O mundo do Assobá Gravador - MAFRO - Museu Afro-Brasileiro ...
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Hélio de Oliveira,<br />
herói cultural afro-brasileiro<br />
Cláudio Luiz Pereira<br />
(Antropólogo - CEAO/UFBA)<br />
Se nossa amnésia social cessasse, ainda<br />
que fosse por um ínfimo de segun<strong>do</strong>, e<br />
nos tirasse um pouco <strong>do</strong> torpor desta<br />
nova barbárie e <strong>do</strong> empobrecimento de nossa<br />
experiência cultural, dentre os artistas baianos<br />
<strong>do</strong> século XX que mereciam ser lembra<strong>do</strong>s,<br />
com interesse e destaque, Hélio de Oliveira<br />
despontaria como sen<strong>do</strong> um daqueles que,<br />
inegavelmente, deveriam gozar de prestígio<br />
e projeção no cenário da cultura brasileira.<br />
Hélio de Souza Oliveira foi um homem <strong>do</strong><br />
povo. Negro, pobre, magrinho, tími<strong>do</strong>,<br />
<strong>do</strong>ente... Seria fácil formar um rol<br />
de desvantagens <strong>do</strong> que poderiam ter si<strong>do</strong><br />
obstáculos no seu itinerário, dificuldades que<br />
foram superadas pelo artista em vida, e na<br />
posteridade que lhe é consequente. Acredito<br />
que, por isso mesmo, Hélio de Oliveira deveria<br />
ser eleva<strong>do</strong> à condição de um herói cultural,<br />
aquele que é reconheci<strong>do</strong> como ten<strong>do</strong><br />
obstinadamente venci<strong>do</strong> a tu<strong>do</strong>, inclusive os<br />
fatores redutores da cultura, que enfatizam<br />
novidades transitórias e condenam ao<br />
ostracismo nosso patrimônio consolida<strong>do</strong>,<br />
aquilo que nos foi lega<strong>do</strong> pelas gerações<br />
passadas, e que, no caso <strong>do</strong>s nossos artistas<br />
plásticos, <strong>do</strong>rmitam na liminaridade das<br />
reservas técnicas de nossos museus.<br />
A vida <strong>do</strong> artista poderia inspirar uma<br />
narrativa romântica, alternan<strong>do</strong> momentos<br />
de alegria e <strong>do</strong>r, de drama e tragédia, como só<br />
acontece aos homens incomuns. Obscuridade<br />
e reconhecimento, pranto e riso, devoção e fé,<br />
formam passagens na vida deste trânsfuga,<br />
com trânsito em <strong>do</strong>is <strong>mun<strong>do</strong></strong>s que naquele<br />
instante se encontravam: as artes plásticas<br />
e o can<strong>do</strong>mblé. Clarival <strong>do</strong> Pra<strong>do</strong> Valadares,<br />
um <strong>do</strong>s grandes críticos de arte baianos, seu<br />
médico durante tratamento de leucemia,<br />
no Hospital das Clínicas, chegou a esboçar sua<br />
biografia numa novela, que permanece inédita.<br />
Geral<strong>do</strong> Sarno, um <strong>do</strong>s grandes cineastas<br />
brasileiros, cogita, desde os anos 70,<br />
sobre ele fazer um filme.<br />
Helinho, como ficara conheci<strong>do</strong> entre os<br />
amigos, nasceu em Salva<strong>do</strong>r, no dia 8 de<br />
janeiro <strong>do</strong> já longínquo ano de 1932. Seu pai<br />
era Ogã no terreiro <strong>do</strong> Ogunjá, razão pela qual<br />
ele e sua irmã, D. Edna, se tornaram afilha<strong>do</strong>s<br />
diletos de Procópio de Ogum, personalidade<br />
importante <strong>do</strong> <strong>mun<strong>do</strong></strong> afro-baiano, sen<strong>do</strong>,<br />
portanto, cria<strong>do</strong> no interior <strong>do</strong> <strong>mun<strong>do</strong></strong> <strong>do</strong>s<br />
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