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GNR, Delfins, Ala, Bandemónio

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Vídeo Maria<br />

Letra e música: ?<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

Fernando Mendes, Carla Fernandes<br />

Tarde de chuva, a península inteira a chorar<br />

Entro numa igreja fria com um círio cintilante<br />

Sentada, imóvel, fumando em frente ao altar<br />

Silhueta, esboço, a esfinge de um anjo fumegante<br />

Há em mim um profano desejo a crescer<br />

Sinto a língua morta e o latim vai mudar<br />

Os santos do altar devem tentar compreender<br />

O que ela faz aqui fumando<br />

Estará a meditar?<br />

Ai, ui, atirem-me água benta<br />

Ajoelho-me, benzo-me, arrependo-me, esconjuro-a<br />

Atirem-me água fria<br />

Por ela assalto a caixa de esmolas<br />

Atirem-me água benta<br />

Com ela eu desço ao inferno de Dante<br />

Atirem-me água fria<br />

Ai, ui, atirem-me água benta<br />

Por parecer latina suponho que o nome dela<br />

É Maria<br />

É casta, eu sei, se é virgem ou não depende<br />

Da nossa fantasia<br />

Por parecer latina calculo que o nome dela<br />

É Maria<br />

É casta, eu sei, se é virgem ou não depende<br />

Da nossa fantasia<br />

44<br />

<strong>GNR</strong>, <strong>Delfins</strong>, <strong>Ala</strong>, <strong>Bandemónio</strong><br />

Arquivo de letras de música<br />

28 de Janeiro de 2002<br />

1


Conteúdo<br />

1991 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3<br />

A história do Zé Passarinho . . . . . . . . . . . . . 4<br />

A Menina e os valetes . . . . . . . . . . . . . . . . 6<br />

Ao passar um navio . . . . . . . . . . . . . . . . . 7<br />

Ao soldado desconhecido . . . . . . . . . . . . . . 8<br />

Aquele Inverno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9<br />

Bellevue . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11<br />

Cais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12<br />

Cerimónias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13<br />

Choque frontal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14<br />

Dá fundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15<br />

Dama ou tigre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16<br />

Dunas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17<br />

Efectivamente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18<br />

Falha humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19<br />

Há dias em que mais vale... . . . . . . . . . . . . . 20<br />

Impressões digitais . . . . . . . . . . . . . . . . . 22<br />

Jardim d’Alá-Walkin’ . . . . . . . . . . . . . . . . 23<br />

Loucos de Lisboa . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24<br />

Marcha dos desalinhados . . . . . . . . . . . . . . 25<br />

Morte ao sol . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26<br />

Motor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27<br />

Nova gente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28<br />

O cantor de serviço . . . . . . . . . . . . . . . . . 29<br />

O paciente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30<br />

O troca pingas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31<br />

Pós modernos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33<br />

Pronúnicia do Norte . . . . . . . . . . . . . . . . . 34<br />

Se eu fosse um dia o teu olhar . . . . . . . . . . . 35<br />

Sou como um rio . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37<br />

To miss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38<br />

Tudo o que eu te dou . . . . . . . . . . . . . . . . 39<br />

(Um chamado) Desejo eléctrico . . . . . . . . . . . 40<br />

Valsa dos detectives . . . . . . . . . . . . . . . . . 41<br />

Viagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42<br />

Vídeo Maria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44<br />

2<br />

pedras e praias e o ceu a bailar<br />

C<br />

os corpos que fogem do chao<br />

Eb Ab Eb<br />

E voas sobre o mar com as asas que eu te dou<br />

Ab Eb<br />

e dizes-me a cantar: ’e’ assim que eu sou’<br />

Ab<br />

e olhar para ti e ver o que eu vejo<br />

Eb<br />

e olhar-te nos olhos com olhares de desejo<br />

Ab<br />

e olhar para ti e ver o que eu vejo<br />

Fm<br />

e olhar-te nos olhos com olhares de desejo<br />

Bb<br />

eu nao tenho nada mais para te dar<br />

C# Ab<br />

esta vida sao dois dias e um e’ para acordar<br />

Fm<br />

das historias de encantar<br />

C#<br />

das historias de encantar<br />

[solo saxofone]<br />

[termina com:]<br />

C<br />

43


Viagens<br />

Letra e música: Pedro Abrunhosa<br />

Intérprete: <strong>Bandemónio</strong><br />

Bruno Charola<br />

C F Bb C (2x)<br />

C F Bb C (2x com saxofone)<br />

C F<br />

Já vai alta a noite, vejo o negro do ceu<br />

Bb C<br />

Deitado na areia o teu corpo e o meu<br />

F<br />

viajo com as maos por entre as montanhas e os rios<br />

Bb C<br />

e sinto nos meus lábios os teus doces e frios<br />

Eb Ab Eb<br />

E voas sobre o mar, com as asas que eu te dou<br />

Ab Eb<br />

E dizes-me a cantar: ’e’ assim que eu sou’<br />

Ab<br />

E olhar para ti, e ver o que eu vejo<br />

Eb<br />

olhar-te nos olhos com olhares de desejo<br />

Ab<br />

E olhar para ti e ver o que eu vejo<br />

Fm<br />

olhar-te nos olhos com olhares de desejo<br />

Bb<br />

Eu nao tenho nada mais para te dar<br />

C#<br />

esta vida sao dois dias<br />

Ab<br />

e um e’ para acordar<br />

Fm<br />

das historias de encantar<br />

C#<br />

das historias de encantar<br />

(solo saxofone)<br />

C F Bb C (2x com saxofone)<br />

C<br />

Viagens que se perdem no tempo<br />

F<br />

viagens sem principio nem fim<br />

Bb<br />

beijos entregues ao vento<br />

C<br />

e amor em mares de cetim<br />

gestos que riscam o ar<br />

F<br />

e olhares que trazem solidao<br />

Bb<br />

42<br />

1991<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Valsa dos Detectives’,<strong>GNR</strong><br />

