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Com que roupa eu vou? A identidade do

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Tira <strong>do</strong> pescoço o lenço branco,<br />

<strong>Com</strong>pra sapato e gravata,<br />

Joga fora esta navalha<br />

Que te atrapalha.<br />

<strong>Com</strong> o chapéu de la<strong>do</strong> deste rata,<br />

Da polícia <strong>que</strong>ro <strong>que</strong> te escapes<br />

Fazen<strong>do</strong> um samba-canção.<br />

Já te dei papel e lápis,<br />

Arranja um amor e um violão.<br />

Malandro é palavra derrotista<br />

Que só serve pra tirar<br />

To<strong>do</strong> o valor <strong>do</strong> sambista.<br />

Proponho ao povo civiliza<strong>do</strong><br />

Não te chamarem de malandro<br />

E sim de rapaz folga<strong>do</strong>.<br />

(Noel Rosa, Rapaz Folga<strong>do</strong>, 1933)<br />

Neste senti<strong>do</strong>, esses compositores sabiam da importância da aparência e <strong>que</strong> ela deve<br />

variar de acor<strong>do</strong> com o significa<strong>do</strong> <strong>que</strong> o grupo social <strong>que</strong>r passar. Wilson e Noel ainda<br />

gravaram outras seis músicas <strong>que</strong> foram r<strong>eu</strong>nidas em um único disco, tornan<strong>do</strong> pública a<br />

guerra de imagens na representação <strong>do</strong> malandro.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, dependen<strong>do</strong> da moda, às vezes se valorizam mais certas partes <strong>do</strong> corpo,<br />

fazen<strong>do</strong> da <strong>roupa</strong>, mais <strong>do</strong> <strong>que</strong> um objeto ou merca<strong>do</strong>ria, uma instituição com forte<br />

significação moral. No entanto, isto muda conforme a percepção corporal <strong>do</strong>s grupos<br />

sociais. Esta percepção corporal diferente leva alguns cronistas a também estabelecerem<br />

uma distinção com relação ao malandro (ROCHA, 2006). Isso pode ser constata<strong>do</strong><br />

também nas letras de samba:<br />

M<strong>eu</strong> samba calça chinela,<br />

Camiseta e bandeira.<br />

<strong>Com</strong> amor e cansaço<br />

Ele sobe uma ladeira.<br />

(Toquinho, Bobeou, não vai entender, 1973)<br />

Vestiu uma camisa listrada e saiu por aí<br />

Em vez de tomar chá com torrada ele beb<strong>eu</strong> parati<br />

Levava um canivete no cinto e um pandeiro na mão<br />

E sorria quan<strong>do</strong> o povo dizia: sossega leão, sossega leão<br />

(Assis Valente, Camisa Listrada, 1937)<br />

Esse sambista de chinela, camisa listrada e chapéu de palha é o típico malandro<br />

seresteiro <strong>do</strong> Morro e se diferente muito <strong>do</strong> malandro “alinha<strong>do</strong>” <strong>que</strong> freqüenta os cafés<br />

e 'bares' da Lapa. Não há um único tipo de malandro, ao contrário, parece haver mesmo<br />

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