Xenofobia e Participação Política nas Mídias Digitais - Confibercom
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nordestinos, põem em jogo inúmeras representações identitárias mobilizando uma<br />
constelação de significados simbólicos.<br />
Tomaz Tadeu da Silva (2009), em um texto seminal, apoiado em autores chaves<br />
da linguística estrutural e recorrendo também aos teóricos pós-estruturalistas, explica<br />
que as identidades são criadas por atos de linguagem, por nomeações, como faz a<br />
internauta ao se localizar como pertencente ao sul/sudeste do país. Entretanto a<br />
linguagem verbal, já disse o linguista Ferdinand de Saussure, no começo do século XX,<br />
é um sistema de diferenças, os signos sul/sudeste só podem ser compreendidos em<br />
conexão com os que não são sul/sudeste, isto é, os signos norte/nordeste. Isso significa<br />
que todo signo verbal só é entendido na relação e conexão com outro signo verbal<br />
gerando uma cadeia de produção de signos e de significações sempre incompletas, já<br />
que o significado de um signo é sempre outro signo ad infinitum. Esta condição da<br />
linguagem imprime ao conceito de identidade o traço da diferença, daquilo que o signo<br />
não é, por isso, “nenhum signo pode ser reduzido a si mesmo, à identidade” (SILVA,<br />
2009, p.79). Dada a incompletude do signo, a identidade será sempre uma sutura, um<br />
constructo, entretanto vazado, fragmentado, que contém o que não é.<br />
De outro modo, a linguagem verbal não é ape<strong>nas</strong> um sistema linguístico, é<br />
heteróclita, necessita das relações sociais para existir, “o signo e a situação social em<br />
que se insere estão indissoluvelmente ligados. O signo não pode ser separado da<br />
situação social sem ver alterada sua natureza semiótica” (BAKHTIN, 1988, p.62). A<br />
produção da identidade e da diferença, resultado dos liames entre linguagem e<br />
sociedade, contempla igualmente relações de poder, vetores de força impressos nos<br />
sistemas sociais e culturais/simbólicos, gerando estruturas classificatórias que, por seu<br />
turno, engendram a ordenação da vida de relação em grupos, classes, e promovem as<br />
distinções entre o fora e o dentro, entre “nós” e “eles”. Classificar, dividir significa<br />
hierarquizar, de onde a atribuição de valores ao que foi classificado, dividido, posto<br />
acima ou abaixo no eixo das importâncias recrudescendo as marcas de poder na<br />
produção das identidades e da diferença (Silva, 2009).<br />
Além de representadas, as identidades são disputadas e seus significados<br />
negociados na urdidura social. Os atos discursivos em análise neste trabalho, revelam,<br />
além da valorização negativa atribuída às representações identitárias<br />
norte/nordeste/nordestino, a tentativa de fixar uma identidade cultural local como sendo<br />
a norma, a do sul/sudeste, versus a identidade norte/nordeste, avaliada como a diferença<br />
a ser destruída, afinal o nordestino se transforma em nordestisto, um quisto a ser