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Com que roupa eu vou? A identidade do

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Terno de linho branco engoma<strong>do</strong><br />

E com pinta de <strong>que</strong>m nada <strong>que</strong>r<br />

Quan<strong>do</strong> tocou um samba sincopa<strong>do</strong><br />

Minha nega danou dizer no pé<br />

(Zeca Pagodinho, Talarico, ladrão de mulher, 1992)<br />

A imagem <strong>do</strong> malandro ao longo <strong>do</strong> tempo foi ganhan<strong>do</strong> outro significa<strong>do</strong>. <strong>Com</strong>o<br />

escrev<strong>eu</strong> Chico Buar<strong>que</strong>, em sua Ópera <strong>do</strong> Malandro, o malandro com contrato, com<br />

gravata e capital surge como um novo estilo de malandragem. Aos poucos, sua imagem<br />

vai deixan<strong>do</strong> de ser associada à violência ou à valentia, ganhan<strong>do</strong> uma conotação mais<br />

romântica. É como se, ao se profissionalizar pela música, o malandro se tornasse,<br />

simultaneamente, bem comporta<strong>do</strong> (BUARQUE, 1980, pg. 248). A imagem poética <strong>que</strong><br />

Noel Rosa defendia sagrou-se campeã.<br />

Em síntese, o conjunto das imagens <strong>do</strong> s<strong>eu</strong> vestuário <strong>do</strong> sambista-malandro, evidencia<br />

<strong>que</strong> certo estilo de <strong>roupa</strong> corresponde a um determina<strong>do</strong> comportamento. Dependen<strong>do</strong><br />

da combinação, a <strong>roupa</strong> denuncia um momento histórico ou sua inserção na geografia<br />

da cidade. A <strong>roupa</strong> não aparece como algo separa<strong>do</strong> <strong>do</strong> corpo ou de sua <strong>identidade</strong>.<br />

Conclusão<br />

Moreira da Silva se dizia o último <strong>do</strong>s malandros. Até a sua morte no ano 2000 ele<br />

ainda aparecia impecavelmente vesti<strong>do</strong> de terno de linho branco, sapato de duas cores e<br />

chapéu de panamá, sau<strong>do</strong>sista da Lapa <strong>do</strong>s anos 30. No entanto, essa imagem <strong>do</strong><br />

malandro-sambista com sua indumentária impecável está desaparecen<strong>do</strong>. A velha-<br />

guarda <strong>do</strong> samba tenta ainda manter a tradição, mas parece realmente uma moda<br />

ultrapassada, <strong>que</strong> identificava os sambistas <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século e atualmente se mostra<br />

anacrônica. De certa forma, a morte de Moreira da Silva é também a morte de um estilo<br />

de vida desenvolvi<strong>do</strong> por setores populares da sociedade brasileira, sobretu<strong>do</strong> no Rio de<br />

Janeiro da primeira metade <strong>do</strong> século XX, no qual se destaca uma grande preocupação<br />

estética com o s<strong>eu</strong> vestuário.<br />

O guarda-<strong>roupa</strong> <strong>do</strong> malandro é extremamente rico em simbolismos e significa<strong>do</strong>s<br />

sociais. Ele denuncia as mudanças de status pelas quais passou a sua <strong>identidade</strong>. No<br />

entanto, não há mais um grupo social <strong>que</strong> os represente mais. Se alguém andar vesti<strong>do</strong><br />

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