As Gravadoras Independentes e o Futuro da Indústria Fonográfica ...
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Segundo o jornalista Arthur Dapieve, colunista e crítico musical do jornal O Globo<br />
e autor do livro “BRock: O rock brasileiro dos anos 80”, a razão desse sucesso estaria no<br />
enfoque refinado <strong>da</strong> seleção de repertório, na menor sujeição à pirataria e “na liber<strong>da</strong>de<br />
dos caminhos viciados <strong>da</strong> indústria fonográfica”:<br />
Existem três explicações que, soma<strong>da</strong>s a outras, me vêm à cabeça.<br />
Uma é o foco muito mais bem escolhido do repertório. O pessoal que faz<br />
A&R (artista e repertório) nesses lugares tem bom gosto musical, não<br />
são só marketeiros e, então, sabem do que estão tratando. É o caso do<br />
João Augusto (Deckdisc), <strong>da</strong> Olívia Hime (Biscoito Fino), que são<br />
pessoas que têm mais sensibili<strong>da</strong>de para isso e tornam os elencos mais<br />
coesos e, até mesmo, mais autorais. Você olha o disco <strong>da</strong> Biscoito Fino<br />
e no ato de pegar você já sabe que é Biscoito Fino. Há uma identi<strong>da</strong>de<br />
visual e artística muito grande. Você não tem muito isso nas grandes,<br />
porque elas atuam em to<strong>da</strong>s as direções. E essa identi<strong>da</strong>de é tão forte,<br />
que mesmo a Deckdisc e a Indie também atuam em várias direções e<br />
você não percebe, porque os elencos são menores e, por falta de melhor<br />
palavra, são tratados com mais carinho, individualmente trabalhados. A<br />
partir dos anos 90, ficando mais grave agora, a indústria passou para as<br />
mãos de gente que vê isso como négócio, que pensam na indústria<br />
fonográfica e não na indústria <strong>da</strong> música, que é a que está saudável.<br />
Nesse horizonte, as coisas se perdem muito, e as gravadoras menores<br />
se insinuam por aí. A segun<strong>da</strong> coisa que me parece clara é que o<br />
repertório dessas gravadoras está menos sujeito à pirataria e até mesmo<br />
à troca de arquivos pela internet. O público do Francis Hime não faria<br />
isso, seja por ter grana para comprar o disco oficial, seja pelas questões<br />
éticas. O pessoal <strong>da</strong> Britney Spears, Exaltasamba não tem esse tipo de<br />
preocupação. A terceira consideração diz respeito a um monstro que a<br />
indústria fonográfica criou e não consegue acabar, o jabá, que tem um<br />
custo. Não significa que as menores não façam isso, mas as grandes<br />
pagavam jabás grandes e isso é um vazadouro de dinheiro. Acho<br />
curioso que isso tira receita dos artistas, mas todo o aparato de<br />
promoção em torno deles, também, e durante muito tempo as<br />
gravadoras não se preocuparam com isso, porque elas também faziam<br />
caixa dois de lançamentos. Se diziam que vendiam 100 mil exemplares<br />
do É o Tchan, você pode imaginar razoavelmente que vendiam 200 mil<br />
exemplares e o resto ia para uma contabili<strong>da</strong>de paralela 77 .<br />
O que diz Dapieve acerca do menor índice de pirataria e <strong>da</strong> preocupação artística<br />
de gravadoras como Biscoito Fino, Kuarup, Trama, Deck e Indie – lista<strong>da</strong>s nessa ordem<br />
de quali<strong>da</strong>de pelo jornalista 78 – é confirmado pela produtora executiva e gerente de<br />
77 DAPIEVE, 17 nov. 2005.<br />
78 Na entrevista para essa pesquisa, o jornalista enumera as gravadoras que mais se destacam em duas<br />
categorias: <strong>As</strong> que vendem mais e as que, a seu ver, têm mais quali<strong>da</strong>de. No primeiro grupo estariam as<br />
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