Carlos Ilharco<br />

Modos perto óleo que arde peças móveis<br />

Tempos modos certo olho e choro cal viva queima<br />

Os tempos e altera os modos arde aqui tão perto torna-nos peças móveis<br />

Tiros invejas ciúmes cabeças que rolam que roubaram ossos nossos<br />

Virada a ampulheta a areia ficou tão vidrada<br />

Que tempos quem altera os modos arde aqui tão perto torna-nos peças m<br />

Invertendo o passado vivendo o futuro pensou-se o presente apostar segu<br />

Seguindo o presente passado obscuro vazio de areia talvez um furo<br />

Vazou caiu virou?<br />

Tempos modos e costumes<br />

Hábitos sedentos alucinam em 91<br />

Virada a ampulheta a areia tombou brilhou vidrou (nudou?)<br />

3


A história do Zé Passarinho<br />

Música: João Gil<br />

Letra: João Monge<br />

Intérprete: <strong>Ala</strong> dos Namorados<br />

In: <strong>Ala</strong> dos Namorados ’Por Minha Dama’, 1995<br />

Victor Almeida<br />

Pala saída que tem<br />

Da vadiagem alguém<br />

Chamou-lhe o Zé Passarinho<br />

Fala em verso e as mulheres<br />

Ao fim de duas colheres<br />

Leva-as no bico p’ró ninho<br />

Sabe os fados do Alfredo<br />

Rima que até mete medo<br />

Nesta função é doutor<br />

Tem os tiques de fadista<br />

Mão no bolso, lenço e risca<br />

’Baixem a luz por favor!’<br />

Uma triste noite ao frio<br />

Cantava-se ao desafio<br />

Para aquecer as paixões<br />

Quando um estranho se levanta<br />

Para mostrar como se canta<br />

Faz-se à Rosa dos Limões<br />

O povo ficou sentido<br />

Com aquele destemido<br />

... morrer engasgado!<br />

Palavra puxa palavra<br />

Desata tudo à estalada<br />

Com o posto ali ao lado<br />

Nem foi preciso a carrinha<br />

Tudo na sua perninha<br />

Numa linda procissão<br />

Das perguntas com carinho<br />

Ficou preso o Passarinho<br />

Só para investigação<br />

Nasce o dia atrás da Sé<br />

E ninguém arreda pé<br />

Nem por dó, nem por esmola<br />

O povo ficou sentado<br />

Para ouvir cantar o fado<br />

Passarinho na gaiola<br />

4<br />

Valsa dos detectives<br />

Música: Tóli César Machado<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Valsa dos Detectives’,<strong>GNR</strong><br />

Carlos Ilharco<br />

Tem medo do escuro tal criança sem futuro<br />

è falso velhaco cobarde armado em duro<br />

Vai pelo mundo guiado pela mão<br />

Até depois de morto dá 1 volta no caixão<br />

Treme e vacila nem na cama está seguro<br />

Teme que alguém o chame geme sofre de medo puro<br />

Evita o olhar dos mortais que o rodeiam<br />

Esconde-se em mentiras que mesquinhas serpenteiam<br />

É só paranóia mania da perseguição<br />

Desconfia de todos resulta da sua traição<br />

41


(Um chamado) Desejo eléctrico<br />

Música: Zezé Garcia<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Valsa dos Detectives’,<strong>GNR</strong><br />

