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V. êxITO E TRaGÉDIa<br />
A proclamação apanhou toda a gente de surpresa. À partida, ninguém estava preparado para suceder<br />
a um cabo tão carismático <strong>com</strong>o José Maria Guerreiro. Quando a impossibilidade de continuação dos<br />
mais velhos <strong>com</strong>prometeu o futuro do GFAM, tinha sido ele a tomar as rédeas da situação, <strong>com</strong> o apoio<br />
indefetível dos seus <strong>com</strong>panheiros. Em cinco temporadas, Guerreiro conduzira os Amadores de Moura<br />
a um patamar de prestígio e respeitabilidade invulgares num grupo do interior do país.<br />
Mas um grupo de forcados não pode subsistir sem cabo. Para a eleição do novo timoneiro, foi<br />
agendada uma reunião em casa do Dr. Domingos Garcia. Uma vez mais, a designação foi pacífica.<br />
Por unanimidade, a escolha recaiu no elemento mais antigo do grupo, homem experiente e forcado<br />
<strong>com</strong> provas dadas: José António Jarengo. A princípio, não queria aceitar. Achava que não tinha<br />
perfil para cabo, que o seu espírito libertino não se coadunava <strong>com</strong> funções de <strong>com</strong>ando. Naquele<br />
contexto, porém, era o mais adequado para suceder a Guerreiro. Embora contrafeito, Jarengo não<br />
virou a cara à responsabilidade e aceitou o lugar.<br />
Contra ventos e marés, a corrida dos seis toiros para o grupo de Moura foi anunciada. Só que a chuva<br />
resolveu estragar as festas e o espetáculo acabou por não se realizar. Hoje, decorridas mais de três décadas,<br />
José Maria Guerreiro reconhece que a sua decisão pecou por alguma imaturidade. Afinal, o grupo estava<br />
<strong>com</strong> ele e os empresários não renegaram o <strong>com</strong>promisso assumido. Mas a decisão estava tomada e Guerreiro<br />
não voltou <strong>com</strong> a palavra atrás. Coisas que se fazem quando se tem 24 anos…<br />
A mudança de cabo e a despedida de José Maria teve lugar a 11 de Novembro, Dia de S. Martinho,<br />
em Portimão. Outra vez toiros de D. Maria Ana Passanha, grandes, difíceis e <strong>com</strong> o sentido<br />
que lhes davam os cinco anos de idade. Abriu praça, <strong>com</strong> pouca fortuna, o cabo que se despedia.<br />
Três vezes vai à cara do toiro, outras tantas é desfeiteado. À última, vai parar ao hospital. Emenda-o<br />
Jarengo, <strong>com</strong> uma pega poderosa. Frente ao segundo, Armando Vidigueira não teve melhor sorte,<br />
pois só à quinta tentativa conseguiu submeter o antagonista.<br />
Os malfadados passanhas são esquecidos na cervejaria Lúcio. Ali, numa noite de Novembro de<br />
1979, encerrava-se um ciclo da vida do GFAM. O romantismo que tinha presidido à fundação do<br />
grupo, expressão do ambiente social que o rodeava, esfumavam-se <strong>com</strong> o dobrar da década de 70. A<br />
sociedade portuguesa, de que o ambiente taurino é uma miniatura, namorava agora novos valores,<br />
mais pragmáticos, mais utilitários, mais individualistas. Melhores? Piores? Para evitar juízos de valor,<br />
sempre subjetivos, assentemos apenas em que eram diferentes.<br />
72 Grupo dos Forcados Amadores de Moura<br />
Grupo dos Forcados Amadores de Moura 73