal inicia novo ciclo de vida familiar.<br />
Esta etapa exige que os jovens pais avancem uma geração para<br />
tornarem-se cuidadores da geração que chega.<br />
3. Famílias com filhos adolescentes – outra fase que marca a<br />
seqüência da vida familiar. Nesta, é comum a presença de conflitos<br />
geracionais. Os pais, regra geral, chegaram a “meia idade”, época em<br />
que vivenciam sentimentos advindos de questionamentos acerca do<br />
casamento e da profissão. Os filhos, saídos da infância, encontram-se<br />
em estágio de desenvolvimento emocional e sexual. Os avós,<br />
adentrando na velhice, se confrontando com perdas físicas ou<br />
emocionais. Este é o tempo de reorganização familiar, com<br />
desapegos de autoridade e níveis de limites/fronteiras.<br />
4. Famílias com filhos adultos, solteiros em casa – agora todos são<br />
adultos. Hierarquia doméstica flexibilizada com responsabilidades<br />
negociadas entre os membros da família. A convivência entre pais<br />
maduros e experientes com filhos portadores de status de<br />
independência, gera, na maioria dos casos, conflitos e frustrações.<br />
5. Chegada de netos – com a chegada da terceira geração, a família<br />
retoma a seqüência dos ciclos vitais. Pais passam a desempenhar o<br />
papel de avós; filhos a condição de pais e a criança a ocupar o lugar<br />
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do filho. Papéis familiares que se alteram com o movimento<br />
seqüencial da humanidade.<br />
Nesse contexto reflexivo, temos observado nas transições da vida<br />
familiar, três fases: a mudança, o conflito e a adequação à nova<br />
realidade. Na passagem das etapas,os papéis, as fronteiras, as<br />
proximidades e os afastamentos, atraem o exercício do desapego<br />
emocional, como meio de suavizar a turbulência de sentimentos de<br />
perda, de ciúme, do esvaziamento da auto-estima e mesmo de<br />
solidão.<br />
O despego emocional capacita pais, filhos e avós a renovar-se,<br />
tornando-se aptos ao desempenho de novos papéis. É preciso<br />
desapegar-se do poder hierárquico dos pais educadores, na direção<br />
do adocicado papel de apoio, próprio dos pais de filhos adultos e dos<br />
avós. Da infância à adolescência, desta à maturidade e daí à velhice<br />
haverão perdas e ganhos que podem ser aceitos com o desapego<br />
emocional dos primeiros ou como o aprisionamento do apego,<br />
carregado de sofrimentos e dores.<br />
Nesse contexto, deixo a seguinte reflexão:<br />
“O desapego emocional constrói a ponte que une a sabedoria<br />
do caminhante ao prazer da renovação.”<br />
<strong>IAF</strong> – Instituto Integrado de Apoio à Família<br />
Recife-PE, 03/08/2011.<br />
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