Carlos Ilharco<br />

Ter uma irmã uma companhia real ou fantasia<br />

Alguém como eu e tão diferente como quem rasga um véu<br />

Ser como ela e por dentro quente<br />

Ser dois corpos alguém ausente<br />

Ter que ser velho e como um bebé sonhar dormir de pé<br />

Pago um preço ofereço um berço onde já estive doente<br />

Pago um preço ofereço um brinquedo que embalei dolente<br />

Ser como ela e por dentro quente<br />

Ser dois corpos presente<br />

Pago um preço dou um sorriso<br />

Pago um preço o meu primeiro dente<br />

Qual é o teu preço brinca comigo (fica comigo)<br />

Qualquer preço recordações da avó<br />

E pago o teu preço<br />

Qual é p teu preço<br />

Não te mereço<br />

Qualquer preço<br />

Recordações em pó<br />

40 5


A Menina e os valetes<br />

Música: Manuel Paulo<br />

Letra: João Monge<br />

Intérprete: <strong>Ala</strong> dos Namorados<br />

In: ’<strong>Ala</strong> dos Namorados’, 1994<br />

Victor Almeida<br />

Vinham do fundo da noite<br />

Vinham de trás do luar<br />

Em cavalinhos com asas<br />

Vinham para te matar<br />

Em formação dois a dois<br />

Uns de luto carregado<br />

E logo atrás outros dois<br />

Do mais brilhante encarnado<br />

E tu fugias, fugias<br />

Da sombra deles no chão<br />

De capa ao vento pareciam<br />

Muito maiores do que são<br />

Um queria o mealheiro<br />

Outro o teu coração<br />

Com paus o mais desordeiro<br />

De espada o maior vilão<br />

No fim do bosque uma luz<br />

Que até parece dizer<br />

Corre, corre menina<br />

Nunca pares de correr<br />

Era a tua salvação<br />

O poço da eternidade<br />

Lá não caem os bandidos<br />

Por não haver gravidade<br />

No meio de estrelas te lanças<br />

Numa espiral de algodão<br />

Os valentes são lembranças<br />

D’uma outra dimensão<br />

De mansinho vais pousando<br />

Ao som de uma voz que chama<br />

É a tua mãe chamando<br />

À beira da tua cama<br />

6<br />

Tudo o que eu te dou<br />

Letra e música: Pedro Abrunhosa; <strong>Bandemónio</strong><br />

ard@cheeta.inesc.pt (Alfredo Domingues) (jeito de jj)<br />

Eu não sei, que mais posso ser<br />

um dia rei, outro dia sem comer<br />

por vezes forte, coragem de leão<br />

as vezes fraco assim i o coração<br />

eu não sei, que mais te posso dar<br />

um dia jóias noutro dia o luar<br />

gritos de dor, gritos de prazer<br />

que um homem também chora<br />

quando assim tem de ser<br />

Foram tantas as noites<br />

sem dormir<br />

tantos quartos de hotel<br />

amar i partir<br />

promessas perdidas<br />

escritas no ar<br />

e logo ali eu sei...<br />

Tudo o que eu te dou<br />

tu de das a mim<br />

tudo o que eu sonhei<br />

tu serás assim<br />

tudo o que eu te dou<br />

tu me das a mim<br />

tudo o que eu te dou<br />

Sentado na poltrona, beijas-me a pele morena<br />

fazes aqueles truques que, aprendes-te no cinema<br />

+, pego-te eu, já me sinto a viajar<br />

para, recomeça, faz-me acreditar<br />

Não dizes tu, e o teu olhar mentiu<br />

enrolados pelo chão no abraço que se viu<br />

i madrugada ou i alucinação<br />

estrelas de mil cores extasy ou paixão<br />

hum, esse odor, traz tanta saudade<br />

mata-me de amor ou da-me liberdade<br />

deixa-me voar, cantar, adormecer<br />

refrão<br />

39


To miss<br />

Música: Rui Reininho; A. Soares; Tóli César Machado; Jorge<br />

Romão<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Psicopátria’, <strong>GNR</strong> 1986<br />

Carlos Ilharco<br />

To Miss<br />

Missing Miss<br />

Miss Margarina<br />

Miss Banlieu<br />

Miss Coitus Interruptus<br />

Shine Shine Shine Shine<br />

Diva Divine<br />

Deep Diva Divine<br />

Miss Top Less Head<br />

Miss Top Hat<br />

Mss Slow Train Coming<br />

Miss Garage Band<br />

Miss Colonia<br />

Miss Mid-West<br />

Miss Far From-Home<br />

Miss Crazy Head<br />

Miss Flamenco<br />

Miss Fado & Flamengo<br />

Missing Miss<br />

miss Jamaica<br />

Miss EL-AL<br />

Missing Mistery Girl<br />

Deviation Divine<br />

The Diva Shines<br />

38<br />

Ao passar um navio<br />

Letra e música: Miguel Ângelo; Fernando Cunha<br />

Intérprete: <strong>Delfins</strong><br />

Hugo Dias<br />

Todas as vozes<br />

de todos os mundos<br />

devem cantar<br />

para sempre assim<br />

e cedo passa a hora<br />

e o sonho que tarda<br />

e essa voz que chora<br />

é só porque sabe...<br />

que ao passar um navio<br />

fica o mar sempre igual<br />

ao passar uma vida<br />

fica o sonho sempre igual<br />

todas as vezes<br />

em todos os mundos<br />

devia amar-te<br />

para sempre assim<br />

e loge vai a hora<br />

e o sonho que tarda<br />

e essa voz que chora<br />

é só porque sabe...<br />

que ao passar um navio<br />

fica o mar sempre igual<br />

ao passar uma vida<br />

fica o sonho sempre igual<br />

vou passar um navio<br />

ver o mar sempre igual<br />

vou gastando uma vida<br />

que o meu sonho é sempre igual!<br />

7


Ao soldado desconhecido<br />

Música: Tóli César Machado; Jorge Romão<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Psicopátria’, <strong>GNR</strong> 1986<br />

