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46 – Marcel Souto Maior<br />
livrarias a segunda edição de O PARNASO DE ALÉM-TÚMULO, em 1935. O volume,<br />
quase três vezes maior do que o da primeira edição, era festejado no prefácio<br />
pelo vice-presidente da Federação <strong>Espírita</strong> Brasileira, Manuel Quintão.<br />
Responsável pela primeira versão do livro, o filólogo espírita festejava as novas<br />
aquisições (Olavo Bilac, por exemplo) e transformava em estandarte o texto<br />
escrito por Humberto de Campos (Espírito).<br />
No artigo, intitulado “De Pé, os Mortos” , o escritor reafirmava a<br />
autenticidade dos poemas ditados pelos espíritos ao matuto de Pedro Leopoldo.<br />
Quintão estava entusiasmado:<br />
— O crítico João Ribeiro disse que o médium não traiu nenhum dos<br />
poetas.<br />
Ora, esta concisa sentença de João Ribeiro vale por todos os<br />
estultilóquios e paparrotadas que andas, que a crítica de papo-amarelo<br />
improvisou a propósito de quanto se afaste do seu clássico palmo de nariz. O<br />
texto era um panfleto.<br />
A nova edição saiu com um único, e discreto, reparo. O perfil de Guerra<br />
Junqueiro, escrito pelo indignado Quintão em 1932, em introdução aos versos<br />
atribuídos ao poeta, mudou de tom, O “bardo” português, definido como<br />
“not|vel por sua hostilidade { Igreja de Roma” na vers~o original, passou a ser<br />
admirável por sua “veia combativa e satírica”. Era início da censura na<br />
literatura espírita. Era também uma alteração adequada a quem, como Chico,<br />
passaria a vida repetindo:<br />
— Não vim para brigar com ninguém. Não vim para dividir.<br />
Mas dividia, O romancista mineiro João Domas Filho, por exemplo, se<br />
irritaria com os poemas assinados por Olavo Bilac na nova edição do Parnaso:<br />
“Ele, que nunca escreveu um verso imperfeito, nem em sua pior fase, depois de<br />
morto ditou ao médium sonetos inteiros abaixo do medíocre”.<br />
O ferino Osório Borba, autor de A COMÉDIA LITERÁRIA, decidiu assistir a<br />
uma sessão no Centro Luiz Gonzaga. Sem se identificar, viu Chico espalhar<br />
versos pelas páginas em branco em velocidade surpreendente, mas não se<br />
convenceu. Após o “espet|culo”, ele conversou com o autor do Parnaso e foi<br />
honesto: duvidava da possibilidade de os Espíritos se manifestarem com sua<br />
ajuda, mas acreditava na sua honestidade. Chico seria apenas uma vítima<br />
inconsciente de fenômenos ainda pouco estudados.<br />
Os poemas e poetas recém-chegados à nova edição do Parnaso geraram<br />
boatos mirabolantes. Os católicos mais empedernidos chegaram a acusar a<br />
Federação <strong>Espírita</strong> Brasileira de manter uma comissão de escritores<br />
encarregada de inventar todos aqueles versos em sigilo absoluto. A causa era<br />
nobre: convencer os incrédulos da existência de Espíritos. Chico Xavier<br />
desempenharia o papel do ignorante sem tempo nem cultura para escrever os