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ED6 7/2/2010 atos hoje<br />
9<br />
Origem dO TrabalhO<br />
De maneira geral, acreditamos que<br />
espiritualidade só <strong>com</strong>bina <strong>com</strong> trabalho<br />
se este for religioso, o qual classificamos<br />
<strong>com</strong>o o mais nobre de todos, seguido pelo<br />
filantrópico ou voluntário. Em razão disso,<br />
o trabalho que chamamos de secular tem<br />
uma conotação quase perversa, pois ele<br />
obsta nossos <strong>com</strong>promissos <strong>com</strong> Deus.<br />
Muitas pessoas espirituais não veem a<br />
hora de encerrar o expediente e estarem<br />
liberadas para participar de uma reunião<br />
de oração ou de um culto. Não são poucos<br />
os que se orgulham de faltar <strong>com</strong> as<br />
obrigações profissionais em favor das<br />
religiosas, pois entendem que o trabalho<br />
secular não faz parte do contexto de servir<br />
a Deus.<br />
No entanto, ao atentarmos para a<br />
origem do trabalho, veremos que o valor<br />
espiritual do trabalho não está exatamente<br />
no que fazemos, mas principalmente<br />
na motivação <strong>com</strong> a qual o fazemos.<br />
Para tanto, devemos considerar Deus<br />
<strong>com</strong>o o autor do trabalho, pois foi Ele<br />
quem o deu ao homem. Dentro do plano<br />
original estabelecido no jardim do Éden,<br />
o homem deveria executar o trabalho<br />
exclusivamente para Deus, conservando a<br />
imagem e a semelhança divinas e portando<br />
a glória do criador (Gn 1.26-28).<br />
Assim sendo, cultivar e guardar o<br />
jardim, nomear os animais e dominar a<br />
terra eram tarefas que estavam dentro<br />
desta perspectiva original (Gn 1.28; 2.15,<br />
19). Era o sacerdócio de Adão. Interagir<br />
<strong>com</strong> a criação, de uma maneira geral,<br />
produzia assuntos para os momentos<br />
de <strong>com</strong>unhão <strong>com</strong> o Senhor e ainda<br />
proporcionava o desenvolvimento ao<br />
homem. Em meio a isso, ele não precisaria<br />
preocupar-se consigo mesmo, pois todo o<br />
necessário ao seu sustento a terra produzia<br />
naturalmente. Desde então seguia um ciclo<br />
de seis dias de trabalho e apenas um de<br />
descanso.<br />
O TrabalhO depOiS dO pecadO<br />
Com a tragédia do pecado, o homem<br />
passou a ter a necessidade de trabalhar<br />
para si próprio para se sustentar, além de<br />
contar <strong>com</strong> a adversidade da terra (Gn<br />
3.16-19). Com a contínua degradação, uns<br />
passaram a trabalhar para outros e, <strong>com</strong><br />
isso, o trabalho também se transformou<br />
num instrumento de opressão nas mãos<br />
daqueles que <strong>com</strong>eçaram a acumular bens.<br />
Sem perceber, ao vender seu trabalho, o<br />
homem vendia também a si próprio. Como<br />
consequência do pecado, o homem deixa<br />
de trabalhar para Deus e passa a trabalhar<br />
para si mesmo. A ação libertadora do<br />
trabalho, que o trabalho traz em si quando<br />
feito para Deus, passa a ser opressora<br />
quando realizada a favor do homem.<br />
rEflExÃo<br />
emprego ou<br />
trAbAlho?<br />
É trabalhando que o homem passa as<br />
melhores horas dos melhores dias de sua<br />
vida. Se isto não for feito para Deus, que<br />
grande desperdício será nossa vida!<br />
Jesus resgatou o conceito do trabalho<br />
para Deus. Ensinou que os lírios do<br />
campo não tecem nem fiam, mas que<br />
nem Salomão, em toda a sua glória, se<br />
vestiu <strong>com</strong>o um deles; que os pardais não<br />
precisam se preocupar <strong>com</strong> a segurança,<br />
pois Deus cuida deles (Mt 6.26-34); que,<br />
em contraposição, o louco, pelo fato de<br />
abarrotar seus celeiros, pensou que podia<br />
descansar a sua alma (Lc 12.16-21); e que<br />
os vinhateiros que assassinaram não só os<br />
enviados pelo dono da vinha, mas também<br />
o próprio filho dele, imaginavam que<br />
podiam apossar-se da herança (Mt 21.33-<br />
41). Em meio a tudo isso, Jesus confrontou<br />
os legalistas afirmando trabalhar<br />
