288 Ana Inês Simões Card<strong>os</strong>o de Melo perscrutar e analisar <strong>os</strong> diferentes process<strong>os</strong> de <strong>trabalho</strong> n<strong>os</strong> quais estão inserid<strong>os</strong>, hoje, <strong>os</strong> assistentes sociais. E, ao capturar as diferentes requisições feitas ao assistente social por seus emprega<strong>do</strong>res, o fazem a luz d<strong>os</strong> process<strong>os</strong> contemporâne<strong>os</strong> de reestruturação capitalista, em sua inserção em distintas organizações <strong>públicas</strong> e privadas. Consideran<strong>do</strong> as diversas <strong>políticas</strong> <strong>públicas</strong>, <strong>os</strong> autores desnudam alguns d<strong>os</strong> element<strong>os</strong> centrais que, estrategicamente, organizam e dão forma às novas racionalidades que permeiam <strong>os</strong> espaç<strong>os</strong> sócio-ocupacionais d<strong>os</strong> assistentes sociais em sua inserção n<strong>os</strong> process<strong>os</strong> coletiv<strong>os</strong> de <strong>trabalho</strong>, inclusive com exempl<strong>os</strong> de distintas <strong>políticas</strong> setoriais. Para finalizar, um destaque que faço da leitura <strong>do</strong> livro de Ney e Mônica, e que considero importante acrescentar aqui, é a recuperação que fazem da categoria mo<strong>do</strong> de vida, quan<strong>do</strong> tratam da implementação <strong>do</strong> conjunto de <strong>políticas</strong> <strong>públicas</strong> no seio das cidades, justamente na mediação das relações entre <strong>Serviço</strong> <strong>Social</strong> e <strong>trabalho</strong>. Isto é, <strong>os</strong> autores recuperam o mo<strong>do</strong> de vida, para destacar a conformação da face contemporânea <strong>do</strong> capitalismo: a submissão da vida social à vida econômica, para apreender o processo de reprodução das relações sociais frente à “ocultação da esfera política da vida social” (p.55). De fato, longe de ser novidade, o individualismo e a apreensão d<strong>os</strong> problemas sociais como se f<strong>os</strong>sem da esfera íntima e privada d<strong>os</strong> sujeit<strong>os</strong> é re-afirma<strong>do</strong>, exponencialmente, no <strong>presente</strong>, quer n<strong>os</strong> process<strong>os</strong> de <strong>trabalho</strong>, quer no âmbito da vida social como um to<strong>do</strong>. A racionalidade que a gestão hegemônica hoje promove quer afastar a “organização das atividades cotidianas” de seu “pertencimento histórico às esferas sociais, a<strong>os</strong> mod<strong>os</strong> de sociabilidade e de vida das classes e suas frações”. Potencializa-se, assim, “um tipo de subjetividade na qual <strong>os</strong> pertenciment<strong>os</strong> sociais são encobert<strong>os</strong> pela fragmentação e exacerbação <strong>do</strong> individualismo” (p. 76). Dessa forma, enten<strong>do</strong> que se, de um la<strong>do</strong>, a recuperação <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> de vida contribui para evidenciar a necessária apreensão da questão social em sua complexidade; de outro, são destacad<strong>os</strong> <strong>os</strong> process<strong>os</strong> sociais que se relacionam à elevação da racionalidade capitalista a um novo patamar, em term<strong>os</strong> gramscian<strong>os</strong>, e que incide sobre o conjunto da vida social. Todavia, dessa leitura, fica a certeza de que Ney e Monica reconhecem, também, as potencialidades, p<strong>os</strong>tas nas tramas e fi<strong>os</strong> que articulam as <strong>políticas</strong> <strong>públicas</strong> e a vida cotidiana na cidade, como porta<strong>do</strong>ras de outras sociabilidades que também informam, hoje, o <strong>trabalho</strong> <strong>do</strong> assistente social frente a<strong>os</strong> desafi<strong>os</strong> da questão social. Isto é, ao tratarem das relações entre “<strong>Serviço</strong> <strong>Social</strong>, <strong>trabalho</strong> e <strong>políticas</strong> <strong>públicas</strong>”, expõem e O <strong>Social</strong> em Questão - Ano XV - nº 28 - 2012 pg 283 - 290
<strong>Serviço</strong> <strong>Social</strong>, <strong>trabalho</strong> e <strong>políticas</strong> <strong>públicas</strong> 289 descortinam as múltiplas dimensões econômicas, <strong>políticas</strong> e socioculturais que circunscrevem este tema, mas, sobretu<strong>do</strong>, o fazem a partir <strong>do</strong> reconhecimento de sujeit<strong>os</strong> sociais que lhes dão vida. Nota 1. Assistente social, <strong>do</strong>utora pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswal<strong>do</strong> Cruz e professora adjunta <strong>do</strong> Departamento de Política <strong>Social</strong> da Faculdade de <strong>Serviço</strong> <strong>Social</strong> da Universidade <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro. Email: iness@infolink.com.br pg 283- 290 O <strong>Social</strong> em Questão - Ano XV - nº 28 - 2012