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Dissertação - parte 5 - Demac/UFU

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5.3 Instrumentos de caráter popular no Brasil<br />

O berimbau, repinique e tamborim são instrumentos muito utilizados em obras para<br />

percussão de compositores nacionais. O berimbau pode ser tocado na forma tradicional da<br />

técnica do instrumento ou de diferentes maneiras, como, por exemplo, ser apoiado sobre<br />

um cavalete. O repinique é um pequeno tambor usado com afinação aguda e pele plástica,<br />

geralmente de 10 ou 12 polegadas. Em uma seqüência de quatro semicolcheias é tocado por<br />

três notas com a mão direita e uma com a esquerda. Pode ainda ser tocado no corpo do<br />

instrumento ou tocado na pele com o aro simultaneamente. Seu principal uso é no ritmo do<br />

samba. O tamborim, também usado no samba, pode ser tocado da forma tradicional,<br />

segurado pela mão esquerda e percutido pela direita, ou preso em uma estante.<br />

Há a possibilidade de se tocar de uma forma estilizada alguns instrumentos, como: a<br />

zabumba, o surdo (usado no samba e frevo) e o triângulo. Uma possibilidade é o<br />

percussionista usar uma bateria, onde o bumbo ou o tambor surdo da bateria representam a<br />

zabumba e o prato hi-hat representa o “bacalhau” (que é a vareta tocada na pele inferior da<br />

zabumba). Para a substituição do surdo, usado para marcar o tempo no samba e no frevo, o<br />

bumbo da bateria pode ser tocado com o som “aberto” (com ressonância) e “fechado” (sem<br />

ressonância). A execução do som aberto e fechado são indicados pela escrita tradicional da<br />

percussão com símbolos colocados em cima da nota. Geralmente estes símbolos são<br />

descritos nas páginas iniciais das músicas com uma bolinha branca para o som aberto e uma<br />

bolinha escura para o som fechado. O sinal de “+” também pode ser usado para o som<br />

fechado. Usando ainda a coordenação motora na bateria, podem ser tocados<br />

simultaneamente o bumbo, os pratos hi-hat e o triângulo, segurado pela mão esquerda e<br />

percutido pela direita.<br />

Como referência de instrumentos brasileiros pode se citar os livros: Ritmos e<br />

Instrumentos Brasileiros (1986) de Edgar Nunes Rocca, O Batuque Carioca (2002) de<br />

Guilherme Gonçalves e Odilon Costa e A percussão dos ritmos brasileiros: sua técnica e<br />

sua escrita (1992) de D’Anunciação e obras como: Cenas Brasileiras nº 1 e 2 de Ney<br />

Rosauro, Divertimento para berimbau e violão, Dança para pandeiro estilo brasileiro e<br />

oboé de D’Anunciação e de Iazzetta, Prakatá (1992) e Promenade (1997).<br />

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Na obra Rapsódia, Rosauro apresenta uma legenda no início da obra descrevendo a<br />

escrita usada por ele para o berimbau (uma escrita simplificada), oferecendo ao intérprete<br />

uma descrição das <strong>parte</strong>s do berimbau visando uma correta execução no instrumento.<br />

Exemplo nº 36 (abaixo).<br />

Exemplo nº 36 - Rosauro, Ney. Rapsódia para percussão e orquestra, pág 5.<br />

Em sua primeira obra escrita para percussão, Cadência para Berimbau, antecessora<br />

a Rapsódia, Rosauro apresenta outra escrita utilizada anteriormente por ele para o<br />

berimbau.<br />

Exemplo nº 37 - Rosauro, Ney. Cadência para berimbau, legenda, pág. 7.<br />

No exemplo nº 38 na próxima página o uso de instrumentos da música popular<br />

como o repinique de escola de samba e sua respectiva técnica é usada na obra Rapsódia.<br />

Rosauro demonstra o conhecimento do instrumento pela sua escrita, inclusive usando o aro<br />

do tambor descrito como “x”. O primeiro espaço na pauta representa três notas tocadas com<br />

a mão direita e o segundo espaço representa a mão esquerda.<br />

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Exemplo nº 38 - Rosauro, Ney. Rapsódia para percussão e orquestra, comp. 357 e 358.<br />

Nos exemplos nº 39 e nº 40 abaixo, Iazzetta faz o uso do berimbau na obra Prakatá<br />

de uma forma não tradicional. Segundo Iazzetta (2003) o berimbau é colocado sobre um<br />

cavalete apoiado no chão e tocado como uma base rítmica. No exemplo nº 39, é tocado de<br />

uma forma mais livre seguido pelos temple bells com uma notação não-convencional. No<br />

exemplo nº 40, o berimbau é tocado junto com o temple bells e tigelas. Este uso faz com se<br />

tenha um pedal rítmico com um som metálico do berimbau, combinado com uma frase<br />

rítmica nas tigelas de porcelana. A soma destes dois timbres distintos se encaixa muito bem<br />

nesta obra.<br />

Exemplo nº 39 - Iazzetta, Fernando. Prakatá, pág. 3.<br />

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Exemplo nº 40 - Iazzetta, Fernando. Prakatá, pág. 3.<br />

Em Promenade, Iazzetta usa o tamborim suspenso em uma estante, mas tocado<br />

como samba, descrito pelo próprio compositor na partitura.<br />

Exemplo nº 41 - Iazzetta, Fernando. Promenade, pág. 4.<br />

No exemplo nº 42 na próxima página, D’Anunciação faz o uso de vários timbres<br />

existentes no pandeiro, onde descreve quatro diferentes sons na legenda: membrana,<br />

polegar, dedos, efeitos. Este tipo de escrita é usada no seu livro Manual de Percussão para<br />

pandeiro.<br />

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Exemplo nº 42 - D’Anunciação, Luiz. Dança para pandeiro estilo brasileiro e oboé, comp. 1.<br />

A inclusão de instrumentos tipicamente utilizados em arranjos de música popular<br />

brasileira em composições para percussão é comum em obras de compositores/intérpretes,<br />

como é o caso de Iazzetta, D´Anunciação e Rosauro. Esta integração entre as sonoridades<br />

dos instrumentos é uma prática do cotidiano de percussionistas que não raro vivenciam o<br />

universo dos instrumentos tradicionais de orquestras sinfônicas (pratos, teclados, bumbo,<br />

etc.) e também aqueles de uso mais popular como: reco-reco, repinique, tamborim, etc.<br />

O repinique, por exemplo, é requisitado na obra de Rosauro, respeitando-se seu<br />

caráter de uso tradicional no samba. O uso do berimbau na obra de Iazzetta estabelece uma<br />

outra forma de executar o instrumento, combinando perfeitamente seu timbre com outros<br />

instrumentos. Iazzetta também usa o tamborim executando células rítmicas do samba<br />

característico no instrumento. O pandeiro é muito bem explorado por D’Anunciação no seu<br />

livro sobre pandeiro e na obra Dança para pandeiro estilo brasileiro e oboé. Nesta obra, a<br />

grafia da <strong>parte</strong> do pandeiro é bastante complexa, porém visa com sua escrita a reprodução o<br />

mais fiel possível do modo de como o instrumento deve soar, respeitando assim o<br />

idiomatismo do instrumento.<br />

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