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40 – Marcel Souto Maior<br />
mediunidade como harpa melodiosa; porém, no dia em que receberes os favores<br />
do mundo como se estivesses vendendo os seus acordes, ela se enferrujará para<br />
sempre”.<br />
Chico ficou atento às lições e passou a exercitar tanto o bom humor<br />
como a humildade ao longo dos anos. No dia 5 de dezembro de 1934, Humberto<br />
de Campos morreu. Três meses depois, Chico teve um sonho. As cenas eram<br />
nítidas demais. Ele deparou com um grupo de desconhecidos, embaixo de uma<br />
árvore enorme e transparente como cristal, sob um céu muito azul e brilhante.<br />
Não havia casas em volta. Um dos estranhos se destacou da multidão, caminhou<br />
em sua direção, estendeu a mão e disse: “Você é o menino do Parnaso? Eu sou<br />
Humberto de Campos” .<br />
As lembranças terminaram aí, mas deixaram o rapaz cismado. Qual o<br />
sentido daquele sonho? Três meses depois, ele saberia. Textos assinados por<br />
Humberto de Campos cairiam do céu um após o outro. Em março de 1935, a<br />
mão de Chico colocou no papel as primeiras linhas assinadas pelo ex-imortal.<br />
Sob o título “A Palavra dos Mortos”, o escritor se apresentava como<br />
uma testemunha do “trabalho intenso das coletividades invisíveis pelo<br />
progresso humano”. Nem parecia aquele acadêmico capaz de desafiar os poetas<br />
mortos a competir com os vivos de igual para igual, “reencarnados”. Do outro<br />
lado, ele tratava de defender as mensagens dos Espíritos como “um consolo aos<br />
tristes e uma esperança aos desafortunados”.<br />
Os materialistas que se cuidassem. O texto saía a jato da mão de Chico<br />
Xavier. A fé viria mais cedo ou mais tarde, pelo bem ou pelo mal: “Os homens<br />
aprenderão à custa das suas dores, com todo o fardo de suas misérias e de suas<br />
fraquezas, e as palavras do infinito cairão sobre eles como a chuva de favores<br />
do Alto” . O artigo virou introdução do livro PALAVRAS DO INFINITO, de Chico<br />
Xavier, uma coletânea de ensaios assinados por Humberto de Campos e por<br />
outros mortos ilustres.<br />
Cinco dias depois, Chico Xavier cobriria uma página em branco com<br />
novas frases assinadas pelo jornalista invisível. Era uma carta de despedida<br />
endereçada ao rapaz: “Tive pena quando soube que iam conduzi-lo a um teste.<br />
A curiosidade jornalística é agora levantada em torno de sua pessoa. Agora que<br />
os bisbilhoteiros o procuram, trago-lhe o meu adeus, sem prometer voltar<br />
breve” .<br />
O repórter morto saiu de cena e abriu alas para um jornalista vivo.<br />
Em maio, Clementino de Alencar, um correspondente do jornal O Globo,<br />
desembarcou em Pedro Leopoldo. O carioca estava disposto a desmascarar a<br />
“fraude mineira” e teve a primeira oportunidade em sess~o espírita no Centro<br />
Luiz Gonzaga.<br />
Naquela noite, ele se sentou ao lado de Chico na mesa tosca de madeira