Victor Almeida<br />

Diz-me se és o meu reflexo, Oh fonte vulgar<br />

Diz-me onde esconder a arma que eu soube enferrujar<br />

Castro com castro edificas, eu castro o gesto a que incitas<br />

Estátua de orgulho gelada sobre esta água parada<br />

O vento de amanhã quando soprar desagregará o tempo presente<br />

A memória da batalha clássica foi-se, a bandeira ser-me-à indiferente<br />

Vim para devolver as cidades aos intoxicados da terra<br />

Será nos gabinetes que se ditará a nova guerra<br />

Sempre que fui combater rastejei pelo chão<br />

Onde nem a beladona cresce tocando o musgo com a mão<br />

Descarnado de alma, mas mantendo a calma<br />

Dilacerado esforço em vão<br />

O esforço de amanhã esfuma os viciados do controle<br />

O cheiro a carne assada humana será uma recordação<br />

Nem mais um soldado anónimo dormirá neste caixão<br />

Sonhando arrogante com o nome da sua batalha final<br />

8<br />

Sou como um rio<br />

Letra e música: Miguel Ângelo; Fernando Cunha<br />

Intérprete: <strong>Delfins</strong><br />

Hugo Dias<br />

Eu sempre gostei de ti<br />

eu sempre te conheci<br />

nunca pensei que me deixasses só<br />

eu sempre te procurei<br />

eu nunca te abandonei<br />

nunca pensei que me deixasses só<br />

sou como um rio<br />

que vive só para ti<br />

correndo só para te ver<br />

sou como um rio<br />

que acaba ao pé de ti<br />

foi sempre assim<br />

gostar de ti<br />

porquê que tudo acabou<br />

o que é que para ti mudou<br />

e agora tenho de viver sem ti<br />

sou como um rio<br />

que vive só para ti<br />

correndo só para te ver<br />

sou como um rio<br />

que acaba ao pé de ti<br />

foi sempre assim<br />

gostar de ti<br />

foi sempre assim<br />

gostar de ti<br />

37


Pede-me a paz<br />

Dou-te o mundo<br />

Louco, livre assim sou eu<br />

(Um pouco mais...)<br />

Solta-te a voz lá do fundo,<br />

Grita, mostra-me a cor do céu.<br />

Se eu fosse um dia o teu olhar,<br />

E tu as minhas mãos também,<br />

Se eu fosse um dia o respirar<br />

E tu perfume de ninguém.<br />

Se eu fosse um dia o teu olhar,<br />

E tu as minhas mãos também,<br />

Se eu fosse um dia o respirar<br />

E tu perfume de ninguém.<br />

36<br />

Aquele Inverno<br />

Letra e música: Miguel Ângelo; Fernando Cunha<br />

Intérprete: <strong>Delfins</strong>; Resistência<br />

Hugo Dias<br />

G<br />

Há sempre um piano<br />

C<br />

um piano selvagem<br />

G<br />

que nos gela o coração<br />

D<br />

e nos trás a imagem<br />

am<br />

daquele inverno<br />

C<br />

naquele inferno<br />

Há sempre a lembrança<br />

de um olhar a sangrar<br />

de um soldado perdido<br />

em terras do Ultramar<br />

por obrigação<br />

aquela missão<br />

G<br />

Combater a selva sem saber porquê<br />

D C am<br />

G D C am<br />

e sentir o inferno a matar alguém<br />

e quem regressou<br />

guarda sensação<br />

G D<br />

G D<br />

que lutou numa guerra sem razão...<br />

sem razão... sem razão... G<br />

Há sempre a palavra<br />

a palavra ’nação’<br />

os chefes trazem e usam<br />

pra esconder a razão<br />

da sua vontade<br />

aquela verdade<br />

E para eles aquele inverno<br />

será sempre o mesmo inferno<br />

que ninguém poderá esquecer<br />

ter que matar ou morrer<br />

ao sabor do vento<br />

naquele tormento<br />

Perguntei ao céu: será sempre assim?<br />

poderá o inverno nunca ter um fim?<br />

não sei responder<br />

só talvez lembrar<br />

9<br />

Am D


o que alguém que voltou a veio contar... recordar...<br />

recordar...<br />

Aquele Inverno<br />

10<br />

Se eu fosse um dia o teu olhar<br />

Letra e música: Pedro Abrunhos<br />

Intérprete: <strong>Bandemónio</strong><br />

In: Tempo<br />

Nuno<br />

Frio, o mar<br />

Por entre o corpo<br />

Fraco de lutar.<br />

Quente, O chão<br />

Onde te estendo<br />

E te levo a razão.<br />

Longa a noite<br />

E só o sol<br />

Quebra o silêncio,<br />

Madrugada de cristal.<br />

Leve, lento, nu, fiel<br />

E este vento<br />

Que te navega na pele.<br />

Pede-me a paz<br />

Dou-te o mundo<br />

Louco, livre assim sou eu<br />

(Um pouco mais...)<br />

Solta-te a voz lá do fundo,<br />

Grita, mostra-me a cor do céu.<br />

Se eu fosse um dia o teu olhar,<br />

E tu as minhas mãos também,<br />

Se eu fosse um dia o respirar<br />

E tu perfume de ninguém.<br />

Se eu fosse um dia o teu olhar,<br />

E tu as minhas mãos também,<br />

Se eu fosse um dia o respirar<br />

E tu perfume de ninguém.<br />

Sangue, Ardente,<br />

Fermenta e torna aos<br />

Dedos de papel.<br />

Luz, Dormente,<br />

Suavemente pinta o teu rosto a<br />

pincel.<br />

Largo a espera,<br />

E sigo o sul,<br />

Perco a quimera<br />

Meu anjo azul.<br />

Fica, forte, sê amada,<br />

Quero que saibas<br />

Que ainda não te disse nada.<br />

35


Pronúnicia do Norte<br />

Música: Tóli César Machado<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong>; Isabel Silvestre<br />

In: ’rock in rio Douro’, 1992<br />

A. Guimarães<br />

Há um prenúncio de morte<br />

Lá do fundo de onde eu venho<br />

Os antigos chamam-lhe renho<br />

Novos ricos são má sorte<br />

É a pronúncia do Norte<br />

Os tontos chamam-lhe torpe<br />

Hemisfério fraco outro forte<br />

Meio-dia não sejas triste<br />

A bússula não sei se existe<br />

E o plano talvez aborte<br />

Nem guerra, bairro ou corte<br />

É a pronúncia do Norte<br />

Não tenho barqueiro nem hei-de remar<br />

Procuro caminhos novos para andar<br />

Tolheste os ramos onde pousavam<br />

Da Geada as pérolas as fontes secaram<br />

Corre um rio para o mar<br />

E há um prenúncio de morte<br />

E as teias que vidram nas janelas<br />

esperam um barco pareceido com elas<br />

Não tenho barqueiro nem hei-de remar<br />

Procuro caminhos novos para andar<br />

E É a pronúncia do Norte<br />

Corre um rio para o mar<br />

34<br />

Bellevue<br />

Música: Tóli César Machado; Jorge Romão<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Psicopátria’, <strong>GNR</strong> 1986<br />

