o poema fontellum de antónio de cabedo - Universidade de Coimbra
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344 AIRES PEREIRA DO COUTO<br />
Continuando a sua <strong>de</strong>scrição encomiástica, o poeta compara,<br />
nos versos 191-196, o Fontelo aos campos dos heróis e aos «terrenos<br />
afortunados dos Bem-Aventurados junto à Hespéria e ao pôr do sol,<br />
ro<strong>de</strong>ados pelo mar profundo <strong>de</strong> ondas ressonantes que os Manes,<br />
semi-<strong>de</strong>uses, habitam. Aqui, (diz o poeta), preferiria passar a vida,<br />
abandonando outros lugares, a filha <strong>de</strong> Eétes e igualmente aquela que<br />
<strong>de</strong>pois amou o infeliz Ulisses».<br />
Tales Hesperiàm iuxta Solemque ca<strong>de</strong>ntem<br />
heroum campos et fortunata piorum<br />
iugera, fluctisono circumuallata profundo,<br />
semi<strong>de</strong>i Manes habitant. Hic ducere uitam<br />
mallet, postpositis aliis, Aeetias, et quae<br />
post infelicem pariter dilexit Ulixem. (w. 191-196)<br />
Realce-se o carácter hiperbólico <strong>de</strong>stes versos, pois é notório o<br />
cuidado que o poeta teve na escolha das alusões míticas. Senão vejamos:<br />
os campos dos heróis são os Campos Elísios, lugar aprazível e<br />
dotado <strong>de</strong> clima i<strong>de</strong>al, situado no extremo oci<strong>de</strong>ntal da Terra, segundo<br />
Homero n . ou nas ilhas dos Bem-Aventurados, à beira do Oceano,<br />
segundo Hesíodo 12 . Reservado aos filhos dos <strong>de</strong>uses, este lugar <strong>de</strong><br />
felicida<strong>de</strong> veio a receber também certos heróis e outras personagens<br />
escolhidas pelos <strong>de</strong>uses.<br />
Em Virgílio, os Campos Elísios são apresentados como fazendo<br />
parte do mundo subterrâneo do Ha<strong>de</strong>s, como planície paradisíaca,<br />
on<strong>de</strong> as sombras dos mortos, virtuosos na vida, gozavam <strong>de</strong> uma felicida<strong>de</strong><br />
eterna 13 .<br />
A Hespéria era uma região lendária situada algures no extremo<br />
oci<strong>de</strong>nte, no rio Oceano, perto da ilha dos Bem-Aventurados, segundo<br />
uns, perto do Monte Atlas, na Mauritânia, segundo outros. Mais<br />
tar<strong>de</strong> serviu mesmo para <strong>de</strong>signar a Itália, país oci<strong>de</strong>ntal em relação<br />
à Grécia 14 , e a Hispânia, região oci<strong>de</strong>ntal em oposição à Itália is.<br />
Foi também utilizada para significar apenas o Oci<strong>de</strong>nte.<br />
Nó Fontellum, o poeta <strong>de</strong>ve estar a querer referir- se à região<br />
situada perto da ilha dos Bem-Aventurados on<strong>de</strong>, segundo a lenda, as<br />
Hespéri<strong>de</strong>s guardavam os pomos <strong>de</strong> ouro que a terra tinha oferecido<br />
a Hera e a Zeus como presente <strong>de</strong> casamento.<br />
li Cf. Odisseia, IV, 561-569.<br />
12 Cf. Trabalhos e dias, 170-171.<br />
« Cf. Eneida VI, 637 e sqq.<br />
M Cf. Virgílio, Eneida I, 530 e 569.<br />
15 Cf. Horácio, Carmina I, 36, 4; Camões, Lusíadas, II, 108.