porque o seu Pai também trabalhava<br />
continuamente; aprovou a colheita de<br />
espigas pelos seus discípulos no dia de<br />
sábado e ainda fez curas nesse mesmo dia<br />
(Mt 12.1-13; Jo 5.17). O importante para<br />
Jesus não era quando, mas para quem se<br />
trabalha.<br />
Também sabemos que vão é o trabalho<br />
da sentinela, se o Senhor não guardar<br />
a cidade; <strong>com</strong>o vão é o trabalho dos<br />
edificadores, se o Senhor não construir<br />
a casa (Sl 127.1-2). Em Isaías, lemos que<br />
desde a eternidade não se ouviu de um<br />
Deus <strong>com</strong>o o nosso que trabalhe para<br />
aquele que nele espera (Is 64.4). Quando<br />
Davi se propôs a construir uma casa para<br />
Deus, o resultado foi que Deus se propôs a<br />
construir uma casa para ele (2Sm 7.11).<br />
Com todos esses exemplos,<br />
aprendemos que Deus quer trabalhar<br />
por nós e, ao mesmo tempo, espera que<br />
trabalhemos por Ele. Esse era o princípio<br />
do trabalho antes do pecado. Trabalhar<br />
de acordo <strong>com</strong> o verdadeiro objetivo do<br />
trabalho, isto é, para Deus, é estimulante e<br />
acrescenta tesouros valiosos sem corrosão<br />
da ferrugem, enquanto que trabalhar<br />
para nós mesmos apenas causa fadiga e<br />
não acrescenta nada à nossa vida, que se<br />
resume numa rotina de enfado e vaidade.<br />
Também Paulo ensina aos<br />
tessalonicenses que quem não quisesse<br />
trabalhar também não deveria <strong>com</strong>er<br />
(2Ts 3.10) e aos efésios que deveriam<br />
trabalhar <strong>com</strong> as próprias mãos para ter<br />
o que repartir <strong>com</strong> os que necessitassem<br />
(Ef 4.28). Igualmente encontramos esse<br />
apóstolo re<strong>com</strong>endando aos servos –<br />
perfeitamente aplicável aos empregados<br />
nos dias de hoje – que considerassem o<br />
trabalho <strong>com</strong>o se fosse para Deus e não<br />
para o patrão humano (Cl 3.22-25). Por<br />
outro lado, os senhores – patrões e chefes<br />
atuais – não deveriam se sentir absolutos,<br />
cientes que estavam debaixo do mesmo<br />
senhorio do servo, ou seja, de Deus (Cl 4.1).<br />
Tanto um <strong>com</strong>o outro prestarão conta ao<br />
mesmo Senhor.<br />
Vemos, então, a insistência de que o<br />
trabalho deve ser sempre para Deus, quer<br />
na condição de empregado, quer na de<br />
empregador. No livro de Êxodo (31.1-11;<br />
35.30-35; 36.1, 8), vemos que Deus habilita<br />
pessoas para atividades <strong>com</strong>o de costureiro,<br />
ourives, projetista e outras que seriam<br />
consideradas seculares por nós. Portanto,<br />
diante de Deus, não há um trabalho mais<br />
nobre que o outro; o importante é para<br />
quem trabalhamos. Ou seja, podemos servir<br />
a Deus <strong>com</strong> nossas profissões tanto quanto<br />
se fossem um ministério. Entendo que seja<br />
mais certo pensar na nossa profissão <strong>com</strong>o<br />
ministério do que no nosso ministério <strong>com</strong>o<br />
profissão, pois dessa forma estendemos a<br />
santidade para o meio secular, enquanto<br />
que de outro modo impomos a secularização<br />
àquilo que é sacro.<br />
TrabalhO e SacerdóciO<br />
O Novo Testamento convoca todos ao<br />
sacerdócio (1Pe 2.9), independentemente<br />
de sua profissão: pescador, cobrador de<br />
impostos, professor, mecânico, pedreiro,<br />
empresário. Muito embora saibamos disso,<br />
é difícil aceitar, pois nos parece que o pastor<br />
e o bispo são mais sacerdotes que o lixeiro.<br />
Ora, Adão, ao cultivar o Jardim do Éden, o<br />
fazia ao Senhor, e isso era o seu sacerdócio.<br />
Em contraste <strong>com</strong> o sistema atual de<br />
organização das igrejas, que separa as<br />
pessoas em clero e leigas, sempre é bom<br />
lembrar que o Novo Testamento, apesar<br />
de reconhecer lideranças, não trata os<br />
demais <strong>com</strong>o leigos. As duas expressões<br />
gregas “laikos” e “idiótés”, usadas <strong>com</strong>o<br />
depreciativas e traduzidas <strong>com</strong>o leigo,<br />
não são aplicáveis de fato aos cristãos. A<br />