Victor Almeida<br />

’leve levemente como quem chama por mim’<br />

Fundido na bruma no nevoeiro sem fim<br />

Uma ideia brilhante cintila no escuro<br />

Um odor a tensão do medo puro<br />

Salto o muro, cuidado com o cão<br />

Vejo onde ponho o pé, iço-me a mão<br />

Encosto ao vidro um anel de brilhantes<br />

É de fancaria a fingir diamantes<br />

Salto a janela com muita atenção<br />

Ponho-me à escuta, bate-me o coração<br />

Sabem que me escondo na Bellevue<br />

Ninguém comparece ao meu rendez-vous<br />

Porta atrás porta pelo corredor<br />

O foco de luz no ultimo estertor<br />

No espelho um esgar, um sorriso cruel<br />

Atrás da ultima porta a cama de dossel<br />

Salto para cima experimento o colchão<br />

Onde era sangue é só solidão<br />

Os meus amigos enterrados no jardim<br />

E agora mais ninguém confia em mim<br />

Era só para brincar ao cinema negro<br />

Os corpos no lago eram de gente no desemprego<br />

11


Cais<br />

Letra e música: ?<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

Kim Moreira<br />

[G] Quando um bar[D]co tem pés para nadar [Em]<br />

[C] [E] as on[D]das só vêm cha[G]tear<br />

[Em] Lá do fun[D]do do mar imun[G]do imenso sais [C]<br />

[Em] Oh! Neptu[D]no e as tuas se[G]reias sensuais [C]<br />

e vendes o cais[D]<br />

Quando o barco se está para afundar<br />

E só esses ratos não o quiserem abandonar<br />

Quando a maré negra chegar<br />

E não houver ninguém para o crude limpar<br />

Se o pesca[G]do morre ao lado [D]<br />

se ainda se a[Em]ma o mar salgado<br />

ent[C]ão é ver [D] no cinema se ainda [G] há<br />

lodo no cais<br />

se o mercado impera e somos<br />

todos iguais<br />

muito cuidado quando escorregas<br />

sempre cais<br />

se o mercado emperra<br />

e vais sempre longe demais demais<br />

atenção cuidado voltas ao cais<br />

12<br />

Pós modernos<br />

Música: Rui Reininho; A. Soares; Tóli César Machado; Jorge<br />

Romão<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Psicopátria’, <strong>GNR</strong> 1986<br />

Carlos Ilharco<br />

...Depois da V2 DDT PBX<br />

Ketchup K/7 Kleenex Kitchnet Duplex<br />

Twist again colourfull wonderfull<br />

Chegou o T2-T4 c/garagem pró P2 turbo sound disco sound discussão?<br />

Video-Club joy stick midi high-tech squash & sauna<br />

Compact D (compre aqui?)...<br />

Ser Mãe era a aspiração natural de todo o homem moderno<br />

ser o melhor é normal para os novos pobres deste colégio interno<br />

ter medo é a pulsão fundamental do criador & artista<br />

estar sóbrio é continuar permanecer positivista<br />

—E dantes as máquinas estavam sempre a avariar....<br />

Mas com uns pós modernos nada complicados<br />

sentimo-nos realizados<br />

Ah! Os pós modernos agarram a angústia<br />

e fazem dela uma outra indústria<br />

com os pós modernos nunca ganhamos<br />

mas tambem nada investimos<br />

33


32<br />

Cerimónias<br />

Música: Tóli César Machado; Jorge Romão<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Psicopátria’, <strong>GNR</strong> 1986<br />

Carlos Ilharco<br />

Então. Sempre ouvi dizer a vida a dois é um osso duro de roer<br />

e de enterrar e esgravatar para cheirar e confirmar o lugar<br />

o asilo o lar doce lar<br />

excepção feita aos onanistas<br />

só ligam ás fotos das revistas<br />

Tu lavas eu limpo<br />

tu sonhas eu durmo<br />

tu branco e eu tinto<br />

tu sabes eu invento<br />

tu calas eu minto<br />

arrumas e eu rego<br />

retocas eu pinto<br />

cozinhamos para três<br />

tu mordes eu trinco<br />

detestas eu gosto<br />

magoas eu brinco<br />

Criámos sob um tecto um monstro de mutismo<br />

e o tédio escorre das paredes como num túmulo para alugar para habitar<br />

inventamos maldades por puro exibicionismo<br />

suportamo-nos apenas por diletantismo<br />

discussões de mercearia<br />

só apagamos a luz ao nascer dum novo dia<br />

-mas se me morres eu sinto-<br />

13


Choque frontal<br />

Música: Rui Reininho; A. Soares; Tóli César Machado; Jorge<br />

Ramos<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Psicopátria’, <strong>GNR</strong> 1986<br />

Carlos Ilharco<br />

50-60-70-80-90-À HORA<br />

90 à decada vamos embora vamos embora!<br />

São as distrações que levam ao choque frontal<br />

a es insinceridades levam ao choque frontal<br />

as pequenas crueldades incitam ao nosso choque frontal<br />

o tráfego nas cidades leva ao choque frontal<br />

a tua presença OH Mana! Reflecte-se no satélite inchado<br />

nos sulcos do viaduto. Nessas unhas de verniz negro<br />

brilhando nos lábios cereja cristalizada<br />

as dissimulações implicam o choque frontal<br />

as nossas prestações conduzem ao choque frontal<br />

orgulhosa cabeça apostada para trás em fulvos cabelos por certo artificiais<br />

