fernando pessoa - Planeta de Agostini
fernando pessoa - Planeta de Agostini
fernando pessoa - Planeta de Agostini
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Correspondência 1916-1925<br />
Fernando Pessoa<br />
Estou num daqueles dias em que nunca tive<br />
futuro. Há só um presente imóvel<br />
com um muro <strong>de</strong> angústia em torno.<br />
A margem <strong>de</strong> lá do rio nunca, enquanto<br />
é a <strong>de</strong> lá, é a <strong>de</strong> cá; e é esta a razão<br />
íntima <strong>de</strong> todo o meu sofrimento.<br />
Há barcos para muitos portos, mas<br />
nenhum para a vida não doer, nem há <strong>de</strong>sembarque<br />
on<strong>de</strong> se esqueça. Tudo isto aconteceu há<br />
muito tempo, mas a minha mágoa é mais antiga.<br />
A Confissão <strong>de</strong> Lúcio<br />
Mário <strong>de</strong> Sá-Carneiro<br />
Correspondência 1926-1935<br />
Fernando Pessoa<br />
Cumpridos <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> prisão por um crime que<br />
não pratiquei e do qual,<br />
entanto, nunca me <strong>de</strong>fendi; morto para<br />
a vida e para os sonhos; nada po<strong>de</strong>ndo já esperar<br />
e coisa alguma <strong>de</strong>sejando<br />
– eu venho fazer enfim a minha confissão: isto é:<br />
<strong>de</strong>monstrar a minha inocência.<br />
O retrato, <strong>de</strong> que falo, e <strong>de</strong> que digo<br />
que é o espiritualmente verda<strong>de</strong>iro, não<br />
dá o Sá-Carneiro como usualmente era,<br />
mas um Sá-Carneiro torturado (o próprio olhar o<br />
diz), um Sá-Carneiro emagrecido<br />
e final, que tem mais verda<strong>de</strong> que<br />
os retratos mais vulgares que ele tinha tirado nas<br />
fotografias do gran<strong>de</strong> costume.