primeira, <strong>com</strong> o sentido de “pertencente<br />
ao povo <strong>com</strong>um”, não é encontrada no<br />
Novo Testamento. A segunda, usada em<br />
contraposição a perito ou especialista,<br />
aparece duas vezes: pelos membros do<br />
sinédrio que, surpresos, constatam a<br />
pregação poderosa dos apóstolos Pedro<br />
e João, que eram pessoas <strong>com</strong>uns e sem<br />
instrução (idiótai – At 4.13); e por Paulo<br />
para se referir à pessoa fora da igreja, que<br />
adentra uma reunião e não consegue<br />
<strong>com</strong>preender as línguas estranhas ali<br />
faladas (1Co 14.23).<br />
Portanto, em nenhuma ocasião cabe<br />
ao cristão a conotação de leigo. Quando<br />
se refere à multidão ou à nação de Deus, o<br />
termo aplicado é laos, incluindo a liderança.<br />
À medida que se passou a distinguir o clero,<br />
por consequência surgia o leigo ou laicato,<br />
o trabalho religioso e o secular e, a exemplo<br />
de outras culturas, o poder religioso<br />
associado <strong>com</strong> o poder político e econômico.<br />
Em geral, a ideia que prevalece é<br />
foto: reprodução internet<br />
de que todas as pessoas são chamadas<br />
ao Cristianismo e, dentre elas, algumas<br />
recebem um outro chamado para <strong>com</strong>por o<br />
clero (sacerdócio) desse Cristianismo. Ora,<br />
na vida natural, primeiramente nascemos e<br />
depois, à medida que nos desenvolvemos,<br />
vamos assumindo papéis inerentes ao<br />
desenvolvimento: estudamos, obtemos uma<br />
profissão, casamos, tornamo-nos pais, avós<br />
etc. – tarefas próprias à nossa cronologia<br />
e decorrentes das nossas escolhas. Penso<br />
que assim também é a vida espiritual,<br />
pois o novo nascimento já traz em si todo<br />
o potencial para sermos sacerdotes, não<br />
necessitando para isso de um segundo<br />
chamado que somente alguns privilegiados<br />
recebem para fazer parte do clero. Não há,<br />
neste contexto, dois chamados (um para<br />
a salvação e outro para o serviço), pois o<br />
próprio chamado à conversão já implica<br />
benefício por um lado e tarefa por outro.<br />
Se pretendemos trabalhar para Deus,<br />
precisamos considerar se o que fazemos<br />
ou vamos fazer está em conformidade<br />
<strong>com</strong> a vocação para a qual fomos por Ele<br />
chamados. Este deve ser o principal fator<br />
a ser levado em consideração para nossa<br />
profissão e não o mercado de trabalho<br />
ou o desejo de terceiros. Precisamos ter<br />
em mente que num mundo <strong>com</strong> tanta<br />
diversidade, igualmente diversas devem<br />
ser as profissões. Por isso, não se pode<br />
conceber que no conceito divino algumas<br />
profissões possam ser mais importantes que<br />
outras, ao contrário da valorização que os<br />
homens atribuem, quer do ponto de vista<br />
econômico, religioso, político etc.<br />
Diante disso, é preciso saber <strong>com</strong>o servir<br />
a Deus diretamente através do trabalho,<br />
<strong>com</strong> a atitude correta que nos faça sentir<br />
essa realidade. Não é somente quando se<br />
consegue um espaço para fazer uma reunião<br />
de evangelismo ou orar junto <strong>com</strong> outros<br />
colegas que se contribui para o reino de<br />
Deus no ambiente de trabalho. Tampouco o<br />
dízimo do meu salário é o único resultado<br />
espiritual desse meu esforço.<br />
Nunca podemos esquecer que a maneira<br />
<strong>com</strong>o executamos nossas tarefas denuncia a<br />
atitude que temos em nosso coração.<br />
Devemos procurar entender a vontade<br />
de Deus e se Cristo está em nós e nós nele,<br />
pois tudo, absolutamente tudo, deverá ser<br />
em obediência ao Pai. Se o Pai nos deu o<br />
trabalho é porque dele temos necessidade;<br />
logo, se o fazemos em atitude correta, isso<br />
redundará em santidade e glória para o<br />
Senhor, não nos cabendo sentimentos de<br />
culpa por imaginarmos que tal trabalho<br />
possa nos privar de uma atividade religiosa.<br />
» pEdro arrUda<br />
Mais detalhes, ligue para o Pr. Ronaldo<br />
Moreira – (31) 8489-2698.