fui cuspido trucidado incenerado amalgamado<br />

entre garras de metal<br />

como novo rodado amortecido travado mal conduzido vistoriado<br />

até ao choque frontal<br />

14<br />

O troca pingas<br />

Música: Manuel Paulo<br />

Letra: João Monge<br />

Intérprete: <strong>Ala</strong> dos Namorados<br />

In: ’<strong>Ala</strong> dos Namorados’ (1994)<br />

Victor Almeida<br />

Ao petisco era branquinho<br />

(tinha as suas opções)<br />

Tinto as outras refeições<br />

Agora anda mais liberto<br />

Porque só bebe palheto<br />

Tinha as suas opções<br />

Ia sempre a Almameda<br />

Apoiar o Sindicato.<br />

Agora anda de fato,<br />

Que esta vida não comporta<br />

Bandeiras atrás da porta<br />

Apoiar o Sindicato<br />

Diz que agora esta melhor<br />

Arranjou um bom emprego<br />

Já não tem nada no prego<br />

E pensa tirar até<br />

Um curso da CEE.<br />

Arranjou um bom emprego.<br />

Se há gente que anda com galo<br />

E não ganha p’ro bitoque<br />

Pode ser que não lhe toque<br />

’- Deus e pai e não se esquece<br />

Quem não luta não merece<br />

E não ganha p’ro bitoque!’<br />

Antes tinha um capacete<br />

Pejado de autocolantes<br />

Mas isso... era dantes.<br />

Agora tem outros usos,<br />

Um carro pago aos soluços<br />

Pejado de autocolantes<br />

Vai deixar-se de palheto<br />

E passar a laranjada,<br />

A tasca vai ser mudada<br />

Para servir em pratinhos<br />

Com saladas e bolinhos<br />

E passar a laranjada.<br />

31


O paciente<br />

Música: Tóli César Machado; Jorge Romão<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Psicopátria’, <strong>GNR</strong> 1986<br />

Carlos Ilharco<br />

Receito-lhe o mar e o campo enfim que pare de beber<br />

isso de ver baratas tamanhas e outros insectos a mexer...<br />

não é por certo hereditário nem tem a ver com a educação<br />

relaciona-se com esse péssimo hábito de estar com um copo na mão<br />

daí tornar-se violente e chegar mesmo a acreditar<br />

que os extraterrestres existem, que os mortos podem voltar<br />

-síncope mental<br />

-colapso cardíaco<br />

-esconda a tensão arterial<br />

-frustaçãozita acidental<br />

(todos) -um mal estar geral<br />

Na vida há quem se afogue na pura paixão ou na fé<br />

mas a posição mais complicada é beber e continuar de pé<br />

é uma situação poética filosófica ou política<br />

é confundir a arca do dilúvio com uma pipa apocalíptica<br />

30<br />

Dá fundo<br />

Música: Tóli César Machado; Jorge Romão<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Psicopátria’, <strong>GNR</strong> 1986<br />

Carlos Ilharco<br />

Boa Noite. Foi o especial fraudes e fiascos<br />

eis o nosso indicativo musical<br />

passa a tarde na cantina<br />

vamos para a piscina<br />

PA-PA-PA PA PA PÁ PÁ PISCINA<br />

POM POM PA/PA PAUM PAUM PÁ PISCINA VAMOS PÁ PISCINA<br />

PAUM PA PA PA PA PA PAUM PÁ PISCINA<br />

PA-PA PA /PÁ PÁ PA PAPA PAOUM PÁ PISCINA<br />

ETC...<br />

15


Dama ou tigre<br />

Música: Jorge Romão<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Valsa dos Detectives’,<strong>GNR</strong><br />

Carlos Ilharco<br />

Inventar um jogo divertido e letal<br />

Consta de sete portas por abrir do bem e do mal<br />

Por trás de cada porta há um só destino<br />

Usa-se intuição e acaso e a inspiração do divino<br />

Ao abrir a porta ao escolher a sorte<br />

Sai ou dama o tigre sai amor ou morte<br />

Mas no mundo moderno o destino é vago<br />

Ou sai dama da selva por explorar ou tigre de Chicago<br />

Por trás de cada porta reina pr’a eternidade<br />

A sedução um mimo veneno e crueldade<br />

16<br />

O cantor de serviço<br />

Música: Manuel Paulo<br />

Letra: João Monge<br />

Intérprete: <strong>Ala</strong> dos Namorados<br />

In: ’Por minha dama’, 1975<br />

Victor Almeida<br />

Vêm de veludo encarnado<br />

No andar um mistério qualquer<br />

Nem discreto, nem ousado<br />

O rosto bem aparado<br />

Com sapatos de mulher<br />

Tudo é fogo, tudo é mar<br />

Quando as luzes mudam de cor<br />

Tudo cabe no mesmo lugar<br />

Sortilégios do cantor<br />

Podem pedir canções<br />

Eu faço por cantar<br />

Escolham as ilusões<br />

Nada mais posso dar<br />

Sobem de tom as cantigas<br />

A orquestra por trás a puxar<br />

São as grandes avenidas<br />

Onde se vive outras vidas<br />

A navegar, a navegar<br />

Tudo é sagrado e profano<br />

Esta noite o encontro é total<br />

Neste palco, mano a mano<br />

Até ao compasso final<br />

Podem pedir canções<br />

Eu faço por cantar<br />

Escolham as ilusões<br />

Nada mais posso dar<br />

29


Nova gente<br />

Música: Tóli César Machado; Jorge Ramos<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Psicopátria’, <strong>GNR</strong> 1986<br />

