O lado oculto da opulência: comunidades rurais no século XVIII ...
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Mônica Ribeiro de Oliveira<br />
No conjunto <strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mia rural, cumprir as exigências senhoriais e mais os pesados tributos<br />
forçava as eco<strong>no</strong>mias domésticas a buscar respostas a essa opressão. Essas questões são<br />
verificáveis quando <strong>no</strong>s debruçamos sobre a história familiar dessas uni<strong>da</strong>des camponesas,<br />
de como respondiam, se a<strong>da</strong>ptavam ou mesmo resistiam às essas pressões.<br />
Estudiosos sobre a história de família em Portugal enfrentam grandes desafios. A diversi<strong>da</strong>de<br />
de combinações e heranças jurídicas <strong>no</strong>s diversos rei<strong>no</strong>s e a busca de conceitos<br />
rígidos que dêem conta dessas irregulari<strong>da</strong>des levou a uma tendência na historiografia de<br />
uniformização dos comportamentos familiares. Uma vez identificados sob a luz de <strong>no</strong>vas<br />
fontes e metodologias, chegou-se à conclusão de que a convivência de diferentes modelos<br />
familiares <strong>no</strong> espaço ibérico seria uma postura mais adequa<strong>da</strong> ao entendimento dessas diversi<strong>da</strong>des.<br />
3 Quando a referência dá-se em relação às elites <strong>no</strong>biliárquicas, encontram-se<br />
maiores facili<strong>da</strong>des de reconhecimento de tendências e comportamentos, uma vez que as<br />
fontes encontra<strong>da</strong>s possibilitam o acesso a todo um universo de práticas e estratégias sócioeconômicas<br />
e culturais <strong>da</strong>s elites aristocráticas. 4 A constituição do morgadio, a perpetuação<br />
do <strong>no</strong>me de família, a importância <strong>da</strong>s carreiras eclesiásticas para os segundos filhos, representavam<br />
práticas mais hegemônicas de reprodução social. 5<br />
Nu<strong>no</strong> Monteiro ressalta que em Portugal os trabalhos optam por marcos geográficos<br />
diante <strong>da</strong> ausência de uni<strong>da</strong>des analíticas que possam <strong>da</strong>r identi<strong>da</strong>de à monarquia portuguesa<br />
como um todo. Encontra-se tanto uma estrutura nuclear na parte mediterrânica <strong>da</strong><br />
Península, bem como famílias complexas e de tipo troncal <strong>no</strong> <strong>no</strong>roeste.<br />
A aproximação entre historiadores e demógrafos historiadores muito benéfica ocorri<strong>da</strong><br />
em Portugal vem produzindo importantes trabalhos capazes de <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de<br />
de comportamentos a atitudes familiares. 6 Criou-se um conjunto de procedimentos simples<br />
que permitem a reconstituição de famílias em horizontes espaciais e temporais alargados.<br />
Essa metodologia, mais centra<strong>da</strong> <strong>no</strong> indivíduo, facilita o cruzamento com outras fontes <strong>no</strong>minativas,<br />
como listas de habitantes, testamentos, listas fiscais, etc. permitindo <strong>no</strong>vos e enriquecedores<br />
enfoques sobre a História <strong>da</strong> Família o que permitiu <strong>no</strong>vos esclarecimentos<br />
sobre os diferentes sistemas demográficos ibéricos.<br />
Em se tratando, especialmente, de socie<strong>da</strong>des do Brasil setecentista a experiência metodológica<br />
de utilização dos registros paroquiais para reconstituição do desti<strong>no</strong> de comuni<strong>da</strong>des<br />
agrícolas é fonte fun<strong>da</strong>mental. A função que a locali<strong>da</strong>de de origem assume para<br />
pessoas e grupos durante o Antigo Regime português <strong>no</strong>s possibilita aquilatar o sentimento<br />
de pertencimento que ca<strong>da</strong> pessoa carrega <strong>no</strong>s trópicos, especialmente, para aqueles mais<br />
afastados <strong>da</strong> convivência <strong>da</strong> Corte e mais “insignificantes” <strong>no</strong> cenário do Império Ultramari<strong>no</strong>.<br />
Nas socie<strong>da</strong>des tradicionais o lugar que se habitava constituía o nível de referência em<br />
que a individuali<strong>da</strong>de podia ser reconheci<strong>da</strong> e assumi<strong>da</strong>. Situa<strong>da</strong> entre dois importantes<br />
níveis de referência – a família e a freguesia – era <strong>no</strong> lugar que se reuniam as melhores condições<br />
para conhecimento do outro. Portanto, a reconstituição <strong>da</strong> história de uma comuni<strong>da</strong>de<br />
a partir do lugar, <strong>da</strong> família e <strong>da</strong> paróquia é essencial para percepção dos comportamentos. 7<br />
Para o <strong>século</strong> XVI português Norberta Amorim assinala a presença de famílias não muito<br />
numerosas apesar do período de alta natali<strong>da</strong>de. Porém, o crescimento demográfico favorecido<br />
pelo desenvolvimento econômico reflexo <strong>da</strong> expansão ultramarina não deixou de ser