Carlos Ilharco<br />

Vivo numa ilha sem sabor tropical<br />

a fauna é variada demografia acidental<br />

não é de origem elevada díficil de recensear<br />

é mais que uma ilha é quase continental<br />

não está cercada por água mas não faz mal<br />

quem a rodeia por vezes é a força policial<br />

Baby Doc ou Papa Doc nunca vi<br />

nem qualquer ditador da America Central<br />

cá não há candidato á autarquia local<br />

só orgulho analfabeto mas com cultura geral<br />

é tudo a mesma fruta a mesma caldeirada<br />

é uma gente educada é a anarquia total<br />

vivo numa ilha sem sabor tropical<br />

não é de origem vulcânica<br />

mas tem lama no Natal<br />

não há saneamente básico<br />

é o Bairro Oriental<br />

28<br />

Dunas<br />

Letra e música: <strong>GNR</strong>(?)<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

Helder Carvalho (jeito de jj)<br />

G Em C D<br />

G<br />

Dunas são como divãs Em<br />

biombos indis C<br />

cretos de alcatrão sujos<br />

ras D<br />

gados por cactos e hortelã<br />

deita G<br />

dos nas dunas alheios a tu Em<br />

do<br />

olhos penetran C<br />

tes<br />

pensamentos lava D<br />

dos<br />

Be G<br />

bemos dos lábios refres Em<br />

cos gelados<br />

sela C<br />

mos segredos<br />

salta D<br />

mos rochedos<br />

em câ G<br />

mara lenta como na Em<br />

tv<br />

pala C<br />

vras a mais na idade dos D<br />

porquês<br />

Dunas como são divãs<br />

quem nos visse deitados<br />

cabelos molhados bastante enrolados<br />

sacos-cama salgados<br />

nas dunas roendo maçãs<br />

a ver garrafas d’óleo<br />

boiando vazias nas ondas da manhã<br />

17


Efectivamente<br />

Música: Tóli César Machado; Jorge Romão<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Psicopátria’, <strong>GNR</strong> 1986<br />

Carlos Ilharco<br />

Adoro o campo, as árvores, as flores<br />

jarros e perpétuos amores<br />

que fiquem perto da esplanada de um bar<br />

com os pássaros estúpidos a esvoaçar<br />

adoro as pulgas dos cães<br />

todos os bichos do mato<br />

o riso das crianças dos outros<br />

cágados de pernas para o ar<br />

efectivamente escuto as conversas<br />

importantes ou ambíguas<br />

aparentemente sem moralizar<br />

adoro as pegas e os pederastas que passam<br />

(finjo nem reparar)<br />

na atitude tão clara e tão óbvia de quem anda a engatar<br />

adoro esses ratos de esgoto<br />

que disfarçam ao dealar<br />

como se fossem mafiosos convictos habituados a controlar<br />

efectivamente gosto de aparências<br />

imponentes ou equívocas<br />

aparentemente sem moralizar<br />

18<br />

Motor<br />

Música: Tóli César Machado<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Mosquito’, 1998<br />

Victor Almeida<br />

Sentir ciume do sucesso é normal<br />

Ter uma cara uma ideia estúpida<br />

Impressa no jornal<br />

Sentir ciume do teu novo visual<br />

Ser fashion victim vender uma imagem<br />

Mesmo que fique mal<br />

Tudo o que dizes é interessante<br />

Ninguém se esquece nem o elefante<br />

Sentir ciume de quem é bestial<br />

Ter ao telefone opinião exclusiva<br />

sobre sexo oral<br />

Sentir ciume sei lá! É fatal<br />

Ter 1 cachet passar um recibo<br />

por ir ao telejornal<br />

Tudo o que pensas é elegante<br />

Tudo o que fazes vende bastante<br />

É dar a cara<br />

está na hora<br />

A vida é cara<br />

Língua de fora<br />

Pintar a cara<br />

Aqui e agora<br />

Tralalarara<br />

Vamos embora<br />

Tudo o que vestes<br />

É elegante<br />

Ninguém se esquece<br />

Nem o elefante<br />

Salta da cama<br />

Vamos embora<br />

Ficou a fama<br />

Vá lá não chora<br />

27


Morte ao sol<br />

Música: Tóli César Machado<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Valsa dos Detectives’,<strong>GNR</strong><br />

Carlos Ilharco<br />

Felizmente que a noite sai<br />

Ainda bem que há nevoa por ai<br />

Estou contente se a luz se esvai<br />

E uma sombra invade este lugar<br />

Se um amanhã perdido for metamorfose de horror<br />

As trevas não vão demorar estou contente se a luz se esvai<br />

Se o céu se fecha sobre nós desprende-se-me uma voz rouca<br />

Se o amanhã perdido for overdose de pavor<br />

Directa sim eu declaro morte so Sol<br />

Directa não e a quem o apoiar Ai vêm a luz<br />

Se o céu não fecha já sobre nós<br />

Revela-se esta imagem atroz<br />

26<br />

Falha humana<br />

Música: Jorge Romão; Remy Walter; Zezé Garcia<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Valsa dos Detectives’,<strong>GNR</strong><br />

Carlos Ilharco<br />

Psicadélico civilizado ele encontrou um rocker cru<br />

Falaram c/punk importado e tentaram criar um blue<br />

Só ouviam rádios livres ate´deixaram de estudar<br />

Deram á luz um Frankenstein que ninguém pode controlar<br />

O parto foi na garagem o bastardo mal sabe andar<br />

Um cantava todo bêbado outro tocava todo nu<br />

Eles fingiam que gostavam<br />

Se a letra era ’I love you’<br />

Se começou na garagem sei que não vai acabar<br />

É uma espécie de viagem que pára em tudo o que é bar<br />

Falha humana<br />

Foi falha do Criador<br />

19


Há dias em que mais vale...<br />

Música: Manuel Paulo<br />

Letra: João Monge<br />

Intérprete: <strong>Ala</strong> dos Namorados<br />

In: ’Alma’ (1996)<br />

Victor Almeida<br />

Há dias<br />

Em que não cabes na pele<br />

Com que andas<br />

Parece comprada em segunda mão<br />

Um pouco curta nas mangas<br />

Há dias<br />

Em que cada passo e mais um<br />

Castigo de Deus<br />

Parece<br />

Que os sapatos que vês<br />

Enfiados nos pés<br />

Nem sequer são os teus<br />

A noite voltas a casa<br />

Ao porto seguro<br />

E p’ra sarar mais esta corrida<br />

Vais lamber a ferida<br />

Para o canto mais escuro<br />

Já vi<br />

Há dias em que tu<br />

não cabes em ti<br />

Avança<br />

Na cara desse torpor<br />

Que te perde e te seduz<br />

A espada como a um Matador<br />

Com o gesto maior<br />

Do seu peito Andaluz<br />

Avança<br />

Com a raiva que sentes<br />

Quando rangem os dentes<br />

Ao peso da cruz<br />

Enfim,<br />

Há dias em que eu<br />

Também estou assim<br />

Parece que pagamos os<br />

Pecados deste mundo<br />

20<br />

Marcha dos desalinhados<br />

Letra e música: Miguel Ângelo; Fernando Cunha<br />

Intérprete: <strong>Delfins</strong><br />

In: ’Desalinhados’<br />

Hugo Dias<br />

Eu não quero estar parado<br />

fico velho<br />

vou marchar até ao fim<br />

isolado<br />

nesta marcha solitária<br />

dou o corpo, ao avançar<br />

neste campo aberto ao céu<br />

ninguém sabe<br />

para onde eu vou<br />

ninguém manda<br />

em quem eu sou<br />

sem cor nem deus nem fado<br />

eu estou desalinhado<br />

por tudo o que eu lutei<br />

ser sincero?<br />

por tanto que arrisquei<br />

ainda espero ...<br />

esta marcha imaginária<br />

quantas baixas vai deixar<br />

neste sonho desperto?<br />

25


Loucos de Lisboa<br />

Música: João Gil<br />

Letra: João Monge<br />

Intérprete: <strong>Ala</strong> dos Namorados<br />

Victor Almeida<br />

Parava no café quando eu lá estava<br />

Na voz tinha o talento dos pedintes<br />

Entre um cigarro e outro lá cravava<br />

a bica, ao melhor dos seus ouvintes<br />

As mãos e o olhar da mesma cor<br />

Cinzenta como a roupa que trazia<br />

Num gesto que podia ser de amor<br />

Sorria, e ao sorrir agradecia<br />

[Refrão]<br />

São os loucos de Lisboa<br />

Que nos fazem recordar<br />

A Terra gira ao contrário<br />

E os rios correm para o mar<br />

Um dia numa sala do quarteto<br />

Passou um filme lá do hospital<br />

Onde o esquecido filmado no gueto<br />

Entrava como artista principal<br />

Compramos a entrada p’ra sessão<br />

Pra ver tal personagem no écran<br />

O rosto maltratado era a razão<br />

De ele não aparecer pela manhã<br />

[refrão]<br />

Mudamos muita vez de calendário<br />

Como o café mudou de freguesia<br />

Deixamos de tributo a quem lá pára<br />

Um louco a fazer-lhe companhia<br />

E sempre a mesma posse o mesmo olhar<br />

De quem não mede os dias que vagueam<br />

Sentado la continua a cravar<br />

Beijinhos as meninas que passeiam.<br />

[refrão]<br />

24<br />

Amarrados aos remos de um<br />

Barco que está no fundo.<br />

21


Impressões digitais<br />

Música: Tóli César Machado<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Valsa dos Detectives’,<strong>GNR</strong><br />

Carlos Ilharco<br />

Faz impressão o trabalho que se tem em se ser superficial<br />

Faz-me impressão o baralho o vulgar e o intelectual<br />

Sinto depressão conforme perco tempo essencial<br />

Sofro uma pressão enorme para gostar do que é normal<br />

Deixo tudo para mais logo não sou analógico sou criatura digital<br />

Tendo para mais louco não sou patológico sou como o papel vegetal<br />

Faz-me impressão ser seguido imitado por gente banal<br />

Ah? entro sigo descubro o jardim de Alá<br />

Faz-me um favor estou perdido indica-me algo fundamental<br />

Queremos um só ópio que não soubemos nem louvar<br />

Acho que o que gosto em mim o que me motiva é uma preguiça transcendental Lembrar pecados, ódio nunca há tempo para confessar<br />

E em ti o que me torna afim o que me cativa é esse sorriso vertical como uma impressão digital<br />

(um povo marinheiro que ainda tem fome do mar)<br />

Sinto-me uma fotocópia prefiro o original<br />

Edição revista e aumentada cordão umbilical<br />

Exclusivo a morder a página em papel jornal<br />

Faz-me impressão o trabalho a inércia faz-me mal<br />

22<br />

Jardim d’Alá-Walkin’<br />

Música: Remy Walter<br />

Letra: Rui Reininho<br />

Intérprete: <strong>GNR</strong><br />

In: ’Valsa dos Detectives’,<strong>GNR</strong><br />

Carlos Ilharco<br />

Desde as descobertas temos o vício de implantar<br />

Dúvidas abertas lutas entre o trono e o altar<br />

Num eterno retorno volta tudo ao mesmo lugar<br />

E se há sempre pão no forno nunca há tempo para rezar<br />

Espiões dos sentimentos que tendem a acabar<br />

Escolhemos os momentos jardins suspensos, no mar<br />

23

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